GBETH Newsletter Volume 05 Número 17 08 de julho de 2007 Anticorpos GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] monoclonais e pequenas molécu- las para o tratamento do câncer Ligia Petrolini de Oliveira Hospital A.C. Camargo Imai K, Takaoka A. Comparing antibody and small-molecule therapies for cancer. Nat Rev Cancer 2006;6:714-27. Com os avanços do conhecimento das vias de sinalização aberrantes em vários tipos de células cancerosas, muitos reguladores deste comportamento têm Editores Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Erika Maria Monteiro Santos Diretor Científico Gilles Landman Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Ligia Petrolini de Oliveira Tesoureiro Wilson T Nakagawa emergido como candidatos à terapia baseada em alvos moleculares. Atualmente os principais métodos terapêuticos investigados são os anticorpos monoclonais e as pequenas moléculas inibitórias. Moléculas-chave de sinalização, tais como as proteínas tirosina-quinases têm sido identificados como alvos para pequenas moléculas inibitórias, que competem pelo ATP, inibindo sua atividade quinase. Outro grupo de alvos é representado pelas proteínas seletivas da superfície da célula tumoral, que podem ser reconhecidas por anticorpos monoclonais (MoAbs). Para comparar os MoAbs e as pequenas moléculas inibitórias, esta revisão estuda os agentes alvo do EGFR (epidermal growth factor receptor) que obtiveram sucesso clínico. O EGFR é membro da família de receptores tirosina-quinase ErbB, cuja expressão aumentada é freqüentemente observada em tumores de mama, pulmão e colorretal. A via de sinalização intracelular da família ErbB tem sido implicada em vários tumores. Fazem parte da família ErB o EGFR (ou ERBB1), ERBB2 (ou HER2), ERBB3 e ERBB4. Anticorpos Monoclonais Os MoAbs foram descobertos através de hibridizações somáticas por Milstein e Kohler em 1975. Os primeiros estudos clínicos com MoAbs murinos falharam em razão da meia-vida curta, xenogenicidade e atividade limitada. Posteriormente, a Anticorpos monoclonais e pequenas moléculas para o tratamento do câncer aplicação da recombinação genética para humanizar de complemento (CDC), e a citotoxicidade celular os anticorpos, facilitou a produção em larga escala, e dependente de anticorpo (ADCC), que ativa células permitiu MoAbs desenhados com melhor afinidade, imunes efetoras. seleção eficiente, redução da imunogenicidade e funções efetoras otimizadas. Posteriormente, ensaios com bacteriófagos permitiram a seleção rápida de MoAbs com alta afinidade. O trastuzumab (Herceptin®) foi o primeiro MoAb Receptores Tirosina-quinase Os receptores tirosina-quinase são mediadores cruciais na via de sinalização para proliferação celular, diferenciação, migração, angiogênese, aprovado clinicamente no tratamento de tumores de regulação do ciclo celular e outros, dos quais muitos mama metastáticos que possem número aumentado estão desregulados na tumorigênese. de cópias do ERBB2. O trastuzumab afeta a clivagem do domínio extracelular da proteína transmembrana da superfície celular. O pertuzumab (Omnitarg®), ainda em estudo, interfere na dimerização do ERBB2 e nos eventos subseqüentes de sinalização. Outro MoAb contra o ERBB2, o CH401, mostrou um efeito indutor de apoptose. Assim, os MoAbs utilizam três estratégias diferentes para bloquear o sinal: alteração da interação dos ligantes aos receptores e redução da expressão, inibição da dimerização do receptor, e indução da apoptose. Os mecanismos de ação nos quais se baseiam a terapia com MoAbs são classificados em duas categorias: Muitos inibidores possuem como alvo tais quinases, mimetizando o ATP. O primeiro sucesso desta classe foi o imatinib (Glivec®), que inativa a atividade quinase da fusão das proteínas BCR-ABL nas leucemias mielóides crônicas. Diferentemente dos MoAbs, as pequenas moléculas inibitórias podem se translocar através da membrana plasmática e interagir com o domínio citoplasmático dos receptores da superfície celular e com moléculas de sinalização intracelular. As pequenas moléculas inibitórias que possuem como alvo diversos receptores tirosina-quinases mostraram um amplo espectro anti-tumoral, sendo eficientes na inibição da adesão celular e invasão, proliferação celular e angiogênese. 1 - Ação direta: a) bloqueio da ação das moléculas sinalizadoras alvo ou dos receptores, o que ocorre Comparação entre MoAbs bloqueando o sítio de interação do ligante, inibindo Moléculas Inibitórias a progressão do ciclo celular ou do reparo do DNA, induzindo a regressão da angiogênese, aumentando a internalização dos receptores ou reduzindo a clivagem proteolítica dos receptores; b) estímulo da função, o que induz apoptose; c) direcionamento da função, através da conjugação dos MoAbs com toxinas, radioisótopos, citocinas, moléculas de DNA ou outros pequenos agentes, que seletivamente são direcionados às células tumorais. 2- ação indireta: esse mecanismo tem ação mediada pelo sistema imune, já que a eliminação do tumor através dos MoAbs depende de mecanismos ligados aos anticorpos, tais como, a citotoxicidade dependente e Pequenas Ao comparar as duas classes de agentes (MoAbs e pequenas moléculas) verificou-se que: • Em ensaios clínicos, os MoAbs possuem taxa de sucesso maiores – 18% a 24%. Já as pequenas moléculas inibitórias têm taxa de resposta de 5%. • As pequenas moléculas inibitórias são menos caras e mais convenientes para administração do que os MoAbs (as pequenas moléculas são administradas por via oral, já os MoAbs são administrados por via endovenosa). • Os MoAbs são moléculas maiores (150 kDa) e as pequenas moléculas inibitórias menores (500 Da). GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 17 Anticorpos monoclonais e pequenas moléculas para o tratamento do câncer • A meia-vida dos MoAbs é de 3,8 a 7,8 dias de pulmão não pequenas células (NSCLC) avançado (cetuximab) – o que permite uma dose de uma vez por não mostrou efeito aditivo do que com o uso da semana, já as pequenas moléculas inibitórias tem meia- quimioterapia isolada em dois grandes estudos. Já os vida entre 48 horas (gefinitib) e 36 horas (erlotinib), o efeitos anti-tumorais foram maiores pela adição do que permite dose diária. cetuximab à quimioterapia em NSCLC avançado. Tal • Os MoAbs por não poderem ultrapassar a membrana plasmática, podem agir apenas em moléculas que são expressas na superfície celular – exemplo, bevacizumab (Avastin®) é o único contra a proteína VEGF, pró-angiogênica. Já as pequenas moléculas inibitórias podem atingir vários alvos A vantagem típica do uso dos MoAbs é a capacidade de se ligar a antígenos expressos na superfície celular do tumor com alta especificidade. • Os MoAbs são mais efetivos em tumores de células circulantes, enquanto que as pequenas moléculas inibitórias são mais freqüentemente usadas no tratamento de tumores sólidos. • Os MoAbs e as pequenas moléculas inibitórias têm como alvo domínios diferentes do EGFR: domínio de ligação extracelular e o domínio de tirosina-quinase do receptor, respectivamente. • nas vias de apoptose e pela ação indireta na ativação da resposta imune, tais como a ADCC, que aumenta a resposta imunoestimulatória através da ativação de macrófagos em resposta à morte celular induzida pela citotoxicidade. • independente da sua localização celular. • discrepância pode ser explicada pela ação dos MoAbs O bevacizumab também foi aprovado para uso combinado com quimioterapia para câncer colorretal metastático e na adjuvância. O mecanismo pelo qual a resposta é aumentada não é claro, mas acreditase que se deva a um papel no aumento da apoptose dependente de p53, via que é ativada por agentes genotóxicos. • Huang et al. estudaram o efeito combinado de tratamento com cetuximab e gefitinib ou erlotinib. O resultado mostrou que a fosforilação do EGFR e a subregulação das moléculas sinalizadoras ERK e AKT foram mais severamente afetadas com a combinação do tratamento. Posteriormente, a mesma combinação A terapia com pequenas moléculas inibitórias de tratamento inibiu significativamente o crescimento é geralmente menos específica do que a terapia com de tumores humanos xenográficos, enquanto que o MoAbs. A vantagem, no entanto, é atingir vários alvos tratamento com apenas um dos agentes produziu aumentando os efeitos anti-tumorais, a desvantagem é apenas uma modesta inibição no crescimento. o risco aumentado de toxicidade. • Alguns estudos mostram que mutações no EGFR afetam significativamente as respostas clínicas às pequenas moléculas inibitórias, de maneira positiva ou negativa. Outros estudos mostraram que o uso conjunto de MoAbs pode diminuir a dose das pequenas moléculas inibitórias, o que contribui para a redução da toxicidade sem comprometer a eficácia. Os critérios para seleção dos pacientes que possam se com beneficiar com esta terapia associada ainda deve ser quimioterapia ou radioterapia mostra uma distinção estabelecido, o que indica um método terapêutico entre as duas classes para alguns tipos de tumores. O emergente. • O uso combinado de tais agentes uso de gefitinib com dois quimioterápicos em câncer GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 17