GENÉTICA DE TRANSMISSÃO: LIGAÇÃO E MAPAS GENÉTICOS 100 LIGAÇÃO, CROSSING-OVER E MAPEAMENTO GENÉTICO EM EUCARIONTES INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos falar um pouco de características genéticas, onde a 2ª lei de Mendel ou lei da segregação independente não pode ser aplicada. Como já vimos anteriormente, apesar de algumas características não apresentarem as proporções mendelianas do di-hibridismo (interação gênica), os pares de alelos que compõem essas características segregam-se, na hora de formar os gametas, de forma independente. Isso acontece porque esses pares de alelos se encontram em pares de cromossomo homólogos distintos, quando ocorre a meiose, processo de formação de gametas. Na realidade, os pares de cromossomos homólogos distintos é que se separam de forma independente levando junto os alelos que neles estão distribuídos. Porém cada par de cromossomos homólogos possui uma grande quantidade de genes e esses genes na hora de formar os gametas vão juntos com os cromossomos homólogos, como se fosse uma única unidade (fig.4.1). Figura 4.1: Representação esquemática da meiose. No lado direito, distribuição independente: dois genes em dois pares de cromossomos homólogos diferentes. No lado esquerdo, ligação: dois genes em um único par de homólogos; sem ocorrência de troca ou crossing-over. Fonte: Klug et. al., 2010. 101 1. LIGAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E CROSSING-OVER Sutton e Boveri foram os primeiros, em 1903, a levantar a hipótese de que cada cromossomo era constituído por mais de um gene ou “fator heredit|rio” e que esses cromossomos no momento de formar os gametas levavam junto os genes. Então, se os dois pares de alelos que determinam duas características distintas se encontrarem em um mesmo par de cromossomos homólogos, esses alelos, na hora da formação dos gametas, irão juntos no mesmo cromossomo, não segregando independentemente. Pares de alelos que determinam características diferentes, mas se encontram em um mesmo par de cromossomos homólogos são ditos em ligação ou denominados genes ligados. Morgan e colaboradores foram os primeiros a demonstrarem que o cromossomo X em Drosophila possuía vários genes. Em seus estudos, foi o descobridor do fenômeno de ligação no cromossomo X, investigando numerosas mutações de Drosophila, localizadas nesse cromossomo. Inicialmente, seus cruzamentos levavam em consideração uma única característica, mas quando começou a fazer cruzamentos experimentais, considerando duas características ligadas ao cromossomo X, percebeu que os resultados obtidos em F 2 eram bem diferentes daqueles obtidos, quando ocorria segregação independente, mas também não era um resultado esperado para genes que estavam em um mesmo cromossomo. Se os genes estavam localizados em um mesmo cromossomo, deveriam ser transmitidos juntos e como consequência só seriam formados dois tipos de gametas, os semelhantes aos parentais. (Cada par de homólogos tem um cromossomo de origem materna e um de origem paterna, por isso, gametas que contêm um desses cromossomos são ditos parentais). Morgan estudou inicialmente as características: cor do corpo (amarelo e cinza) e cor dos olhos (brancos e vermelhos), ao cruzar uma fêmea mutante de olhos vermelhos e corpo amarelo, (XbaXba) com um macho selvagem, olhos vermelhos e corpo cinza (XBAY), obteve em F 1 todo as fêmeas de olhos vermelhos e corpo cinza (XBAXba) e todos os machos de olhos brancos e corpo cinza (XbaY). Ao 102 realizar o cruzamento das fêmeas F1 (XBAXba) com machos F1 (XbaY) a grande maioria da prole em F2 mostrava o fenótipo parental, olhos vermelhos e corpo cinza e olhos brancos e corpo amarelo, mas menos de 1% do total de moscas nasceram com os olhos brancos e corpo cinza e olhos vermelhos e corpo amarelo (tendo sido chamados de recombinantes por apresentarem uma mistura dos fenótipos parentais). Depois desses resultados, Morgan e colaboradores realizaram outros cruzamentos com genes ligados ao X, observando sempre o mesmo padrão básico, ou seja, uma proporção fenotípica parental alta e uma proporção de recombinantes baixa, mas sem um padrão definido com relação às proporções fenotípicas (fig. 4.2). 103 Figura 4.2: Resultados de F1 e F2 do cruzamento A que envolve as mutações amarelo (a) e branco (b) com o tipo selvagem , dados como foram compilados por Sturtevant. No cruzamento A, 0,5% das moscas de F2 (machos e fêmeas) demonstram fenótipos recombinantes. Fonte: Klug et.al., 2010. 104 As questões levantadas após esses resultados foram: O que leva a formação dos recombinantes? E por que eles aparecem em cada cruzamento em uma proporção diferente? Baseados em indícios citogenéticos, do pareamento dos cromossomos homólogos na prófase I da meiose, observados por Janssens e outros, e do enrolamento entre esses homólogos e surgimento de quiasmas(fig.4.3) interseções em forma de X, cujos pontos de sobreposição são evidentes, Morgan propôs que esses quiasmas poderiam representar os pontos de trocas genéticas (crossing-over). Logo, os recombinantes que surgem são resultados dessa troca física “de pedaços” entre crom|tides homólogas. Figura 4.3: Foto onde aparecem vários quiasmas. Tiradas durante meiose em testículos de gafanhotos. (John Cabisco/Visuais Unlimited). Fonte: Griffiths et. al.,2009 A segunda pergunta foi explicada por Morgan da seguinte forma: se dois genes estão muito próximos um do outro, terão menos espaço físico entre eles para permitir quebra e troca de pedaços (crossing-over), assim a possibilidade do surgimento de recombinantes será menor, ou até não haverá recombinantes; entretanto se os genes estão mais distantes terão mais espaço físico entre eles e uma maior chance de que ocorra quebra e crossing-over ou permuta, originando uma maior possibilidade de recombinantes. (fig.4.4) 105 Figura 4.4: Dois exemplos de uma permutação única entre duas cromátides não irmãs e dos gametas produzidos subsequentemente. Em (a) a troca não altera o arranjo de ligação entre os alelos dos dois genes; formam-se somente gametas parentais e a troca não é detectada. Em (b) a troca separa os alelos, resultando em gametas recombinantes, que são detectáveis. Fonte: Klug et. al., 2010. Dessa forma Sturtevant, colaborador de Morgan, fez o primeiro mapa genético, do cromossomo X, tomando como base a taxa de recombinação ou de crossing-over entre os genes. A distância relativa entre os genes é dada pela taxa de crossing-over ou permuta entre eles. Outro exemplo de genes ligados estudados por Morgan foi o que afetava a cor dos olhos (pr, púrpura, e pr+, vermelho) e o tamanho da asa (vg, vestigial, e vg+, normal) em Drosophila. Como essas características são autossômicas, não foi necessária a representação dos cromossomos sexuais. Os alelos selvagens pr+ e vg+ são dominantes e Morgan realizou cruzamentos para obter di-híbridos e cruzá-los com um duplo recessivo (cruzamento teste). O cruzamento teste é importante, pois o genitor testador contribui com gametas levando apenas os alelos recessivos, os fenótipos da prole revelam diretamente os alelos contribuídos pelos gametas di-híbridos. Assim, a análise pode se concentrar na meiose em um genitor (o di-híbrido) e, essencialmente esquecer a meiose no outro (o testador). Em contraste, em um F1 autofecundado, existem dois conjuntos de meiose a considerar na análise da prole: um no genitor masculino e um no feminino. 106 Os cruzamentos de Morgan estão representados a seguir: (existem várias notações usadas para representar os genes ligados algumas delas são aqui apresentadas: pr+ vg+/ pr vg ou pr+ vg+//pr vg.) P pr vg/ pr vg Gametas pr vg pr+ vg+/ pr+ vg+ pr+ vg+ pr+ vg+/ pr vg Di-híbrido de F1 pr+ vg+/ pr vg Cruzamento X X pr vg/ pr vg Teste Gametas pr vg 1ª pr+ vg+ pr+ vg+/ pr vg 1339 2ª pr vg pr vg / pr vg 1195 3ª pr+ vg pr+ vg/ pr vg 151 4ª pr vg+ pr vg+/ pr vg 154 2839 Obviamente, esses números desviam-se drasticamente da previsão mendeliana de uma proporção 1:1:1:1. As duas primeiras combinações de alelos est~o em grande maioria indicando claramente que est~o associadas ou “ligadas”. E descendem dos gametas parentais. Os que aparecem em menor quantidade (3ª e 4ª combinações) são resultantes da quebra e troca de pedaços (crossing-over) e são ditos recombinantes. 107 2. COMO CALCULAR A TAXA DE CROSSING-OVER OU PERMUTA Considerando os dados do cruzamento teste acima, feito por Morgan, podemos calcular a taxa de crossing-over entre os genes pr+ e vg+. O primeiro passo é identificar quais os fenótipos que resultam de gametas recombinantes no di-híbrido, no caso, os que aparecem em menor número. Nesse exemplo formaramse dois fenótipos recombinantes o que tem 151 descendentes (pr+ vg/ pr vg) e o que tem 154 (pr vg+/ pr vg) descendentes no total de: 151 + 154 = 305 descendentes recombinantes. O segundo passo é calcular a frequência de recombinação, que será o número total de recombinantes dividido pelo número total de descendentes: 305 / 2839 ≈ 0,11. Multiplicando-se essa frequência por 100, teremos a taxa de crossing-over ou permuta igual a 11%. As frequências de recombinantes para diferentes genes ligados variam de O a 50%, dependendo de sua proximidade. Quanto mais distantes estão os genes, mais proximamente suas frequências de recombinantes aproximam-se de 50%,e, em tais casos, não podemos decidir se os genes estão ligados ou estão em cromossomos diferentes. Um único crossing gera dois produtos recombinantes recíprocos, o que explica por que as classes recombinantes são, em geral, aproximadamente iguais em frequência. E, por conseguinte, os parentais também devem ter iguais frequências. 3. OS ARRANJOS “CIS” E “TRANS” DOS GENES LIGADOS O trabalho de Morgan mostrou que os genes ligados em um di-híbrido podem estar presentes em duas conformações básicas. Em uma, os dois alelos dominantes ou selvagens se encontram em um cromossomo; e os dois alelos recessivos ou mutantes, no outro. Esse arranjo é chamado conformação cis. Na outra, eles estão em homólogos diferentes. Esse arranjo é chamado conformação trans. (fig. 4.5) 108 Figura 4.5: Representação esquemática de duas células uma em conformação cis e outra em conformação trans. A identificação, se os dois genes ligados estão em posição cis ou trans, pode ser feita analisando nos descendentes de um cruzamento teste (fig.4.6 a e b). Cruzamento A B / a b teste X ab/ab Gametas masculinos ab AB A B/a b 40% Gametas ab a b/a b 40% Femininos Ab A b/a b 10% aB a B/ab 10% Parentais Recombinantes Figura 4.6a: Representação de um cruzamento teste, onde os parentais encontram-se em conformação cis. 109 Cruzamento A b / a B teste X ab/ab Gametas masculinos ab Ab A b/a b 40% Gametas aB a B/a b 40% Femininos AB A B/a b 10% ab a b/ab 10% Parentais Recombinantes Figura 4.6b: Representação de um cruzamento teste, onde os parentais encontram-se em conformação trans. 3. CONSTRUINDO MAPAS GENÉTICOS POR FREQUÊNCIA DE RECOMBINAÇÃO 3.1. TESTE DE DOIS PONTOS Como já havíamos falado, quanto maior a distância física entre dois genes, maior a possibilidade de quebra e troca de pedaços entre os cromossomos e, consequentemente, maior a possibilidade de gametas recombinantes. Já quando dois genes estão muito próximos, a taxa de recombinação entre eles é quase zero e não teremos recombinantes. A distância entre dois genes é diretamente proporcional à taxa de recombinação ou crossing-over, logo, como a taxa de crossing entre os genes pr+ e vg+ é igual a ≈ 11%, a dist}ncia entre os genes pr+ e vg+ é igual a 11 UR( ou unidades de recombinação). Outra unidade usada para expressar a distância entre dois genes é o centimorgan ou morganídeo e a unidade de mapa genético u.m.. Cada u.m., UR ou cM ou morganídeo corresponde a 1% da taxa de recombinação. Esse método produz um mapa linear correspondente à linearidade cromossômica? 110 Sturtevant previu que, em um mapa linear, se 5 UR. separam os genes A e , B, enquanto 3UR. separam A e C, então a distância que separa B e C deve ser de 8UR. ou 2UR.. Sturtevant viu que sua previsão era correta. Em outras palavras, sua análise sugeriu fortemente que os genes estão dispostos em alguma ordem linear, tornando as distâncias aditivas. A representação gráfica de um mapa é mostrada na figura 4.7: Figura 4.7: Uma região cromossômica contendo três genes ligados. Como as distâncias de mapa são aditivas, o cálculo das distâncias A—B e A-C nos deixa com duas possibilidades mostradas para a distância B-C. Fonte: Griffiths et. al.,2009 Logo, para se poder construir o mapa gênico entre os genes A, B e C usando o teste de dois pontos (determinação da distância usando um cruzamento teste com um di-híbrido) seria necessário o conhecimento também da distância (= taxa de recombinação entre os genes) entre os genes B e C. Caso a distância entre os genes B e C fosse de 8UR a sequência dos genes seria CAB caso a freqüência entre B e C fosse de 2UR teríamos a sequência de ACB. 111 3.2. TESTE DE TRÊS PONTOS Quando o mapeamento é feito levando-se em conta as taxas de recombinação em um cruzamento teste com um tri-híbrido, chamamos esse teste de três pontos. Vamos calcular a distância e a sequência de 3 genes usando como exemplo o experimento feito por Bridges e Olbrycht., que cruzaram machos tipo selvagem de Drosophila com fêmeas homozigotas para três mutações recessivas - cerdas scute (sc), olhos echinus (ec) e asas crossveinless (cv). Em F1, nasceram fêmeas heterozigotas para as três características, (elas herdaram um cromossomo X do macho com as três características selvagem e um dos cromossomos X da fêmea com as três características mutantes recessivas) e machos hemizigotos recessivos (na herança ligada ao cromossomo X o macho só herda um cromossomo X, o da fêmea, nesse caso, recessiva para as três características). Assim o entrecruzamento entre machos e fêmeas F1 equivale a um cruzamento teste. Entrecruzando fêmeas F 1 com machos F1 obtiveram em F2 oito tipos de fenótipos diferentes, todos expressando os gametas produzidos pela fêmea, sendo dois deles semelhantes aos fenótipos parentais e seis deles recombinantes. Os parentais como sempre aparecem em uma proporção bem maior. Os recombinantes em uma proporção bem menor, cada um representando um tipo diferente de cromossomo com crossing. (fig.4.8) Para entender quais crossings estavam envolvidos na produção de cada tipo de recombinante, devemos primeiro determinar como os genes são ordenados no cromossomo. 112 Figura 4.8: Cruzamento de três pontos de Bridges e Olbrycht com os genes ligados ao X sc (cerdas scute), ec (olhos echinus) e cv (asas crossveinless) em Drosophila. Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. 3.2.1. DETERMINAÇÃO DA ORDEM DE GENES Existem três possíveis ordens de genes: 1. sc—ec—cv 2. ec—sc—cv 3. ec—cv—sc Outras possibilidades, tais como cv – ev – sc, são as mesmas que uma dessas, pois as pontas esquerda e direita do cromossomo não podem ser distinguidas. Então, como determinar a ordem? A sequência dos procedimentos é o seguinte: 1º. definimos os recombinantes; que são seis, 4 com maior freqüência e 2 com menor freqüência; 2º. definimos os que apresentam crossing duplo; no caso, os que aparecem com menor frequência, já que é necessário que 113 ocorram dois crossing ao mesmo tempo, o que resulta na probabilidade de ocorrer o 1° e o 2º(P(1º) x P(2º)); 3º. observamos nos duplos recombinantes, qual dos três genes apresenta uma mudança em relação aos parentais; por exemplo: os parentais são, nesse caso, sc ec cv e o outro sc+ ec+ cv+ , os duplos recombinantes, sc ec+ cv e o outro sc+ ec cv+, o gene nos recombinantes que mudou de lugar em relação aos parentais foi o gene ec+, logo, o gene do meio é o ec+; 4º. a ordem correta do gene é sc ec cv. 3.2.2. Calculando a distância Tendo estabelecido a ordem dos genes, podemos agora calcular as distâncias entre os genes adjacentes (fig.4.10). 1st. Escolhemos dois genes adjacentes, sc e ec e identificamos as classes recombinantes entre eles. (sc ec+ cv+), (sc+ ec cv), (sc ec+ cv) e (sc+ ec cv+). 2º. Somamos os números de descendentes de cada fenótipo recombinante selecionado e dividimos pelo número total de descendentes achando assim a frequência de recombinação entre os dois genes(163+130+1+1=295)/ 3248=0,091). 3º. Achada a frequência, multiplicamos por 100 para achar a distância entre os dois genes. (0,091x100= 9,1centiMorgan). 4º. O mesmo processo é repetido entre os genes ec e cv e achamos a frequência de 0,105 que multiplicado por 100 dá uma distância de 10,5 centiMorgan(cM). A distância entre os dois genes extremos, sc cv , pode ser calculada somando-se as distâncias entre cada um dos pares adjacentes: 9,1+10,5=19,6cM. Dessa forma, o mapa pode ser assim representado (fig. 4.9): 114 Figura 4.9: Mapa de Bridges e Olbrycht de sete genes ligados ao X em Drosophila. As distâncias são dadas em centiMorgans. Incluindo a representação dos três genes calculados no problema. Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. Também podemos obter esta estimativa calculando o número médio de crossings entre estes genes: Parentais: (1158+1455)= 2613/3248=0,805 Recombinantes com 1 só crossing:163+130+192+148= 633/3248=0,195 x (1) = 0,195. Recombinantes com 2 crossing: 1+1= 2/3248= 0,0006 x (2)= 0,0012. Logo: parentais +recombinantes com 1 crossing + recombinantes com 2 crossing = 0,196 Figura 4.10: Cálculo das distâncias de mapa genético dos dados de Bridges e Olbrycht. A distância entre cada par de genes é obtida estimando-se o número médio de crossings.Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. 115 3.2.3. INTERFERÊNCIA E COEFICIENTE DE COINCIDÊNCIA Um teste de três pontos tem uma vantagem importante em relação a um teste de dois pontos: ele permite a detecção de crossings duplos, permitindo-nos determinar se as trocas em regiões adjacentes são independentes umas das outras. Por exemplo, um crossing na região entre sc e ec ocorre independentemente de um crossing na região entre ec e cv ? Ou um crossing inibe a ocorrência de outro próximo? Para responder a tais perguntas, devemos calcular a frequência esperada de crossings duplos, com base na ideia de independência. Podemos fazer isso multiplicando as frequências de crossing de duas regiões cromossômicas adjacentes. Por exemplo, entre os genes sc e ec no mapa de Bridges e Olbrycht, a frequência de crossing era (163 + 130 + 1 + 1)/3.248 = 0,091, e, entre ec e cv , ela era (192 + 148 + 1 + 1)/3.248 = 0,105. Se for suposta independência (aplica-se a regra do produto das probabilidades), a frequência esperada de crossings duplos no intervalo entre sc e cv seria portanto de 0,09 1 x 0,105 = 0,0095. Podemos agora comparar essa frequência com a frequência observada, que foi de 2/3.248 = 0,0006. Crossings duplos entre sc e cv foram muito menos frequentes do que o esperado. Esse resultado sugere que um crossing inibiu a ocorrência de outro próximo, um fenômeno chamado interferência. A intensidade da interferência geralmente é medida pelo coeficiente de coincidência, c, que é a proporção entre a frequência observada de crossings duplos e a frequência esperada: c = Frequência observada de crossings duplos/ frequência esperada de crossings duplos = 0,0006 / 0,0095 = 0,063 O nível de interferência, simbolizado por I, é calculado como I = 1 - c = 1 – 0,063 = 0,937. Como nesse exemplo o coeficiente de coincidência é próximo de zero, seu menor valor possível, a interferência foi muito forte (I é próximo de 1). No outro extremo, um coeficiente de coincidência igual a um significaria nenhuma interferência; isto é, significaria que os crossings ocorreram independentemente uns dos outros. 116 Muitos estudos mostraram que a interferência é forte em distâncias de mapa menores que 20 cM; assim, crossings duplos raramente ocorrem em curtas regiões cromossômicas. Entretanto, em regiões grandes, a interferência enfraquece a ponto de crossings ocorrerem mais ou menos independentemente. A força da interferência é, portanto, uma função da distância de mapa. 117