O MISSIONÁRIO DOM GIOCONDO A pessoa de Dom Giocondo foi de grande importância para a vida da Prelazia, nos anos difíceis de transição, como foram os anos 60. Dom Giocondo M. Grotti nasceu aos 13 de março de 1928, em Bologna, Itália; veio para o Brasil quando ainda era estudante de 2° ano de Teologia. Terminou os estudos no Seminário Central de Ipiranga, São Paulo, onde foi ordenado sacerdote em 7 de junho de 1952. Estar permanentemente a serviço dos homens era seu maior anseio. “Comecei a pensar no Acre desde os quinze anos, quando quis ser missionário. Aos 43 anos, continuo a amar o Acre com todas as forças, o que Deus me deu de positivo, sentindo-me útil ao povo do Acre cada dia dos anos que lá tenho vivido. E já se foram quase dez anos!”.1 Foi nomeado Prelado da Prelazia do Acre e Purus em novembro de 1962, tomando posse em janeiro de 1963. Foi sagrado Bispo titular de Tunigaba em 1965, na cidade de Rio Branco, estando presente grande parte de seu rebanho. Excepcionalmente dotado, não enterrou os seus talentos. Sua vida, tão breve e tão rica de dons, foi uma doação plena ao serviço de Deus e dos homens. Da pessoa de Dom Giocondo se pode afirmar que foi um homem fiel à vocação carismática do autêntico missionário. Como diz o seu nome, ele era muito alegre, sociável, comunicativo e dinâmico, capaz de esquecer-se completamente de si, quando os outros dele precisavam. Isso aconteceu sempre. Seu lema Dom Giocondo M. Grotti. episcopal foi vivido sempre com autenticidade: “Vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”. Seus companheiros de Ordem descobriram nele, muito cedo, a capacidade e a vocação para a liderança. Um de seus colegas deixou transparecer os traços mais marcantes da personalidade do amigo: “Era um homem-sorriso. Sempre otimista, alegre. Possuía até certos dotes de humorista. Tinha também seus defeitos: um deles, nunca parar para repousar. Era um homem que estava à disposição dos outros das seis da manhã à meia noite. Dava sempre nome às coisas. Entusiasmo contagiante, fantástica confiança na vida, tudo isto fez de Dom Giocondo uma criatura amada em dois continentes”. Quando eleito Prelado do Acre partiu cheio de um entusiasmo que não decresceu nunca, que não esmoreceu um só instante, até o momento em que o 1 Ir. Marília Menezes. Um bispo advogado que luta pelo Acre. Jornal do Comércio, 10/9/71. Pág. 3. Senhor veio buscá-lo no dia 28 de setembro, quando o avião em que viajava de Sena Madureira para Rio Branco, incendiou-se momentos após a decolagem. Como o Bom Pastor, também Dom Giocondo “conhecia o seu rebanho”; conhecia e amava o seu rebanho, lutando para que a sua Comunidade atuasse como uma força viva, numa identificação real com Cristo e a Igreja. Grande conhecedor da realidade da Prelazia lutava para fazer dos homens da terra agentes de seu próprio desenvolvimento, buscando todas as formas de uma educação libertadora, capaz de construir e tornar o homem feliz: verdadeiro pastor do seu rebanho, buscava os meios de fazê-lo caminhar naquele tempo de renovação da Igreja, de maneira incansável, organizando e realizando cursos, palestras e encontros, contando sempre com bons colaboradores, que com ele se sentiam felizes de assumir tão grande e consoladora tarefa. Preocupava-se em alimentar com sua palavra esclarecida as suas ovelhas e não perdia nenhuma oportunidade de dirigir-lhes ensinamentos capazes de leválas a um comprometimento sempre maior no Reino de Deus. “Dom Giocondo, em seus quase 8 anos à frente da Igreja do Acre, soube atrair o amor e a estima de todos, principalmente dos mais pobres e sofredores, aos quais privilegiava e defendia contra a truculência dos grandes. Gostava de vestir o hábito dos Servos de Maria. Era dinâmico, jovem, e estava sempre presente com seu sorriso franco e seu otimismo. Convivendo com os mais pobres, que constituíam a maioria da Igreja, ele havia percebido que não bastava fazer obras de beneficência, mas era preciso mudar as estruturas vigentes. Amiúde, dirigiaDia da ordenação episcopal de se aos grandes que detinham o poder, movido Dom Giocondo, junto com o Pe. apenas pelo desejo de demovê-los de suas André. posições irredutíveis que não levavam em conta o sofrimento dos que não contavam nada na sociedade”.2 Debruçado na máquina de escrever, aproveitava as madrugadas para lançar no papel notas para aulas, palestras, homilias, cartas..., frutos de suas pesquisas e reflexões. Às 5 horas abria as portas da Catedral e depois de algum tempo de oração diante do Santíssimo Sacramento, ficava à disposição de quantos dele precisavam. Depois da celebração da Missa, quase sempre às 6 horas, punha-se a serviço dos irmãos. Pobres, doentes, velhos, jovens casais, aflitos, sucediam-se à porta de sua casa sempre aberta, sempre acolhedora! Sempre tinha uma palavra, um sorriso, uma indicação do caminho a seguir ou uma ajuda sob as formas mais diversas. 2 Pe. André Ficarelli. A Igreja do Acre e Purus e os Servos de Maria. Pág. 44 e 45. Era constante sua preocupação com todas as suas ovelhas, principalmente com a terminação do leprosário, para dar aos pobres enfermos todas as condições para serem menos infelizes. Em uma de suas últimas missas celebrada no leprosário, num dia de encontro com os leprosos (24-7-71), leu umas linhas que havia escrito para eles: “Se nós cremos que Deus é Onipotente -e o é mesmo!-; se nós cremos que Deus, para nos salvar, escolheu o caminho da dor e do sofrimento, e o escolheu mesmo!; devemos concluir: a dor tem seu valor!... a dor tem seu sentido! Mesmo que não sintamos -e é natural- a coragem de procurá-la, deveríamos aproveitá-la, quando vier, dando-lhe o valor e o sentido que a dor teve na vida de Cristo, deste Cristo, que nós, hoje, como cristãos que somos, devemos encarnar!”. Sua assistência aos jovens, adultos, enfermeiras, mães, era continua. Para as religiosas tinha o cuidado especial de prepará-las para que fossem eficazes cooperadoras na construção do Reino na Prelazia. Num dos dias de reflexão a elas dedicado, escreveu para a santa Missa uma carta especial: “Caríssimas irmãs: Cristo nos chamou e nos reuniu para vivermos, presentes uns aos outros, num ideal maravilhoso, sermos um, como Ele e o Pai somos um. Nossa vida deve ser como uma presença constante; não presença em casa, mas presença aos irmãos e para os irmãos: uma presença que é comunhão, dividindo com eles tudo que temos e tudo que somos. Santo Agostinho nos admoesta em sua Regra: e tudo seja comum, ou seja, tudo seja repartido, tudo Bispo Dom Giocondo ajudando na seja participado, tudo seja dividido. Não medição do terreno onde será construída a igreja Nossa Senhora de basta dividir os ofícios, não basta dividir as Nazaré. horas, é preciso dividir o que somos e o que temos, só assim seremos UM com Jesus e o Pai e neste ser UM encontraremos não apenas a força para viver, para lutar e para vencer, mas encontraremos a nossa felicidade, pois a felicidade consiste em se sentir alguém, unido, participado, podendo dar e receber, valorizando e sentindo-se valorizado, completando e sentindo-se completado; pois se Deus nos quis assim, unidos, é porque na união encontramos a nossa realização plena! E para que isso se realize, não basta qualquer tipo de união; só a união que espelhe a união d’Ele, Deus, união do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é que nos pode realizar, porque, ademais, fomos criados à sua imagem e semelhança”.