SOLARTÉRMICO por DIREÇÃO TÉCNICA ADENE A Necessidade de Projetar Instalações Solares de Aquecimento de Água Q uem compra uma habitação, construída após a publicação e entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 80/2006, de 4 de Abril, provavelmente comprará também um sistema solar térmico para aquecimento de águas sanitárias. Na grande maioria das vezes, ao novo proprietário apenas chega a informação genérica de que se sua habitação dispõe de um sistema solar térmico, sem que no entanto lhe seja facultada informação mais detalhada e específica do sistema instalado. A prática comum na instalação destes sistemas é feita recorrendo a esquemas de instalação genéricos, associados a catálogos de preços e soluções, sem que seja desenvolvido um projecto de execução para a instalação particular. Advém daí a falta de conhecimento posterior relativamente ao que é efectivamente instalado, e a dificuldade acrescida em realizar bons trabalhos de manutenção e verificação de uma instalação que chega a custar cinco vezes mais que um equipamento convencional de produção de águas quentes. O projeto de execução, embora dispensado pela maioria dos promotores, é uma peça fundamental para assegurar a qualidade da instalação. Este projecto torna o sistema a implementar mais económico, não só no momento da instalação, mas também durante a sua operação e processo de manutenção, uma vez que o projetista tem as competências técnicas que lhe permitem selecionar os equipamentos mais adequados a cada tipologia de solução. Adicionalmente, a documentação de todo o projecto permite ao utilizador optimizar o funcionamento do sistema e maximizar o potencial de vida da instalação disponibilizando aos técnicos habilitados à sua manutenção, a informação exacta do sistema existente, o que reduz as intervenções avulso e o associado custo das mesmas. Os projetistas de sistemas solares térmicos devem estar devidamente habilitados com formação específica no domínio da energia solar e das tecnologias de aproveitamento desta energia. Com vista a qualificar o mercado da energia solar térmica foram recentemente criadas ferramentas de acesso a bases de dados de projetistas de sistemas solares térmicos, as quais permitem promover profissionais de referência que se dedicam a esta atividade, e que asseguram a qualidade das instalações solares realizadas. O PROJETO E AS SUAS VANTAGENS A implementação de sistemas solares térmicos no sector residencial contribui significativamente para a redução dos 52 consumos de energia convencional. No entanto, o utilizador final só beneficia do sistema se durante o tempo de vida útil da instalação, 25 a 30 anos, este produzir a energia térmica suficiente para rentabilizar o investimento realizado, situação que nem sempre se verifica, ficando o desempenho energético do sistema solar muito aquém do inicialmente idealizado e dos valores preconizados no plano inicial. Por outro lado, a grande maioria das instalações não é dotada de sistemas de monitorização para aferir o desempenho do sistema. Raramente existe um processo de acompanhamento pós compra que valide a instalação e o seu correcto funcionamento ou um organismo de apoio ao comprador em caso de funcionamento defeituoso da instalação. As normas recentemente publicadas, o DL 118/2013, de 20 de Agosto, a Lei 58/2013, de 20 de Agosto e as respetivas Portarias técnicas, relativas ao Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação (REH) e ao Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Comércio e Serviços (RECS), procuram colmatar algumas destas falhas e dar garantias ao comprador através de requisitos como coletor certificado, instalador devidamente qualificado e projeto de execução para instalações solares térmicas com área de captação superior a 20 m2. No entanto, a aplicabilidade de um projecto de execução não deve ser exclusiva para instalações superiores a 20 m2, devendo este ser um requisito base, incluindo em sistemas unifamiliares, para os quais a maioria dos fabricantes disponibiliza os chamados “kits” que são projetos feitos para aplicações domésticas, geralmente com áreas de captação até 10 m2. A este propósito, a revisão da EN 12975-1 propõe que sejam produzidas e comercializadas com os equipamentos solares instruções de ligação entre coletores, da ligação destes ao circuito primário e ainda relativas ao diâmetro da rede de tubagem para sistemas solares térmicos com área de captação até 20 m2. No que se refere ao projeto de execução, trata-se de uma recomendação que faltava na anterior norma e que pode ajudar a resolver muitas situações que têm contribuído para baixar níveis de confiança do comprador do sistema solar. Com a introdução deste requisito, passa a existir uma base de entendimento entre o proprietário e o técnico responsável pela definição da instalação e, o próprio instalador passa a dispor de guião para a obra. A existência de projeto pode ajudar a esclarecer a imputação de responsabilidades sempre que seja necessário esclarecer alguma situação, nomeadamente quando a instalação deixa de funcionar devido a erros e/ou omissões dos profissionais envolvidos. O projeto detém os registos dos pressupostos de dimensionamento da instalação SOLARTÉRMICO que são elementos importantes para qualquer intervenção futura. O projeto passa a ser o documento de ligação entre os intervenientes atuais e os futuros, numa instalação que deve durar mais de duas décadas. O projeto e o dossiê da instalação são documentos que ajudam a contar a história da instalação. Qualquer intervenção de reformulação, reparação, “upgrade” ou mesmo substituição de componentes deve ser sempre implementada após consulta do projeto original que deve ser atualizado no final da intervenção. A elaboração do projeto oferece ao técnico responsável oportunidade para avaliar as várias soluções alternativas possíveis e, conjuntamente com o dono de obra selecionar aquela que melhor se adequa as suas necessidades de água quente e à sua condição de comprador de sistema. O envolvimento do dono de obra é uma forma de partilhar responsabilidades na definição da instalação e na escolha de equipamento. Este envolvimento do dono de obra pode ajudar também na definição do formato de acompanhamento do funcionamento do sistema instalado, muitas vezes indispensável para aferir o desempenho da instalação e o diagnóstico precoce de eventuais anomalias que, desta forma, podem ser corrigidas em tempo útil sem comprometer toda a instalação. Considerando que o projeto deve também definir o objeto de manutenção da instalação (parâmetros de substituição de consumíveis, enumerar as verificações e frequência das intervenções), conclui-se que este pode ajudar a reduzir custos de funcionamento e outros relacionados com a própria manutenção pois, o projetista programa a frequência das intervenções e estima os custos associados, minimizando o tempo de reparação. Estas são algumas garantias que se podem oferecer ao comprador do sistema solar, e que garantem que mesmo que instalação mude de mãos durante o processo de utilização e manutenção, os processos de qualidade foram implementados e é possível assegurar futuras intervenções no sistema com total conhecimento das especificidades do mesmo por parte de outros profissionais. NECESSIDADE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA Qualquer profissional habilitado pode conceber e elaborar um projeto de execução de instalação de sistema solar térmico de aquecimento de água. No entanto, é recomendada formação específica, para o projetista conceber, dimensionar, selecionar e posicionar corretamente no circuito os vários componentes que integram uma instalação. Na escolha dos componentes do sistema, o grau de exigência e requisitos de qualidade devem ser transversais independentemente do valor de investimento, dada a importância dos diversos equipamentos no funcionamento da instalação. Para ilustrar este ponto, podemos considerar a bomba de circulação que pode ter um custo 20 vezes superior ao valor da válvula de segurança, mas que depende criticamente da correta seleção e posicionamento da mesma no circuito para não comprometer o desempenho da instalação. OFERTA FORMATIVA ADENE Respondendo a esta nova realidade, a ADENE oferece um programa de formação completo que responde às exigências dos profissionais que pretendem dedicar-se à elaboração de projetos de instalação de equipamento solar de aquecimento de água. Esta formação está aberta a peritos qualificados que pretendem ou estejam a trabalhar na área de energia solar térmica, ou que não tendo como atividade principal a elaboração de projeto de execução de sistema solar térmico, possam estar envolvidos na emissão de certificados energéticos, no âmbito do SCE, análise de propostas de implementação de sistemas, elaboração de orçamentos ou ainda responsáveis pela condução de obras. Trata-se de uma formação prática focada na conceção e elaboração de projectos, em que no final da formação o candidato deve elaborar e apresentar um trabalho de fim de curso que consiste no projeto de execução de um sistema solar térmico de aquecimento de água de um edifício multifamiliar. Ao concluir com sucesso o trabalho, o candidato fica com bons conhecimentos para utilizar o programa de dimensionamento SOLTERM, desenvolver folhas de cálculo de dimensionamento de componentes essenciais de um sistema solar, produzir um documento base com a descrição detalhada de todos os componentes e recolher elementos suficientes, junto dos fornecedores, para orçamentar uma instalação solar. Para aceder ao certificado de projetista solar térmico CERTIF, o candidato deve cumprir os seguintes requisitos: (1) Obter classificação positiva na avaliação oral e escrita do trabalho deste curso (2) Ter licenciatura ou bacharelato em engenharia, ou experiência profissional relevante nesta área que deve ser documentada BASE DE DADOS DE PROJETISTAS Os profissionais com bons níveis de conhecimento, desempenho e referências ambicionam diferenciar-se daqueles que estando no mercado, não desenvolvem projetos de qualidade nesta área. A recém-criada base de dados procura responder a esta necessidade e ainda proporcionar aos promotores e compradores de sistemas uma listagem simples com indicações de profissionais de referência que seja o ponto de partida na procura de projetistas, bem como de garantias adicionais para o investimento que pretendem realizar. Para o técnico inscrito, a base de dados da CERTIF promove uma visibilidade adicional num mercado bastante competitivo, onde os profissionais procuram alargar o leque de serviços a oferecer aos seus clientes e, ao mesmo tempo, chegar a novos clientes. Em conclusão, pode afirmar-se que o curso promovido pela ADENE conjugado com a certificação CERTIF e a base de dados de projetistas constituem elementos geradores de maior confiança (novas garantias) junto do comprador de um sistema solar térmico. n Mais informações disponíveis em www.adene.pt 53 SOLARTÉRMICO 54