No Mundo da Lua

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No Mundo da Lua
" A Lua, e não o Sol, é o legítimo cronômetro do alvorecer dos tempos".
A Lua sempre foi o marcador de tempo natural das mudanças periódicas que ocorriam em
todos os reinos, era ela também que assinalava todas as etapas e padrões do eterno ciclo da
vida e da morte. Sua misteriosa luz prateada apontava o momento certo para o plantio,
para a colheita, para o acasalamento e para as mudanças climáticas. Os antigos gregos a
representavam como um cálice vazio que enchia-se e esvaziava-se lentamente,
representando as alterações cíclicas das emoções, reações e necessidades humanas.
O símbolo escolhido para representar a esfera matriarcal é a Lua, em sua correlação com
a noite e com a Grande Mãe do céu noturno. A Lua é o astro que ilumina a noite e é o
símbolo do princípio feminino, representando potencialidades, estados de alma, valores do
inconsciente, humores e emoções, receptividade e fertilidade, mutação e transmutação. E,
as fases da Lua, caracterizam os aspectos da natureza feminina, assim como representam
os estágios e as transformações na vida da mulher.
O Mundo da Lua, aparece na qualidade de um nascimento ou renascimento. Onde quer
que se visualize seu símbolo, sempre estaremos diante de um mistério de transformação
matriarcal, mesmo que algumas vezes, mostre-se camuflado no mundo patriarcal.
Os astros luminosos em sua dimensão arquetípica, sempre são símbolos da consciência e
do espírito da psique humana. É por isso que sua posição nas religiões e ritos é
característica das constelações psíquicas dominantes no grupo que, a partir do seu
inconsciente, projetou-os no céu. Para ilustrar, o Sol tem sua correspondência na
consciência patriarcal, enquanto a Lua na consciência matriarcal.
O aspecto lunar do matriarcado não se refere ao espírito invisível e imaterial, bandeira
defendida pelo patriarcado, mas foi a razão pela qual fez com que a Lua acabasse
depreciada, assim como o Feminino a que ela corresponde. Todos seus princípios
marginalizados levaram à conceituação abstrata da consciência moderna e, que hoje
ameaça a existência da humanidade ocidental, pois a unilateralidade masculina acarreta
uma hipertrofia da consciência, às custas da totalidade do homem.
Atualmente, o conhecimento abstraído pela consciência coletiva da humanidade encontrase nas mãos de representantes masculinos, que nem sequer são capazes de incorporar o
princípio solar imaterial e puro.
O Mundo da Lua, está longe de ser, como supunha o mundo patriarcal, somente um nível
de matéria inferior, de fugacidade telúrica e escuridão. Nos mistérios do renascimento
ocorre a iluminação e a imortalização do homem. Este mesmo homem, que é iniciado pela
Grande Mãe, como demonstra os mistérios eleusinos e o seu renascimento acontece como
um nascimento luminoso no céu noturno. Ele brilhará como um ponto de luz no manto
negro da noite, iluminando o mundo noturno, mas mesmo tornando-se deste modo,
imortal, a Mãe não o libera, mas o carrega para perto de si na mandala celeste, pois uma
Mãe jamais abandona seu filho.
A LUA E A MENSTRUAÇÃO
A cada 28 dias a Lua completa seu ciclo de crescente a minguante. A Lua Nova marca a
primeira iluminação e um fiapo fica visível no céu noturno. A Lua então cresce até o
primeiro quarto, quando se pode visualizar a metade de seu disco. Continua a crescer e
completa-se até atingir a Lua Cheia. Neste ponto, começa a diminuir de tamanho até o
terceiro quarto, quando novamente só se vê a metade do disco e continua assim até que
não se veja mais seu disco. Em quinta fase, esta Lua Escura dura três noites e esta, é este é
o mais poderoso de todos os ciclos da Lua.
A Lua, com seu ciclo de nascimento, crescimento e morte, é um lembrete poderoso, todos
os meses, da natureza dos ciclos. Em épocas remotas, os ciclos menstruais das mulheres
eram perfeitamente alinhados com os da Lua. A mulher ovulava na Lua Cheia e
menstruava na Lua Escura. A Lua Cheia era o ápice do ciclo da criação, era quando o
óvulo era liberado. Nos 14 dias que antecedem esta liberação, as energias da criação
reúnem tudo que é necessário para constituir o óvulo. Quando passava a Lua Cheia e o
óvulo não era fertilizado, tornava-se maduro demais e se decompunha, derramando-se no
fluxo natural de sangue na Lua Escura. Quando a mulher vive em perfeita harmonia com
a Terra, ela só sangra os três dias da Lua Escura. Quando a Lua Nova emerge, seu fluxo
naturalmente deve cessar e o ciclo da criação é reiniciado dentro dela.
Em nossa sociedade atual, o uso de pílulas anticoncepcionais, fez com que a mulher
deixasse de incorporar e compreender este ciclo de criação e destruição dentro de si.
Alguns índios norte-americanos, consideravam a Lua uma mulher, a primeira Mulher e,
no seu quarto minguante ela ficava "doente", palavra que definiam como menstruação.
Camponeses europeus acreditavam que a Lua menstruava e que estava "adoentada" no
período minguante, sendo que a chuva vermelha que o folclore afirma cair do céu era o
"sangue da Lua".
Em várias línguas as palavras menstruação e Lua são as mesmas ou estão associadas. A
palavra menstruação significa "mudança da Lua" e "mens" é Lua. Alguns camponeses
alemães chamam o período menstrual de "a Lua". Na França é chamado de "le moment
de la luna".
Entre muitos povos em todas as partes do mundo as mulheres eram consideradas "tabu"
durante o período da menstruação. Este período para algumas tribos indígenas era
considerado um estado tão peculiar que a mulher deveria recolher-se à uma "tenda
menstrual" escura, pois a luz da Lua não deveria bater sobre ela. O isolamento mensal da
mulher, tinha o mesmo significado que os ritos de puberdade dos homens. Durante este
curto espaço de tempo de solidão forçada, as mulheres mantinham um contato mais íntimo
com as forças instintivas dentro de si.
Em tribos mais primitivas, nenhum homem podia se aproximar de uma mulher
menstruada, pois até sua sombra era poluidora. O sangue menstrual, nesta época, era tido
como contaminador. Acreditavam também, que a mulher menstruada tinha um efeito
poluente sobre o fogo e se por algum motivo se aproximasse dele, esse se extinguiria.
Ainda, de acordo com o Talmude, se uma mulher no início da menstruação passasse por
dois homens, certamente um deles morreria. Se estivesse no término de seu período,
provavelmente causaria uma violenta discussão entre eles.
Por vários motivos as mulheres acabaram impondo à si mesmas uma abstinência, muito
embora, tanto nelas como nos animais, o período de maior desejo sexual é imediatamente
anterior ou posterior a menstruação.
Na Índia, acredita-se ainda hoje, que a Deusa-Mãe menstrua. Durante essa época, as
estátuas da deusa são afastadas e panos manchados de sangue são considerados como
"remédio" para a maior parte das doenças. Na Babilônia, pensava-se que Istar, a Deusa
Lua, menstruava na época da Lua Cheia, quando o "sabattu" de Istar, ou dia do mal, era
observado. A palavra "sabattu" vem de sabat e significa o descanso do coração. É o dia de
descanso que a Lua tem quando está cheia. Este dia é um percursor direto do sabath e
considerava-se desfavorável qualquer trabalho, comer comida cozida ou viajar. Essas
eram as coisas proibidas para a mulher menstruada. O sabath era primeiramente
observado somente uma vez por mês e depois passou a ser observado em cada uma das
fases da Lua.
Hoje, uma compreensão científica e objetiva já nos livrou de todos estes tabus, mas é bom
lembrar que em certo momento histórico, inconscientemente, a natureza instintiva
feminina podia provocar a anulação dos homens.
A NATUREZA TRINA DA MULHER
A natureza da mulher é cíclica e bem separada de seus desejos pessoais e ela experimenta a
vida através desta natureza sempre mutável. As mudanças mais marcantes de seu
comportamento acontecem em relação aos seus sentimentos. Tudo pode estar auspicioso e
alegre em certo momento, mas passado pouco tempo poderá estar melancólico e
deprimente. Desta forma, sua percepção subjetiva da vida é projetada para o mundo
exterior e a mulher pode sentir a mudança cíclica como uma qualidade da própria vida.
No curso de um ciclo completo, que corresponde à revolução lunar, a energia da mulher
cresce, brilha esplendorosa e volta a minguar totalmente. Essas mudanças afetam-na tanto
na vida física como sexualmente e também psiquicamente. Na mulher, a vida tem fluxo e
refluxo que é dependente de seu ritmo interno. O ir e vir da energia, quando perfeitamente
compreendido pela mulher, pode presenteá-la com uma oportunidade de trabalho ou uma
aventura espiritual, a qual ela espera há muito tempo. Se a Lua lhe for favorável, ela
poderá ter uma vida mais livre e cheia de oportunidades, mas se a Lua estiver
desfavorável, pode perder sua chance, sendo incapaz de recuperá-la. Não é de admirar que
nossos ancestrais chamassem a Lua de "Deusa do Destino", pois realmente é fato que ela
influência no destino da mulher, assim como dos homens também, embora
inconscientemente.
No mundo patriarcal, as mulheres descuidaram-se de seus ritmos para tornarem-se
competitivas e o mais próximas possíveis dos homens. Caíram, sem perceber, sob o
domínio do masculino interior, perdendo o contato com seu próprio instinto feminino,
passando a viver somente através das qualidades masculinos do "animus". Entretanto,
negar sua identidade é constituir-se em um ser sem alma. Não é incorporando os valores
masculinos ou tentando imitar seu comportamento que terá reconhecido o seu valor. A
mulher deve ser reconhecida também, pela sua dimensão feminina e não pela sua
dissociação da sua realidade psíquica.
A MULHER LUA CRESCENTE
A primeira face da Deusa é a Donzela, ou Virgem e que corresponde a Lua Crescente.
Representa a juventude, a vitalidade, à antecipação da vida, o início da criação, o potencial
de crescimento e a semente do "vir a ser".
A Lua Crescente, portanto, liga-se a "virgem", a mulher solteira e sugere inúmeras
promessas ocultas de crescimento, de riqueza, de criatividade e de prazer. Esta Lua nos faz
voar à um mundo de sonhos e devaneios. Nos tornamos seres alados que levitam num céu
estrelado de possibilidades, onde o impossível torna-se realidade. É o verdadeiro despertar
de Eros, do amor, da vida que não nos impõe nenhum obstáculo. Neste mundo onde tudo é
possível a mulher personifica-se como a eterna amante, a musa inspiradora que concretiza
a eterna felicidade.
A mulher na Lua Crescente consegue expor sua feminilidade com muita espontaneidade.
Ela é a personificação da deusa em sua manifestação instintiva e natural, buscando sua
essência. Ela é rica em fertilidade e possibilidades, sem limites. Precisa de todo o espaço
para expandir-se e manifestar-se. É erva que se alastra e cobre tudo, pois ela é livre,
animal sem dono, que não admite ficar presa à ninguém. Dona de si mesma, ela se rege, se
governa por seus princípios internos, muitas vezes à custa de muito sofrimento, pois toda
liberdade tem seu preço.
Este princípio feminino é representado por várias deusas e uma delas é Àrtemis, a
arqueira-virgem e amazona infalível, que corria livre pelos campos e de coração solitário.
Ela é arquétipo da feminilidade mais pura e primitiva. Ela santifica a solidão e a vida
natural. E, é ela que garante a nossa resistência a domesticação. Outra deusa da Lua
Crescente é Inana, uma antiga entidade suméria que é portadora de qualidades lunares
femininas. Em época de mudanças, esta deusa sempre está presente e pode ser invocada.
As mulheres que incorporam os atributos da Lua Crescente, são muito sensuais,
verdadeiras Afrodites contemporâneas e conhecedoras da influência de seus poderes.
Sentem orgulho de seu sexo e possuem uma vitalidade rara, somada a uma ansiedade de
ampliar os horizontes de seu psiquismo. Jamais se adaptam à limites sociais e culturais,
pois seu desejo de expansão é incontrolável. Estão sempre mudando, são mulheres
inquietas e instáveis. Como a Lua Crescente, revolucionam, criam e transformam
constantemente. São difíceis de serem civilizadas, pois como Àrtemis, possuem um amor
intenso pela liberdade, pela independência e autonomia. Possuem temperamento
estouvado e aprendem muito cedo a engolir suas lágrimas e planejar vinganças pelas
humilhações que sofrem, devolvendo na medida certa o que receberam.
Para um homem relacionar-se com uma mulher-lua-crescente, pode ser um desafio e tanto.
Igualmente, a mulher que penetrar fundo nesse lado de sua natureza Artemísia, precisará
reconhecer o poder primitivo de sua sanguinolência e o efeito que pode ter sobre o homem.
A Lua Crescente nos põe em contato com todos esses aspectos da natureza feminina.
A MULHER LUA CHEIA
O aspecto de Mãe da Deusa sempre foi o mais acessível para que a humanidade o
reconhecesse, invocasse e o identificasse. A Lua Cheia está associada à imagem maternal
da Deusa, à mulher em toda a sua plenitude, ao potencial pleno da força vital. Ela
corresponde ao crescimento e amadurecimento de todas as coisas, ao ponto culminante de
todos os ciclos, à semente germinada e à plenitude do caldeirão.
Na Lua Cheia entramos em outra dimensão do feminino, aqui o instinto se coloca a serviço
da criação e da humanização. Esta é a fase lunar que é iluminada pelo Sol em sua
totalidade, indicando mais clareza de consciência e um melhor relacionamento entre
masculino e feminino, o que propicia a criação.
A Lua Cheia é a Lua Grávida de criatividade, de riqueza e da realização do próprio
crescimento. É a imagem da Mãe, com o poder divino de carregar uma nova vida em seu
ventre. É ela que gera, promove o crescimento e dá o nascimento. Ela é a deusa da
maternidade, que traz consigo a fertilidade para a terra e para os homens.
A Lua Cheia nos conecta com a terra, nos coloca em contato com os valores terrenos, é o
próprio amor realizado. Esta Lua-Mãe, foi expressa mitológicamente pelos gregos como
Deméter com sua prodigiosa energia para nutrir e acalentar e sua dedicação
desinteressada para com os filhos e a família. Esta deusa-mãe também é visualizada em
Cibele, Ísis, em Astarte e na Virgem Maria. Todas aparecem sempre com o filho, o que
pressupõe uma capacidade de relacionamento e reprodução realizada. O filho representa o
nascimento, o Logos no feminino. A Lua, deste modo, relaciona-se com o mundo de
maneira mais humana, através de seu filho. Estabelece-se assim, um contato mais íntimo
entre o mundo interno e o externo, do divino com o terreno e do espiritual com o material.
A maternidade em si já é uma doação, mas também associa-se à capacidade de sacrifício.
Todas as deusas citadas, têm em comum o fato de terem um filho que morre e depois
ressuscita. O filho seria a semente que morre, se decompõe na terra, para trazer em
seguida a renovação da vida. Mas, enquanto não chega a hora do sacrifício, o filho reina
junto com a Mãe-Lua e é controlado por ela.
A mulher regida pela Lua Cheia é mais confiável, pois se assemelha à Mãe. Ela é
acolhedora, mais domesticada e sempre se coloca à disposição e proteção do outro. Esta
mulher tem os pés no chão e seus mistérios não são tão ocultos, pois ela se revela mais
claramente. Ela acolhe a criação, que é a união do masculino com o feminino. Mas esta
mulher tem uma preocupação exagerada com a segurança, o que impede o seu
aprofundamento em seus relacionamentos, pois o contato mais íntimo, pode constituir-se
em uma ameaça. Desenvolve então, um controle fora do comum e nada pode pegá-la
desprevenida. Aqui desenvolve-se um impedimento a sua criatividade, pois seus passos são
calculados, evitando confrontar-se com o desconhecido, que podem lhe proporcionar
surpresas desagradáveis.
A mulher-lua-cheia é a esposa e mãe perfeita, desfaz-se em eficiência e cuidados, mas
faltam-lhe a paixão e a inquietação.
A MULHER LUA MINGUANTE
O terceiro aspecto da Deusa, a Anciã, corresponde à fase da Lua Minguante, sendo o
menos compreendido e o mais temido.
A Lua Minguante define-se no acaso e na velhice. É aquela que encerra em si a sabedoria e
os segredos nunca revelados. Está associada a velha bruxa, ao deteriorar da força vital, ao
envelhecimento, assim como, aos poderes de destruição e da morte, à destruição do
impulso de Eros.
A mulher que é arquetípicamente regida pela Lua Minguante é misteriosa e por vezes
indefinível. Parece possuir um potencial para realização de algo que é difícil definir com
exatidão. Possui virtualidades pressentidas, mas nem sempre realizadas. Ela mesma não se
define de maneira consciente e clara. Possui também uma certa dificuldade em lidar com
os aspectos da vida consciente. Esta é a mulher que vive no "mundo da lua". Está sempre
descobrindo novas possibilidades, mas tem certa dificuldade em direcioná-las e nunca
consegue finalizar o que começou.
Como está mais próxima e mantém constante contato com as fontes inconscientes da
fertilidade, aparenta estar realizando algo, mas que pode nunca concretizar. É sempre
suscetível a perder-se em sonhos e devaneios em função da dificuldade que tem em lidar
com o concreto e o real. O seu maior obstáculo é o tempo presente, pois está sempre
voltando ao passado, revendo tudo o que foi capaz de realizar, ou lamentando o que deixou
de fazer. Ela está sempre distante do presente e por isso torna-se fria e distante dos outros,
devido ao seu excesso de auto-referência.
A sua criatividade, se não submetida ao controle do ego consciente, pode assumir uma
forma caótica e desordenada. A sua maior dificuldade está em mobilizar e dirigir essa
energia. Possui ela, todo o potencial para a criação por seu acesso fácil às fontes criadoras
lunares, mas necessita compreender e separar a mistura orobórica criativa, a fazer a
ordenação do caos, para que ele se transforme num cosmo criativo
A mulher Lua Minguante possui uma energia muito forte, mas ela pode manifestar-se de
maneira tanto construtiva, como destrutiva, dependendo da forma como trabalha o seu
consciente. A necessidade de mudança também está sempre determinando seu
comportamento. O que mais importa para ela é o próprio processo do que o objetivo final,
o caminho não tem tanta importância, mas premente é a necessidade de fazer a passagem.
A introspecção ao mundo interior ocorre facilmente para a mulher regida pela lua
minguante. A sua maior dificuldade está no fato de tornar-se produtiva e realizar toda a
fertilidade encontrada. Se não conseguir direcionar essa vitalidade, objetivando-a e
encaminhando-a para a realização criativa, toda essa riqueza pode se tornar inútil.
A Lua Minguante sempre serviu como vaso adequado para a projeção de todo o lado
sombrio, tanto do homem como da mulher. Aqui penetra-se no reino de Hécate e Lilith e
tantas outras deusas que apresentam aspecto sombrio, mas que pode no final nos trazer a
iluminação. Talvez torne-se necessário para a mulher fazer um acordo com estas deusas,
para que elas a presenteiem com a possibilidade de um enriquecimento de personalidade,
permitindo a sua expressão de uma forma mais humanizada e não tão instintiva. Deste
modo, as dimensões do instinto poderão ter uma via mais integrada, em que pode haver a
participação de novas forças energéticas.
É observando e reconhecendo os movimentos da Lua no céu e integrando as suas três
fases, que poderemos nos alinhar e sintonizar com o fluxo do tempo e com os ritmos
naturais. Nos utilizando dos poderes mágicos da Lua e reverenciando as Deusas ligadas a
ela, criaremos condições para melhorar e transformar nossa realidade, harmonizando-nos
e vivendo de forma mais equilibrada, plena e feliz.
NÃO A GUERRA DOS SEXOS....
...SIM AO COMPANHEIRISMO!
Hoje, a maioria das religiões, concebem como única e suprema uma divindade que é
masculina, entretanto, ao resgatarmos tradições mais antigas, aprendemos que
anteriormente, tanto o homem quanto a mulher, cultuavam uma Grande Mãe. O resgate
destas tradições nos levam a compreender que homens e mulheres nasceram para viver em
parceria e que, nós mulheres, podemos honrar o espírito feminino, buscando o equilíbrio e
a paz, para ambos os sexos.
As mulheres, nos últimos anos, desbancaram a bandeira de sexo frágil. Elas batalharam e
conseguiram a independência, poder e reconhecimento. Em pé de igualdade com o homem,
hoje tem como meta principal conciliar carreira, maternidade e encontrar um homem
ideal. Os homens em contrapartida, não mudaram tanto assim, não acompanhando o
ritmo veloz feminino. Em conseqüência disto, criou-se um abismo entre os dois sexos. Mas,
felizmente, as mulheres jamais abandonaram o seu ideal romântico de encontrar um
companheiro para caminhar lado a lado. Todas anseiam apaixonar-se e casar, mas não
abrem mão da busca do sucesso profissional. Assim, alegam a maioria delas, se
fracassarem na vida sentimental, terão o trabalho para satisfazê-las e ocupá-las. Devem
então, ter muito cuidado para não investir tempo integral às suas carreiras, pois
fatalmente, por total falta de tempo matarão sua vida afetiva.
O amor e a maternidade para a mulher é um fator mais do que biológico. Ir contra à sua
natureza, fará com que a mulher deixe de usufruir de uma realização pessoal.
O homem também obteve alguns avanços e hoje, ele parece estar mais disponível e
sensível. A cada dia vislumbra-se pais mais participantes, amantes mais amorosos e
companheiros que dividem com a mulher as tarefas rotineiras da casa. Estamos entretanto
ainda, em um momento de transição, onde os papéis masculinos e femininos não estão bem
delineados. O homem, continua a não saber direito lidar com suas emoções em função de
sua postura cultural e a mulher buscou e conquistou a independência, o reconhecimento e
a igualdade. Mas bem no íntimo, ela continua romântica e deseja ser conquistada. No
fundo, talvez não imaginasse que pudesse ir tão longe para depois sentir-se perdida. Com
tantas conquistas, vieram também as armadilhas e ela acabou sobrecarregada, pendendo
de um lado para o outro com a expansão das possibilidades.
Talvez, seja este o momento da mulher parar de provar que pode tudo e unir-se em
companheirismo com o homem. Se realmente buscamos construir uma sociedade
equilibrada e serena, todas as idéias egocêntricas de superioridade e culto à guerra sexista
deve desaparecer entre os homens e mulheres, dando lugar a uma visão cósmica de
complementariedade entre os sexos.
NA GUERRA DOS SEXOS QUE VENÇA O AMOR!
Bibliografia consultada:
•
O Casamento do Sol com a Lua. Raissa Cavalcanti. Editora Cultrix, São Paulo.
• A Grande Mãe. Erich Neumann. Editora Cultrix, São Paulo.
• As Deusas e a Mulher. Jean Shinoda Bolen. Editora Paulus, São Paulo.
• Os Mistérios da Mulher. M. Esther Harding. Editora Paulus, São Paulo.
• O Novo Despertar da Deusa. Organização Shirley Nicholson. Editora Rocco Ltda,
Rio de Janeiro
• Variações sobre o tema mulher. Jette Bonaventure. Editora Paulus, São Paulo.
GAIA, A MÃE TERRA
Antes do homem ser criado, só havia terra e ar e antes mesmo de existir o ar e a terra, se
necessitava de um lugar para estes se manifestarem. Este lugar era o Caos: que era o lugar onde
existia só a possibilidade de ser. No sonho do Caos só existia o Pensamento, que crescia e
palpitava e este Pensamento estabeleceu a Ordem. Tão poderoso e eficaz foi este Pensamento
que chamou a si mesmo de Eros, e ao pronunciar aquele nome, o Caos se transformou no
Momento. Do Caos e Eros surgiram a obscuridade chamada Nyx e o movimento chamado
Boreas, o vento.
Em sua primeira dança cósmica, Nyx e Boreas, giraram em movimento arrebatado e frenético
até que tudo que era denso e pesado descendeu, e tudo que era leve ascendeu. A matéria densa
era Gaia e de sua chuva e de sua semente proveu sua descendência.
A princípio, de Gaia nasceu Urano ou o Céu, que uniu-se a ela gerando os gigantes, feios,
violentos e poderosos Titãs, os Titânides, incluindo Cronos, o Devorador Pai do Tempo. Urano
não tolerava os filhos e logo que nasciam, os empurrava de volta para dentro do útero, para o
fundo da Terra Mãe, onde estagnavam pela ausência de luz, atividade e liberdade. Finalmente
um deles, Cronos, foi secretamente removido do próprio útero da Mãe Gaia e quando o Pai
Urano desceu para cobrir Gaia, esse filho titânico rebelde e irado castrou-o. Depois libertou seus
irmãos e irmãs e, com isso deu início à era dos Titãs.
Segundo Hesíodo, o movimento de saída da constelação Urano começa quando Gaia fica
sobrecarregada com o fardo dos filhos, que lhes foram socados de volta ao ventre. O incômodo
de Gaia, devido ao peso e à pressão dos filhos titânicos em seu útero, prenuncia o início de um
plano que trama derrubar seu marido-filho Urano valendo-se de Cronos, o filho heróico.
O sangue de Urano jorrou sobre a terra gerando outros Deuses, como as Erínias (Fúrias), as
Meliae (ninfas do espírito das árvores) e os Gigantes. Cheio de mágoa e em conseqüência da
mutilação de que fora vítima, Urano morreu.
As representações de Cronos que se seguiram não são muito consistentes; de um lado, dizem
que seu reino constituiu a Idade do Ouro da inocência e da pureza, e, por outro lado, ele é
qualificado como um monstro, que devorava os próprios filhos. Em grego Cronos quer dizer o
Tempo. Este Deus que devora os filhos é, diz Cícero, o Tempo, o Tempo que não sacia dos anos
e que consome todos aqueles que passam.
Da união de Gaia e Urano nasceram também: Hipérion, Japeto, Réia ou Cibele, Temis, Febe,
Tetis, Brontes, Steropes, Argeu, Coto, Briareu, Giges.
Dizia-se que o homem nascera da terra molhada aquecida pelos raios de Sol. Deste modo, a sua
natureza participa e todos os elementos e quando morre, sua mãe venerável o recolhe e o guarda
em seu seio.
No mito grego, não há nenhuma razão que explique o porque, Gaia e Urano, depois de terem
criado tantas coisas bonitas, geraram os titãs, filhos violentos, de força horrorosa e terrível. No
entanto, sua chegada significa o fim de uma antiga ordem.
A Terra, às vezes tomada pela Natureza, tinha vários nomes: Titéia, Ops, Vesta e mesmo Cibele.
Algumas vezes a Terra é representada pela figura de uma mulher sentada em um rochedo. As
alegorias moderna descrevem-na sob traços de uma venerável matrona, sentada sobre um globo,
coroada de torres, empunhando uma cornucópia cheia de frutos. Outras vezes aparece coroada
de flores, tendo ao seu lado um boi que lavra a terra, o carneiro que se ceva e o mesmo leão que
está aos pés de Cibele. Em um quadro de Lebrum, a Terra é personificada por uma mulher que
faz jorrar o leite de seus seios, enquanto se desembaraça do seu manto, e do manto surge uma
nuvem de pássaros que revoa nos ares.
Gaia foi também, a profetiza original do centro de advinhação da Grécia Antiga: o Oráculo do
Delfos. O Oráculo, considerado o umbigo da Terra, situava-se onde a sabedoria da terra e da
humanidade se encontravam.
Gaia é o ser primordial de onde todos os outros Deuses se originaram, mas sua adoração entrou
em declínio e foi suplantada mais tarde por outros deuses. Na mitologia romana é conhecida
como Tellus. Gaia é a energia da própria vida, Deusa pré-histórica da Mãe Terra, é símbolo da
unidade de toda a vida na natureza. Seu poder é encontrado na água e na pedra, no túmulo e na
caverna, nos animais terrestres e nos pássaros, nas serpentes e nos peixes, nas montanhas e nas
árvores.
ARQUÉTIPO DA TERRA
Quando falamos do arquétipo da Terra, estamos também inevitavelmente nos referindo ao
arquétipo do Céu, e à relação entre os dois. É só depois que separmos o que está aqui embaixo
com o que está lá em cima, que entenderemos o simbolismo do que está acima que é leve, claro,
masculino e ativo, e a Terra, que está abaixo e é pesada, escura, feminina e passiva.
A humanidade como um todo reunida em torno do arquétipo Terra está associada tanto à este
mundo que é corpóreo, tangível, material e estático, quando ao seu simbolismo oposto do Céu
que está ligado ao outro mundo, incorpóreo, intangível, espiritual e dinâmico. Para entendermos
o arquétipo da Terra e da Deusa Mãe Terra, devemos entrar em contato com as contradições Céu
e Terra, Espírito e Natureza.
A imagem patriarcal cristã da Terra, durante a Idade Média, era sem nenhuma ambigüidade,
negativa, ao passo que o arquétipo positivo do Céu era dominante. A parte decaída inferior da
alma pertencia ao mundo da Terra, enquanto que sua verdadeira essência que é o "espírito", se
originava no lado celestial masculino de "Deus", ou do Mundo Superior. O lado terreno então,
deveria ser sacrificado em nome do Céu, porque a Terra era feminina, pertencendo ao mundo
dos instintos, representanda pela sexualidade, sedução e o pecado.
Esta autonegação do homem, desperta em nós não apenas espanto, mas horror, em virtude da
natureza humana terrena, ser considerada repulsiva e má. Depreciação da Terra, hostilidade para
com a Terra, que nos alimenta e protege, são expressão de uma consciência patriarcal fraca, que
não reconhece outro modo de ajudar a si mesma a não ser fugir violentamente do domínio
fascinante e avassalador do terreno.
Foi somente a partir da Renascença que a Terra libertou-se desta maldição, tornando-se
Natureza e um mundo a ser descoberto que aparece com toda a sua riqueza de criatura viva, que
já não estava em oposição com um Espírito Céu da divindade, mas na qual a essência divina se
manifesta. O espírito que de agora em diante será buscado é espírito da Terra e da humanidade.
VALORIZAÇÃO DE GAIA
Como se respondesse a nossa atual crise de meio ambiente, o nome Gaia se escuta hoje em dia
por todas as partes. Existe a "Hipótese de Gaia" do físico James Lovelock, que propõe que o
planeta terra seja um sistema auto-regulado; a "consciência de Gai", que instiga para que a terra
e suas criaturas sejam consideradas um todo e simplesmente e o termo "Gaia", que expressa
reverência faz do planeta um ser vivo de que toda a vida depende. A esse fenômeno está
associada a idéia que só uma personificação do planeta pode devolver-lhe uma identidade
sagrada, de modo que seja possível estabelecer uma nova relação entre os seres humanos e o
mundo natural.
Não é coincidência que m pleno século XXI regresse a mentalidade grega para formular essa
experiência, posto que no Ocidente a última Deusa da Terra foi Gaia. É certo que na mitologia
clássica a Deusa já tinha a mesma posição de Mãe Suprema de todo o ser vivo que tinha no
período Neolítico, no entanto, a terra seguiu sendo inclusive em filosofia, um ser vivo (zoon),
segundo a terminologia platônica. Essa consciência perdeu-se nas referências judias e cristãs em
essa perda se faz evidente no modo em que passamos a tratar a terra como se fosse matéria
morta. Fica óbvio portanto, que Maria, a Deusa Mãe reconhecida pela igreja cristã, tenha
adquirido todos os atributos das Deusas Mães, exceto o de Deusa da Terra.
No entanto, no século VII a. C., a realidade de uma só Deusa havia passado à história e a
unidade original da terra e do céu se havia perdido na lenda dos inícios. Hesíodo que, como
Homero, em torno de 700 a. C., evoca essa época tal como sua mãe se recordava. Sugere, talvez,
como uma cultura de uma Deusa que ficou na lembrança através das histórias transmitidas de
geração para geração, no colo das mães:
"Não de mim, sim de minha mãe, procede o conto de como a terra e o céu foram uma vez uma
só forma".
RECONHECENDO A DEUSA
As imagens mitológicas da Grande Mãe, Criadora do Universo, são numerosas, como
numerosos são estágios da revelação do ser dela, mas a forma mais difundida e conhecida de
sua manifestação, a forma que define sua essência é a de Terra Mãe.
Reverenciar os princípios femininos e a consciência da Deusa Gaia, nos ajuda a nos colocar em
contato com a beleza e a magia da natureza e todas as suas criaturas.
Reconhecer esta Deusa da Natureza, como nossa Mãe Terra amorosa, ajuda a expandir nosso
respeito ao meio ambiente e nossa busca do equilíbrio entre as energias masculinas e femininas,
para que, em lugar de competir, trabalhemos juntos, para o bem individual e coletivo.
A maioria das mulheres, já lançam mão da sabedoria da Deusa, para ocupar seu espaço na terra
e no presente milênio.
Vamos deixar que a Deusa renasça, se expresse em nossas intenções, vontades e desejos, para
que possamos extrair de nosso corpo os movimentos sagrados de sua dança e deixar que embale
nossos sonhos.
NUTRI TEU AMOR PELA TERRA
Reverenciar Gaia não requer nenhuma fé, a simples consciência das manifestações da natureza
que ocorrem a nossa volta, já é o bastante para absorvermos sua energia. Nos conectarmos com
Gaia é mais simples ainda:
Caminhe descalços na terra, areia ou grama, a sensação é deliciosa;
Em uma praça ou jardim, feche os olhos e tente identificar o cheiro das flores;
Coma seu alimento de cada dia consciente que tudo é presente de nossa Mãe Terra;
Abrace um bebê e admire conscientemente o milagre da vida;
Sente-se na grama e observe as formigas trabalhadeiras em seu diário trabalho de sobrevivência;
Coloque os pés descalços na terra e brinque de árvore, enraizando-se e sugando a seiva da Terra;
Você mesma pode inventar seu ritual, desde que esteja em contato com a Natureza, tudo é
válido.
RITUAL PARA MANTER JURAMENTOS
Você pode se utilizar desse ritual para fortalecer a resolução de manter uma promessa. Pode
estar também, fazendo um juramento para si mesmo, como pode pedir para que outra pessoa
cumpra algo que tenha lhe prometido. Gaia ainda, rege os matrimônios, assim que esse é um
excelente ritual para efetivar votos matrimoniais.
Você necessitará de um vaso de barro, terra e tomilho (Thymus vulgaris) para realizar esse
ritual.
Tome um punhado de terra fresca e limpa e coloque no oco do vaso de barro, que deverá ser em
seguida disposto em cima de uma mesa com uma vela preta em cada lado. O negro significa a
solenidade do ritual.
Para prestar seu juramento, ponha uma das mãos no oco do vaso sobre a terra e diga:
"Juro por Gaia e pela terra em que caminho que....." e especifique a sua promessa. Se está
fazendo um juramento conjunto com outra pessoa, ambos devem por as mãos no oco do vaso ao
mesmo tempo. Espalhe a terra em seu pátio, ou deixe-a dentro do vaso para plantar o tomilho. O
tomilho significa recordação, para que nunca esqueça sua promessa.
A DEUSA HERA
Hera para os gregos, Juno para os romanos, a Rainha do Olimpo, governava junto ao seu
marido Zeus. Ela era filha de Cronos e Réia, a Grande Mãe deusa titã e foi criada na
Arcádia. Teve como ama as Horas, ou as Três Estações.
O pouco que se sabe sobre ela provém de "Ilíada" de Homero, onde ganha fama de esposa
ciumenta. O que descortina-se entretanto, é que em culturas patriarcais antigas, os
homens tinham por regra, satirizar toda e qualquer mulher que alcança-se algum poder.
Se Hera foi uma mulher disposta a contendas conjugais, realmente é porque ela estava
coberta de motivos. Zeus era um homem libertino, promíscuo e infiel. Praticamente
nenhum de seus filhos foram concebidos dentro dos limites de seu casamento oficial. O
único deus que nasceu da união legítima de Zeus e Hera foi Ares, o deus da guerra, o mais
medíocre dos deuses gregos. Visualiza-se aqui uma sociedade contemporânea, configurada
em uma família patriarcal. Zeus é o pai, o chefe, o "cabeça do casal". Muito embora os
conflitos persistentes, a supremacia de Zeus é escancarada.
Zeus, pai dos deuses e dos homens era um nódico. Ele e sua paternidade de Wotan (Odin),
vieram do norte junto com demais tribos, cujo o sistema social era patrilinear. Já Hera,
representa um sistema matrilinear. Ela era a Rainha de Argos, em Samos e possuía no
Olimpio um templo distinto de Zeus e anterior a este. Seu primeiro consorte foi Heracles.
Quando os nórdicos conquistadores chegam a Olímpia, massacram a população e
concedem às mulheres a lúgubre escolha entre a morte ou a submissão à nova ordem. Hera
reflete, portanto, uma princesa nativa que foi coagida, mas não subjulgada por este povo
guerreiro. Assim, sabe-se agora o devido motivo porque o único filho de Zeus e Hera
tenha sido Ares, o deus da guerra. Realmente Zeus e Hera viviam em "pé de
guerra"dentro do Olimpio.
Hera foi extremamente humilhada com as aventuras de Zeus. Ele desonrou o que ela
considerava de mais sagrado: o casamento. Favoreceu seus filhos bastados em detrimento
de seu legítimo e pisoteou seu lado feminino quando ele mesmo deu à luz a sua filha
Atenas, demonstrando que não precisava dela nem para conceber.
Nos dias atuais, embora a mulher através de árduas penas tenha conquistado seu espaço,
os casamentos não se modificaram tanto assim. Permanecemos em uma sociedade
patriarcal e o casamento ainda é considerado como uma instituição de procriação.
As mulheres continuam a sofrer violências domésticas e profissionais e a busca do tão
almejado casamento por amor com satisfação sexual plena é castrado pelas concepções
obsoletas cristãs. Mas, muito embora todas estas limitações e deficiências do casamento, a
mulher sente-se profundamente atraída por ele. Romanticamente todas sonham em
compartilhar a tarefa de criar seus filhos e estabelecer uma unidade chamada "família".
HERA ANTES DE ZEUS
Estudos mais apurados revelam que Hera já existia muito antes do aparecimento de Zeus.
Em Olímpia, seu templo é bem anterior ao do seu marido. Ali foram encontrados selos
minóicos onde Zeus aparece de pé, como um guerreiro de barba longa (característica
nórdica), junto à Deusa sentada no trono, o que sugere que o Deus é o eleito da Deusa e
não o contrário.
Seu nome, que significa "Senhora", não é, como o de Zeus indo-europeu e as imagens de
serpentes, leões e aves aquáticas que a acompanham lhe outorgam uma linhagem muito
antiga. Heródoto pensava que os gregos haviam tomado a Deusa Hera dos indígenas
pelasgos da Grécia setentrional. Dessa maneira lhe devolve a unidade, originária e
criativa, que lhe corresponde.
Gimbutas sugere que, igual à Atena, com a qual aparece em muitas lendas, Hera poderia
remontar-se à Deusa serpente do período Neolítico que governava sobre as águas
celestiais.
Tanto Homero como Platão relacionam seu nome com o "ar". Em "Ilíada" é chamada
"Rainha do céu" e "Hera do trono dourado". Também é chamada "Deusa dos brancos
braços", uma imagem romântica dos raios de Lua que se estendem pelo céu noturno.
Por outro lado, o epíteto que Homero dá a Hera, "boopis", que significa "De olhos de
vaca", sugere que ela também seja uma Deusa da Terra, cuja imagem sempre foi da vaca
desde as épocas mais antigas: a Ninhursag suméria e a Hator egípcia, por exemplo, para
não mencionar as consortes anônimas de uma longa série de touros fertilizadores cujas
aspas tinham forma da lua crescente. Atrás do caráter demoníaco de alguns de seus filhos,
pode-se confirmar a mesma história. Se trata do dragão Tifão (em algumas lendas Hera é
sua mãe) e a monstruosa Hidra, a quem Hera dá à luz de maneira autônoma, como toda
Deusa da Terra vista da ótica dos Deuses Celestes.
Em certa ocasião, desgostosa com seu marido por haver engendrado a Atena por sua
conta, Hera golpeou a terra e convocou a Gea e a Urano. Gea, a fonte da vida, se
estremeceu com o golpe. Hera sabia que seu desejo havia sido concedido e, um ano mais
tarde, nasceu Tifão. O dragão de Hera foi enviado à Delfos para cuidar de Delfine. Mais
tarde, o filho luminoso de Zeus, Apolo, o mata.Deusa de Argos e também de Samos, Hera
se apropriou dos templos micênicos e seu culto se estendeu por toda a Grécia. As espigas
de trigo eram chamadas de "flores de Hera" e eram colocadas sobre seu altar quando se
sacrificava o gado.
O MATRIMÔNIO SAGRADO DE HERA E ZEUS
Em muitos lugares da Grécia se celebrava o matrimônio sagrado entre Hera e Zeus,
representando-se de novo o antigo ritual do casamento entre o céu e a terra, que bendezia
e regenerava a vida. Na descrição de sua reconciliação na "Ilíada" todavia, podem se
encontrar recordações do ritual misterioso do matrimônio sagrado antes que a imagem
desse casal que tantas vezes se representava: quando se reconciliavam, toda a terra
floresce.
E, quando Zeus toma Hera em seus braços, os oculta uma nuvem dourada muito espessa
como para que o Sol a penetre:
"Digo que o filho de Crono estreitou a esposa em seus braços.
Abaixo deles a divina terra fazia crescer branda erva,
lótus cheio de orvalho, açafrão e jacinto
espesso e fofo, que ascendia e protegia o solo.
Nesse tapete se esticavam, cobertos com uma nuvem
bela, áurea, que destilava nítidas gotas de orvalho.
Assim dormia sereno o pai e no mais alto do Gárgaro,
entregue ao sonho e ao amor, com sua esposa nos braços".
Era como se esse acontecimento divino, que antigamente unia os princípios
complementarios do universo, se secularizasse na Grécia patriarcal para servir, antes de
tudo, como modelo para o reto ordenamento da sociedade mediante o cumprimento
devido à cerimônia do matrimônio. (As mulheres gregas, devemos recordar, estavam
excluídas da democracia igual aos escravos; careciam de direito ao voto e raramente
desfrutavam do mesmo direito à educação que seus irmãos e maridos).
"Tu eres quem passa a noite nos braços do supremo Zeus", se converteu na expressão
emblemática da autoridade de Hera, uma fonte ambivalente de satisfação para alguém
acostumada a ser Deusa por direito próprio, como implicam os relatos de sua fúria ante a
liberdade de Zeus. Se essa fúria for retirada do contexto marital e devolvida ao momento
histórico, momento em que os que contraíam matrimônio representavam modos de via em
universos diferentes e inclusive opostos entre si, o sentido da injustiça de Hera se revela
claramente como negativa a submeter-se ao estabelecido por Zeus relação com a fusão das
duas culturas (gregas e nórdicas).
Enquanto Hera, às vezes, compartilha o altar com Zeus, a recordação de sua antiga
independência sempre estava presente: ele não devia duvidar que a Deusa era sua irmã
maior, e que inclusive o salvou quando era criança das facetas de Crono, posto que em
alguns relatos foi ela mesma que o levou à Creta.
Todas essas histórias, lidas simbolicamente, contribuem para aumentar o sentimento de
protesto mitológico ante a perspectiva de submeter-se ao julgo do matrimônio com um
companheiro desigual. O que se conclui é que Hera havia contraído um matrimônio à
força e nunca se tornou realmente esposa.
HERA E HERACLES
Outra alusão a seu antigo papel como Grande Deusa, se dá através de sua relação com o
herói Heracles (Hércules). Seu nome significa "glória a Hera", e os doze trabalhos que a
Deusa lhe impõe simbolizam os doze meses durante os quais o Sol "trabalha" em sua
caminhada anual. Enquanto no relato Heracles empreende essas provas não por vontade
própria, mas sim por imposição de Hera (em seu papel de Deusa Escura da Lua
Minguante), a imagem de servo ou filho-amante da Deusa que o nome de Heracles implica
sugere que o antigo ritual em que o Sol que se unia com a Lua Cheia, possivelmente se
oculte atrás desse relato. Também, a imagem de Heracles como homem adulto mamando o
peito de Hera, tal qual foi encontrado em um desenho de um espelho etrusco, recorda os
faraós mamando nos peitos de Ísis em seu papel de filhos-amantes da Deusa.
A lenda que rodeia esse episódio conta que Zeus fez com que Hera caísse adormecida e
Hermes colocou Heracles em seu peito, porém, como herói que hera, a mordeu e a
despertou e, enquanto a Deusa se sacudia, o leite se derramou pelo céu dano origem a ViaLáctea.
DEUSA TRÍPLICE
Na Arcádia, ao ser celebrada como a Grande Deusa dos tempos pré-homéricos, Hera
possuía três nomes. Na primavera era Hera "Parthenos" (Virgem). No verão e no outono
tomava o nome de Hera "Teleia" (Perfeita ou Plena) e no inverno chamava-se Hera
"Chela" (viúva). Hera, a antiga deusa tríplice não tinha filhos, de modo que, os mistérios
da maternidade não estão aqui simbolizados, mas sim os mistérios das fases da mulher
"antes" do casamento, na "plenitude" do casamento e "depois" na viuvez. As três facetas
de Hera também ligam-se às três estações e às três fases da Lua.
Hera renovava anualmente a sua virgindade banhando-se na fonte Cânata, perto de
Argos, local consagrado especialmente a ela. Assim, vemos que ela traz em si o arquétipo
da eterna renovação, semelhante ao ciclo da Lua em suas fases. Através deste ato, ela une o
ciclo lunar, o ciclo menstrual e o ciclo anual da vegetação.
ARQUÉTIPO DE HERA
Jung nos afirma que nenhum de nós chega a totalidade enquanto não vivenciar os aspectos
femininos e masculinos da natureza interior. Para tanto, toda a mulher deve "casar"com
seu "animus" e todo o homem deve fazer o mesmo com a sua "anima".
Ao contrairmos um casamento no mundo exterior, significa dizer que encontramos um
parceiro (a) que reflete os nossos traços sexuais opostos interiores.
Toda a mulher-Hera sabe que o casamento é o caminho pela qual se chega à inteireza e
plenitude. O arquétipo de Hera leva à mulher a estabelecer um pacto de lealdade e
fidelidade com seu companheiro. Uma vez casada é "para sempre", ou até que a morte os
separe. Hera não é um "clone" feminino dos ideais masculinos, mas sim a personificação
do "feminino maduro", que sabe o que quer e só sentirá completa através do "sagrado
matrimônio".
Hera estabelece o arquétipo da relação homem-mulher numa sociedade patriarcal, como
esposa e companheira ideal. Assim, é uma deusa do casamento, da maternidade e da
fidelidade, além de ser a guardiã ciumenta do matrimônio e da hereditariedade.
O SIMBOLISMO
O seu mito era associado à vaca, o que revela o seu vínculo com a fecundidade e com o
nascimento. Seus outros símbolos são a via-láctea, diadema de diamantes, o lírio e a
iridescente pena da cauda do pavão, que continha olhos, simbolizando a cautela de Hera.
A vaca sempre foi associada a deusas da Grande-Mãe como provedoras e nutridoras,
enquanto a via-láctea, em grego gala significa "leite da mãe", reflete uma crença anterior
às divindades olímpicas, de que ela surgiu dos seios da Grande Mãe. Isso depois torna-se
parte da mitologia de Hera, que conta que o leite que jorrou de seus seios formou a ViaLáctea. As gotas que caíram sobre a Terra tornaram-se lírios, símbolo do poder de
autofertilização feminino da Deusa.
HERA HOJE: MULHER FÁLICA
O arquétipo de Hera só se manifesta nas mulheres na segunda metade da vida.
Basicamente a mulher-Hera quer duas coisas: igualdade e parceria. Para justificar suas
aspirações tenderá enfatizar o conceito de dever no seu casamento. A esposa-Hera é muito
extrovertida, o que significa dizer que é muito sociável, gosta de interagir com outras
pessoas. Ela foi criada para sentar-se ao trono ao lado do marido. Aquela história de que
atrás de um homem existe uma grande mulher, é a mais pura verdade e ela é uma MulherHera. O que acontece entretanto, que raras às vezes políticos e governantes aceitam
compartilhar seu poder com suas esposas, o que pode levá-las à completa frustração.
Quando os gregos começaram a mencionar e documentar os conflitos conjugais entre Zeus
e Hera, estivessem aludindo as tensões que podem nascer não apenas do relacionamento
entre os sexos no casamento, mas também da inevitável desproporção entre o poder
público e o poder privado. Por debaixo desta dinâmica é fácil visualizar as rixas entre
Hera e Zeus.
Desde a época das "Mulheres Megéricas de Shakespeare, a mulher-Hera tem assombrado
a sociedade. Os psicanalistas as chamam de "mulheres fálicas", que esboçam uma
associação psicológica com a mulher-Amazona. Caso seu impulso fálico seja desdenhado
por uma parceria desigual, ela entra em colapso, poderá perder o controle e acabar sendo
impelida por aquilo que deseja controlar. Os junguianos denominam este fato como
"possessão de animus", quando o lado masculino frustrada da mulher, destrutivamente
governa os vários aspectos de sua vida íntima. Quem teve a oportunidade de ver o filme
"Atração Fatal", sabe a que me refiro.
MEDITANDO COM HERA
As mulheres-Heras são anciãs sábias que já alcançaram a comunhão espiritual com a
Grande Mãe. Medita-se com Hera para contatar a nossa Deusa Interior e buscar um novo
Renascimento.
Encontre um local reservado em sua casa para este ritual. Crie condições que lhe
propiciem esta viagem, acendendo um incenso ou uma vela e colocando um relaxante som
ambiental. Sente-se confortavelmente com a coluna ereta e feche os olhos. Inspire e expire
profundamente através de uma respiração abdominal. Já soltando o corpo e girando o
pescoço no sentido horário. A seguir, no sentido anti-horário. Comece então a visualizar
um caminho que a levará ao topo de uma montanha. Lá surgirá entre uma névoa o
Templo de Hera. Caminhe por entre as colunas e vá até seu trono. Curve-se diante dela
demonstrando respeito. Ela descerá de seu trono e virá recebê-la. Beije sua mão e ela a
abraçará. Em seguida será encaminhará pelas escadarias e a colocada em seu trono.
Sente-se, sem receio. Hera perguntará a você agora, o que faria se fosse lhe concedido o
benefício de ser rainha por um dia. É hora de você avaliar sua vida e verificar tudo o que
gostaria ainda de fazer para ajudar em primeiro lugar a si mesma e depois aos outros.
Pense baixo ou fale em voz alta, como lhe aprouver. Sinta-se Rainha e Dona não só de seu
interior como do mundo. Inspire e expire este poder.
Refaça suas escolhas, reorganize sua essência, reprograme sua mente, mas acima de tudo
defina um propósito de vida e prepare-se para incorporar uma nova mulher. Suas derrotas
ou vitórias dependem do grau de intensidade do seu sentir e do seu referencial interno
sobre o mundo. Você como rainha tem o mundo em suas mãos e souber administrar este
poder com os olhos do coração, entenderá que o bom o ruim são apenas manifestações que
não estamos aptos a aceitar.
Quando você se achar pronta, levante-se do trono e agradeça à Hera esta rara
oportunidade. Ela lhe acompanhará até a entrada do templo e você seguirá sozinha o resto
do caminho. Volte a inspirar e expirar vagarosamente sentindo seu coração lotado de
prazer. Abra os olhos e se espreguice. Recomece neste instante uma nova vida, mais aberta
à capacidade de transformação.
RITUAL CONTRA A INFIDELIDADE
Muitos de nós pensamos que podemos confiar na fidelidade de nosso parceiro.
Lamentavelmente, nem todo mundo honra essa confiança. Se você se preocupa com a
possível infidelidade de seu parceiro, pode pedir uma ajuda à Deusa Hera.
A romã, símbolo da união matrimonial, está consagrada à Hera. Sente-se em uma mesa e
corte uma romã pela metade. Retire 3 sementes e coma a fruta. Enquanto o faz, reflita
sobre suas expectativas em relação a seu parceiro, como e o que essa pode esperar de você.
Depois de comer toda a fruta, vá até o quarto que compartilha com seu parceiro e coloque
as sementes sobre o travesseiro. Invoque a Deusa Hera dizendo:
-"Hera, de modo igual que a romã protege suas sementes, peço que me protejas. Mantenha
minha relação livre das tentações da infidelidade."
Coloque então uma das sementes embaixo do colchão do lado de seu parceiro na cama. As
outras duas podem ser descartadas.
DEUSA HÉSTIA
Sou a que está no âmago
a indescritível
a implacável
a presença viva
que habita e transforma
uma construção
uma morada
um palácio
tirando-o do reino
do mármore de pedra
ou da madeira
e com o fogo da lareira aceso
transforma-o num lar.
Héstia é a Deusa da lareira ou do fogo queimando em uma lareira redonda e é a menos
conhecida dos Deuses olímpicos.
Héstia e sua equivalente romana, Vesta, não foram representadas em forma humana por
pintores ou escultores. Sua representação é a viva chama no centro do lar, do templo e da
cidade.
O símbolo de Héstia era um círculo. Suas primeiras lareiras eram redondas, assim como
seus templos. Nem o lar nem o templo ficavam santificados até que Héstia entrasse. Héstia
era tanto uma presença espiritual como um fogo sagrado que proporcionava a iluminação,
calor e aquecimento para o alimento.
MITOLOGIA
Héstia era a filha primogênita de Réia e Crono, a irmã mais velha da primeira geração de
deuses olímpicos, e a solteirona da segunda. Por direito de primogenitura, era uma das
doze deusas olímpicas principais, mas não podia ser encontrada no monte Olimpo, e não
fez nenhum protesto quando Dionísio, Deus do vinho, cresceu em proeminência e a
substituiu como uma das doze. Por não tomar parte nos romances e guerras que então
ocupavam a mitologia grega, é a menos conhecida dos principais Deuses e Deusas gregas.
Contudo, foi grandemente honrada, recebendo as melhores ofertas feitas pelos mortais aos
deuses.
A breve mitologia de Héstia é esboçada em três hinos homéricos. Ela é descrita como
"aquela virgem venerável, Héstia", uma das três que Afrodite é incapaz de dominar,
persuadir, seduzir ou ainda, provocar nela um desejo de prazer.
Afrodite induziu Poseidon, Deus do mar, e Apolo, deus do sol, a se apaixonarem por
Héstia. Ambos a queriam, mas Héstia recusou-os firmemente, prestando solene juramento
que permaneceria virgem para sempre. Então, conforme o "Hino de Afrodite", explica,
"Zeus lhe concedeu um bonito privilégio, ao invés de um presente de casamento: ela tem
seu lugar no centro da casa para receber o melhor em ofertas. É honrada em todos os
templos dos Deuses, e é Deusa venerada por todos os "mortais". Os dois hinos homéricos a
Héstia são invocações, convidando-a a entrar em casa ou no templo.
SEUS RITUAIS
Héstia é encontrada em rituais, simbolizada pelo fogo. Para que uma casa se tornasse um
lar, a presença de Héstia era solicitada. Quando um casal se unia, a mãe da noiva acendia
uma tocha em sua casa e a transportava diante do casal recentemente casado até sua nova
casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar. Este ato consagrava o novo lar.
Depois que a criança nascia, acontecia um segundo ritual. Quando a criança tinha cinco
dias de vida, era levada ao redor da lareira para simbolizar sua admissão na família.
Então se seguia um festivo banquete sagrado.
Da mesma forma, cada cidade-estado grega tinha uma lareira comum com um fogo
sagrado no edifício principal, onde os convidados se reuniam oficialmente. Cada colônia
levava o fogo sagrado de sua cidade natal para acender o fogo da nova cidade.
Portanto, onde quer que um novo casal se aventurasse a estabelecer um novo lar, Héstia
vinha com eles com o fogo sagrado, ligando o lar antigo com o novo, talvez simbolizando
continuidade e ligação, consciência compartilhada e identidade comum.
VESTAIS
Posteriormente, em Roma, Héstia foi venerada como a Deusa Vesta. Lá o fogo sagrado de
Vesta uniu todos os cidadãos de Roma em uma família. A Deusa romana Vesta (Héstia) era
uma Virgem Eterna conhecida como "aquela de luz".
Suas sacerdotisas eram as Virgens Vestais que mantinham o fogo sagrado sempre aceso,
representavam a alma verdadeira de Roma. Se o fogo se extinguia, as Vestais deveriam
reavivá-lo friccionando uma madeira ou estaca.
Seis Vestais de boa origem familiar, iniciando seu ofício entre os sete e os dez anos. Elas
eram selecionadas obedecendo determinados critérios que incluiam estarem livres de
qualquer tipo de imperfeição física ou mental e possuírem pais livres e vivos. Depois de
passarem por uma rigorosa seleção, eram eleitas pelo alto sacerdote para assumirem um
compromisso de trinta anos, dos quais, os primeiros dez anos seriam dedicados para
estudos (Discípula em Latin) e treinamentos. Os dez anos seguintes, tornavam-se serviçais
da Deusa (cuidavam do fogo, da limpeza do templo e participavam de cerimoniais) e os
últimos dez, deveriam treinar as novatas Vestais.
As Vestais tinham a cabeça circundada por frisos de lã branca que lhes caíam
graciosamente sobre as espáduas e de cada lado do peito. As suas vestes eram muito
simples, mas elegantes. Por cima de um vestido branco usavam uma espécie de roquete da
mesma cor. O manto, que era de púrpura. No princípio cortavam os cabelos, entretanto,
mais tarde, exibiam longa cabeleira.
Eram sempre deixadas à distância das outras pessoas, honradas, e esperava-se que
vivessem como Vesta, com terríveis conseqüências se não permanecessem virgens.
Qualquer virgem Vestal que mantivessem relações sexuais com um homem, profanaria a
Deusa. Como punição deveria ser enterrada viva, sepultada em uma área pequena e sem
ar no subsolo, com luz, óleo, alimento e um lugar para dormir. A terra acima dela seria
então nivelada, como se nada estivesse embaixo. Portanto, a vida de uma virgem vestal
como personificação da chama sagrada de Héstia era extinta quando ela parava de
personificar a Deusa. Era coberta com terra como o carvão que se extingue em uma
lareira.
Em compensação, apesar de todos esses rigores, as Vestais gozavam do maior respeito e
eram tão sagradas que se passassem ao lado de um homem condenado, esse era perdoado.
Eram também, muitas vezes, chamadas para apaziguar as dissensões nas famílias e muitos
segredos lhes eram confiados, até os do Estado. Foi entre suas mãos que o imperador
Augusto depôs o seu testamento. Depois de sua morte elas o levaram ao Senado Romano.
Quando o luxo se espalhou em Roma, as Vestais passeavam em suntuosa liteira, mesmo em
carro magnífico, com um numeroso séquito de mulheres e de escravos.
Há uma lenda que conta que as primeiras Vestais foram eleitas pelo herói troiano Eneas, o
primeiro ancestral de todas as coisas romanas.
O imperador Graciano (governante desde 367 até 378 d. C), que era hostil às religiões
pagãs, deixou de pagar os salários das Vestais, desviando o dinheiro para pagar o serviços
postal imperial. A adoração dos Deuses pagãos foi oficialmente proibida pelo imperador
Teodósio (governante desde 379 até 395 d. C) no ano de 394 d. C, e o fogo de Vesta se
extinguiu para sempre.
A última Vestal conhecida em Roma foi Coelia Concórdia.
VIRGENS VESTAIS MAIS CONHECIDAS
RHEA SILVIA
É conhecida como a mãe de Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Ficou conhecida por
haver quebrado seus votos, mas seu castigo não foi esclarecido. Algumas fontes dizem que
foi jogada no rio Tibre e outras, que foi castigada até morrer por ordem de seu tio
Amulius.
-*TUCHIA
Essa Vestal foi acusada por fornicação e por romper seus votos de castidade, não foi
castigada ao demonstrar sua inocência transportando água com um coador. Não como
saber o que realmente ocorreu e porque foi perdoada, pois há muitas contradições sobre
esses acontecimentos.
-*TARPEIA
Essa Vestal traiu Roma, abrindo as portas da cidade para os Sabinos, pensando que essas
lhe dariam de presente seus braceletes de ouro. Depois das portas abertas foi esmagada e
pisoteada pelos soldados inimigos. Terminada a revolta e encontrado o cadáver de Tarpeia,
tal era o rancor dos romanos pela sacerdotisa traidora que a jogaram seu corpo da rocha
mais alta de Roma. Essa rocha tomaria seu nome e passaria para a história como um lugar
de castigo para todo o traidor.
-*JULIA AQUILA SEVERA
Essa sacerdotisa revolucionou Roma ao romper seus votos e contrair matrimônio com o
imperador Elagabalus. Ela devia ser castigada, porém com a crise política de Roma e por
ter se casado com um imperador, não foi possível.
-*COELIA CONCORDIA
Se tornou famosa por ter sido a última "Vestalis Maxima".
-*OCCIA
Uma das mais famosas Vestais Máxima. Presidiu a ordem por 57 anos.
-*VIRGINIA CLAUDIA
Uma das deidades estrangeiras mais importantes introduzidas em Roma foi Cibeles, a
Grande Mãe. Se organizaram minuciosos preparativos para dar boas vindas à barca que
transportava a estátua da Deusa. A cidade inteira, incluindo as virgens Vestais, estavam
nas margens do rio Tibre para receber a barca. Porém, quase chegando encalhou nos
bancos de areia do rio. Os homens tentaram desencalhar a barca sem sucesso.
Uma das virgens Vestais, chamada Virginia Claudia, sobre quem havia muitas fofocas
maliciosas, deu um passo à frente e, retirando água do rio, a verteu sobre sua cabeça três
vezes. Rezou então a sua Deusa, Vesta:
-"Mãe dos Deuses, dizem que não sou casta. Se sou culpada, condena-me, e pagarei meu
crime com a vida. Porém, se sou inocente, demonstra a todos agora".
Claudia retirou sua facha da cintura e atou ao cabo de reboque. Quando puxou, a barca se
soltou do leito do rio, permitindo a introdução da estátua na cidade.
A VESTÁLIA
A Vestália, era uma festa anual que ocorria no mês de Junho entre os dias 7 e 15. Era uma
das festividades mais esperadas e populares de Roma, onde as Vestais eram figura central.
Durante os festejos, as mulheres romanas que tivessem sido mães, poderiam ingressar no
templo das Vestais.
No dia da festa, seis Vestais se encarregavam de preparar os bolos sagrados "Mola Salsa",
feitos com as primeiras espigas de milho colhidas. Os moinhos eram enfeitados com
guirlandas e os burros de carga recebiam farta alimentação e arreios novos.
Diferentes estátuas da Deusa Vesta eram transportadas pelas ruas principais em distintas
procissões públicas.
No final, os templos eram limpos e todos os restos de oferendas eram jogados no rio Tibre.
O TEMPLO DE VESTA
O templo de Vesta era um pequeno edifício circular, localizado no Fórum, perto da Régia,
no centro da vida romana.
Sua forma e desenho recordavam aos romanos as primeiras construções de Roma:
cabanas circulares com postes de madeira e trechos de palha. As virgens Vestais viviam ao
lado (no Atrium Vestae), em uma grande construção disposta em torno de um pátio
central.
O ARQUÉTIPO HÉSTIA (VESTA)
A presença da Deusa Héstia em casa e no templo era fundamental para vida diária dos
gregos. Como presença arquetípica na personalidade da mulher, Héstia é da mesma forma,
proporcionando-lhe sentimento de integridade e inteireza.
Héstia possui uma consciência enfocada interiormente. O modo hestiano nos permite
entrar em contato com nossos valores trazendo ao foco o que é pessoalmente significativo.
Através desse enfoque interior, podemos perceber a essência da situação. Podemos
observar o temperamento de outras pessoas e ver o padrão ou sentir o significado de suas
ações. Essa perspectiva interior proporciona clareza no meio da confusa miríade de
detalhes que se apresentam aos nossos cinco sentidos.
Como Deusa da lareira, Héstia é o arquétipo ativo nas mulheres que acham que tomar
conta de casa é uma tarefa significativa. Com Héstia, proteger a lareira é um meio através
do qual a mulher coloca a si mesma e sua casa em ordem.
Cuidar dos detalhes de uma casa é uma atividade que equivale à meditação. Lógico que se
este trabalho for realizado com carinho e amor e não contrariada!
O arquétipo de Héstia desenvolve-se em comunidades religiosas, principalmente nas que
cultivam o silêncio. As freiras e as virgens vestais compartilham o padrão arquetípico de
Héstia. Hésta é um arquétipo de centralização interior. Ela é o ponto de equilíbrio que dá
significado à atividade, o ponto de referência interior que permite à mulher permanecer
firme em meio da confusão, desordem ou afobação do dia-a-dia. Com Héstia em sua
personalidade, a vida de uma mulher tem significado.
RITUAL DE PURIFICAÇÃO
Como Deusa da pureza e da purificação, Héstia auxilia quando necessitamos de
purificação espiritual em nossas vidas.
Planeje este ritual para a Lua Crescente.
Você precisará de um incenso purificador, um caldeirão, um bastão e uma vela vermelha.
Muitas pessoas associam a cor vermelha com a purificação, mas vermelho é a cor do fogo,
o símbolo de Vesta (Héstia).
Abra seu círculo como está acostumada.
Ajoelhe-se no chão perante o altar até que se sinta reconhecido pela deusa.
Diga então:
"Que eu seja limpo
por dentro e por fora,
de corpo e alma,
que todas as coisas
de minha vida se renovem"
Acenda a vela dentro do caldeirão. Toque-a levemente com seu bastão, dizendo:
Vesta da Chama Sagrada
Deusa da purificação e renovação,
Dama que liberta os cativos,
Derrame suas labaredas purificantes sobre meu coração e minha alma.
De modo que minha vida se renove,
e que meu espírito fique receptivo.
Desperte minha mente
para novas oportunidades.
Chame meu espírito para um
maior conhecimento espiritual.
Revele-me seus Mistérios Ocultos
Para que eu possa
experimentar uma nova iniciação.
Purifique-me e abençoe
ó, Vesta.
Permaneça de joelhos enquanto aguarda a purificação. Pode ser que se sinta aquecido ou
sinta frio. Pode ser que se sinta como se teias de aranha estivessem roçado sobre seu rosto
e braços. Nunca podemos prever o modo como a deusa anunciará sua presença.
O processo de purificação, que geralmente ocorre dias após o ritual, pode ser tão sutil
quanto uma noção de que deve mudar seus hábitos alimentares. Ou pode ser tão forte a
ponto de assemelhar-se aos sintomas de uma gripe ou resfriado. Lembre-se, você pediu por
purificação, então aceite graciosamente e aprenda com o processo.
CIBELES, MAGNA MATER
Nos tempos dos gregos e romanos, Cibele era chamada de A Mãe dos Deuses. O grande
Sófocles a chamava de a Mãe de Tudo.
Seu culto teve início na Anatólia Ocidental e na Frígia, onde era conhecida como "A
Senhora do Monte Ida".
A montanha, a caverna, os pilares de rocha e rochedo, são locais numinosos, de uma
vitalidade pré-orgânica, que foram vivenciados em participação mística com a Grande
Mãe, na qualidade de trono, assento, moradia, e como encarnação da própria Deusa.
Cibeles era a Deusa dos mortos, da fertilidade, da vida selvagem, da agricultura e da
Caçada Mística. Tamboretes, pratos e tambores eram utilizados em seus rituais. Uma
estátua grega mostra a Deusa sentada em um trono e ladeada de leões.
Um hino dedicado a ela no século II d.C., procede de Pérgamo, a descreve sentada em uma
carruagem, ocupando o trono central entre os cosmos e a terra, identificando-a como
Senhora dos Rios e dos Mares.
Como todas as grandes Deusas, Cibeles era guardiã dos mortos e Deusa da fertilidade e da
vida selvagem. Sua conexão com as Deusas da Grécia é clara, pois Ártemis, a grande
Deusa da natureza selvagem, era um de seus nomes, e Afrodite, em hino homérico,
também vai ao monte Ida de numerosos mananciais, seguida de animais selvagens. O hino
homérico a inominada Mãe dos Deuses, a canta com essas palavras:
"Canta-me, Musa da voz clara, filha do grande Zeus, a Mãe de todos os deuses e de todos
os homens, a que agrada o estrondo dos tamborins, assim como o rumor das flautas, o
grito dos lobos e dos leões de feroz olhar..."
Era ainda, representada como uma mulher madura, com grandes seios, coroada com
espigas de trigo, vestida com flores e folhas e carregando várias chaves. Os romanos
decoravam suas estátuas com rosas. O culto de Cibeles tornou-se tão popular que o senado
romano, a despeito de sua política permanente de tolerância religiosa, se vira obrigado, em
defesa do próprio Estado, a por cabo à observância dos rituais da Deusa-Mãe.
O templo de Cibeles, em Roma, foi transformado pela Igreja Católica na atual Basílica de
São Pedro, no século IV, quando uma seita de cristãos montanheses, que ainda veneravam
Cibeles e admitiam mulheres como sacerdotes, foi declarada herética, sendo abolida e seus
seguidores queimados vivos.
OS RITOS DE CIBELES
Cibeles possuía seus próprios Mistérios sagrados, do mesmo modo que as Deusas
Perséfone e Deméter. Suas cerimônias eram celebradas à noite, pois ela era a Rainha da
Noite. Era também conhecida por possuir uma profunda sabedoria a qual compartilhava
apenas com seus seguidores legítimos.
Homens esmasculados dedicados ao seu culto eram considerados encarnações de seu filho
Atis, um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa de uma maneira muito
própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe Cibeles, a Deusa da Lua.
Mas no culto de Cibeles foi dada grande proeminência a um elemento especial. O terceiro
dia da festa era chamado "dies sanguinis". Nele a expressão emocional por Átis alcançava
o máximo. Cantos e lamúrias misturavam-se, e o abandono emocional levava a um auge
orgiástico. Então, num frenesi religioso, os jovens começavam a se ferir com facas; alguns
até executavam o sacrifício último, castrando-se frente à imagem da Deusa e jogando as
partes ensangüentadas sobre sua estátua. Outros corriam sangrando pelas ruas e atiravam
os órgãos em alguma casa por onde passassem. Esta casa era então obrigada a suprir o
jovem com roupas de mulher, pois agora havia se tornado um sacerdote eunuco. Depois da
castração usavam cabelos longos e vestiam-se com roupas femininas.
Neste rito sangrante, o lado escuro ou inferior da Grande-Deusa é claramente visto. Ela é
verdadeiramente a Destruidora. Mas, muito estranhamente, seus poderes destrutivos
parecem ser dirigidos quase que tão somente para os homens. Eles, quando escolhidos,
precisavam sacrificar sua virilidade completamente e de uma vez por todas, num êxtase
louco onde a dor e a emoção misturavam-se. Mas...como diziam os primitivos: "a Lua é
destrutiva para os homens, mas é de natureza diferente para as mulheres, apresentando-se
como sua patrona e protetora."
A "semana Santa" cristã coincide com a semana que antigamente se dedicava aos ritos de
Cibeles e Atis. As sacerdotisas de Cibeles se davam o nome de "melissae", abelhas, a
mesma palavra que designava as sacerdotisas de Ártemis e Perséfone.
A flauta dupla era um instrumento musical que se usava nos rituais de Cibeles. Durante
toda a sua história, a imagem de Cibeles é inseparável da música.
ATIS
Abundam as lendas sobre a origem de Atis. A história mais antiga relata que Cibeles era
andrógina, e quando seus genitais masculinos amputados tocaram o solo cresceu uma
amendoeira: seus frutos geraram Atis.
Algumas lendas contavam que era filho de um rei, ou um menino abandonado, como
Moisés o Sargão de Acad. Porém, também se dizia que a Atis se deu a morte por um erro,
como a Adonis, e que o homem que o matou, acabou se suicidando como Judas.
Em algumas ocasiões, há relatos que narram a dor da Deusa pela morte de Atis; outras
vezes, descrevem sua ira vingativa ao apaixonar-se por ele uma mulher mortal.
Outras lendas ressaltam a figura do pinheiro, embaixo do qual se encontrava quando se
castrou ou foi castrado por uma foice.
Está claro, que todas essas lendas e imagens diferentes apontam um culto muito antigo, em
que cada lugar teria sua própria versão do mito. A referência escrita a Atis mais antiga
aparece em uma comédia grega do século IV a.C., em que um javali mata um jovem
chamado Atys.
A relação entre Cibeles e Atis confirma uma vez mais a imagem do matrimônio sagrado
entre a Deusa e o Deus, ou entre a Deusa e o rei, que antigamente personificava ao Deus do
ano, que era sacrificado e desmembrado, real ou simuladamente, durante o ritual
primaveril de fertilidade.
Em Roma, os Mistérios de Atis se celebravam de 15 a 29 de março, enquanto que os de
Cibeles tinham lugar em abril. Em 15 de março se levavam juncos cortados em procisão
pela cidade, talvez para recordar os juncos do rio Gallus em Frigia, onde, segundo uma
lenda, Atis foi encontrado menino e criado por pastores. Originalmente, o próprio Atis se
havia encarnado em juncos. Em 22 de março se cortava um pinheiro dos muitos que
cresciam no arvoredo sagrado perto do templo de Cibeles. Era então decorado com tiras e
violetas, porque se dizia que dessa flor brotava o sangue do deus. O pinheiro, de folha
perene, simbolizava a vida eterna. Dessa forma se chorava a Atis, deus da vegetação morto
e ressuscitado.
Em 24 de março, o dia do sangue, o dia da lamentação pela morte de Atis se celebrava o
"taurobolium", o sacrifício do touro, e suas genitais eram oferecidas à Deusa. Nesse dia os
sacerdotes se flagelavam, roçando o altar e a efígie de Atis com seu sangue, e os devotos se
castravam. Esses ritos representavam o desmembramento do deus, força vital da terra;
dito desmembramento era encenado de maneira parecida com os rituais dionisíacos e
órficos, e muito provavelmente também nos rituais cananeus detestados pelos profetas.
Se colocava a Atis em sua tumba na véspera de 15 de março, quatro dias depois do
equinócio da primavera (HN), ao acabar um período de jejum e abstinência de 9 dias. Se
celebrava uma vigília que durava toda a noite "sagrada", até de manhã, que o sumo
sacerdote saudava com essas palavras:
-"Sintam-se animados, novícios, por que o deus está salvo. A libertação de sua aflição
também chega até nós".
Nesse dia se iniciava a festa da Hilaria, a Festa da Alegria, que celebrava o retorno de Atis
de entre os mortos. Para o povo, Hilaria era um dia de carnaval, festejos, bebida e
libertinagem generalizada. O último dia da festa era o descanso, e a efígie da Deusa, as
vasilhas sagradas e os instrumentos ritualísticos eram levados ao rio para serem lavados
em uma cerimônia chamada "Lavatio".
ARQUÉTIPO MÃE-AMANTE
O primeiro amor na vida de um homem é a própria mãe. No recôndito de sua alma, ele
ficará sempre ligado a esse primeiro amor, e nunca irá esquecê-lo, mesmo que não tenha
consciência do fato. Assim, ele passa a vida tentando reencontrar esse primeiro, único e
afortunado amor. Ele o busca em outras mulheres ou em seus ideais. Nunca o homem
consegue superar a decepção que sua mãe lhe proporciona no momento que o abandona
ao se dedicar a qualquer outra pessoa, como o pai, um irmão ou irmã. Para o filho, a mãe é
o único e verdadeiro amor, portanto, ela também deve permanecer sua única amante. É
isso que todo homem, muitas vezes de maneira completamente inconsciente, sente nas
profundezas de sua alma.
O homem precisa da mulher. Todavia, nenhuma é como aquela que ele amou primeiro. Se
o homem não consegue renunciar ao primeiro objeto de amor de sua vida, a mãe, embora
com muito pesar, sem ódio, e se dedicar afetivamente a outras pessoas, ele fica preso na
cilada desse primeiro relacionamento, e sua vida vai ser de algum modo infeliz ou
insatisfatória. O que deve fazer é vivenciar positivamente este arquétipo materno. Os
atributos do arquétipo materno são, conforme Jung salienta: “o
“maternal”,
simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além
da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de
crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento, o
instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos
mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal.”
O homem não deve esquecer que a mãe é amor, deleite, bem-aventurança, significado
central para toda a humanidade.
O homem, filho amado de sua mãe, livre dos laços deste primeiro amor, deve seguir seu
caminho e com isso fica livre para distribuir o amor, que de outra maneira ficaria
aprisionado na união com sua mãe.
RITUAL DA LUA NOVA
Para ter uma questão respondida, ou perguntar sobre a sua vida de modo geral, realize
este ritual na noite de Lua Nova.
Tome um banho ritual de limpeza e vista-se com uma túnica escura ou mesmo nu. Abra o
círculo como de costume, ou ao menos consagre sal e polvilhe ao redor de sua área de
trabalho. Acenda uma vela preta de cada lado do altar. Deixe preparado um incenso
apropriado. Coloque suas cartas de tarô ou suas runas no centro do altar. Deixe seu bastão
ao lado das cartas. De pé, com os braços estendidos, diga:
O ciclo da Lua fecha-se mais uma vez.
A Lua oculta sua luz aos não-iniciados.
Aqueles que seguem os Antigos Caminhos sabem que seu poder não desapareceu, nem
diminuiu.
A sabedoria da Mãe Obscura está à disposição dos que realmente a procuram.
Bata três vezes com seu bastão:
Ouça-me, ó Guardiã da Sabedoria.
Minha voz voa pela noite até você.
Mostre-me novos caminhos a seguir
Para mudar minha vida e torná-la nova.
Acenda o incenso e erga-o sobre o altar:
Trago uma oferenda, bela e fina.
O aroma se ergue ao ar.
Para alcançar seus domínios
Abençoa-me ó Senhora da Lua Escurecida.
Bata mas cartas ou no saco de runas por três vezes com seu bastão e, em seguida,
circunde-o no sentido horário três vezes usando o bastão. Bata mais três vezes, para
atingir o número nove, um número lunar.
Deixe o bastão de lado e embaralhe as cartas ou misture as runas.
Divida as cartas em três montes, da esquerda para a direita; ou deite três runas, da mesma
forma. À esquerda, o passado, no meio, o presente; à direita, o futuro.
Vire a carta superior de cada monte e analise o que vê. Esteja aberto, mesmo se não
compreender a mensagem. Fará sentido mais tarde. Vire uma segunda carta em cada
monte e pense no que vê. Repita pela terceira vez. Se algo não estava claro na primeira
carta, provavelmente estará agora.
Se desejar usar tanto o tarô quanto as runas, vire a primeira leva de cartas. Escolha a
seguir uma runa e deite-a próxima a cada carta virada. Por fim, deite uma segunda leva de
cartas.
Isso também vale para mais de um baralho de tarô ou tipo de baralho. Por exemplo, podese utilizar um tarô padrão, as cartas Medicinais e as cartas Portal das Estrelas.
Anote o que lhe foi revelado. Assim, será mais
fácil lembrar e compreender os eventos quando estes começarem a acontecer no futuro.
DEUSA AFRODITE
Virgem que veio do mar
Estrela sempre luminosa da manhã
Deusa radiante da beleza feminina
Amante do encanto virginal da sensualidade
Vênus eterna da tolerância e beleza
Baila na luz, oculta dentro de nossos olhos
Sensualidade feminina
Eternamente revelada na mulher.
O amor atraído por Afrodite é grande...é apaixonado...é verdadeiro.
Afrodite é o arquétipo da sexualidade e da sensualidade.
Há duas versões sobre o nascimento biológico desta deusa. Na versão de Homero, Afrodite
nasce de modo convencional, como sendo filha de Zeus e Dione, ninfa do mar. Já na versão de
Hesíodo, ela nasce em conseqüência e um ato bárbaro. Cronos, cortou os órgãos de seu pai
Urano e os atirou no mar. Uma espuma branca surgiu em torno deles e misturando-se ao mar,
gerou Afrodite.
A imagem de Afrodite emergindo do mar foi imortalizada durante a Renascença por Botticelli
em "O nascimento da Vênus". Esta pintura mostra uma mulher nua, delicada e graciosa, sobre
uma concha, sendo levada para a praia pelos deuses do vento e uma chuva de rosas.
Afrodite desembarcou em terra firme na ilha de Cítera ou em Chipre. Depois foi acompanhada
por Eros (Amor) e Hímeros (Desejo) até à assembléia dos deuses, onde foi muito bem recebida.
Afrodite teve muitos amores, entre eles Ares, deus da guerra. Com ele ela teve três filhos: uma
filha, Harmonia e dois filhos, Deimos (Terror) e Fóbos (Medo). A união entre estes dois deuses,
o amor e a guerra, são duas paixões incontroláveis, as quais se em perfeito equilíbrio, poderiam
estabelecer a harmonia.
Afrodite também uniu-se a Hermes, que era um deus Hermafrodito. Como um símbolo, este
deus pode representar a bissexualidade ou a androginia.
Eros (Cupido), deus do amor, foi o filho mais famoso de Afrodite. Armado com seu arco,
desfechava as setas do desejo no coração dos deuses e dos homens. Carl Jung definiu Eros como
a capacidade de relacionar-se, a qualidade de ligar-se aos outros. Segundo Hesíodo, Eros foi a
força fundamental da criação, presente antes dos titãs e dos deuses olímpicos.
SEUS AMORES MORTAIS
Sob o nome romano de Vênus, viu Anquines cuidando de seu gado em uma certa montanha,
enamorou-se . Fingindo ser uma jovem muito linda, arrancou fervorosa paixão dele. Mais tarde,
revelou sua real identidade e contou que concebera um filho, Enéias, que foi o lendário
fundador de Roma.
Os romanos consideravam Vênus sua mãe ancestral e a cidade de Veneza recebeu este nome em
sua homenagem.
Um dos seus amantes mais famosos foi Adônis, um caçador corajoso e extremamente belo.
Afrodite temendo por sua vida, avisou-lhe para que evitasse as bestas. Certo dia, enquanto
caçava, seus cães afrontaram um javali feroz. Adônis feriu o animal e isto provocou que a besta
se voltasse contra ele despedaçando-o. Depois de sua morte, entretanto, foi permitido a Afrodite,
que em determinada época do ano, Adônis voltasse para ela. Este retorno simbolizava a volta da
fertilidade e também era toda a base do culto de Adônis. Pode representar ainda, um desejo de
amar de novo.
Afrodite era adorada em templos de Pafos, Chipre, Citera e Corinto. Ela sempre renovava sua
virgindade, banhando-se no mar de Pafos. Antes de cada amor, fazia-se uma nova mulher.
Quando uma mulher se torna outra nova mulher? Somente quando esta mulher obtiver a
consciência de que ela é metade de uma parte inteira.
Afrodite é uma divindade da Lua Cheia, a qual sustenta e nutre a vida. Seus poderes são
maduros, cheios de vida e poderosos, mas ela também protege ferrenhamente tudo aquilo que
cria. Por simbolizar o amor e a fertilidade, seus símbolos são as vacas, cervos, cabras, ovelhas,
pombas e abelhas.
ARQUÉTIPO DA SENSUALIDADE
Quando uma mulher apaixona-se por alguém e é correspondida, obtemos a personificação do
arquétipo de Afrodite. Incorporando um corpo mortal, a deusa do amor se sente atraente e
sensual, tornando-se desse modo, irresistível.
Quando Afrodite está ativa e presente em nosso íntimo, um magnetismo pessoal nos induz a
caminhar em um campo eroticamente carregado de intensa percepção sexual. Nos tornamos
mais "quentes", atraentes e vibrantes. Há uma magia no ar e um estado de encantamento e louca
paixão é evocado.
É a energia sutil de Afrodite que nos faz ver o mundo não como algo codificado, mas sim, se
apresentando com uma fisionomia, um rosto, revelando sua imagem interior. É só através dos
olhos de Afrodite que vislumbramos o mundo nas suas diversas e infindáveis cores, cheiros,
sabores, sons...
Perder esta Deusa é morrer no deserto árido, seco, sem cor, sem vida. Afrodite é uma
necessidade imperativa. Ela é a Beleza e a Deusa Dourada que nos sorri. É somente através dela
que os outros deuses se manifestam e deixam de ser meras abstrações teológicas.
Se o mundo é tão belo, por que não sofisticarmos nossa percepção? Perceber é o modo de
conhecer o mundo e, a nossa deusa Afrodite é pura sedução e nos revela a nudez das coisas, de
modo a nos mostrar a sua imaginação sensual.
AFRODITE E A LÍNGUA DAS FLORES
As flores sempre foram associadas a todas as deusas do amor e beleza, pois elas representam a
sexualidade da natureza. Elas representam os órgãos sexuais mais belos que conhecemos. A
associação simbólica das flores e os órgãos sexuais de uma mulher está em sua natureza
delicada, na maneira pela qual brota, floresce e abre-se, fazendo-se vulnerável para a
polinização e fertilização com outras. É exatamente este o motivo pelo qual as flores são o
presente mais comum ofertado entre amantes, pois simboliza a beleza da sexualidade humana.
As principais flores associadas com Afrodite são: a rosa vermelha, o jasmim, a orquídea,
papoulas e o hibisco.
AFRODITE EM NOSSAS VIDAS
Afrodite é a deusa das pombas, dos cisnes, das rosas, das maçãs e de todas as coisas graciosas e
criativas. Você está passando por algum trauma momentâneo? Ou você não se considera bonita
o bastante? Pois Afrodite chega em nossas vidas para nos ensinar a dança do amor. Nos fará
recuperar o respeito próprio e aprenderemos a nos aceitar como realmente somos. Toda a mulher
que deseja buscar a consciência perdida de Afrodite precisa começar a amar e acalentar o seu
corpo, tal como ele é. E, os homens também, precisam parar de comparar toda a mulher com um
retrato interior imaginário e inatingível que trazem dentro de si.
O primeiro passo para explorar este domínio perdido é através da dança. Dance em sua casa ou
saia para dançar, este é um dos melhores remédios para nos aceitarmos e nos conhecermos
melhor. Quando estamos em harmonia com nosso corpo um grande milagre se opera:
começamos a sentir verdadeiramente. Há uma espécie de derretimento de defesas interiores e
uma abertura se concretiza, liberando uma sensibilidade à disposições e atmosferas mais sutis.
Afrodite nos presenteará com um carisma magnético que nos permitirá expressar-nos por
inteiro. Vale a pena tentar!
DANÇANDO COM AFRODITE
Deite-se e relaxe. Inspire e expire profundamente por seis vezes.
Em seguida imagine-se em um jardim cheio de rosas e orquídeas, douradas pelo pôr-do-sol, cujo
perfume é carregado por uma suave brisa primaveril. Tal brisa acariciará seu rosto, massageará
seus cabelos, e seu corpo. Delicie-se ingenuamente e chame Afrodite. Um movimento sutil no ar
anunciará sua presença. Ela lhe estenderá a mão e a convidará para um passeio. Vislumbrará
então uma grande floresta, um de seus locais de poder. Neste templo de árvores e pássaros,
respire profundamente o cheiro da terra e o perfume das flores selvagens. Escute a música
delicada dos pássaros. Afrodite lhe ofertará um presente: uma orquídea. Sinta e incorpore o seu
aroma. Neste momento uma pomba pousará em seu braço. No olhar deste mágico ser você
poderá compreender a beleza misteriosa da deusa Afrodite. Vários pássaros a sua volta cantarão
uma linda uma linda melodia. Você deve dançar. Afrodite dançará com você e da floresta
surgirão as graças e outras musas que dançarão também com vocês.
Visualize o infinito, pois a partir deste momento você terá em sua vida infinitas possibilidades
de ser feliz, sendo você mesma, se assumindo, se aceitando e se amando.
Sinta o encanto, o prazer e a magia de ser você Por onde você pisa, brotam flores de todas as
cores. Onde você passar neste mundo, despertará o amor e a beleza e sentirá feliz por ser você e
estar viva.
Quando achar que está pronta, abrace Afrodite e agradeça os momentos maravilhosos que
passaram juntas. Ela lhe conduzirá até a saída da floresta e depois você virá sozinha. Respire
profundamente novamente e abra os olhos. Feliz retorno!
CRISTAL DE AMOR DE AFRODITE
Os cristais possuem o poder oculto de estimular o amor entre casais. Eis aqui um sortilégio de
amor que usa um cristal de quartzo rosa, pedra de Afrodite. Ele é simples, mas eficiente.
Pegue o seu cristal e banhe-o em solução de água com sal marinho. Em seguido embrulhe-o em
um pano branco até a hora de realizar o sortilégio. Deste modo, limpará e neutralizará todas as
energias indesejáveis.
Depois deste tempo, pegue o cristal e carregue-o segurando-o em sua mão, para impregná-lo de
sua energia e absorver a dele. Solicite neste momento, os poderes da Deusa Afrodite e que ela
lhe traga a pessoa que seja correta e destinada para você.
Coloque o cristal em uma bolsinha de cetim vermelha, cobre ou verde. Você pode comprar o
cetim e fazer você mesma (terá mais poder). Deve atar os quatro cantos do tecido unindo-os
com um cordão da mesma cor.
DIA DOS NAMORADOS COM AFRODITE
Comemore o dia dos namorados com Afrodite. Que deusa melhor do que ela para compartilhar
um dia tão romântico?
Em primeiro lugar, em honra a deusa Afrodite adorne seu quarto com rosas vermelhas e queime
um incenso desta mesma essência.
RITUAL DE BANHO
Uma das conexões com a deusa Afrodite é através de um simples banho. Recordando seu mito
de nascimento, onde ela surgiu da espumas do mar, você pode praticar este ritual numa praia,
rio, na banheira e até no chuveiro.
Inicie este seu maravilhoso dia com um gostoso banho. Se puder, polvilhando-o com pétalas de
rosas vermelhas, declarando mentalmente toda a sua paixão e desejo. Comece então molhando
seu cabelo. Deixe ou faça a água gotejar sobre seu corpo. Sinta-se e diga que é tão bela e
atraente quanto Afrodite. Permaneça um bom tempo mergulhada neste tipo de pensamento,
depois pode pegar a toalha e enxugar-se.
A seguir faça uma delicada massagem facial-corporal com óleo de essência de rosas. Deste
modo, liberará todas as suas tensões e o odor de rosas se exalará invocando assim todos os seus
efeitos aromáticos que são afrodisíacos.
Coloque sua melhor roupa e saia para comprar o presente de seu amado. Você não tem um?
Tudo bem, deve sair mesmo assim e comprar um presente especial para você. Neste caso,
busque roupas e acessórios que você nunca teve coragem de usar antes.
INOVE!
Escolha algo que lhe deixe atrevidamente sensual. Achou? Pois à noite será a hora de vesti-lo e
badalar. Talvez seja hoje o dia que Afrodite lhe trará seu principie encantado, retirando todos os
"sapos" que insistem em cruzar seu caminho. Quem sabe?
O AMOR ESTÁ NO AR....
O amor está no ar e no perfume de cada dia.
Já foi cientificamente comprovado que o aroma desempenha um papel importante no contexto
da atração sexual. O caminho do coração, passa com certeza, primeiro pelo nariz. Uma presença
marcante, só se faz através de um perfume de mesmo porte. Portanto, sempre recomendo para
que toda mulher eleja uma fragrância de seu agrado e lhe seja fiel. Ela deve ser reconhecida por
um cheiro particular.
Mas existe também uma poção mágica que pode ativar os poderes afrodisíacos de seu perfume
habitual, sem alterar suas características naturais, que consiste em se acrescentar:
1/4 de óleo da patchulli
1/4 de óleo de benjoim
1/4 de óleo de loto
1/4 de óleo de heliotrópio
1/4 de óleo de lírio florentino
1/4 de azeite de oliva
Misture todos os ingredientes acima. Adicione à mistura o seu perfume ou colônia preferida.
JANTAR PARA UM AMOR MAIS RECEPTIVO
Depois do nariz, a parte mais vulnerável do homem é o estômago. Então, neste dia dos
namorados é a hora certa de preparar-lhe aquele jantarzinho muito especial.
Decore sua mesa com muito amor cobrindo-a com uma toalha cor-de-rosa. Adorne com um
centro de mesa com rosas vermelhas ou papoulas, acrescentando duas velas da mesma cor.
Nelas você deve escrever as iniciais dos dois nomes. Primeiro o dele e depois o seu em cima.
Elas simbolizarão o desejo ardente mútuo.
Perfume o ambiente com um incenso de rosas vermelhas.
Prepare ou compre uma torta de maças. Tenha disponível uvas e morangos, que deverão ser
mergulhados em chocolate, para no término do jantar, num momento mais íntimo serem
brindados com champanhe. Tribos indígenas da América do Sul, costumavam usar o chocolate
para cobrir suas zonas erógenas. Tornavam assim, os beijos mais doces e agradáveis. O
chocolate é considerado o alimento de Vênus.
Prepare um jantar simples, mas não esqueça de usar manjericão, erva tradicional que deve ser
sempre acrescentada em refeições de amor. Se servir alguma salada, ela deve ser temperada com
vinagre rosa.
RITUAL DE AFRODITE PARA OS AMANTES SEPARADOS
Esse ritual é para aqueles momentos em que se está separado de seu parceiro, seja por trabalho
ou outro motivo. Ele nos dará a paciência necessária para suportar essa separação, da mesma
maneira que Afrodite esperou pacientemente quando esteve separada de Adônis.
Você necessitará para esse ritual adquirir material de moldar, pode ser de barro, massa ou de
cera (encontrado em qualquer livraria especializada em material escolar). Molde dois corações
planos. Poderá amassar ou aplanar a massa ou barro ou usar um molde em forma de coração.
Depois acenda uma vela vermelha, já que essa é a cor da paixão. Tão logo a cera comece a
derreter, faça com que goteje sobre um dos corações. Enquanto a cera ainda estiver quente,
pressione os dois corações, como se fosse um sanduíche, de maneira que a cera cole juntos os
dois corações. Ao realizar essa tarefa, vá dizendo:
-"Deusa Afrodite, traga de volta pra mim, são e salvo, o meu amor".
Depois guarde os dois corações em lugar seguro até que volte a encontrar seu parceiro.
DEUSA DEMÉTER
Acredita-se que o culto à Deméter tenha sido trazido à Grécia vindo de Creta durante o
período micênico, carregando consigo o seu nome.. Sendo assim, ela é descendente direta
da Deusa-Mãe cretense, que com suas virgens e sacerdotisas, empunhavam serpentes e
prestavam culto ao touro. Neste caso, podemos afirmar que Deméter representaria a
sobrevivência da religião e dos valores matriarcais durante a cultura patriarcal guerreira
dos gregos clássicos.
O hino homérico relata que ela teria chegado a Eleusis disfarçada de anciã, na época em
que as pessoas vinham do outro lado do mar, de Creta.
A filha de Deméter, Perséfone, também nasceu em Creta, e a lenda arcaica da união de
Zeus, em forma de serpente, com sua filha também teve lugar em Creta. O filho que
nasceu dessa união foi Dionísio. As coincidências demonstram que existe uma conexão
entre a Deméter documentada em Creta e a que é conhecida na Grécia.
Na Grécia antiga, Deméter era responsável por todas as formas de reprodução da vida,
mas principalmente da vida vegetal, o que lhe rendeu o título de "Senhora das Plantas",
"A Verde", "A que atrai o fruto" e "A que atrai as estações". As pessoas a honravam ao
usar guirlandas de flores enquanto marchavam pelas ruas, geralmente descalças.
Acreditava-se que pisar na terra descalço aumentava a comunicação entre os humanos e a
Deusa.
Para os gregos, Deméter era a criadora do tempo e a responsável por sua medição em
todas as formas. Seus sacerdotes eram conhecidos como Filhos da Lua.
Outro vestígio da antiga consciência matriarcal da Deusa-Mãe, foi transmitido na devoção
católica popular da Virgem Maria entre os povos do Mediterrâneo. Quase certamente há
uma continuidade psíquica entre Maria, a Mãe de Deus, as antigas deusas da Grande Mãe
no Mediterrâneo e no Oriente Próximo e a deusa Deméter. Mas embora se conheça muitas
representações medievais de Maria com cereais e flores, ela não possui o poder emocional
das antigas Mães da Terra e suas filhas.
Deméter era a protetora das mulheres e uma divindade do casamento, maternidade, amor
materno e fidelidade. Ela regia as colheitas, o milho, o arado, iniciações, renovação,
renascimento, vegetação, frutificação, agricultura, civilização, lei, filosofia da magia,
expansão, alta magia e o solo.
O RAPTO DE PERSÉFONE
Quando falamos de Deméter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e do culto a
Deméter, era o fato dela ter perdido sua adorada filha Coré (donzela, em grego). A
intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente feminino dessa religião e
constelação mitológica. Coré mais tarde passa a ser conhecida como Perséfone.
O mais antigo documento que narra este mito é o belo "Hino à Deméter" homérico, que
nos fala tanto da Deusa Deméter como de sua filha Coré. O objetivo deste poema é
explicar a origem dos mistérios de Elêusis.
A jovem Coré, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando foi atraída por um
narciso muito belo, mas ao estender a mão para pegá-lo, a terra se abriu e Plutão (Hades),
Senhor dos Mortos, em sua carruagem de ouro puxada por dois cavalos negros, arrebatoua e levou-a para ser sua noiva e Rainha do Subterrâneo. Coré lutou e gritos, mas nem os
deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Deméter só pode ouvir o
eco do apelo de sua filha e então se apressou para encontrá-la. Procurou sua filha por nove
dias e nove noites, não parando para comer, dormir ou banhar-se, só andando errante pela
terra, carregando em suas mãos tochas acesas. Porém quando se apresentou pela décima
vez a Aurora, encontrou-se com Hécate, Deusa da Lua Escura, que lhe diz:
-"Soberana Deméter, dispensadora das estações, de esplendidos dons, quem dos deuses
celestes ou dos homens mortais raptou Perséfone e afligiu teu animo? Ouvi a sua voz,
porém não vi com meus olhos quem era. Em breve vamos desfazer esse engano".
Assim falou Hécate que partiu com Deméter, levando em suas mãos as tochas acesas. As
duas então chegaram até Hélio, o deus do sol, que compartilha esse título com Apolo e a
mãe aflita perguntou:
-"Sol, respeita-me tu ao menos, como Deusa que sou...A filha que pari, encantadora por
sua figura...ouvi sua vibrante voz através do límpido éter, como a de quem se vê
violentada, mas não a vi com meus olhos. Porém tu que sobre toda a terra e por todo o
mar diriges desde o éter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teria visto a
minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens mortais ousou
capturá-la para longe de mim, contra sua vontade, pela força".
Hélio então respondeu:
-"Filha de Rea, ...pois é grande o meu respeito e compaixão que sinto por ti, aflita como
estás por tua filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais é mais culpado que
Zeus fazedor de nuvens, que a entregou à Hades para que se torne sua esposa...Assim que
tu, Deusa, dá fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade há de que tu, sem razão,
guarde então um insaciável rancor."
Deu a entender para a Deméter que ela deveria aceitar a violação de Perséfone, pois
Hades, não era um genro tão sem valor, mas a Deusa não aceitou seu conselho e agora
sentia-se traída por Zeus. Retirou-se do monte Olimpo, disfarçou-se de uma mulher anciã
e vagou sem ser reconhecida entre as cidades dos homens e os campos. Um certo dia, ela se
aproximou de Elêusis, sentou-se perto do poço Partenio e foi encontrada pelas filhas de
Céleo, o governador de Elêusis. Quando Deméter disfarçada lhes revelou que procura um
emprego de babá, ela a levaram para casa, à sua mãe Metanira, para cuidar do um
irmãozinho chamado de Demofonte.
Sob os cuidados da Deusa, Demofonte criou-se como um deus. Ela o alimentou com
Ambrósia e secretamente o colocou em um fogo que o teria tornado imortal não tivesse
Metanira entrado no local e gritado por medo do filho. Deméter reagiu com fúria,
reclamou a Metanira por sua estupidez, e revelou sua verdadeira identidade. Ao
mencionar seu nome mudou completamente seu visual revelando sua beleza divina. Seu
cabelo dourado caiu pelas costas, e seu perfume e esplendor encheram a casa de luz.
Imediatamente Deméter ordenou que fosse construído um templo só seu e lá permaneceu
envolta em sua dor e não permitindo que nada germinasse na terra.
Zeus, tendo conhecimento da situação enviou sua mensageira Íris até Deméter, pedindo
que Deméter retornasse ao Olimpo. Como não concordou, um a um dos deuses olímpicos
vieram até ela, trazendo dádivas e honras. Mas a cada um Deméter fez saber que de modo
algum retornaria ao monte Olimpo, até que sua filha lhe fosse devolvida.
Finalmente Zeus resolve enviar seu mensageiro Hermes até Hades, ordenado-lhe que
trouxesse Perséfone de volta para que "quando sua mãe a visse com seus próprios olhos,
abandonasse a sua raiva". Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentado
próximo à Perséfone que se encontrava muito deprimida.
O Senhor dos Mortos, antes de libertar Perséfone, deu-lhe uma semente de romã para
comer, o que faria com que ela voltasse para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar para
Deméter dois terços do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades.
Com a satisfação de recuperar a filha perdida, Deméter fez com que os cereais brotassem
novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores. Imediatamente mostrou
esta feliz visão aos princípios de Elêusis, Triptolemo, Diocles e ao próprio rei Celeo e, além
disso, revelou-lhes seus sagrados ritos e mistérios.
O amor entre Deméter e Coré é um sentimento que somente uma mãe e uma filha podem
realmente compartilhar. Não importa o quanto um pai ame e adore sua filha, jamais
chegará perto do estreito vínculo que existe entre mãe e filha. Ao dar á luz, a mãe, vê a si
mesma em pura inocência naquela pequena pessoinha. Jung nos diria que uma mãe vê em
sua filha é a percepção de seu próprio "self" feminino transcendente, a perfeição do ser
feminino.
Podemos afirmar, com convicção, segundo Carl Jung, que "em toda mãe já existiu uma
filha e toda a filha contêm sua mãe" e que toda mulher se estende para trás em sua mãe e
para frente em sua filha. A conscientização destes laços gera o sentimento de que a vida se
estende ao longo de gerações e provocam a sensação de imortalidade.
ARQUÉTIPO MATERNAL
No momento que a mulher recebe em seus braços o seu bebê, o poder arquetípico de
Deméter é plenamente despertado. As dores do parto, consideradas como uma transição
iniciática, desaparecem e uma irradiação de amor demétrico tudo abrange. Estará aqui e
agora desperta para uma nova fase de sua vida: ser mãe. Uma vez mãe, permanecerá
sempre mãe, pois nada apaga a emoção de carregar um filho sob o coração.
O arquétipo da Mãe era representado no Olimpo por Deméter. Embora muitas Deusas
tenham sido mães, nenhuma se compara à esta Deusa, pois ela deseja ser mãe. Quando
está grávida ou criando seus filhos, Deméter atinge o ápice de sua plenitude enquanto mãe.
Ela orgulhosamente proporcionou vida nova e novas esperanças à sua comunidade. No
antigo simbolismo de seu ciclo, ela corporifica agora a lua cheia, e também o verão
abundante com frutos da terra. O cálice da força vital dentro de si está transbordante.
Este arquétipo não está restrito à mãe biológica. Ser mãe de criação ou ama seca, permite
que outras mulheres expressem seu amor maternal. A própria Deméter representou este
papel com Demofonte.
MÃE-NATUREZA
O povo grego. ano após ano, via, com natural pesar, os dias brilhantes do verão
desvanecer-se com a tristeza da estagnação do inverno. Ano após ano, saudava a explosão
de vida e cores da primavera. Habituado a personificar as forças da natureza e a vestir
suas realidades com roupagem de fantasia mítica, ele criou para si um panteão de deuses e
deusas, de espíritos e duendes, que oscilavam com as estações e seguiam as flutuações
anuais de seus fados com emoções alternadas de alegria e tristeza, que expressava na
forma de ritual e de mito. Um destes mitos é o da Deusa Deméter. Os romanos a
conheciam como Ceres.
O símbolo principal de Deméter era um feixe de trigo e, em seus mistérios em, Elêusis,
uma única espiga de milho. É retratada como uma mulher bonita de cabelo dourado e
vestida com roupão azul, considerada a Senhora das Plantas. Seu animal sagrado é o
porco, que representava um sacrifício de fertilidade em todo o mundo por causa de seus
múltiplos úteros. Seu animal sagrado marinho era o golfinho.
AS TESMOFORIAS
O festival grego da "Tesmoforias" era celebrado anualmente em outubro, em honra a
Deméter e era exclusivo para mulheres. Se constituía de três dias de celebrações pelo
retorno de Core ao Submundo.
Neste festival, os iniciados compartilhavam uma beberagem sagrada, feita de cevada e
bolos.
Uma das características da Tesmoforia era uma punição aos criminosos, que agiam contra
as leis sagradas e contra as mulheres. Sacerdotisas liam a lista com os nomes dos
criminosos diante das portas dos templos das Deusas, especialmente Deméter e Ártemis.
Acreditava-se que aqueles desta forma amaldiçoados morreriam antes do término de um
ano.
O primeiro dia da Tesmoforia era celebrado o "kathodos"(baixada) e o "ánodos"(subida),
um ritual em que as sacerdotisas castas levavam leitões para serem soltos dentro de grutas
profundas cheias de serpentes e os restos decompostos dos porcos do ano anterior eram
recolhidos.
O segundo dia era chamado de "Nestía", nele as mulheres jejuavam, sentadas no chão,
imitando a forma ritual dos processos da natureza e, de acordo com uma perspectiva
mitológica, representando a dor de Deméter pela perda da filha, quando, inconsolada, se
sentou ao lado do poço. O ambiente era triste e, portanto, não se usavam guirlandas.
No terceiro dia, se celebrava um banquete com carne e os leitões recolhidos (do ano
anterior) eram espalhados na terra arada, e se invocava a Deusa de belo nascimento,
"kalligeneia".
MISTÉRIOS ELEUSIANOS
O propósito e o significado dos Mistérios Eleusianos era a iniciação a uma visão.
"Eleusis", significa "o lugar da feliz chegada", de onde os campos Elíseos tomam seu
nome. O termo "Mistérios" provêm da palavra "muein", que significa "fechar" tanto os
olhos como a boca. Faz referência ao segredo que rodeia as cerimônias e a conformidade
requerida do iniciado, ou seja, se exige de ele ou ela permita que se faça algo: daí se deduz
o significado de "iniciar". A culminação da cerimônia consistia na exposição de objetos
sagrados no santuário interno a mãos do sumo sacerdote ou hierofante (hiera phainon), "o
que faz que os objetos sagrados apareçam". Era somente permitido fazer alusões indiretas
sobre o que ocorria. Entre elas, a fundamental era que Deméter falava à sua filha e se
reunia com ela em Eleusis. Mas, alguns escritores cristãos violaram essa regra e um
assinalou que o ponto culminante da cerimônia consistia em cortar uma espiga de trigo em
silêncio.
Qualquer pessoa podia assistir os Mistérios, desde que falasse grego, mulheres e escravos
inclusive, desde que não tivessem as mãos sujas de sangue por nenhum crime. Os Mistérios
eram realizados uma vez ao ano para mais ou menos três mil pessoas. Sabe-se que esses
iniciados não formavam nenhuma sociedade secreta, eles vinham de todos os pontos da
Hélade, participavam da experiência e logo se separavam.
Os Mistérios menores, que se celebravam até o final de inverno no mês das flores, o
Antesterion (nosso fevereiro) e era pré-requisito para a participação nos Mistérios
maiores, que se celebravam no outono. Esses Mistérios exploravam o que havia acontecido
à Perséfone, Deusa do Mundo Subterrâneo, quando estava colhendo flores em Nisa. Diz-se
que ela foi raptada por Hades enquanto colhia um narciso de cem cabeças. Os gregos
chamavam de narciso toda a planta que tinha propriedades narcóticas.
Esse rapto representa várias idéias, uma é o processo que experimenta a semente ao cair
na terra e decompõem-se para voltar de novo à vida. Que se representava simbolicamente
como as primeiras núpcias entre os reinos da vida e da morte.
Porém, também representa o rapto extático que proporcionavam certas substâncias que
estavam relacionadas com Dionísio, deus da embriaguez, que por sua vez era Senhor de
Hades por sua relação com tudo que apodrecia, fermentava e se transformava em outra
coisa.
O primeiro estágio da iniciação nos Mistérios menores era o sacrifício de um porco jovem,
o animal consagrado à Deméter, que substituía simbolicamente a morte do próprio
iniciado. Como nas Tesmoforias esse rito se ajusta à variante órfica do mito, que associava
a morte do leitão com o rapto de Perséfone.
O segundo estágio da iniciação era uma cerimônia de purificação na qual o iniciado era
vendado. As sucessivas etapas dos ritos de iniciação são descritas, através de alusões,
inteligíveis para os já iniciados, porém não para os profanos. O acontecimento central dos
Mitos Eleusinos era à noite em que se consumia a poção sagrada Kykeon. Os ingredientes
dessa poção se constituiu um segredo durante esses 4 mil anos.
Os Mistérios maiores se celebravam a princípio a cada cinco anos. Mais tarde passaram a
celebrar anualmente, no outono: começava no dia 15 do mês Boedromión (nosso mês de
setembro) e duravam nove dias. Reuniam-se iniciados de todos os lugares do mundo
helênico e romano, e se declarava uma trégua entre as cidades estado gregas durante
quarenta e cinco dias, desde o mês anterior até o mês seguinte.
Na véspera do início, se levavam os objetos sagrados, o "hierá", de Deméter em procissão
desde Eleusis até Atenas.
1- dia 15 do boedromion: Agyrmos, reunião. Proclamação:
Nesse dia tinha lugar a convocação e preparação dos iniciados. Os hierofontes declaravam
o "prorrhesis", o início dos ritos.
2 dia- 16: Elasis ou Helade Mistay: "Ao mar, ó iniciados!"
No segundo dia os iniciados se purificavam no mar (Falero), num rito chamado de
"expulsão". Durante nove dias fariam estas abluções na água do mar, nove dias como
Deméter peregrinou pela terra em busca da verdade sobre o rapto de Perséfone. Nesse
mesmo dia, os iniciados sacrificavam um leitão enquanto o hierofante os instava: Helade,
Mysthai!
3 dia- 17: Hiereia Deuro: Sacrifício
Parece que nesse dia se celebravam o sacrifício oficial em nome da cidade de Atenas.
4 dia- 18: Asclepia
Esse dia era chamado de Asclepia em honra de Asclepio, deus da cura, era outro dia de
purificação.
5 dia- 19: Yacós ou Pampa, procissão
Esse era um dia de celebração onde se realizava um grande procissão que inciava em
Ceramico (Cemitério de Atenas) até Eleusis, seguindo o itinerário sagrado. Percorriam
uns 32 Km. Algumas sacerdotisas levavam as "hierás" em "kistas"fechadas, ou cestas,
rodeadas por uma multidão que dançava e gritava o nome de Yaco, cuja estátua, coroada
de myrto e carregando uma tocha.
Yaco era o outro nome de Dionísio que, segundo a lenda órfica, era filho de Perséfone e
Zeus, pai da mesma. Fui concebido em uma noite em que o deus se aproximou de uma
caverna subterrânea transformado em serpente. Não se tratava de Dionísio, deus do vinho
e do touro (cujo equivalente é o cretense Zagreo), deus que é desmembrado, porém vive de
novo. Era Dionísio como criança de peito místico, o deus que morre e vive eternamente,
imagem da renovação perpétua.
Na fronteira entre Eleusis (era uma cidade pequena à 30km noroeste de Atenas) e Atenas,
pessoas mascaradas parodiavam a procissão. Encenavam o mito que relatava como Yambe
ou Baubo animou Deméter. Como em tantas festas de renovação, preparavam o
nascimento do novo para substituir o velho. Quando as estrelas apareciam, os "mystai"
(iniciados) rompiam seu jejum, pois o dia vigésimo do mês havia chegado e segundo as
"Ranas" de Aristófanes, o resto da noite passavam entre cantos e bailes. Os templos de
Poseidón e Ártemis se abriam para todos, porém atrás deles estava a porta que dava ao
santuário, e nada, exceto os iniciados, poderiam passar sob pena de morte.
6 dia - 20: Telete (mysteriodites Nychtes)
Esse era um dia de descanso, jejum, purificação e sacrifícios, de acordo com o mito de
jejum de Deméter, representando o ritual de esterilidade do inverno. O jejum se rompia
com a bebida de cevada, mel e polén (Kykeon) que preparavam e então se permitia que os
iniciados entrassem no santuário sagrado. Essa celebração acontecia em um lugar
chamado de Telesterion, chamado assim porque aqui se alcançava "o objetivo" ou "telos".
Era um local enorme, que podia albergar milhares de pessoas e onde se exibiam os objetos
sagrados de Deméter. No centro estava o Anactoron, uma construção retangular de pedra
com uma porta em um de seus extremos, que só o hierofonte podia passar. Essa era a parte
mais reservada dos Mistérios eleusianos.
Mas o que exatamente ocorria neste momento?Seria o começo da própria iniciação?
Parece que se desenvolvia em três etapas: "drómena, o feito (Ação); legómena, o dito
(texto falado); deiknýmena, o mostrado (visão). Depois tinha lugar uma cerimônia especial
conhecida como "epoptía", o estado de "haver visto", se celebrava para os iniciados do
ano anterior.
Em drómena os iniciados participavam de um desfile sagrado pelo qual se representava o
relato de Deméter e Perséfone. Os legómena consistiam em invocações ritualísticas curtas,
pequenos comentários que acompanhavam o desfile e explicavam o significado do drama.
Os deiknýmena, a exibição dos objetos sagrados, culminava na revelação proferida pelo
hierofante, cuja difusão era proibida. Os epoptía também incluiam a exibição de "hierá",
não se sabe ao certo o que eram esses objetos sagrados. Segundo as fontes arqueológicas de
A. Kórte (Zu den Eleusinischen Mysterien, «Archiv für Religions Wissenschaft» 15, 1915,
116) supõe-se que a enigmática cesta que tomavam os iniciados, entre outros objetos, havia
um que representava o órgão sexual feminino, o qual, em contato com o corpo dos mystai,
contribuía com a sua regeneração e passavam a ser considerados filhos de Deméter.
M. Picard (L'épisode de Baubó dans les mystéres d'pleusis, «Revue d'histoire des
religions» 1927, 220-255) adiciona o órgão masculino. O iniciado tocaria sucessivamente os
dois objetos, simbolizando assim a verdadeira união sexual.
7 dia- 21: Epopteia
Somente à tarde tinha início os ritos secretos. Em determinado momentos deviam
pronunciar uma contra-senha sagrada:"Jejuei, bebi o kykeon, o tomei do canasto
(calathus) e, depois de prová-lo o coloquei de novo no canasto e dali, ao cesto". Misteriosas
palavras, que sem sombra de dúvida, tinham grande significado para os iniciados. Todo o
resto do dia era passado em compasso de espera e somente à noite os iniciados entravam
no santuário. Um muro à sua direita impedia que vissem o local da "Rocha sem alegria"
(local em que se supõe que a Deusa Deméter esteve sentada). Ouviam lamentos
procedentes dali. Chegavam ao Telesterion e depositavam os leitões nas "mégara", uma
espécie de sótão do templo. Em seguida peregrinavam fora do Telesterion em busca de
Core (Perséfone), na escuridão e com a cabeça coberta com uma carapuça que não lhes
permitia ver nada, cada iniciado era guiado por um mystagogo. Imagine andar na
escuridão, totalmente desorientado, esperando em silêncio, até que um gongo soa como um
trovão e o hierofonte clamando por Core, até que o mundo inferior se abre e das
profundezas da terra aparece a Deusa. Daí um clarão de luz enche a câmara, crescem as
chamas da fogueira e o hierofonte canta:
-"A Grande Deusa deu à luz a um filho sagrado: Brimo pariu à Brimós". Então, em
silêncio profundo, levanta com a mão uma espiga de trigo.
Para que entendam, Brimo era uma Deusa do Mundo Inferior em Tesália, ao norte. Os
nomes Brimo e Brimós sugerem à introdução da agricultura e de que nos Mistérios da
Grécia houve influência tesalia.
Mas que estão fazendo Brimo e Brimós em Eleusis?
Kerényi diz que Brimo é "fundamentalmente um nome que designa a rainha do reino dos
mortos, atribuído à Demeter, Core e Hécate em sua qualidade de Deusas do Mundo
Inferior". Nesse caso, o filho é o espírito da renovação concebido no Mundo Inferior como
testemunho vivo de que na morte há vida, já que está na "riqueza" da colheita, o
"tesouro" do conhecimento intuitivo espiritual.
8 dia - 22: Plemochoai
Era dia de sacrifício e festa. Sacrificavam-se touros à Deméter e Perséfone (Core) e outros
animais, especialmente leitões. Este festival era chamado Plemochoai, porque esse era o
nome dado aos vasos (ou taças) que o sacerdote enchia com um certo líquido e, virando-se
para oeste e depois para leste, derrama ao solo o que continham. O povo, olhando para o
céu, grita "chuva!" e, olhando para a terra, grita "concebe!", hýe, kýe.
Harrison escreve que "o rito do matrimônio sagrado e o nascimento da criança
sagrada....era o mistério central". Entretanto, a cerimônia final nos mostra o matrimônio
simbólico da chuva celestial com à terra, que havia de conceber o filho do grão (da
semente), porém existia a possibilidade se ser celebrado esse casamento simbólica ou
literalmente, entre o hierofante e uma sacerdotisa antes do regresso de Core.
9 dia - 23: Epistrofe
Neste dia os iniciados voltavam à Atenas. Eleusis voltava a velar-se em seus mistérios,
enquanto se despedia dos visitantes, agora renascidos, levando consigo as experiências de
vinculação com as divindades. Assim acabam os Mistérios de Eleusis.
A gestão desse culto era exclusiva das famílias aristocráticas, com funções definidas para
cada uma delas. O sumo sacerdote, o chamado hierofante, devia pertencer a família dos
Eumólpidas, enquanto a família dos Cérices procediam dos sacerdotes de traço
imediatamente inferior, o portador da tocha. A sacerdotisa vivia sempre no santuário. O
hierofante ostentava o privilégio de escolher seus iniciados. Sobre todos eles se sobrepunha
uma outra figura, o chamado arconte rei (archon basileus) no eleusino, que era ateniense
(era os atenienses que controlavam o culto), ao qual assiste uma equipe de colaboradores
(epistatai), encarregados das finanças.
MORRER PARA RENASCER
Morrer para renascer, esse é o sentido da iniciação. O sangue dos animais sacrificados
simbolizavam a própria morte do iniciado. É Plutarco que nos diz que "morrer é ser
iniciado". Só através da morte se regressa à luz. Clemente e Foucart realmente estão de
acordo com essa idéia: representar a busca de Deméter e identificar-se com Perséfone é
precisamente vagar no mundo subterrâneo da morte, do mesmo modo que encontrar Core
é retornar à vida depois da morte.
Esse mito grego recupera um mito bem mais antigo conhecido como a "Descida de
Inanna", que vai e vem entre ambos os mundos. Perséfone aqui é a faceta da mãe que
desce e regressa de novo à mãe, configurando uma totalidade nova. Se percebe claramente
uma continuidade nessa relação: vida em morte e morte em vida. Se "vê através" de uma
a outra, e isso liberta a humanidade de sua natureza de entidades antagônicas. Quando
mãe e filha se percebem como uma única realidade, nascimento e renascimento se
convertem em fases que provêm de uma fonte em comum: através da dita percepção se
transcende a dualidade.
A DEUSA TRÍPLICE
A triplicidade pode ser vista na lua, que é: crescente, cheia e minguante. E, no fato da
Deusa reger o mundo superior, a terra e o mundo inferior. Ela era também a Donzela ou
Virgem, a Mãe e a Anciã, as três principais fases da vida de toda a mulher. Pois Deméter se
vê "Donzela" em sua filha Coré. É "Mãe" desta filha e de tudo que brota e cresce. Mas, ao
perder sua filha Coré para Hades, torna-se "Anciã" associada diretamente com a morte.
Para cada fase ou ciclo há perdas que devem ser vivenciadas por todas as mulheres. No
primeiro ciclo, visualiza-se a "morte da donzela", que torna-se uma jovem nubente e é
uma iniciação para fase seguinte, que se tornará mãe, abençoada com seus próprios filhos.
Quando a Mãe não pode mais conceber (menopausa), passa a tocha da maternidade para
filha, transferindo para ela todos os poderes da fecundidade. A morte da mãe, constitui a
mulher idosa que tem agora o potencial para ingressar na esfera espiritual das anciãs,
guardiãs dos mistérios da morte.
Hoje estes ciclos raramente são reconhecidos e vividos plenamente pelas mulheres, pelo
fato de habitarem um mundo predominantemente masculino. A realidade moderna e
científica tornou a "Mãe" uma máquina biológica de produção de bebês, que favorece ou
prejudica a política financeira de uma determinada sociedade.
DEMÉTER HOJE
Por mais belo que se pinte um quadro de uma mãe com o filho nos braços, ele estará longe
de ser a realidade para a maioria das mães das sociedades industrializadas e urbanas do
Ocidente. As pressões financeiras, privam a mulher de permanecer no seio da família,
cuidando de seus amados filhos. Até a licença-maternidade, através de duras penas
conseguida, possui um tempo vergonhosamente limitado, pois a volta ao trabalho quase de
imediato, não permitem que a mãe acompanhe o desenvolvimento de seu bebê. Além de ser
estigmatizada por tal feito, pois ter um filho em nossos dias, significa estar fora de ação,
inativa e lhes é somente permitido olhar saudosamente para o mundo que caminha sem
elas.
Deméter sofre com o eclipse em nossa civilização. As mulheres que representam seu modo
de ser, não têm condições de competir com as mulheres mais instruídas, pois a Deméter
natural não é tão intelectualizada. Ela adora apenas criar seus filhos e acaba ficando
muito sentimentalizada, tratada com condescendência e destituída do poder por suas
irmãs feministas.
Deméter nas antigas comunidades agrárias, tinha dignidade, autoridade e uma vida
bastante gratificante. Tudo se perdeu numa sociedade onde tudo é subserviente às
exigências econômicas do monopólio do consumo.
RITUAL
Todos nós experimentamos em nossas vidas momentos em que temos a sensação de
estarmos mergulhando no Submundo e nas trevas, sem sabermos se conseguiremos
emergir para a luz e tempos melhores.
O ritual que se segue é bem simples e lhe ajudará muito a iniciar as mudanças
inconscientes necessárias para diluir esses sentimentos obscuros e negativos.
O sentimento de desamparo afeta tanto o espírito quanto a mente. Quando se atravessa
um período negativo, o mais importante não é saber o porquê do quadro, mas sim saber
como se pode revertê-lo.
Material:
1 vela branca em um suporte
1 incenso de patchulli
1 cobertor
1 sino
Acenda a vela e entre na banheira cheia de água com um pouco de sal. Concentre-se na
lavagem de todas as vibrações negativas. Permaneça na banheira o tempo necessário para
relaxar. Depois seque-se e vista uma túnica ou roupão. Segure a vela com uma mão e o sino
na outra. No sentido horário visite todos os cômodos da casa, badalando o sino enquanto
caminha. Erga a vela diante de cada janela, porta e espelho e em seguida toque o sino,
dizendo:
"Trevas, fujam deste sino e desta vela,
Que entre o equilíbrio. Vá embora a escuridão".
Coloque a vela no suporte, acenda o incenso e espalhe a fumaça gentilmente sobre o seu
corpo. Deite-se em uma posição confortável e enrole-se no cobertor, deixando apenas o
nariz e a boca descobertos, para permitir sua respiração.
Feche os olhos e sinta-se afundando na Terra. Relaxe completamente e deixe-se levar às
profundezas. À medida que afunda, derrame sua infelicidade e seus sentimentos
depressivos na Mãe Terra e no Senhor da Floresta. Se você sentir vontade de chorar, chore,
pois lhe fará muito bem.
Agora escute o seu coração. Deixe seus sentimentos fugirem ao controle da mente
consciente e alcançarem aquele ponto onde não há explicação para se ouvir o que se ouve,
sentir o que se sente, deixe rolar o que tiver que rolar...
Você sentirá então, o abraço da Mãe Terra e a escuridão e a depressão de seu interior
começarão a se desintegrar. Uma paz profunda tomará conta de todo o seu ser.
À medida que sente estar dirigindo a mente para pensamentos mais positivos, comece a se
livrar do cobertor. Mas saia lentamente de dentro dele, como se fosse um bebê nascendo
para um novo mundo.
Uma vez livre do cobertor, estique os braços e as pernas. Não se espante se estiver rindo ou
chorando de emoção, é bem normal.
Agradeça à Deusa por Sua ajuda passada, presente e futura e dê boas-vindas às mudanças
que florescem dentro de você.
Agora vá e faça algo que lhe deixe muito feliz!
DEUSA PERSÉFONE
PARA
OS GREGOS,
PERSÉFONE
R A I N H A D I S TA N T E D O M U N D O A V E R N A L , Q U E
M A S , PA R A O S R O M A N O S , E L A E R A C O N H E C I D A
TA M B É M C O M O A V I R G E M , D O N Z E L A , C O R E , A S S O C I A D A C O M O S S Í M B O L O S D E
F E RT I L I D A D E : R O M Ã , O G R Ã O , O M I L H O , E A I N D A , C O M O N A R C I S O , A F L O R Q U E A
AT R A I U .
ERA A
V I G I AVA A S A L M A S D O S FA L E C I D O S .
SEU
HADES
SEQÜESTRO REALIZADO POR
E S U A D E S C I D A A O M U N D O AV E R N A L , É A
HISTÓRIA MAIS CONHECIDA DE TODA A MITOLOGIA GREGA.
EMBORA PERSÉFONE NÃO
MISTÉRIOS DE
FOSSE UM DOS DOZE DEUSES OLÍMPICOS, FOI A FIGURA CENTRAL NOS
ELÊUSIS,
GREGOS.
Q U E P O R D O I S M I L A N T E S D O C R I S T I A N I S M O F O I A P R I N C I PA L R E L I G I Ã O D O S
NOS MISTÉRIOS
DE
ELÊUSIS
O S G R E G O S E X P E R I E N C I A R A M A R E N O VA Ç Ã O D A
V I D A D E P O I S D A M O RT E AT R AV É S D A V O LTA A N U A L D E
PERSÉFONE
DO
INFERNO.
MITOLOGIA
PERSÉFONE
FOI A FILHA ÚNICA DE
DEMÉTER
E
ZEUS. A
MITOLOGIA GREGA É
INCOMUMENTE SILENCIOSA QUANTO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA CONCEPÇÃO.
No início do mito, Perséfone era uma garota despreocupada que colhia flores e brincava com
suas amigas. Então Hades apareceu repentinamente em sua carruagem por uma abertura da
terra, pegou a jovem à força e a levou de volta para o Inferno, a fim de ser sua noiva contra a
vontade. Sua mãe, Deméter, não aceitou a situação, deixou o monte Olimpo, persistiu em
conseguir o retorno de Perséfone, e finalmente forçou Zeus a considerar seus desejos. Zeus
então enviou Hermes, o deus mensageiro, para ir buscar Perséfone.
HERMES
CHEGOU AO
INFERNO
E ENCONTROU A JOVEM DESOLADA.
TORNOU-SE ALEGRIA QUANDO DESCOBRIU QUE
HADES
A D E I X A R I A PA RT I R .
ANTES
HERMES
QUE ELA O DEIXASSE, CONTUDO,
ALGUMAS SEMENTES DE ROMÃ, E ELA COMEU.
HERMES,
DEPOIS
MAS
ENTÃO
SEU DESESPERO
TINHA VINDO POR SUA CAUSA E
HADES
LHE DEU
ENTROU NA CARRUAGEM COM
Q U E A L E VO U R A P I D A M E N T E PA R A
DEMÉTER.
DE MÃE E FILHA SE ABRAÇAREM ALEGREMENTE,
DEMÉTER ANSIOSAMENTE
INFERNO. PERSÉFONE RESPONDEU
HADES A TINHA FORÇADO A COME-LAS
INDAGOU SE ELA TINHA COMIDO ALGUMA COISA NO
Q U E H AV I A C O M I D O S E M E N T E S D E R O M Ã P O R Q U E
(O
Q U E N Ã O E R A V E R D A D E ).
DEMÉTER
T E V E Q U E A C E I TA R A E S T Ó R I A E O PA D R Ã O
CÍCLICO QUE SE SEGUIU.
NÃO
P E R S É F O N E C O M I D O A S TA I S S E M E N T E S , T E R I A
D E M É T E R . E N T R E TA N T O , PA S S O U A S E R O B R I G A D A
PERMANECER POR UM TERÇO DO ANO.
TIVESSE
S I D O C O M P L E TA M E N T E D E V O LV I D A A
A
MAIS
TA R D E ,
PERSÉFONE
TORNOU-SE A
RAINHA
DO
INFERNO. TODAS
AS VEZES QUE OS
H E R Ó I S E H E R O Í N A S D A M I T O L O G I A G R E G A D E S C I A M PA R A O R E I N O I N F E R I O R ,
PERSÉFONE
L Á E S TAVA PA R A R E C E B E - L O S E S E R S U A G U I A .
NINGUÉM.
NUNCA
NUNCA
E S TAVA A U S E N T E PA R A
H AV I A S I N A L N A P O RTA D I Z E N D O Q U E E L A F O R A PA R A C A S A C O M A
M Ã E , E M B O R A O M I T O D I G A Q U E E L A FA Z I A I S S O D O I S T E R Ç O S D O A N O A O L A D O D E
H A D E S ..
N A “O D I S S É I A ”, O H E R Ó I O D I S S E U (U L I S S E S ) V I A J O U PA R A O I N F E R N O , O N D E
P E R S É F O N E L H E M O S T R O U A S A L M A S D A S M U L H E R E S D E R E P U TA Ç Ã O L E G E N D Á R I A . N O
M I T O D E P S I Q U E E E R O S , A Ú LT I M A TA R E FA D E P S I Q U E E R A D E S C E R A O M U N D O D A S
T R E VA S C O M U M A C A I X A PA R A P E R S É F O N E E N C H E R D E U N G Ü E N T O D E B E L E Z A PA R A
A F R O D I T E . O Ú LT I M O D O S D O Z E T R A B A L H O S D E H É R C U L E S TA M B É M O L E V O U A
P E R S É F O N E . H É R C U L E S T E V E Q U E O B T E R A P E R M I S S Ã O D E L A PA R A E M P R E S TA R
CÉRBERO, O FEROZ CÃO DE GUARDA DE TRÊS CABEÇAS, QUE ELE DOMINOU E COLOCOU
EM UMA CORRENTE.
PERSÉFONE
A F R O D I T E P E L A P O S S E D E A D Ô N I S , O B E L O R A PA Z
DEUSAS. AFRODITE ESCONDEU ADÔNIS EM UM BAÚ E O
M A N D O U PA R A P E R S É F O N E PA R A P R E S E RVA Ç Ã O . M A S , A O A B R I R O B A Ú , A R A I N H A D O
I N F E R N O F I C O U E N C A N TA D A C O M S U A B E L E Z A E R E C U S O U E N T R E G A - L O D E VO LTA .
P E R S É F O N E A G O R A L U TAVA C O M O U T R A D I V I N D A D E P E L A P O S S E D E A D Ô N I S , C O M O
D E M É T E R E H A D E S O U T R O R A T I N H A M L U TA D O P O R E L A . A D I S P U TA F O I T R A Z I D A
P E R A N T E Z E U S , Q U E D E C I D I U Q U E A D Ô N I S PA S S A R I A U M T E R Ç O D O A N O C O M P E R S É F O N E
E U M T E R C E D O A N O C O M A F R O D I T E E FA R I A O Q U E Q U I S E S S E D O T E M P O R E S TA N T E .
TA M B É M L U T O U C O N T R A
QUE ERA AMADO POR AMBAS
O ARQUÉTIPO
COMO VIMOS, PERSÉFONE TINHA DOIS ASPECTOS: O DE JOVEM E O DE RAINHA DO
I N F E R N O . D E J O V E M D E S P R E O C U PA D A , E L A S E T O R N A À D E U S A M A D U R A , Q U E A C A B A S E
T O R N A N D O R A I N H A A B S O L U TA D O M U N D O A V E R N A L , G O V E R N A N D O O S E S P Í R I T O S
M O RT O S A O L A D O D E S E U M A R I D O , H A D E S , S O M B R I O S E N H O R D A M O RT E .
ESSA
D U A L I D A D E TA M B É M E S T Á P R E S E N T E C O M O D O I S PA D R Õ E S A R Q U E T Í P I C O S .
TODAS
NÓS MULHERES PODEMOS SER INFLUENCIADAS POR UM DOS DOIS ASPECTOS, PODENDO
C R E S C E R U M PA R A O O U T R O , O U P O D E M O S S E R I G U A L M E N T E J O V E N S E R A I N H A S
PRESENTES EM NOSSA PSIQUE.
HOJE
EM DIA, CADA VEZ MAIS
PERSÉFONES
L AT E N T E S T Ê M B U S C A D O A L I T E R AT U R A
E S O T É R I C A , A S F O R M A S A LT E R N AT I VA S D E C U R A E O Q U E S E C H A M A D E E N S I N A M E N T O S
DA
N O VA E R A . P O RTA N T O ,
VELADA DE
O
É O P O RT U N O P E N E T R A R M O S C A D A V E Z M A I S N A H I S T Ó R I A
PERSÉFONE,
RAINHA DO ALÉM-TÚMULO.
M I T O T E M M U I T O A D I Z E R PA R A A S M U L H E R E S D A AT U A L I D A D E Q U E S E E S F O R Ç A M
PA R A C O M P R E E N D E R T O D A A E S P É C I E D E I N T R I G A N T E S E X P E R I Ê N C I A S P S Í Q U I C A S N A
N AT U R E Z A O U Q U E , D E U M A F O R M A O U D E O U T R A , S Ã O AT R A Í D A S A T R A B A L H A R C O M A
M O RT E O U S O F R E R A M G R A N D E S T R A G É D I A S P E S S O A I S E M S U A S V I D A S .
COMPREENDER
PERSÉFONE E SUA LIGAÇÃO ESPIRITUAL
( E M U I T O S H O M E N S TA M B É M )
TA L E N T O M E D I Ú N I C O . A L É M D I S S O ,, N I N G U É M
O SIGNIFICADO DA DESCIDA DE
PA RT I C U L A R M E N T E U R G E N T E .
MILHARES
E S T Ã O AT U A L M E N T E D E S C O B R I N D O U M
DE MULHERES
É
P O D E D E I X A R D E P E R C E B E R A F E B R E D E E N T U S I A S M O P E L A M E TA F Í S I C A , P E L O TA R Ô ,
P E L A A S T R O L O G I A , P E L A S C U R A S E S P I R I T U A I S E P E L A M E D I TA Ç Ã O , T U D O I S S O ,
VA G A M E N T E A G R U PA D O S O B O E S TA N D A RT E G E N É R I C O D A
JOSEPH CAMPBELL,
N O VA E R A .
QUE JÁ FOI INIGUALÁVEL AUTORIDADE EM MITO E RELIGIÃO,
S U G E R I U Q U E O D E S P O N TA R G E N E R A L I Z A D O D A C O N S C I Ê N C I A D E
DE UM
“CREPÚSCULO
PERSÉFONE
S E R I A PA RT E
D O S D E U S E S ”.
E N T R E TA N T O , D E V E M O S T E R C O N S C I Ê N C I A , Q U E V I V E R B O A PA RT E D A V I D A “ E N T R E O S
M O RT O S ”, P O D E E X E R C E R P R E S S Ã O S O B R E Q U A L Q U E R P E S S O A D E T E M P E R A M E N T O
M E D I Ú N I C O , E S P E C I A L M E N T E Q U A N D O E S TA S E X P E R I Ê N C I A S F O R E M E R R O N E A M E N T E
I N T E R P R E TA D A S O U T E M I D A S , C O M O C O S T U M A S E R O C A S O .
O
M U N D O AV E R N A L É E S S E N C I A L M E N T E U M M U N D O D E E S P Í R I T O S E C O M O TA L , C A R E C E
DE ARDOR, AFEIÇÃO E SE DISSOCIA DO QUE CHAMAMOS DE REALIDADE.
A
MANEIRA DE
UM MÉDIUM LIDAR COM ESTE DOMÍNIO DE EXISTÊNCIA E COM SUAS AMEAÇAS DE
D I S S O C I A Ç Ã O P S Í Q U I C A , C O N S T I T U I , P O RTA N T O , U M D E S A F I O S E M I G U A L .
O
S E G R E D O E S T Á E M A B R A Ç A R M O S O L A D O E S C U R O C O M O L A D O L U M I N O S O D E S TA
DEUSA DENTRO DE NÓS.
COMO
J Á D I S S E O V E L H O A L Q U I M I S TA
M O R I E N U S :” O
P O RTA L
D A PA Z É S O B R E M A N E I R A E S T R E I T O , E N I N G U É M P O D E R Á AT R AV E S S A - L O S E N Ã O P E L A
A G O N I A D E S U A P R Ó P R I A A L M A .”
O MITO ORIGINAL
PERSÉFONE
RENASCIMENTO E
P R I M AV E R A , A S S E R P E N T E S
REGENERAÇÃO IDENTIFICADA
MUNDO SUBTERRÂNEO.
É A DONZELA DO
DA
LUA,
E O
A
COM A
C O M O D E U S A M Ã E , D E M E T E R E N G E N D R A A S U A F I L H A (P E R S É F O N E ) J U N T O C O M A
C R I A Ç Ã O S I M B O L I Z A D A N A P R I M AV E R A E N A A G R I C U LT U R A . A M B A S V I V E M J U N TA S
C O L O C A N D O E M M A R C H A O S C I C L O S D A V I D A C Ó S M I C A , V E G E TA L , A N I M A L E H U M A N A .
DEPOIS DE EDUCAR E INICIAR SUA FILHA, DEMÉTER, EM SUA AUSÊNCIA, ASSUME SEU
ASPECTO SOMBRIO DE DEUSA OUTONAL. NESTE MOMENTO, ELA TORNA-SE UMA ANCIÃ
S Á B I A O C U LTA N A S R A Í Z E S D A S E RVA S C U R AT I VA S , S E R E F U G I A N D O D E B A I X O D A T E R R A E
D E N T R O D E C O VA S , AT É Q U E O C I C L O D A V I D A S E C O M P L E T E .
É
SOMENTE COM O RETORNO DE SUA FILHA DO
P R I M AV E R A ,
É QUE A
MÃE
ADORMECIDA NASCE SOBRE A TERRA.
E OS ANIMAIS PROCRIAM.
JÁ
MUNDO AVERNAL,
E ISSO ACONTECE NA
TA M B É M V O LTA PA R A P O V O A R O M U N D O E A V I D A
AS
P L A N TA S F L O R E S C E M , A S Á RV O R E S D Ã O F R U T O S
O S H U M A N O S PA RT I C I PA M D E S T E R E T O R N O E X P R E S S A N D O
SENTIMENTOS DE AMOR, AMIZADE E SOLIDARIEDADE.
N O M I T O D E D E M É T E R -P E R S É F O N E V I S U A L I Z A M O S O S Í M B O L O TA R D I O D A V I R G E M
MARIA FRENTE A SEU FILHO CRUCIFICADO (CENA ENCONTRADA NO FILME AMERICANO
“A P A I X Ã O D E C R I S T O ”), Q U E S E G U E R E S S O N A N D O N A C O N S C I Ê N C I A D A S P E S S O A S . N Ã O
E X I S T E N A D A M A I S D O L O R O S O Q U E C H O R A R A M O RT E D E U M F I L H O O U U M A F I L H A .
TANTO
O N O S S O M I T O G R E G O , C O M O O C R I S T I A N I S M O E X A LTA M A M O RT E I N J U S TA E A
D O R M AT E R N A C O M O A R Q U É T I P O D E A M O R S U B L I M E E A B N E G A D O .
D E M É T E R -P E R S É F O N E ,
E N T R E TA N T O ,
N O S FA L A M D E U M A C O N C E P Ç Ã O S A G R A D A , O N D E A V I D A E A
M O RT E FA Z E M PA RT E D E U M M E S M O P R O C E S S O .
FUNCIONAM COMO IRRECONCILIÁVEIS.
A
AMBAS
NÃO ESTÃO DUALIZADAS E NÃO
M O RT E N AT U R A L C O M O A V I D A É U M A
EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO, ILUMINAÇÃO E AMADURECIMENTO QUE ABARCAM
D I M E N S Õ E S E S P I R I T U A I S , P S I C O L Ó G I C A S E C U LT U R A I S D A S P E S S O A S .
RITUAL DE PERSÉFONE (R E A L I Z A D O
NESSE
EM
LUA CRESCENTE)
RITUAL, USE INCENSO DE SÂNDALO, OLÍBANO, CÁSSIA OU PINHO.
SERÁ
N E C E S S Á R I O U M B A S T Ã O D E C O R A D O C O M F I TA S C O L O R I D A S , U M A C E S TA D E V I M E PA R A
D E P O S I TA R O B A S T Ã O , U M S I N O E U M A M A Ç Ã .
ABRA
O CÍRCULO, VISUALIZANDO-O CIRCUNDADO POR UM CÍRCULO DE FOGO.
CHAME
P E L O S Q U AT R O V E N T O S PA R A M O N TA R E M G U A R D A .
FIQUE
D E P É D I A N T E D O A LTA R , VO LTA D O PA R A O L E S T E .
ERGA
SEUS BRAÇOS EM
SAUDAÇÃO E DIGA:
ENTRE
O S M U N D O S E U E R G U I E S T E A L TA R .
FORA
ONDE
E
DO TEMPO, ESTE RITO CONDUZ AO ANTIGO CAMINHO,
PODEREI ENCONTRAR
DEMÉTER
COLOQUE
PERSÉFONE
TERRA,
OLIMPO,
A PA R E Ç A , E U
DO GRANDE
C O N J U R A R A L TA M A G I A .
ORDENO.
O B A S T Ã O D E C O R A D O N A C E S TA D E V I M E E L E V E - A PA R A O L E S T E E D I G A :
RETORNA AO
SUBMUNDO.
NÃO
POIS
DIVINA
VIRE
DO
AMOR
A
CRIANÇA
ESTÁ AQUI.
A C E S TA PA R A O S U L E D I G A
PERSÉFONE RETORNA AO SUBMUNDO
APESAR DE A LUZ ENFRAQUECER,
ELA RETORNARÁ A TERRA.
VIRE
A C E S TA PA R A O O E S T E E D I G A :
PERSÉFONE RETORNA AO SUBMUNDO.
O FRIO DO IN VERNO SE APROXIMA,
MAS APENAS POR UM BREVE PERÍODO.
TERMINE
VO LTA N D O A C E S TA PA R A O N O RT E E D I G A :
PERSÉFONE RETORNA AO SUBMUNDO.
A TERRA PERMANECERÁ EM REPOUSO
ATÉ QUE A LUZ DE SEU FILHO DIVINO
TORNE
POSICIONE
A S E F O R TA L E C E R E B R I L H E S O B R E N Ó S .
A C E S TA N O C H Ã O D I A N T E D O A LTA R .
TOQUE
O SINO TRÊS VEZES.
ADAGA RITUAL COM SUA MÃO DE PODER E A MAÇA COM A OUTRA.
A PA N H E
DIGA:
REVELE-ME SEUS SEGREDOS OCULTOS
PARA QUE EU POSSA
COMPREENDER SEUS MISTÉRIOS SAGRADOS.
C O RT E A M A Ç A N A
CONTEMPLE ESTE
H O R I Z O N TA L PA R A R E V E L A R O P E N TA G R A M A E M S E U I N T E R I O R .
S Í M B O L O S A G R A D O P O R A L G U N S I N S TA N T E S .
A
SEGUIR, DIGA:
A
PRANTEIE,
M
NA
TUDO
VIDA ESTÁ A MORTE, NA MORTE ESTÁ A VIDA.
DEVE OBEDECER À SAGRADA DANÇA DO CALDEIRÃO,
ERA
AJUDA-ME
E QUE
A P Ó S E R A , PA R A M O R R E R E R E N A S C E R .
A LEMBRAR QUE CADA INÍCIO TEM UM FIM
CADA FIM TRAZ UM NO VO INÍCIO.
MORDA
UM PEDAÇO DA MAÇÃ.
DEIXE
O R E S TA N T E PA R A P O S T E R I O R M E N T E
C O M PA RT I L H A R C O M O S PA S S A R I N H O S .
DIGA:
SAGRADA MÃE DEMÉTER,
CONFORTE-ME E PROTEJA-ME EM MEUS PERÍODOS DE DIFICULDADES,
NOS MISTÉRIOS.
SUA FILHA PERSÉFONE POSSUEM O PODER
CONDUZIR-ME A UM NOVO ENTENDIMENTO.
FECHE
INSTRUA-ME
VOCÊ E
PARA
O CÍRCULO E DÊ POR ENCERRADO O RITUAL.
ARIADNE, SENHORA DOS LABIRINTOS
Ariadne era filha do rei Minos de Creta, que apaixonou-se a primeira vista pelo herói
Teseu. Este, era filho de Egeu, rei de Atenas e de Etra, que havia nascido em Trezendo e
desde muito cedo revelou grande valor e coragem. A estória é mais ou menos assim.
Houve uma época, que os atenienses eram obrigados a pagar um tributo ao rei Minos. Tal
fato deveu-se ao assassinato de Androgeu, filho de Minos, que ocorreu depois de ter
vencidos os jogos. O rei, indignado com o fato, impôs aos atenienses severo castigo. Eles
deveriam, a cada ano, enviar sete rapazes e sete moças, escolhidos mediante sorteio, para
alimentarem o Minotauro, furioso animal, metade homem, metade touro, que vivia
encerrado no labirinto.
Esse labirinto, um capricho do rei Minos, era um estranho palácio repleto de corredores,
curvas, caminhos e encruzilhadas, onde uma pessoa se perdia, jamais conseguindo
encontrar a saída depois de transpor a sua entrada. Era aí que ficava encerrado o terrível
Minotauro, que espumava e bramia, jamais se fartando de carne humana.
Havia três anos que Atenas pagava o pesado tributo e suas melhores famílias choravam a
perda de seus filhos. Teseu resolveu preparar-se para enfrentar o monstro, oferecendo
sacrifícios aos deuses e indo consultar oráculo de Delfos. Invocado o deus, a pitonisa
informou a Teseu que ele resolveria o caso desde que fosse amparado pelo amor.
Encorajado, Teseu fez-se incluir entre os jovens que deveriam partir na próxima leva de
"carne para o Minotauro". Ao chegar a Creta adquiriu a certeza de que sairia vitorioso,
pois a profecia do oráculo começou a realizar-se.
Com efeito, a linda Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por Teseu e combinou com ele
um meio de encontrar a saída do terrível Labirinto. Um meio bastante simples: apenas um
novelo de lã.
Ariadne ficaria à entrada do palácio, segurando o novelo que Teseu iria desenrolando a
medida que fosse avançando pelo labirinto. Para voltar ao ponto de partida, teria, apenas,
que ir seguindo o fio que Ariadne seguraria firmente. Cheio de coragem, Teseu penetrou
nos sombrios corredores do soturno labirinto. A fera, mal pressentiu a chegada do jovem,
avançou, furiosa, fazendo tremer todo o palácio com a sua cólera. Calmo e sereno, esperou
sua arremetida. E então, de um só golpe, teseu decepou-lhe a cabeça.
Vitorioso, Teseu partiu de Creta, levando em sua companhia a doce e linda Ariadne.
Entretanto, ele a abandona na ilha de Naxos, retornando a sua pátria sem ela. Ariadne,
vendo-se sozinha, entrega-se ao desespero. Afrodite, porém, apiedou-se dela e consolou-a
com a promessa de que teria um amante imortal, em lugar do mortal que tivera.
A ilha onde Ariadne fora deixada era a ilha favorita de Dionísio e enquanto lamentava seu
terrível destino, ele encontrou-a, consolou-a e esposou-a. Como presente de casamento,
deu-lhe uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas que atirou ao céu quando
Ariadne morreu. À medida que a coroa subia no espaço, as pedras preciosas foram se
tornando mais brilhantes até se transformarem em estrelas, e, conservando sua forma, a
coroa de Ariadne permaneceu fixada no céu como uma constelação, entre Hércules
ajoelhado e o homem que segura a serpente.
Ariadne é uma mulher mortal associada ao divino, considerada ainda, como a Senhora dos
Labirintos e o labirinto é a terra de nossas esperanças, de nossos sonhos e de nossa vida.
Os labirintos são janelas do tempo, portais que aprisionam o tempo. São usados para
facilitar estados alterados de consciência e tem paralelos com a iniciação, reencarnação,
prosperidade e ritos de prosperidade. Antigos escandinavos acreditavam que o labirinto
possuía propriedades mágicas e quando se caminhava dentro dele, podia-se controlar o
tempo. Hoje compreendemos que os caminhos do labirinto, correspondem aos sete centros
de energia do corpo, chamados chacras.
Ariadne também é retratada como líder das extasiantes mênades dançantes, as mulheres
seguidoras de Dionísio. Mencionada ainda, como supervisora dos rituais femininos da Vila
dos Mistérios, na antiga Pompéia. Esta vila era um lugar destinado à iniciação de
mulheres. O primeiro estágio da iniciação começava com orações preliminares, refeição
ritual e purificação. O segundo estágio é a entrada no submundo, mostrando sátiros meiohumanos e meio-animais, e Sileno, velho gordo e bêbado, mas dotado de imenso
conhecimento do passado e do futuro. Com a perda da consciência, a iniciada entrava no
mundo de instintos e sabedoria, distante da segurança racional.
Em cada estágio posterior, a iniciada ia se desfazendo de suas vestes, como se ela fosse
despir-se de antigos papéis, a fim de receber uma nova imagem de si mesma. No estágio
final, uma cesta contendo o falo ritual é descoberta diante dela. Agora, ela se torna capaz
de olhar para o poder fertilizador do deus, uma força regenerativa primordial. Então, uma
deusa alada, com chicote comprido e fustigante ergue-se sobre a iniciada, que se submete
com humildade. Há também a presença de uma mulher mais velha usando o chapéu da
sabedoria, como alguém que já tivesse sido iniciada, e em cujo colo a iniciante, ajoelhada,
pousa a cabeça. Ela não protege a noviça, mas lhe dá apoio.
Depois da iniciação a iniciante é vestida com lindos trajes e toda enfeitada. Ela se vê no
espelho de Eros, que reflete sua natureza feminina no relacionamento. Ingressou,
experimentou e agora personifica o matrimônio sagrado de Ariadne e Dionísio. Agora é
outra mulher, pronta para passar ao mundo exterior a sua força interior.
Na psicologia feminina este mito explica a libertação da mulher do papel de "filha do pai".
Para superar esta virgindade perpétua, um cavalheiro-herói com armadura reluzente, a
resgata do ambiente paterno. O tal herói é aventureiro e a faz conhecer um uma realidade
completamente diversa do que ela já viveu.
Toda mulher, faz do seu primeiro homem uma imagem refletida de um perfeito herói, que
nada mais é do que a personificação do seu próprio potencial inconsciente e acredita que
este homem travará as batalhas delas, realizará todos seus desejos e lhe tirará de situações
indesejáveis. Mas quando, este parceiro, um simples mortal, não corresponde com suas
projeções, à realidade é percebida e a relação não pode mais ser sustentada.
Acredite, a paixão é sempre resultado de uma projeção, jamais será um sentimento
maduro de respeito e admiração um pelo outro, muito pelo contrário, venera-se um
aspecto de si mesmo.
Para que a mulher se relacione bem com seu companheiro, esta projeção deve ser
extirpada. Ela precisará compreender que as qualidades que ela vê nele, na realidade,
estão dentro dela própria. Aí sim, poderá apreciar a força madura do masculino, o deus
que há dentro dele, sem perder a conexão com a sua natureza feminina. A partir da união
do masculino com o feminino, a mulher madura experimenta a fertilização de sua própria
energia criativa.
Ariadne é a imagem arquetípica de alguém que foi iniciada nos mistérios e alcançou
profunda conexão com a Deusa do Amor. Tendo integrado a potência da Deusa, ela pode
então servir como mediadora das exigências do inconsciente para outras mulheres.
É através do ritual formal ou da evolução psicológica, que conseguimos conhecer o lado
espiritual do erotismo e vive-lo na prática, de acordo com circunstâncias pessoais. Encontramos
este tipo de mulher em todas as esferas sociais. Podemos sentir sua presença em toda a mulher
que vive sua vida de acordo com sua própria escolha. Tal mulher pode ser muito sexy e
provocante, mas não no sentido superficial, por que ela não é motivada pelo consciente ou por
exigências inconscientes, mas sim da sutileza do seu ser, que emerge das profundezas de sua
alma. Ela é a imagem radiante do feminino que deseja manter um relacionamento amoroso com
a mulher real.
ATENA, DEUSA DA GUERRA, DA SABEDORIA E DAS ARTES
Atena era a Deusa grega da sabedoria e das artes conhecida como Minerva pelos romanos.
Atena era uma Deusa virgem, dedicada à castidade e celibato. Era majestosa e uma linda Deusa
guerreira, protetora de seus heróis escolhidos e de sua cidade homônima Atenas. Única Deusa
retrata usando couraça, com pala de seu capacete voltada para trás para deixar a vista sua beleza,
um escudo no braço e uma lança na mão.
Contradizendo com seu papel como uma Deusa que presidia às estratégias da batalha na época
de guerra e às artes domésticas em tempo de paz, Atena era também apresentada com uma lança
em uma das mãos e uma tigela ou roca na outra.
Era protetora das cidades, das forças militares, e Deusa das tecelãs, ourives, oleiras e
costureiras. Atena foi creditada pelos gregos ao dar à humanidade as rédeas para amansar o
cavalo, ao inspirar os construtores de navios em sua habilidade, e ao ensinar as pessoas a
fazerem o arado, ancinho, canga de boi e carro de guerra. A oliveira foi seu presente especial a
Atenas, um presente que produziu o cultivo das azeitonas.
A Deusa Atena foi retratada com uma coruja, ave associada à sabedoria e de olhos
proeminentes, duas de suas características. Cobras entrelaçadas eram apresentadas como um
modelo no debrum de sua capa e escudo.
Quando Atena era retratada com outro indivíduo, esse sempre era do sexo masculino. Por
exemplo, era vista perto de Zeus na atitude de um guerreiro de sentinela para seu rei. Ou era
reconhecida atrás ou ao lado de Aquiles ou de Odisseu, os principais heróis gregos de Ilíada e da
Odisséia.
As habilidades bélicas domésticas associadas com Atena envolvem planejamento e execução,
atividades que requerem pensamento intencional e inteligente. A estratégica, o aspecto prático e
resultados tangíveis são indicações de qualidades e legitimidade de sua sabedoria própria.
Atenas valoriza o pensamento racional e é pelo domínio da vontade e do intelecto sobre o
instinto e a natureza. Sua vitalidade é encontrada na cidade. Para Atena, a selva deve ser
subjugada e dominada.
Atena era a filha predileta de Zeus, que lhe concedeu muitas das suas prerrogativas. Ela tinha o
dom da profecia e tudo que autorizava com um simples sinal de cabeça era irrevogável. Ora
conduz Ulisses em suas viagens, ora ensina as mulheres à arte de tapeçaria. Foi ela que faz
construir o navio dos Argonautas, segundo seu desenho e coloca à popa o pau falante, cortado
na floresta de Dodona, o qual dirigia a rota, advertindo perigos e indicando os meios de os
evitar.
Era na cidade de Atenas que seu culto foi perpetuamente honrado: tinha seus altares, as suas
mais belas estátuas, as suas festas solenes e um templo de notável arquitetura, o Partenon. Esse
templo foi reconstruído no período de Péricles.
NASCIMENTO MITOLÓGICO
Zeus ingere sua primeira esposa, Métis (que estava grávida), uma Titã, na esperança de prevenir
o nascimento de um futuro rival. Mas esse ato de integração tem uma conseqüência imprevista:
um dia, Zeus tem uma dor de cabeça lancinante e logo dá à luz, pela cabeça, o feto que estava
no útero de sua primeira esposa. A criança que nasce já madura da cabeça do pai é Atena, a filha
consumada do pai.
A Deusa não conheceu sua mãe, Métis.
Nesse primeiro relato do mito, o ato de engolir a esposa grávida e a filha nascer da cabeça do
pai, nos faz lembrar do nascimento de Eva da costela de Adão. É bem sugestivo que tanto Atena
como Eva se associem com a serpente: às vezes a serpente inclusive podia aparecer no lugar de
Atena, e na Gênesis a serpente tem, às vezes, o rosto de Eva, enquanto que o significado que são
dadas as essas imagens são muito diferentes. Porém, em ambos os mitos a Mãe Natureza perde
força e o macho se apropria de seus poderes como doadora de vida.
Esse mito é o maior testemunho do momento histórico em o patriarcado se impõe sobre a ordem
anterior (matriarcado).
Entretanto, conforme o mito vai se desenrolando, Atena torna-se uma boa companheira para seu
pai e uma das mais íntimas conselheiras.
Essa história nos conta, especificamente, de como a consciência lunar desenvolve-se dentro da
solar, dominante. É Atena que introduz na psique dominada por Zeus um elemento de
interioridade reflexiva que suaviza o elemento opiniático-recriminador da posição solar
dominante.
ATENA E PALAS
Habitualmente, considerava-se Atena e Palas como o mesma divindade. Os gregos até juntaram
os dois nomes: Palas-Atena. Entretanto, muitos poetas afirmaram que essas duas divindades não
poderiam ser confundidas. Palas, chamada Tritônia, de olhos verdes, filha de Tritão, fora
encarregada da educação de Atena. Ambas se apraziam nos exercícios das armas.
Certa vez, conta-se que elas se desafiaram. Atena teria saído ferida se Zeus não tivesse colocado
a égide diante de sua filha; Palas ao ver tal ficou aterrorizada, e enquanto recuava olhando para
a égide, Atena feriu-a mortalmente. Veio-lhe depois um profundo sentimento de culpa e para se
consolar fez esculpir uma imagem de Palas, tendo a égide sobre o peito. Consta que é essa
imagem ou estátua que mais tarde ficou sendo o famoso Paládio de Tróia.
CONSCIÊNCIA LUNAR OU MATRIARCAL/SOLAR OU PATRIARCAL
Primeiro, é necessário conceituarmos o que é consciência lunar e solar:
CONSCIÊNCIA LUNAR OU MATRIARCAL
É toda aquela que não prioriza os padrões coletivos e pode até rebelar-se contra o convencional
e repudiar o coletivo. Ela surge geralmente de forma compulsiva e irracional. No nível lunar a
consciência mantém-se sempre livre, criativa e imprevisível.
A consciência lunar, nas tradições patriarcais, só se dirigem a nós via inconsciente, em sonhos,
eventos espontâneos, anseios instintivos e através de inibições que encerram esses anseios.
CONSCIÊNCIA SOLAR OU PATRIARCAL
A consciência solar possui os valores nela contidos pela mão da tradição coletiva. Esses valores
podem estar escritos e codificados, se a cultura for alfabetizada e em histórias e mitos, como é o
nosso caso, se processa pela tradição oral. A consciência solar adapta um indivíduo à sociedade,
mas também pode torná-lo um tirano primitivo ou um assassino de nosso "ego" com seus
fatigantes raios de reprovação.
A consciência solar tem sido identificada tradicionalmente como um traço da tradição
monoteísta da cultura ocidental, e atua para apoiar a atitude monoteísta predominante da
consciência coletiva.
ZEUS E ATENA
Zeus, na mitologia grega, repete os padrões de comportamento de seu pai Cronos e de seu avô
Urano. Como eles, destinatários de um oráculo segundo o qual um filho os destronará, Zeus
teme por sua autoridade. Quando Métis engravida, ingere-a, imitando assim o procedimento do
pai Cronos, que engolia os filhos. Se a estratégia defensiva de Cronos era cooptação das novas
possibilidades de vida, já Zeus é bem mais eficiente, pois tenta incorporar o elemento feminino
propriamente dito, a mãe de novas possibilidades. O que pode até parecer um ato de integração,
é na verdade um inteligente golpe com a intenção de privar o inconsciente de seu poder criativo.
Zeus pensava em integrar os desafios e as resistências inconscientes compondo-os em uma
aliança com a atitude dominante, utilizando inclusive o inconsciente para suas metas.
Logicamente fracassa, pois não contava com a implacável hostilidade das "mães" da
consciência lunar e dá à luz a Atena: o "justo equilíbrio".
Diferentemente de Zeus, Atena tem um ativo interesse pelas questões da humanidade e é ela que
intervém no trágico destino de Orestes, perseguido pelas Erínias, que acabou sendo julgado por
ter praticado matricídio:
"Orestes, uma vez já o salvei
Quando fui árbitro das colinas de Ares
E rompi o nó votando em seu favor.
Que agora seja lei: aquele que obtém
Um veredicto igualmente repartido ganha
Sem causa."
(Eurípides, "Ifigênia em Taurus", 1471-1475)
A nota de misericórdia nessa fala indica sua propensão a favorecer a manutenção das
possibilidades de vida e a deixar transpirar a inclinação de Atena para a adoção prática da
função de consciência lunar nos assuntos atinentes à justiça.
Entretanto, a Deusa Atena dentro do mundo do Olimpo é profundamente influenciada por sua
inquestionável aliança com o pai. Atena pertence ao pai, Zeus. Por conseguinte, Atena é uma
Deusa que representa uma versão pouco expressiva da consciência matriarcal. Ela representa, na
realidade, uma tentativa de fazer com que a consciência solar (animus) incorpore alguns
aspectos da consciência lunar (anima). Atena amplia os horizontes de Zeus, interioriza e suaviza
o cosmo patriarcal, mas não desafia de maneira fundamental os pressupostos olímpicos. Em vez
disso, ela lhe oferece apoio e introduz no seu mundo da consciência um pouco de reflexão
estratégica e momentos de interioridade.
ATENA E ARACNE
Como Deusa das Artes, Atena foi desafiada numa competição de destreza por uma tecelã
presunçosa chamada Aracne. Ambas trabalhavam com rapidez e habilidade. Quando as
tapeçarias ficaram terminadas, Atena admirou o trabalho impecável de sua competidora, mas
ficou furiosa porque Aracne ousou ilustrar as desilusões amorosas de seu pai, Zeus. Na
tapeçaria, Leda está acariciando um cisne, uma simulação para Zeus, que tinha entrado no
dormitório da rainha casada disfarçado de cisne para fazer-lhe a corte.
Um outro painel era de Dânae, a quem Zeus fecundou na forma de um chuvisco dourado; um
terceiro representava a donzela Europa, raptada por Zeus disfarçado na forma de um majestoso
touro branco.
O tema de sua tapeçaria ocasionou a ruína de Aracne. Atena ficou tão brava que rasgou todo o
trabalho de Aracne e a induziu a enforcar-se. Depois, sentindo pena, Atena deixou Aracne viver,
transformando-a em aranha, condenada para sempre a tecer.
Observamos aqui, novamente, o comprometimento do julgamento da Deusa Atena com os
princípios solares de Zeus, a tal ponto de esquecer-se de quem ela exatamente é. Como
defensora categórica do pai, ela pune por tornar público o comportamento ilícito de Zeus, sem
questionar o desaforo do próprio desafio.
DEUSA-TECELÃ
Como Deusa-tecelã, Atena, envolvia-se em fazer coisas que eram ao mesmo tempo úteis e belas.
Era muito admirada por suas habilidades como tecelã, onde as mãos e o cérebro devem trabalhar
juntos.
Para se fazer uma tapeçaria ou tecelagem, a mulher deve esquematizar e planejar o que fará
depois, fileira por fileira, criá-la metodicamente. Esse método é uma expressão do arquétipo de
Atena, que dá ênfase à previsão, planejamento, domínio da habilidade e paciência.
As habitantes da fronteira da Grécia que teciam, criavam roupas e faziam praticamente tudo que
era usado por suas famílias, incorporavam Atena em seu domínio doméstico. Lado a lado com
seus maridos, elas desbravavam a terra selvagem, dominando a natureza conforme prosseguiam.
Sobreviver e ser bem sucedido requer os traços da Deusa Atena.
A Deusa não só ensina a tecer, mas também a trabalhar a lama, inventou as bridas e o carro de
cavalos, ajudou na construção do cavalo de madeira com que se derrotou Tróia e construiu o
primeiro barco.
ATENA E HEPHAESTUS
Durante o período da Guerra de Tróia, a Deusa Atena dirigiu-se a Hephaestus, para que forjasse
seu arsenal. O Deus do fogo, aceitou o encargo e se pôs a trabalhar, apaixonado pela bela e
decidida Deusa. Poseidon encorajou-o mais ainda ao dizer-lhe que Atena desejava ser possuída
por ele.
Quando a Deusa se prontificou a pagar pelo trabalho, o Deus da Forja disse que receberia tão
somente seu amor como símbolo de gratidão e lançou sobre Atena tentando violá-la. A Deusa
afastou-o energicamente, mas não antes que o seu sêmen caísse acidentalmente em seu pé. Ela
limpou-se com suas vestes de lã, mas um pouco do esperma caiu na terra. Gaia (a Terra), ao
receber o sêmen, imediatamente engravidou.
Gaia deixou claro que não ia aceitar o filho resultante daquela estupidez e Atena sentindo-se
responsável pelo incidente, tomou a decisão de cuidar da criança, tão logo Gaia a tivesse. O
recém-nascido, recebeu o nome de Erictonio, foi levado do Olimpo até a corte do rei Cécrope,
para mais tarde ocupar o trono de Atenas, como sucessor de seu pai adotivo.
Erictonio, foi o primeiro rei mítico de Atenas, que por peculiar concepção possuía a mesma
Terra, como mãe e pátria. Desse modo, não é possível remontar a linhagem grega até a geração
de um "pai", e sim até a pátria na sua totalidade, que em comum lhes pertencia, e da qual
admitiam ser originários.
Não seria necessário dizer, que essa idéia prestou um grande serviço para minimizar a
importância social e histórica do papel da mulher.
Essa crença dos homens gregos também teve conseqüências políticas e militares muito
benéficas para a sobrevivência da "polis". Entre elas, a confirmação do dever de todo o cidadão
de defender sua pátria do ódio dos bárbaros.
FESTIVAIS EM HONRA A DEUSA ATENA
Durante as Panathenaias, festas solenes dedicadas a Deusa Atena, todos os povos da Ática,
corriam a Atenas. Essas festas, a princípio só duravam um dia, duração que mais tarde, a partir
de 565 a.C, passou para cinco dias, de 19 (dezenove) a 23 (vinte e três) de março.
Distinguiam-se as Grandes e as Pequenas Panathenaias: as primeiras se celebravam de quatro
em quatro anos, e as outras anualmente. Nessas cerimônias disputavam-se três espécies de
prêmios: os de corrida, os de luta e os de poesia ou música. Os ganhadores recebiam vasos
pintados cheios de azeite de oliva puro, produto da árvore sagrada da Deusa Atena.
Os gregos antigos realizaram um "lampadedromia" (palavra grega para o condução da tocha),
onde os atletas competiram passando com a tocha em uma corrida na condução à reta final. Em
Atenas antiga o ritual era parte importante da Festa Panathenaia.
A grande atração desses festivais era uma procissão em que uma veste nova e bordada era
confeccionada por um seleto número de mulheres atenienses, era carregada pela cidade em um
navio ornado. Essa procissão estava representada nos frisos do Paternon.
Os magistrados de Atenas ofereciam sacrifícios para Deusa e todos os serviços de seu santuário
eram conduzidos por duas virgens eleitas por um período e um ano.
A FILHA DO PAI
Talvez o maior diferenciação da Deusa Atena está em não ter conhecido e não ter convivido
com a mãe, Métis. Na verdade Atena parecia não ter consciência de que tinha mãe, pois
considerava-se portadora de um só genitor, Zeus. Na qualidade de tão somente "filha do pai",
Atena tornou-se uma defensora dos direitos e dos valores patriarcais.
Ela era o "braço direito" de Zeus, com crédito total para usar bem sua autoridade e proteger as
prerrogativas dele. Muitas dedicadas secretárias executivas, que devotam suas vidas a seus
patrões, são bons exemplos das convicções da Deusa Atenas.
ATENA COMO DEUSA DA SABEDORIA
Levando-se em conta que as Deusas e Deuses são arquétipos que todo ser humano tem acesso,
parece que o mito de Atena explora antes de tudo a qualidade da reflexão. Suas histórias
constituem uma meditação sobre o valor do pensamento minucioso e pausado, o de ver muito
além da reação imediata ante a um acontecimento. A Deusa encarna a virtude da contenção, e
seus olhos "resplandecentes" são o emblema de uma inteligência lúcida que poder ver além da
satisfação imediata.
Atena oferece a seus protegidos o bom conselho, o pensar cuidadoso ou a previsão prática: a
capacidade de refletir. A essa virtude se denomina "metis", derivado do nome de sua mãe e que
podemos traduzir como "conselho" ou "sabedoria prática".
Quando o arquétipo de Atena está ativo em uma mulher, ela mostrará uma tendência natural de
fazer todas as coisas com muita moderação para viver em "justo equilíbrio", que era o ideal
ateniense. O "justo equilíbrio" é também mantido pela tendência que possui a Deusa Atena de
conduzir acontecimentos, notar efeitos e mudar de curso da ação tão logo ele pareça
improdutivo.
Além disso, é interessante notar que Atena chega ao cenário olímpico com esplêndida couraça
dourada. Estar "encouraçada" é um traço marcante dessa Deusa. Foi seu grande
desenvolvimento intelectual que a deixou longe do sofrimento, tanto seu como dos outros.
No mundo competitivo em que vivemos o arquétipo de Atena tem indiscutível vantagem, pois a
mulher-Atena (arquétipo ativo) não é uma mulher que é pessoalmente atingida por qualquer
hostilidade ou decepção. Toda a mulher quando ferida ou insultada, pode tornar-se emotiva e
menos efetiva. Na mesma condição, a mulher-Atena avalia friamente o que está acontecendo.
Todas as mulheres que desejam desenvolver as qualidades da Deusa Atena, devem dar especial
atenção à educação. Toda a instrução estimula o desenvolvimento desse arquétipo. Aprender
fatos objetivos, pensar claramente, preparar-se para concursos e exames são todos excelentes
exercícios que evocam Atena.
CONCILIANDO-SE COM A "MÃE"
Na mitologia, a Deusa Atena era órfão de mãe e sentia orgulho por ter apenas Zeus como pai.
Metaforicamente as mulheres tipo Atena também são "órfãos de mãe" de muitos modos. Mas é
muito importante redescobrir a mãe e valorizá-la.
A mulher-Atena, geralmente deprecia sua própria mãe. Ela precisa descobrir as energias de sua
mãe, muitas vezes antes que possa valorizar quaisquer semelhanças entre a mãe e ela mesma.
Ela necessitará da conexão com esse arquétipo materno para experienciar a maternidade e
sentir-se mãe profunda e instintivamente.
É muito útil para mulher tipo Atena aprender que os valores femininos matriarcais, que existiam
muito antes da mitologia grega. Adquirindo conhecimento de tais conceitos, ela poderá começar
a pensar diferentemente sobre sua própria mãe e outras mulheres, e depois de si própria.
Mudando seu modo de pensar, poderá também melhorar seu relacionamento com outras
pessoas.
MEDO DO FEMININO
Toda a ideologia do patriarcado concebe o "feminino" como uma força irracional destrutiva.
Entretanto, a desvalorização do Feminino deve ser entendida como uma tentativa de superação
do medo do Feminino e de seu aspecto perigoso como a "Grande Mãe" e como a "anima".
No patriarcado, o inconsciente, o instinto, o sexo e a terra, enquanto coisas terrenas, pertencem
ao "feminino negativo", ao qual o homem associa a mulher, e que todas as culturas patriarcais,
até o presente momento, a mulher e o Feminino têm sofrido sob a atitude defensiva e o desprezo
masculinos.
Essa avaliação negativa não se aplica apenas ao caráter elementar e ao aspecto matriarcal, mas
igualmente ao seu transformador. Para o homem, que considera-se "superior", a mulher se torna
feiticeira, sedutora, bruxa, e é rejeitada em virtude do medo associado ao Feminino irracional. O
homem denuncia o Feminino como escravizador, como algo confuso e sedutor, que pode
colocar em risco a estabilidade de sua existência. Ele rejeita o feminino, especialmente porque
ele o prende no casamento, na família e na adaptação à realidade, e o confunde quanto o pensar
de si próprio. Como o indivíduo do sexo masculino é dominado pelo elemento espiritual
superior, ele foge da realidade da terra e prefere ascender rumo ao céu.
O resultado dessa postura unilateral, torna o homem não integrado que é atacado por seu lado
reprimido e em muitas vezes sobrepujado por ele.
A negativização do Feminino não deixa que o homem experiencie a mulher como uma igual,
mas com características distintas. A conseqüência da altivez patriarcal leva à incapacidade de
fazer qualquer contato genuíno com o Feminino, isto é, não apenas com a mulher real, mas
também com o Feminino em si, com o inconsciente.
Enquanto o indivíduo do sexo masculino não deixar desenvolver o Feminino (anima) em uma
psique interior, jamais chegará a alcançar a totalidade. A separação da cultura patriarcal do
Feminino e do inconsciente torna-se assim, uma das causas essenciais da crise de medo que
agora se encontra o mundo patriarcal.
VIVER DE ACORDO COM A DEUSA ATENA
Viver sob a influência do arquétipo Atena, significa viver inteligentemente e agir
premeditadamente no mundo patriarcal. A mulher que vive desse modo, leva uma vida unilateral
e vive quase que exclusivamente para seu trabalho. Ainda que aprecie a companhia dos outros,
falta-lhe a carga emocional, atração erótica, intimidade, paixão ou êxtase.
A exclusiva identificação com a racional Atena desliga toda a mulher da cadeia e intensidade da
emoção humana. Seus sentimentos são bem modulados por Atena, limitados ao meio-termo.
Agindo intelectualmente, a mulher-Atena pouco sabe sobre a sensualidade, pois Atena a
mantém acima do nível instintivo, e portanto ela não sente a força total dos instintos maternais,
sexuais ou procriativos. Não há possessão no amor de Atena e inclusive quase nenhum desejo
sexual.
A mulher-Atena pode ainda, produzir o "efeito medusa", ou seja, afastar as pessoas que não
sejam como ela.
Em seu peitoral, a Deusa Atena usava um símbolo do seu poder, a égide, uma pele de cabra
decorada com a cabeça de uma Gógona, a cabeça da Medusa. A Górgona é também um aspecto
da mulher tipo Atena.
No nível psicológico, Atena é o arquétipo da mulher artisticamente criativa. Para homens e
mulheres, é o espírito da realização, da competência e da ação.
RITUAL DA SABEDORIA
Atena é a mais sábia das Deusas e todos nós podemos nos beneficiar atraindo algo de sua
sabedoria e percepção para nossas vidas.
Os antigos gregos quando iam honrar a Deusa Atena em sua festividade, usavam roupas novas,
como se assim se revestissem a si mesmo com sua sabedoria. Portanto, a primeira coisa que
devemos fazer é comprar uma roupa nova digna de uma Deusa.
Púrpura é a cor tradicional da sabedoria, sendo assim, é melhor que escolha algo dessa cor, ou
pelo menos um detalhe ou bordado em púrpura. Quando vestir seu traje novo pela manhã, pense
que está se vestindo com a sabedoria de Atena.
As azeitonas estão consagradas à Atena, assim que ao final do dia se sente com uma vasilha de
azeitonas e invoque-a dizendo:
-"Ao comer essas azeitonas, peço-lhe que me enchas de sabedoria e astúcia, e que essas
qualidades se mantenham durante todo o ano."
Coma as azeitonas uma a uma, e ao mesmo tempo reflita sobre as áreas de sua vida que podem
se beneficiar com a sabedoria de Atena.
ORAÇÃO A DEUSA ATENA
Deusa Atena, ouça a prece
De sua seguidora mais humilde
Gloria Deusa Atena
Busco seu amor, sua força, sua sabedoria
Ajoelho-me aos teus pés, Atena, Deusa-Virgem
Eu a venero e a respeito
Sou tua seguidora mais fiel
Abençoe minha casa e meus familiares
Ajude-me com meu trabalho, meus relacionamentos, minha vida.
"Athena, Hilathi!"
DEUSA ÁRTEMIS/DIANA
Sou quem eu sou
e sei quem sou
Posso cuidar de mim mesma
em qualquer circunstância
e posso deixar os outros cuidarem de mim
Posso optar
Não existe autoridade
mais elevada do que a minha
meu poder de discernimento é finamente aguçado
Tenho autonomia
Estou livre da influência
da opinião dos outros
Sou capaz de separar
o que precisa de separação
Assim uma decisão lúcida
pode ser alcançada
Penso em mim mesma
Ajusto a mira
e aponto o arco
Minhas setas atingem sempre o alvo.
Todos nós conhecemos a imagem de Ártemis (Diana, para romanos), que foi esculpida
e pintada como uma deusa lunar esquia, virginal, acompanhada de cães ou leões e
trazendo um arco dourado nas mãos. Ela era a deusa mais popular da Grécia. Ela
habita as florestas, bosques e campinas verdejantes, onde dança e canta com ninfas
que a acompanham. Em seu culto, estão presentes danças orgiásticas e o ramo
sagrado. Ela era uma deusa de múltiplas facetas associadas ao domínio da Lua,
virgem, caçadora e parteira e de fato representa o feminino em todos os seus aspectos.
Quando Ártemis era pequena, Zeus, seu pai, perguntou-lhe o que queria de presente
em um dos seus aniversários.
Ártemis respondeu:
- Quero correr livre e selvagem com meus cães pela floresta e nunca, nunca casar. Foi
feita a sua vontade.
Ártemis, é a mais antiga de todas as Deusas gregas. Alguns autores traçam suas
origens às tribos caçadoras de Anatólia, que teria sido a morada das míticas amazonas.
Outros afirmam sua descendência provêm da grande deusa da natureza Cibele, na
Ásia Menor, uma Senhora das Feras que costumava estar sempre rodeada de leões,
veados, pássaros e outros animais. Mas de acordo com Walter Burkert em "Greek
Religion", é provável que Ártemis remonte à era paleolítica, pois em sua homenagem
os caçadores gregos penduravam os chifres e peles de suas presas numa árvore ou em
uma pilastra em forma de maça.
ARQUÉTIPO DA MÃE DOS ANIMAIS
Ártemis /Diana era o ideal e a personificação da vida selvagem da natureza, a vida das
plantas, dos animais e dos homens, em toda sua exuberante fertilidade e profusão.
Na Itália chamaram-na Diviana, que significa a Deusa, um nome que é mais familiar,
pois é bem similar ao seu nome original Diana. Ela era de fato a Caçadora, Deusa da
lua e mãe de todos os animais. Ela aparece em suas estátuas coroada com a lua
crescente e carregando uma tocha acesa. A palavra equivalente em latim para vela era
"vesta" e Diana era também conhecida como Vesta. Assim, o feixe de lenha, no qual
ela veio da Grécia era realmente uma tocha não acesa. No seu templo, um fogo
perpétuo era conservado aceso.
Sua festa anual na Itália era comemorada no dia 13 de agosto.
Neste dia os cães de caça eram coroados e os animais selvagens não eram molestados.
Bebia-se muito vinho e comia-se carne de cabrito, bolos servidos bem quentes e maçãs
ainda pendentes dos ramos. A Igreja Católica santificou esta grande festa da Deusa
virgem, transformando-a na festa católica da Assunção da Nossa Senhora, a 15 de
agosto.
A DEUSA E O XAMANISMO
Era muito comum o xamã usar uma pele de urso para que o Grande Espírito dos ursos
possa falar por seu intermédio. Nestas práticas visualizamos claramente uma
continuidade com a Ártemis grega posterior, cujos principais animais totêmicos eram
o urso e o veado. Até a raiz de seu nome, "art", está ligada à raiz indo-européia da
palavra urso. Muitos mitos envolve Ártemis com os ursos. Nas primeiras histórias
gregas ela aparece como uma ursa ao lado de seus filhotes.
Existiu inclusive, um rito de iniciação à deusa, onde meninas com menos de 9 anos,
dançavam com pele de urso a dança do urso em seu templo. Bodes eram sacrificados
nestas cerimônias, para que tais jovens pudessem conhecer também o lado sombrio da
Deusa-Lua e os seus mistérios sangrentos da morte, sacrifício e renovação.
Aqui se descortina também, o aspecto feroz e sanguinário de Ártemis, a própria Mãe
da Morte, que tem que ser aplacada com oferendas vivas. Os gregos mais sofisticados
de Atenas, com o tempo, resolveram sentimentalizá-la, pois eles não ousavam encarar
de frente este seu aspecto sanguinário.
DEUSA DA CAÇA
Ártemis é também a Deusa da Caça e dos caçadores. O mito nos pede que entendamos
como é que a Mãe de seus animais é, ao mesmo tempo, quem lhes dá a morte. O Hino
Homérico a Ártemis, escrito em 700 a.C., a retrata como uma caçadora de cervos, com
arco de ouro e flechas que gemem, que corta os bosques escuros lançando gritos,
fazendo eco aos alaridos de dor dos animais; uma imagem que expressa a selvageria da
caça. Homero diz do caçador que:
"a própria Ártemis lhe havia ensinado
a disparar a todas as feras que o bosque cria nos montes".
O caçador afortunado colocava a pele e os chifres de sua presa em uma árvore ou
colocava a coluna consagrada à Ártemis como sinal de agradecimento, e no templo de
Despoina em Arcádia sua estátua estava coberta por uma pele de cervo.
Porém, como Deusa dos Animais, às vezes, caminha junto de um cervo ou veado, ou
conduz um carro conduzido por cervos e, ainda, ela mesma aparece como um cervo ou
ursa, até porque, os animais selvagens são a própria Deusa encarnada na forma
animal.
Parece, portanto, que a figura de Ártemis foi construída sobre um paradoxo: é ao
mesmo tempo, caça e caçadora, a presa e a flecha que a abate.
O que pode significar o que, como caçadora, se dispara a si mesma flechas de ouro?
No período Paleolítico matar a um animal equivalia a desfazer um vínculo sagrado, e a
unidade primogênita tinha que restaura-se para que o povo pudesse viver em
harmonia com a natureza, o que ao mesmo tempo significava viver em harmonia com
o próprio ser. A pureza do caçador é um ritual de caça muito antigo, como é o ritual de
restituição da vida arrebatada, já seja sacrificando alguma parte do animal morto ou
reconstituindo-o através da arte. O urso na parede da caverna de "Les Trois Frères",
coberto de flechas, pode interpretar-se desde este ponto de vista. No entanto, si tanto o
animal caçado como a pessoa que o caça sob a proteção da Deusa, a ordem sagrada
não pode realmente vulnerar-se. Ela é, definitivamente, quem dá e quem arrebata e
nada poderá ser feito sem o seu consentimento.
Porém, essa dependência da graça da Deusa vem acompanhada de medo: medo de que
o caçador não seja o bastante puro para tomar parte de seus rituais, ou de o sacrifício
de restauração não seja suficiente, de que seu dom possa ser negado ou mesmo, de que
os caçadores acabem convertendo-se sem presas.
DEUSA VIRGEM DO PARTO
Encontramos o eco desta Deusa Ursa Primordial em todas as questões ligadas ao parto
e à proteção de crianças e animais de peito.
Ártemis era a que regia os partos: ensinava a mulher que dava à luz a abandonar sua
identidade cultural e a permitir que a guiasse a sabedoria do corpo, mais profunda:
"Através de meu ventre se desencadeou um dia esta tormenta, porém invoque a
celestial Ártemis, protetora dos partos e que cuido do arco, e favoravelmente acuda
sempre as minhas súplicas". Assim canta o coro na obra de Eurípides.
A imagem leonina de Ártemis volta a expressar o medo ante ao abandono às forças da
natureza, que, especialmente no parto, com seu necessário momento de entrega, pode
expressar-se como "dom" ou como "maldição".
Existia a tradição também, que toda a mulher que sobrevivesse ao parto, deveria
entregar suas vestes ao templo de Ártemis em Brauron, em Atenas.
Como "Mãe Ursa", tão ternamente retratada em uma imagem neolítica de Mãe Ursa
com seu cachorro, a Deusa também cuida do recém-nascido, juntamente porque a
lactância das crias de toda espécie pertence à esfera dos instintos da natureza. A ursa
que está criando a seus pequenos é o animal mais feroz do mundo e, entre todos os
animais, exceto os humanos, o simples ato de amamentar assegura a vida e espanta a
morte. As jovens dançavam em honra de Ártemis ataviadas com máscaras e disfarces
de urso, explorando assim a liberdade de sua própria natureza de urso, pois eram
chamadas de "arktoi", "ursas".
Na Creta contemporânea, Maria, em seu papel de mãe, segue sendo honrada como
"Virgem Maria do Urso".
No entanto, Ártemis não era mãe. Era a Virgem intacta cuja túnica curta e exercitada
musculatura lhe davam um aspecto masculino; as meninas de nove anos, em sua etapa
da pré-adolescência, eram suas companheiras favoritas. Durante as danças de suas
festas as meninas, às vezes, levavam falos para celebrar que a Deusa continha em si
mesma sua natureza masculina. Rodeava à Ártemis uma pureza, um inflexível
autonomia, que conectava os amplos espaços inexplorados da natureza com a solidão
que todo o ser humano precisa para descobrir uma identidade única.
Como Deusa das jovens solteiras e das mães parturientes, Ártemis une em si mesma,
uma vez mais, dois princípios opostos, sendo mediadora de ambos. É possível que isto
expresse uma ambivalência real: a do momento em que se chega a uma idade de troca
vitais; atrás da perda da liberdade indomável e irresponsável da menina, há uma
substituição pela dedicação constante que se necessita para se cuidar de um filho.
Todas as jovens que pensavam em casar e iam dançar em suas festas, na noite antes da
boda deveriam consagrar suas túnicas à Ártemis. Nenhum casamento era celebrado
sem sua presença.
ÁRTEMIS E O SACRIFÍCIO
Ártemis era, entre todas as Deusas gregas, quem mais recebia sacrifícios. Pausanias
relata um sacrifício anual à Ártemis em Patras: como em muitos outros lugares, toda a
classe de animais selvagens eram jogados na fogueira e se queimavam, aves, cervos,
lobos, javalis, etc. O mesmo ocorria em Mesene, perto do templo de Ilitía, a antiga
Deusa cretense do parto, as vezes associada à Ártemis.
Parece, portanto, que a Deusa que personifica o lado selvagem da natureza é q que
provoca o medo mais primitivo a depender de forças que estão muito além do controle
humano, e cujas leis podem violar, sem dar-se conta disso.
O poema épico principal da cultura grega, a Guerra de Tróia, começa com um erro
desse tipo. Agamenon havia matado um cervo em um bosque consagrado à Ártemis
que, como retribuição, exige dele o sacrifício de sua filha Ifigênia. Mediante a astúcia
de seu irmão, Orestes, uma gama é sacrificada em seu lugar, porém a imagem de
Ártemis, necessita de sangue humano.
Na realidade se sacrificava cabras à Ártemis antes de cada batalha, pois a caça e a
guerra se apresentavam como equivalentes.
DEUSA TRÍPLICE
Como Deusa do sub-mundo, ela é associada ao Nascimento, Procriação e Morte. Como
Deusa da terra, representa as três estações: Primavera, Verão e Inverno. Como Deusa
do céu, ela é a Lua nas fases de Lua Nova, Lua Cheia e Lua Escura. Como Deusa
Tríplice foi personificada de mulher primitiva, mulher criadora e destruidora.
ÁRTEMIS DE ÉFESO
Em Éfeso, na Ásia Menor, onde antigamente a Deusa Mãe Anatólia deu à luz apoiada
em seus leopardos, se alçava um esplêndido templo com uma imensa estátua de
Ártemis, uma enorme figura enegrecida, com o corpo coberto de cabeças de animais e
enormes peitos na forma de ovo. O curioso é a razão pelo qual se deu o nome de
Ártemis, pois essa fecunda figura desenvolta fertilidade não parece nada com a
angulosa Ártemis da tradição grega. É provável que se tratasse originalmente de uma
manifestação local de Cibeles, a que logo os gregos deram o nome de Ártemis.
Sendo que as figuras míticas perderam durante milênios, não deixa de ser significativo
que, mais de mil anos mais tarde, também fora Éfeso o lugar em que Maria, mãe de
Jesus, foi proclamada "theotokos", "Mãe de Deus".
A DEUSA ÁRTEMIS E O TAROT (A LUA)
Esta carta representa a deusa mitológica Ártemis/Diana. Nesta lâmina observa-se a
Lua Crescente acima do Sol, abaixo estão os dois galgos de Diana uivando para a Lua.
Nas águas mais abaixo (porque a lua rege as águas), rasteja um animal parecido com
um caranguejo, que é de fato o signo zodiacal para Câncer, a "casa" da Lua.
A Lua, que muda de forma tão rapidamente, pode ser encontrada a cada noite de uma
forma diferente no céu, se constituindo um símbolo de inconstância. Sua aparente
relação com o ciclo menstrual, tornou a Lua representativa de tudo que é mutável nas
mulheres.
Ártemis/Diana ficou célebre pela maneira como se voltava vingativamente contra os
que se apaixonavam por ela ou que tentassem abusar de sua feminilidade.
A mensagem deste arcano nos previne que não devemos ter medo de nos dirigir ao
desconhecido, de assimilar nossos próprios medos, debilidades, erros, de olhar cara a
cara a sombra que levamos dentro de nós e não temê-la.
ÁRTEMIS/DIANA HOJE
O Arquétipo da feminilidade desta Deusa-Virgem, começa a se tornar importante
novamente. Por muito tempo permanecemos à sombra da feminilidade absoluta, sob a
influência de uma realidade masculinizada.
Ártemis/Diana é tão linda quanto Afrodite e nos fala que a solidão, a vida natural e
primitiva pode ser benéfica em algumas fases de nossa vida. Amazona e arqueira
infalível, a Deusa garante a nossa resistência a uma domesticação excessiva.
Além disso, como protetora da fauna e flora, ela é uma figura associada à ecologia
contemporânea, onde há necessidade de salvaguardarmos o que ainda nos resta.
Uma parte deste redespertar da espiritualidade artemisiana já vem ocorrendo há
vários anos na Europa, mas já chegou também ao Ocidente. Na Grã-Bretanha,
redescobriu-se a antiga Deusa Branca dos celtas, graças ao maravilhoso livro "White
Goddess", de Robert Graves.
Hoje já há também uma nova compreensão sobre feitiçaria, sob o nome de Wicca. Esta
religião-arte, nada mais é do que a "antiga religião" de Diana/Ártemis. Aquelas
mulheres que praticavam o culto à Deusa Diana vieram a ser identificadas com as
chamadas bruxas e foram perseguidas e exterminadas. Entretanto, junto com a Wicca
e outros movimentos semelhantes, está ocorrendo uma importante ressurreição das
antigas tradições xamânicas e de cura nos quatro cantos do mundo.
Todos os tipos de neo-pagãos têm buscado as origens reais ou reconstruídas do
xamanismo.
EM BUSCA DA INDIVIDUALIDADE PERDIDA
Ártemis atira-lhe sua flecha da individualidade, convidando-a (o) a concentrar-se em si
mesma (o). Você tem estado demasiadamente ocupada com outros que esquece de si
mesma? Há bastante tempo não tem um espaço só seu? Os limites de sua
individualidade encontram-se difusos e indistintos? Sua personalidade é desprezada ou
aniquilada pelos outros, pois eles sempre impõe suas necessidades antes das suas? Pois
aqui e agora é hora de ser você mesma, se impor como pessoa com identidade própria
e não viver mais a vida dos outros. É hora de seu resgate individual, de celebrar e
fortalecer a pessoa maravilhosa que você é. Ártemis lhe diz que a totalidade é
alimentada quando você se honra, se respeita e dedica um tempo para si mesma. Ela
também pergunta como você pode esperar conseguir o que quer se não tiver um "eu"
a partir do qual atirar para alcançar seu objetivo?
RESGATE DE SUA MULHER SELVAGEM
Encontre um local em que ninguém possa lhe incomodar, se for ao ar livre, tanto
melhor. Sente-se confortavelmente. Inspire profundamente e expire emitindo um som,
tipo hhuuuumm! Faça isso por três vezes. Agora você deve visualizar uma frondosa
árvore. Imagine-se em frente a ela e em seguida ande a sua volta. Do outro lado da
árvore verá uma abertura em seu tronco, como a porta de uma caverna, entre nela
sem medo. Dentro da árvore relaxe e sinta-se mergulhar no vazio. Para baixo.....mais
para baixo bem devagarzinho............ você terá a sensação de estar flutuando. Quando
alcançar o final da raiz, sinta como se estivesse caído sobre um travesseiro de penas de
ganso, macio..macio. Você chegou às portas do sub-mundo.
É hora de clamar pela Mulher Selvagem. Você pode gritar, uivar, cantar, dançar, bater
tambor, o que achar melhor, mas faça bastante barulho, pois talvez ela esteja por
demais adormecida dentro de você. Quando você a enxergar, agradeça sua presença e
peça-lhe algo, qualquer coisa. Se não tiver idéia sobre o que pedir, peça que ela lhe dê o
que mais precisa, que você receberá o presente com o coração aberto. Se ela lhe pedir
algum presente, retribua com carinho. Após estas trocas simbólicas, seus laços de
amizade estarão reforçados. É hora de retorna, peça-lhe docemente que ela lhe
acompanhe. Ela lhe dirá sim e você em retribuição a sua gentileza deve abraçá-la e, ao
fazê-lo, sentirá que você e a Mulher Selvagem se fundirão em uma só. Uma onda de
felicidade e alegria tomarão conta de todo o seu ser.
É hora de percorrer o caminho de volta, encontre à raiz da árvore que estará atrás de
você. Deixe-me novamente flutuar e sentirá que uma brisa fraca a impulsionará para
cima...para cima...cada vez mais para cima, até alcançar o interior do tronco da
árvore. Ao sair pela abertura, respire bem fundo e a medida que solta o ar, senta seu
corpo novamente. Movimente os dedos da mão e assim que estiver pronta abra os
olhos. Seja Bem-vinda!
INVOCAÇÃO
Oh, minha Deusa Diana
Escuta a voz de meu coração
Ouça a minha canção de adoração
O céu na Lua Cheia
se enche com sua beleza
Que seu feixe de prata
Abra a porta dos sonhos
Minha amada Deusa Lua
Ensina-me seus mistérios antigos
Presenteia-me com a sabedoria e
ajuda-me a afastar espíritos opressores
para que a cura se opere dentro de mim
Abençoa-me e recebe-me como sua filha (o)
Quando meu corpo cansado repousar esta noite
fale com meu espírito interno
Ensina-me, Rainha da Noite
Sou toda ouvidos!
Pandora
Na mitologia grega, Pandora (”bem-dotada”) foi a primeira mulher, criada por Zeus como
punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar dos céus o segredo do fogo.
Em sua criação, os vários deuses colaboraram com partes; Hefestos moldou sua forma a partir
de argila, Afrodite deu-lhe beleza, Apolo ofereceu-lhe talento musical, Deméter ensinou-lhe a
colheita, Atena concedeu-lhe habilidade manual, Poseidon deu-lhe um colar de pérolas e a
certeza de não se afogar, e Zeus, uma série de características pessoais, além de uma caixa, a
caixa de Pandora.
“Caixa de Pandora” é uma expressão utilizada para designar qualquer coisa que incita a
curiosidade, mas que é preferível não tocar (como quando se diz que “a curiosidade matou o
gato”). Tem origem no mito grego da primeira mulher, Pandora, que por ordem dos deuses abriu
um recipiente (há polêmica quanto à natureza deste, talvez uma panela, um jarro, um vaso, ou
uma caixa tal como um baú…) onde se encontravam todos os males que desde então se
abateram sobre a humanidade, ficando apenas aquele que destruiria a esperança no fundo do
recipiente. Existem algumas semelhanças com a história judaico-cristã de Adão (Adan) e Eva
em que a mulher é, também, responsável pela desgraça do gênero humano.
Desde que Zeus (Júpiter) e seus irmãos (a geração dos deuses olímpicos) começaram a disputar
o poder com a geração dos Titãs, Prometeu era visto como inimigo, e seus amigos mortais eram
tidos como ameaça.
Sendo assim, para castigar os mortais, Zeus privou o homem do fogo; simbolicamente, da luz na
alma, da inteligência… Prometeu, “amigo dos homens”, roubou uma centelha do fogo celeste e
a trouxe a terra, reanimando os homens.
Ao descobrir o roubo, Zeus decidiu punir tanto o ladrão quanto os beneficiados. Prometeu foi
acorrentado a uma coluna e uma águia devorava seu fígado durante o dia, o qual voltava a
crescer à noite.
Para castigar o homem, Zeus ordenou a Hefesto (Vulcano) que modelasse uma mulher
semelhante às deusas imortais e que tivesse vários dons. Atena (Minerva) ensinou-lhe a arte da
tecelagem, Afrodite (Vênus) deu-lha a beleza e o desejo indomável, Hermes (Mercúrio) encheulhe o coração de artimanhas, imprudência, ardis, fingimento e cinismo, as Graças embelezaramna com lindíssimos colares de ouro… Zeus enviou Pandora como presente a Epimeteu, o qual,
esquecendo-se da recomendação de Prometeu, seu irmão, de que nunca recebesse um presente
de Zeus, o aceitou. Quando Pandora, por curiosidade, abriu uma caixa que trouxera do Olimpo,
como presente de casamento ao marido, dela fugiram todas as calamidades e desgraças que até
hoje atormentam os homens. Pandora ainda tentou fechar a caixa, mas era tarde demais: ela
estava vazia, com a exceção da “esperança”, que permaneceu presa junto à borda da caixa.
PANDORA
É A DEUSA DA RESSURREIÇÃO.
POR NÃO NASCER COMO A DIVINDADE, É
PANDORA ERA UMA HUMANA LIGADA A HADES. SUA
AMBIÇÃO EM SE TORNAR À DEUSA DO OLIMPO E ESPOSA DE ZEUS FEZ COM QUE ELA
A B R I S S E A Â N F O R A D I V I N A . Z E U S , PA R A C A S T I G Á - L A , T I R O U A S U A V I D A . H A D E S , C O M
INTERESSE NAS AMBIÇÕES DE PANDORA, PROCUROU AS PACAS (DOMINADORAS DO
T E M P O ) E P E D I U PA R A Q U E O T E M P O VO LTA S S E . S E M A P E R M I S S Ã O D E Z E U S , E L A S N Ã O
P U D E R A M FA Z E R N A D A . H A D E S C O N V E N C E U O I R M Ã O A R E S S U S C I TA R P A N D O R A . G R A Ç A S
AOS ARGUMENTOS DO IRMÃO, ZEUS A RESSUSCITOU DANDO A DIVINDADE QUE ELA
S E M P R E D E S E J AVA . A S S I M , P A N D O R A S E T O R N O U A D E U S A D A R E S S U R R E I Ç Ã O . P A R A U M
E S P Í R I T O R E S S U S C I TA R , P A N D O R A E N T R E G A - L H E U M A TA R E FA ; S E O E S P Í R I T O C U M P R I R ,
E L E É R E S S U S C I TA D O . P A N D O R A , C O M Ó D I O D E Z E U S P O R E L E T Ê - L A T O R N A D O U M A
D E U S A S E M I M P O RT Â N C I A , E N T R E G A A O S E S P Í R I T O S S O M E N T E TA R E FA S I M P O S S Í V E I S .
D E S S E M O D O , N E N H U M E S P Í R I T O C O N S E G U I U N E M C O N S E G U I R Á R E S S U S C I TA R .
CONHECIDA COMO UMA SEMIDEUSA.
AS TRÊS FACES DA DEUSA HÉCATE
Hécate é o arquétipo mais incompreendido da mitologia grega. Ela é uma Deusa Tríplice
Lunar vinculada com o aspecto sombrio do disco lunar, ou seja, o lado inconsciente do
feminino. E, representa ainda, o lado feminino ligado ao destino. Seu domínio se dá em
três dimensões: no Céu, na Terra e no Submundo.
Hécate é, portanto, uma Deusa lunar por excelência e sua presença é sentida nas três fases
lunares.
A Lua Nova pressupõe a face oculta de Hécate, a Lua Cheia vai sendo aos poucos
sombreada pelo seu lado escuro, revelando o aspecto negativo da Mãe. E a Lua Minguante
revela seu aspecto luminoso. É preciso morrer para renascer.
Esta Deusa ainda permanece com o estigma de ser uma figura do mal. Essa percepção foi
particularmente consolidada na psique ocidental durante o período medieval, quando a
igreja organizada projetou este arquétipo em simplórias pessoas pagãs do campo que
seguiam seus antigos costumes e habilidades populares ligados a fertilidade. Estes
indivíduos eram considerados malévolos adoradores do “demônio”. Hécate era então, a
Deusa das bruxas, Padroeira do aspecto virago, mas nos é impossível termos uma imagem
clara do que realmente acontecia devido às projeções distorcidas, aos medos íntimos e
inseguranças espirituais destes sacerdotes e confessores cristãos.
Em épocas primevas, antes do patriarcado ter se estabelecido, é mais fácil descobrir a
essência interior do arquétipo Hécate e relacionar-se com ele. Hécate está vinculada com
as trevas e com o lado escuro do Lua. A Lua, na verdade, não possui luz própria. A luz que
se projeta na Lua é a luz solar. Logo, a Lua Cheia é a Lua vista pela luz do Sol. A Lua
Nova Negra é, portanto, a verdadeira face da Lua.
Hécate costuma ser considerada uma Deusa lunar tríplice: Àrtemis (a Lua Cheia), Selene
(a Lua em várias fases), Hécate (o lado negro da Lua Nova). Ou, como as forças da Lua em
vários reinos: Selene no Céu, Ártemis na Terra e Hécate no Mundo Inferior.
Hécate seria então, uma projeção de Ártemis, pois a luz pressupõe a sombra. O lado visível
da Lua, o lado de Ártemis, que reflete a vida em pleno vigor, pressupõe o lado de Hécate, o
lado oculto da lua, o lado da sombra e da morte; a polaridade negativa, o impedimento
para a realização, o lado inconsciente.
O perigo que pode ocorrer quando esse lado sombrio se constela é o de que a energia
psíquica seja posta a serviço da morte e da doença.
Hécate nos revela, os caminhos mais escondidos e secretos do inconsciente, os sonhos
guardados, o lado dos desejos mais ocultos. A Lua Crescente, com suas fases clara e
escura, também nos sugere esse domínio do feminino.
O lado de Hécate ainda, traz um potencial para a fertilização, desde que seja encaminhado
para este fim. A doença pode ser uma via para a saúde e a morte para servir de adubo
para a vida.
O feminino tem um movimento livre dentro do reino oculto. O terreno da magia pertence
ao feminino. O masculino está ligado aos aspectos mais claros, mais visíveis, mais
objetivos. O campo de ação da ciência pertence ao reino masculino.
Hécate é a Deusa que pode conduzir aos caminhos mais difíceis e perigosos, aos abismos e
às encruzilhadas da própria psique. A sua função é de guia dentro do reino oculto da alma.
A Terra é o grande inconsciente uterino de onde brota toda a semente. É também o lugar
para onde tudo retornará. Nesse inconsciente ctônico a vida e a morte coexistem em um
mesmo processo cíclico. Deste modo, o "ser" e o "não ser" podem viver sem conflito.
MITOLOGIA
Hécate é uma antiga Deusa de estrato pré-grego de mitos. Os gregos tiveram dificuldade
em enquadrá-la em seu esquema de Deuses, mas terminaram por vê-la como filha dos titãs
Perseus e Astéria ,Noite Estrelada, que era irmã de Leto, que por sua vez, era mãe de
Ártemis e Apolo. A avó de Hécate era Febe, uma anciã titã que personificava a Lua. Diziase que Hécate seria uma reaparição de Febe, e portanto uma Deusa Lunar, que se
manifestava na lua escura.
Outras tradições tomaram-na por uma Deusa mais primal, fazendo dela irmã de Erebo e
de Nix (a Noite).
Zeus deu-lhe um lugar especial entre os Deuses, porque, embora ela não fosse membro do
grupo olímpico, permitiu-lhe o domínio sobre o Céu, a Terra e o Mundo Inferior. Ela é,
pois, a doadora da riqueza e de todas as bênçãos da vida cotidiana.
Na esfera humana, cabia-lhe presidir os três grandes mistérios do nascimento, da vida e da
morte. Seu nome significa "a distante, a remota", sendo ela vista como protetora dos
lugares remotos, guardiã das estradas e dos caminhos.
Seu aspecto tríplice tornava-a especialmente presente nas encruzilhadas, ou seja, na
convergência de três caminhos. Nesses locais, os gregos podiam encontrar-se com
facilidade com Hécate, razão por que os consideravam sagrados, erigindo aí com
freqüência estátuas tricéfalas chamadas Hecatéias. Também deixavam oferendas do seu
alimento ritual, o "almoço de Hécate", nessas encruzilhadas durante seus festivais
especiais.
Os três símbolos sagrados de Hécate são: a Chave, por ser ela carcereira do Mundo
Inferior; o Chicote, que revela o seu lado punitivo e seu papel de condutora das almas; e o
Punhal, símbolo de seu poder espiritual, que mais tarde tornou-se o Athame das bruxas.
Todos os animais selvagens eram consagrados à Hécate e por isso, foi mostrada muitas
vezes com três cabeças de animais: o cão, a serpente e o leão, ou alternadamente, o cão, o
cavalo e o urso. Seus animais mais conhecidos são entretanto, o cão e o lobo. O cipreste
era a árvore sagrada da Deusa.
Na mitologia grega, Hécate, como representação da Lua Escura, aparece sempre
acompanhada por cães que ladram. Como Deusa Tríplice, podia aparecer na
representação de um cão com três cabeças (cão da lua), para lembrar de que em eras
passadas ela própria era o cão da lua. Sua qualidade trina é representada também em
estátuas posteriores, onde aparece como mulher tripla. Freqüentemente carregava consigo
o cão que ela própria havia sido, ou uma tocha, emblema lunar, que é seu poder de
fertilidade e seu dom especial.
No Submundo, ou Mundo Inferior, Hécate é a carcereira e condutora das almas, a
Pritânia, a "Rainha Invisível" dos Mortos. Tendo passado por Cérbero, o cão tricéfalo, e
tendo sido julgadas pelos três Juízes dos Mortos (Minos, Radamando e Éaco), as almas
devem chegar às encruzilhadas tríplices do Inferno. Nesse ponto, Hécate envia ao reino
para o qual foram julgadas adequadas: para as campinas do Asfódelo, para o Tártaro ou
para os Campos Elíseos.
Como aspecto de Deusa Amazona, a carruagem de Hécate era puxada por dragões. As
mulheres que a cultuavam normalmente tingiam as palmas das mãos e as solas dos pés
com hena.
Seus festivais aconteciam durante a noite, à luz de tochas. Anualmente, na ilha de Aegina
no golfo Sarônico, acontecia um misterioso festival em sua honra.
Hécate está associada a cura, profecias, visões, magia, Lua Nova, magia negra,
encantamentos, vingança, livrar-se do mal, riqueza, vitória, sabedoria, transformação,
purificação, escolhas, renovação e regeneração.
ARQUÉTIPO DA TRANSFORMAÇÃO E TRANSMUTAÇÃO
Hécate é também um vaso-útero, que recebe os processos passados no interior da psique.
Ela é o vaso alquímico que permite a transformação e transmutação dos elementos
materiais em espirituais. Hécate habita as grutas e cavernas. E para sermos fertilizados
pela semente da criação espiritual e do renascimento psíquico temos de visitar a sua
morada, fazer a entrada no reino dessa deusa. Ela é a Caverna-Mãe onde se dão os
processos espirituais.
Muitos mistérios e ritos de iniciação se passavam no interior das grutas e cavernas.
Hécate é a regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da
vida, da entrada nos caminhos árduos da transformação.
A Deusa nos diz que as mudanças servem para determinar o nosso comportamento e que
devemos ter cuidado com os caminhos falsos ou atalhos inadequados. O caminho, por
vezes, pode não ter muita importância, mas premente é a necessidade de fazer a passagem.
Hécate estava por perto quando Perséfone foi raptada por Hades, mas não interferiu,
porque ela sabia que as passagens são necessárias, às vezes não importam os caminhos.
Mas é Hécate que ensina e ajuda a Deméter a achar o caminho para recuperar a filha
Perséfone.
A entrada no mundo inferior é necessária para o contato com as fontes internas da
fertilidade, mas é preciso saber o caminho de volta para poder tornar consciente toda a
possibilidade criativa. Enquanto houver o mergulho no mundo inferior, a consciência pode
adormecer e descansar, e novamente será renovada e frutificará com a volta.
DEUSA DE MUITOS TÍTULOS E NOMES
A Deusa Hécate era uma deidade de muitos títulos e nomes. Era chamada de "A Mais
Amável", "Rainha do Mundo dos Espíritos", "A Megera dos Mortos", "Deusa da
Bruxaria". Especialmente para os trácios, Hécate era a Deusa da Lua, das horas de
escuridão e do Mundo Inferior.
Como Propylaia (Aquela que fica na frente do Portão), Hécate oferecia proteção contra o
mal. Neste aspecto seu culto era realizado no portão da entrada, lugar onde eram
colocadas as estátuas em sua homenagem.
Como Propolos (A Criada que Conduz), Hécate servia como guia de outras deidades.
Exemplo deste fato, se dá quando ela conduz Deméter ao Mundo Inferior, para resgatar
Perséfone das mãos de Hades.
Como Phophoros (Aquela que traz Luz) ela é portadora de duas tochas, que servem para
iluminar o caminho em busca de nosso sombrio inconsciente.
Como Kourotrophos (Aquela que cuida das Crianças), Hécate estava associada às
parteiras e era responsável pelo nascimento, já que os poderes que dão vida, também
acarretam a morte.
Como Chthonia, ela está associada aos poderes da prática de magia, relacionando-se com
outros deuses da Terra, como Hermes e Perséfone, no seu aspecto de Deusa-Anciã,
Senhora do Mundo Inferior. Era Hécate a guardiã de Cérbero, o cão de Hades, o qual
todas as almas deveriam enfrentar ao cruzar os portões do Submundo.
Seus Deuses companheiros eram Thanatos (Morte), Hypnos (Sono) e Morfeu (Sonhos).
PADROEIRA DAS BRUXAS
A Deusa Hécate, segundo algumas versões, recebeu o título de "Rainha dos Fantasmas" e
"Deusa das Feiticeiras". Para protegerem-se, os gregos colocavam estátuas da Deusa na
entrada das cidades e nas portas das casas.
Medéia, que era uma de suas sacerdotisas, praticava bruxaria para manipular com
destreza ervas mágicas e venenos, e ainda, para poder deter o curso dos rios e comprovar
as trajetórias das estrelas e da lua.
Como Deusa Feiticeira tinha cães fantasmas como servos fiéis ao seu lado.
Há um grande números de bruxas que, ainda hoje, são devotas de Hécate , pois se sentem
atraídas pelos aspectos escuros da Deusa.
Hécate, como Anciã e Deusa da Lua Escura, compreende o "poder do silêncio". Muitas
viagens espirituais incluem um período de muita meditação e silêncio. É essencial
praticarmos o silêncio em nossos rituais e meditações, pois só o silêncio abre as portas da
consciência universal.
Foi a Deusa Hécate que introduziu o alho como amuleto de proteção contra inimigos,
roubo, mau tempo e enfermidades. Todos os anos, a meia-noite do dia 13 de agosto (Noite
do Festival de Hécate), deve-se depositar cabeças de alho em encruzilhadas como oferenda
de sacrifício em nome de Hécate.
HÉCATE, ARQUÉTIPO DA LUA ESCURA
Hoje, mais do que nunca o homem têm consciência, que a Lua é um astro que estimula o
nosso inconsciente. Isso é verdadeiro para todas as pessoas, pois todos somos dependentes
da atividade do inconsciente para a inspiração e a intuição, bem como para o
funcionamento dos instintos, e para prover a consciência de "libido". Tudo isso é
governado pela Lua, e por essa razão, é necessário permanecer em harmonia coma Lua e
manter seu culto.
Foi através dos ciclos da Lua que o homem primitivo tomou consciência do tempo, mas
onde a Lua e sua periodicidade mais se manifesta é na Mulher e no Feminino. A mulher
não somente está ligada à periodicidade da Lua em suas transformações mentais, muito
embora a sua periodicidade interior lunar tenha se tornado independente da lua exterior,
como também sua mentalidade é determinada pela lua, e o comportamento de seu espírito
é moldado pelo arquétipo da lua como a essência da consciência matriarcal.
A periodicidade da Lua, com seu pano de fundo noturno é símbolo de um espírito que
cresce e se transforma em conexão com os processos obscuros do inconsciente. Do mesmo
modo, o corpo da mulher passa por fases correspondentes. A partir da primeira
menstruação, a mulher está automaticamente iniciada nos mistérios da consciência lunar,
que também poderia ser chamada de consciência matriarcal, que jamais está separada do
inconsciente, pois é uma fase, uma fase espiritual, do próprio inconsciente. Apta, a mulher
poderá passar para segunda fase de sua cronologia que é ser mãe.
Mas é tão somente com a chegada da menopausa, depois de ter passado por todas as fases
de desenvolvimento, físico e psicológico, que a mulher estará preparada para ser ela
mesma e encarar os mistérios da vida. Essa é a fase da purificação interna da essência
feminina e se vincula com o mito de Hécate, Deusa da Sabedoria, resultante da assimilação
positiva, e muitas vezes dolorosa, da experiência.
No período pós-menopausa, nossas emoções afloram à superfície com mais facilidade e
tudo se vive e se sente com mais facilidade. É também, quando a mulher desfruta de sua
máxima liberdade, independência, autoridade e sabedoria. É bom que se saiba, que há
uma grande diferença entre conhecimento e sabedoria. A sabedoria é uma qualidade da
velhice, pois só quem já viveu muito tempo, pode colher sabedoria. Para essa forma de
consciência (lunar), o tempo precisa amadurecer e, com ele, assim como as sementes
colocadas na terra, o conhecimento amadurece. A sabedoria é portanto, a colheita da vida,
é a forma mais profunda do conhecimento.
HÉCATE HOJE
Hoje podemos nos relacionar com Hécate como uma figura guardiã do nosso inconsciente,
que tem nas mãos a chave dos reinos sombrios que há dentro de nós e que traz as tochas
para iluminar nosso caminho para as profundezas de nosso interior.
Nossa civilização patriarcal talvez tenha nos ensinado a temer esta figura, mas se
confiarmos em suas energias antigas, encontraremos nela uma gentil guardiã.
Ela está presente em todas as encruzilhadas que existem em todos os níveis do nosso ser,
manifestando-se como espírito, alma e corpo. Devemos reconhecer que a imagem terrível,
tenebrosa e horrenda de Hécate é um mero registro do medo inconsciente do feminino que
os homens, imersos em um patriarcado unilateral, projetaram ao longo de milênios nesse
arquétipo.
Temos que encarar nossa Hécate interior, estabelecermos uma relação com ela e, confiando
na sua assistência, permitir a nós mesmos o desenvolvimento de uma percepção desse rico
reino do nosso Mundo Inferior Pessoal. Somente por meio dessa atitude poderemos nos
tornar seres integrados, capazes de lidar com as polaridades sem projetar de imediato
dualismos.
Ao passar por uma encruzilhada, você irá se deparar com Hécate e ela dirá que nossas
vidas são feitas de escolhas. Não existem escolhas certas ou erradas, mas sim, somente
escolhas. Independente do que escolher, a experiência, por si só, já é algo valioso. Hécate
insiste para que não tenhamos medo do desconhecido. Os desafios apresentados precisam
de um salto de fé da pessoa que faz a escolha. Confie que será capaz de fazer uma escolha
quando chegar a hora. Conceda-se tempo e espaço, nunca se censure ou se culpe, apenas
faça sua escolha.
RITUAL (Realizado na Lua Nova)
Você precisará de um athame, um pequeno caldeirão, uma maçã, um pano preto e uma
pequena quantidade de sal, além de seus instrumentos normais.
Ponha a maçã dentro do caldeirão e cubra-o com o pano preto.
Abra o círculo como de costume.
Com o atame na mão de poder, toque o caldeirão por cinco vezes, dizendo:
Sábia Hécate, eu peço sua benção
Erga o véu para que eu possa saudar
Meus ajudantes espirituais,
Antigos amigos de outras vidas,
E os que são novos.
Que apenas aqueles que me desejam o bem
Penetrem neste local sagrado.
Descubra o caldeirão. Apanhe a maçã, erga-a em oferenda e deposite-a no altar.
Hécate, seu caldeirão mágico
É fonte da morte e do renascimento
Experiência pela qual cada um de nós
Passa por repetidas vezes.
Que eu não tema,
Pois sei de sua delicadeza,
Eis aqui o seu símbolo de vida na morte.
Corte a maçã transversalmente com o athame. Contemple o pentagrama revelado no
miolo. Devolva as duas metades da maçã ao caldeirão e cubra-o novamente com o pano
preto.
Apenas os iniciados têm acesso
Aos seus Mistérios ocultos.
Apenas aqueles que realmente buscam
Conseguem encontrar o caminho em espiral.
Aqueles que conhecem
Suas muitas faces secretas,
Podem encontrar a Luz
Que leva ao Caminho Interior.
Ponha uma pitada de sal em sua língua:
Eu sou mortal,
Mas ainda assim imortal.
Não há fim para a vida,
Apenas novos recomeços.
Eu caminho ao lado da Deusa
Em suas muitas formas.
Não há nada a temer.
Abra a minha mente,
Meu coração e minha alma
Aos profundos Mistérios do Caldeirão.
Efetue uma meditação de busca à deusa da Lua Nova. Ouça suas mensagens e conselhos.
Esteja alerta a novos guias e mestres que podem surgir para ajudá-la (o).
DEUSA LILITH
Eu danço para mim mesma
pois sou completa
digo o que penso e penso o que digo
Eu danço a escuridão e a luz
o consciente e o inconsciente
Eu falo por mim mesma com total convicção
sem me importar com as aparências
Todas as partes de mim fluem como um todo
Eu ouço o que preciso ouvir
nunca me verão pedir desculpas
Eu vivo toda minha sexualidade
para agradar a mim mesma
Expresso-a na totalidade da minha dança
Eu sou a fêmea
sou sexual
sou o poder.
Na origem de todos os povos do mundo sempre existiu a tradição de um casal fundador da raça
humana. A maioria são casais-deuses, exceto nas religiões patriarcais, como a cristã, onde um
único Deus masculino formou todas as coisas e seres. Entretanto, ao estudar a espiritualidade
hebraica, através da Cabala, nos é ensinado que o grande deus monoteísta não é do sexo
masculino, mas é completo em si mesmo, o que existem são divisões de gênero, inclusive é uma
insolência lhe dar aspecto humano, pois sua essência é luz pura. E desde quando luz tem sexo?
Mas como sabemos vivemos num mundo bipolar e é por isso que nossa Divina Arquiteta teve a
iluminada idéia de semear o amor no terreno fértil de nossos corações, para que pudéssemos
andar lado a lado, sempre em casais e nunca sozinhos.
Ao se estudar Carl Jung descobriremos que dentro de cada homem há uma mulher (anima) e em
cada mulher há o princípio masculino (animus). Este eterno jogo de yin-yang se ajusta e se
completa. Portanto, nenhum indivíduo é inteiramente masculino ou inteiramente feminino. Cada
um de nós é composto dos dois elementos e esses dois constituintes estão freqüentemente em
conflito. O princípio feminino ou "Eros" é universalmente representado pela Lua e o princípio
masculino ou "Logos" pelo Sol. O mito da criação no Gênesis afirma: Deus criou duas luzes, a
luz maior para reger o dia e a luz menor para reger a noite. O Sol como princípio masculino é o
soberano do dia, da consciência, do trabalho e da realização, do entendimento e da
discriminação conscientes, o Logos. A Lua, o princípio feminino é a soberana da noite, do
inconsciente. É a deusa do amor, controladora das forças misteriosas que fogem à compreensão
humana, atraindo os seres humanos irresistivelmente um para o outro, ou separando-os
inexplicavelmente. Ela é o Eros, poderoso e fatídico e totalmente incompreensível.
Na natureza, o princípio feminino ou a deusa feminina mostra-se como uma força cega,
fecunda, cruel, criativa, acariciadora e destruidora. É a fêmea das espécies mais mortal que o
macho, feroz em seu amor como também com seu ódio. Esse é o princípio feminino na forma
demoníaca. O medo quase universal que os homens têm de cair sob o domínio ou fascinação de
uma mulher e a atração que esta mesma servidão têm para eles, são evidências de que o efeito
que uma mulher produz num homem é, em geral realmente de caráter demoníaco. Essa imagem
repousa tão somente, na natureza da própria "anima"do homem ou alma feminina, sua imagem
interior do feminino. A "anima"' não é uma mulher, mas um espírito de natureza feminina, que
reflete as características do lado demoníaco, tanto glorioso, como terrível. Na vida cotidiana o
homem não entra diretamente em contato com o princípio masculino duro, predatório, mas
encontra-o sob a máscara humana, mediado pela sua função superior. Mas o feminino dentro
dele não é mediado através de uma personalidade humana culta e desenvolvida. O princípio
feminino, a Deusa Lua, age sobre ele diretamente do inconsciente, aproximando-se como um
traidor que vem de dentro. Não é de admirar tanto medo e desconfiança!
LILITH, O LADO ESCURO DA LUA
Lilith foi originalmente a Rainha do Céu sumeriana, uma deusa mais antiga que Inana. A Lua
Negra, como também é conhecida, foi incorporada pelos hebreus, que a transformaram na
primeira esposa de Adão, que foi criada diretamente por Deus. Ela recusou-se a deitar-se
debaixo de Adão durante o ato sexual. Lilith insistia que, por terem sido criados iguais, eles
deveriam fazer sexo de igual para igual. Como Adão não concordou, ela o deixou. Blasfemando
e criando asas, Lilith abandona o paraíso e voa para o Mar Vermelho, onde dá início a uma
dinastia de demônios. Mas Adão ao ficar, sente-se só e então Deus cria Eva, que foi retirada de
uma das suas costelas, mas condenada eternamente à inferioridade. Cuidadosamente apagada da
Bíblia cristã, Lilith permanece como símbolo de rebelião à repressão do feminino na psique e na
sociedade. O mito Lilith mostra bem a passagem do matriarcado para o patriarcado.
Enquanto Lilith é descrita como forma negativa, Eva, ao contrário, é apresentada em suas
belezas e ornamentos. Adão não a recusa por vê-la como ossos dos seus ossos. Mas Eva
carregará a culpa pela perda do paraíso. E, esta é a informação que nos é passada pelo
catolicismo, isto é, que a mulher possui uma imperfeição inerente, devida a sua natural
inferioridade e sua incapacidade de distinguir o bem do mal. Tais afirmações foram codificadas
no psiquismo feminino, fazendo com que todas as mulheres se tornassem estigmatizadas com
esta identidade negativa. Foi deste modo, que o feminino se viu reduzido ao submisso e ao
incapaz. A submissão foi então, imposta culturalmente a todas as mulheres, que distorceu
intencionalmente os aspectos femininos, com o intuito de reprimir e estabelecer uma sociedade
patriarcal.
Lilith, portanto, desobedece à supremacia de Adão, Eva desobedeceria à proibição. Lilith, nada
mais é, do que o lado sombrio de Eva, daí o porque das qualidades terríveis que são atribuídas a
ela. Todo mal que lhe é atribuído está em sua desobediência, ao seu "não" a submissão.
CRIADA
AO PÔR DO SOL,
L I L I T H É N O T U R N A , E P O R I S S O L H E F O I AT R I B U Í D A À
L I L I T H , O U A S P R O J E Ç Õ E S D O M I T O E R A M D E S C R I TA S E M S U A S
CARACTERÍSTICAS ERÓTICAS, SENSUAIS, MAS QUASE SEMPRE MISTURADAS COM
C A R A C T E R Í S T I C A S H O R R E N D A S , PA RT E S A N I M A L E S C A S , S O B R E T U D O N A S E X T R E M I D A D E S .
A tradição de Lilith é a tradição da vingança desde a rejeição de Adão. O não de Adão, como já
observamos, deveu-se não só ao caráter demoníaco de Lilith, mas também a exigência de
igualdade na relação homem-mulher. Segundo Sicuteri:
Q U A L I D A D E D E VA M P I R O .
A serpente-demônio, ou o próprio demoníaco que existe em Lilith, impele a mulher à "fazer
algo" que o homem não permite: em Lilith há o pedido da inversão das posições sexuais
equivalentes aos papéis, enquanto em Eva há o ato de transgressão da árvore em obediência à
serpente.
Lilith é o arquétipo da mulher indomada, que luta apaixonadamente pelo poder pessoal. Suas
características são destemor, força, entusiasmo e individualismo. Ela é atividade e exuberância
emocional. Para as religiões patriarcais, é a personificação da luxúria feminina, uma inimiga das
crianças que atua de noite, semeando o mal e a discórdia. Em Isaias 34:14, ela é chamada de "a
coruja da noite". No Zohar, é descrita como "a prostituta, a maligna, a falsa, a negra".
Lilith aparece em nossas vidas para nos dizer que é hora de assumirmos o nosso poder. Você
tem medo de assumi-lo? Você é daquelas pessoas que não sabem dizer "não"? Tem medo de
perder sua feminilidade se tiver o poder em suas mãos? Você teme ser afastada (o) ou banida (o)
pelos outros quando estiver em exercício de seu poder? Está com medo de fazer mau uso dele,
dominando ou manipulando os outros? Lilith diz que, agora, para você, o caminho da totalidade
está em reconhecer que não está ligada ao seu poder e, então, em segundo lugar, submeter-se e
aceitar este poder.
RITUAL DE PODER
CERIMÔNIA DE CORTAR A CORDA
Este ritual é excelente, eu já o realizei e consegui ativar poderes interiores antes, totalmente
ignorados. Você deve realizá-lo de acordo com o ciclo lunar. O tempo certo para você colocar as
cordas é um dia depois da entrada da LUA CHEIA (sempre à noite). Para cortá-las é no dia em
que entra a LUA NOVA (sempre à noite). Cuide para não errar a lua, pois pode fazer muita
diferença!
Para esta cerimônia você precisará de uma corda ou barbante, uma tesoura e um queimador de
incenso e um caldeirão ou uma fogueira. O ritual pode ser feito à sos ou com um grupo de
pessoas.
Deverá ter em mente três situações em que foi-lhe solicitado o uso de poder, mas você não
conseguiu exercê-lo, por medo, insegurança, crenças ou qualquer outro motivo. Em seguida
agende a data para colocar as cordas.
Você deve traçar um círculo (com pedras, sal ou o que achar melhor). Abra os portais e peça
gentilmente que seu animal de poder esteja presente. Quando estiver pronta (o) pegue a corda e
corte do tamanho que corresponda ao lugar do corpo que pretende amarrá-la. Por exemplo, se
você está com algum bloqueio que a (o) está impedindo de caminhar com todo seu poder, você
deve amarrar a corda em torno dos tornozelos. Se você estiver com problemas de expressão,
deve amarrá-la na garganta. Se tem medo de que a sua sexualidade a(o) impeça de manifestar o
seu poder, amarre a corda nos quadris. No momento em que estiver amarando a corda, afirme o
significado dela. Durante os dias que separam a colocação e o corte das cordas, você deverá
diariamente concentrar-se em cada uma delas e no que elas representam, olhando-as e sentindoas junto à pele.
Na noite de cortar as cordas, peque o queimador de incensos e o caldeirão, fósforos e uma faca
ou tesoura. Trace o círculo, acenda o incenso (pode ser de alecrim) e chame seu animal de
poder. Você deve tocar selvagemente o tambor e gritar o significado das cordas. Se não quiser
chamar a atenção dos vizinhos pode falar mentalmente. Sente-se em frente ao caldeirão e corte
as cordas confirmando o significado de cada uma delas. Jogue-as dentro do caldeirão e queimeas. Sinta o fluxo do poder enquanto observa cada uma delas transformar-se em fumaça. Respire
fundo e sinta sua nova noção de poder. Se você traçou um círculo, libere o que foi chamado para
fazer parte dele com gratidão. Agradeça a Lilith por lhe apontar o caminho para o seu próprio
poder.
Em pleno século XXI, o interesse pelo mito da deusa Lilith, reside na possibilidade de se
representar e constituir uma nova mulher, a qual se sente identificada com as figuras evocadas
por suas tradições culturais.
TÊMIS, A DEUSA DA JUSTIÇA
Têmis é filha de Gaia e Urano e pertence, portanto, ao mundo pré-olímpico dos Titãs, do
qual só Ela e Leto aparecem mais tarde entre os olímpicos. Seu nome significa "aquela que
é posta, colocada". Sua equivalente romana era a Deusa Justitia.
Têmis não representa a matéria em si, como sua mãe Gaia, mas uma qualidade da terra,
ou seja, sua estabilidade, solidez e imobilidade. Ela é uma deusa que falava com os homens
através dos oráculos. O mais famoso de todos os templos oraculares da Grécia Antiga,
Delfos, pertencia originalmente a Gaia, que o passou a filha Têmis. Depois disso, ele foi de
Febe e só no fim foi habitado por Apolo. Há pesquisadores que afirmam, no entanto, que
Têmis é o próprio princípio oracular, de modo que, em vez de ter havido quatro estágios
de ocupação do oráculo Delfos, foram só três: Gaia-Têmis, Febe-Têmis e Apolo-Têmis.
Portanto, Têmis tinha máxima ligação com a questão das previsões oraculares e, no fundo,
representa a boca oracular da terra, a própria voz da Terra, ou seja, Têmis é a terra
falando. Quando o titã Prometeu foi acorrentado ao Monte Cáucaso, Têmis profetizou que
ele seria libertado. Sua profecia se concretizou quando Héracles, salvou-o do seu castigo.
Foi Têmis quem alertou Zeus que o filho de Tétis seria uma ameça a seu pai.
Ajudou Deucalião e Pirra a formar a humanidade após o dilúvio enviado como castigo por
Zeus, profetizando que ambos deveriam "jogar os ossos de sua mãe para trás das costas".
Pirra ficou temerosa de cometer algum sacrilégio ao profanar os ossos de sua mãe, não
captando o sentido da profecia. Deucalião, porém, entendeu tratar-se de pedras os ossos da
deusa-Terra, mãe de todos os seres. Assim ele atirou pedras para trás e delas surgiram
homens.
Os oráculos dados por Têmis, não profetizavam só o futuro, mas eram ainda,
mandamentos das leis da natureza às quais os homens deveriam obedecer. A Deusa nos
fala de uma ordem e de uma lei naturais que precedem as noções culturalmente
condicionadas da organização e das regras derivadas das necessidades de uma sociedade.
Alguns pensadores crêem ser Têmis uma abstração das noções humanas de uma justiça de
uma cultura específica, presumivelmente matrifocal. Uma visão arquetípica, sustentaria
que Têmis não é o produto da organização social, mas o pressuposto para tanto. Sua
existência psicológica precede-o e subjaz ao entendimento humano do que ela quer dizer
ou ensinará. A visão arquetípica localizaria sua origem na natureza psíquica, no
inconsciente coletivo, ao invés de localizá-la na cultura e na consciência coletiva. Ela não é
secundária, e sim fundamental. Entretanto, nos cultos a Têmis eram celebrados os
"mistérios" ou "orgias", emprestando-lhe a visão que ela era uma Deusa genuína, e não
uma simples personificação da idéia abstrata de legalidade. Têmis é a Deusa oracular da
Terra, ela defende e fala em nome da Terra, do enraizamento da humanidade em uma
inabalável ordem natural.
Um dos atributos de Têmis é sua grande beleza, além do poder de atração de sua
dignidade. Sua atratividade física é confirmada pelo mito em que Zeus a persegue com seu
estilo desenfreado e, finalmente, a desposa.
Seu mais ardente adversário no Olimpo foi Ares, o deus da guerra cujo o apetite por
violência e sede de sangue não conhecia limites. Não porque Têmis fosse contra a guerra,
mas agia com motivos de ordem ambiental, pois a guerra reduziria a população humana.
Na qualidade de mãe das Horas (e pai Zeus), Têmis está também por trás da progressão
ordenada do tempo na natureza. As Horas representavam a ordenação natural do cosmo:
inverno e depois primavera, dia depois à noite, uma hora após a outra.
Sua outra filha com Zeus, Astraea também era uma deusa da justiça. Conta-se que ela
deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições e sofrimentos da
humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela tornou-se a constelação
de Virgo. Também Têmis foi transformada em uma constelação, Libra. Outras filhas suas
são: Irene e Dike. Esta última está relacionada com a representação da divindade da
justiça. Têmis e Dike elucidam o lado ético do instinto, a voz miúda e calma no seio do
impulso. Dike para a humanidade é a função de base institual muito sintônica com o que
Jung chama de instinto para reflexão. Têmis é ainda, mãe de Prometeus e Atlas.
Têmis empunha uma espada em uma mão (poder exercido pela Justiça), enquanto com a
outra sustenta uma balança (simboliza o equilíbrio, entre as partes envolvidas em uma
relação de Direito). A venda que lhe cobre os olhos, simbolizando a imparcialidade da
justiça e a igualdade dos direitos, foi criação de artistas alemães (séc. XVI). Outros
símbolos: a lâmpada, a manjerona e "pudenda muliebria". O significado da manjerona é
sexual e tem ligação com a fertilidade. Esta planta misteriosa é uma planta lunar e tem
ligação com a influência fertilizadora da Lua sobre a Terra. Mas a manjerona também tem
ligação direta com outro emblema de Têmis, "pudenda muliebria", que vincula a Deusa à
fertilidade e à sexualidade, de modo direto e inequívoco. Sabe-se que havia orgias
vinculados ao culto de Têmis e certamente, estes ritos eram de natureza sexual. Como
devotas de "pudenda muliebria", as adoradoras de Têmis dedicavam-se a rituais e
práticas altamente sexualizadas.
Têmis que mobiliza a energia sexual, transforma esta energia em amor e atenção para com
o mundo, em justiça e equilíbrio para todos, assim como em novos rebentos para todas as
formas de vida. As descargas da libido que fluíam entre Têmis e suas adoradoras serviam
não só para estreitar laços entre a Deusa e suas devotas, mas também aproximavam cada
uma delas e o mundo todo.
Ao presidir as reuniões de cunho político do Olimpo, Têmis manifesta o teor
organizacional de sua dignidade e justiça. Têmis congregava as reuniões com seriedade
moral e obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e
contribuições dos irmãos e irmãs menos proeminentes. A Deusa opunha-se à dominação de
um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a totalidade mais do que
a fragmentação, a integração mais do que a represão. Nessa atividade de contenção e
vinculação, Têmis revela o princípio operado pela consciência feminina: a lei do amor.
Têmis era a deusa da consciência coletiva e da ordem social, da lei espiritual divina, paz,
ajuste de divergências, justiça divina, encontros sociais, juramentos, sabedoria, profecia,
ordem, nascimentos, cortes e juízes. Foi também inventora das artes e da magia.
ZEUS E TÊMIS
Têmis foi a segunda esposa de Zeus, depois de Métis e antes de Hera. É Ela que temperou
o poder de Zeus com muita sabedoria e com seu profundo respeito pelas leis naturais.
Sendo uma Titã, suas raízes são instintivas e pré-olimpicas e estende-se à frente, para
incluir uma visão cósmica das operações finais e essenciais do universo inteiro. Além de
esposa e conselheira, Têmis é também mentora de Zeus. Em um mito ela aparece como
ama de leite de Zeus bebê, ensinando-o a respeitar a justiça.
No casamento de Zeus e Têmis vemos duas forças, uma solar e outra lunar, trabalharem
coligadas com poucos conflitos a serem observados. Zeus era o rei todo-poderoso, absoluto,
um padrão arquetípico que governa a consciência coletiva, que tanto cria como mantém
uma coletividade. Mas é Têmis, que movimentando-se dentro de vários outros padrões
arquetípicos, desestabiliza o absolutismo e as certezas de Zeus. Ela movimentava-se em
uma direção contrária, nunca deixando de incluir o máximo possível. Têmis exercia
portanto, um efeito de abrandamento. Entretanto, o casamento do dois não foi de total
doce harmonia, pois embora transitasse sabedoria entre eles, os ditames de um e do outro,
sempre tinham um preço muito elevado, pois nada possui solução definitiva.
Na imagem de Zeus consultando Têmis, podemos aceitar uma boa dose de troca. Zeus é
quem rege e decide, enquanto Têmis assume uma atitude mais suave e dá seu toque
relativizador que procede de perspectivas mais abrangentes.
DIÁLOGO COM TÊMIS
Têmis chega até nós com sua espada da justiça da natureza e nos diz que é tempo de
refletir. O instinto reflexivo rompe o elo estímulo-resposta e, no intervalo desta
descontinuidade, nós humanos temos a oportunidade de perceber conscientemente uma
situação. A reflexão desinfama a superestimação que a pessoa faz de si e conserva-o atento
a sua verdadeira imagem de seu lugar na ordem natural das coisas e manter as proporções
certas, justas e humanas.
Quando você tiver um conflito interno, uma pressão muito grande, medite e chame por
Têmis para alcançar o equilíbrio e a sabedoria para solucionar estas questões. Deixe então
sua voz da consciência falar, pois ela é a voz de Têmis.Confie no julgamento de Têmis, pois
só Ela é a Deusa oracular da Terra.
Em seguida, inicie sua reflexão repensando estas questões:
1. Descreva uma época em que os valores para você deram um giro de 180 graus.
2. Recorde épocas que você sentiu completamente perdido, fisicamente ou
emocionalmente. Ou talvez não havia nenhum caminho espiritual a ser seguido.
Também, recorde um momento em que você sentiu-se perfeitamente equilibrado.
3. Você teve alguma experiência que passou na vida que ainda recorde? Que
passagens importantes ainda conserva em sua memória? Pense nelas e de que
forma elas passaram para sua consciência?
4. Há momentos em sua vida que você se sente em débito com seu carma? Há
pessoas que acreditam que só se conservarão vivas, enquando este débito não seja
compensado.
5. Pode você descrever alguma passagem de sua vida que já
recebeu o justo castigo de Têmis? Você é uma pessoa que consegue manter o
equilíbrio entre o otimismo e o pessimismo?
6. Você acredita em destino, carma, fado? Que experiências pessoais lhe levaram a
acreditar?
7. Você já passou por um período de fatalidades em sua vida?
8. Escute agora sua consciência, pois esta é a voz de Têmis.
RITUAL
Execute este ritual na Lua Crescente ou Cheia. Acenda um incenso de jasmim ou lótus.
Deite suas cartas de tarot sobre o altar. Encha um cálice com vinho ou suco de uva e
coloque a sua frente e acenda duas velas roxas, uma de cada lado do cálice.
Erga a mãos sobre seus instrumentos advinhatórios e diga:
Deusa da Lua e da Magia,
Deusa dos Mistérios,
Mostre-me à resposta que venho buscando,
Revele-me todos os destinos.
Beba três goles da bebida. Embaralhe as cartas e deite-as da maneira que desejar. Após
terminar o processo divinatório, levante-se, erga os braços e diga:
Honra àqueles que me ajudaram.
Agradeço livre e sinceramente.
Sua orientação será para sempre apreciada e aceita.
Assim seja.
As velas não precisam queimar até o fim, podendo ser reutilizadas para outros rituais
divinatórios.
"O direito não é justiça, porque o direito é um elemento de cálculo, enquanto que a justiça é
incalculável."
NÊMESIS, A DEUSA DA VINGANÇA
Nêmesis era a deusa do destino e da fúria divina contra os mortais que desrespeitavam leis
morais e tabus. Representava a força ríspida e implacável, que não estava submetida aos
ditames do Olimpo. Suas sanções tinham a intenção de deixar claro aos homens, que
devido a sua condição, não poderiam ser excessivamente afortunados. Ela castigava
aqueles que cometiam crimes e ficavam impunes e recompensava aqueles que sofriam
injustamente ou não tinham boa sorte.
Foi Nêmesis que castigou Narciso, depois que numerosas donzelas desiludidas pelo belo
jovem clamaram por vingança aos céus. Um dia, ao sair para caçar, a deusa provocou um
calor tão forte que Narciso teve de aproximar-se de um arroio para beber água. Ao ver seu
reflexo no espelho d'água, ficou deslumbrado com a imagem e ali ficou, contemplando-se
até morrer.
Nêmesis era tão bonita e atraente quanto Afrodite e Zeus apaixonou-se por ela. Zeus a
perseguiu incansávelmente tentando fazê-la sua, mas a deusa para evitar seu abraço
metamorfoseou-se de mil maneiras. Em uma delas, transformou em gansa, mas Zeus
metamorfoseou-se de cisne e conseguiu seu intento. Do fruto dessa união, a deusa colocou
um ovo que foi recolhido por pastores e entregue por eles à Leda. Esta é uma das versões
da origem de Helena.
Na mitologia mais recente, Nêmesis aparece como uma figura monstruosa, furiosa e
sedenta por vingança. Nos tempos antigos, porém, ela era representada por uma mulher
alva alada que punia todos que transgrediam as regras morais e sociais impostas por
Themis, a deusa da justiça. Ao contrário das Erínias, o poder de Nêmesis não era
retaliador, mas sim de restabelecimento da ordem justa, tirando a felicidade ou riqueza
excessiva dadas por sua irmã Tyche. Nêmesis, em seu aspecto de Adratéia (a inevitável),
era representada com uma guirlanda na cabeça, uma maçã em sua mão esquerda e um
jarro na direita.
A existência de uma deusa da vingança encontra sua explicação na cosmovisão que tinham
os gregos, para quem o equilíbrio era o mais importante. Quando esse se rompia, se punha
em perigo a ordem das coisas, por isso era necessário o castigo para manter o mundo tal
como deveria ser. Para exemplificar, temos o caso de Creso, um homem muito rico e feliz,
que foi levado por Nêmesis a uma perigosa expedição onde deveria vencer Ciro. Esta ação
termina a total ruína de Creso e o estabelecimento de uma nova ordem.
A cólera de Nêmesis era dirigida contra quem viola a ordem, especialmente a ordem da
natureza, e desrespeita a lei e a norma naturais. Sobre tais pessoas desfecha ataques,
rebaixando ao máximo os poderosos e esvaziando os inflados. Os desastres e as tragédias
que nos acontecem devido à inflação arquetípica são trabalho de Nêmesis, e ela serve para
nos reconduzir ao contato com as devidas proporções humanas e à adequada modéstia,
por vezes fazendo-nos tropeçar, ou ter sonhos horríveis, ou instilando-nos medos
irracionais de fracassar, ou até inaugurando um tique nervoso delator que assinala o
aparecimento de aprumo e perfecionismo. A raiva justiceira e justificada de Nêmesis ataca
o ato de transpor um limite e defende a lei e a norma da natureza.
Nêmesis interveio em muitas histórias, com a intenção de manter o precioso equilíbrio
grego. Eles almejavam constituir uma sociedade ideal, regida pelo princípio de
permanente justiça.
Uma vez que os seres humanos se rendem frente a torpe formalidade de suas leis, Nêmesis
toma a materialidade da ética e torna-se real em nosso mundo atual. Ética é um conjunto
de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas. Nêmesis, nos coloca
aqui de volta a um campo que para nós é conhecido como sociologia.
Nêmesis, era portanto, a Deusa da Ética. A ética foi o cimento que construiu a sociedade
grega. Os gregos já tinham conhecimento de que, se existisse um sentimento profundo
ético, a sociedade se manteria bem-estruturada e organizada; quando esse sentimento ético
se rompia, ela começava a entrar em crise autodestrutiva.
Nêmesis nos põe em contato com uma unidade perdida e a possibilidade de vislumbrar um
horizonte de integração normativo desde a reflexão e a ação.
Toda a violência que vivenciamos hoje é causada pela desvalorização da vida. Quanto vale
uma vida hoje, você sabe? Podemos perdê-la em um assalto, ou mesmo andando
calmamente pela rua e nos depararmos com uma bala perdida. Podemos perdê-la até em
uma discussão de trânsito ou com um vizinho armado. Há muitos anos, a vida não tinha
preço e não se podia matar uma pessoa, exceto em legítima defesa. Matar em legítima
defesa corresponde a um ato extremo diante de uma ameaça à própria vida, entre a sua
vida e a da outra pessoa, você protege a sua. A defesa da vida é um valor universal.
Nêmesis vêm nos alertar que vivemos hoje nossa fome de ética. Não uma fome de
moralidade nem de moralismo, mas uma fome de ética. Esta deusa estava atuante quando
o Presidente Color foi eleito, mas infringiu a ética. Roubou, mentiu, traiu os valores de
nossa sociedade. Portanto, mereceu o justo castigo de Nêmesis, que foi o "impeachment",
com o seu conseqüente afastamento do cargo de Presidente.
A Deusa Nêmesis pode solucionar e resolver problemas interpessoais, desde que não
sejamos nós mesmos as suas causas. Se estivermos contribuindo para o desequilíbrio, ela
se afastará e fará com que nós o solucionemos. Portanto, antes de chamar por Nêmesis,
certifique-se que você realmente aceita sua parcela de responsabilidade.
ENCONTRANDO-SE COM NÊMESIS (Lua Nova)
Para este ritual você só precisará de uma vela preta untada de patchuli.
Trace o círculo e acenda a vela preta no meio dele. Sente-se sobre suas duas pernas e eleve
os braços em "Y". Combine então visualização com respiração prânica (técnica de Yoga).
Chame a Deusa, dizendo:
Nêmesis, Deusa da ética,
Que trama o destino dos homens,
Oriente-me, Guia-me!
Ajuda-me com soluções,
Livra-me do peso dos meus problemas
Traga-me a harmonia e o equilíbrio
Desembarace o fio de minha vida
Me reabasteça com sua sabedoria
Eu lhe peço com sinceridade!
Visualize uma mulher alada que descerá no meio de seu círculo. Ela sentará em frente a
você e lhe perguntará qual sua parcela de responsabilidade nos problemas de sua vida.
Relate os fatos e assuma seus erros, revelando-lhe que deseja mudar com o seu auxílio.
Diga que não quer enfrentar tudo sozinha, que precisa de sua presença para estabelecer o
equilíbrio e a paz de volta em sua vida.
Escute com atenção o que Ela lhe dirá, mas contemple tudo com lógica. Se a Deusa lhe
expor soluções drásticas e dolorosas, não se preocupe, pois a partir daí, poderá tomar
atitudes alternativas.
Ao terminarem a conversa, agradeça a Deusa e pergunte se pode chamá-la outras vezes.
Ela flutuará novamente no céu e se fundirá com o lado escuro da Lua.
Feche o círculo e apague a vela.
ARADIA, A RAINHA DAS BRUXAS
Aradia de Toscano, nasceu em 13 de agosto de 1313 em Volterra, Itália. Aradia era filha de
Deusa Lunar Diana, sendo responsável pela perpetuação de seu culto. Alguns historiadores
dizem que seu pai poderia ter sido Apolo, Lúcifer ou Dianus.
Ela viveu
entre os escravos que conseguiram escapar das garras dos senhores, nos montes de Alban e
florestas perto do lago Nemi, na Itália. Aradia ensinou-lhes a Antiga Religião e pregava o
amor pela liberdade. Além disso, trouxe esperança para os camponeses que eram
explorados pela classe mais rica. Aumentou-lhes a auto-estima, deu-lhes o devido valor e
ensinou-lhes a terem respeito por si próprios. Aradia colocou-os em harmonia com a
natureza através de seus ritos sazonais e rituais da Lua Cheia.
A Igreja Católica a perseguiu como "Rainha das Bruxas" e colocou-a na prisão. Lá foi
torturada e sentenciada à morte. No dia da execução, não foi encontrada em sua cela.
Tinha escapado milagrosamente e voltou a ensinar sua religião ao povo.
Quando presa novamente pelos soldados, falou ao padre:
-"Você só traz a punição para àqueles que se livraram da Igreja e da escravidão. Estes
símbolos e roupa de autoridade que veste, só servem para esconder a nudez que nos faz
iguais. Você diz que serve a um deus, mas você serve somente a seus próprios medos e
limitações".
Acabou presa desta vez, por heresia e traição. Sentenciada novamente à morte, outra vez
escapou.
Retornou a seus seguidores e revisou todos seus ensinamentos Por fim, deixou-lhes a
"Carga da Deusa", onde descreve minuciosamente todos os rituais. Instruiu também, seus
seguidores para recordá-la compartilhando vinho e bolos nos cerimoniais sagrados.
Prometeu, que todo aquele que clamasse por Diana, sua mãe, e por ela, receberiam muitas
graças e seriam abençoados.
Em seguida partiu para o leste.
Após a partida de Aradia, os covens foram dispersos pelos inquisitores. Eram eles:
Janarric (mistérios lunares), Fanarric (mistérios da terra) e Tanarric (mistérios estelares).
Estes grupos são consultados ainda hoje como às Tradições da Tríade.
Em 1508, Bernardo Rategno, um inquisitor italiano, documentou um volumoso acréscimo
no número de seitas de bruxaria começados no ano de 1350. Correspondia exatamente
com o período que Aradia encontrava-se na Itália, ensinando a Antiga Religião.
Aradia era a doutrinadora da Antiga Religião da Deusa e também a protetora das bruxas.
Era uma deusa intelectualizada com a chama de uma Amazona em seu interior. É uma
deusa associada com a Lua Cheia, apresentando o espírito de uma "Donzela", somada à
habilidade e presteza herdada de sua mãe Diana e também a sabedoria de uma "Anciã".
Aradia é um símbolo para as bruxas atuais. Através de seus ensinamentos nós nos
transformamos e nos unimos ao céu, a terra, à lua e ao universo.
A CARGA DA DEUSA
Em 1899, Charles Godfrey Leland publicou pela primeira vez "Aradia, Gospel of The
Witches" (Aradia, O Evangelho das Bruxas), um pequeno livro sobre a bruxaria italiana
remanescente. Nele ele traz a Carga da Deusa, a qual se tornou uma parte padrão dos
rituais de Wicca atuais. Essa Carga ainda é usada de modo original, mas vem sendo
cuidadosamente refinada para a utilização moderna. Doreen Valiente reescreveu uma bela
versão. Starhwk traz outra versão em "The Spiral Dance"; Jabet e Stewart Farra têm
outra em "Eight Sabbats For Witches". Mesmo o escritor de ficção Andre Norton oferece
uma versão da Carga em seu livro "Moon Called"
A Carga da Deusa oferece antigas instruções de quando encontrar e o que esperar das
energias e poderes lunares. Ninguém sabe ao certo o quão velho a Carga realmente é.
Leland achava que era uma parte autêntica de um ritual secretamente preservado por
seguidores pagãos da região mediterrânea.
Começa com "Ouça as palavras da Grande Mãe, que no passado se chamava Ártemis,
Atena, Diana, Cerridwen...". Segue-se uma lista de deusas lunares. Prossegue: "Sempre
que necessitar de algo, uma vez por mês, e melhor será quando a Lua estiver cheia, você
deverá reunir em algum local secreto...". A Carga promete que a celebração da Deusa
livrará o devoto da escravidão de outros povos e às leis cristianizadas, e que a Deusa
ensinará a seus seguidores seus segredos místicos.
Cada "coven", grupo e indivíduo podem ter uma versão levemente modificada da Carga
da Deusa, geralmente uma compilação e reestruturação de outras versões. Eis aqui uma
delas:
"Ouçam as palavras da Grande Deusa, que em outras eras era chamada de Ártemis, Diana,
Astarte, Ishtar, Afrodite, Cerridwen, Morrigan, Freya entre muitos outros nomes.
Sempre que necessitarem da Minha ajuda, reúnam-se em um local secreto, pelo menos uma
vez por mês, especialmente na Lua Cheia. Saibam que Minhas leis e amor os tornarão livres,
pois nenhum homem pode proibir seu culto a Mim em suas mentes e em seus corações.
Prestem atenção a como vocês chegarão à Minha presença, e Eu lhes ensinarei profundos
mistérios, antigos e poderosos. Não exijo sacrifícios, nem dor em seu corpo, pois Sou a Mãe
de todas as coisas, a Criadora que os criou a partir de Meu amor, e Aquela que dura através
dos tempos.
Sou Aquela que é a beleza da Terra, o verde das coisas vivas. Sou a Lua Branca cuja luz é
plena entre as estrelas, e suave sobre a Terra. Que Meu alegre culto esteja em seus corações,
pois todos os atos de amor e prazer são Meus rituais. Vocês Me vêem no amor de homem e
mulher, pais e filhos, entre humanos e todas as Minhas criaturas. Quando vocês criam com
suas próprias mãos, lá estarei Eu. Eu sopro o sopro da vida nas sementes que plantam, seja
uma planta ou criança. Estarei sempre a seu lado, sussurrando palavras ternas de sabedoria
e orientação.
Todos os que buscamos Mistérios devem vir a Mim, pois Eu sou a Verdadeira Fonte, a
Guardiã do Caldeirão. Todos os que buscam Me conhecer sabem disso. Toda a sua busca e
seus anseios são inúteis a não ser que conheçam o Mistério: pois se o que buscam não
conseguem achar em seu interior, não o conseguirão no exterior. Portanto, atentos, estou
com vocês desde o princípio, e os recolherei ao Meu seio ao fim de sua existência terrena."
A carga deve ser lida no início de um ritual. Escutá-la ou pronunciá-la auxilia a todo
seguidor devotado abrir as portas ao inconsciente coletivo.
O arquétipo da Grande Deusa, em seus três aspectos lunares, superou perseguições,
ridicularizações, tentativas de usurpar seus poderes e abandono. Nenhum ser humano ou
leis religiosas podem evitar que as emoções, mentes e corpos dos humanos (homem e
mulher) respondam a Seu símbolo, a Lua. Individualmente, devemos seguir a trilha do
raio de luar que leva à secreta porta interna de Sua antiga sabedoria. Devemos aprender a
ter consciência das fases e dos fluxos de energia da Lua; devemos entender como as
energias da Lua fluem através do ano lunar.
Quando pudermos fazê-lo, teremos a chave para a porta interior.
RITUAL
Este ritual deve ser realizado no início de um novo projeto, ao iniciar um novo caminho
espiritual, desejando realizar uma viagem de estudos, ou almejando um novo trabalho. O
ritual deve ser realizado na Lua Cheia.
Sua guia espiritual para este ritual é a Deusa Aradia. Este é um ritual de meditação. Você
necessitará o desenho do Espírito de Aradia (figura acima) e uma vela branca.
Trace o círculo e chame os quatro elementos. Sente-se confortavelmente em frente ao altar.
Comece focalizando seu projeto novo e o que ele significa para você. Olhe para o desenho
do Espírito de Aradia fixamente. Relaxe e volte e respirar profundamente. Quando estiver
bem relaxada, feche os olhos. Você estará em frente a uma cerca viva extremamente alta.
Procure uma abertura e entre. Você andará até um ponto e encontrará um cruzamento
que terá uma entrada para esquerda e outra para direita. Você está dentro de um
labirinto. Pare neste ponto sem se alarmar, pois da intersecção dos dois caminhos surgirá
uma jovem mulher. Logo você identificará que é Aradia. Ela vai aproximar-se e
perguntará a você o que deseja. Converse com ela a respeito de seus planos. Abra-se
honesta e livremente. Compartilhe com Ela suas esperanças de alcançar o que deseja e
peça que lhe ajude a dar cada passo deste novo caminho. Depois de falar tudo que deveria,
ofereça-lhe um presente (deposite um pedaço de bolo na terra, ou qualquer outra coisa).
Agradeça os momentos maravilhosos compartilhados com Ela e peça-lhe para que a leve
para fora do labirinto. Retorne ao círculo e medite por um bom tempo sobre esta sua
jornada. Foi o que você esperava? Fique dentro do círculo quanto tempo necessitares.
Agradeça tudo de bom que tem recebido. Feche o círculo e dê por encerrado o ritual.
OS ENCANTOS DA DEUSA CIRCE
Circe, figura legendária da mitologia grega, é retratada como filha de Hélio, deus-sol e da
ninfa Pérsia. Por ter envenenado seu marido, o rei dos sármatas, que habitava o Cáucaso,
foi obrigada a exilar-se na ilha de Eana, localizada no litoral oeste da Itália.
O nome da ilha"Eana", se traduz como "prantear" e dela emanava uma luz tênue e
fúnebre. Esta luz, identificava Circe, como a "Deusa da Morte". Era também associada
aos vôos mortais dos falcões, pois assim como estes, ela circundava suas vítimas para
depois enfeitiçá-las.
O grito do falcão é "circ-circ" e é considerado a canção mágica de Circe que controla
tanto a criação quanto a dissolução. Sua identificação com os pássaros é importante, pois
eles têm a capacidade de viajar livremente entre os reinos do céu e da terra, possuidores
dos segredos mais ocultos, mensageiros angélicos e portadores do espírito e da alma.
Antigos escritores gregos citavam-na como "Circe das Madeixas Trançadas", pois podia
manipular as forças da criação e destruição através de nós e tranças em seus cabelos.
Como o círculo, ela era também a tecelã dos destinos.
Circe era considerada a Deusa da Lua Nova, do amor físico, feitiçaria, encantamentos,
sonhos precognitivos, maldições, vinganças, magia negra, bruxaria, caldeirões.
CIRCE E ULISSES
No decurso das suas perambulações, o herói Ulisses (personagem épico da "Odisséia, de
Homero") e sua tripulação desesperada, desembarcam na praia da ilha de Eana, onde
vivia Circe, a filha do Sol.
Ao desembarcar, Ulisses subiu a um morro e, olhando em torno não viu sinais de
habitação, a não ser um ponto no centro da ilha, onde avistou um palácio rodeado de
árvores.
Ulisses envia à terra 23 homens, chefiados por Eurícolo, para verificar com que
hospitalidade poderiam contar. Ao se aproximarem do palácio, os gregos viram-se
rodeados de leões, tigres e lobos, não ferozes mas domados pela arte de Circe, que era uma
poderosa feiticeira. Todos esses animais tinham sido homens e haviam sido transformados
em feras pelos seus encantamentos.
Do lado de dentro do palácio vinham os sons de uma música suave e de uma bela voz de
mulher que cantava. Euríloco, chamou-a em voz alta, e a Deusa apareceu e convidou os
recém-chegados a entrar, o que fizeram, de boa vontade, exceto Euríloco, que desconfiou
do perigo. A Deusa fez seus convivas se assentarem e serviu-lhes vinho e iguarias. Quando
haviam se divertido à farta, ela lhes tocou com uma varinha de condão e eles
imediatamente se transformaram em porcos, com "a cabeça, o corpo, a voz e as cerdas" de
porco, embora conservando a inteligência de homem.
Euríloco apressou-se em voltar ao navio e contar o que vira. Ulisses, então, resolveu ir ele
próprio tentar a libertação dos companheiros. Enquanto se encaminhava para o palácio,
encontrou-se com um jovem que a ele se dirigiu familiarmente, mostrando estar a par de
suas aventuras. Revelou que era Mercúrio e informou Ulisses acerta das artes de Circe e
do perigo de aproximar-se dela. Como Ulisses não desistiu de seu intento, Mercúrio deulhe um broto de uma planta chamada "Moli", dotada de enorme poder para resistir às
bruxarias, e ensinou-lhe o que deveria fazer.
Ulisses prosseguiu seu caminho e, chegando ao palácio, foi cortesmente recebido por Circe,
que o obsequiou como fizera com seus companheiros, e, depois que ele havia comido e
bebido, tocou-lhe com sua varinha de condão, dizendo:
-"Ei! procura teu chiqueiro e vai espojar com teus amigos".
Em vez de obedecer, porém, Ulisses desembainhou a espada e investiu furioso contra a
Deusa, que caiu de joelhos, implorando clemência.
Ulisses ditou-lhe uma fórmula de juramento solene de que libertaria seus companheiros e
não cometeria novas atrocidades contra eles ou contra o próprio Ulisses. Circe repetiu o
juramento, prometendo, ao mesmo tempo, deixar que todos partissem são e salvos, depois
de os haver entretido hospitaleiramente.
Cumpriu a palavra. Os homens readquiriram suas formas, o resto da tripulação foi
chamado da praia e todos magnificamente tratados durante tantos dias, que Ulisses
pareceu haver-se esquecido da pátria e ter-se resignado àquela inglória vida de ócio e
prazer.
Afinal seus companheiros apelaram para os seus sentimentos mais nobres, e ele recebeu de
boa vontade a censura. Circe ajudou nos preparativos para a partida e ensinou aos
marinheiros o que deveriam fazer para passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias.
As sereias eram ninfas marinhas que tinham o poder de enfeitiçar com seu canto todos
quantos as ouvissem, de modo que os infortunados marinheiros sentiam-se
irresistivelmente impelidos a se atirar ao mar onde encontravam a morte.
Circe aconselhou Ulisses a cobrir com cera os ouvidos dos seus marinheiros, de modo que
eles não pudesses ouvir o canto, e a amarrar-se a si mesmo no mastro dando instruções a
seus homens para não libertá-lo, fosse o que fosse que ele dissesse ou fizesse, até terem
passado pela Ilha das Sereias.
No poema "Endimião", do poeta Keats, podemos ter uma idéia do que se passava no
pensamento dos homens que eram transformados em animais pela feiticeira Circe. Esses
versos abaixo teriam sido ditos por um monarca que tinha sido transformado em elefante
pela Deusa:
"Não lamento a coroa que perdi,
A falange que outrora comandei
E a esposa, ou viúva, que deixei.
Não lamento, saudoso, minha vida.
Filhos e filhas, na mansão querida,
Tudo isso esqueci, as alegrias
Terrenas olvidei dos velhos dias.
Outro desejo vem, muito mais forte.
Só aspiro, só peço a própria morte.
Livrai-me desse corpo abominável.
Libertai-me da vida miserável.
Piedade Circe! Morrer e tão-somente!
Sede, deusa gentil, sede clemente!
A IMAGEM QUE O HOMEM FAZ DA MULHER
Metaforicamente, a história de Circe e Ulisses, revela a proporção da influência dos
encantos femininos sobre os homens. Mostra que quando a mulher se determina a usar
todo o seu potencial sexual, enlouquece a cabeça de um homem e ele, inconscientemente se
transforma em um animal revelado de acordo com a sua natureza. Portanto, os homens
movidos tão somente por fortes desejos sexuais, nunca estarão livres de serem explorados
por mulheres que buscam satisfações financeiras e que usarão de subterfúgios e
encantamentos para alcançarem seus intentos.
Este lado "feiticeira-prostituta" de todas as mulheres, foi que levou o regime patriarcal
romano à caçá-las como bruxas. Este ponto de vista "chauvinista", encontra-se delineado
em textos antigos da Bíblia, onde há a afirmação de que os homens são vítimas inocentes
da influência maldosa e perniciosa feminina.
Hoje em dia, a imagem que o homem faz da mulher, ainda permanece com essa projeção,
embora nem sempre com a mesma grandiosidade e reverência característica da arte
clássica. Filmes pornográficos e páginas centrais de revistas populares revelam a imagem
interior que os homens fazem das mulheres. E nós, as mulheres brasileiras,infelizmente,
somos consideradas perante o mundo inteiro como mulheres lindas, feiticeiras, mas
totalmente prostituídas. Digo isso, porque minha própria filha, que mora e estuda na
Europa, já sofreu muito esse tipo de preconceito.
E, todo problema consiste em razão do homem no estágio cultural atual jamais avançou
além da significação maternal da mulher e essa é a razão para que ele classifique somente
dois tipos de mulheres: sua mãe e as prostitutas. Conseqüentemente, a prostituição é um
dos principais subprodutos do casamento civilizado.
É muito comum observarmos um homem falar da mudança no relacionamento pessoal
que ele experimentou com sua mulher a partir do nascimento dos filhos. A imagem que ele
tinha do feminino, que anteriormente o excitava para o ato de amor, agora regride ao
modelo maternal estático. Ele se sente preso, muitas vezes sem vitalidade ou senso de
criatividade.
As taxas crescentes de divórcio no mundo ocidental, refletem o caminho que alguns
homens tomaram para escapar da dominação da esposa-mãe.
Em nosso mundo moderno, a imagem da Deusa-feiticeira Circe está enterrada sob os
valores religiosos do patriarcado. Entretanto, ela ainda vive, e pode ser redescoberta como
a companheira-da-alma por qualquer homem que possua desejo e a coragem de sacrificar
os papéis masculinos estereotipados e valores coletivos antiquados. Estas são as ofertas que
a mulher-feiticeira sagrada presenteia o homem no seu templo de amor; lá ela o aguarda,
pronta para iniciá-lo no significado de sua vida e despertar sua consciência para uma nova
sabedoria.
A JORNADA HERÓICA
A jornada de um herói sempre é pontuada de diversos demônios: os demônios da dúvida,
da esperança e de um caminho mais fácil, as seduções da riqueza, do poder e do
hedonismo. Em sua longa viagem de volta para Ítaca Ulisses teve que resgatar seus
homens da Ilha de Eana e dos encantamentos de Circe que os transformou em porcos.
Todas as tentações faziam com que a tripulação esquecesse a viagem.
O herói de nossa história, assim como de muitas outras, costumam partir para uma
aventura no mundo; as vezes a jornada é interna, quando o herói desce até as profundezas
do inconsciente. Se ele sobreviver a esse mergulho e, muitos dos que o precederam não o
conseguiram e à batalha com o monstro que estiver aguardando por ele no fundo, então
será capaz de empreender a subida e ser transformado. Essa transformação constitui uma
experiência de morte e renascimento. Quem a pessoa foi, como era seu mundo consciente,
não existe mais. Tudo foi transformado.
Embora as aventuras heróicas de nossa memória tribal possam tomar alguma forma
exterior, os mesmos motivos da convocação, da descida, da luta, do ferimento e do retorno
fazem parte da vida cotidiana de cada pessoa. Discernir que cada um de nós faz parte de
um rico padrão, e reconhecê-lo no dia-a-dia, é resgatar o princípio de profundidade.
Cada um de nós, ao nascermos, somos lançados na trama de um grande drama, no qual
talvez estejamos seguindo um roteiro incerto, mas em que, somos chamados a ser os
protagonistas. O término do texto é certo: todos morremos. Mas a peça é construída de
modo que o protagonista possa tornar-se consciente e fazer suas escolhas heróicas.
Todas as histórias de heróis até podem nos inspirar ou guiar, mas cabe a cada um
responder ao seu próprio chamado, individualizar-se. Como diz a antiga parábola Zen,
"estou procurando o rosto que eu tinha antes de o mundo ser criado."
ARQUÉTIPO DA TRANSFORMAÇÃO
O arquétipo de Circe é, antes de tudo, a figura de uma mulher independente, consciente de
seus desejos e sua feminilidade. Circe representa o amor, a paixão irracional e um poder
incrível. Ela nos traz à luz da nossa força interior, que não só representa a sexualidade,
mas também os tesouros do inconsciente.
A grande mensagem contida no mito Circe para mim, reside no fato de nos permitir ver e
aceitar os desafios que nossa jornada nos propõe e de assumirmos a responsabilidade de
nossas escolhas. Circe nos encoraja a fazermos bom uso de nosso poder interior, para
ditarmos o caminho de nosso próprio destino.
Circe nos diz que:
Depois da dor, vem o saber
Do saber, surge o crescimento
O crescimento nos leva a transformação
Da transformação emana o poder.
TIAMAT, A DEUSA DRAGÃO
O reino da Babilônia se desenvolveu ao sul da Mesopotâmia durante 2200 até 538 a. C.,
quando os persas conquistaram a cidade. Os babilônios eram os herdeiros do grande
legado cultural dos antigos sumérios.
Para os babilônios como para o sumérios, o rei obtinha sua autoridade diretamente dos
Deuses. Por exemplo, o rei Hammurabi afirmava que havia recebido as leis de seu Código
diretamente da mão do Deus Sol Shamash. Os reis eram tão importantes que, em anos
recentes, o agora condenado ditador Saddam Hussein (nascido em 1937), justificava em
parte sua soberania sobre o Iraque atual, comparando-se com o rei Nabucodonosor, que
governou desde o ano de 606 até 562 a. C.
A história de Tiamat pode ser encontrada no épico babilônico Enuma Elish, data do século
XIX-XVI a. C., que foi cantada ante a estátua de Marduk, Deus principal babilônico,
celebrando a fundação do mundo e da própria Babilônia que era o centro do mundo.
Tudo inicia-se com o caos aquático. Apsu a água doce que origina rios e riachos, e Tiamat,
o mar ou as águas salgadas (representada na forma de um dragão), combinam seus
poderes para criar o universo e os Deuses. Os primeiros dois Deuses chamaram-se:
Lachmu e Lachamu. A primeira prole se reproduziu e formou-se outra prole. Esses Deuses
irritavam profundamente Apsu que convocou seu auxiliar Mummu e foram juntos a
Tiamat, a quem disseram que a descendência de ambos deveria ser eliminada para que
regressasse a tranqüilidade. Tiamat, entretanto, enfureceu-se rechaçou a idéia, pois
embora estivesse perturbada com os ruídos dos deuses, os perdoava.
As crianças-Deuses acabam descobrindo que Apsu tinha plano de matá-las e enviam o
Deus Ea para matá-lo primeiro.
Tiamat não apoiava os planos de Apsu de destruir seus filhos mas, diante da morte de seu
esposo, passa a lutar contra eles. A Deusa encontra outro companheiro, Kingu, com quem
gera vários monstros: serpentes de garras venenosas, homens-escorpiões, leões-demônios,
monstros-tempestade, centauros e dragões voadores. Depois, partiu para a retaliação.
Antes designou Kingu como chefe de seu exército dizendo: -"Exaltando-te na assembléia
dos Deuses, eu te dou o poder para dirigir todos eles. Tu és magnífico e meu único esposo.
Que os Anunnaki exaltem teu nome." Entregou-lhe então as Tábuas do Destino.
As crianças-Deuses temiam lutar contra Tiamat até que Marduk, filho de Ea, decidi lutar
contra ela. O restante dos deuses rebentos prometeram a Marduk que, em caso de vitória,
ele seria coroado como rei dos Deuses.
Marduk teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros. Ele os acorrentou e os
atirou no Submundo. Partiu então para matar Tiamat. Primeiro Marduk cegou o dragão
com seu disco mágico, possivelmente representado pelo próprio sol, pois o Deus era
também um herói-solar. Depois feriu mortalmente Tiamat com uma lança, símbolo da
vontade criativa e procriação. O herói teve ainda o auxílio dos sete ventos para destruir
Tiamat. Com metade do corpo dela ele fez o céu, e com a outra metade a Terra. Tomou sua
saliva e formou as nuvens e de seus olhos fez fluir o Tigre e o Eufrates. Finalmente de seus
seios criou grandes montanhas.
Os humanos foram criados a partir do sangue de Kingu misturado com terra. Marduk, de
posse das Tábuas do Destino, criou em seguida, uma habitação para os Deuses no céu,
fixou as estrelas e regulou a duração do ano e fundou a cidade da Babilônia para que fosse
sua residência terrestre.
Outros mitos, descrevem o processo de criação como um fluxo contínuo de energias
originadas do sangue menstrual de Tiamat, armazenado no Mar Vermelho ou Tiamat, em
árabe. Foi essa a razão pela qual, mesmo após a interpretação patriarcal do mito, na qual
foi acrescentada a figura de Marduk, que teria matado Tiamat, o Dragão do Caos e criado
o mundo com seu corpo, foi mantido na Babilônia, durante muito tempo, o calendário
menstrual, celebrando os Abbats e nomeando os meses do ano de acordo com as fases da
Lua.
O mistério de Tiamat e de Marduk era comemorado anualmente na Babilônia durante o
Ano Novo ou no festival de Akitu.
Pouco resta da magnífica cidade da Babilônia, somente uns quatro bancos de barro às
margens do rio Eufrates, sul da atual Bagdá, Iraque. Porém um dia, a cidade da Babilônia
foi famosa por seus "jardins suspensos", uma das maravilhas do antigo mundo. No
coração da cidade estava o templo de Marduk, a Casa da Fundação do Céu e da Terra.
Como em incontáveis mitos, a origem de toda a vida teria vindo do mar primordial, quer
na terra, ou no céu, mas o que existe de comum em todas estas possíveis procedências são
as trevas primordiais. São delas que se origina a luz, sob a forma de luz ou estrelas e do dia
acompanhado pelo sol. É esse fator comum, a escuridão da noite primordial como símbolo
do inconsciente que explica a identidade entre o céu noturno, terra, mundo inferior e água
primordial anterior à luz. Com efeito, o inconsciente é a mãe de todas as coisas, e tudo o
que surgiu depois e permanece na luz da consciência está em uma relação filial com a
escuridão. Designamos como urobórica, essa situação psíquica primordial, que abrange os
opostos e, qual os elementos masculinos e femininos, os inerentes à consciência e os hostis
a ela, confundem-se uns com os outros.
Na Babilônia, a unidade masculino-feminina dos uroboros era constituída por Tiamat e
Apsu, que representavam o caos primordial da água. Mas é Tiamat, o verdadeiro elemento
de origem, a mãe de todos os deuses, e a possuidora das tábuas do destino.
A existência original de Tiamat também resulta do fato desta ter sobrevivido à morte de
Apsu e, quando finalmente derrotada pelo Deus-sol patriarcal Marduk, formam-se a
partir de seu corpo a abóbada celeste superior e a abóbada inferior das profundezas.
Assim, mesmo depois de ter sido derrotada, ela permanece como o Grande Círculo que
tudo contém.
Tiamat, não é apenas o monstro terrível (dragão) do abismo, tal como a via o mundo
patriarcal daquele que a venceu, Marduk. Ela é não só geradora, como também a mãe
legítima de suas criaturas, que se enfureceu quando Apsu decidiu matar os deuses que
eram seus filhos. Somente depois destes terem assassinado Apsu, seu marido, o pai
primordial, é que ela dá inicia à sua vingança e propaga a sua força destruidora.
Tiamat representa o poder irracional dos primórdios e do inconsciente criador. Mesmo na
morte, ela continuou a representar o mundo superior e o inferior. Marduk, ao contrário, é
um legislador. A cada uma das forças celestes ele atribuiu um lugar fixo e, como Deus
bíblico do Gênese, organizou o mundo segundo leis racionais que correspondem à
consciência e sua natureza solar.
O caráter numinoso da Grande Deusa ainda se manifesta na forma de um Dragão em
Tiamat, entretanto, é mais freqüente este deusa primitiva surgir despida e com
características sexuais acentuadas quando a ênfase recai em sua fecundidade e em seu
caráter sexual.
Tiamat não é uma Deusa cruel, mas seus templos eram escondidos, devido a sua
impopularidade, provavelmente por causa dos sacrifícios humanos que faziam parte de
seus rituais. Isto mudou, em algumas cidades do Império, quando Tiamat passou a ser
adorada abertamente e onde, os rituais mais sangrentos eram executados raramente.
Tiamat representa todos os cinco elementos chineses: terra, água, fogo, ar e metal.
A DERROTA DA DEUSA
O Enuma Elish é a primeira história da substituição de uma Deusa Mãe por um deus que
"fabrica" a criação como algo distinto e separado de si mesmo. Em todos os mitos da
Idade do Ferro (que começa em 1250 a.C.) em que um deus do céu ou do sol vence a uma
grande serpente ou dragão, podemos encontrar traços desse poema épico babilônico, nele
a humanidade foi criada a partir do sangue de um deus sacrificado, e não há útero de uma
Deusa primordial. Sua influência pode ser rastreada ao longo da mitologia hitita, assíria,
persa, Cananéia, hebréia, grega e romana.
Na cultura da Deusa, a concepção da relação entre "criador" e "criação" se expressa na
imagem da Mãe, como "zoé", a fonte eterna, dando a luz a seu filho como "bios", a vida
eterna criada no tempo, que está viva e que ao morrer regressa à fonte. O filho era à parte
que emergia do todo, através da qual o todo podia chegar a conhecer-se a si mesmo. À
medida que o deus "cresceu" no transcurso da Idade do Bronze, chegou a ser consorte da
Deusa e em algumas ocasiões co-criador com ela. Porém, na Idade do Ferro a imagem da
relação representada no matrimônio sagrado desaparece e se perde o equilíbrio entre as
imagens feminina e masculina da divindade que derivava da dita cerimônia.
Agora, um deus pai se estabelece em uma posição de supremacia em relação à Deusa Mãe,
e se transforma paulatinamente em um deus sem consorte das três religiões patriarcais
que hoje em dia conhecemos: o judaísmo, o cristianismo e o islam. O deus é então o único
criador principal, quando antes era a Deusa quem havia sido a única fonte da vida. Porém,
o deus se converte em fazedor do céu e da terra, enquanto que a Deusa era o céu e a terra.
O conceito de "fazer' difere radicalmente do de "ser", no sentido de que o que se faz e
quem o faz não compartilham necessariamente da mesma substância; pode conceber-se o
que se faz como inferior a quem o faz. No entanto, o que emerge da Mãe é necessariamente
parte dela, como ela também é parte do que dela emerge.
Portanto, a identidade essencial entre criador e criação se quebrou e desta separação
nasceu um dualismo fundamental, o conhecido dualismo entre espírito e natureza. No mito
da Deusa esses dois termos carecem de significado se forem considerados em separado: a
natureza é espiritual e o espírito é natural porque o divino é imanente à criação. No mito
do deus, a natureza já não é "espiritual" e o espírito já não é "natural", porque o divino
transcende da criação. O espírito não é inerente à natureza, mas está além dela e chega
inclusive a converter-se em fonte da natureza. Assim, um novo significado se introduz na
linguagem: o espírito se torna criativo e a natureza se torna criada. Esse novo tipo de mito
da criação é resultado de uma ação divina que estabelece a ordem a partir do caos.
Podemos considerar esses mitos como relatos narrados pela humanidade em distintos
momentos de evolução: ambos explorariam, deste ponto de vista, distintos modos de existir
no universo. Porém, a atual tradição judeu-cristã, apresenta implicitamente o mito da
dualidade de espírito e natureza como "dado", como inerente ao modo de ser das coisas.
Aliás, sua origem na história humana se perdeu para a consciência: nas culturas
patriarcais em que o deus pai se adorava como criador único não sobreviveu recordação
alguma cuja forma possa conhecer-se das imagens anteriores da Deusa Mãe como
criadora.
AS MUDANÇAS
O desejo de poder, junto com o medo, sempre presente, a ser atacado, explica em grande
parte a necessidade de um deus cada vez mais poderoso, finalmente um deus "supremo",
capaz de um unir um povo embaixo de uma causa comum de defesa ou ataque. Porém,
como resultado do predomínio do deus pai do céu, apareceu uma idéia de tempo diferente.
Esse já não se concedia como cíclico, segundo o modelo lunar da Deusa Mãe, que acolhia
de volta os mortos em na escuridão de seu útero. O deus pai não podia acolher os mortos
em seu interior, nem devolvê-los a terra para renascerem. Portanto, o tempo tornou linear
aos olhos da humanidade: tinham um começo no nascimento e um final na morte. De
maneira similar, a própria criação, elevada a uma proporção cósmica, tinha um começo
absoluto e teria um final definitivo, que coincidiria com o triunfo final da luz sobre a
escuridão, uma afirmação definitiva da vitória original que havia dotado de existência o
universo.
Esse modelo de tempo linear é que influenciou o "mito da criação" do século XX, segundo
o qual o "big bang" marcou o início da vida e é possível que também está por detrás do
temor contemporâneo ante ao "big bang" apocalíptico que marque o final dos tempos.
RITUAL DE TIAMAT PARA A CRIATIVIDADE
Para este ritual você necessitará:
Três velas brancas
Uma bacia ou um cálice que contenha água com sal
É ideal você realizar este ritual ao ar livre e à luz da Lua Cheia.
Comece seu ritual purificando seu espaço de trabalho e seus instrumentos. Trace o círculo.
Invoque uma deusa lunar para cada elemento. Você pode invocar Tiamat para o elemento
água. Coloque a bacia ou cálice de modo que você possa ver na água o reflexo da lua. Peça
então para que as Deusas abençoem a água salgada com seus poderes surpreendentes de
criatividade.
Pense nos aspectos de sua vida que podem ser beneficiados com toda esta criatividade.
Então levante o cálice (ou bacia) e derrame a água sobre você (dos ombros para baixo).
Deixe que a energia criativa de Tiamat flua. Em seguida sentirá que o poder criativo está
incorporado a você.
Agradeça as Deusas da Lua que você invocou e abra o círculo.
KALI, A DEUSA DA REENCARNAÇÃO
A Índia foi o lugar em que a humanidade vivenciou a Mãe Terrível da forma a mais grandiosa,
como Kali, "as trevas, o tempo que a tudo devora, a Senhora coroada de ossos do reino dos
crânios".
Na mitologia hindu, Kali é uma manifestação da Deusa Durga. Segundo a lenda, no primórdios
dos tempos, um demônio chamado Mahishasura ganhou a confiança de Shiva depois de uma
longa meditação. Shiva ficou agradecido por sua devoção e então lhe concedeu a dádiva de que
cada gota de seu sangue produziria milhares como ele, que não poderiam ser exterminados nem
pelos homens, nem pelos deuses. De posse de tamanho poder, Mahishaseura iniciou um reinado
de terror vandalizando pelo mundo.
As pessoas foram exterminadas cruelmente e até mesmo os deuses tiveram que fugir de seu
reino sagrado. Os Deuses reuniram-se e foram se queixar para Shiva das atrocidades cometidas
pelo tal demônio. Shiva ficou muito zangado ao ser informado de tais fatos. Sua cólera, por
sentir-se traído em sua confiança, saiu do terceiro olho na forma de energia e transformou-se em
uma mulher terrível. Shiva aconselhou que os outros Deuses também deveriam concentrar-se
em suas shaktis e liberá-las. Todos os Deuses estavam presentes quando uma nova deusa nasceu
e se chamou a princípio de Durga, a Mãe Eterna. Ela tinha oito mãos e os Deuses a investiram
com suas próprias armas de poder: o tridente de Shiva, o disco de Vishnu, a flecha flamejante de
Agni, o cetro de Kubera, o arco de Vayu, a flecha brilhante de Surya, a lança de ferro de Yama,
o machado de Visvakarman, a espada de Brahma, a concha de Varua e o leão, que é o meio de
locomoção de Himavat.
Montada no leão, transformou-se em Kali, e cega pelo desejo de destruição atacou Mahishasura
e seu exército. A Deusa exterminou demônio após demônio, exército após exército e um rio de
sangue corria pelos campos de batalha, até que finalmente, decapitou e bebeu o sangue de
Mahishasura estabelecendo novamente a ordem no mundo.
Logo após as batalhas Kali iniciou sua eufórica dança da vitória sobre os corpos dos mortos.
Com esta dança todos os mundos tremiam sob o tremendo impacto de seus passos. Em muitas
ocasiões, seu consorte Shiva teve de se atirar entre os demônios por ela executados e deixá-la
pisoteá-lo. Esse era o único modo de trazê-la de volta à consciência e evitar que o mundo
desabasse.
Carl G. Jung nos diz que uma das imagens de descida é aquela do sacrifício de sangue. Ele diz
que se o herói sobrevive a esse encontro com o arquétipo da Mãe devoradora, ele ganha energia
vital renovada, imortalidade, plenitude psíquica ou alguma outra dádiva.
KALI, A DEUSA TRÍPLICE
Kali Ma é uma deusa hindu de dupla personalidade, exibindo traços tanto de amor e delicadeza
quanto de vingança e morte terrível. Era conhecida como a Mãe Negra, a Terrível, Deusa da
Morte e a Mãe do Carma. Ela é mostrada agachada sobre o corpo inerte de Shiva, devorando
seu pênis com sua vagina enquanto come seus intestinos. Essa imagem não deve ser entendida
literalmente, ou visualmente, num plano físico. No sentido espiritual, Kali recolhia a semente
em sua vagina para ser recriada em seu ventre eterno. Ela também devorava e destruía toda a
vida para que fosse refeita.
Como Klika, ou Anciã, ela governa todas as espécies de morte, mas também todas as formas de
vida. Ela representa as três divisões do ano hindu, as três fases da Lua, três segmentos do
cosmo, três estágios da vida, três tipos de sacerdotisas (Yoginis, Matri e as Dakinis) e seus
templos. O s hindus reverenciavam o trevo como emblema da divindade tríplice de Kali. Eles
diziam que se não podemos amar a face negra de Kali, não podemos esperar por nossa evolução.
Kali comanda as gunas, ou linhas da Criação, Preservação e Destruição, e incorpora o passado,
o presente e o futuro. As gunas são simbolizadas por linhas vermelhas, brancas e pretas. Ela
controla o clima ao trançar ou soltar seus cabelos. Sua roda cármica devora o próprio tempo.
Ela proíbe a violência contra a mulher e rege as atividades sexuais, magia negra, vingança,
regeneração e reencarnação.
A Lua minguante está associada a Kali. Aqui, há o domínio dos instintos, do indiscriminado.
Tudo pode se transformar no seu oposto. É o momento lunar mais negado no psiquismo da
mulher e está severamente vigiado para que não venha à tona. É o feminino sombrio, mas que
também pode trazer iluminação à consciência. É mais uma passagem, ligada a processos de
transformação.A energia de Kali simboliza o poder destruidor/criador que está reprimido em
muitas mulheres que nos séculos passados se adaptaram a um modelo socialmente determinado
de comportamento dependente, sedutor e guiado pelo sentimento de culpa. Só nos últimos cem
anos é que a força da mulher começou a retomar contato com seu poder pessoal.
No panteão das divindades tântricas, Kali é mencionada como a primeira das 10 Grandes Forças
Cósmicas porque, de alguma forma, é ela que começa o movimento da "Roda do Tempo
Universal".
Kali é equivalente à deusa grega Atena, que por muitos séculos foi honrada como deusa feroz
das batalhas. O mito e adoração de Kali, reflete as forças primitivas da natureza. Estas forças
estão associadas com os ciclos da mulher e estão representadas no útero feminino, o caldeirão
do renascimento.
Kali é a Deusa Escura, cuja escuridão nada tem a ver com o "mal". Muitos povos vêem o mundo
com a dicotomia do claro/escuro, bem/mal. Entretanto, para o hinduismo não existem estas
oposições. No pensamento hindu não existe o mal, mas há o carma. O carma é uma lei física e
moral de causa e efeito e, todos os resultados cármicos são resolvidos através de múltiplas
reencarnações.
Kali é uma polaridade que é evidenciada no "yin" e no "yang", no homem e na mulher, no
racional e no intuitivo, na sabedoria e na ignorância. É ainda a interativa passagem entre o real e
o imaginário, o Oriente e o Ocidente, o campo e a cidade, a causa e o efeito. Kali é uma deusa
mítica de memória ancestral, devidamente integrada à nossa Era Digital.
FESTIVAL DE KALI
Para a grande festa do templo em homenagem a ela, realizada na primavera, chegavam
peregrinos da planície e das montanhas. Um cidadão inglês que assistiu ao festival, em 1871,
relata que, diariamente, aproximadamente vinte búfalos, duzentos e cinqüenta cabras e o mesmo
número de porcos eram imolados em seu templo. Sob o altar dos sacrifícios, fora escavada uma
cova funda e preenchida com areia limpa; a areia absorvia o sangue dos animais decapitados.
Essa areia era renovada duas vezes ao dia, sendo aquela já embebida de sangue enterrada
oportunamente, como fertilizantes para a terra.
Tudo transcorria com muito asseio e propriedade, sem restos de sangue nem mau-cheiro. Nos
preparativos do novo ano agrícola, a seiva vital, o sangue, deveria renovar a força e a fertilidade
da velha deusa terra, fornecedora de todo alimento.
Atualmente, o templo de Kali em Kalighat, Calcutá, é conhecido como o principal centro onde
se fazem os sacrifícios diários de sangue; seguramente, ele é o santuário mais sangrento da
Terra. Durante o período das grandes peregrinações ao festival Durga anual, ou festival de Kali
(Durgapuja), no outono, são sacrificadas oitocentas cabras durante os três dias de comemoração.
Entretanto, o templo não funciona apenas como matadouro, pois o animal permanece com quem
o abateu como oferenda. No templo fica somente a cabeça do animal, como presente simbólico
e o sangue flui para a deusa. Deve-se a ela o sangue vital de toda criatura, uma vez que foi ela
quem o concedeu, por isso o animal deve ser imolado em seu templo e, em virtude disso, o
templo torna-se, ao mesmo tempo, uma abatedouro.
Esse rito é conduzido de forma tenebrosa e sórdica; em meio à lama formada por sangue e a
terra, as cabeças dos animais vão formando montes, como troféus diante da imagem da deusa.
Entretanto, aquele que fez a oferenda leva o corpo do animal de volta para casa para a realização
de um banquete com seus familiares. A deusa quer somente o sangue da vítima, por isso, a
decapitação é a forma da oferenda, já que assim o sangue se esvai rapidamente e
substancialmente. É por isso que as figuras nos contos de "Hitopadesha" e de "Kathasaritsagara"
cortam suas cabeças, embora seja verdade que a cabeça também significa o todo, o sacrifício
completo.
Em sua aparência aterradora, a Deusa na forma de Kali, a escura, leva aos lábios o crânio
banhado em sangue; sua imagem devocional exibe-a vermelha de sangue, sobre um barco
navegando num mar de sangue: em meio à torrente de vida, da seiva daqueles que foram
sacrificados, de que ela precisa para dar vida num processo de incessante geração de novas
formas de existência, em sua manifestação clemente como Mãe do Mundo; para que, na
qualidade de ama de leite do mundo, possa amamentá-las em seus seios e oferecer-lhes o bem
que é repleto de nutrição.
Dentre as três imagens de Kali, a mais sinistra não é aquela em que, pavorosamente acocorada
em meio a uma auréola de chamas, com uma multiplicidade sobre-humana de braços, devora
vísceras da cavidade ventral de um cadáver, formando assim entre este e sua boca um cordão
umbilical mortal. Também não é aquela em que, vestida com a negrura da noite da Deusa Terra
e adornada pelas mãos e cabeças decepadas de suas vitimas, posta-se sobre o cadáver de Shiva,
com um espectro bárbaro de Antigüidade primitiva. Ambas são terríveis o suficiente, quase
irreais, em virtude do exagerado horror. A terceira figura tem um efeito muito mais sinistro,
porque se manifesta de maneira mais sutil e não tão bárbara. Uma de suas mãos, de aparência
humana, está estendida e a outra afaga as cabeças de cobras, de uma forma tão delicada como o
faz Ísis, quando acaricia a cabeça de seu filho e embora os seios animais fálicos sejam
repugnantes, na verdade lembram os seios da divindade materna africana, que são muito
semelhantes. Todavia, a cobra de cabeça dilatada que circunda suas ancas como um cinto,
sugere o útero feminino, aqui em seu aspecto letal. Essa é a serpente que se enovela no colo da
sacerdotisa da serpente cretense, assim como as serpentes que compõe a manto da deusa
mexicana Coatlicue e que cingem as ancas das Górgonas gregas. A medonha língua de tigre
sangrenta dessa deusa é a mesma que se arremessa por entre as presas dilaceradoras da Gógana,
ou que pende entre as presas e os seios listrados como tigre da feiticeira Rangda.
Essas figuras guardam uma horripilante semelhança entre si. Seu aspecto destruidor e medonho
nos faz hesitar. Contudo, não podemos nunca esquecer que tudo isso, não é uma imagem
somente do Feminino, mas principal e especificamente a imagem do Maternal.
Kali chega às nossas vidas para dizer que é hora de perdermos o medo da morte, seja ela física,
de um relacionamento, de um emprego, de um amor. Nossos medos não podem nos impedir de
dançarmos a Dança da Vida, portanto o melhor é aprendermos a enfrentá-los e reconhecermos
que eles fazem parte de nossa evolução. Só alcançaremos a totalidade quando resgatarmos
aspectos que abrimos mão em função do medo. Quando você reconhecer seus medos e lhes der
nomes, estará a um passo de superá-los. Não enfrentá-los é parar no tempo e no espaço. É
morrer sem ter alcançado a esperança de um novo renascer.
JORNADA À VIDAS PASSADAS
Abra o círculo como de costume. Esse ritual pede para que vidas passadas que influenciem a
atual sejam apontadas. Você poderá experimentar aqui o sabor da morte física, a qual já
experimentou inúmeras vezes, para que possa compreender que ela não é o fim de tudo e sim
um novo recomeço.
Você necessitará de um caldeirão, um pano preto, uma vela preta.
Posicione seu caldeirão no centro do altar. Cubra o caldeirão com o pano preto. A vela preta
deve estar próxima ao caldeirão. De pe´e em silêncio contemple o caldeirão coberto. Veja-o
como o símbolo da vida física, mas também como o receptáculo de um Mistério Sagrado, o
início de uma nova vida.
Remova lentamente o pano de sobre o caldeirão e diga:
Kali Ma é a dançarina da morte.
Seu ventre é o caldeirão do renascimento.
Sob seus pés dançantes todos os humanos perecem.
Ela drena o sangue vital como vinho.
Nenhum humano escapa de sua Dança da Morte na Vida.
Ponha a vela preta dentro do caldeirão e acenda-a dizendo:
Mas Kali Ma é também a Grande mãe.
De seu caldeirão surge uma nova vida na roda do carma.
Sua Dança da Morte na Vida nos leva de volta ao seu obscuro e confortável abraço.
Para que repousemos e estabeleçamos novos objetivos para outra vida.
Ao fim de nosso descanso,
Kali dança sua Dança da Vida na Morte
E renascemos novamente.
Para realmente amar a Deusa,
Devemos amar tanto seu aspecto Obscuro, quanto o Claro.
Para obter perfeita compreensão espiritual,
Devemos honrar todas as suas faces.
Contemple então toda a beleza da Deusa Escura e a necessidade de sua existência para o seu
crescimento espiritual. Una então as mãos e curve-se diante do caldeirão dizendo:
Grande Kali Ma, mostre-me minhas vidas passadas
Para que eu possa com elas aprender.
Busco sua ajuda e orientação para que não torne a repetir
Velhos vícios e erros do passado.
Mostre-me o que for necessário, Kali Ma.
Medite e quando estiver pronta, inspire e expire profundamente. Deixe que o ritmo de sua
respiração fique mais lento e coloque a mão em seu coração, para ouvir o som de suas batidas.
Você está viva, mas precisará morrer para renascer, então escute o silêncio entre uma batida e
outra de seu coração. Concentre-se neste silêncio, ele é a sua morte. Uma nova batida, deste
modo, é um novo renascer. Relaxe o corpo e sinta-se cair na roda do tempo, nela você
vivenciará tudo que precisa vivenciar e verá tudo o que precisa ver. Não se apresse, nem tente
controlar para onde ir ou o que ver, simplesmente deixe fluir. Um caminho surgirá à sua frente e
lhe levará até a Planície da Visão, onde o vento sopra frio, claro e limpo, onde você poderá ver
tudo que precisa ver. Faça uma inspiração profunda e inale a claridade da Planície da Visão.
Quando as imagens se forem, é hora de voltar. Inspire e expire novamente e conclua dizendo:
Seu caldeirão do renascimento ferve com seu poder.
Sua dança da morte é uma dança regenerativa.
Mãe Negra, eu a honro em todos os seus aspectos.
De você vem o renascimento da mente, do coração e do corpo.
Abra os olhos e seja BEM-VINDA!
kali kali maha mata
namah kalike namoh namah
jaya jagatambe eh ma durga
narayane om narayane om
DEUSA ÍSIS
Eu concebi
carreguei
e dei à luz a toda vida
Depois de dar-lhe todo meu amor
Dei-lhe também meu amado Osíris
Senhor da vegetação
Deus dos cereais
para ser ceifado
e nascer outra vez
Cuidei de você na doença
fiz suas roupas
observei seus primeiros passos
Estive com você até mesmo no final
segurando sua mão
para guiá-lo para a imortalidade
Você para mim é TUDO
E eu lhe dei TUDO
E para você eu fui TUDO
Eu sou sua Grande-Mãe, ÍSIS
Nossa amada Deusa Ísis foi cultuada e adorada em inúmeros lugares, no Egito, no Império
Romano, na Grécia e na Alemanha. Quando seu amado Osíris foi assassinado e
desmembrado pelo seu irmão Seth que espalhou seus pedaços por todo o Egito, Ísis
procurou-os e os juntou novamente. Ela achou todos eles, menos seu órgãos sexual, que
substitui por um membro de ouro. Através de magia e das artes de cura, Osíris volta à
vida. Em seguida, ela concebe seu filho solar Hórus.
Os egípcios ainda mantêm um festival conhecido como a Noite da Lágrima. Tal festival
tem sido preservado pelos árabes como o festival junino de Lelat-al-Nuktah.
-*-*ÍSIS, DO MITO À HISTÓRIA
No começo só existia o grande, imóvel e infinito mar universal, sem vida e em absoluto
silêncio. Não havia nem alturas, nem abismos, nem princípio, nem fim, nem leste, nem
oeste, nem norte e nem sul. Das primeiras sombras se desprenderam as trevas e apareceu o
caos. Desse ilimitado e sombrio universo surgiu à vida e, com ela, a estirpe dos Deuses.
Conta à mitologia solar que o criador de tudo foi Atum, o Pai dos Pais. A partir do
momento que Atum toma consciência de si mesmo, ele tornou-se Rá.
Em sua infinita sabedoria, o Deus consciente, desejou e materializou uma separação entre
si mesmo e as águas primordiais, desejando emergir a primeira terra seca em forma de
colina a que os egípcios chamaram a "colina benben".
Então Atum criou os outros Deuses. Recolheu seu próprio sêmen na mão, e engolindo-o se
fecundou a si mesmo. Vomitou, dando vida a Shu e Tefnut, o ar seco e o ar úmido.
Shu e Tefnut se unem e dão a luz ao Deus Geb, a terra, e a Deusa Nut, o céu, que, por sua
vez, quando se uniram fisicamente tiveram quatro filhos: Osíris (Deus da Ordem), Seth
(Deus da Desordem) e suas irmãs Ísis e Neftis, nascidos nessa ordem. A nova geração
completa o número de nove divindades, a Enéada, que começa com o Deus criador
primordial. Na escrita egípcia o três era utilizado para representar o número plural,
enquanto que o nove proporciona um meio simbólico de indicar o "todo". A Enéada do
Deus Sol é conhecida entre os egiptólogos como a Enéada Heliopolitana.
Osíris, o primogênito, havia herdado de seu pai Geb a terra para governá-la. Já a Deusa
Ísis, cujo nome significa "o trono", "a sede" (capital), se uniu a seu irmão Osíris, para
sustentar todo o seu poder, estabelecendo-se assim, o primeiro casal real do Egito. Se ele
era o rei, soberano da terra, ela ia ser seu trono, a sede eternamente estável, de onde era
exercida toda a realeza sobre o Egito.
-*-*ÍSIS E O NOME SECRETO DE RÁ
O Deus Sol Rá tinha tantos nomes que inclusive os Deuses não conheciam todos. Um dia, a
Deusa Ísis, Senhora da Magia, se pôs a aprender o nome de todas as coisas, para tornar-se
tão importante como o Deus Rá.
Depois de muitos anos, o único nome que Ísis não sabia era o nome secreto de Rá, assim
decidiu enganá-lo para descobrir.
A cada dia, enquanto voava pelo céu, Rá envelhecia e até já começava a babar. Ísis
recolheu sua baba e modelando-a com terra, deu forma a uma serpente, que depois
colocou no caminho de Rá. Esse foi mordido e caiu ao solo agonizante. Ísis disse ao Deus
que poderia curá-lo, desde que ele lhe revelasse seu nome secreto. Ele se negou, porém ao
notar que o veneno da cobra era potente suficientemente para matá-lo, não teve outra
opção a não ser revelá-lo. Com esse conhecimento secreto, Ísis pode apropriar-se de parte
do poder de Rá.
-*-*ÍSIS E OSÍRIS (segundo Plutarco)
No Egito, assim como na Babilônia, o culto da lua precedeu o do sol. Osíris, Deus da lua, e
Ísis, a Deusa da lua, irmã e esposa de Osíris, a mãe de Hórus, o jovem Deus da lua,
aparecem nos textos religiosos antes da quinta dinastia (cerca de 3.000 a. C.).
É difícil fazer um estudo conciso sobre o significado do culto de Ísis e Osíris, pois, durante
muitos séculos nos quais esta religião floresceu, aconteceram mudanças na compreensão
dos homens em relação a ele.
Nos primeiros registros, Osíris, parece ser um espírito da natureza, concebido como o Nilo
ou como a lua, o qual, pensava-se, controlava as enchentes periódicas do rio. Era o Deus
da umidade, da fertilidade e da agricultura. Durante o período da lua minguante, Seth,
seu irmão e inimigo, um demônio de um vermelho fulvo incandescente, devorava-o. Diziase que Seth tinha se unido a uma rainha etíope negra para ajudá-lo na sua revolta contra
Osíris, provavelmente uma alusão à seca e ao calor, que periodicamente vinham do Sudão,
assolavam e destruíam as colheitas da região do Nilo.
Seth era o Senhor do Submundo, no sentido de Tártaro e não de Hades, usando-se termos
gregos. Hades era o lugar onde as sombras dos mortos aguardavam a ressurreição,
correspondendo, talvez, à idéia católica do purgatório. Osíris era o Deus do Submundo
neste sentido, Tártaro é o inferno dos condenados, e era deste mundo que Seth era o
Senhor.
Nas primeiras formas do mito, Osíris era a lua e Ísis a natureza, Urikitu, a Verde da
história caldéia. Mas, posteriormente, ela tornou-se a lua-irmã, mãe e esposa do Deus da
lua. É neste ciclo que este mito primitivo da natureza começou a tomar um significado
religioso mais profundo. Os homens começaram a ver na história de Osíris, que morreu e
foi para o submundo, sendo depois restituído à vida pelo poder de Ísis, uma parábola da
vida interior do homem que iria transcender a vida do corpo na terra.
Os egípcios eram um povo de mente muito concreta, e concebiam que a imortalidade
poderia ser atingida através do poder de Osíris de maneira completamente materialista.
Era por essa razão que conservavam os corpos daqueles que tinham sido levados para
Osíris, através da iniciação, como conta o "Livro dos Mortos"; com efeito, acreditavam
que, enquanto o corpo físico persistisse, a alma, ou Ka, também teria um corpo no qual
poderia viver na Terra-dos-bem-aventurados, como Osíris que, no texto de uma pirâmide
da quinta dinastia, é chamado de "Chefe daqueles que estão no Oeste", isto é, no outro
mundo.
Ísis e Osíris eram irmãos gêmeos, que mantinham relações sexuais ainda no ventre da mãe
e desta união nasceu o Hórus-mais-velho. No Egito, nesta época, era hábito entre os faraós
e as divindades a celebração de núpcias entre irmãos, para não contaminar o sangue.
A história continua contando que quando Osíris tornou-se rei, livrou os egípcios de uma
existência muito primitiva. Ensinou-lhes a agricultura e a feitura do vinho, formulou leis e
instruiu como honrar seus deuses. Depois partiu para uma viagem por todo o país,
educando o povo e encantando-o com sua persuasão e razão, com a música, e "toda a arte
que as mesas oferecem".
Enquanto ele estava longe sua esposa Ísis governou, e tudo correu bem, mas tão logo ele
retornou, Seth, que simbolizava o calor do deserto e da luxúria desenfreada, forjou um
plano para apanhar Osíris e afastá-lo. Confeccionou um barril do tamanho de Osíris.
Então convidou todos os Deuses para uma grande festa, tendo escondido seus setenta e
dois seguidores por perto. Durante a festividade, mostrou seu barril que foi admirado por
todos. Prometeu dá-lo de presente àquele que coubesse nele. Então todos entraram nele
por sua vez, mas ele se ajustou somente a Osíris. Neste momento, os homens escondidos
apareceram e, rapidamente lacraram a tampa do barril. Levaram-no e jogaram no rio
Nilo. Ele boiou para longe e alcançou o mar pela "passagem que é conhecida por um nome
abominável".
Este evento ocorreu no décimo sétimo dia de Hator, isto é, novembro, no décimo oitavo ano
de reinado de Osíris. Ele viveu e reinou por um ciclo de vinte e oito períodos ou dias,
porque ele era a lua, cujo ciclo completa-se a cada vinte e oito dias.
Quando Ísis foi sabedora dos acontecimentos fatídicos, cortou uma mecha de seu cabelo e
vestiu roupas de luto e vagou por todos os lugares, chorando e procurando pelo barril. Foi
seu cachorro Anúbis, que era filho de Néftis e Osíris, que levou-a até o lugar onde o caixão
tinha parado na praia, no país de Biblos. Ele havia ficado perto de uma moita de urzes,
que cresceram tanto com sua presença, que tornou-se uma árvore que envolveu o barril. O
rei daquele país mandou cortar a tal árvore e de seu tronco fez uma viga para a cumeeira
de seu palácio, sem sequer imaginar que o mesmo continha o barril.
Ísis para reaver seu marido, fez amizade com as damas de companhia da rainha daquele
país e acabou como enfermeira do príncipe. Ísis criou o menino dando-lhe o dedo ao invés
de seu peito para mamar.
Os nomes do rei e da rainha são: Malec e Astarte, ou Istar. Bem sugestivo, pois nos faz ver
que Ísis teve que recuperar o corpo de Osíris de sua predecessora da Arábia.
Acabou tendo que revelar-se para a rainha e implorou pelo tronco da árvore que continha
o corpo de Osíris. Ísis retirou o barril da árvore e levou-o consigo em sua barcaça de volta
para casa. Ao chegar, escondeu o caixão e foi procurar seu filho Hórus, para ajudá-la a
trazer Osíris de volta à vida.
Seth que havia saído para caçar com seus cachorros, encontra o barril. Abriu-o e cortou o
corpo de Osíris em catorze pedaços espalhando-os. Aqui temos a fragmentação, os catorze
pedaços que obviamente referem-se aos catorze dias da lua.
Ísis soube do ocorrido e saiu à procura das partes do corpo. Viajou para longe em sua
barcaça e onde quer que achasse uma das partes fazia um santuário naquele lugar.
Conseguiu reunir treze das peças unindo-as por mágica, mas faltava o falo. Então fez uma
imagem desta parte e "consagrou o falo, em honra do qual os egípcios ainda hoje
conservam uma festa chamada de "Faloforia", que significa "carregar o falo".
Ísis concebeu por meio dessa imagem e gerou uma criança, o Hórus-mais-jovem.
Osíris sugiu do submundo e apareceu para o Hórus-mais-velho. Treinou-o então para
vingar-se de Seth. A luta foi longa, mas finalmente Hórus trouxe Seth amarrado para sua
mãe.
Este é o resumo do mito.
Os cerimoniais do Egito eram relacionados com esses acontecimentos. A morte de Osíris,
interpretada todos os anos, bem como as perambulações de Ísis e suas lamentações,
tinham um papel conspícuo. O mistério final de sua ressurreição e a demonstração
pública, em procissão, do emblema de seu poder, a imagem do falo, completavam o ritual.
Era uma religião na qual a participação emocional da tristeza e alegria de Ísis tinha lugar
proeminente. Posteriormente, tornou-se de fato uma das religiões nas quais a redenção era
atingida através do êxtase emocional pelo qual o adorador sentia-se um com Deus.
-*-*ARQUÉTIPO DA PROVEDORA DA VIDA
É pelo poder de Ísis, através de seu amor, que o homem afogado na luxúria e na paixão,
eleva-se a uma vida espiritual. Ísis, antes de tudo, é provedora da vida. Comumente é
representada amamentando seu filho Hórus, pois ela é a mãe que nutri e alimenta tudo
que gera. Ísis com seu bebê no colo, acabou transformada na Virgem Maria com o menino
Jesus.
Embora Isis fosse considerada como mãe universal ela era venerada como protetora das
mulheres em particular. Sendo aquela que dá a vida, que presidia sobre vida e morte, ela
era protetora das mulheres durante o parto e confortava aquelas que perdiam seus entes
queridos. Em Ísis, as mulheres encontravam o apoio e a inspiração para prosseguirem com
suas vidas. Ísis proclamava ser, em hinos antigos, a deusa das mulheres e dotava suas
seguidoras de poderes iguais aos do homem.
Esta Deusa é também freqüentemente representada como uma Deusa negra. Este fato está
diretamente associado ao período de luto de Ísis (morte de Osíris), quando ela vestia-se de
preto ou ela própria era preta.
As estátuas pretas de Ísis tinham também um outro sentido. Plutarco declara que "suas
estátuas com chifres são representações da Lua Crescente, enquanto que as estátuas com
roupa preta significavam as ocultações e as obscuridades nas quais ela segue o Sol (Osíris),
almejando por ele. Conseqüentemente, invocam a Lua para casos de amor e Eudoxo diz
que Ísis é quem os decide".
No Solstício de Inverno, a Deusa, na forma de vaca dourada, coberta por um traje negro,
era carregada sete vezes em torno do Santuário de Osíris morto, representando as
perambulações de Ísis, que viajou através do mundo pranteando sua morte e procurando
pelas partes espalhadas de seu corpo. Este ritual, era um procedimento mágico, que
tencionava prevenir que a seca invadisse as regiões férteis do Nilo, pois a ressurreição de
Osíris era, naquela época, um símbolo da enchente anual do Nilo, da qual a fertilidade da
terra dependia.
-*-*ÍSIS E HÓRUS
Muita conhecida de todos os nós é a história de Hórus, o filho de Ísis, a Deusa do Egito,
tanto quanto os também tão estimados e conhecidos Maria e o menino Jesus no
cristianismo. Entretanto, existem algumas diferenças entre os dois: a Ísis é adorada como
uma divindade maternal muito antiga. Algumas vezes é representada com um disco do sol
(ou lua) na cabeça, flanqueada à direita e à esquerda por dois chifres de vaca. A vaca era e
é por seu úbere dispensador de leite o animal-mãe, usado em muitas culturas como
símbolo materno. Outra diferença fundamental entre Ísis e Maria é também o fato de Ísis
ter sido venerada como a grande amada. Ainda no ventre materno ela se casou com seu
irmão gêmeo Osíris, que ela amava acima de tudo.
Nos rituais antigos egípcios, executados para obter a ressurreição, o olho de Hórus tinha
papel muito importante e era usado para animar o corpo do morto cujos membros tinham
sido reunidos. Hórus, filho e herdeiro por excelência, é invocado também, para que
impeça a ação do répteis que estão no céu, na terra e na água, os leões do deserto, os
crocodilos do rio.
Protetor da realeza, Hórus desempenha ainda, o papel capital do Deus da cura. A magia de
Hórus desvia as flechas do arco, apazigua a cólera do coração do ser angustiado.
-*-*ARQUÉTIPO DE CURA
Ísis era invocada nas antigas escrituras como à senhora da cura, restauradora da vida e
fonte de ervas curativas. ela era venerada como à senhora das palavras de poder, cujos
encantamentos faziam desaparecer as doenças.
À noção de magia liga-se também, imediatamente ao nome de Ísis, que conhece o nome
secreto do Deus supremo. Ísis dispõe do poder mágico que Geb, o Deus da Terra, lhe
ofereceu para poder proteger o filho Hórus. Ela pode fechar a boca de cada serpente,
afastar do filho qualquer leão do deserto, todos os crocodilos do rio, qualquer réptil que
morda. Ela pode desviar o efeito do veneno, pode fazer recuar o seu fogo destruidor por
meio da palavra, fornecer ar a quem dele necessite. Os humores malignos que perturbam o
corpo humano obedecem a Ísis. Qualquer pessoa picada, mordida, agredida, apela a Ísis, a
da boca hábil, identificiando-se com Hórus, que chama a mãe em seu socorro. Ela virá,
fará gestos mágicos, mostrar-se-á tranqüilizadora ao cuidar do filho. Nada de grave irá
lesar o filho da grande Deusa.
Ísis aparece em na nossa vida para dizer que é hora de meditar. Você tem desperdiçado
sua energia maternal sem guardar um pouco para si mesma? Sua mãe lhe deu todo o amor
que você precisou? Pois agora é tempo de você se dar "um colo" para curar as mágoas do
passado. Todos nós precisamos de cuidados maternos, independente de sermos donzela,
mãe ou mulher madura.
-*-*ARQUÉTIPO DA MÃE-NATUREZA
Ísis, Deusa da lua, também é Mãe da Natureza. Ela nos diz que para este mundo continuar
a existir tudo que é criado um dia precisa ser destruído. Ísis determina que não deve haver
harmonia perpétua, com o bem sempre no ascendente. Ao contrário, deseja que sempre
exista o conflito entre os poderes do crescimento e da destruição. O processa da vida,
caminha sobre estes opostos. O que chamamos de "processo da vida", não é idêntico ao
bem-estar da forma na qual a vida está neste momento manifesta, mas pertence ao reino
espiritual no qual se baseia a manifestação material.
Com certeza, se a morte e a decadência não tivessem dotados de poderes tão grandes
quanto as forças da criação, nosso mundo inteiro já teria alcançado o estado de
estagnação. Se tudo permanecesse para sempre como foi primeiramente feito, todas as
capacidades de "fazer" teriam sido esgotadas há séculos. A vida hoje estaria hoje
totalmente paralisada. E, assim, inesperadamente, o excesso de bem, acabaria em seu
oposto e tornar-se-ia excesso de mal.
Ísis, tanto na forma da natureza, como na forma de Lua, tinha dois aspectos. Era criadora,
mãe, enfermeira de todos e também destruidora.
O nome Ísis, significa "Antiga" e era também chamada de "Maat", a sabedoria antiga.
Isto corresponde a sabedoria das coisas como são e como foram, a capacidade inata
inerente, de seguir a natureza das coisas, tanto na forma presente como em seu
desenvolvimento inevitável, uma relação à outra.
-*-*O VÉU DE ÍSIS
O traje de Ísis só era obtido através da iniciação, era multicolorido e usado em muitos
cerimoniais religiosos.
O véu multicolorido de Ísis é o mesmo véu de Maias, que nos é familiar no pensamento
hindu. Ele representa a forma sempre mutante da natureza, cuja beleza e tragédia
ocultam o espírito aos nossos olhos. A idéia é a de que o Espírito Criativo vestia-se de
formas materiais de grande divindade e que todo o universo que conhecemos era feito
daquela maneira, como a manifestação do Espírito do Criador.
Plutarco expressa essa idéia quando diz:"Pois Ísis é o princípio feminino da natureza e
aquela que é capaz de receber a inteireza da gênese; em virtude disso ela tem sido
chamada de enfermeira e a que tudo recebe por Platão e, pelo multidão, a dos dez mil
nomes, por ser transformada pela Razão e receber todas as formas e idéias".
Um hino dirigido a Ísis-Net exprime essa mesma idéia de véu da natureza que esconde a
verdade do mistério dos olhos humanos. Net era uma forma de Ísis, e era considerada
como Mãe-de-todos, sendo de natureza tanto masculina como feminina. O texto em que
esse hino está registrado data de cerca de 550 a.C., mas é provavelmente muito mais
antigo.
Salve, grande mãe, não foi descoberto teu nascimento!
Salve, grande deusa, dentro do submundo que é duplamente escondido, tu, a
desconhecida!
Salve, grande divina, não foste aberta!
Ó, abre teu traje.
Salve, coberta, nada nos é dado como acesso a ela.
Venha receber a alma de Osíris, protege-adentro de tuas duas mãos.
O véu de Ísis, tem também significados derivados. Diz-se que o ser vivo é pego na teia ou
véu de Ísis, significando que no nascimento o espírito, a centelha divina, que está em todos
nós, é preso ou incorporado na carne. Significa dizer, que todos nós ficamos emaranhados
ou presos na teia da natureza. Essa teia é a trama do destino ou circunstâncias. É
inevitável que devamos ser presos pelo destino, mas freqüentemente consideramos este
enredamento como infortúnio e queremos nos libertar dele. Se aceitarmos esta situação de
o ser vivo estar preso a teia de Ísis, acabaremos encarando a trama de nossa vida de
maneira diferente, pois é somente deste modo que o espírito divino pode ser resgatado. Se
não fosse aprisionado desta forma, vagaria livremente e nunca teria oportunidade de
transformar-se. Portanto, o espírito do homem precisa estar preso à rede de Ísis, caso
contrário, não poderá ser levado em seu barco para a próxima fase de experiência.
-*-*DANÇA SAGRADA DOS SETE VÉUS
"Vê-la dançar é participar da força criadora que vibra no Cosmos; massa negra e pulsante
explícita nos olhos e cabelos de Jhade. (...) Mãos se elevam em serpente e cortantes
transformam em som o poder telúrico de seu ventre. Que os sons, manifestos em seu corpo,
subam de encontro com o Eterno e sejam ouvidos além do tempo." (por W. Hassan)
A Dança dos Sete Véus tem sua origem em tempos remotos, onde as sacerdotisas
dançavam no templo de Isis. É uma dança forte, bela e enigmática. Ela também reverencia
a vida, os elementos da natureza, imita os passos dos animais e das divindades numa total
integração com o universo. O coração da bailarina é tão leve quanto à pluma da Deusa
Maat e é exatamente por isso que os véus são necessários, pois é deles que os deuses se
servem para sutilizar o corpo da mulher. Os véus de Ísis, ao serem retirados, nos
transmitem ensinamentos. Quando a bailarina usa dois véus, ao retirá-los nos diz que o
corpo e espírito devem estar harmonizados. A Dança do Templo, que é usado três véus,
homenageia a Trindade dos deuses do Antigo Egito: Ísis, Osíris e Hórus. A Dança do
Palácio, com quatro véus, representa a busca da segurança e estabilidade e ao retirá-los a
bailarina nos demonstra o quanto nos é benéfico o desapego das coisas materiais. Na
Dança dos Sete Véus, cada véu corresponde a um grau de iniciação.
Os sete véus representam os setes chakras em equilíbrio e harmonia, sete cores e sete
planetas.Cada planeta possui qualidades e defeitos que influenciam no temperamento das
pessoas e a retirada de cada véu representa a dissolução dos aspectos mais nefastos e a
exaltação de suas qualidades.
Significado das cores:
vermelho: libertação das paixões e vitória do amor
laranja: libertação da raiva e dos sentimentos de ira
amarelo: libertação da ambição e do materialismo
verde: saúde e equilíbrio do corpo físico
azul : encontro da serenidade
lilás: transmutação da alma, libertação da negatividade
branco: pureza, encontro da Luz.
Toda mulher deixa transbordar sua essência através da dança. Todas aquelas emoções
reprimidas, sentimentos esquecidos, afloram. Toda e qualquer mulher que consegue
penetrar nos mistérios e ensinamentos dessa prática, se revelará de forma pura e sublime e
alcançará o êxtase ao dançar.
Dançar é minha prece mais pura
Momento em que meu corpo vislumbra o divino,
Em que meus pés tocam o real
Religiosidade despida de exageros,
Desejo lascivo, bordado de plenitude
Através de meus movimentos posso chegar ao inatingível
Posso sentir por todos os corpos,
abraçar com todo
o coração,
E amar com os olhos
Cada gesto significativo desenha no espaço o infinito,
Pairando no ar, compreensão e admiração
Iniciar uma prece é como abrir uma porta
Um convite a você, para entrar em meu universo
O mágico contorna minha silhueta, ao mesmo tempo
Que lhe toco sem tocar
Nada a observar, só a participar
Esta prece ausente de palavras
É codificada pela alma
E faz-nos interagir, de maneira sublime e hipnótica
Quando eu terminar esta dança,
Estarei certa de que não seremos os mesmos.
-*-*RITUAL DE ÍSIS PARA A LEALDADE
Você pode usar esse ritual para pedir à Ísis que reforce sua lealdade se sentir tentada (o) a
trair a confiança de alguém, ou para pedir que outra pessoa lhe seja leal.
Deve sempre ser realizado pela manhã e se possível imediatamente ao levantar-se da cama.
Necessitará de uma granada, a pedra preciosa que simboliza a lealdade. A pedra pode
estar solta ou presa em alguma jóia.
Acenda uma vela branca e coloque à sua frente. Suspenda a vela em frente a vela, de
maneira que brilhe à luz da chama. Enquanto observa a luz brilhando através da granada,
pense em tudo que necessitas fortalecer no sentido da lealdade.
Imagine você, ou a pessoa que a (o) preocupa, em uma situação que possa trair a
confiança. Pense que você, ou essa pessoa, resistem ao impulso. Por exemplo, pode
visualizar uma situação em que um amigo pede para revelar um segredo, porém você
resiste, dizendo:
"Não, não posso lhe dizer".
Agora coloque a granada em seu bolso e use-a como jóia até que sinta que a ameaça da
deslealdade tenha passado.
DEUSA BRIGHID
QUEM SÃO AS DEUSAS?
A palavra "Deusa"se refere ao Divino Feminino. Durante milênios, no mundo todo, nossos
ancestrais veneraram uma Divina e Poderosa Mãe-Deusa. Ela foi honrada e celebrada
como a Mãe de Toda a Vida. Mas de onde provêm a idéia de Deusa? Em tempos
longínquos, o homem dependia da Terra para todas as coisas: como o seu sustento, assim
como para abrigo e proteção. Ela era provedora de tudo que era necessário para
perpetuar a vida e também era a vida em si mesma.
Estes povos observavam que toda vida era concebida a partir dos corpos femininos (tanto
animais, quanto mulheres), de modo que era totalmente natural que acreditassem que
deveria existir uma Toda Poderosa Criadora Feminina também.
Hoje apreciamos o ressurgir da cultura da Deusa que tem sido reverenciada por homens e
mulheres, que celebram e respeitam as energias femininas dela emanadas.
A TRÍPLICE DEUSA CELTA
A água era considerada princípio e fonte de toda a vida para aqueles que habitam a terra e
dependiam de sua generosidade para conseguir seu alimento. Isto se reflete no fato de os
celtas terem dedicado os principais rios da Europa Ocidental à deusa da fertilidade. O rio
Marne deve seu nome às Matronas, as três Mães Divinas e o Sena, a Sequana, deusa de seu
manancial. O nome do Reno é celta e seus afluentes também têm nomes celtas: Necjar,
Main, Ruhr e Lippe. Na Grã-Bretanha, o Severn deve-se a Sabrina e o Clyde, à deusa
Clota, recordando a lenda da Divina Lavadeira, Bruxa do Rio e Deusa da Morte que,
conta-se, encontrava o guerreiro predestinado, que ficava sabendo que seu fim se
aproximava ao vê-la lavar suas roupas de guerra manchadas de sangue.
O rio ou o arroio são expressões vivas da Mãe-Terra, o que os santifica e os dota de
poderes curativos, que são emanados a certas horas do dia ou em dados momentos da fase
lunar. Todos os lugares sagrados , para os celtas, tinham um espírito guardião, que podia
transformar-se em gato, pássaro ou peixe, segundo as preferências da deusa. Tais lugares
eram considerados partes do útero da Terra Mãe, a qual se invocava sob diversos
vocativos e aparências. Existem numerosas inscrições galo-romanas da deusa Matronae, a
Mãe representada como uma tríade levando crianças, cornucópias e cestas de frutas.
Outra conhecida manifestação era Epona, que em geral mostrava-se a cavalo, por vezes
com um potro, o que poderia ter dado origem à história da lady Godiva e outras lendas
populares relacionadas a cavalos.
A Deusa é generosa, mas também desapiedada. A Lua controladora das marés e do fluxo
menstrual, é o centro de um conjunto de símbolos universais: ele preside os rituais
noturnos relacionados com animais tais como gato, a serpente e o lobo. Os emblemas de
animais rodeando a deusa e seus santuários serviam para lembrar seus aspectos selvagens.
A característica representação da deusa como Mãe-devoradora no simbolismo celta,
análoga à sanguinária Kali dos hindus ou Cihuateteo dos astecas, tem sua encarnação nas
esfinges de pedra conhecidas com o nome de Sheela-na-gig, que se encontram em igrejas e
castelos medievais. Ela apresenta rosto horrível com faces cadavéricas, boca enorme de
semblante mau humorado, peito esquelético, um grande órgão genital à mostra e braços e
mãos dobrados.
Em dias bastantes primitivos, o instinto feminino era percebido como intensamente
animal. Com o avanço da civilização a deusa vai gradualmente erigindo-se desta natureza.
A complexidade das deusas Célticas é realmente explicada quando nós entendemos que
para ser uma Deusa nesta tradição antiga deve ser uma Mãe, para ser uma Mãe, deve ser
uma protetora e para ser uma protetora deve ser preocupada com a soberania da sua
tribo.
É, diferente das Deusas dos Romanos e Gregos, as Deusas dos Celtas são todas as coisas:
elas são a terra, a vida, a morte, o trigo que nós comemos e a água que nós bebemos; a
água que vem do céu.
BRIGHID, SANTA E DEUSA
O NOME
Brighid também conhecida por Brigit, Bríde, Briget, Briid é uma Deusa muito popular na
Irlanda, cultuada em todos os territórios onde os celtas se instalaram.
A palavra "Brig", em irlandês arcaico, significa força, poder. Segundo, alguns filósofos, tal
correlação pode estar por detrás da existência da existência de guerreiros chamados
Brigands ou "soldados de Brighid".
Os brigantes, uma confederação de tribos celtas que se instalou em pontos tão diversos
quanto a Armórica (França), a Grã-Bretanha e o sul da Irlanda, derivam seu nome da
Deusa Brigantia, aparentemente mais uma variação de Brighid. Na Gália, a Deusa
Brigindo é outra faceta desta deidade, enquanto que Brigantia é o nome original das
cidades de Bragança em Portugal e de La Coruña na Galícia (Espanha). Mas é na Irlanda
que encontraremos os elementos dessa Deusa melhor preservados.
DEUSA TRÍPLICE
Brighid, que significa "luminosa"é uma Deusa tríplice do fogo da inspiração, da ferraria,
da poesia, da cura e da adivinhação. Isto é, as funções que lhe atribuem são triplas,
correspondentes às três classes da sociedade indo-européia:
- Deusa da inspiração e da poesia - Classe Sacerdotal.
- Protetora dos reis e dos guerreiros - Classe Guerreira
-
Deusa das técnicas - Classe de artesãos, pastores e agricultores.
BRIGID (BRIGIT) COMO DEUSA
Brighid é filha de Dagda,o Bom Deus, pertencendo assim, aos Tuatha De Danann. Dagda é
o líder e o Grande Pai conhecido como o Poderoso do Conhecimento. Um rei da sabedoria
Dagda é a Boa Mão, um mestre da vida e da morte, e aquele que traz prosperidade e
abundância. Gêmeo de Sucellos como o regente da luz durante a metade do ano. O poder e
o conhecimento de Dagda é dado por um sopro, chamado "AWEN" através de um beijo no
escolhido como sucessor para Chefe Trovador dos Duidas. O "AWEN" é o sopro de Deus
(Dagda) que guia e instrui, tornando um trovador diferente dos outros.
Há lendas que alegam ser ela a esposa de Tuireann, com quem teve três filhos (Brian,
Iuchar e Iucharba), que posteriormente matam Cían, o pai de Lugh.
Uma outra versão, nos diz que Brighid tinha como marido Bres, o malfadado líder dos
Tuatha De Danann. Dessa união nasce Rúadan, o qual morre em combate na Segunda
Batalha de Moytura. Ao encontrá-lo sem vida, lamenta sua morte em uma tradição que
viria a ser conhecida como "keening) (irlandês-caoineach), e que ainda hoje é preservada
nas áreas rurais da Irlanda. os "keenings' eram lamentos emitidos por mulheres face ao
falecimento de um membro da família ou da comunidade. Se constituíam em choros
pungentes, quase bestiais, descritos por observadores como o som de "um grande número
de demônios infernais".
Como Deusa, Brigid, é uma entidade fortemente vinculada com a inspiração e a
criatividade, tanto que na tradição Britânica dos Druidas foi assimilada como a "Deusa
dos Bardos", por ser a "musa" que inspirava àqueles grandes sacerdotes similares aos
Brâmanes da Índia. Atualmente se diz que Brigid é o veículo e guardiã do "Awen", o sopro
de seu pai (Dagda), ou a "consciência da inspiração", um estado muito variado de
magnitude e cujos mistérios mais profundos parecem indicar um estado elevadíssimo de
consciência, parecido ao Shamadi ou transe Yóguico.
"AWEN" é a força mental que inspira à criatividade.
Brigit também foi uma Deusa muito vinculada a curas (com ervas) e lhe eram atribuídos
mágicos conhecimentos das propriedades curativas das plantas. Como conhecedora desses
mistérios é uma Divindade vinculada à Bruxaria, já que as bruxas sempre foram, na
antiguidade, mulheres de avançada idade que possuíam um vasto conhecimento sobre as
propriedades naturais e intrínsecas das plantas para todo o tipo de uso medicinal.
A Deusa era ainda uma grande guerreira que afugentava as tropas inimigas de qualquer
exército quando era invocada, e também, infundia valor ao exército que apadrinhava.
Brigid apareci freqüentemente de maneira imensa e feroz lançando gritos de raiva frente
aos exércitos que pretendia afugentar. Desse mesmo modo, os Celtas antes das batalhas
lançavam gritos selvagens e ininteligíveis com o único propósito de amedrontar à seus
adversários.
Algumas vezes, Brigid é identificada com Danann (Deusa principal, Mãe dos Deuses da
Tradição Celta) e é considerada como a Mãe de todas as coisas.
Lady Gregogy, em "Gods an Fighting Men", diz dela:
" Brigit...era uma poetisa, e os poetas a adoravam, pois seu domínio era muito grande e
muito nobre. E, era assim mesmo, uma curadora, e realiza trabalhos de ferreiro, fui ela
quem deu o primeiro assobio para chamar-se uns aos outros no meio da noite. E, um lado
de seu rosto era feio, porém o outro muito belo. E, o significado de seu nome era Breosaighit, flecha de fogo".
(Altar de Brigid)
Brigid assumiu inúmeros aspectos e atributos através dos tempos. Suas cores sagradas são
o vermelho, o laranja e o verde. Cada uma dessas cores representa um atributo de Brigid.
O vermelho simboliza o fogo da forja, da lareira que aquece e alimenta. O laranja
representa a luz solar, pois antes da ascensão patriarcal de Deuses como Bel e Lugh o
patamar de Deuses solares, era a Brigid que o Sol era consagrado. O verde representa as
fontes e ervas que curam, no papel de Brigit como Curandeira.
SEUS SÍMBOLOS
Seus símbolos são a haste e a roca de fiar, a chama sagrada, a espiral, o triskle, o torc, o
pote de fogo e seus sapatos de latão.
Dias: Segunda-feira, terça-feira e sexta-feira.
ANIMAIS SAGRADOS
BRIGID possui 4 animais sagrados: a cobra, a vaca, o lobo e o abutre.
A Cobra é a "Serpente Criadora" que era guardada em seus santuários onde oráculos
eram revelados aos homens.
O seu segundo animal é a Vaca Sagrada. Seu abundante leite nutre humanos e crianças.
Ela é conectada com o lobo,pois ele é um dos animais totem das Ilhas britânicas.
E em seu aspecto de Deusa da Morte, ela está associada com o Abutre ou outras aves de
rapina.
Igualmente lhe é sagrado o cisne, tanto o branco quanto o negro. Os antigos povos
europeus acreditavam que o cisne era o resultado da união da serpente com o pato,
simbolizando o fogo e a água respectivamente, ambos sagrados para Brigid.
BRIGID CRISTÃ
A Nova Cristã e Antiga Pagã, Brighid, fundiram-se na figura de Santa Brígida no ano de
450. Mas, Ela se converteu em Santa sem perder de todo sua qualidade de Antiga Deusa.
Sua transformação quase literalmente em Drumeague, Country Cavan, em um lugar
chamado "a montanha dos três deuses". Ali uma cabeça de Brigid fui talhada em pedra
como uma deidade tripla. Porém, com a chegada do cristianismo, foi escondida em uma
tumba neolítica. Depois foi recuperada e exposta em uma igreja local, onde foi canonizada
popularmente como "Santa Bride de Knockbridge.
Em algumas histórias ou lendas, dizem que foi o próprio São Patrício que a batizou e ela
foi elevada à condição da figura galesa de Maria, sendo muitas vezes considerada como a
parteira de Maria ou até como a ama do Menino Jesus.
Aqui reconhecemos a Deusa como protetora do parto. E, Brighid como santa, possui até
biografia, que é de autoria de Cogitosus. Segundo ele, ela teria nascido em 452, no vilarejo
de Faughart (próximo a Dundalk, Co. Lough), ao romper da aurora, hora de máxima
importância para a filosofia celta. Era filha do nobre Dubhtach, chefe da Província de
Leinster, e Broicsech, uma escrava. Em uma das versões da lenda, conta-se que, ao nascer,
a casa em que estava ficou totalmente envolta por um fogo mágico, que assustou a todos
que presenciaram a cena. Entretanto, ninguém queimou-se. Vários textos afirmam que tal
fogo surgiu do centro da cabeça da criança, talvez para identificá-la como uma santa
portadora de um poder criador.
Brigid foi educada por um druida e desde muito cedo manifestou o dom da profecia. Mas
certo dia ela adoece gravemente e, o druida consegue salvá-la alimentando-a com o leite de
uma vaca branca de orelhas vermelhas. Em muitas lendas aparecem animais com essas
cores, que são animais mágicos pertencentes ao Outro Mundo.
Os cristãos, gerando uma estranha contradição, afirmam que apesar de muito bela, Brigid
permanece virgem. Contam, que para não casar, ela vazou seu próprio olho, tornando-se
desinteressante para seus pretendentes. E, apesar de ter sido criada e instruída por um
druida, Brigid escolhe se converter à nova religião. Nessa época era comum as mulheres
serem ordenadas sacerdotisas, e até episcopisas. Esse, portanto, foi o caso de Brigid, que,
de acordo com a lenda, foi ordenada pelo próprio São Patrício, o Padroeiro da Irlanda.
Cogitosus nos esclarece, que no ano de 490, ela funda um convento na localidade de
Kildare, local de peregrinação dos seguidores da religião celta pré-cristã. O próprio nome
Kildare, "Templo do Carvalho" (Cill Duir), já explica sua origem pagã, pois essa árvore
era associada ao druidas.
Neste convento havia uma chama sagrada que devia sempre arder. Dezenove sacerdotisasfreiras guardavam a sua pira sagrada, alimentando o fogo. Conta-se que, no vigésimo dia
de cada mês, ela aparece e vigia o fogo pessoalmente. Aos homens não eram permitida a
entrada. Segundo as lendas, aqueles que tentassem se aproximar da fogueira eram
acometidos de estranhos surtos de loucura e podiam até perder a vida.
Uma oração era entoada pelas freiras, também conhecidas com as Guardiãs da Chama:
"Bride, Dama Supeior,
Chama súbida;
Que o brilhante e luminoso sol,
Nos leve ao reino eterno."
Os vínculos com a tradição pagã são reforçados pelo fato de que a madeira utilizada como
lenha era o estrepeiro, uma árvore sagrada para os druidas.
Ainda na obra de Cogitosus, "Vita Brigitae", escrita no século VII, Santa Brigida é
descrita como uma santa generosa, sempre disposta a conceder alimentos e hospitalidade
aos necessitados. Devido à essas virtudes é a santa mais relacionada com a produção de
alimentos e proteção da vivenda campesina. O dia de sua celebração está conectado com os
trabalhos agrícolas da semeação na primavera, quando começam a diminuir os rigores do
inverno e os dias se tornam mais claros e longos.
Em algumas regiões da Irlanda, como nos condados Munster, de Connaught e algumas
localidades fronteiriças de Ulter, uma das principais tradições que se efetuavam no dia de
Santa Brigida consistia em ir de casa em casa disfarçados com vestes grotescas e
transportando uma rústica representação da Santa, que podia ser uma boneca adornada
com palhas entrelaçadas e com cintas coloridas. Em muitas localidades do Sul do país, os
homens se vestiam do mesmo modo esfarrapado com roupas de mulher, e ocultavam os
rostos com máscaras de facções horríveis.
Quando se aproximava o dia da Santa Brigida, os camponeses irlandeses saíam para dar
uma volta qualquer em seus campos de lavoura. Com essa ação consideravam que era
favorecida a chegada do bom tempo, que necessitavam para efetuar os trabalhos agrícolas
da temporada.
Os pescadores irlandeses também esperavam uma melhoria no tempo quando se
aproximava a festa de Santa Brigida. Nesse dia era quando reiniciava a temporada de
pesca e os habitantes dos povoados costeiros recolhiam algas para adubar os campos. Em
Galway, se acreditava que a pesca seria abundante si no dia dessa Santa se colocasse um
caracol (molusco marinho) nos quatro cantos da casa. (Danaher, 1972: 14)
Os irlandeses acreditavam que a Santa Brigida visitava suas casas na noite do dia de sua
festa para benzer o gado e seus donos. Como oferenda à santa, os mais devotos deixavam
na janela um pedaço de pão, um pouquinho de manteiga ou alguns biscoitos, inclusive
alguns deixavam um feixe de trigo para servir de comida à vaca branca que sempre
acompanhava à Santa. Outros deixavam uma faixa, um pedaço de tecido ou qualquer
outra prenda, para que fosse tocado quando a Santa passasse. Esses objetos eram
guardados depois cuidadosamente, pois tinham a virtude de proteger em qualquer
situação de perigo à quem os transportasse.
Brigid era tão poderosa que São Patrício, arcebispo de toda a Irlanda, concede a Kildare
autonomia total. O fogo sagrado de Kildare foi mantido aceso até 1220, quando o
arcebispo Henry de Dublin ordena, para desespero da população, que fosse extinto.
Posteriormente a chama sagrada volta a arder, até que Henrique VIII e a Reforma
Protestante mandaram eliminar o Kildare.
A "Vita Brigitae" afirma que a Santa Brigida morreu em 1 de fevereiro de 525, dia de
celebração da Deusa Brighid.
Durante a Idade Média o culto a Santa Brigida se estendeu por todas as Ilhas Britânicas e
grande parte da Europa. Inclusive na Espanha a veneravam em pequenas capelas em
Navarra e em Andalucia (Breeze, 1988).
A CRUZ DE BRIGID
As práticas e costumes referentes a Brigid ainda hoje são muito populares na Irlanda e na
Escócia, especialmente na zona rural. A cruz de Brigid é feita de palha de trigo, um
poderoso símbolo solar que é fixado nos telhados e no interior das casas e nas portas dos
estábulos para proteção dos lares e do gado.
Nas ilhas de Aran (Irlanda) essas cruzes se conservavam a vida toda, as quais serviam de
um dato importante para se poder deduzir a antiguidade da vivenda, devido precisamente
ao número de cruzes acumuladas. Para confeccionar as cruzes deviam entrelaçar as palhas
da esquerda para a direita, seguindo o curso do sol.
Faça você mesmo sua Cruz de Brighid
Esta cruz pode ser feita com galhos, junco ou material natural flexível.
Siga os passos de acordo com a figura:
1. Divida o material em dois conjuntos de galhos, colocando-os um sobre o outro,
perpendicularmente, exatamente na metade.
2. Dobre e trance o primeiro galho sobre o último (ficará paralelo ao primeiro).
3. Dobre e trance o galho seguinte sobre o último seguinte (ficará paralelo ao segundo
galho).
4. Continue a dobrar e trançar os galhos até ficar satisfeito com a sua arte. O centro da
cruz apresentará uma tecedura de agradável apresentação.
5. Por fim, com lã ou fibras naturais, prenda o conjunto para que fique firme e o trançado
não se desfaça.
Outro costume bem popular é o de a invocar sempre que é colocado fogo na lareira. Nas
ilhas de Hébridas, dizem que Santa Brígida protege especialmente as mulheres que vão
dar à luz. Em Ulter, quando um a mulher está para dar à luz, a parteira coloca um cruz da
Santa Brigida nos quatro cantos da casa e depois canta os seguintes versos:
FOUR
CORNERS TO HER BED,
F O U R A N G E L S AT H E R H E A D .
M A R K , M AT T H E W , L U K E
GOD
AND
JOHN;
GOD
B L E S S T H E B E D T H AT S H E L I E S O N .
NEW
MOON, NEW MOON,
GOD
B L E S S T H I S H O U S E A N D FA M I LY
BLESS ME.
(D A M E S , 1992: 257).
OUTRAS ASSOCIAÇÕES
Além de estar diretamente ligada ao elemento fogo, associa-se também a água e à cura.
Muitas fontes da Irlanda são a ela dedicadas. A absorção deste elemento pela fé cristã, só
comprova a sobrevivência de Brighd, na forma de Deusa e não tão somente como santa.
Suas vacas produziam um lago de leite e proporcionavam alimentos inesgotáveis. Mas ela
punia com muito rigor quem as roubasse, geralmente através de afogamento ou
escaldamento. Através da magia, Brigid multiplicava anualmente a sua produção de
manteiga.
Ela também estava ligada à produção e consumo da cerveja, bebida muito apreciada pelos
celtas.
Reza a lenda que, com uma só medida de malte, Brígida era capaz de produzir cerveja a
todos os que a pedissem. Um milagre associado a Cristo, aqui vemos adaptado à realidade
celta.
EPÍTETOS DA SANTA BRÍGIDA
Vejamos alguns deles: Brighid do Oeste; Do pequeno povo das fadas; da Profecia; Da tribo
do Manto Verde; Das Hostes Imortais; da Doce Melodia; Da Harpa; Mãe das Canções e da
Música; Do Amor Puro; Criadora das Ondas; Senhora do Mar; Da Tríplice Chama.
DIA DE BRIGID - "IMBOLC"
BRIGID também foi vista como uma deusa ligada ao ciclo anual. Ela presidia o começo da
primavera, que, no ciclo dos antigos festivais do fogo, começava na véspera de primeiro de
fevereiro, Imbolc, ou o Dia de Brigid.
A palavra Imbolc significa literalmente "dentro do ventre" (da Mãe). A semente que foi
plantada no Solstício de Inverno está se desenvolvendo. Esta festa é chamada de "Dia de
Brigid" em honra a Deusa irlandesa Brigid.
Suas festas eram repletas de fogos sagrados, simbolizando o fogo do nascimento e da cura,
o fogo da força e o fogo da inspiração poética.
Brigid é a noiva sagrada, e seu templo é o santuário do fogo divino, o qual representa o
fogo do sol. Seguindo a tradição celta, deixe o fogo de sua lareira queimar completamente
na véspera do dia de Brigid. Na manhã seguinte, prepare uma fogueira com cuidado
especial. Pegue nove (ou sete) pequenos galhos, tradicionalmente de tipos diferentes de
árvores e os acenda. Então, prepare a fogueira com os galhos acesos, enquanto declama
três vezes:
Brigid, Brigid, Brigid, a chama mais brilhante!
Brigid, Brigid, Brigid, nome sagrado!
Um outro costume do dia de Brigid é plantar uma árvore frutífera.
A Igreja incorporou este o dia de Brigid como sendo a Festa da Purificação da Virgem
Maria.
No paganismo esta é a época em que a Grande Mãe volta a ser novamente a Jovem Deusa
Solteira.
Uma lenda escocesa, relaciona Brigid com Caileach. Esta última, era também conhecida
como a Carline ou Mag-Moullach e era o aspecto da velha deusa no ciclo anual. Estava
ligada às trevas e ao frio do inverno e assumia a direção no ciclo das estações em
Samhaim, a véspera do primeiro de novembro. Ela portava o bastão negro do inverno e
castigava a terra com frias forças contrativas que ressecavam a vegetação.
Com o fim do inverno, ela passava o bastão do poder para Brigid, em cujas mãos ele se
tornava um bastão branco que estimulava a germinação das sementes plantadas na terra
negra. As forças expansivas da natureza começavam então a se manifestar. Por vezes, essas
duas deusas eram retratadas em batalha pelo controle das forças da natureza. Dizia-se até
que Cailleach aprisionava Brigid sob as montanhas no inverno. Mas o melhor modo de
reconhecê-las é vê-las e considerá-las como duas facetas de uma deusa tríplice das
estações: a Velha Cailleach do Inverno, a Donzela Brigid da Primavera e a Mãe-deusa do
viço do Verão e da frutificação do Outono.
No Festival de Imbolc é costume, no final da tarde de véspera, se colocar velas (laranja),
em todas as janelas da casa e deixá-las acesas até o amanhecer. Também deve anteceder às
festividades, um ritual de purificação e limpeza da casa. A celebração também envolvia a
feitura de uma Boneca Noiva com as últimas gavelas de milho do ano anterior. Podemos
conceber aqui a Deusa Brigid com atributos da Deusa do milho.
Por meio do ciclo dos Festivais do Fogo (Samhain, Imbolc, Beltane e Lammas), os antigos
povos celtas celebravam as diferentes energias da roda do ano. Isso era vivido
especialmente como o poder do fogo manifestando-se em diferentes níveis.
Brigid chega em nossas vidas portando a chama da inspiração. Você está sem energia?
Falta-lhe motivação? Está tão perdido que não sabe que rumo tomar? Você sonha com
algo, mas não se sente com coragem de realizá-lo? Esta é a hora e a vez de alimentar sua
totalidade e interioridade com a centelha energética da Deusa Brigid.
Ela nos diz que uma vida sem o calor de sua chama de inspiração é totalmente insípida.
Abra seu coração e permita que a inspiração seja o alimento de sua alma, para que você
possa se tornar mais segura (o) e energética.
Ritual para Brigit e a família.
Precisará de:
Uma vela vermelha.
(Deve ser nova e feita de cera vermelha pura. Não use uma vela
branca
coberta por cera vermelha. Use esta vela somente para Brigid)
Quatro pães.
Um copo grande de leite.
Um xale branco, feito de lã
Dois copos. Um com o leite, o outro vazio.
Dois pratos. Um com os quatro pães.
Fósforos.
Este ritual deve ser feito pela mulher da casa, mas pode ser feito
por qualquer um que é o "chefe" da sua casa. Se você sente-se
confortável, tente falar as palavras em Irlandês. Estas
invocações e
rezas foram escritas por Robert Kaucher mas são baseadas em rezas
e
poemas tradicionais e fazem parte da tradição celta desde a
época
pagã.
Ajoelhe-se em frente à vela com suas mão abertas no gesto de
invocação. Imagine o espírito brilhante de Brigid em seu aspecto
triplo. A Brigid no centro é uma guerreira. Ela é a defensora
da casa
e a lareira. Está escrito que na batalha de Allen (Irlanda - 772)
ela
apareceu sobre os guerreiros de Leinster como uma Deusa da Guerra e
destruiu as forças inimigas. Em sua mão esquerda ela está
segurando
uma lança, na outra ela tem uma chama.
Fale:
Tógfaidh mé mo thinne inniu
i láthair na nDéithe naofa neimhe,
i láthair Bríd is áille cruth,
i láthair Lugh na n-uile scéimh,
gan fuath, gan tnúth gan formad,
gan eagla gan uamhan neach faoin ngréin,
agus NaohmMháthair dom thearmann.
A Dhéithe, adaígí féin i mo chroí istigh aibhleog an
ghrá
Dom namhaid, do mo ghaol, dom chairde,
don saoi, don daoi, don tráill,
ón ní ísle crannchuire
go dtí an t-ainm is airde.
Tradução:
Eu construo meu fogo hoje
na presença dos Deuses Sagrados do Céu.
na presença de Brigid da forma bonita
na presença de Lugh de todas as belezas
sem ódio, sem inveja, sem ciúmes,
sem medo ou horror de ninguém sob o sol
porque meu refugio é a Mãe Sagrada.
Ó Deuses, acendam o fogo de amor dentro do meu coração,
por meus inimigos, por meus parentes, por meus amigos
pelo sábio, o ignorante, e o escravo
da coisa mais humilde
até o nome mais alto.
(-Baseado num poema tradicional; é possível achar o original em
Na Duanaire)
Acenda o fogo, levante o fósforo, como se fosse o fogo divino dos
Deuses, baixe o fósforo e acenda a vela.
Invocação de Brigid:
O povo fala:
A Bhríd bheannaithe
's a Mháthair Déithe
's a Mháthair Daoine.
Go sábhála tú mé
ar gach uile olc,
Go sábhál tú mé
idir anam is chorp.
Tradução:
Ó Brigid abençoada,
Mãe de Deuses,
Mãe dos Homens,
Me salva de cada mal,
Me salva, alma e corpo.
A sacerdotisa coloca seu xale sobre a cabeça e fala:
A Bríd bhuach, Glaoim (Glaomaid) thú, a Bhandia Mhór, ó
do áit leis
na Tuatha Dé Dannan.
Banfhile na nDéithe,
Cosantóir an Teallaigh,
Banbhreitheamh na bheatha
Tradução:
Ó Brigid vitoriosa, Chamo (Chamamos) você, Grande Deusa, de
seu
lugar com as Tuatha Dé Dannan.
Poetisa dos Deuses
Defensora da Lareira
Juíza da Vida
A sacerdotisa oferece o leite, colocando-o no copo vazio perto da
vela. Agora ela coloca três pães no prato para o pão e
coloca o prato
perto da vela. Ela fala uma simples reza pedindo à Deusa a
aceitar a
oferta do leite e pão. Depois ela fala uma reza para abençoar o
resto
do pão e leite que os participantes vão dividir. Com seus
braços
cruzados sobre o peito ela fala:
Ó Deusa Brigid,
Prepara nossas corações
Para que amor possa viver.
No mundo escuro
Deixa-nos sempre ter tua Luz.
Deixa tua capa
cobrir essa família,
No meio do inverno
Deixa teu fogo esquentar.
Nossas vidas são uma vida
Nossos sonhos, um sonho só.
Deixa meu povo dividir na vida
e sempre conhecer tua bondade.
(Ó Mãe de Deuses)
Defenda-nos com teu escudo
Vigia-nos com teu olhos.
Deixa meu povo ser teu povo,
Seja no mar ou na terra.
O cordeiro sempre correrá para a ovelha,
O passarinho sempre chorará por comida,
O bezerro sempre procurará a vaca,
A Brigid sempre será conosco.
A sacerdote toma um pouco do leite e pão, e passa-o para os outros
participantes. Eles bebem e comem o pão.
Deixe a vela acesa por algum tempo. Depois, a sacerdotisa ajoelha-se
em frente a vela com as mão abertas. Ela faz uma reza de
agradecimento para Brigid. Depois fala assim:
Coiglím an tine seo leis na fearta a fuair na Draoithe.
Na Déithe á conlach, nár spiúna aon námhaid í.
Go ndéana Bríd díon dár dtigh,
dá bhfuil ann istigh,
dá bhfuil as amuigh.
Claímh Nuadha ar an doras
go dtí solas an lae amárach.
Eu apago este fogo com os poderes dos Druidas
Os deuses guardam-no, nenhum inimigo disperse-o.
Brigid seja o teto sobre nossa casa
Para todos dentro
E para todos fora.
A espada de Nuadha na porta,
Até a luz da manha.
Extinga o fogo. Todos falam:
Slán leat, a Bhríd!
O ritual acabou. Todos se abraçam e falam:
na Déithe dhuit
ou
Beannacht na nDéithe ort.
Retirado de Creideamh- um caminho Celta
Bibliografia consultada (Para todas as Deusas celtas postadas neste site)
DEUSA CAILLEACH
Cailleach é a Anciã ancestral da Escócia, também conhecida como a Carline ou MagMoullach, representado o aspecto de velha da Deusa no ciclo anual. Esta ligada às trevas e
ao frio do inverno e assumiu a direção no ciclo das estações em Samhaim, a véspera de
primeiro de novembro. Ela portava um bastão negro do inverno e castigava a terra com
frias forças contrativas que ressecavam a vegetação. Com a aproximação do fim do
inverno, ela passava o bastão do poder para Brigid, em cujas mãos ele se tornava branco
que estimulava a germinação das sementes plantadas na terra negra. As forças expansivas
da natureza começavam então a se manifestar.
Por vezes, essas duas deusas eram retratadas em batalha pelo controle da natureza: diziase até que Cailleach aprisionava Brigid sob as montanhas no inverno. Mas o melhor modo
de vê-las é como duas facetas de uma deusa tríplice das estações: a Velha Cailleach do
Inverno, a Donzela Brigid da Primavera e a Deusa-Mãe do viço do Verão e da frutificação
do Outono. O nome do último membro dessa trindade não foi preservado na lenda
folclórica com o mesmo cuidado. Talvez porque ela representava uma faceta demasiado
pagã da Deusa, vinculada demais com a fecundidade e com as forças sexuais da vida. Em
um certo sentido, a figura Cailleach-Brigid, pode ser considerada como tendo um paralelo
com o mito Deméter-Perséfone dos gregos antigos.
A imagem de Cailleach foi distorcida e hoje ela está representada no vôo da bruxa que
aparece na noite de Halloween. Foi caracterizada como uma fada do mal que traz consigo
o inverno e a morte. Apesar de ser perpetuada deste modo terrível, sabemos que neste
aspecto de Deusa Anciã, ela está inteiramente realizada em sabedoria e beleza.
Cailleach era tida como uma grande feiticeira e para obter suas bênçãos os fazendeiros
após as colheitas deviam reverenciá-la. Para tanto, o primeiro fazendeiro que terminasse
sua colheita, deveria se ocupar na feitura de uma boneca de palha com os últimos grãos
colhidos. A boneca pronta, deveria passar para o segundo granjeiro e assim por diante, até
chegar no último. Esse, deveria guardá-la até o dia da celebração do festival de Brigid.
Na Escócia foi chamada originalmente de Caledonia ou a "terra doada por Cailleach".
Para os escoceses, Cailleach era aquela que cujo bastão negro, separava as montanhas,
mudava a paisagem, previa o crescimento das ervas e comandava o tempo. Seu nome aqui,
pode estar relacionado com a deusa hindu Kali.
Ficou conhecida também, como "Mulher de Pedra", porque era vista andando e
carregando uma cesta cheia de pedras. Ocasionalmente deixava cair algumas, formando
círculos de pedras. As montanhas também teriam sido criadas por pedras que a Deusa
deixou cair da cesta.
Cailleach representava a terra coberta de neve e geada. Era uma Deusa da Transformação
e guardiã da semente, que conserva dentro de si a força essencial da vida.
Era a Bruxa do Inverno que voava montada no dorso de um lobo, de um pico de
montanha a outro. Seu rosto apresentava uma coloração azul escuro e possuía apenas um
olho no centro da testa.Com este único olho, via além da dualidade e reconhecia a unidade
de todas as coisas. Esboçava ainda, um sorriso vermelho de dentes de urso selvagem com
presas de javali e seu cabelo era feito de um matagal coberto de geada. Vestia uma roupa
de cor cinza e uma capa de lã escocesa lhe envolvia os ombros. Quando violentas
tempestades se formavam por trás das montanhas, dizia-se que Cailleach preparava-se
para lavar sua capa (plaid). Fortes ruídos eram ouvidos por três dias, tempo necessário
para que seu caldeirão fervesse e pudesse iniciar a tal lavagem. Sua capa (plaid)
representava a Terra. Quando ela ficava branca, a Terra cobria-se de neve. Somente em
Samhaim, Cailleach deixava as montanhas e caminhava sobre a Terra. Em seguida,
voltava aos afazeres em sua lavanderia.
É um pouco duro trabalhar com a energia de Cailleach, principalmente por sua aparência
causar um certo medo. Nas meditações Ela aparece fisicamente como descrevi acima. Mas
seu poder é muito grande e costuma punir nosso desrespeito para com Ela com inundações
e desastres naturais. Se a tratar do modo correto e respeitoso, esta Deusa lhe dará
soberania sobre sua vida, pois é considerada uma Deusa Soberana que dava aos reis o
direito de governar suas terras. Além disso, Cailleach nos passa um tipo especial de poder
e muita confiança.
Dizia-se que ela aparecia nas estradas como uma Mulher Anciã que pedia para um herói
deitar-se com ela, se ele concordasse, transformava-se em uma linda mulher. Ao beijar a
bruxa, ela transformava-se em uma bela fada.
Na história chamada as aventuras dos filhos de Eochaid Mugmedn, cinco irmãos saem
para caçar na floresta para provarem que são corajosos. Acabam perdidos e acampam
entre as árvores. Acendem uma fogueira e cozinham suas caças para matar a fome. Um
dos irmãos é então encarregado de procurar água. Ao chegar perto de um poço, encontra
uma bruxa monstruosa guardando-o. Somente lhe fornecerá a água se beijá-la. O rapaz
foge correndo e vai contar aos irmãos o ocorrido. Um a um, os irmãos vão até o local do
poço, mas acabam fugindo, sem beijar a bruxa, com exceção de Niall que lhe dá um
abraço e o beijo que a mulher tanto ansiava. Quando se afasta e a olha novamente, tinha
se tornado a mulher mais bonita do mundo. Surpreso, pergunta-lhe a causa para tanta
transformação e ela responde:
- "Rei de Tara, eu sou a Deusa Soberana" e continua,"tua semente estará sobre todo o
clã".
Aparecendo em seu aspecto repulsivo, a Deusa podia testar quem deveria ser um
verdadeiro rei, um que nunca será enganado pelas aparências e sabe que é nos recantos
mais escondidos e obscuros que se encontra os maiores tesouros. Tem que ser ainda, um
homem caridoso que submete-se a qualquer tipo de situação, independente da compaixão.
Sobretudo, é beijando seu lado escuro, que compreenderá os mistérios da vida e da morte,
compreendendo que são dois lados de uma mesma moeda, só assim adquirá sabedoria e
capacidade para governar seu reino.
Cailleach estava sempre renovando-se ciclicamente de jovem à mulher madura. Relata-se
que tenha tido pelo menos cinqüenta filhos enquanto viveu pela terra. Seus filhos deram
origem a tribo de Kerry.
Há muitas histórias sobre a Deusa Cailleach. Conta-se que foi ela que criou as ilhas
Hébridas Interiores.
Como Deusa da Tempestade é conhecida como Cailleach Beara, sendo o ser mitológico
vivo mais antigo associado à Irlanda. Em uma conversação com Fintn, o Sábio, e o falcão
Achill, lhe foi perguntado:
-"É a Senhora àquela que comeu as maçãs no início do mundo?". Tal pergunta era
coerente em virtude das maçãs estarem associadas com a imortalidade e se constituírem o
alimento dos Deuses. Cailleach, deste modo, estava ligada intimamente, as colheitas de
maçãs, nabos, assim como: aos corvos, à Lua Escura e ao número 7 (sete). O "Livro de
Lecan" nos diz que sete formam seus ciclos de vida, morte e renascimento. Sete é um
número sagrado, símbolo da perfeição.
No folclore da Irlanda e da Escócia, era chamado de cailleach o último feixe colhido da
plantação. Ele obrigatoriamente deveria ser dado como alimento para os animais
domésticos, ou ser enterrado na terra, para que lá permanecesse durante todos os meses
do inverno. As moças solteiras temiam serem elas à amarrar este último maço, pois se isso
acontecesse, acreditavam que jamais casariam. Na Escócia, há também uma tradição
folclórica que envolve amarrar o cailleach (feixe) com uma fita e pendurá-lo no alto da
porta principal da casa.
É chamada de Carlin nas planícies da Escócia, Bruza de Baare ou Cailleach Bhuer
(Mulher Azul) nas montanhas e Cally na Irlanda do Norte.
Suas árvores sagradas são o azevinho e o urze.
MISTÉRIOS OBSCUROS DA DEUSA
Os Mistérios Obscuros tratam da natureza oculta das coisas e da essência secreta tanto das
coisas físicas como das espirituais. O mito dos Mistérios Obscuros se reflete em mitos como
os de Deméter e Perséfone, mas também em Cailleach e Brigid. Cailleach seria associada à
Perséfone, que representa a semente que desce às trevas, para que sua energia e juventude
seja despertada. Como terra, Cailleach representa a força misteriosa que faz a semente
hibernar durante o inverno, para depois despertá-la e conduzi-la à renovação na
Primavera.
Nos Mistérios Ocultos, a Deusa Cailleach aparece como Aquela que traz a Vida e a Morte,
é a Criadora e Destruidora. É ela que cria as tempestades, a chuva e o orvalho, os quais
podem tanto ser benéficos quanto destrutivos, especialmente para as comunidades
agrícolas. E, do mesmo modo que a Deusa envia a água, ela envia para nós mulheres o
fluxo do sangue menstrual. Encontramos sempre nos líquidos a presença mística da Deusa.
Pois saiba, que a ligação essencial dos Mistérios da Deusa com as mulheres sempre
ocorrerá através dos fluidos, seja simbólica ou fisicamente. O inconsciente está associado
ao elemento água, assim como as emoções em geral, e estas por sua vez estão associadas à
natureza feminina.
Onde os Mistérios Femininos não refletem a psique de algum modo, eles podem ser
encontrados em associações com os fluidos corporais das mulheres. Um dos aspectos da
Antiga Religião era o de objetos serem abençoados através do contato ou inserção na
vagina de uma mulher nua deitada sobre o altar. Esta antiga prática foi distorcida pelos
princípios judaico-cristãos e transformadas em obscenidades pervertidas.
O corpo da mulher na sociedade matrifocal era considerado um altar vivo, pois possuía o
poder de dar a luz e alimentar uma nova vida. O sangue menstrual, chamado de sangue da
Lua, era utilizado como marcas rituais em cerimônias de iniciação e ritos. O sangue até
hoje é usado em rituais de índios americanos, que costumam unir seu sangue ao de outro
para criar vínculo entre os dois. Assim sendo, a Suma Sacerdotisa do clã podia unir as
almas de todos os membros através do sangue menstrual. Ungir os mortos com sangue
menstrual era assegurar seu retorno à vida. É graças a estas remotas associações que hoje
o vinho é visto como o Sangue de Deus.
O maior dos Mistérios Obscuros está concentrado no Sangue Menstrual, use-o em seus
rituais.
CÍRCULO DE PODER
Este ritual deve ser realizado à meia-noite, na Lua Nova mais próxima ao Solstício de
Inverno. Se possível realize-o em meio a um ambiente natural para aumentar seu poder.
Comece preparando seu espaço para o ritual. Apanhe da natureza pedras lisas para criar
o seu círculo. Este será seu círculo de poder. Acenda uma tocha (ou vela preta) no centro
do círculo. Em seguida, com mais pedras, molde um segundo círculo em torno do
primeiro, deixando espaço suficiente para que você possa entrar e sair um do outro.
Volte ao círculo inicial. O fogo já purificou este espaço. É hora de iniciar o ritual
chamando os quatro elementos. Eleve os braços e feche os olhos. Inspire e expire
profundamente até sentir-se completamente relaxada. Esvazie a mente, firme bem os pés
na terra e enraize-se nela. Sinta a energia que começará a entrar pela planta de seus pés e
preencherá seu corpo com uma sensação agradável. Agora busque a energia do Céu, que
através de faíscas luminosas entrarão pelo seu chakra cardíaco. Encha-se desta energia. É
hora que começar a liberar todos os seus medos, para tanto deve passar para o segundo
círculo.
Lá chegando, pergunte-se: Quais são meus medos? De que forma eles estão atrapalhando
minha vida? Meus medos são pedras que foram colocadas em meu caminho para me
ajudar a crescer? Permita-se então envolver-se em seus medos. Sinta-os em seu corpo. Que
parte do seu corpo lhe dá mais medo? De que modo o sente? Observe sua respiração. É
lenta ou rápida? Permaneça o tempo que necessitar, o importante é você liberar todos os
seus medos e prendê-los dentro de seu corpo. Com todos eles presos, volte para dentro do
Círculo de Poder, dizendo:
Eu acessei todos os meus medos,
Eu os sinto crescer dentro de mim,
O Círculo do Poder agora,
Os irá levar embora.
Novamente aterre-se com a planta dos pés e conecte-se com a energia que vem do Céu.
Encha-se de energia. Observe como seu corpo se comportará. E sua respiração, como está?
O que ocorreu quando mudou de círculo? Em que seu sentimento de medo se
transformou? Permaneça neste círculo até sentir-se totalmente recarregada. Volte então ao
círculo anterior e continue a chamar seus medos. Refaça este processo até ter trabalhado
todos os seus medos. Se você possui medos muito interiorizados, como fobias, deve realizar
freqüentemente este ritual.
DEUSA MODRON
Modron (Grande Deusa Mãe) é uma Deusa céltica similar a Deusa grega Deméter.
Etimologicamente, Modron é a "Matrona", cujo nome (Modr em galês) é o do rio Marne
(rio da França), igual ao nome genérico de todas as Deusas Mãe que se observava nas
estátuas da época galo-romana.
A tradição galesa fala, algumas vezes que Modron é mãe dos gêmeos Owein e Morvud,
outras vezes fala de um filho único. Esse filho único não deixa de ser misterioso, pois tratase de Mabon.
Mabon é o Deus Sol celta da profecia e está ainda, associado à caça selvagem ou à caça
ritual. Igual a Deusa Perséfone, foi roubado de sua mãe com três dias de idade. Sua saga é
contada na narração galesa "Kulhwch y Olwen", cuja origem é muito antiga.
Modron é também muito citada nos textos mitológicos galeses. Uma Tríada referida a
"três portas benditas da Ilha da Bretanha" cita a "Owein, Morvud, e Modron. Morvud,
que algumas vezes aparece como irmã de Modron, é, segundo outra Tríada, uma das
mulheres mais amadas pelo rei Arthur. No entanto, sua amante é Kynon ab Klydno.
Ela é ainda, neta do Deus Belenus e filha do rei de Avalon, Avallach, onde mora com suas
irmãs e cuida da terra. Associada à soberania da terra, é feiticeira e curadora, e protege as
nascentes sagradas, fontes, artesãos e artistas. Seus símbolos mágicos são as crianças, as
flores e frutas, e ela incorpora a força da vida e a fertilidade, bem como a maternidade e as
energias criativas da natureza.
A indicação de Modron, filha de Avallach, que é o nome galês de Avalon, nos conduz
estranhamente à Morgana, rainha e sacerdotisa da ilha de Avalon: não podemos nos
esquecer que, segundo "Vita Merlini", Morgana conhece a arte de trocar de aspecto de seu
rosto e voar através dos ares, coisa que a Deusa Modron também é capaz de fazer.
Tanto Morgana quanto Modron, têm a capacidade de transformar-se em pássaros e
sempre estão acompanhadas de suas irmãs, que podem tomar o mesmo aspecto que elas.
Aqui fica a dúvida se Morgana e Modron sejam o mesmo personagem.
DEUSA CORVO
Os Corvos de Owein (País de Gales):
"O rei Arthur e Owein ab Uryen jogavam uma partida de xadrez. Durante esse tempo, os
servos de Arthur se divertem perseguindo e massacrando os corvos de Owein. Por três vezes
Owein pede ao rei que ordene a seus servos para parar o massacre. Arthur se nega a
abandonar o jogo. Então Owein disse a um dos seus que levante o estandarte e inicia-se uma
batalha. Os corvos de Owein se precipitaram contra a gente de Arthur, massacrando-os um
atrás do outro. Por três vezes Arthur pede a Owein que faça cessar o massacre. Owein se
nega a abandonar o jogo. Finalmente, ordena baixar a bandeira e se restabelece a paz". (O
sonho de Rhonabwy, Joseph Loth, Mabinogion, I, 365-371).
Owein é um dos filhos da Deusa Modron que possui um exército de corvos, que nada mais
são que as irmãs de sua mãe, ou seja, mulheres fadas capazes de transformarem-se em
pássaros. A narração que se seguem vai complementar essa teoria:
Didot-Perceval (relato cortês):
Perceval se bate contra um tal Urbain e está a ponto de vencer-lhe. Então vê aparecer um
bando de pássaros mais negros que nada que houvera visto jamais. Os pássaros lhe atacaram
com violência, esforçando-se por defender a Urbain. Perceval mata um dos pássaros, o qual,
ao cair, se transforma em cadáver de uma moça. Urbain lhe explica que se trata das irmãs de
sua esposa Modron, que têm o poder de transformar-se em pássaros. (Edição de Roach,
versos 200-ss)
O personagem de Urbain em Didot-Perceval, não é difícil de identificar: é "Uryen ab
Cynfarch, em galês moderno.
Esse Uryen, tão celebrado pelos poeta, sobretudo por Llywarch-Hen e Taliesin, como o
guerreiro temido por excelência, era chefe dos bretões do Norte (região de Strathalyde e
Glasgow), é o rei Urien indicado por Chrétien de Troyes como um dos cavaleiros da Távola
Redonda, e pai de Yvain, ou Owein.
A conclusão do relato também não é difícil de entender: Urbain sendo o pai de Owein é
defendido pelos famosos Corvos de Owein, um bando de pássaros negros, que protegem
tanto o filho como o pai.
Já em relação a Owein, é provável que não designe outro personagem do que Mabon, ou
vice-versa, pois é o Filho.
A BUSCA DE MABON
Na narração "A Busca por Mabon", cabe ao herói Culhwch (Kulhwch) encontrá-lo, pois é
uma das tarefas que deve realizar para conseguir a mão de Olwen em casamento.
Para essa aventura, levou junto: Gwrhyr, que era um excelente tradutor da língua dos animais
e o rei Arthur.
Ao seguir caminho para cumprir a missão, Gwrhyr questionou um melro de peito branco:
-"Você sabe alguma coisa de Mabon, filho de Modron, que lhe foi roubado com três dias de
vida?"
Mas o pássaro apesar de velho, disse que nada tinha visto, mas que perguntassem para o veado
de Rhedynfre, que já tinha vivido mais tempo que ele e talvez soubesse algo.
Ao ser consultado o veado respondeu:
-"Quando cheguei aqui, era o único veado galhado e nenhuma árvore crescia, com exceção de
uma única árvore de carvalho. A árvore de carvalho cresceu e inúmeras outras surgiram a sua
volta. Entretanto, apesar de ter aqui passado tanto tempo, nunca ouvi falar do homem que
procuram. Mas sei que mais velho que eu é a coruja".
O veado então conduziu-lhes à coruja de Cwm Cawlwyd. Gwrhyr, voltou a indagar se ela tinha
visto Mabon. A coruja respondeu-lhe:
--"Quando aqui cheguei, esse vale grande que você vê era estreito e arborizado. Então a raça do
homem veio para destruí-lo. Mas, um tempo depois, uma nova floresta cresceu por cima. Essa
floresta que você vê hoje já é a terceira. Quanto a mim, minhas asas desgastaram e não consigo
mais voar. Embora já tenha vivido tanto, nunca ouvi falar do homem que você procura. Mas sei
de uma criatura, a mais velha do mundo e quem viajado muito mais que eu, que poderá lhe
ajudar."
A coruja levou-os até à águia de Gwernabwy. Gwrhyr perguntou à águia:
-“Você sabe qualquer coisa de Mabon, filho de Modron, que foi roubado de sua mãe
quando tinha três dias de vida?”
A águia respondeu:
-"Eu vim para cá há muito tempo, mas não ouvi falar do homem que você procura, exceto
quando fui caçar meu alimento no lago Llyw. Lá enfiei minhas garras em um grande
salmão, esperando que me alimentaria por diversos dias. Em vez disso, arrastou-me para
dentro da água e eu mal consegui escapar. Eu fui atrás de todos meus parentes para tentar
destruí-la, mas ele pediu paz e veio nos encontrar com cinqüenta peixes espadas. Talvez
esse salmão saiba algo sobre o homem que procura. Vou levá-lo até ele."
Ao ser indagado, o salmão disse que nadando rio acima para alimentar-se, perto de Kaer
Loyw, ouviu lamentos que nunca havia escutado antes. Propôs então, levá-lo nos ombros
até o local.
Assim, Kai e Gwrhyr montaram no ombro do salmão e chegando próximo a um castelo,
ouviram gemidos e terríveis lamentos vindos de dentro das paredes. Gwrhyr perguntou:
-"Quem é que está gemendo desse jeito?"
Ouviu então a resposta:
-"Aliás, há uma razão para tão terríveis lamentos. Mabon, filho de Modron, está aqui
prisioneiro."
Gwrhyr volta a perguntar:
-"Existe esperança de podermos libertá-lo em troca de algum resgate?"
E foi respondido:
-"Não, só pela força conseguirei escapar."
Gwrhyr então voltou para contar o ocorrido ao rei Arthur. Esse, reuniu seus homens,
atacou o castelo e conseguiu libertar Mabon, que foi encontrado em uma prisão
subterrânea. Devemos acrescentar, que a prisão de Mabon se encontra em Kaer Loyw, que
significa "Cidadela da Luz" e só lhe liberam graças a um veneno, o que equivale a um
verdadeiro "regressus ad uterum", uma regeneração pela mãe.
Chamado de o "Filho da Luz" ou o "Filho Divino", Mabon representa a plena juventude,
o sexo, o amor, a magia e adora pregar peças. Associado a Myrddin e posteriormente a
Cristo, seus símbolos são o javali, as nascentes minerais e a lira.
MABON, A DIVINA "CRIANÇA INTERIOR"
Mabon, como toda a Criança Divina", passou pouco tempo junto de sua mãe, conforme a
narração, três dias, pois é raptada e colocada num local úmido, escuro e subterrâneo de
um castelo, que muito lembra o útero da Grande Mãe Terra.
Confirma-se assim, que toda a Criança que se destina a algo grande, necessita de um
segundo parto no santuário da Grande Mãe, enquanto é equipado com as capacidades
extraordinárias e as forças que precisa para cumprir suas árduas tarefas. Tal criança,
portanto, precisa receber o sopro vital da Mãe Divina e este é o motivo pelo qual, devem
ser afastadas de suas verdadeiras mães, mas nunca para serem aniquiladas e sim serem
salvas. Sua salvação não está ao alcance de sua mãe biológica.
Entretanto, o relacionamento primal com sua mãe, jamais será esquecido. Mesmo que mãe
e filho se dispersem, se separem, as vivências, as recordações permanecem, pois o filho é
um pedaço de sua mãe e nunca seu destino a deixará indiferente.
O que todos nós precisamos, assim como a Criança Divina, é alguma vez na vida
experimentar como uma pessoa se sente quando é amada. E, se nenhuma pessoa estiver
disposta a nos proporcionar essa experiência, então precisamos aprender a amar à nós
mesmos.
Entretanto, muito embora a Criança Divina, seja tratada de um modo especial, isso não
quer dizer, que não terá dificuldades na vida adulta, pois quanto mais importante é o
personagem, tanto mais arriscada será a sua existência. É como se ela precisasse
primeiramente dar provas de sua missão conforme o lema: "o que não me mata me
fortalece".
A lenda do Deus Mabon representa, em um sentido mais pessoal, a capacidade de superar
as dificuldades, de suportar as dificuldades e aprender com elas, para renascermos como
pessoas melhores.
Mabon é a Criança Divina que dormita em nosso inconsciente e que não pode ser
negligenciada e muito menos afogada com argumentos "racionais", pois ela contêm em si
todo o conhecimento sobre a capacidade de resistir à nova vida. E, quando esse arquétipo
infantil constela dentro de nós, surge também o arquétipo "Mãe", pois não existe filho sem
mãe. E também, o arquétipo "Pai", pois não existe filho sem pai, muito embora os povos
mais antigos não tivessem consciência do fato. Assim, a família está completa, uma
"Família Divina", porque representa a totalidade, o Si-mesmo.
Ao acessarmos nossa Criança Divina Anterior, também devemos cavalgar nas costas do
salmão que nos levará até a entrada de uma gruta muito escura, mas cheia de tesouros. O
"Abre-te Sésamo" para chegarmos até toda essa riqueza é tomarmos consciência da nossa
"criança interior", porém, quanto mais tempo nos demorarmos nessa autodescoberta,
mais nos afastamos de sentir o prazer da felicidade plena.
O POÇO SAGRADO DE MADRON
O poço consagrado à Deusa Modron, que foi cristianizada como Santa Madrun fica em
Cornwall, na Inglaterra.
No trajeto até o poço, encontramos árvores adornadas com muitas tiras de panos
("clouties"). O costume de pendurar tiras de tecidos nas árvores ou arbustos das
vizinhanças de um poço ou fonte sagrada, ainda é bastante difundido na Escócia, País de
Gales e na Irlanda. A idéia desse ritual é rasgar uma parte da roupa do corpo, mas
exatamente do local que está doente. Em seguida, deverá ser atado à árvore. Quando o
pedaço do pano apodrecer na árvore, a enfermidade desaparecerá com ele.
O simbolismo relacionado com a Deusa Mãe foi esquecido quase por completo, desde que
começaram a ser realizados ritos cristãos nas igrejas. Contudo, a veneração da água, que
desempenhou papel importante na antiga religião celta, ainda se conserva em alguns
costumes populares relacionados com os poços sagrados.
Os poços e fontes, são muito visitados com várias intenções, entre elas: com o propósito de
adivinhação, especialmente por moças solteiras, na primeira quinta-feira do mês de maio.
As visitantes confeccionam anteriormente, cruzes com dois pequenos pedaços de palha,
fixados com um alfinete. Tais cruzes devem ser colocadas na água para flutuar. O número
de bolhas que surgirá na superfície, indicará o número de anos de espera para se casarem.
Ou ainda, objetivando a cura de alguma enfermidade. Nesse caso, a pessoa ou criança
deve mergulhar despida (ou traje de banho), três nas águas do poço, estando de frente
para o sol. Em seguida, deve dar nove voltas em torno do poço e depois deitar-se em
qualquer relva próxima para secar-se ao sol. Esse ritual deve ser realizado na primeira
quarta-feira ou domingo do mês de maio e em absoluto silêncio. Quando estiver indo
embora, se o ritual foi realizado para uma criança, deixe uma peça de roupa dela
amarrada em uma árvore próxima.
DEUSA MÃE SOLAR
Modron, como Mãe de Mabon, que encarna o jovem sol, é a Anciã Deusa Solar. Ainda,
como filha de Avallach, está associada com as maçãs, que são as imagens simbólicas do sol.
Já como neta de Belenos, cujo nome significa "Brilhante e tem sua origem na mesma raíz
que Apolo, Deus solar grego, mais uma vez, vemos reforçada sua posição Deusa associada
aos Deuses Solares. Todas essas correspondências, portanto, nos leva a afirmar de que
Modron é, sem sombra de dúvida, uma Deusa Sol.
E, mais ainda, Modron, com seus filhos gêmeos Morwud e Mabon-Owen, parece ser o
equivalente celta da Deusa Leto-Letona com seus filhos Apolo e Ártemis. Isso se confirma
pelo feito que a Grã Bretanha, na Antiguidade, passava por ser o país de nascimento de
Leto. Além disso, Diodoro Sículo demonstra que o templo circular de Stonehege é um
santuário dedicado a Divindade Solar, opinião corroborada por Pomponio Mela.
O fato da Deusa Modron sempre vir acompanhada de pássaros, ou ela mesma ser um
pássaro, sendo o dito pássaro um corvo, lhe rende uma direta associação com Deus Apolo,
pois o corvo é o animal símbolo desse Deus. E, apesar do corvo apresentar a cor negra, é
um símbolo solar. Por outro lado, existem corvos brancos, e o nome da Deusa Branwen
(Corvo Branco), irmã do herói Bran, não nos deixa esquecer.
ENERGIA FEMININA SOLAR
Em períodos mais arcaicos, muitos povos adoravam o Sol como um aspecto da Mãe
Natureza, com as funções de iluminar o mundo, curar os enfermos, vivificar e ressuscitar
os mortos, acalentar o âmbito privado do lar e do Templo, proteger os campos contra
geadas, etc.
Mas como eram essas culturas centradas na mulher e na adoração da Deusa?
Nessas culturas eram amantes da paz, pois junto a elas não haviam fortificações militares,
nem armas. Parece também, não ter havido guerras organizadas em grande escala, apenas
as escaramuças e conflitos pessoais de escassa importância que ocorrem em qualquer
sociedade humana. As armas encontradas, eram pequenos instrumentos pessoais, o que
sugere que seriam usadas primordialmente para defesa.
Aos centros da Deusa faltava também uma estrutura política burocrática, pois as pessoas
viviam em famílias extensas, semelhantes a clãs governado por mães. Não existia
escravatura. As mulheres atuavam como sacerdotisas, artistas, agricultoras e caçadoras de
animais de pequeno porte. Em suam, essas culturas neolíticas da Deusa parecem ter
lançado as sementes para o fascínio dos pensadores ocidentais com a Utopia, não como
uma possibilidade futura, porém, mas como um sonho a respeito de uma realidade que
perdemos.
As sociedades matrifocais podem ter tido, na verdade, as características de uma Idade de
Ouro simplesmente porque a vinculação primária era entre filhos e mães. Como já
salientou o psicanalista Erich Fromm, os filhos devem "conquistar" o amor do pai,
usualmente pela obediência e o conformismo. O amor de mãe é incondicional, o que
engendra boa vontade. As culturas baseadas no amor materno e reforçadas pelos ritos
religiosos em torno da Deusa-Mãe teriam sido sociedades pacíficas, condescendentes,
mantenedoras da vida, baseadas na confiança. A natureza sacrossanta de toda a vida teria
sido realçada, e o comportamento destrutivo, violento, destrutivo, desencorajado. Os
valores humanistas decorrentes da jovialidade natural das relações entre mãe e filho
teriam cimentado muito mais o relacionamento social do que a mera obediência a uma
figura autoritária.
Com a implantação do regime paternalista, toda essa energia feminina solar canalizada na
Deusa, assim como todos os seus símbolos foram considerados demoníacos. O clímax
desses acontecimentos se deu na Idade Média, com a Inquisição, momento em que a
imagem oposta do arquétipo do Cosmo Feminino começou a emergir.
Quando os Deuses Solares tornaram-se heróis todas as Deusas passaram a ser as vilãs, e
muitas velhas histórias foram reescritas. A mitologia sacra começou a refletir um dualismo
desconhecido nos tempos neolíticos. Sol e Céu opostos à Terra e à Lua, coisas que eram
parte da Grande Mãe, incluindo o poder de destruir, o mistério da morte e a escuridão da
noite. Essas polaridades não tinham conotação moral. Não era questão de "Bem" contra o
"Mal", e sim, que todas as coisas tinham aspectos positivos e negativos, todos eles
ingredientes necessários na Grande Roda da Vida Criada.
Com a Criação do Antigo Testamento, a interpretação da história tornou-se então a base
para a autonegação do próprio homem, negação essa que não pode despertar outra coisa
do que espanto e horror, pois a natureza humana e principalmente a mulher são
considerados repulsivos e envenenadoramente maus.
Talvez as palavras mais crassas sejam aquelas do Papa Inocêncio III em "De contemplu
mundi" ("Do desprezo por este mundo", onde ele declara claramente sobre a
humanidade:)
"Formatus de spurcissimo spermate, concetus in pruritu carnis, sanguine menstruo
nutritus, qui fertur esse tam detestabilis et immundus, ut ex ejus contactu frudes non
germinent, arescant arbusta... et si canes inde comederint, in rabiem efferantur."
(Formada do esperma mais imundo, concebida no prurido da carne, alimentada pelo
sangue menstrual, que é considerado tão nojento e imundo que depois de ter contato com
ele, as frutas dos campos já não germinam, os pomares secam... e os cães, se dele comem,
ficam raivosos.) Impressionante!
É uma pena a humanidade ser míope às influências divinas femininas que poderiam
conferir à vida do mortal algum esplendor. Em todo o ser humano há um arquétipo que
personifica a Grande Mãe, e em todo ser humano dormita a sabedoria da Deusa Modron.
Todos podem reivindicar para si a dádiva de Modron, purificada pelo fogo do sofrimento,
com as forças que antes lhe pareciam sobre-humanas para vencer na vida.
O DESPERTAR DA DEUSA MODRON
Modron chega até nossas vidas com sua antiga religião, depois de uma longa apatia, para
trazer à tona poderes latentes, que toda a mulher poderá desenvolver e aplicar na vida,
tanto para sua própria satisfação e vantagem, como para aumentar sua contribuição à
vida em grupo.
Mas, esse passo adiante no desenvolvimento consciente, não acontecerá sem dificuldades e
obstáculos. Para todas as mulheres da sociedade atual, uma vida unilateral não é suficiente
e o conflito entre as tendências opostas do masculino e feminino dentro delas tem de ser
encarado. Não podemos mais restringir o "feminino" àqueles velhos padrões instintivos e
inconscientes. Se as mulheres pretendem ter contato com seu lado feminino Sol, isso
precisa ser feito pelo duro caminho de uma adaptação consciente.
Os problemas de adaptação, surgido da recente consciência da dualidade na mulher, têm
que ser necessariamente tratados sob seu aspecto moderno. A necessidade de reconciliação
dessas duas partes da natureza feminina é um problema secular e é somente em sua
aplicação à vida prática que o aspecto moderno surge. Basta olhar por sob o verniz da vida
contemporânea para se encontrar o mesmo problema num nível mais profundo. Não é um
problema de adaptação da mulher ao mundo do trabalho e do amor, esforçando-se para
dar o mesmo peso a ambos os lados da natureza, mas sim uma questão de adaptação aos
"princípios" femininos (anima) e masculinos (animus) que interiormente governam o seu
ser. Ela tem que se voltar para aquele material subjetivo rejeitado, que para os cientistas
objetivos do século XIX era somente superstição ou questão de humor.
Nós precisamos nos reconciliar com nossas Deusas Solares interiores que representam a
projeção ingênua de realidades psicológicas e que não estão deturpadas pela
racionalização.
RITUAL DA MAÇÃ
A Deusa Modron pode ser celebrada com um simples ritual da maçã, pois essa fruta é
consagrada à ela e seu filho Mabon. A maçã era depositada ao longo dos túmulos
funerários, como forma de honrar os míticos seres que habitam neles. A oferenda de maçãs
também simbolizava o agradecimento das tribos pelas boas colheitas como também eram
ofertadas em respeito aos ancestrais que já partiram para o Outro Mundo.
Existe ainda um antigo costume popular que consiste em beber suco de maçã para atrair o
amor ou aumentar a potência sexual.
Para esse ritual você precisará de apenas uma maçã. Espere até a entrada da primeira
Lua Nova, segure a maçã com as duas mãos e, de pé ou sentada em um local onde possa
estar exposta à luz do sol, recite antes de dar a primeira mordida:
Ó Modron Mãe adorada, Deusa toda poderosa
Honro seu amor, ó formosa
Conceda-me um amor apropriado
Que pelas estrelas me seja enviado.
Ao dar a primeira mordida pense na Deusa. Imagine também a fruta do amor, doce e
úmida, transformando-se em um romance saboroso!
DEUSA EOSTRE
Eostre era a Grande Deusa Mãe saxônica da Alvorada, da Luz Crescente da Primavera e o
Renascimento da Vegetação. Era conhecida pelos nomes: Ostare, Ostara, Ostern, Eostra, Eostur,
Austron e Aysos.
Esta Deusa estava também associada a lebres, coelhos e ovos.
A Deusa Eostre pode relacionar-se com a Deusa Eros grega e a Deusa Aurora romana, ambas
Deusas do Amanhecer, e com Ishtar e Astarte da Babilônia, ambas deusas do amor.
Segundo a Lenda, Eostre encontrou um pássaro ferido na neve. Para ajudar o animalzinho
transformou-o em uma lebre, mas a transformação não processou-se completamente e o coelho
permaneceu com a habilidade de colocar ovos. Como agradecimento por ter salvo sua vida, a
lebre decorou os ovos e levou-os como presente para a Deusa Eostre. A Deusa maravilhou-se
com a criatividade do presente e, quis então, compartilhar sua alegria com todas as crianças do
mundo. Criou-se assim, a tradição de se ofertar ovos decorados na Páscoa, costume vigente em
nossos dias atuais.
Os ovos são símbolos de fertilidade e vida. Uma tradição antiga dizia que se deveria pintar os
ovos com símbolos equivalentes aos nossos desejos. Mas, sempre um dos ovos deveria ser
enterrado, como presente para a Mãe Terra.
A Lebre da Páscoa era o animal sagrado da nossa deusa teutónica da Primavera, Eostre, a Deusa
Lunar que dava fertilidade a terra e tinha cabeça de Lebre. A palavra inglesa para Páscoa,*
Easter, provém do nome da deusa Eostre, também designada Ostara ou Eostar. O dia do culto de
Eostre, a Páscoa (Easter), que ainda é praticado pelos seguidores da tradição celta, é no primeiro
Domingo depois da primeira Lua Cheia, após o equinócio da Primavera, ocorrendo entre os dias
19 e 22 de Março.A Lebre, que é o animal sagrado da deusa da Primavera, é assim, por isso, um
símbolo de fertilidade, de renovação e do regresso da Primavera.
Dizia-se, no
século XVIII (e ainda hoje em algumas regiões), que quem comesse carne de lebre seria belo
durante sete dias. Nos Vosges, era necessário comê-la durante sete dias seguidos.
Segundo os
"Evangelhos das Rocas":"Quando alguém se põe em caminho para um lugar, e uma lebre vem
ao seu encontro, é muito mau sinal. Para evitar todos os perigos, deve voltar-se três vezes ao
lugar de onde veio, para depois continuar o caminho; então estará fora de perigo". Esse
preconceito do encontro com a lebre, assinalado pelo cura Thiers do séc. XVII, pode ser geral,
sendo encontrado em todas as regiões da França.
Na região de Lannion, várias lebres são as almas de senhores condenados a se tornar animais
tímidos, porque, quando vivos, puseram o mundo todo a tremer.
Eoster também é uma Deusa da Pureza, da Juventude e da Beleza. Era comum na época da
Primavera recolher orvalho para banhar-se em rituais. Acreditava-se que o orvalho colhido nesta
época do ano, estava impregnado com as energias da purificação e juventude de Eostre, e por
isso tinha a virtude de purificar e rejuvenescer.
FESTIVAL DE OSTARA (21-23/03) - EQUINÓCIO DA PRIMAVERA
Este festival também é conhecido como Eostre, em honra à Deusa. Este cerimonial deriva da
palavra inglesa "East" (Leste), que é a posição do sol nascente. Muitas bruxas colocam seus
altares nesta posição para honrar a Deusa Eostre. No Hemisfério Norte, (21-23) de março, é
quando o Inverno se despede dando lugar para o florescer de toda a vegetação. Por isso, Ostara
é um festival do fogo e da fertlidade, que celebra o retorno triunfal do Sol e da fertilidade da
Terra.
É com a primavera que também renascem nossos corações e nossos espíritos vibram em
harmonia com as forças da vida.
É quando nossas mentes se tornam um terreno fértil para a sabedoria e nossos ouvidos sensíveis
às palavras que alento que se encontram no vento. É quando podemos nos sentir completos e
eternos.
Este é um dia especial para se honrar a juventude, a alegria de viver e a música. Na terra a
renovação se faz, envolvendo-nos de vida e esperança.
É tempo de plantar e celebrar os primeiros vestígios da fertilidade da Terra e do renascimento do
Sol. É época de cantar e dançar em torno das fogueiras, ornadas com grinaldas de flores na
cabeça, comunhando com a terra e a primavera. É tempo de honrarmos a Deusa Eostre!
MEDITAÇÃO À DEUSA EOSTRE
Procure um lugar reservado onde ninguém possa interrompê-la. Sente-se confortavelmente e
expire e inspire profundamente por três vezes. Agora tente esvaziar sua mente de qualquer
preocupação. Desligue-se da tomada e relaxe.
Visualize um bosque muito denso. O céu está todo coberto de nuvens escuras, o ar que respira é
melancólico, somente de vez em quando, um raio de luz atravessa as nuvens e ilumina seu
caminho. Os galhos das árvores estão nus e em suas pontas podes ver brotos que ensaiam seu
nascimento. Um vento frio sopra ao seu redor e a terra parece hibernar.
Caminhe um pouco mais e verá uma centenária árvore, que parece ter sido alvejada por um raio,
pois seu tronco está partido em dois, a madeira interna ficou seca pela exposição ao tempo e
muitas folhas secas cobrem o chão à sua volta. A árvore realmente morreu. Quando olhares para
cima, irás te surpreender ao avistar uma mulher. Ela estará toda vestida de branco e traz na mão
uma cesta coberta. Bem acomodada sentada no tronco da árvore, fará um gesto pedindo para
que te aproximes. Ela pega a cesta e levanta o pano. Dentro, verá ovos de todas as cores,
adornados com diversas formas e figuras. Não poderás pensar em nada melhor do escolher um
destes lindos ovos e guardá-lo para ti.
A Deusa pedirá para que feches os olhos e escolha apenas um. Obedeça-lhe e com cuidado
escolha apenas um....abra em seguida os olhos para admirá-lo. Como ele é? Pense no que
significa a decoração do ovo e porque Eostre quis te dar este presente em particular para a
Primavera que se aproxima. Depois de olhares bem o ovo, levante a cabeça para agradecer a
Deusa, mas talvez Ela já tenha ido embora, mas sabes que mesmo assim já recebestes as
bençãos da Deusa Eostre.
Quando retornares pelo mesmo caminho, notarás que as nuvens do céu desapareceram,
pequenas flores cobrem a relva e pássaros estão cantando. Não parece nem de longe com a
paisagem que se descortinou quando inicialmente aqui chegou. Agora a Terra está cheia de vida,
o ar perfumado, o céu está azul e você sente o calor do sol aquecer você. É Primavera em seu
coração! Este é o maior dos presentes que a Deusa Eostre nos oferece.
Seja então Bem-Vinda a uma nova Primavera em sua vida!
O OVO MÁGICO
Os ovos, que obviamente são símbolos da fertilidade e da reprodução, eram usados nos antigos
ritos da fertilidade. Pintados com vários símbolos mágicos, eram lançados ao fogo ou enterrados
como oferendas à Deusa.
O ovo também está associado ao crescimento e a novos começos, vamos então tornar um ovo
mágico e fazer com contenha dentro dele todas as nossas esperanças e desejos para a vinda da
nova estação?
Pegue um ovo cru e tinja com a cor apropriada para seus desejos:
Verde - Para o crescimento e a prosperidade;
Vermelho ou Cor-de-rosa - Para o amor e a união;
Roxo - Para o desenvolvimento psíquico e crescimento espiritual;
Amarelo - Para novos começos e sucesso nos estudos;
Azul - Para a paz e serenidade;
Laranja - Para o poder e energia;
Agora pegue o ovo e fure em uma das extremidades e o esvazie completamente. Lave-o
cuidadosamente para não quebrar. Como três é um número mágico, você usará duas ervas e uma
pedra carregados de seus desejos para encher o ovo. Obedecendo a seguinte ordem:
Ovo verde - louro, pau de canela e uma pedra de citrino;
Ovo vermelho ou Cor-de-rosa - folha de damiana, pétala de rosa e uma pedra de quartzo rosa;
Roxo - semente de papoula, sândalo branco e uma pedra de ametista;
Amarelo - lavanda, pimenta da Jamaica e uma pedra de quartzo;
Azul - camomila, lúpulo e uma pedra azul;
Laranja - patchouli, pau de canela e pedra olho de tigre.
Acenda uma vela da cor de seu ovo. Pegue na mão cada uma das ervas e depois a pedra em sua
mão e os imante com a energia de seus desejos. Em seguida pode colocá-los dentro do ovo.
Agora goteje a cera da vela para dentro do ovo até enchê-lo por completo. Com o dedo, você
pode alisar e dar acabamento na porção que abriu para colocar as ervas e a pedra.
Mantenha o ovo mágico em um lugar seguro e escondido e quando você alcançar seus objetivos,
enterre-o em um jardim.
BOA SORTE!
As Deusas que animam a mitologia antepassada, movem-se por nossas almas e atuam de
maneira inquietadora. Os cenários dos antigos roteiros hoje são visíveis nos enredos que
encenamos, por mais que as variações sejam milenares.
Ler as histórias das Deusas nos faz mais uma vez nos religar com as zonas atemporais do
psiquismo. Quando elas acordam algo dentro de nós, as Deusas estão de volta e se
movimentando no estilo numinoso e invisível.
Assim, a velha e antiga história de sempre, a mescla de Deusas e mortais, pousada nos
penhascos do tempo, contempla as cavernosas profundidades da alma.
FADA MORGANA
Quando danço com a Vida
danço meu próprio ritmo
mantendo o meu compasso
Minhas marés anímicas
estão alinhadas e fluem
com a minha pulsação
minha expressão única
Reverenciando a mim mesma
eu reverencio tudo
Quando você dança
com a sinfonia da Vida
qual é seu ritmo?
É rápido ou lento
lépido ou litúrgico
repetitivo ou volúvel?
Você deixa o ritmo levá-la (o)
ou abatê-la (o)
acalmá-la (o)
encorajá-la (o)
ou perturbá--la (o)?
Como é seu ritmo?
Atrás de Guinevere estão as tradições das rainhas celtas. Atrás de Morgana e da Dama do
Lago, se ocultam tradições de sacerdotisas e Deusas. A rainha celta reinava por direito
próprio, comandava exércitos como Boadicea e tinha amantes. Para os autores medievais
esta liberdade e igualdade da mulher era inaceitável e incompreensível. Ela foi
considerada libertina e atrevida ao se tornar infiel.
Da mesma forma, dado que o mito pagão e a magia são considerados os piores dos
pecados, Morgana se converte em uma bruxa que conspira contra Artur, e Nimue, a dama
do Lago, passa a ser a ruína do embrutecido Merlim. Mas a história poderia ter sido bem
diferente, não é mesmo? Pois sabe-se hoje, que o amor não é um sentimento que precise
testemunhas, muito menos ser negociado, como foi imposto à Guinevere.
Na nossa Era, as mulheres já conquistaram seu espaço e o respeito dos homens e hoje nos
unimos a eles através do amor da alma. Na tradição celta existe um belo entendimento do
amor que resume-se a uma palavra: "anan cara". Anam é a palavra gaélica para alma e
cara é a palavra para amigo.
Na vida de todos, existe uma grande necessidade de um anam cara, um amigo da alma.
Neste amor, somos compreendidos tal como somos, sem máscara ou afetação. As mentiras
e meias-verdades superficiais e funcionais das relações sociais se dissolvem e pode-se ser
como realmente se é.
O amor permite que a compreensão se manifeste, pois quando se é compreendido, fica-se à
vontade. A compreensão alimenta a relação. Quando nos sentimos realmente
compreendidos, sentimo-nos desembaraçados para nos libertar à confiança e abrigo da
alma da outra pessoa.
Este reconhecimento é descrito neste belo verso:
"TU NÃO TE PARECES COM NINGUÉM PORQUE TE AMO" Paulo Neruda
Morgana representa na lenda arturiana, a figura de uma Deusa Tríplice da morte, da
ressurreição e do nascimento, incorporando uma jovem e bela donzela, uma vigorosa mãe
criadora ou uma bruxa portadora da morte. Sua comunidade consta de um total de nove
sacerdotisas (Gliten, Tyrone, Mazoe, Glitonea, Cliten, Thitis, Thetis, Moronoe e Morgana)
que, nos tempos romanos, habitavam uma ilha diante das costas da Bretanha. Falam
também das nove donzelas que, no submundo galês, vigiam o caldeirão que Artur procura,
como pressagiando a procura do Santo Graal. Morgana faz seu debut literário no poema
de Godofredo de Monntouth intitulado "Vita Merlini", como feiticeira benigna.
Mas sob a pressão religiosa, os autores a convertem em uma irmã bastarda do rei,
ambígua, freqüentemente maliciosa, tutelada por Merlim, perturbadora e fonte de
problemas.
Nenhum personagem feminino foi tão confusamente descrito e distorcido como Morgana
ou Morgan Le Fay. A tradição cristã a apresenta como uma bruxa perversa que seduz seu
irmão mais novo, Artur, e dele concebe o filho. Entretanto, nesta época, em outras tribos
celtas, como em muitas outras culturas, o sangue real não se misturava e era muito comum
casarem irmãos, sem que isso acarretasse o estigma do incesto.
Morgana e Artur tiveram um filho fruto de um Matrimônio Sagrado entre a Deusa
(Morgana encarna como Sacerdotisa) e o futuro rei.
O "Matrimônio Sagrado" era um ritual, no qual a vida sexual da mulher era dedicada à
própria Deusa através de um ato de prostituição executado no templo. Essas práticas
parecem, sob o ponto de vista da nossa experiência puritana, meramente licenciosas. Mas
não podemos ignorar que elas faziam parte de uma religião, ou seja, eram um meio de
adaptação ao reino interior ou espiritual.
Práticas religiosas são baseadas em uma necessidade psicológica. A necessidade interior ou
espiritual era aqui projetada no mundo concreto e encontrada através de um ato simbólico
Se os rituais de prostituição sagrada fossem examinados sob essa luz, torna-se evidente que
todas as mulheres devessem, uma vez na vida, dar-se não a um homem em particular, mas
à Deusa, a seu próprio instinto, ao princípio Eros que nela existia.
Para a mulher, o significado da experiência devia residir na sua submissão ao instinto, não
importando que forma a experiência lhe acontecesse. Depois de passar por essa iniciação,
os elementos de desejo e de posse ficam para trás, transmutados através da apreciação de
que sua sexualidade e instinto são expressões de força de vida divina cuja experiência no
plano humano.
A nível transpessoal, o "matrimônio sagrado" envolve o mistério da transformação do
físico para o espiritual, e vice-versa. Cada pessoa conecta-se com o universo como se fosse
célula única no organismo do campo planetário da consciência. A partir da união do
humano com o divino, a "Criança Divina" nasce. A "Criança Divina" é a vida nova, vida
com nova compreensão, vida portadora de visão iluminante para o mundo.
QUEM ERA MORGANA?
Como muitos indivíduos legendários e românticos, há versões conflitantes sobre quem o
que foi Morgana. O historiador e cronista do século XII, Geoffroi de Monmouth, escreveu
que "sua beleza era muito maior do que a de suas nove irmãs. Seu nome é Morgana e ela
aprendeu a usar todas as plantas para curar as doenças do corpo. Ela também conhece a
arte de mudar de forma, de voar pelo ar...ela ensinou astrologia às irmãs."
Relatos antigos contam-nos que ela era uma Velha Deusa da Sabedoria, a Senhora e
Rainha de Avalon, a Alta Sacerdotisa da Antiga Religião Celta. Aprendeu magia e
astronomia com Merlim. Alguns achavam que ela era uma "fada arrogante", pois era
símbolo de rebeldia feminina contra a autoridade masculina. Quando zangada, era difícil
agradar ou aplacar Morgana; outras vezes, podia ser doce, gentil a afável. Também era
descrita como "a mulher mais quente e sensual de toda a Grã-Bretanha."
Morgana era um enigma aos seus adversários políticos e religiosos. Os escrivões cristãos
transformaram-na em demônio, talvez devido ao seu papel como sacerdotisa de uma
Antiga Religião, que eles estavam tentando desacreditar nas suas investidas para
cristianizar a estrutura de poder da Grã-Bretanha. Ela, entretanto, defendeu valentemente
a fé das Fadas e as práticas dos druidas, achando entre os camponeses simples seus mais
fiéis seguidores. Ela negou as acusações de prostituição dos monges e missionários cristãos.
É Morgana, que depois da batalha final, ampara o irmão ferido de morte e o cuida com o
zelo de uma mãe e consoladora espiritual.
O cristianismo menospreza o poder e o conhecimento de Morgana, do mesmo modo com
que impediu a mulher a ascender ao sacerdócio, anulando completamente o seu poder
pessoal.
Layamon, autor de um poema narrativo inglês é o primeiro a descrever como a mulher
levou Artur pelas águas e não simplesmente recebendo-o na sua chegada.
Morgana é a fada mais bela das que habitam Avalon. Não existem fundamentos suficientes
para se acreditar que Avalon seja o lugar que a cultura celta atribuí como residência dos
mortos. O que se sabe é que quando Artur é transportado sobre as águas em companhia
das mulheres com destino a Avalon, se perde no horizonte do mito imemorial.
Este é o pano de fundo sobre o qual se desenvolvem as diferentes lendas relativas à partida
e imortalidade de Artur, que supostamente continua vivo dentro de uma caverna ou em
uma ilha. Estas mulheres que acolheram Artur pertencem ao mundo das fadas, que
provavelmente foi antes um mundo de deusas.
Segundo Robert Graves e Kathy Jones, a Morg-Ana "surgiu da união das estrelas com o
ventre de Ana". Muitas vezes foi equiparada as Deusas Morrigan e Macha, que presidiam
as artes da guerra. Entretanto, como fada controlava o destino e conhecia as pessoas.
Famosa por seus poderes de cura, seu conhecimento de plantas medicinais e sua visão
profética, era uma xamã capaz de alterara a sua forma, tomando o aspecto de diferentes
animais para utilizar seu poder.
DEUSA-MÃE PRIMITIVA
Em "Estoire de Merlin", temos uma descrição bastante detalhada de Morgana, indicando
seu verdadeiro caráter e também os estreitos vínculos que estabelece com a Deusa Mãe
primitiva:
"Era a irmã do rei Arthur. Era muito alegre e jovial, e cantava de forma muito agradável;
seu rosto era moreno, mas bem metida em carnes, nem demasiadamente gorda nem
demasiadamente magra, de belas mãos, de ombros perfeitos, a pele mais suave que a seda, de
maneiras afáveis, alta esguia de corpo, em resumo, sedutora até o milagre; a mulher mais
cálida e mais luxuriosa de toda a Grã Bretanha. Merlim havia lhe ensinado astronomia e
muitas outras coisas, e havia se aplicado ao máximo, de maneira que havia se convertido em
uma boa sacerdotisa, que mais tarde recebeu o nome de Morgana a Fada, em virtude das
maravilhas que realizou. Se explicava com uma doçura e uma suavidade deliciosas, e era
melhor e mais atrativa que tudo no mundo, embora tivesse sangue frio. Porém quando queria
alguém, era difícil acalmá-la..."
Esse é decididamente o retrato da Deusa Mãe primitiva, com toda sua ambigüidade, às
vezes boa, outras nem tanto, "cálida e luxuriosa", como a Grande Deusa oriental e,
"virgem", pois não se submete à autoridade masculina. Observemos também que Merlim
ensinou-lhe magia do mesmo modo com que fez com Viviana, a Dama do Lago.
Outras versões da história do Merlim, versões hoje perdidas, porém cujo rastro
encontramos na célebre obra do século XV devido a Thomas Malory, "La muerte de
Arturo", vasta compilação dos relatos da Távola Redonda, outras versões levam a pensar
que Merlim foi amante de Morgana antes de sê-lo de Viviana.
MORGANA E URYEN
Em "Lancelot en prose" em francês, encontramos elementos interessantes sobre Morgana.
Ela se apresenta como esposa de Uyen e mãe de Yvain:
"Um dia que Morgana supreende a seu marido, o rei Uryen, dormindo na cama, ocorreu-lhe
a idéia de livrar-se dele. Chamou a criada de toda a confiança e disse:
-Vá e busca a espada do meu senhor, pois jamais vi melhor ocasião de matar-lhe do que
agora.
Porém, a criada assustada com o plano de Morgana, vai em busca de Yvain, o filho de Uryen
e Morgana, explica tudo e pede para que intervenha.
Yvain lhe aconselha a obedecer, e quando Morgana levanta a espada sobre a cabeça de
Uryen, Yvain que havia se escondido, se precipita sobre ela, arranca a espada das mãos da
mãe e a reprime. Morgana implora seu perdão, dizendo haver sofrido um episódio de
loucura. (La muerte de Arturo, IV, 13)
Essa tentativa de assassinato está no espírito da Deusa que não suporta os laços do
matrimônio e necessita ter um certo número de amantes.
Há relatos ainda, que Morgana rouba continuamente a bainha ou a espada de Arthur em
benefício de seus amantes:
"Morgana, a Fada, ama outro cavaleiro muito mais que a seu marido, o rei Uryen e que ao
rei Arthur, seu irmão. Então manda fazer outra bainha exatamente igual por encantamento e
dá a bainha da Excalibur a seu amante. O nome do cavaleiro era Acolon." (Muerte de
Arturo, II, 11).
Morgana se encarrega para que Acolon lute com Arthur, porém Acolon resulta ferido de
morte pelo rei. Morre depois de haver confessado a traição de Morgana. Essa se desespera
pela morte de Acolon, e busca vingar-se de Arthur. Ordena que enviem a seu irmão um rico
manto que é mágico, pois queima todo aquele que tem a desgraça de cobrir-se com ele.
Porém, no momento em que Arthur ia colocar o manto, a Dama do Lago revela a Arthur o
perigo em que se encontra." (Muerte de Arturo, II, 14-16)
MORGANA, A DEUSA VIRGEM
Essa é uma lenda referida a Morgana que ilustra sua Potencialidade de Virgem
possuidora de Poderes:
O VALE SEM RETORNO (relato cortês)
A Fada Morgana, abandonada por seu amante Guyomard, decide vingar-se dos homens.
Encanta o Vale Perigoso, de tal maneira que todos os cavaleiros infiéis a sua Dama que
passem por ali, ficam aprisionados nele para o resto da vida. Permanecem dentro de um
paraíso de sonhos; bebem, cantam, celebram festas, dançam, jogam xadrez, porém não
podem franquear as ladeiras do vale, que estão vigiadas por gigantes, animais monstruosos e
barreiras de fogo. O encantamento só pode ser levantado por um herói excepcional, um
homem sempre fiel a sua dama. E, embora Morgana tenha feito todo o possível para seduzir
Lancelot do Lago, é ele quem destrói o encantamento e libera os cavaleiros, demonstrandolhes que as barreiras de fogo, os monstros e os gigantes não passavam de produtos de sua
imaginação. Assim ganhou o ódio mortal de Morgana."
Morgana, nessa lenda faz o papel de Deusa Mãe Virgem que guarda em seu regaço os
homens igual guardaria seus filhos. Pois seus filhos também são seus amantes. A atitude de
Lancelot é uma atitude repressiva contra tudo que recobre a noção de feminilidade. Essa é
também a história da feiticeira Circe, que transforma seus amantes em porcos. Lancelot,
aqui, representa Ulisses, que rechaça a submissão e dissipa o que crê que são ilusões.
Circe e Morgana são a "Virgem" que dá medo, a "Virgem" que engole, a Indomável.
Os homens, que se crêem dominadores do mundo e os reguladores da ordem estabelecida,
não se imaginam, nem por um instante, que seu poder não é mais que passividade, e que o
poder da mulher, que depreciam ou temem, é o poder ativo.
Quando o homem contemporâneo suprimiu a Mãe Divina e a substituiu pela autoridade
de um Deus Pai, desarticulou o mecanismo instintivo que produzia o equilíbrio primitivo.
Daí surgiu à neurose e outros dramas das sociedades paternalistas, que se dizem pretender
devolver a mulher sua honra e seu verdadeiro lugar, um lugar escolhido pelo homem.
Buscou-se estabelecer uma "lei racional" contra uma "lei natural". Mas, a "lei natural" se
concretiza através do instinto e esse, é algo que não se pode negar. Todo nosso
comportamento se apóia na natureza e portanto, a disputa entre a natureza e a razão é
uma falsa disputa, mas é a responsável pela cegueira que vive nossa sociedade hoje, que,
querendo corrigir o instinto, separou o ser humano do que era sua natureza.
AVALON, A ILHA DAS FADAS
Poucos são os autores que especulam sobre o tema "Avalon, residência dos Mortos" e
menos ainda os que se atrevem a situá-la. Alguns o fizeram de uma forma extravagante,
situando-a no Mediterrâneo.
A crença de alguns de que esta ilha não era outra que a Sicília, explica o fenômeno de
miragem que se produz no estreito de Messina se conheça com o nome de "fata morgana",
recordando a feiticeira.
Avalon está inserida em uma relação de ilhas, algumas são verdadeiras, outras fruto de
diversas obras literários. Avalon se encontra em lugar indeterminado, que está vinculada
aos celtas, não só os de Gales, mas também da Irlanda.
Os irlandeses tinham a idéia de um enorme paraíso ocidental. Lá havia uma Ilha das
Maçãs de sua propriedade. Emain Ablach, doce lugar onde habita o deus dos mares
Manannan. Emain Ablach só era uma das ilhas do arquipélago atlântico, que se ampliava
em direção ao sol sem limites conhecidos. Lá se encontrava Tir Nan N-Og, a "Terra dos
Jovens", Tirfo Thuinn, Tire Nam Beo, Terra dos Vivos; Tirn Aill, e Outro Mundo; Mag
Mor, Mag Mell, entre outras.
Havia também uma "Terra de Mulheres", habitada por fadas parecidas às da irmandade
de Morgana. Acreditava-se que essa ilha era um vasto país sustentado por quatro pilares
de bronze e habitado unicamente por mulheres.
Essas ilhas eram terras onde tudo era felicidade, paz e abundância. Não existe o
envelhecimento nem o trabalho, porque tudo cresce sem necessidade de semear e nas
árvores sempre há frutos.
Algumas dessas ilhas flutuam e outras ficam submersas e só saem a superfície à noite. O
rei Artur navegando em sua mágica embarcação "Prydwen", visitou muitas dessas ilhas.
Avalon, para quem ainda a procura, é a viagem ao coração. É conhecida também como o
"Céu de Artur", uma ilha do amor incondicional, onde tudo se harmoniza com a
transmutação da energia luminosa do amor. Avalon é um reino interior. É a maravilhosa
essência do verdadeiro ser nascendo a cada dia em nosso interior. É a nascente do amor no
íntimo. E Morgana é a fada que nos faz refletir sobre tudo isso, pois foi ela, com todo seu
amor, empregou todas as suas artes para curar as feridas de Artur.
A jornada dos homens e mulheres pela vida assemelha-se à jornada épica de muitos mitos.
O herói que busca a verdade, poder ou amor reflete-se em nós, que buscamos o significado
da vida e os tesouros, como o amor, que dão razão à vida. No entanto, cada um deve
descobrir seus elementos de busca pessoais.
ARQUÉTIPO LUNAR
Morgana possuiu muitos nomes e é a representação da energia mítica das mulheres. Possui
também, múltiplas facetas, é o arquétipo da Deusa-Lua e da Mulher Eterna; é Mãe,
amante e filha; é Senhora da Vida e da Morte. Foi associada inclusive a rios, lagos,
cachoeiras, magia, noite, vingança e profecias.
Hoje, a maioria das bruxas invocam o nome de Morgana e praticam magia para ela. Ela
pode ser uma enorme aliada para as mulheres que reivindicam os poderes de feminilidade
que emergem apenas em pesadelos à noite, mulheres que buscam a reafirmação de que é
certo exercitar se poder de Fada, de serem capazes de passar de um mundo para o outro.
Quando nos aliarmos com Morgana, quando nos abandonarmos totalmente, com a maior
confiança ao seu mundo feérico, nos aliaremos também com a vida, com a magia da vida e
o amor infinito que ela contem.
Aliar-se com Morgana é aliar-se com a melhor parte de nós mesmos!
Morgana chega para despertar sua atenção para a independência. Você depende de outra
pessoa até para respirar? Pois saiba que se plantarmos uma árvore lado a lado elas se
asfixiarão. O que cresce necessita de espaço, talvez um pequeno espaço para se exalar o
perfume da rosa. Kahlil Gibran diz:
"Deixai que haja espaço em vossa união. Deixai que os ventos dos céus dancem entre vós."
O espaço permite que a diversidade encontre ritmo e contorno. Você desperdiça sua
vitalidade focalizando os problemas dos outros, relegando os seus para um segundo plano?
Você move-se com o rebanho sem exprimir suas idéias ou opiniões?
Morgana pede para que você, pare, reflita e dimensione suas potencialidades, tentando se
libertar de todas suas dependências físicas e psíquicas. É hora de mudar o ritmo!
Morgana, a fada, chegou dançando a sua vida com seus tambores e sua magia para
convidá-la a descobrir e viver seus ritmos.
Talvez você nunca tenha descoberto seu ritmo porque você agradar àqueles com quem
convive. Mas é de vital importância que você tenha seu próprio ritmo. Fluir com ele lhe
dará mais energias, porque você deixará de reprimir o que lhe é natural. Morgana diz que
a vitalidade, a saúde e a totalidade são cultivadas quando você flui com sua pulsação
única.
JORNADA A AVALON
Procure um lugar sossegado em sua casa, onde não possa ser interrompida (o). Acenda um
incenso e coloque uma música suave de fundo. Sente-se com a coluna ereta e coloque a sua
frente uma caneta e papel.
Agora feche os olhos e expire e inspire profundamente, tentando esvaziar a sua mente.
Comece então a balançar o corpo da direita para esquerda lentamente. Você agora
perceberá que está dentro de um pequeno barco.
O barco balança para trás e para frente. Faça o mesmo jogo com seu corpo. A sensação
será bem agradável, de relaxamento total.
Você olhará para cima e só verá a bruma, que irá se dissipar aos poucos. Erga os braços e
visualize uma luz branca direcionar-se do céu para baixo, que entrará por cima de sua
cabeça e iluminará todo o corpo. Neste momento notará que a bruma desapareceu e
avistará a ilha de Avalon.
O barco chegará à margem e você deve desembarcar. Morgana lhe dará as Boas-Vindas.
Ela perguntará o que você deseja e terá então o direito de lhe fazer duas perguntas. Ela
tomará a sua mão e a (o) conduzirá até seu caldeirão mágico disposto no centro de um
círculo de macieiras. Morgana pegará sua varinha mágica e agitará a água do caldeirão.
Quando a água se aquietar, você verá na superfície as respostas de suas perguntas. Você
deverá então, agradecer sua ajuda e provavelmente ela lhe peça uma oferenda, que você
ofertará de coração aberto. Ela lhe conduzirá de volta ao seu barco e você parte.
Agora respire fundo novamente por três vezes e abra os olhos bem devagar. É hora de
anotar tudo o que você viu no caldeirão de Morgana e refletir.
DEUSA ETAIN
MIDHIR E ETAIN
Etain dos Tuatha da Danann era a heroína da grande história de amor feérica, MIDHIR e
ETAIN, que já inspirou muitos poemas e obras dramáticas.
A narração original está bem contada por Lady Gregory em "Gods and Fighting Men".
Etain foi a segunda esposa de Midhir, o rei da Colina Feérica de Bri Leith. A primeira
esposa do rei, Fuamach, estava terrivelmente furiosa e, com a ajuda do druida Bresal
Etarlain, logrou finalmente transformar Etain em uma mariposa e com um forte sopro, a
expulsou da terra mortal da Irlanda, o que resultou um sofrimento para ambos lados
durante sete longos anos.
Quando as malvadas ações de Fuamach foram descobertas, Angus Mac Og, filho de
Dagda, lhe cortou a cabeça.
Ao cabo de sete anos de desgraça, Etain foi para no palácio onde Etar, de Inver
Cechmaine, estava celebrando um banquete, e caiu dentro da taça dourada da esposa de
Etar, que a engoliu junto com o vinho.
Nove meses depois, nasce como filha de Etar, e de novo recebe o nome de Etain. Ao crescer,
tornou-se a mulher mais bela de toda a Irlanda. Com a maioridade, casou-se com o rei
Eochaid, que tinha sua corte em Temhair (Tara).
Durante
a festa do casamento, o irmão menor de Eochaid, Aillel, acabou subitamente preso ao
amor e um desejo desesperado por Etain. Ao ser rejeitado, uma enfermidade mortal se
apoderou dele. O médico do rei que ele sofria do mal de amor, mas Eochaid estava muito
preocupado com o irmão.
Chegou um dia em que Eochaid teve que partir para fazer uma jornada por toda a Irlanda
para receber a homenagem dos reis tributários, e entregou Ailell aos cuidados de Etain
enquanto durasse a sua ausência. Etain fez tudo o que pode por Ailell, mas ele já estava às
portas da morte. Ao fim descobriu que era o amor não correspondido por ela que o
tornava enfermo. Então, muito triste, convenceu-se que o único modo de curá-lo seria
ceder ao seu desespero, por isso marcou um encontro na manhã seguinte em uma colina
fortificada fora da cidade.
Ailell estava em êxtase e passou quase toda à noite sem dormir, mas quase ao amanhecer o
sono apoderou-se dele e não acordou não conseguiu acordar para o encontro. Entretanto,
Etain acordou cedo e foi para colina esperá-lo. E, no momento que havia combinado de
encontrar-se com Ailell, viu um homem parecido com ele e que avançava até ela
demonstrando muita dor e debilidade, mas quando ele chegou mais perto viu que não era
Ailell. Se olharam um ao outro em silêncio, e o homem foi em seguida embora.
Etain aguardou mais um pouco e logo decidiu voltar à sua residência, onde encontro Ailell
recém acordado e furioso consigo mesmo. Explicou a Etain o que tinha acontecido e
marcaram novo encontro para a manhã seguinte, mas no dia seguinte ocorreu o mesmo. E
na terceira manhã Etain falou com o estranho.
-"Tu não és o homem com o qual estou aqui para me encontrar", disse, "eu não venho
aqui pelo passeio, mas sim para curar um homem que está enfermo por minha causa."
-"Seria melhor que venhas comigo, pois eu fui teu primeiro marido faz muito tempo."
-"Qual teu nome?", perguntou ela
-"Isso é fácil de dizer. Sou Midhir de Bri Leith"
-"E como é que fui afastada de teu lado?"
-"Fuamach, minha primeira esposa, te lançou um feitiço e te expulsou da Terra de TIR
NANOG. Queres voltar comigo Etain?"
-"Não posso abandonar Eochaid, o Rei Supremo, para partir com um estranho', afirmou
Etain.
-"Fui eu quem colocou o desespero em Ailell e fui eu que o enfeitiçou para que ele não
acorde, assim tua honra ficará a salvo."
E era fato, pois quando Etain voltou a encontrar-se com Ailell, o desespero lhe havia
abandonado e estava totalmente curado. Contou-lhe então o que tinha acontecido e ambos
alegraram-se por terem evitado uma traição contra Eochaid. Porém, depois que este
regressou e lhe contaram tudo o que se sucedeu, ele agradeceu muita a Etain por sua
bondade para com Ailell.
Mdhir apareceu mais uma vez a Etain e pediu-lhe mais uma vez para regressar com ele.
Ela se negou a abandonar Eochaid.
-"Se ele te entregar a mim? Virás comigo?"
"Sim, irei", respondeu Etain.
Pouco depois, o estrangeiro se apresentou a Eochaid e o desafiou a três partidas de xadrez.
Jogaram com apostas, porém, de acordo com o costume, àquelas eram fixadas pelo
ganhador depois da partida.
Eochaid ganhou duas vezes, e impôs prêmios muito altos, o primeiro um grande tributo de
cavalos, o segundo três tarefas cuja realização Midhir necessitou de todas suas tropas
feéricas. Mas a terceira partida foi ganha por Midhir que pediu a esposa de Eochaid. Este
se negou e Midhir modificou a proposta, pedindo somente o direito de abraçá-la e lhe dar
um beijo. Eochaid concordou, mas lhe pediu um mês para satisfazer sua petição.
Ao finalizar esse tempo, Midhir se apresentou. Eochaid havia reunido ao seu redor todas
as suas forças e guardou as portas, enquanto Midhir ia entrando, para evitar que se
aproximasse de Etain. Midhir sacou sua espada com a mão esquerda e abrindo caminho
chegou até Etain. Com o braço direito abraçou-a e a beijou. Logo ambos elevaram-se do
chão e transformados em cisnes brancos, ligados por uma corrente de ouro, voaram sobre
o Palácio de Tara até Bri Leith, A Terra da Juventude.
Esse não foi o final da história, pois Eochaid não conseguia viver sem Etain e recorreu ao
chefe dos druidas, que utilizando-se de toda a sua magia, descobriu que a jovem estava no
centro da Irlanda, dentro da fortaleza do rei Midhir. Eochaid declarou guerra ao reino das
fadas e dos elfos, causando grandes destruições, até que Etain lhe foi devolvida. Porém a
cólera dos Tuatha de Danann contra Eochaid e todos os seus descendentes seguiu viva a
causa do grande dano que haviam infligido a terra de Tir Nan Og (A Terra da Juventude).
Essa história é um exemplo do tratamento sutil e poético que recebem os temas dos Seres
Feéricos Heróicos nas lendas irlandesas. O desafio em partidas de xadrez aparecem em
muitas lendas e contos de fadas célticos. O tema da reencarnação também é bem
freqüente, nas lendas antigas.
DEUSA DA SOBERANIA E DA BELEZA
Etain é a Deusa da graça, beleza e soberania. Heroína de um antigo mito, é um exemplo de
reencarnação, renascida com a mesma identidade do seu "eu" original. Está associada
com o Outro Mundo, uma portadora de éguas brancas, com olhos azuis e flores de maça
Ela, em sua primeira vida foi a segunda esposa de Midhir, um Deus Gaélico do Mundo
Inferior. Midhir era o filho de Dagda e Boann, irmão de Angus, O Vermelho, Ogma e
Bridgit. Era um "bard", ou seja, um jogador de xadrez que gostava de jogar com apostas
altas. Rei das Terras Encantadas de Bri Leith, possuía três vacas, um caldeirão mágico e
as "Três Garças da Negação e Rudeza". As três garças ficavam ao lado da porta de
Midhir, e quando alguém viesse pedir abrigo, a primeira dizia:
-"Não venha! Não venha!".
Então a segunda garça dizia:
-"Vá embora! Vá embora!".
A terceira acrescentaria:
-"Passe ao largo da casa! Passe ao largo da casa!".
Etain é uma Deusa Celta, cujo nome significa "A Brilhante". De acordo com os mitos era
extremamente linda e, por causa desse excesso de beleza foi punida e teve que passar por
muitas transformações, pois era uma ameaça para as outras mulheres. Foi expulsa de Tir
Nan Og (A Terra da Juventude) na forma de uma borboleta e em uma terra distante,
começa uma nova vida com uma outra forma, agora no tempo linear mortal.. No entanto,
nunca perdeu sua beleza ou deixou de "brilhar".
ARQUÉTIPO DA TRANSFORMAÇÃO
Essa é uma história que nos dá a percepção da admirável maneira com que o tempo eterno
está entrelaçado com o nosso tempo humano. Sugere ainda, que há um ritmo diferente no
tempo eterno que habita nossas almas e onde não estamos sujeitos às devastações do
tempo normal. Esse pensamento já nos proporciona um grande consolo, pois os
acontecimentos da nossa vida não desaparecem. Nada jamais será perdido ou esquecido.
Tudo será armazenado dentro da alma no templo da memória.
Para todos nós, existiu a primeira infância, quando somos crianças e ela se baseia na
confiança ingênua e o desconhecimento. A segunda infância surge bem mais tarde, quando
já tivemos a oportunidade de vivermos intensamente. É aqui que conhecemos a desolação
da vida, sua incrível capacidade de decepcionar e, muitas vezes, de destruir.
No entanto, apesar desse reconhecimento realista do potencial negativo da vida, ainda
devemos conservar um modo de ver sadio, esperançoso e animado. É importante
vislumbramos nosso passado com uma perspectiva integradora, uma forma de recuperar
tesouros que estavam ocultos nas dificuldades passadas.
Podemos, encarar ainda, a vida, como um tempo de semear experiências, mas nunca
deixando de colher essas experiências, extrair seu significado e fazer os devidos
melhoramentos ou as devidas e necessárias transformações.
Todos nós carregamos um pouco da saga de Etain, pois também resistimos as
transformações que ocorrem em nossas vidas. Muitas vezes, a dificuldade é a melhor
amiga da alma, pois em tudo de negativo que nos acontece, sempre haverá algo luminoso
escondido.
Entretanto, muitas de nossas dificuldades não nos dizem respeito. São dificuldades que
atraímos por intermédio da nossa atitude taciturna.
A sabedoria natural nos diz que a maneira como somos para com a nossa vida é a maneira
como a vida será para conosco. Somente uma atitude compassiva e esperançosa trará até
nós as coisas que realmente necessitamos.
ETAIN - MUDANÇA E CRESCIMENTO PESSOAL
Etain chega em nossas vidas, para nos dizer que não importa como as tempestades da vida
são lançadas em torno da nós, pois no fundo de nossa alma, sempre brotará uma voz a nos
dizer que ainda há esperança.
A vida pode nos transformar, nos balançar e até nos refazer. Mas a Deusa lembra-nos que
sempre seremos tão brilhantes quanto ela, física e espiritualmente. Nada que nos aconteça
poderá mudar nossa essência interna, a nossa individualidade.
A mariposa ou borboleta que aparece na história de Etain é muito significativa, pois ela é
símbolo de ressurreição e de transmutação, equivalente a saída do túmulo ou da prova
morte-renascimento, nos ritos iniciáticos.
A crisália, "ovo" que contém toda a potencialidade do ser, realiza uma metamorfose
invisível e misteriosa, chegando assim ao simbolismo da própria vida: a borboleta que sai
dele é um ser novo, o qual pode encarnar o renascimento da primavera, depois do inverno,
de suas germinações subterrâneas e misteriosas.
A saída da borboleta de sua crisália é a subida do abismo, a passagem de um estado de
existência para outro.
Não somente nosso corpo físico, assim como nossa alma, mas também os projetos que
fazemos na vida, passam por vários estágios.
Podemos usar este mesmo cronograma da borboleta para determinarmos exatamente
onde nós estamos. Por exemplo, nós temos uma idéia. Como ponto de partida, a idéia seria
o "ovo".
Entraremos no estágio larval quando nos decidirmos a colocar a idéia em prática;
a fase do casulo iniciaria quando começássemos a fazer algo para torná-la realidade;
e o estágio de borboleta seria quando trouxéssemos a idéia realizada e compartilhássemos
com os outros.
Todos os quatros desses estágios são as etapas necessárias que devem ser empreendidas
para chegarmos a transformação.
Hoje ou amanhã uma mudança inevitavelmente acontecerá em nossas vidas, o melhor que
temos a fazer é aceitá-la.
A maioria das vezes, a mudança ocorre de forma consciente, ou seja, nos dá a
oportunidade da decisão. Entretanto, outras vezes, quanto trata-se da realização de um
sonho, ou escolha de um objetivo, um relacionamento ou ainda, da escolha de uma
profissão, por exemplo, atitude essa, que pode mudar totalmente nossa vida, poderemos de
repente, nos sentirmos incapazes de tomarmos uma decisão. Pisar em terreno
desconhecido sempre envolve riscos e nossa resistência a esses risco podem se demonstrar
de diversas maneiras: nos sentirmos inaptos para assumir a grandiosidade do
compromisso, termos decréscimo da nossa auto-estima, cairmos em profunda depressão,
etc.
Quando isso acontece, nós usamos essa falta de resistência como uma desculpa para não
mudar ou seguir em frente. Essa é uma característica do povo brasileiro que sempre alega
que "não se mexe em time que está ganhando", ou seja, cria resistência às mudanças,
preferindo a comodidade. Mas o que se faz realmente, é criar uma ilusão de segurança.
Usamos a resistência para mascarar o nosso medo.
Como seres humanos todos nós temos medos, alguns muito reais, outros fantasiosos. Mas
quando nos rendemos ao medo, paralisamos nossa vida.
Não encarando e partindo para a luta contra nossos medos, ficaremos sentados na janela
"vendo a banda passar", como já cantou nosso amigo Chico, deixando de apreciar
diferentes panoramas através de outras janelas do assombro e da possibilidade.
Nós sabemos, que no mundo atual, a segurança é realmente só uma ilusão e não podemos
viver à sombra de falsas garantias.
Um dos aspectos essenciais para que se opere uma mudança em nossa vida é despertar a
capacidade de aceitar o que é difícil e deixarmos de sermos o maior obstáculo de nós
mesmos.
"Uma dificuldade é uma luz; uma dificuldade intransponível é o sol". Paul Valéry
ETAIN E O CISNE
O cisne é também uma presença simbólica na história de Etain. Os cisnes são símbolos de
amor, da beleza, das transições, da evolução espiritual e da fidelidade. O cisne ensina-nos a
sermos fiéis a quem verdadeiramente somos e como uma ave de luz, traz primavera e
renovação às nossas vidas.
Na mitologia celta, o cisne é um dos aspectos mais freqüentes tomados pelos seres do
Outro Mundo, particularmente pelas mulheres de Sidhe. Além de Midhir, Fand, Libânio e
Derbforgail, entre outros, recorreram a essa aparência. Esses seres do Outro Mundo, na
forma de cisnes, viajam, a maioria das vezes, aos pares, sempre ligados por uma corrente
de ouro ou prata.
Em muitas obras da arte celta figuram dois cisnes, cada qual de um lado da barca solar,
que eles guiam e acompanham pelo mar celeste.
CONVITE À DEUSA
Convide a Deusa Etain para participar de sua vida sempre:
Quando você estiver muito cansada ou chateada com a vida;
Quando você esquecer quem você realmente é.
Convide a Deusa Etain, quando a única força que lhe restar servirá para balbuciar seu
nome.
Etain jamais a abandonará e virá para trazer à sua vida todo seu poder de transformação.
CONVIDE ETAIN!
Seu grande e solidário amor a cercará e lhe dará muita paz.
DEUSA MAEVE
Das figuras femininas da Irlanda, Maeve é a mais espetacular. Ela era a deusa soberana da
Terra com seu centro místico em Tara. Com o passar do tempo a cultura irlandesa mudou
sob a influência cristã e então, Maeve foi reduzida a uma mera rainha mortal. Mas
nenhuma mortal poderia ter sido como ela, "intoxicante", uma mulher "embriagante",
sedutora, que corria com os cavalos, conversava com os pássaros e levava os homens ao
ardor de desejo com um mero olhar.
Maeve, segundo a lenda, era uma das cinco filhas de Eochardh Feidhleach, rei de
Connacht, uma mulher muito bela e forte, dotada de uma mente brilhante, estrategista
hábil, talhada para enfrentar todo o tipo de batalhas. Era muito segura de sua
feminilidade e sexualidade. Diziam que possuía um apetite sexual voraz, mas é um erro vêla como inconveniente e lasciva que utilizava a satisfação sexual com a finalidade de ganho
egoístico. Ela ofertava aos seus consortes uma taça de vinho vermelho como seu sangue. O
vinho de Maeve representava o sangue menstrual que era considerado como "o vinho da
sabedoria das mulheres".
O Festival Pagão de Mabon era comemorado em sua honra. Durante estas festividades,
aqueles que almejassem ser rei, aguardavam que Meave os convidasse a beber de seu
vinho. Isto assegurava de que o homem para ser rei, necessitava ser versado no feminismo
e nos mistérios das mulheres.
Maeve foi considerada a Deusa da guerra similar a Morrigan, fez que seus guerreiros
experimentassem as dores do parto de uma mulher.
Ela é a Rainha de Connacht, simboliza o poder feminino e é a personificação da própria
Terra e sua prosperidade.
Shakespeare a trouxe à vida como Mab, a Rainha das Fadas. Em uma versão mais
moderna, os ecologistas a converteram em Gaia, o espírito da Terra.
Na Antiguidade Celta, as mulheres se equiparavam aos homens. Possuíam propriedades e
ocupavam posições de prestígio dentro da sociedade. Também não existia a monogamia
nas uniões. A rainha Maeve do reino irlandês de Connacht era famosa por sua beleza e
possessão sexual. Teve muitos amantes, a maioria eram oficiais de seu exército, o que
assegurou de algum modo a lealdade de suas tropas. Muitos homens lutavam duramente
nos campos de batalha por uma possibilidade de receber seus favores sexuais.
Maeve é figura central de um épico irlandês "Tain Bo Cualngé".
O primeiro marido de Maeve, foi justamente o seu rival mais constante, o rei Conchobor
Mac Nessa. Maeve foi-lhe dada em casamento como compensação pela morte de seu pai,
mas para provar sua independência, ela o abandona. Conchobor, insatisfeito, encontra
Maeve banhando-se no rio Boyne e a estupra. Em decorrência do fato, os reis da Irlanda
se unem para vingar o ultraje. Nesta batalha, perde a vida Tinne, o então marido de
Maeve.
A rainha de Connacht está sem rei, e por isso os nobres se reúnem e indicam Eochaid Dala
para ser seu novo marido. Ela consente, desde que o marido não seja nem ciumento, nem
covarde, nem avarento.
Certo dia, Maeve adota um garoto, o qual passa a integrar sua corte. Com o tempo o tal
garoto cresce, tornar-se um hábil guerreiro e obviamente, torna-se seu amante. Eochaid
não aceita bem a situação, assim como os nobres de Connacht, que tentam expulsar o
rapaz da corte. Maeve consegue impedir e o jovem desafia o rei para um combate. Por ser
um grande guerreiro, acabou matando o rei e assumindo o trono ao lado de Maeve. Esse é
Ailill, seu marido mais importante, protagonista da nossa história...
A BATALHA DAS RESES DE COOLEY - ("Tain Bo Cualngé")
Maeve estava casada com seu terceiro marido o rei Ailill. Quando discute com esse para
saber quem tem maior fortuna, ela faz alarde de possuir mais que Ailill: em virtude da
legislação celta, quem possuir mais bens, então pode mandar nos assuntos de casa. Quando
lhe contam que lhe falta um touro para vencer Ailill, se dispõe a fazer qualquer coisa para
obter um animal extraordinário, cuja posse, faria inclinar a balança a seu favor.
Ailill tinha um touro a mais chamado de "Finnbennach" (touro branco). Maeve pede
então, para Daré, filho de Fiachna, que lhe ceda seu touro, o famoso Donn de Cualngé, que
vivia em Ulster, nas terras de seu rival Conchobar. Em troca ela lhe daria terras, um carro
de guerra e, sobretudo, o receberia em sua cama.
Filha do rei supremo da Irlanda, a rainha Maeve possui soberania, ou seja, ela é a
soberania, o poder. Do mesmo modo, segundo a mitologia grega, que os mortais adquiriam
poderes divinos ao converterem-se amantes de uma Deusa, também um homem que se
tornasse amante de Maeve, também poderiam obter os poderes que ela representa. E
ainda, segundo a lenda, Ailill sempre "fechava os olhos", cada vez que sua esposa pródiga
a "amizade das coxas" a um homem, segundo o delicado eufemismo utilizado pelos
autores épicos. E, nos damos conta dele em Tain Bo Cualgé, quando as negociações com
Daré não foram muito satisfatórias e Maeve decide apoderar-se do touro à força,
empreendendo uma guerra contra Ulster. Necessita portanto, de guerreiros, em especial do
terrível Fergus, exilado de Ulster. Sendo assim, dedica a Fergus cuidados muito
particulares, e um dia quando ambos são surpreendidos por um criado de Ailill que
explica ao rei o que tinha visto, esse se limita a dizer:
-"Ela o necessitava, era necessário que atuasse assim para assegurar o êxito da
expedição".
Mas isso não impede que Ailill fique aborrecido em numerosas circunstâncias, a tal ponto
que, um dia, vendo Maeve acariciar de forma indecente Fergus, ordena a um de seus
homens que lancem um dardo sobre ele, o que causa a morte do herói.
Maeve, reúne seu exército e invade o norte da ilha (Irlanda), fazendo pouco caso das
previsões adversas que anunciavam o fracasso de sua expedição por causa de Cuchulainn.
Quando o avanço inimigo foi detectado, o semideus dedicou-se a emboscar os invasores.
Maeve recorre então a uma cruel estratagema: o obriga a enfrentar seu irmão adotivo,
Ferdiad, antigo companheiro de armas ao qual engana para atacar Cuchulainn.
Durante três dias, os velhos amigos e companheiros se enfrentam em um rio num combate
que terminou com a vitória do herói de Ulster, graças ao uso que este fez de um golpe
ensinado pela Deusa Scâthach (sua treinadora em artes militares): o "gai bolga", ou
"descarga de raio". Porém, após a vitória, ele ficou completamente esgotado do ponto de
vista físico e psicológico, pois tirar a vida de Ferdiad foi um golpe muito difícil para ele. É
nesse momento, que o Deus do Sol aparece dizendo:
-"Sou Lugh, teu pai do Mundo Exterior, filho de Ethliu. Dorme um pouco Cuchulainn,
que eu desafiarei a todos."
O Deus Sol então se materializa para assumir as funções do guerreiro que, após morrer
durante três dias, continua mortal. Nesse estado de bardo, pode ascender em direção a três
mundos místicos celtas: ao de seu corpo terrestre, ao do espírito físico e, por fim, ao
radiante da luz da alma, no qual o próprio sol se manifesta. Quando Cuchulainn dorme,
fica unido a seu próprio resplendor, habitando todos os mundos ao mesmo tempo.
Essa fácil mutação entre o soldado humano e seu arquétipo do outro mundo é algo muito
comum em qualquer tipo de relato celta. Essa é a chave dos mistérios celtas: a fusão do
espiritual, do físico e do imaginário.
Enquanto Lugh permaneceu no lugar de Cuchulainn, os exércitos da rainha de Connacht,
não tiveram passagem. Mas, como Maeve era muito esperta, conseguiu enviar um pequeno
grupo de homens que conseguiu roubar o touro. Por fim, ela é obrigada a recuar com seu
exército, entretanto, ela já tinha em seu poder o que desejava.
No entanto, quando os touros se encontraram nos prados de Connacht, lançaram-se um
contra o outro. Eles lutaram durante horas, inclusive após o pôr-do-sol, sem que ninguém
fosse capaz de separá-los, nem sequer Maeve e Ailill. A peleja foi tão colossal que se diz
que na mesma noite eles deram a volta em toda Irlanda, perseguindo um ao outro. Ao
amanhecer, Donn era o único que continuava em pé. Ele matou Findbennach e espalhou
seus restos por toda a ilha. Mas a alegria da rainha pelo valor de sua recente aquisição não
durou muito. O touro sobrevivente subiu em uma colina para mugir para todos os reinos
irlandeses e morreu devido ao esforço despendido no ato. Desde então, a colina passou a
chamar-se Druim Tairb, a Colina dos Touros.
Como podemos observar, o objetivo principal de Maeve era o touro, que desde a mais
remota Antigüidade é um símbolo feminino, encontrado nas culturas ancestrais de Creta
do Egito e da Anatólia.
O touro antes de tudo, evoca a idéia de poder e de ímpeto irresistíveis. Para os celtas ele
pode ser também, símbolo da morte violenta dos guerreiros. Na Gália são conhecidas
representações de um touro com três chifres, o qual, sem dúvida, é antigo símbolo
guerreiro (o terceiro chifre, seria o equivalente do que, na Irlanda, é chamado "lon laith"
ou "lua do herói", que é uma espécie de aura sangrenta, jorrando do alto da cabeça do
herói em estado de excitação guerreira). O touro é ainda, representação da força temporal,
sexual, a fecundidade da natureza.
Portanto, não é por acaso, que o segundo signo do zodíaco, o Touro, é governado por
Vênus, simbolizando a força de trabalho e encarnando os instintos, especialmente os da
conservação, da sexualidade e de um gosto pronunciado pelos prazeres em geral,
particularmente pelos da carne.
MAS O QUE TAL LENDA SIGNIFICA, AFINAL?
Todas as Deusas do amor sempre foram associadas à guerra, pois o amor e o ódio, como
diz um velho ditado popular, "caminham juntos".
Maeve, como deusa, possui o poder intoxicante da paixão que nós sentimos no amor, nos
desejos, no sexo, assim como na raiva e na guerra. Sempre existiu uma linha tênue entre o
amor e o ódio, o sexo e a violência. Se nós perdermos o controle da paixão, motivados pela
ganância, o poder, ou outro tipo de sentimento mesquinho, fatalmente acabaremos
cruzando esta linha. Portanto, mantenha seu coração aberto para o amor, mas freie sua
paixão com sabedoria.
Maeve tinha muitos nomes: Mab, Madh, Medh e Medhdb. Há poucas referências dela nos
filmes. O mais recente é em Merlim da NBC, onde como a Rainha Mab é uma feiticeira
maligna. Não existe uma única referência que comprove que Mab ou Meave esteve
associada às Lendas Arturianas ou envolvida com Artur. Meave foi um mito pagão e
também nunca foi uma entidade do mal.
Maeve aparece em nossas vidas para nos desafiar a assumir a responsabilidade pela nossa
vida. É hora de sermos a "Rainha de nossos domínios", tornando-nos conscientes dos
nossos erros e acertos, sendo responsável por tudo que se faz e por tudo que se acredita.
Existem pontos no seu interior que lhe são desconhecidos? Você é daquelas pessoas que
vive uma rotina programada realizando sempre as mesmas coisas? Ou você á daquelas
pessoas que para não se incomodar deixa as coisas ficar do jeito que estão? Ou talvez não
tenha coragem, ou não esteja disposta a reconhecer que você e sua vida é resultado das
escolhas que faz com responsabilidade.
Maeve, aparece para lembrá-la que o caminho da totalidade está em assumir a
responsabilidade de sua vida, seja ela do jeito que for. Somente quando você se assumir,
reconhecer quem é, onde está, porque está é que poderá criar algo diferente.
ANDRASTE, A INVENSÍVEL
(Andrasta, Adraste, Andred)
Andrasta é uma Deusa guerreira da Vitória, dos Céus e das Batalhas, semelhante a
Morrigan. Seu nome significa "Invencível" e quando invocada em meio a uma guerra,
será uma ajuda que pode significar a vitória.
Os britânicos têm santuários dedicados à Deusa Andraste em um bosque sagrado, como
nas florestas da ilha Mona (Anglessey). Ela está associada à lebre.
BOUDICCA (Boadicea-latim), A RAINHA VERMELHA
Boudicca era a rainha da tribo celta Iceni, que habitavam a Grã-Bretanha por ocasião
da conquista romana.
Entretanto, Prasutagus, seu marido, é quem conduzia o povo. Ele comprometeu sua
posição política, quando realizou inúmeros acordos com os romanos, inclusive
entregando parte de seus domínios, com a esperança de proteger seu título e sua família.
Mas, o rei Prasutagus, acabou sendo abatido pelo invasor e a rainha Boudicca,
juntamente com suas filhas, foram estupradas e humilhadas pelos romanos. Os
legionários saquearam todo o reino e realizaram uma operação de ataque contra a ilha
de Mona, hoje conhecida como Anglessey, onde se encontrava um dos mais importantes
centros de culto dedicado a Deusa Andraste. Essa iniciativa foi encerrada com a degola
de diversos celtas, sendo que, os druidas, cuja a doutrina sempre foi incompreensível
para o racionalismo latino, foram os primeiros a morrer, seguindo a escravização dos
demais e a aniquilação dos bosques sagrados. Tudo isso, vai além da simples humilhação
militar. Para uma cultura que tem a religião em tão alta estima, tais atos são autênticas
profanações, um golpe certeiro na coluna vertebral de sua organização social. É possível
que os generais romanos não se deram conta do que estava acontecendo, pois para eles,
os deuses não passavam de um entretenimento pessoal, quase um luxo reservado aos
acomodados patrícios de Roma ou para contentar escravos que não tinham mais consolo.
Com relação aos druidas, consideravam-nos chefes de rebeliões disfarçados de
sacerdotes. Acreditavam que, destruindo seu centro de reunião, seria mais fácil pacificar
a ilha inteira. Mas os druidas eram os únicos homens preparados para ensinar,
perpetuar e aplicar de forma adequada à religião, algo que dava sentido a existência
celta. Tentar extirpar o druidismo de sua raiz era condenar todos os celtas a algo pior do
que a morte.
A notícia da destruição do centro do culto da Deusa Andraste associado ao ocorrido com
a rainha Boudicca e suas filhas, resultaram em uma reação bastante selvagem entre os
bretões. Uma grande rebelião foi organizada e à frente da mesma foi colocada ao
comando da rainha. As mulheres celtas, não eram somente semelhantes aos homens em
estatura, mas equivalentes a eles, no que diz respeito à coragem, técnicas de guerra e o
desejo de vingança.
Boudicca, então, com um exército de 100.000 homens impôs pesados revezes às legiões
romanas. Colchester (Camulodunum), Londres (Londinium) e Verlamium, conheceram
os efeitos da reputação guerreira da rainha e o tratamento que ela dava a seus inimigos.
Suas ações bélicas foram consideradas como as mais sangrentas realizadas pelos celtas.
Várias cidades romanas ficaram arrasadas e centenas de mulheres foram decapitadas
em sacrifício à Deusa Andraste, a quem eram dedicadas todas as suas vitórias.
Os bretões devolveram "olho por olho" cada ato de crueldade que sofreram, destruíram
todos os fortes romanos que encontravam pela frente e festejavam sobre as suas ruínas.
Contava-se que Boudicca libertava uma lebre como parte de um rito a Andraste, antes
de iniciar uma batalha. Se os romanos matassem o animalzinho, despertariam a fúria da
Deusa, que lutaria a seu lado, levando-a a derradeira vitória.
Entretanto, em uma última batalha, um exército romano chefiado por Suetônio
Paulino,melhor equipado e organizado, acabou derrotando-a. A vitória romana
converteu-se em carnificina.
Há informes contraditórios da morte de Boudicca. Há quem diga que ela morreu na
batalha, mas muitas outros estudiosos afirmam que ela envenenou-se, evocando, em seu
último suspiro, a Deusa Andraste, a "Invencível".
A morte da Rainha vermelha, entretanto, não pacificou os bretões, só serviu mesmo para
estabilizar a situação. Os celtas compreenderam que seria quase impossível expulsar os
romanos de seu território, mas esses também entenderam que seria totalmente
impossível se impor aos celtas. Isso desembocou em uma frágil paz que nenhum dos dois
grupos rompeu antes da coroação de Vespasiano como imperador de Roma.
Há um grande mistério em torno do nome de Boudicca, pois em galês ("Budd" em galês),
ele significa "A Vitória" e é bem provável que esta rainha ocupou uma posição dupla
como líder tribal e como uma Druida. Esse nome, portanto, talvez seja um título
religioso e não um nome pessoal, significando o ponto de vista de seus seguidores, que a
personalizavam como uma Deusa.
Isso ajudaria explicar o fanatismo de uma variedade de tribos em seguir a liderança de
uma mulher na batalha.
Boudicca era uma guerreira enfurecida, sendo descrita como uma mulher alta, de
compleição física forte, dotada de uma vasta cabeleira vermelha e capaz de mudar seu
rosto com gestos e contorções típicos de qualquer combatente celta. Todos os povos
bretões levantaram suas armas para segui-la.
A fama da rainha Boudicca, como de muitas outras mulheres celtas, assumiu a dimensão
de mito em toda a Grã-Bretanha. Uma estátua dela, representada segundo a concepção
da memória popular, é encontrada em Londres, ao lado do rio Thames, próxima das
casas do parlamento.
Segundo uma lenda popular, ela estaria enterrada debaixo de uma das plataformas da
estação de Reis Cross. Diversas outras fontes, enumeram as plataformas oito, nove ou
dez, como suposto lugar onde a rainha repousa.
Sua história tornou-se ainda mais popular durante o reino de outra rainha inglesa que
dirigiu um exército de encontro à invasão estrangeira, rainha Elizabeth I.
ANDRASTE, A DEUSA DA GUERRA
Muito pouco se sabe sobre a Deusa guerreira Andraste da tribo de Iceni, que aceitava
sacrifícios de lebres e de seres humanos. Isto porque, Andraste representava um lado
sombrio, que em épocas de extremas emergências era solicitado seu auxílio mediante
sacrifício com sangue, à magia mais poderosa de todas.
Nesse aspecto, essa Deusa seria tida como Deusa Crone, o lado obscuro da Lua, àquela
para que todos retornam. E é mesmo verdade, pois a morte é uma conseqüência da
guerra.
Mas, este lado escuro da Deusa já é mais moderado quando ela se apresenta como Deusa
Mãe, sendo associada com a fertilidade e o amor, criar e carregar a vida.
É possível também ver outro de seus apectos, o de seu lado jovem, como sendo uma
Deusa da Caça, similar a Atena.
Como uma Deusa lunar tríplice (Donzela-Máe-Crone), certamente, Andraste foi
venerada.
ARQUÉTIPO DA MULHER GUERREIRA
Todas as mulheres celtas eram temidas por seus oponentes, pois elas eram treinadas
desde a tenra idade ao manejo das armas, mas também amavam seus filhos com muita
paixão e para defendê-los, golpeavam e matavam selvagemente seus inimigos. Suas ações
eram tão fulminantes, que se dizia que todas elas se convertiam em uma espécie de
catapulta. Pode-se mesmo afirmar, que essas mulheres, protegidas da Deusa Andraste,
manifesta em seu aspecto mais terrível, as convertiam em inimigas invencíveis.
As batalhas sangrentas, como as realizadas pela rainha vermelha Boudicca, nos dão uma
idéia de como é feroz a essência de toda a mulher quando sua prole é ameaçada.
E não é o que ocorre em nossos dias? A agressividade da mulher está manifesta no
mundo laboral, em sua eficácia produtiva, se tornando uma lutadora no mundo dos
homens. Ainda hoje, luta com máxima ferocidade, contra a honra e respeito perdidos,
buscando a igualdade de direitos e deveres.
RETORNO À DEUSA
Nosso retorno à Deusa é importante para toda a mulher que busca a totalidade. Toda a
mulher que encontrou o sucesso no mundo atual, teve que sacrificar seus instintos e sua
energia feminina, pois vivemos em uma sociedade patriarcal. Sociedade essa, que para
disciplinar os instintos e atingir o estado heróico, matou e dividiu em pedaços a Deusa
para retirar-lhe toda a potência.
O retorno à Deusa, nada mais é do que uma reconexão com a nossa feminilidade, ou seja,
um reencontro com a nossa "mãe", que foi silenciada muito antes de nascermos.
Infelizmente, quase todas as mulheres, em virtude da cultura patriarcal, foram criadas
sob a orientação e vigilância de autoridades abstratas e coletivas e acabaram por alienarse da sua base feminina e da mãe pessoal, que freqüentemente é por elas considerada
fraca e irrelevante. Mas, é para estas mulheres que este retorno é mais necessário, pois
sem ele jamais elas serão completas.
SÍMBOLO SAGRADO DAS LEBRES
As lebres eram sagradas para muitas tradições antigas, porque elas estavam associadas
com as Deusas da Lua e da Caça.
Existe um tabu britânico muito antigo concernente à caça da lebre, cujo desrespeito era
punido por penas severas, penas que eram levantadas só na véspera de 1 de maio, data da
caça ritual à lebre.
A rainha Boudicca ensina-nos o valor espiritual da lebre, pois para ela, a lebre era um
animal totem. Libertava uma no início de uma batalha, mantinha outra para adivinhações
e sacrificava uma terceira para a Deusa Andraste.
A mitologia chinesa, nos contam que, certa vez, quando o Buda estava com fome, uma
lebre atirou-se ao fogo para alimentá-lo. Para recompensá-la, Buda, enviou sua alma a
Lua. Lá, sob grande acácia (ou figueira), a lebre lunar esmaga em um almofariz mágico os
ingredientes que compõe o elixir da imortalidade.
Essa associação da lebre com a Lua ampliou sua significação como símbolo sexual,
associando-a a noção de fertilidade, prosperidade e abundância. Assim, no Camboja, o
acasalamento e a multiplicação das lebres, faziam cair chuvas fertilizadoras. Carne de
lebre também já foi prescrição para cura de infertilidade feminina.
Na teoria de Jung, tanto o coelho e a lebre podem simbolizar o arquétipo da mãe. Os
arquétipos e as manifestações do inconsciente coletivo podem ser representados por três
lebres que se movem no sentido horário que Jung denominou inconsciente/centro/self.
A DEUSA MACHA
A Deusa Macha foi adorada na Irlanda mesmo antes da chegada dos celtas. Ela é uma
deusa tríplice associada com Morrigan a deusa da guerra e da morte. É ligada também a
Dana no aspecto de fertilidade da mulher. Seu pai era o "Aed, o vermelho" e sua mãe era
Ernmas (druida feminina).
Há diversas lendas que convergem à Deusa Macha. Às vezes ela aparece como sendo
pertencente à raça de Thuatha De Danann, mas em outras surge como uma rainha
mortal. Portanto, é normal a confusão a respeito do que realmente ela é.
Macha foi esposa de Nemed e consorte de Nuada; chamada de "Mulher do Sol". Ancestral
do Galho Vermelho, é a Rainha da Irlanda, filha de Ernmas e neta de Net. Seu corpo é o
de um atleta e seus símbolos são o cavalo e o corvo.
Macha está presente no "Livro das Invasões" quanto nas lendas do Ciclo de Ulster. Esta
deusa é uma deidade tipicamente celta, pois em dado momento ela parece ser suave e
generosa, para em outro se transformar em terrível mulher guerreira.
Em algumas fontes, Macha é citada como uma das três faces de Morrigan, a maravilhosa
deusa da guerra, da morte e da sensualidade. No "Livro das Invasões", a seguinte frase
descreve esta triplicidade;
"Badbh e Macha, grandes poderes.
Morrigan que espalha confusão, Guardiãs da Morte pela espada, Nobre filhas de
Ernmas."
Nesse contexto, Macha é retratada como uma mulher alta e destacada, vestindo uma
túnica vermelha e cabelos castalho-amarelados.
Estas três deusas esconderam o desembarque dos Thuatha de Dannan na Irlanda no início
dos tempos. Elas fizeram o ar jorrar sangue e fogo sobre oa Fir Bolgs, aqueles que
inicialmente se opuseram contra os Thuatha, e depois os forçaram a abrigá-los por três
dias e três noites.
No "Livro Amarelo de Lecan", Macha é glosada como "um corvo, a terceira Morrigan".
Mas quem são as três Morrigan?
São:
Nemain - "frenesi", a que confunde as vítimas e espalha medo;
Morrigan - "Grande Rainha", a qual planeja o ataque e incita à valentia;
Macha - o corvo que se alimenta dos cadáveres em combate. Está também associada a
troféus de batalha sangrentos, como as cabeças recolhidas dos inimigos, chamadas de "a
Colheita de Macha". Esta sua ligação com a arte da batalha é reforçada nome das Mesred
machae, os pilares das fortalezas, onde as cabeças dos guerreiros derrotados eram
empaladas.
Macha é também a deusa que guia às almas ao além-mundo. Ela vive na terra dos mortos
à oeste. Antes de sua ligação com a morte, ela representava a quintessência das fadas. É
igualmente considerada uma deusa da água semelhante a Rhiannon e Protetora dos
Eqüinos como Epona. Está ainda, associada à deusa do parto, especialmente se este for de
gêmeos.
A MALDIÇÃO DE MACHA
Macha, segundo conta uma das lendas, é uma Deusa que preferiu viver entre os mortais.
Teve como seu primeiro marido o líder Nemed, que morreu em uma batalha, narrada no
"Leabhar Gabhála" (O Livro das Conquistas),
Macha governou a Irlanda por um bom tempo sozinha, até unir-se ao seu segundo marido
Cimbaeth, que foi quem construiu o forte real de "Emain Macha".
Mas foi com seu terceiro marido, Crunniuc que surgiu a lenda de sua maldição. A história
inicia-se quando Crunniuc, um fazendeiro de Ulster fica viúvo e deseja uma nova esposa.
Macha, uma senhora misteriosa, entra em sua casa, organiza seu lar, dá ordens aos seus
criados, fazendo tudo para agradá-lo. À noite faz amor com ele, convertendo-se desta
forma sua esposa.
Como deusa protetora dos eqüinos e apaixonada por seu marido, ela multiplicou-os de
maneira assombrosa e passava as manhãs correndo e competindo com eles pelos prados.
Neste período, Crunniuc prosperou como nunca, e recebeu o reconhecimento dos outros
nobres da região. Aparentemente, a mulher, cujo nome ela o instruíra a jamais perguntar,
trouxera-lhe boa fortuna. E, logo em seguida Macha fica grávida.
Chegou então a época em que, Crunniuc deveria assistir a um Festival Anual, dos quais
todo mundo participava. Macha havia lhe pedido para não ir, advertindo-lhe que se falasse
dela atrairia desgraça para os dois. Crunniuc não desistiu, entretanto prometera não dizer
uma só palavra sobre seu relacionamento.
O próprio rei de Ulster, Conchobar, presidia os festejos. Num certo momento, para
agradá-lo, alguém fez elogios aos seus cavalos, garantindo que não havia outros mais
velozes em todo o mundo. Crunniuc, não conseguindo conter-se, afirmou que sua mulher
corria mais rápido do que qualquer quadrúpede.
O rei com raiva mandou prendê-lo e exigiu uma comprovação de tais palavras. Sendo
assim, forçam Macha a comparecer ao festival para competir com os cavalos do rei sob
pena de matarem seu marido se ela resistisse. Ela protestou e apelou pedindo então que
pelo menos o rei aguardasse o término de sua gestação para que tal feito fosse realizado.
Lembrou-lhes que todos tinham mãe e perguntou-lhes o que sentiriam se obrigassem a
cada uma delas a uma prova semelhante em estado tão avançado de gravidez. Mas de
nada adiantou seus lamentos, pois a maioria dos homens devido ao excesso de álcool lhes
parecia muito atrativo aquele perigoso desafio.
Macha, não teve outro remédio a não ser aceitar a tal corrida. Trouxeram então os cavalos
e teve início a competição, que teve um fim muito breve, pois ela alcançou a chegada
rapidamente com uma vantagem folgada.
No entanto, no final, caiu ao solo gritando de dor e naquele mesmo instante deu à luz
gêmeos. Neste instante todos se deram conta do que haviam feito, mas foram incapazes de
moverem-se para ajudá-la. Foi quando ergue-se e anunciou que ela era a Macha e que seu
nome seria conhecido para sempre naquele lugar e amaldiçoou todo o povo do Ulster,
porque a piedade jamais morou no coração daqueles homens. A partir daquele dia, a
vergonha e a desonra que lhe haviam provocado voltariam a eles multiplicadas e toda a
vez que seu reino estivesse em perigo se sentiriam tão fracos como uma mulher ao dar à
luz.
E assim a maldição se cumpriu. Somente as mulheres, as crianças e o Herói Cuchulainn,
filho de Lug, o único imune à maldição, ficaram a salvo das palavras de Macha, que
deveriam durar nove gerações.
Esta lenda surgiu na época em que o patriarcado começava a suplantar o matriarcado.
Marcha , através deste mito nos mostra que era suprema, mágica e hábil, mas o mito
indica que mesmo com todos estes atributos o Rei pode forçá-la a correr, demonstrando
que a posição feminina já não era mais tão superior dentro da sociedade.
O período de fragilidade imposta pela deusa, só nos faz entender que o conhecimento
feminino pode enfraquecer os homens. Este período imposto pela deusa, como forma de
castigo, seria equivalente ao período menstrual de todas as mulheres.
Macha é símbolo da Soberania da Terra. Desrespeitar a terra é desrespeitar a natureza
criadora de toda a Vida.
Tamanho poder desta deusa pode ser atestado pelo pequeno ritual que ela praticava ao
deitar-se com Crunniuc. Ela antes, caminhava em círculo no sentido horário ao redor do
quarto para afastar qualquer mal. A Rainha Maeve também, antes de qualquer batalha,
realizava um movimento circular no sentido horário para proteger-se dos maus augúrios.
Esta prática mágica é realizada em diversas tradições pagãs. Inclusive em algumas capelas
cristãs e nascentes sagradas, devem ser primeiro circuladas para depois se obter o direito
ao ingresso.
MEDITANDO COM MACHA
Macha chega até nossas vidas para nos afirmar que todas as mulheres são deusas. Todas
nós somos pequenos pedaços de um grande ser: a Grande-Mãe. Ela, nas suas várias
formas de manifestação, é o símbolo principal da própria representação do inconsciente.
Uma boa parte deste planeta já busca o resgate desta sabedoria. Não estamos descobrindo
nada novo, mas sim simplesmente revelando o que já se é.
Quando nos afastamos do sagrado, acabamos fatalmente relegando a um segundo plano à
paz, o amor e a alegria. Quando nos esquecemos que a vida é sagrada, nós perdemos a
conexão com a força planetária da vida e ficamos à sombra da nossa verdadeira natureza.
Esta meditação lhe fará recordar a deusa que existe em você:
Procure um lugar reservado em sua casa, onde não possa ser incomodada. Se for ao ar
livre tanto melhor. Fique em pé com a coluna ereta e mantenha os olhos fechados. Inspire
profundamente e expire esvaziando a mente de qualquer pensamento. Inale o ar pelas
narinas e solte-o pela boca entreaberta liberando um som, tipo hhuumm...... Agora respire
procurando encher completamente a barriga e os pulmões e expire profundamente. Vá
aumentando a respiração constante e solte-se. Agora chame Macha por três vezes. Ela
surgirá linda, com um sorriso nos lábios correndo com seus cavalos. Perguntará então a
você se deseja cavalgar com ela. Responda que sim e monte em dos seus cavalos. Sentirá o
doce balanço de seu cavalgar. Atravessarão florestas, córregos, montanhas e em uma certa
clareira pararão. Macha sentará embaixo de uma frondosa árvore e você se posicionará ao
seu lado.
Sinta a essência da deusa. Um sentimento de força e sabedoria emanará dela para você.
Permita que estas qualidades sejam absorvidas. Olhe então a sua volta e sinta o lugar. Há
sons e cheiros associados a ele? Que energia o local lhe passa? Neste instante Macha lhe
dará um presente. Abra-o. É um coração que reluz como ouro. Abrace-a para agradecer,
você sentirá então sua respiração junto a sua, até notar que agora as respirações
tornaram-se única. A deusa e seu coração estão dentro de você. É hora de retornar. Suba
em seu cavalo que ele lhe levará ao lugar em que se encontrava antes. Visualize-se em pé e
inspire profundamente até encher a barriga e os pulmões e expire pela boca. Quando
achar que estiver pronta abra os olhos e diga:
A deusa está viva!
A deusa está viva!
A deusa está viva!
Seja bem-vinda.
DEUSA MORRIGAN, OU MORRIGU
Morrigan é uma das formas que toma a antiga Deusa Guerreira Badb. Morrigan ou
Morrigu, Macha e Badb formam a triplicidade conhecida como as "MORRIGHANS", as
FÚRIAS da guerra na mitologia irlandesa.
Morrigan, como todas as deidades celtas está associada às forças da Natureza, ao poder
sagrado da terra, o Grande Útero de onde toda a vida nasce e depois deve morrer para que
a fecundidade e a criação da terra possam renovar-se.
É também a Deusa da Morte, do Amor e da Guerra, que pode assumir a forma de um
corvo. Nas lendas irlandesas, Morrigan é a deidade invocada antes das batalhas, como a
Deusa do Destino humano. Dizia-se que quando os soldados celtas a escutavam ou a viam
sobrevoando o campo de batalha, sabiam que havia chegado o momento de transcender.
Então, davam o melhor de si, realizando todo o tipo de ato heróico, pois depreciavam a
própria morte. Para os celtas, a morte não era um fim, mas um recomeço em um Outro
Mundo, o início de um novo ciclo.
Na epopéia de Cuchulainn, "Tain Bó Cuailnge", em que se celebra a grande guerra entre
os Fomorianos e os Tuatha De Danann, as três Deusas Guerreiras com forma de corvos são
Nemain, Macha e Morrigu, das quais Morrigu é a mais importante. Segundo a análise que
faz Evans Wentz da lenda, são a forma tripartida de Badb. Nemain confunde os exércitos
do inimigo, Macha goza com a matança indiscriminada, porém é Morrigu quem infundiu
força e valores sobrenaturais a Cuchulainn, que desse modo ganhou a guerra para os
Tuatha De Danann, as forças do bem e da luz, e derrotou os obscuros Fomorianos, de igual
modo que os deuses olímpicos venceram os Titãs.
MORRIGAN E CUCHULAINN
Cuchulainn é um herói do "Ciclo de Ulster", uma das mais antigas coleções irlandesas de
lendas heróicas. Ele era um mortal, nascido para morrer, separado dos demais por
características curiosas e anormais e destinado desde o princípio a um estranho destino.
Como humano, era como os heróis gregos, um Hércules irlandês, filho de um deus da
guerra, Lugh do Longo Braço. Os elementos insólitos do aspecto de Cuchulainn era que
tinha sete pupilas em cada olho, sete dedos em cada mão e sete dedos em cada pé. Suas
bochechas eram pintadas de amarelo, verde, azul e vermelho. Seus cabelos eram escuros
na raiz, vermelhos no meio e loiro nas pontas. Seguia carregado de adornos: cem enfiadas
de jóias na cabeça e cem broches de ouro no peito. Essa era seu aspecto em tempo de paz e
que aparentemente era muito admirado.
Quando era possuído pelo frenesi da guerra, mudava completamente. Girava dentro da
sua pele, de modo que seus pés e joelhos ficavam para trás e as pantorrilhas e as nádegas
ficavam na frente. Seus compridos cabelos ficavam eriçados e cem cada fio ardia uma
faísca de fogo, uma labareda surgia de sua boca e no centro da cabeça brotava um arco de
sangue negro. Um olho lhe caía até a altura da bochecha e o outro entrava para dentro do
crânio; em sua fonte brilhava "a lua do herói". Seu frenesi era tão grande que tinham que
submergi-lo em três tinas de água gelada para que pudessem fazê-lo retornar a sua
temperatura normal.
Ainda menino, a força de Cuchulainn era enorme, pois aos sete anos matou o feroz
cachorro de Cullan, o Ferreiro. Para expiar sua ação, se ofereceu para tomar o posto do
cão e guardar o Ulster. Trocou o nome de batismo de Setanta para Cuchulainn, "Cão de
Cullan" e guardou Ulster até sua morte.
Cuchulainn encontra-se pela primeira vez com Morrigu ainda menino, quando caminhava
por um campo de batalha para encontrar o rei e seu filho.
A Deusa sobrevoa o campo em forma de corvo e faz troça dele dizendo:
-"Aquele que se sujeita a fantasma, não dará um bom guerreiro".
Cuchulainn por ser tão jovem, não reconhece a Deusa, mas percebe que está recebendo um
incitamento à valentia.
O próximo encontro dos dois se dá quando Cuchulainn tenta retardar a chegada do
exército da rainha Maeve. Desta vez, Morrigan surge na forma humana, apresentando-se
como uma bela e sedutora jovem, dizendo-se apaixonada e disposta a casar com ele e
compartilhar toda sua fortuna. Demonstrando obstinação por sua jornada heróica, ele a
recusa. Não se deixou portanto, envolver com a sutil sedução do seu inconsciente, para
permanecer no âmbito que lhe era conhecido e familiar. Para Cuchulainn, ele deveria
suportar o fardo da solidão. E, muito embora Morrigu continue insistindo, dizendo que
poderia ajudá-lo em combate, ele responde:
-"Eu não vim até aqui por causa de um quadril de mulher."
Com essas palavras, traçou seu trágico destino, pois imaginava que seu pior inimigo estava
à sua frente e, no entanto, o inimigo estava era dentro dele.
Em uma outra passagem, Cuchulainn, como guardador e protetor de Ulster, observa uma
mulher que conduzia uma carroça. Ao seu lado caminha um senhor e uma vaca presa por
uma corda. Ao abordá-los, indaga ao homem como conseguiram a vaca. Quem responde é
a mulher e ele irritado retruca:
-"Uma mulher não deve responder por um homem."
Volta-se novamente ao homem e pergunta seu nome. A mulher volta a responder por ele e
Cuchulainn, totalmente fora de controle salta em cima dela e aponta a lâmina de sua
espada para a cabeça da mulher. Nervosa, ela explica que recebera a vaca como presente
por ter recitado um belo poema e que recitaria para ele se saísse de cima dela. Cuchulainn
ouviu a declamação dos versos e quando se prepara para voltar a atacar a mulher, percebe
que a carruagem e a mulher haviam desaparecido e em seu lugar ficou um corvo pousado
em um galho que lhe diz que está ali "guardando a sua morte". Dessa vez, têm consciência
que é a própria Deusa Morrigan e que ela veio avisá-lo que sua morte é iminente.
Em um combate que se seguiu contra os soldados de Connacht, Cuchulainn foi
atrapalhado por diferentes animais: primeiro uma vaca, depois uma enguia, e por fim uma
loba. Todos os animais foram feridos com a espada de Cuchulainn, mas na verdade, todos
eram Morrigan. Para curar-se das feridas, teve que se disfarçar de anciã e pedir a
Cuchulainn que ordenhasse sua vaca mágica. Ao receber das próprias mãos do herói três
bocados do leite da vaca, curou-se de todos os ferimentos.
Antes de uma nova batalha contra os guerreiros de Connacht, Cathbad e Cuchulainn
passeavam a margem do rio, quando avistaram a "Lavadeira do Vau", um tipo de mulherfantasma que freqüenta as margens dos rios e arroios, chorando e lavando as roupas e as
armas sujas de sangue, dos guerreiros que morrerão em combate.
Cathbad diz então:
-"Você vê Cuchulainn, a filha de Badb lavando seus restos mortais?" É o prenúncio de sua
morte! Entretanto, Morrigan, talvez comovida com o trágico fim de Cuchulainn,
desaparece com a carruagem de combate enquanto ele dormia. Mas nada o impedirá de ir
de encontro ao seu já traçado destino.
No dia seguinte, no fervor da batalha, Cuchulainn gravemente ferido, amarra-se ao pilar
de uma pedra e segue lutando. Quando está próximo da morte, Morrigan aparece pela
última vez, agora como um corvo que pousa no ombro do valente herói e depois salta ao
solo para devorar as vísceras do corpo dilacerado de Cuchulainn.
Na véspera da Segunda Batalha de Moytura, também o rei líder dos Tuatha De Danann,
Dagda, encontra Morrigan no vau do rio Unshin, lavando as armas ensangüentadas e os
cadáveres dos que viriam a tombar no dia seguinte.
A Deusa então dá a Dagda informações sobre o combate, revelando seus dons proféticos.
Igualmente, dá provas de coragem e poder quando afirma que ela mesma arrancará o
coração do seu inimigo Fomoriano. Em pagamento, Dagda sacia seu apetite sexual,
unindo-se a ela ali mesmo, em meio aos cadáveres que morrerão, enfatizando a íntima
ligação entre a vida e a morte.
MORRIGAN, MACHA E BODBH
A história da Irlanda, relatada por John Keating no século XVII a partir de documentos
antigos, cita Bodbh, Morrigan e Macha como as três deusas dos Tuatha De Dannan. O
texto da "Batalha de Cnuch, é uma epopéia da série osiânica, descreve a "Bodbh sobre o
peito dos homens. E, na "Batalha de Mag Rath se fala de Mirrigan "de cabelos cinza". Na
"Destruição da morada da Da Chica", se trata de "Bodbh da boca vermelha". No Livro
das Conquistas, vasta compilação de homens letrados sobre a origem mitológica da
Irlanda, se encontra a seguinte enumeração:
"Bodbh, Macha e Ana (ou Anand), são as três filhas de Ernmas", que é contradita pelo
poema que segue, o qual, na enumeração, substitui a Ana por Morrigan.
Tanto Morrigan a gaélica, como Morgana dos relatos da Távola Redonda, possuem a
faculdade de transformarem-se em pássaros e sempre vêm acompanhadas de suas irmãs,
que podem tomar o mesmo aspecto.
A JORNADA HERÓICA
Herói é todo aquele que é "chamado" para cumprir um determinado destino. O chamado
representa a necessidade de que um valor mais antigo, pessoal ou tribal, seja superado.
Geralmente o caminho é nítido, mas certamente, nunca será fácil. O herói deverá persistir
diante do maior obstáculo que é sua própria letargia, seu medo e seu desejo de voltar para
casa.
Muitas vezes, o herói poderá receber ajuda, como aconteceu com Cuchalainn, que
infelizmente, não teve olhos para reconhecer e receber os préstimos da Deusa Morrigan. O
caminho será sempre pontuado de diversas tentações: os demônios da dúvida, da
esperança de um caminho mais fácil, das seduções pela riqueza e do poder.
O herói da maioria das histórias parte para uma jornada muitas vezes sem volta, pois
deverá descer às profundezas do seu inconsciente. Se ele sobreviver à batalha que travará
com os monstros que lá encontrar, então poderá empreender a subida e ser transformado.
Para Cuchulainn, a maior das batalhas não foi vencida, o confronto com a Deusa
Morrigan e a assimilação de sua consciência lunar. Ele não soube compreender o que a
Deusa queria, pois atrás de sua postura heróica estava também sua convicção defensiva.
Essa é a condição que assumem a maioria dos homens da nossa atualidade, que também
não compreendem e não conseguem se relacionar muito bem com as mulheres. Isso
porque, o arquetípico masculino é o domínio do distanciamento e da separação e agressão
contra a natureza e os seres humanos, tendo em vista a sobrevivência. O masculino
desenvolve o aspecto solar da consciência que envolve a divisão e as guerras para
estabelecer suas fronteiras. Já o feminino, desenvolve a consciência lunar e é concebida
como a voz oracular da natureza.
Tais diferenças primárias para cada sexo, são percebidas, pelo valor que atribuem as suas
façanhas. Por exemplo: as mulheres dão à luz e criam seus filhos com amor, enquanto os
homens matam e forjam suas armas. Os homens exibem seus troféus (seja um animal, uma
cabeça humana ou um escalpo) com o mesmo orgulho que as mulheres acalentam em seus
braços um recém-nascido.
Na história e em nossa sociedade atual, os homens manifestam a tendência de desvalorizar
o feminino neles mesmos e nas mulheres. Muitos dos atributos femininos são considerados
"fraquezas" na tradicional sociedade patriarcal. Em conseqüência dessa distorcida
valoração, os homens lutam para se excluir e se diferenciar das mulheres. Entretanto, o
papel materno da mulher, universal, tem efeito tanto sobre o desenvolvimento da
personalidade masculina e feminina quanto sobre a hierarquia dos sexos. O
relacionamento primal com a mãe não é apenas o primeiro relacionamento, mas também a
imagem e o protótipo das relações em geral. Como são basicamente as mulheres que
cuidam das pessoas em seus anos da infância, a voz da autoridade feminina tem
entonações poderosas.
Com o desenvolvimento do ego e da individualização, ocorre um movimento de baixo para
cima, ou seja, do inconsciente para a consciência e, sendo assim, o âmbito matriarcal
assume o caráter daquilo que tem de ser superado: o infantil, o arcaico, o abissal e o
caótico. Todos esses símbolos estão ligados ao Feminino Terrível, ou o "Dragão
Devorador" que reveste-se o feminino. Nesse sentido, o Feminino Terrível torna-se símbolo
de estagnação, regressão e morte.
Os homens, portanto, não se diferenciam das mulheres, racional ou objetivamente, mas
sim por "medo do feminino", que ameaça devorá-los e levá-los de volta aos braços da Mãe
Terrível que está dentro dele, e que em seu abraço incestuoso promete a paz da morte por
meio da rendição do Eu. Mas, faz parte do desenvolvimento normal do ego masculino
como herói que ele tenha êxito em resgatar o Feminino da dominação materna. O
casamento com o Feminino, para o homem, é sagrado, e constitui um pré-requisito para o
desenvolvimento do Eu no qual os opostos estão contidos para que a inteireza seja obtida.
O ETERNO RETORNO
O arquétipo do eterno retorno dramatiza uma revelação: que sob o disfarce da morte
encontramos uma secreta unidade de vida. O desenrolar desse drama confere
profundidade à vida.
Devemos todos considerar nosso próprio lugar no grande círculo, pois se nossa vida não
tem conteúdo ou significado, ela será estéril e absurda. Só a conscientização de que existe
uma dimensão profunda em tudo que experimentamos amplia nossa visão e nos recoloca
em uma zona de atemporalidade. A participação no grande círculo conserva tanto o
mistério que esse representa como a dignidade dos que morrem.
É a Deusa Morrigan que nos ajudará a transformar nossas perdas em um "deixar que vá"
e nos identifica como o "ir e vir", substituindo as aquisições pela capacidade de "abrir
mão" para poder participar de sua secreta sabedoria de Grande Mãe.
A jornada da vida é um breve episódio entre dois grandes mistérios que são um só, e,
tornar esse episódio tão luminoso quanto possível, é redescobrir nos movimentos da alma,
nas provações do nosso corpo, nas presenças espectrais em nossos sonhos, os rastros das
Deusas.
HÁ UMA HEROÍNA EM CADA MULHER
Todas nós somos heroínas de nossas próprias vidas, em uma viagem que inicia com nosso
nascimento e continuará na decorrer de toda a nossa vida.
Como heroínas, também podemos ser semi-deusas, do mesmo que o protagonista da nossa
história Cuchulainn. Igual a ele, embora de uma forma um pouco diferente, devemos
abraçar o "Feminino" e deixar de ter medo do "Masculino". A ameaça representada pelo
Masculino e pelo medo a ele associado é o medo da desvalorização da mulher. Entretanto,
por mais difícil que seja a batalha, devemos nos tornar heroínas, aptas a fazer escolhas em
que deixemos de ser passivas ou joguetes movidos por outras pessoas ou pelas
circunstâncias.
Vale a pena fazer valer nossos direitos, muito embora essa não seja uma tarefa fácil, pois
no meio do caminho sempre nos confrontaremos com os aspectos sombrios de nossa
personalidade, mas no final nossa autoconfiança crescerá.
Entre os celtas, os dois sexos gozavam de considerável igualdade nos costumes
matrimoniais, direitos à propriedade, estado legal, bem como as atividades econômicas e
políticas. A importância das guerreiras e matriarcas e seu papel no treinamento dos jovens
guerreiros sugerem ainda que a imaginação celta não traçava linhas rígidas entre as
polaridades do masculino e feminino.
Podemos aprender muito com a mitologia celta, principalmente sobre a liberdade dos
sexos. Na verdade, com igualdade e o respeito os dois sexos podem ter fortalecidos os seus
relacionamentos.
Em nossa sociedade patriarcal, a maioria dos casamentos entram em falência emocional e
estrutural, justamente quando ocorre o problema da dominação-submissão. A mulher que
submete-se intencionalmente ou inconscientemente ao homem, se tornará infeliz,
sobretudo na meia idade, quando ela precisa atualizar aquilo que foi reprimido em sua
própria identidade.
RITUAL
Morrrigan é uma aliada poderosa para as mulheres que reivindicam os poderes da
feminilidade e buscam reafirmação. Ela também protegerá você e lhe dará forças nas
batalhas amorosas.
Em caldeirão em uma panela, queime um incenso. Escureça seu quarto ou espere
anoitecer. Acenda uma vela preta representando o poder oculto e rebelde da magia de
Morrigan.
Entre em estado alterado (alfa) e queime o incenso de forma que a fumaça seja bem forte.
Consulte a fumaça e inale seu poder aromático. Após vários minutos, sentirá a presença de
Morrigan no quarto com você, talvez do seu lado ou dentro de você. Ela também consulta
a fumaça e sente seu doce perfume.
Diga para si mesma:
"Eu sou a bruxa que fica abaixo da Lua.
Sou o rugido do Oceano.
Sou a Senhora da Soberania.
Sou a chuva nas folhas.
Sou as estrelas que brilham no Céu.
Sou a vidente da sorte.
Sou uma guerreira forte com minha espada.
Sou a mãe cigana, cheia de leite.
Sou a mulher das coxas fortes.
Ensino os mistérios da cama.
Sou o prazer dos corpos que se unem.
Sou a bruxa que conhece a força do amor.
Sou Morrigan.
Sempre vivi.
Já fui tudo."
Você pode incluir suas próprias invocações e reafirmá-las do melhor modo que lhe convier.
Repita várias vezes essa invocação ou a sua, pois a repetição é que cria o cântico que leva
ao transe. Em transe, podemos nos transmutar na consciência de Morrigan e como que
por osmose também nos tornamos Senhoras da Magia. Em nível psíquico, você já é. E sabe
que é.
Quando tiver se transformado em Morrigan, passe o tempo que quiser, ou o tempo que
conseguir manter o estado alterado de consciência, vigiando o caldeirão, acrescentando
incenso e consultando-o além das ondas de fumaça. Consulta-se a fumaça observando suas
mudanças e informações.
Faça suas perguntas, declare suas intenções, procure a sabedoria.
Quando você perceber que está voltando ao seu estado normal de consciência, conclua o
transe dizendo um ou dois versos invocadores que ache mais apropriado, tipo:
'Sempre vivi.
Já fui tudo".
Em seguida, dê por encerrado o ritual e reflita sobre tudo que viu e sentiu.
AIRMID, DEUSA DAS PLANTAS MEDICINAIS
Airmid é a Deusa da Cura dos celtas. É filha de Daincecht, avô de Lugh, e possuía quatro
irmãos: Miach, Cian, Cethe e Cu.
Lugh foi o guerreiro que tinha uma lança mágica que disparava fogo e rugia e libertou o
rei Nuada e os Tuatha Dé Danann das mãos dos Formori, os demônios da noite que tinham
um só olho. Nuada perdeu sua mão direita durante um combate e, para que pudesse
continuar a ser rei, ele precisava estar inteiro, então, o médico Dianchecht construiu uma
maravilhosa prótese de prata, o que rendeu a Nuada o apelido de "Mão de Prata".
A estória da Deusa Airmid inicia-se quando faz uma visita ao castelo do rei Nuada.
Conta-se que os portões do castelo do rei Nuada era guardado por um homem que não
tinha um dos olhos e trazia escondido em sua capa um gato. Quando Airmid e seu irmão
Miach, em visita ao castelo, apresentaram-se como curandeiros, o tal homem pediu-lhes
para reconstituir o olho perdido. Os deuses médicos concordaram e transplantaram o olho
do gato para o espaço do olho vazio do porteiro. Entretanto, não tinham como mudar as
características do olho do animal. Sendo assim, à noite ele ficava aberto em busca de caça
e durante o dia fechava-se exausto. Mas o porteiro ficou muito feliz por ter novamente os
dois olhos.
A RIVALIDADE DE DIANCECHT E SEU FILHO MIACH
O Rei Nuada estava usando sua prótese de prata feita por Dianchecht. Então Miach
oferece-se para criar uma nova mão de carne e sangue, usando seus poderes. Este último,
não concordava com as práticas médicas de seu pai e utilizando-se de seus poderes mágicomédicos, após três dias e três noites reconstituiu a mão do rei que voltou a ficar inteiro de
verdade. Tal feito causou ciúmes e inveja ao pai, que propôs testar os poderes do filho,
arremessando uma espada de encontro a sua cabeça, cortando levemente a sua pele. O
rapaz imediatamente curou o ferimento com suas habilidades mágicas. Diancecht então
enfureceu-se mais e lançou a espada, agora com mais força, cortando a carne da cabeça
até alcançar o osso.
Novamente Miach curou-se com seus poderes mágicos. O pai alvejou-o uma terceira vez,
mas foi somente no quarto arremesso que matou Miach.
Sem remorso, enterrou-o e 365 ervas, uma para cada dia do ano, nasceu de sua sepultura.
Airmid, sua irmã, recolheu todas as ervas em seu manto e separou-as de acordo com suas
propriedades. Mas Diancecht, ainda consumido pelo ódio, arrancou do manto de Airmid
todas as ervas, misturando-as, para que nunca mais ninguém obtivesse delas algum
conhecimento mágico.
Cada uma das ervas que Airmid havia colhido estavam associadas as diferentes partes do
corpo humano. Uma erva para cada tendão e junção. Poderíamos portanto, contruir um
corpo só de ervas, a exemplo de Blodwedd, que era um ser vivo, e foi criada a partir de
nove tipos de ervas.
Para os celtas, as plantas tinham espírito e sentimentos, igual a qualquer ser humano e
eram mais importantes em um sentido biológico. Isto porque, as plantas podem existir sem
nós, mas sem elas não haveria nenhuma possibilidade de vida animal. Para os celtas, a
associação das plantas com o corpo era considerado um conhecimento essencial. Um texto
médico medieval galês, dizia que o corpo humano está associado ao cosmo. Nossos olhos
seriam as estrelas, o Sol corresponderia ao rosto, a respiração seria o vento, as pedras
seriam os osso, a água seria o sangue e a terra seria a carne.
A Deusa Airmid também era guardiã das fontes sagradas e segundo uma lenda, foi ela que
ajudou seu pai a criar a Fonte da Cura, Tiobraid Slane, enquanto os Tuatha de Dannan se
preparavam para a segunda batalha de Mag Tuired. Recolhendo ervas da Irlanda e
citando encantamentos para cada uma delas, colocou-as na fonte. Todos os guerreiros
feridos que se banhavam na fonte, ficavam completamente restabelecidos.
FLORES MÁGICAS DA VÉSPERA DO SOLSTÍCIO DE VERÃO
Na França e a Inglaterra, países sob a influência dos druidas, a véspera do solstício de
verão ainda é a época de colher certas plantas mágicas cuja virtude evanescente só pode
ser assegurada por esta mística estação.
A véspera de São João era o grande dia para a coleta de ervas mágicas que
proporcionavam meios de combater a febre e de curar muitas enfermidades e proteção
contra feiticeiros e seus sortilégios. Mas, para alcançar os resultados, era preciso observar
duas condições. Primeiro, era necessário estar jejuando no momento de colher as ervas;
segundo, era necessário cortá-las antes do nascer do sol. Se tais condições não fossem
respeitadas, as plantas perderiam suas virtudes especiais.
Diríamos então, que as flores, colhidas nesta época do ano, são dotadas da virtude de
transferirem para a humanidade um pouco dos eflúvios da luz e do calor do sol, que lhes
dá, por algum tempo, poderes acima dos normais para curar enfermidades e desmascarar
e confundir todos os males que ameaçam a vida do homem.
Dia 27 de julho é, na Irlanda, o dia considerado favorável à colheita de ervas curativas.
Homenageia-se também, Airmid, a Deusa da Cura e da Magia, guardiã da fonte sagrada
da saúde. As pessoas vão em peregrinação para as fontes sagradas e oram em prol da cura,
amarrando pedaços de suas roupas ou fitas coloridas nas árvores que circundam as fontes.
Neste dia, ore para a Deusa Airmid, pedindo que a ajude a livra-se de seus problemas de
saúde.
JORNADA A AIRMID
Material:
Uma guirlanda de flores naturais
Fósforo e jornal para acender uma fogueira.
Procure um campo afastado onde haja árvores e flores selvagens.
Construa um círculo com pedras que achar no local e com gravetos que encontrar acenda
uma fogueira.
Sentada aguarde o crepúsculo e as primeiras estrelas cintilarem para iniciar o ritual.
Quando chegar a hora, dance em torno do fogo, concentrando-se nas batidas de seu
coração. Quando estiver bem cansada, sente-se e observe o trepidar das labaredas da
fogueira.
Chame mentalmente pela Deusa Airmid e diga que sua presença é bem-vinda.
Mentalize a imagem da Deusa e você sentirá as energias místicas da natureza.
Se você mantiver seus ouvidos fiéis ao som das batidas de seu coração e os olhos fixos no
fogo, poderá vê-la dançar entre as árvores.
Coloque a guirlanda ao lado do fogo e diga:
"Esta guirlanda é meu presente para a Deusa Airmid". Você deixará o presente neste
local.
Visualize em seguida, um feixe de luz descendo do céu que transformará seu corpo em
uma estrela ardente.
Sinta esta energia aquecê-la e medite mais alguns minutos.
Agradeça à Deusa sua agradável companhia e despeça-se.
Apague o fogo com terra e volte para casa.
Deixe uma caneta e um papel ao lado de sua cama, pois seus sonhos, esta noite, serão
tocados pela magia da Deusa Airmid.
Não esqueça, na manhã seguinte, de anotar tudo o que sonhou.
Airmid é a Deusa que nos ajuda a encontrar um lugar sagrado no mundo e dentro de nós.
É ela que nos mantêm enraizadas com a terra. Convide-a para uma visita quando se sentir
desconectado dessa fonte natural.
CONECTANDO-SE COM A ENERGIA VEGETAL
Para sentir a energia das plantas, você necessita primeira compreendê-las Procura uma
descrição mais detalhada da erva que escolheu, familiarize-se com ela.
Prefira uma plantinha que cresça em seu jardim, como um trevo por exemplo. Coloque a
sua mão na terra em torno da raiz da planta e prenda-a, sem machucar. Feche os olhos e
tente conectar-se com o ritmo de suas vibrações. Una-a a ela em completa simbiose. Some
sua energia com a do trevo. Fique assim durante alguns minutos. Depois cheire sua
plantinha e despeça-se dela.
Quando você se conecta com uma planta, ela vibra no mesmo ritmo que você e poderá
instruí-lo(a) para que tipo de cura ela deve ser usada. Experimente!
Os poderes mágicos da Deusa Airmid podem ser encontrados no chá do nosso dia-a-dia.
Cores da Deusa: verde, ouro, marrom
DEUSA BRANWEN
Eu sou a beleza da terra verde
E da Lua Prateada
Eu sou a alma da natureza
Que dá vida ao universo
De mim todas as coisas nascem
E até mim todas retornarão
Se você quiser me conhecer
Terá de desvendar meus mistérios
Eu já fui o que você é hoje
Hoje sou o que você
Será amanhã
Quem sou?
Branwen é a deusa galesa do amor e da beleza, similar a nossa tão conhecida Afrodite. É
considerada a Vênus dos mares do norte. Ela é uma das três matriarcas da Grã-Bretanha,
junto com Rhiannon e Arianrhod e a principal deusa de Avalon. Em algumas lendas
arturianas, Branwen é considerada a Dama do Lago.
Também chamada de "seios brancos" ou "vaca prateada"está associada à Lua e à Noite.
Foi cristianizada como Santa Brynwyn e é a Padroeira dos Namorados. Seus atributos
mágicos são a inspiração, as novas idéias, a energia, a vitalidade e a liberdade. Na tradição
Avalônica, Branwen corresponde ao espírito dos Elementais e é a incorporação da Terra.
Branwen era filha de Pennardunn e Llyr, deus galês do mar. Tinha como irmãos
Manawydan, o Manannan Mac Lir irlandês, e Bran o Bendito (rei de Gales).
O PESADELO DE BRANWEN
Foi concedida a mão de Branwen, por seu irmão Bran ao rei da Ywerddon, Irlanda,
Matholwch, com o intuito de propor uma aliança entre os países. Uma grande festa foi
organizada para celebrar tão grandioso acontecimento. Mas eis que surge Efnisien, um
meio-irmão de Bran, que irritado por não ter sido consultado, mutila os cavalos de
Matholwch. Este último, toma a atitude como um insulto grave e manda seus homens
prepararem os navios para regressar à Irlanda. Bran intercede a tempo, oferecendo-lhe
ricos presentes em prata e ouro para acalmá-lo. O novo casal parte então para Ywerddon
e um ano após nasce Gwern. Porém, apesar de tudo o rei permanecia irritado e verifica-se
que a crise não tinha sido superada. A união do casal sempre ficou estremecida em virtude
de vestígios de ressentimento.
Rumores do acontecido foi ouvido por seus súditos, que desaprovaram a atitude do rei.
Cedendo aos seus conselhos, Matholwch resolveu vingar-se de Bran através de sua irmã.
Sendo assim, expulsou-a do leito nupcial real mandando-a para a cozinha, onde além de
ser obrigada a realizar duras tarefas era periodicamente maltratada a mando do marido.
Isto durou três anos. Neste período Branwen treinou um estorninho a falar e enviou-o a
Gales. Desta forma, seu irmão Bran foi avisado de que ela corria perigo e necessitava de
ajuda. O rei de Gales enfurecido, prepara seu exército e cruza o mar em direção de
Ywerddon.
Na Irlanda uma aparição incomum: uma floresta materializou-se no mar. Matholwch,
estarrecido com tal visão, chama Branwen. Ela lhe explica que tratava-se da Esquadra de
seu irmão.
Em meio a um grande banquete onde Matholwch abdica seu trono ao seu filho Gwern,
ainda criança. Neste exato momento, Efnisien e Bran junto com toda sua guarda chegam.
Amigavelmente Efnisien, pede ao rei da Irlanda para abraçar o menino e obtêm o seu
consentimento. Quando Gwern vai ao seu encontro, ele joga-o no fogo. Imediatamente o
grande banquete torna-se uma batalha sangrenta. Após três dias o exército de Gales é
vitorioso, mas o custo é altíssimo, pois seu exército fica reduzido a sete sobreviventes, entre
os quais estava o irmão de Bran, Manawydan. Antes de morrer Bran ordena que seja
decapitado e sua cabeça seja enterrada na Montanha Branca, em Londres, onde ficaria
olhando em direção ao continente e protegeria seu país de invasões futuras.
Ao retornar, Branwen entra em profunda depressão e considera-se maldita por ter
provocado tão horrendo conflito. Ela morre e seu corpo é enterrado às margens do rio
Alaw, segundo a tradição, em Bedd Branwen, ou Tumba de Branwen. Os sobreviventes
restantes seguem a esmo durante vários anos até conseguirem enterrar a cabeça mágica.
A Deusa Branwen deve ser invocada quando você necessitar começar um projeto novo,
procura inspiração ou até se está para enfrentar alguma perda (separação, perda de
emprego, morte de familiar).Seus símbolos incluem o caldeirão, a Lua Prateada, o corvo
branco, a pomba e o estorninho. O branco é a cor sagrada desta deusa por ser considerada
a Deusa do Coração Puro que possui a capacidade de promover reinícios.
Branwen, a Vênus dos Celtas, regressa de seu exílio para reclamar uma sabedoria que foi
relegada por muitos milênios.Esta Deusa aparece em nossas vidas para fortalecer a
conexão com a nossa própria essência. A busca desta deusa nos ajuda a apreciar nosso
próprio poder, habilidade e beleza. Honrar Branwen é celebrar com amor todos os
momentos da nossa vida.
Reverenciar Branwen e seus princípios femininos nos põe em contato direto com a magia
da natureza e de todas as criaturas.
O CORVO BRANCO
"...se fossem nossas almas visíveis aos olhos, se veria distintamente uma coisa estranha, cada
um dos indivíduos da espécie humana corresponderia a alguma espécie do reino animal....os
animais são as figuras de nossas virtudes e nossos vícios, errantes diante dos nossos olhos; os
fantasmas visíveis de nossas almas." (Os Miseráveis-Victor Hugo).
Na mitologia grega, os corvos eram originalmente brancos e eram os mensageiros de
Apolo. Até que certo dia, trouxeram-lhe más notícias e a fúria deste deus os chamuscou de
preto.
Para os celtas, o corvo também era inicialmente branco. Pássaro associado ao deus Lugh,
que tinha a missão de vigiar para que nenhum mortal se aproximasse do leito da amante
grávida deste deus. Mas, como toda mulher consegue o que quer quando é determinada,
fez com que o corvo silenciasse sobre uma noite que havia passado nos braços de um
pastor. Quando interrogado, o pobre corvo mentiu e o deus da adivinhação, furioso,
condenou-o a ter a plumagem negra e a lhe obedecer cegamente daquele dia em diante.
Esta lenda é representativa de quando mal pode acarretar uma mentira, pois neste
momento a consciência se separa da divindade que existe nela. A consciência pode ser
iluminada com a luz da verdade, ou sombria com a plumagem negra da mentira.
O corvo na tradição celta também tem papel profético. Era considerado animal sagrado
entre os gauleses, bretões, galeses e gaélicos. Considerado um pássaro celeste, do Sol e da
luz, mas também tem lugar preponderante no lado sombrio de todos nós. A "sabedoria do
corvo", para os irlandeses significava o conhecimento supremo.
Tanto a deusa da guerra, Bodb, como também a deusa tríplice Morrigan, eram
representadas na forma de uma gralha. Branwen era igualmente associada a um corvo
branco.
O corvo foi personagem principal na narrativa "O Sonho de Ronabwy". Os corvos
guerreiros do Owein, depois de serem massacrados pelos soldados de Artur, reagem com
violência e atacam para partir os soldados em pedaços.
Na mitologia germânica, o corvo é o pássaro companheiro do deus Vatã. Na mitologia
escandinava, Odim tinha dois corvos. Seus nomes eram: Hugin (a Reflexão) e Munin (a
Memória). Os dois deixam seu senhor pela manhã para sobrevoar o mundo e retornam à
noite para contar o que viram e ouviram. Odin possuía também dois lobos, o Geri (o
Glutão) e Freki (o Voraz). Os corvos representavam o princípio da criação e os lobos o
princípio da destruição.
Os licualas do Congo (África), consideram o corvo como um pássaro que os previne de
algum infortúnio.
No mundo indígena o corvo tem papel preponderante. Na América do Norte o corvo é a
personificação mítica do trovão e do vento. O bater de suas asas é um ato simbólico do
vento e sua língua é o raio.
A sua semelhança com a família das águias o tornaram manifestação do Grande Espírito.
Ele é figura central do panteão dos índios tlingit (noroeste do Pacífico).
O corvo é protagonista de muitas lendas de tribos norte-americanas e ocupa um lugar
fundamental na mitologia e rituais destes povos. É conhecido pelos tainainas, os kutchins,
os kaskas, que o chamavam de "Wisakedjak" e também os ojibwa, que o denominavam
"Nanasbusch" e os naskapi, que o conheciam como "Djokabish". Para todos estes povos,
foi o corvo que criou o homem, organizou e estruturou o mundo, e criou e libertou o Sol e
a Lua.
Na Colômbia é um animal celeste e criador. O deus criador, Shai-Iana fundou um reino
que se estendia a uma grande altura e embaixo, havia um oceano imenso totalmente vazio.
Cansado do seus serviços, o deus criador, acabou por expulsar o Grande Corvo do paraíso
e o colocou dentro de um saco. A princípio o corvo não sabia o que fazer, mas assustado e
desesperado começou a bater asas no intuito de livrar-se da prisão. Agitou-se tanto, que do
oceano primordial erigiu rochas que vieram a constituir as primeiras terras emersas.
Depois através de seu canto melodioso criou o primeiro homem que surgiu de dentro de
um gigantesco marisco. Usando então sua magia, criou a mulher, pois a sexualidade é o
jogo predileto do corvo. Depois roubou dos céus o Sol e ofereceu ao homem o fogo.
Mas o corvo, igual sua cor, tem seu lado negro, sombrio, e sendo assim em algumas
tradições ele é ligado a morte e mau-agouro. Segundo algumas idéias populares, quando
Deus criou a galinha, o Diabo criou o corvo.
"Quando um corvo vem grasnar em cima de um telhado de uma casa na qual alguém
doente, é sinal certo que morrerá dessa doença". Na Normandia, as gralhas eram sinal de
fome e, pela direção de seu vôo ou conforme seus grasnos, pressagiavam carestia ou
abundância. A maioria das vezes o canto desses pássaros era temido, principalmente se
houvesse algum doente por perto.O corvo de nossos dias é figura arquetípica que já
alcançou fama internacional e que foi estigmatizado como a "morte" em um filme, cujo o
protagonista principal era Brandon Lee. O ator morreu sem ter podido concluir as
filmagens.
Como se pode observar, este pássaro negro é tipo como anunciador da morte, que plana
sobre os campos de batalha para alimentar-se da carne dos mortos. O corvo leva aqui a
fama de uma marginalidade trágica de monstro desapiedado e devorador de corpos. Mas
em algumas crenças ele também é um herói solar. Algumas vezes demiurgo, mensageiro e
guia divino. É guia das almas na sua última viagem e conhece os terríveis segredos das
trevas.
AINE, A DEUSA DAS FADAS
Aine é uma deusa primária da Irlanda, soberana da terra e do sol, associada ao Solstício
de Verão, que sobreviveu na forma de uma Fada Rainha. Seu nome significa: prazer,
alegria, esplendor. Ela é irmã gêmea de Grian, a Rainha dos Elfos e era também
considerada um dos aspectos da Deusa Mãe dos celtas Ana, Anu, Danu ou Don. Juntas
Grian e Aine, alternavam-se como Deusas do Sol Crescente e Minguante da Roda do Ano,
trocando de lugar a cada solstício.
Os pagãos acreditam que na entrada do Solstício de Verão, todos os Povos pequenos vêm a
Terra em grande quantidade, pois é um período de equilíbrio entre Luz e Trevas. Se
estiver em paz com eles, acredita-se que, ao ficar de pé no centro de um anel-das-fadas é
possível vê-los. É um período excelente para fazer amizade com as fadas e outros seres do
gênero.
Rainha dos reinos encantados e mulher do Lado, ela é a Deusa do amor, da fertilidade e do
desejo. É filha de Danann, e esposa e algumas vezes filha de Manannan Mac Liir, e mãe de
Earl Gerald. Como feiticeira poderosa, seus símbolos mágicos são "A égua vermelha",
plantações férteis, o gado e o ganso selvagem.
Existem duas colinas, perto de Lough Gur, consagradas à Deusa, onde ainda hoje ocorrem
ritos em honra a fada Aine. Uma, a três milhas a sudoeste, é chamada Knockaine, em
homenagem a esta deusa. Nessa colina possui uma pedra que dá inspiração poética a seus
devotos meritórios e a loucura a aqueles que são por Ela rejeitados.
Esta é uma Deusa-Fada que segundo a tradição celta ajudava os viajantes perdidos nos
bosques irlandeses. Diziam que para chamá-la bastava bater três vezes no tronco de uma
árvore com flores brancas. Sempre que se sentir "perdido", faça o mesmo, chame por Aine
batendo três vezes no tronco de uma árvore de flores brancas. Ela não vai tardar em
ajudar.
Segundo uma, entre tantas lendas, conta-se que estava Aine sentada nas margens do rio
Camog, em Lough Gur, penteando seus longos cabelos loiros, quando Gerold, o Conde de
Desmond, a viu e fortemente atraído por ela, roubou-lhe o manto. Só o devolveu quando
ela concordou em casar-se com ele. Desta união nasceu Earl Gerald, "O Mago". Após o
nascimento do menino, impuseram ao Conde Desmond, um tabu que lhe negava expressar
surpresa a qualquer coisa que o filho fizesse. Entretanto, quebrou tal tabu, exclamando
alto quando viu o filho entrando e saindo de um frasco.
Gerald imediatamente transformou-se em um ganso selvagem e voou alto pelo rio Lough,
em direção à ilha Garrod, encontrando repouso em seu castelo encantado. Raivosa com
seu marido, pois ele tinha desrespeitado as regras estabelecidas, Aine dirigiu-se para colina
de Knockaine, transformando-se em um cisne. Dizem que é lá que ainda reside em seu
Castelo de Fadas. Já Gerald, vive abaixo das águas de um lago e acredita-se que um dia
voltará para expulsar estrangeiros mal feitores da Irlanda. Outros dizem que de sete em
sete anos ele emerge das águas como um fantasma montado em um cavalo branco.
Há lendas que contam que Aine tinha o poder de se transformar tanto em um cisne branco
quanto em uma égua vermelha de nome Lair Derg, e que ninguém conseguia alcançá-la.
Se acreditava também, que na noite do Solstício de Verão, moças virgens, que
pernoitassem na colina de Knocknaine, poderiam ver a Rainha das Fadas com toda a sua
comitiva. O mundo das fadas só se tornava visível pelos portais mágicos, chamados anéis
de fada, que eram indicados pela própria Aine.
Uma outra lenda faz referência a Aine como sendo uma mortal que foi transformada em
fada. Três dias no ano são dedicados a ela. Seria a primeira sexta-feira, sábado e domingo
após o dia de Lammas. É neste dias que ela reivindicaria seu retorno como mortal.
Nós podemos ver em Aine o aspecto triplo da Deusa. Como Deusa Donzela, apresenta a
habilidade de recompensar seus devotos com o presente da inspiração poética. Como
Deusa Mãe, está associada aos lagos e poços sagrados, cujos mananciais possuem poderes
curativos. O simbolismo relacionado com a Deusa Mãe foi esquecido quase por completo,
desde que começaram a ser realizados os ritos cristãos nas igrejas, mas o ato de invocação
da vida nunca enfraqueceu. Já como Deusa Obscura, Aine aparecia para os homens
mortais como uma mulher sábia de rara beleza, qualificada como "sidhe leannan", ou
seja, uma amante-fada fatal. Sidh para os irlandeses, representa o estado intermediário
entre um mundo e o seguinte. Os habitantes de Sidh são todos sobrenaturais e eram
dificilmente visíveis, devido às impurezas do mundo. Dizia-se que estes seres podiam ser de
dois tipos: os altos e brilhantes e os baços iluminados a partir do interior. Com o advento
do cristianismo, estes seres se degradaram em todos os sentidos, tornando-se fadas,
duendes e representações malignas do folclore, que viviam num estado intermediário.
Contudo, seu fundamento psicológico nunca se perdeu e os terrores dos contos de fadas e
fantasmas conservam os restos do culto religioso.
Acredita-se que a amante-fada fatal ainda hoje é encontrada e quando escolhe um homem
mortal, este está fadado à morte certa, pois esta é a única maneira viável para que os dois
possam ficar juntos e concretizar este grande amor. Foi desta lenda que Graham extraiu
algumas de suas idéias da natureza de seus vampiros e escreveu o famoso livro do "Conde
Drácula".
A FADA COMO ARQUÉTIPO
O sonho de toda a fada é tornar-se mulher e o sonho de toda a mulher é tornar-se fada.
Mas quem sabe não poderemos chegar a um consenso e talvez o sonho possa tornar-se
realidade. A fada, não a fada madrinha que queríamos que nos ajudassem quando éramos
crianças, aparece em nossas vidas para dar a ela um novo sentido. A fada não traz roupas
bonitas, jóias, ou um príncipe encantado, mas sua presença é feérica. Esse aspecto feérico
vem de um lugar indefinido, lá do alto das nuvens, um lugar que poucos visitam, e
portanto poucos homens descobrem que existe na pessoa da mulher. Claro que é um
mundo desconhecido, estranho, de difícil acesso, não visível a olho nu, mas no entanto
existe como possibilidade dentro da mulher e pode desabrochar se ela for acolhida e
chamada. Para que ela venha sobre a terra e participe da vida cotidiana, se torne humana,
tem de primeiro ir descobri-la.
O arquétipo da fada é sutil, efêmero, sensível, colorido, como os campos floridos nas
nuvens e o perfume celestial que de lá emana. E como tudo que é sutil, do mesmo modo
que se insinua, também some.Qualquer comentário rude, de menosprezo, faz com que
desapareça por encanto, do mesmo modo que apareceu. Este aspecto da alma feminina,
portanto, precisa ser tratado com extrema delicadeza. A fada vem das nuvens, vem trazer
alegria e felicidade, mas pode ser levada embora pelos valores coletivos, dominantes,
disciplinares ou pelos deveres. Podemos dizer que a presença da fada, o convívio com a
alma, não é possível com as preocupações mundanas e sociais. A vida interior é algo que se
cultiva longe, lá no alto das montanhas, num lugar isolado.
Para encontrarmos nossa fada, devemos dar ouvidos a nossa voz interior, dar asas aos
nossos sonhos e acreditar neles. Essa presença feminina luminosa e cheirosa é com certeza
a maior dádiva que a mulher pode trazer para o mundo dos homens.
ESTABELECENDO CONTATO
Se você quer estabelecer contato com as fadas, é bom saber que elas gostam de presentes
pequenos. Pode ser qualquer coisa que brilhe (pedras ou gliter), moedas, ou até uma taça
de leite com mel. Naturalmente, não espere que seus presentes desapareçam, pois as fadas
existem no plano astral e extraem a essência do espírito de qualquer coisa, deixando a
matéria intacta.
Se você encontrar um anel de fadas, jamais pise nele com os dois pés, pois somente outro
ser humano poderá retirá-lo de lá, deixando dentro uma luva.
POEIRA DAS FADAS
Todos os ingredientes devem ser ervas e pétalas de flores secas que devem ser triturados
até transformarem-se em pó com um pilão. São eles: cogumelos, pétalas de flores, folhas
ou sementes de morango, bagas de espinheiro (tipo de arbusto espinhudo) e terra próxima
da raiz. Acrescente a esta mistura um pouco de pó de gliter, se quiser. Isto tudo deve ser
feito na Lua Cheia.
Nunca esqueça que sempre devemos pedir licença à Mãe Natureza para retiramos
qualquer coisa dela e ainda sempre devemos deixar uma oferenda para as fadas. Eu,
geralmente derramo na terra um copo pequeno de leite com mel. O pó de fadas servirá
para moldar o círculo quando invocá-las, mas você pode polvilhar um pouco também em
seu jardim para atraí-las.
MEDITAÇÃO DIÁRIA A AINE
Cumprimente o Sol a cada manhã e sinta o prazer de se aquecer com seus raios. Recorde
que sem o Sol não poderia haver vida neste planeta. O Sol é fonte de energia para todas as
coisas. Sinta o poder desta energia como uma benção que o aquece.
Agora respire lentamente e profundamente e dirija toda esta energia para um pouco
abaixo do coração, região do caldeirão das emoções. Respire do mesmo modo mais três
vezes e visualize um círculo de luz solar nesta região. Sinta este calor dentro de você. Em
seguida, inspire e expire mais três vezes e circule o arco luminoso por todo o seu corpo.
Traga a luz para dentro de você, até transformar-se em um corpo luminoso, sendo que
toda a luz emana do caldeirão das emoções.
Visualize neste momento, aproximação da fada Aine. Veja como seu rosto é redondo e
incandescente, lindamente adornado pelos seus cabelos dourados-avermelhados. Fite seus
olhos verde-esmeralda. Ela estará vestindo um longo multicolorido todo bordado de
dourado. Ela se aproximará cada vez mais e você deverá continuar olhando para os seus
olhos. Quando a deusa começar a girar em torno de seu corpo, penetre dentro de seus
olhos e olhe através deles. Escute então tudo que ela tem para lhe dizer.
Depois saia de dentro do corpo da deusa e visualize-se na posição anterior. Coloque a mão
direita espalmada na altura de seu coração, colocando em seguida a mão esquerda
também espalmada sobre a direita. Deixe agora a visualização de Aine desvanecer-se.
Abra os olhos e tenha um BOM DIA!
DEUSA DANA
"A mãe celeste, que dança na espiral das serpentes das estrelas, é a fonte de onde nasceu
aquele povo antigo, que trouxe o druidismo a terra da esmeralda, seu nome Dana, significa
bailarina brilhante" Cathbad
O mistério fundamental da religião celta e das cerimônias rituais que materializaram sua
essência serão sempre difíceis de compreender. Tanto a espiritualidade deste povo
guerreiro, quanto o fato de, inclusive, terem sido uma religião, viram-se eclipsados pela
insistência romântica em envolver a mística celta no mundo das fadas e dos espíritos.
A escrita era considerada desnecessária, pois as leis, lendas e ensinamentos tribais se
perpetuavam graças a poetas e sacerdotes. Eram eles que se encarregavam de memorizálas e de transmiti-las oralmente. Da mesma forma que as proibições impostas aos heróis
guerreiros, as quais determinavam seu modo de vida e suas ações. A transmissão oral
sempre foi um método eficiente para comunicar todos os matizes dos acontecimentos
importantes na vida da tribo. Para poder recordar e interpretar mais facilmente as
histórias, intercalavam-se os temas rituais referentes aos deuses: a imposição de nomes, a
pedra do oráculo, que gemia durante a coroação de um novo rei, os gêmeos divinos e o
guerreiro heróico. A constante metamorfose destes temas e a facilidade de ligação entre o
físico e o sobrenatural plasmaram o mundo da imaginação celta através de milhares de
anos de relatos. Nos contos, os seres divinos podiam passar de sobrenaturais a vulneráveis
como o resto dos humanos e regressar a seus domínios, sem ofender a suscetibilidade cristã
dos escribas que, de vez em quando, deixavam testemunho das lendas.
Todas as divindades, por muito extraordinárias que fosse, se encontravam submetidas ao
ritmo desta vida e às exigências de uma dada população. Cada província ou região tinha
seu lugar sagrado, que era o centro do seu mundo. Seu topônimo mostrava a relação entre
a Terra, o Céu, entre a Tribo e seu Deus.
Nós aprendemos a separar o psíquico subjetivo do natural objetivo. Os povos primitivos,
ao contrário, tem sua psique convertida nos objetos. Sua paisagem não é só um ponto
geográfico, ou geológico ou político. Para os druidas, por exemplo, os bosques eram suas
catedrais. Neles celebravam seus rituais, festas e cerimônias mágicas. Cada árvore estava
consagrada há um dia e representava uma virtude. Estes "gigantes verdes", tinham
grande importância na cultura celta. O maior de todos os medos se localizava em lugares
em que acreditavam não serem bons, pois eram habitados por espíritos maléficos.
Cogitavam, por exemplo, que nas montanhas habitava uma grande serpente e que as
cavernas eram vigiadas por demônios serpentinos. Esta projeção do psíquico cria, de
maneira natural, relações de homens com homens, animais com coisas, que para nós são
absolutamente incompreensíveis, mas fascinantes para serem estudadas.
Todas as famílias celtas se originaram da Deusa Mãe. Da mãe vêm os ramos familiares das
deusas e deuses. Assim como a maioria das famílias, eles representam as polaridades do
caráter humano. É importante lembrar que casa Deusa e cada Deus representam um
aspecto que você pode reconhecer dentro de si mesmo e nos outros.
OS TUATHA DÉ DANNAN
Os Thuatha Dé Danann foram a quarta raça de colonizadores que chegaram na Irlanda
antes da era cristã. Eles eram seres sábios, eminentes magos, cientistas e artesãos,
possuidores de uma altíssima vibração espiritual, verdadeiros "seres de luz".
Os Tuatha eram provenientes da distante e mítica Hiperbórea, onde possuíam quatro
cidades: Falias, Gorias, Murias e Findias, nas quais aprenderam ciências e magia e a
aplicação conjunta de ambos os princípios por meio da instituição do druidismo. De cada
uma dessas cidades mágicas os Tuatha Dé Danann trouxeram um tesouro:
Falias - Lia Fáil, a "Pedra do Destino", onde eram coroados os reis da Irlanda. Era uma
grande pedra em formato de coluna que simbolizava a própria Terra, cujo poder só era
compreendido pelo verdadeiro Rei;
Gorias - a Gáe Assail, a "Lança de Assal", que seria de Lugh, e retornava a mão após ser
lançada (associada ao elemento Fogo);
Murias - o Caldeirão de Dagda, chamado o "Inesgotável", recipiente que continha a água,
fonte de toda a vida (protótipo do Graal);
Findias - a espada inescapável de Nuada (associada ao elemento Ar).
Hiperbórea é um dos principais mitos genéricos europeus: um lugar de paz e sabedoria,
uma terra de "leite e mel" de onde, provinha o primeiro homem branco estabelecido em
algum lugar do norte do mundo. Um paraíso mágico e melancólico que não teve outro
remédio senão abandonar e seguir para o Sul, quando grandes cataclismas mudaram o
eixo da Terra e transformaram o mundo alegre e fértil em um charco árido e coberto de
gelo.
Eles chegaram em Beltane (May Day) envoltos em um densa névoa mágica, a qual causa
uma eclipse de três dias. Imediatamente atearam fogo em suas próprias embarcações
impossibilitando a fuga de sua nova pátria. Estavam realmente dispostos a reconstruir sua
civilização. Eles conquistaram e governaram a Irlanda por 200 anos, e por fim, foram
conquistados pelos Milesianos. Foi quando migraram para os Mundos Subterrâneos das
colinas (sidhe) e montes da Irlanda, ficando conhecidos então, como "Daione Sidhe" ou
"Povo das Fadas". Bodb Dearg (Bodb, O Vermelho) foi escolhido como rei, pois era o filho
mais velho de Dagda.
Os filhos de Danu eram também conhecidos como "Os Que Sempre Vivem", pois
conheciam o segredo da imortalidade. Eles possuíam um Banquete da Idade, deste modo,
ninguém envelhecia, quando sustentados pelos porcos mágicos de Manannán e a cerveja
de Goban, O Ferreiro. Os filhos de Danu ainda possuíam um médico muito especial,
Diancecht. Ele era o guardião da fonte da saúde, juntamente com sua filha Diarmaid.
Qualquer um que fosse morto ou ferido deveria ser colocado na fonte para viver e se
recuperar novamente.
DEUSA DANA
Segundo uma lenda, Dana nasceu em um Clã de Dançarinos que viviam ao longo do rio
Alu. Seu nome foi escolhido por sua avó, Kaila, Sacerdotisa do Clã. Foi ela que sonhou
com uma barca carregando seu povo por mares e rios até chegarem em uma ilha, onde
deveria construir um Templo, para que a paz e a abundância fossem asseguradas. Ao
despertar, Danu relatou seu sonho ao conselho e a grande viagem começou então a ser
planejada.
Também conhecida como Danu, é a maior Deusa Mãe da mitologia celta. Seu nome
"Dan", significa conhecimento, tendo sido preservada na mitologia galesa como a deusa
Don, enquanto que outras fontes equipararam-na à deusa Anu. Na Ibéria, a divindade
suprema do panteão celta é considerada a senhora da luz e do fogo. Era ela que garantia a
segurança maetrial, a proteção e a justiça. Dana ou Danu também é conhecida por outros
nomes: Almha, Becuma, Birog, ou Buan-ann, de acordo com o lugar de seu culto.
O "Anuário da Grande Mãe" de Mirella Faur, nos apresenta o dia 31 de março como o dia
de celebrar esta deusa da prosperidade e abundância. Conta ainda, que os celtas neste dia,
acreditavam que dava muito azar emprestar ou pegar dinheiro emprestado, por
prejudicar os influxos da prosperidade. Uma antiga, mas eficaz simpatia, mandava
congelar uma moeda, fazendo um encantamento para proteger os ganhos e evitar os
gastos.
Os descendentes da Dana e seu consorte Bilé (Beli) eram conhecidos como os "Tuatha Dé
Dannan" (povo da Deusa Dana), uma variação nórdica de Diana, que era adorada em
bosques de carvalhos sagrados.O nome "Dana"é derivado da Palavra Céltica Dannuia ou
Dannia. É significativo que o rio Danúbio leve seu nome, pois foi no Vale do Danúbio, que
a civilização Celta se desenvolveu. A ligação Celta com o vale do rio Danúbio também é
expressa em seu nome original. "Os filhos de Danu", ou "Os filhos de Don".
Dana é irmã de Math e seu filho é Gwydion. Sua filha é Arianrhod, que tem dois filhos,
Dylan e Llew. Os dois outros filhos de Dana são Gobannon e Nudd.
É certo que Dana deveria ser considerada a Mãe dos Deuses, depois de ter lhes dado seu
nome. Há várias interpretações do seu nome, sendo que uma delas é "Terra Molhada" e o
mais poética, "Água do Céu".
Danu é uma das Dea Matronae da Irlanda e a Deusa da fertilidade. Seu símbolo mágico é
um bastão.
Seu personagem foi cristianizado na figura de Santa Ana, mãe da Virgem Maria, pois sua
existência é proveniente de uma antiga divindade indo-européia. Também é conhecida na
Índia, como o nome de "Ana Purna" e em Roma toma o nome de "Anna Perenna".
É bem verdade que a associação das deusas a rios e mares não é estranha à tradição celta.
A convicção de que o mar e a água deram origem a toda a vida, sobrevive em nossos
próprios tempos. Mas nossa Danu amada teve um reflexo oposto, se Danu é representante
das forças divinas da luz, então Domnu representa o frio, escuridão e o medo das
profundidades desconhecidos dos oceanos. Domnu também é uma mãe, e a fundadora dos
Fomóire, a tribo antiga de adversários que tentaram tomar o controle da lei e da ordem
dos Tuatha Dé Dannan, de forma que caos pode reger a terra. O nome Domnu significa
"terra" e é derivado do Céltico dubno. O sentido da etimologia é "profundo" ou "o que
estende abaixo". Até mesmo o nome dos Fomóire significa "debaixo do mar". Estes
Fomóire representam as forças de natureza selvagem, eles são ingovernáveis e ainda
necessários ao equilíbrio certo da vida na terra.
ARQUÉTIPO DA NATUREZA
Meditando com Dana..
A Deusa Dana chega até nós propondo um encontro com as profundezas da natureza. Ela
nos fala o quanto é belo e mágico estar no alto da montanha e descobrir uma nascente
jorrando por debaixo de rochas pesadas. A surpresa da fonte sugere as reservas arcaicas
da consciência despertando dentro de nós. Pede-nos agora que escutemos o silêncio do
lugar. Feche os olhos e sinta-o. Lugar é uma intensa individualidade. Com total atenção, a
paisagem celebra a magia das estações, entregando-se sem reservas à paixão da deusa. O
delinear da paisagem é a forma mais antiga e silenciosa da consciência.
Os rios, lagos e regatos têm voz e música, eles são as lágrimas da alegria e dão vida a terra.
A terra tem alma, as nascentes tem alma e são considerados lugares purificadores.
Manannán mac Lir disse: "Ninguém obterá conhecimento a menos que beba da
nascente". As nascentes eram consideradas como aberturas especiais por onde fluía a
divindade. Quando uma nascente desperta em nossa mente, nossas possibilidades podem
fluir e descobrimos então o nosso íntimo. Existe tanta beleza e benção perto de nós, que se
destinam à nós, mas que não estamos prontos para recebê-la, por não termos presteza, ou
por estarmos talvez cegos, medrosos ou nos esteja faltando um pouco de auto-estima. Mas
se nos dermos uma chance, a porta de nosso coração poderá passar a ser o portal do céu.
Por que não tentar?
RITUAL PARA SAÚDE DA DEUSA DANA
ESCOLHA
U M L U G A R R E S E RVA D O E M S U A C A S A PA R A FA Z E R E S T E R I T U A L , S E F O R
AO AR LIVRE MELHOR AINDA.
A LTA R , Q U E P O D E S E R
REDONDO SIMBOLIZANDO A
P R I M E I R O V O C Ê D E V E I N S TA L A R S E U
DEUSA, QUADRADO (SIMBOLIZANDO OS
Q U AT R O E L E M E N T O S )
O U R E TA N G U L A R , M A S F U N D A M E N TA L M E N T E D E V E C O N T E R A R E P R E S E N TA Ç Ã O D O S Q U AT R O
ELEMENTOS, JUNTO AOS RESPECTIVOS PONTOS CARDEAIS.
EU
I N S TA L E I M E U A LTA R D A
SEGUINTE FORMA:
PRIME IRO
C U B R A S E U A LTA R C O M U M A T O A L H A B R A N C A .
DEPOIS
OBEDEÇA AS
SEGUINTES POSIÇÕES:
LESTE-
I N C E N S O PA R A O
AR. ( C A S A
D O E L E M E N T O I N T E L E C T U A L ).
PODE-SE
C O L O C A R F L O R E S TA M B É M .
SUL-
V E L A B R A N C A PA R A O
FOGO ( E L E M E N T O
D A T R A N S F O R M A Ç Ã O , PA I X Ã O
,
SUCESSO, SAÚDE E PODER)
OESTE -
Á G U A PA R A O E L E M E N T O
ÁGUA ( E L E M E N T O
DA MENTE PSÍQUICA, DA
CURA E DA ESPIR ITUALIDADE)
NORTE - pedra ou uma planta suspensa para a TERRA. (elemento estabilizador
e centralizador dos outros três). Deve ser colocado aqui também o breve ou amuleto
(pode ser uma pulseira, corrente, chaveiro,etc) a ser consagrado para a saúde, que
deverá ser mergulhado dentro de um óleo (pode usar essência de sândalos).
INVOCAÇÃO
DANA, NOSSA DEUSA AMADA
CUJOS CABELOS ACENAM AO VENTO
COL OR ID OS CO MO SÓ IS BR ILH ANT ES
C U J A V E S T E S E FA Z O C E A N O S
M Ã E D I V I N A D O S T U AT H A D E D A N A N N
E D A S T E R R A S O C I D E N TA I S
TRAGA-NOS SUA ALEGRIA
TRAGA-NOS A BOA SAÚDE
D E S P E RT E E M N Ó S A B E L E Z A
D A N AT U R E Z A Q U E É S E U V É U .
NESTE
M O M E N T O , R E T I R E S E U A M U L E T O D O Ó L E O E PA S S E - O S O B R E O F O G O D A
VELA, A FUMAÇA DO INCENSO E BORRIFE ÁGUA SOBRE ELE, COLOCANDO EM SEGUIDA DE
V O LTA A O R E C I P I E N T E O N D E S E E N C O N T R AVA A N T E R I O R M E N T E .
POR TRÊS DIAS.
NO
DEIXE-O
S O B R E O A LTA R
T É R M I N O D E S T E T E M P O , L AV E - O C O M Á G U A C O R R E N T E E U S E - O D E
PREFERÊNCIA JUNTO AO CORPO.
ISOLDA, A DAMA DE VERGEL
A história de Isolda e Tristão é a mais famosa lenda celta, que nos chegou a partir do
século XII, através de textos fragmentados. Por detalhes da história, se trata de uma lenda
pancelta, pois encontramos, atestando uma trama original, elementos bretões, gauleses,
córnicos, pictos (em particular, o nome de Tristão) e irlandeses. Todos os elementos se
fundem num grande épico cuja beleza poética está fora de dúvida. Com a lenda de Isolda e
Tristão possuímos uma das obras mestras da humanidade.
Os textos mais antigos são franceses, mais exatamente anglo-normandos, pois os
normandos, senhores da Inglaterra, constituíam, no século XII, os intermediários
constantes entre os bretões e os franceses.
Tristão é filho de Rivalen de Loonois e da irmã do rei Mark de Cornualha. Tinha sido
criado o Rohald o Fiel, e confiado ao ginete (cavaleiro) Gorvenal. Aprende a arte da caça,
a arte militar e também a música e poesia. Sobressaía-se tocando harpa, cantando e
compondo. Com a idade de 15 anos é levado a mansão do rei Mark, em Tintagel, o qual o
acolhe em sua corte sem saber quem ele é. Três anos mais tarde, chega o prazo do tributo
por o rei Mark ao rei da Irlanda, trezentos jovens do sexo masculino e trezentas donzelas
eram reclamados a cada cinco anos por um temível guerreiro, Morholt, irmão da rainha
da Irlanda, a menos que um cavaleiro de Cornualha se oponha a ele.
Entretanto, Tristão é ferido pela espada envenenada do gigante e sabendo que a cura é
impossível, pede para ser abandonado em uma canoa sem remos nem velas, ao sabor da
brisa do mar.
A pequena embarcação fica à deriva e costeando a margem, é encontrado e recolhido por
duas mulheres loiras e muito belas, que são a rainha da Irlanda e sua filha, ou seja, a irmã
e a sobrinha de Morholt. Ambas se chamavam Isolda e todas as duas praticavam magia e
possuíam o dom da cura. Ignoravam, entretanto, que o homem que elas estavam curando
era o assassino de seu parente. Ninguém arrisca-se a enfrentar Morhold, exceto Tristão,
que decide ir combatê-lo, desvendando sua verdadeira identidade ao tio. O combate tem
lugar na Ilha São Sanção. Tristão resulta ferido pela espada envenenada de Morholdt,
porém fere mortalmente a este, inclusive arrancando-lhe a cabeça.
Tristão é festejado como herói, porém sua ferida se agrava e os esforços médicos são
inúteis. Ele pede então para que o deixem partir em um pequeno barco à vela, com
provisões e sua harpa: navegará até sua morte ou cura. Assim é feito. No quinto dia,
Tristão atraca na Irlanda. Ali é tratado e curado pela rainha e sua filha Isolda. Havia
ocultado sua identidade e disse chamar-se Tantris. Como agradecimento à rainha, dá
lições de canto e harpa a jovem Isolda.
Depois, retorna ao castelo de seu tio, em Tintagel, e desta vez, enfrenta os ciúmes dos
outros sobrinhos do rei Mark. O rei não tinha filhos, pois não era casado, e todos sabiam
de sua preferência por Tristão para o suceder. Pressionado pelos nobres , Mark afirma só
se casar com uma mulher a quem pertença um longo cabelo dourado que uma golondrina
acaba de deixar cair. Tristão imediatamente reconheceu o cabelo como pertencente à
Isolda e se oferece ao tio para ir pedi-la em casamento.
Tristão parte disfarçado de mercador e chega novamente a Irlanda. Para obter a mão da
filha do rei, vence um dragão que estava devastando a região. Ferido, desta vez pelo
dragão, Isolda volta a curá-lo.
Tristão é o assassino de Morholdt e só lutou pela mão de Isolda para oferecê-la ao seu tio, o
rei de Cornualha, tradicional inimigo da Irlanda.
A mãe de Isolda prepara uma poção a base de ervas do amor, um filtro mágico, que tinha o
poder de fazer nascer um amor profundo e verdadeiro entre as pessoas que o bebam.
Confia-o a Brangien, a aia de Isolda, para que essa só sirva a sua filha e ao rei Mark na
noite de núpcias.
Quando Tristão e Isolda estão a bordo do navio acabam bebendo por erro o filtro, e
instantaneamente caem vítimas de um amor profundo, uma paixão desenfreada, a qual se
abandonam por completo já que avistam ao longe as costas de Cornualha.
Mas não tinha como voltar atrás e Isolda casou com o rei e, na noite de bodas, é Brangien,
sentindo-se culpada pela confusão do filtro, quem ocupa o lugar de sua dama no leito
nupcial, para que Mark não descobrisse a traição dos amantes. O casamento não foi
obstáculo para Tristão e Isolda, que, vítimas do filtro, se reúnem sempre que podem. Seu
lugar preferido é um vergel, um lugar cerrado ou um jardim, onde os amantes
reconstruíam um estado primitivo parasidíaco. Por isso, Isolda ficou conhecida como a
Rainha do Vergel.
Os adversários de Tristão buscavam mil maneiras para avisar o rei sobre a traição. Um
certo dia, os amantes são descobertos e condenados a morrer na fogueira.
Graças a sua astúcia e força física, Tristão consegue evadir-se e libertar Isolda que havia
sido entregue aos leprosos.
Perseguidos pelo rei refugiam-se na praga do Morois, onde vivem livres e felizes muito
tempo, mas enfrentando as dificuldades da vida selvagem. Tristão é um excelente caçador,
fabrica um arco "que nunca falha" que lhes assegura o sustento. Músico maravilhoso, com
as notas retiradas de sua harpa consegue distrair Isolda.
Depois de muitas aventuras, Isolda irá se reconciliar com o rei. Algumas versões da lenda,
diz que o filtro tem duração de três anos e ao final desse Isolda retorna para Mark. Mas a
condição para reconciliação era que Tristão deveria abandonar a corte do rei Mark. E
assim ele fez, embarcando para a pequena Bretanha continental.
Lá chegando, ajuda o conde Hoël a vencer seus inimigos. Esse concede então a mão de sua
filha, a bela "Isolda das mãos brancas". Tristão consente no matrimônio, justamente por
causa do nome da princesa, mas nunca terá contato físico com ela, pois seu corpo e seus
pensamentos seguem pertencendo à outra Isolda.
Passa um tempo e depois de muitas batalhas, Tristão é ferido por uma lança envenenada.
Sente sua vida esvair-se e sabe que só a "Isolda a Loira" poderá curá-lo. Manda
mensageiros pedindo que viesse salvá-lo. Se conseguirem realizar a missão, deverão ao
retornar colocar uma vela branca na embarcação, si não, uma vela negra. "Isolda das
Mãos Brancas", sua esposa, debate-se entre o amor de Tristão e os ciúmes frente a outra
Isolda.
Os mensageiros cumprem a missão e trazem "Isolda, a Loira", em seu socorro, mas
enfrentam uma grande tempestade e depois uma calmaria. Finalmente, quando estão
quase chegando no porto, Tristão já não tem mais força para manter sua vida, mas ainda
pergunta que cor era à vela da embarcação que chegava. A esposa, que sabia do acordo
que fizera com os mensageiros, anuncia ao marido que a vela é negra. Tristão morre e
quando "Isolda, a Loira" chega ao palácio, morre também. Assim, os amantes se reúnem
na morte e, quando os enterram lado a lado, em tumbas diferentes, uma vinha e um rosal
surgem em cada uma das tumbas e se entrelaçam e não foi possível separá-las.
INTERPRETAÇÃO DA LENDA
ISOLDA, A MULHER-SOL
Tristão, antes de conhecer Isolda, se encontra em um estado de latência, de consciência
indiferenciada. Seria como o Adão primitivo antes de experimentar a maçã que lhe oferece
Eva.
Tristão, depois de Isolda, transforma-se em um "Homem Novo": desterrado do reino,
exilado em um bosque, à margem da lei e adúltero. É o segundo Adão, o qual se vê nu
depois da "culpa", isso é, revela-se consciente de si mesmo e deve pagar por seu
amadurecimento de consciência com a luta constante contra um universo, que agora havia
se tornado hostil.
Tudo isso, parece muito com as provas iniciatícas, no centro das quais brilha em todo seu
esplendor a personagem solar da Mulher: seja ela Isolda ou Eva. Porém, se Isolda sai
magnificada do juízo moral emitido pela opinião pública (o filtro do Amor redime tudo), a
desgraça de Eva é ser considerada pela mesma opinião como responsável de todos os males
que afligem a humanidade. É bem evidente que Isolda e Eva são rostos de um único
personagem, a Mulher Sol, a iniciadora, a reveladora, sem a qual a humanidade,
representada no mito por Tristão ou Adão, não poderia ter saído da inconsciência, ou seja,
não existiria.
Todas as "Grandes Deusas", tiveram sua hora solar fecundada pela lua, estéril e passiva. A
essa hierogamia invertida, comum em numerosas místicas, é que nos convidam a maioria
das epopéias celtas. O amor, a nível da alma, no é só um desejo brutal impulsivo, e sim
uma amor divinizado. Pode-se dizer, que o que se considera "culpa" desde a redação
truncada da "Gênesis", não tem na realidade, nenhuma conotação moral senão que
concerne unicamente a um passo de um nível de consciência a outro, passo que só a
Mulher, inclusive está de acordo nessa versão truncada e moralizadora, era capaz de
provocar e chegar a término.
A mulher celta, tal como aparece nas lendas, não faz mais do que refletir um estado
anterior que viu a preeminência da "Mulher Sol" como símbolo revelador. Tristão não
existira como indivíduo sem a presença de Isolda, igual à Lua que se tornaria invisível,
sem a luz que lhe chega do sol. Daí, a constatação dessa perspectiva singular de que, a Lua,
com sua umidade, se converte em mediadora do calor do Sol fecundante, transformando
seu braseiro em fogo suave, para fertilizar a Terra.
É por isso que fala-se em "fogo" da paixão e poetas de todas as épocas exaltam a "chama
ardente do amor", a tal ponto, que essa imagem passou a ser freqüente na literatura
universal. No fundo, essas expressões não passam da reatualização de um tema muito
arcaico da tradição celta que foi conservado através de suas diversas flutuações e encontra
seu apogeu poético no texto de "La folie Tristan", provavelmente a mais alta expressão da
feminilidade.
Segundo esse texto, manuscrito de Oxford, o casal foi morar no Palácio do Sol que é todo
de cristal, pavimentado de mármore. Esse palácio é um lugar de regeneração, onde se
operam sutis metamorfoses que poderíamos classificar de alquímicas.
O que caracteriza o Palácio do Sol é a luz, que evidentemente se opõe às trevas do "Caos
primordial", matéria prima dos alquimistas, consciência ainda não madura de Tristão
antes de seu encontro (sua conjunção) com Isolda. Essa, portanto, é o sol nascente que vem
iluminar o mundo indiferenciado. O Palácio é a "matriz divina" de onde procede a noção
da divindade feminina primordial que se impõe à humanidade há milênios, quaisquer que
sejam as ideologias religiosas dominantes.
A mulher, portanto é a chave de toda a Criação, e particularmente da "segunda criação"
do humano, quando o sol consciência inunda as trevas da lua inconsciência, quando
Tristão se desperta ao contato com Isolda.
Isolda, antes de conhecer Tristão era a totalidade, porém não tinha consciência disso, pois
não havia realizado nenhum processo funcional que a justificasse. O mesmo acontece com
"A Bela Adormecida", que só alcança seu segundo nascimento com o beijo do príncipe, o
qual, mediante um gesto e mediante o contato com a Mulher Sol adormecida, ascende um
grau superior de consciência (e de conhecimento).
O MEDO DO FEMININO
Toda a criança do sexo masculino, no início, experiência a qualidade da "anima"
(Feminino) na mãe. Mas o desenvolvimento do relacionamento com a "anima" leva para
longe a mãe,e a um relacionamento com uma mulher da mesma idade que já não pode ser
identificada com a mãe, mas inicialmente como irmã. A tarefa do homem adulto é entrar
em um relacionamento com sua contraparte como "tu" feminino inteiramente
desenvolvido, mas essencialmente diverso.
O dragão que Tristão enfrenta antes de receber a mão de Isolda em casamento, representa
a batalha que enfrenta para se libertar do Feminino materno para tornar-se um "tu"
autônomo e independente da dominação da mãe no relacionamento primal. Faz parte do
desenvolvimento normal do ego masculino como herói que ele tenha êxito em resgatar o
"Feminino" da dominação materna. Essa libertação é pré-requisito para o "hierosgamos"
com o Feminino, o casamento fecundo num relacionamento do "Eu" com um "Tu"
enquanto "não-Eu". Esse relacionamento é sagrado, porque, para ambos os parceiros,
constitui o pré-requisito para o desenvolvimento do "Eu" no qual os opostos estão
contidos e a inteireza pode ser obtida. Mas a libertação da "anima" pressupõe uma outra
batalha com o dragão, independentemente do conteúdo ao qual está associada à figura do
dragão, e naturalmente, o ego receia essa batalha.
Assim, o segundo medo importante do Feminino, que aparece ao lado do medo da mãe, é o
medo da "anima" como medo da transformação à qual irá forçá-lo a libertação da
"anima" do âmbito do dragão e a confrontação com a alteridade independente do
Feminino.
Em virtude do caráter transformador sempre pedir algo novo, a "anima" é o lado da
psique masculina associado ao Feminino que atrai o homem à aventura, à conquista do
novo. Mas também está associado negativamente a tudo aquilo que significa ilusão e
desilusão e, de fato, como loucura significa um perigo real. Assim como o herói Tristão não
pode existir sem a conquista do perigo, o indivíduo do sexo masculino não pode se
desenvolver sem entrar no perigo incalculável que a transformação exige.
As perturbações produzidas pelo medo do Feminino no homem adulto são caracterizadas
essencialmente pela fixação do medo à mãe (complexo da mãe) ou fixação do medo à
anima (complexo da anima). O complexo da mãe é o mais precoce e aquele que tem efeitos
mais profundos, ao passo que uma perturbação que se limita à "anima" pressupõe um
certo grau de desenvolvimento bem sucedido, e, conseguinte, uma maior possibilidade de
adaptação.
Uma fixação total na mãe pode levar a uma falência completa de desenvolvimento. Aqui
encontramos os solteiros e excêntricos que ainda moram com as mães e desmoronam
completamente quando ela morre.
Há entretanto, o masculino ameaçador, que volta-se contra o relacionamento pessoal com
a mãe e nele, vemos o elemento paterno, que não apenas "castra", mas também proíbe
categoricamente Feminino, exigindo virilidade do filho, isto é, seu heroísmo e renúncia à
mãe e se apego à ela, que é a pré-condição para autêntica, e coletivamente exigida,
masculinidade individual. Nessa categoria, encontramos homens inteiramente capazes de
lidar com um emprego, mas são impotentes ou fixados numa perversão específica, ou que
somente são capazes de manter um relacionamento homossexual.
O medo avassalador do Feminino também pode resultar em uma incapacidade de se
comprometer com uma única mulher. Toda forma de auto-proteção masculina, até mesmo,
a ideologia patriarcal do "Feminino negativo", repousa em um desenvolvimento
insuficiente do masculino, seja porque o indivíduo do sexo masculino teme o caráter
vinculador, repressor, do Feminino predominante da mãe, ou o oposto, o caráter
transformador incorporado na anima que não vai "deixá-lo em paz".
Nunca devemos nos esquecer de que, para o homem, o Feminino como "inteiramente
outro" significa e deve significar algo numinoso, e sem o confronto inevitável com esse
numinoso, com esta outra metade do mundo, nenhuma vida pode alcançar seu potencial
de maturidade e inteireza.
O AMOR MÁGICO
Só quem vive uma vida mágica, sabe o quanto o amor é poderoso, pois é ele que molda
nossos corações.
Dizer "eu te amo" pela primeira vez a uma pessoa é um ato repleto de mistério, espanto e
perigo. Mas, dizer essas três palavras é ainda, um ato de poder altamente energizado. O
poder da palavra não é um ato banal e por isso, pensamos e escolhemos as palavras
cuidadosamente, pois só o poder da palavra nos ligará àquele que amamos. Inclusive não é
preciso ser um grande poeta para escrever versos ou poemas quando estamos
apaixonados. Portanto, comece você agora a escrever um soneto e encantamento pedindo
sabedoria para discernir o que é necessário para sintonizar-se com o verdadeiro amor ou a
coragem de abrir sua vida ao amor. Os dois objetivos são extremamente válidos, já que os
maiores obstáculos ao amor são a ignorância do que é o amor e o estilo de vida e por vezes
egoísta, onde não há espaço para o amor.
Para aumentar a força mágica do amor use a "chuva das fadas" (orvalho), pois seu poder
repousa em origens misteriosas. O orvalho é a umidade natural da terra que aparece da
noite para o dia, enquanto ela (terra) sonha. No mundo das Fadas, o orvalho é especial por
sua beleza e fragilidade.
Você pode realizar um ritual muitos simples para ativar o poder do amor se utilizando
desse elemento mágico da natureza. É só acordar cedinho, antes do amanhecer e colha
algumas folhas ou graminhas úmidas de orvalho. Examine-as bem de perto e em seguida,
ofereça-as aos quatro pontos cardeais, traçando um círculo informal em torno de si. Vire
para o leste, levantando as folhas e diga:
"Esfrego esse orvalho das Fadas na minha cabeça para que seja invadida de pensamentos
de amor". Esfregue as folhas na testa.
"Esfrego esse orvalho das Fadas no meu coração para que transborde de sentimento de
amor". Esfregue as folhas no peito.
Depois guarde as folhas para lembrar da magia. Junte um pouco de orvalho numa garrafa, passe
um pouco em seu amor ou guarde-o para qualquer outra magia.
A RAINHA CLEÓPATRA
Cleópatra, a sétima rainha ptolemaica desse nome, tinha cerca de 18 anos de idade em 51 a.C,
quando subiu ao trono que partilhava com seu irmão Ptolomeu XIII (tinha 9 anos de idade) que,
de acordo com o costume egípcio era também seu marido. Já então Roma estava intervindo com
freqüência na política do Egito ptolemaica e os pretendentes ao trono procuravam a aprovação
romana. Cleópatra queria reinar sozinha, mas os aliados de seu irmão se opuseram a ela e a
expulsaram do reino. Indo refugiar-se na Síria, conheceu Júlio César, membro do Segundo
Triunvirato Romano. Cleópatra estava disposta a conquistá-lo, para com suas tropas lhe ajudaria
a recuperar o trono do Egito.
Segundo conta a lenda, para conquistar César, ela se enrolou em um tapete, que o fez chegar até
ele como presente. Quando ela saiu lá de dentro, o romano ficou maravilhado diante de tanta
beleza e graça.
Cleópatra era uma mulher extraordinária e pouco comum. Era possuidora de uma beleza
deslumbrante, acompanhada de um encanto pessoal e muita sensualidade. Enquanto alguns lhe
atribuem inteligência, cultura e poder, também é descrita como uma mulher astuta, ambiciosa,
manipuladora e algumas vezes, perversa. Em outras ocasiões apresentava-se como uma mulher
fatal, amiga das orgias e liberta para o prazer. Com tantos atributos, Cleópatra era considerada a
rainha exótica por excelência, em função de sua origem oriental.
Apesar de César estar perdido de amores por Cleópatra, decide voltar a Roma, mas deixa a
mulher amada grávida de um filho que se chamaria Cesárion. Mãe e filho partem para Roma,
onde Cleópatra é recebida como uma rainha, mas para os romanos ela não era mais do que uma
amante de César. Esta viagem, independente de outros valores, nos revela o interesse por
conhecer os costumes romanos e inclusive o desejo de uma oriental por ocidentalizar-se.
Cleópatra permaneceu um ano e meio em Roma, em uma cidade que não podia se comparar
com a bela Alexandria. A rainha estava protegida por César, mas tinha a esperança de alcançar
uma união legal, o que nunca aconteceu.
A morte de César, com 56 anos, truncou os planos, mais políticos que pessoais de Cleópatra.
Não só o assassinato, mas também o conhecimento do testamento de César, em que tornara seu
único herdeiro Otávio, filho de uma sobrinha-neta por parte de sua irmã, fizeram compreender a
rainha que momentaneamente deveria renunciar ao seu sonho. Sua vida e de seu filho corriam
perigo e logo retornou ao Egito, esperando o desenrolar de novos acontecimentos.
Cleópatra, de volta ao Egito, sabia que ela não poderia manter a unidade de seu reino contra a
invasão dos romanos e que seria necessária uma outra aliança para que não fosse atacada.
Decidiu então conquistar Marco Antônio, outro membro do Triunvirato que governava a
República Romana. Contam que para conquistá-lo, preparou uma grande festa em sua honra,
onde não faltaram presentes, belas mulheres e onde se utilizou de todos os seus encantos para
seduzi-lo. Marco Antônio não pode resistir à Cleópatra e durante um ano viveram em festa
permanente. Em Alexandria, acabou permanecendo mais tempo do que deveria, impregnado
com o ambiente helenístico da cidade, abandonando temporariamente a causa do Oriente, onde
supostamente teria sido enviado para preparar um ataque contra a Pérsia.
Quando retornou a Roma, Marco Antonio teve que explicar sua atitude no Egito, pois era casado
com a irmã de Otávio. O amor fatal de Marco Antônio foi explorado por Otávio que, indignado
por seu comportamento, conseguiu colocar o senado contra ele. Daí iniciou-se a guerra contra
Cleópatra. As duas frentes se enfrentaram na batalha naval de Áccio. Sabe-se da derrota egípcia.
Foi então que Marco Antônio com seus desejos derrotados, suicidou-se com uma espada. E
Cleópatra antes de ser prisioneira de Roma o que seria constrangedor demais para ela, fez o
mesmo. Segundo a lenda, ela fez com que uma víbora picasse o peito, mais como vários outros
fatos esse não foi comprovado. Cleópatra morreu aos 39 anos, assim sendo a última soberana do
Egito Antigo.
O MITO DA MULHER DE PODER
Sem sombra de dúvida, Cleópatra jamais foi esta mulher tão hostilizada pela literatura grecoromana. Ela é, antes de tudo, uma personagem que tem despertado o interesse de um grande
número de historiadores e o que se sabe hoje, é que a imagem fornecida pela literatura antiga
está impregnada de conceitos equivocados, nos forçando a encarar Cleópatra como uma
governante ambiciosa e uma mulher desprovida de sentimentos que utiliza sua sexualidade para
alcançar objetivos maiores. Realmente, esta rainha estava dotada do encanto próprio de toda e
mulher, que se utilizando de um cérebro masculino, aspirava pelo poder.
A superioridade do Ocidente frente ao Oriente, somada à oposição do masculino pelo feminino
foram os elementos que desencadearam a luta entre Cleópatra e o romano Otávio.
Graças a recentes publicações, nos foi possível conhecer um pouco mais da Rainha Cleópatra. É
hoje, de nosso conhecimento, o seu paralelo papel de mãe, sempre preocupada com o futuro de
seus filhos. Os alguns episódios da vida desta mulher que nasceu no ano de 69 a.C. e morreu em
30 a.C., nos permite contemplar uma rainha que refletia e calculava detidamente todas as suas
decisões, tendo sempre em conta os interesses do seu reino e de seus filhos. A opção pelo
suicídio é prova cabal destes fatos. Cleópatra lutou até o fim para preservar a independência de
seu reino e se equivocou ao pensar que poderia derrotar Roma. Asua enorme popularidade não
só no Egito, revelam que efetivamente ela havia sido uma extraordinária mulher e uma rainharegente muito competente. Sua memória foi honrada através dos séculos pelos egípcios, porque
eles sempre entenderam as atitudes e comportamento desta mulher que antes de tudo, queria
reinar um Estado livre, sem a presença romana.
CLEÓPATRAS ATUAIS
Este filme é bastante repetitivo e atual. Hoje, mais do que nunca, encontramos mulheres que
conseguiram posições executivas, gerenciais e profissionais, com todos os poderes e
responsabilidades que isso acarreta. Seus problemas, portanto, são de mulheres importantes e, as
soluções que darão a eles serão diferentes das dos homens, porque são intrinsecamente diferente
deles. Biologicamente, as mulheres são diferentes em estrutura e potencialidade.
Psicologicamente, os valores femininos tendem a ser ordenados de forma diferente, de forma
que suas prioridades podem não se alinhar da maneira como os homens fazem. As escolhas das
mulheres são estruturadas em grande parte por relacionamentos. Ao contrário, os
relacionamentos entre homens tendem a ser estruturados largamente pelas escolhas que fazem.
Parece que os conflitos psíquicos mais profundos surgem quando se vive de uma forma
fortemente unilateral, voltado para a identidade ou para o relacionamento. A mulher bemsucedida no mundo masculino e que também tem conseguido manter um lar com filhos e
marido, está começando a entender o preço demasiado caro que lhe é cobrado para estabelecer
sua identidade. Tem sido mais difícil para ela do que jamais pensara que fosse, pois teve que
fazer tudo o que os homens fazem e mais, porque ainda carrega a responsabilidade primária de
cuidar da família.
Esta mulher sofre com a recusa ou impossibilidade de conviver com ela mesma. Acaba
oscilando entre o desespero e a culpa: desespero de saber que nunca poderá estar completamente
segura em um mundo de valores patriarcais; culpa, porque mesmo que consiga o
reconhecimento neste mundo, uma parte muito importante de seu ser, seu Eros, terá que ser
sacrificada no processo. A posição de um ego voltado para objetivos da identidade,
reconhecimento e poder dá margem a uma sombra, uma contraparte inconsciente inferior que
recusa significado e reprime o sentimento. A mulher nesta posição pode facilmente ser
dominada pelos valores patriarcais ao seu redor. Ela poderá então, se tornar ausente em relação
ao filho ou marido; uma mulher fria e distante. Por dentro, entretanto, ela é um caldeirão de
contradições. O lado feminino, que em sua totalidade baseia-se na função maternal, será vista
por esta mulher como uma ameaça à sua identidade.E, deste modo, a mulher fica dividida entre
estes dois conjuntos opostos, que acredita que a sociedade impõe à ela. Mas será mesmo que a
sociedade impôs isso?
Não podemos negar que em grande parte somos condicionados pela sociedade. Nossos
condicionamentos começam quando nascemos, quando começamos a perceber as expectativas
de nossa mãe e depois do mundo inteiro. Mesmo assim, se pudermos acreditar que somos algo
mais do que condicionamento, que viemos para este mundo com padrões arquetípicos
impressos, então, diante de tudo que nos é oferecido, teremos alguma escolha quanto aos
padrões que vamos ultrapassar, quais aceitar e quais recusar.
Pode uma sociedade livre impor alguma coisa a alguém se a pessoa não concorda tacitamente
com isso? Quando se percebe que nos foi ensinado a seguir a multidão sem querer pensar,
podemos descobrir que afinal de contas ainda temos alguma escolha.
RITUAL DE ENSAIO PARA A MORTE
Sabemos que a vida neste corpo e nesta terra é curta. À medida que envelhecemos, nos
tornamos mais conscientes desse simples fato. A vida acabará em breve. Já não nos sobra muito
tempo dela, talvez mais vinte anos, talvez apenas mais dez, talvez haja apenas amanhã. Será que
então passaremos esses poucos dias preciosos oscilando para frente e para trás entre a culpa de
termos sido insuficientemente amorosas e a vergonha de não termos conseguido tudo que
éramos capazes de conseguir? Será que desperdiçaremos esse tempo precioso desejando que
fossemos melhores em uma coisa ou em outra?
Acho que o que necessitamos é ensaiar o último ato do nosso drama terreno, que é o único sobre
o qual se tem certeza e para o qual estamos menos preparadas. Estou falando do ato de morrer.
Pois vamos então ao nosso ritual.
Escolha um lugar agradável, de preferência ao ar livre ou que você possa observar o céu.
Sente-se com a coluna ereta, se preferir pode deitar-se. Mantenha os olhos fechados e esvazie
sua mente. Inicie a respiração abdominal, procure encher completamente a barriga e os pulmões.
Inspire pelas narinas e expire o ar pelos lábios entreabertos. Vá aumentando a intensidade
respiratória por pelo menos 6 vezes.
Imagine-se agora em seu leito de morte. Sinta a vida escoando-se lentamente. Só há uma coisa
para você fazer agora: deixar-se ir. Deixe as tarefas e preocupações deste mundo se esvaírem.
Deixe sua própria identidade se esvaziar. Deixe tudo, sua casa, suas posses, seus sentimentos,
seus pensamentos. Deixe-se levar. Você começará a se sentir mais leve. Perderá toda a carga
pesada que estava levando e flutuará no espaço. Você está saindo de seu corpo, está morrendo.
Você perceberá o quanto tudo é temporal quando encara a morte.
Caminhe livremente pelo espaço e tente encontrar a entrada de uma caverna, quando achá-la
entre nela. Como se fosse a ponta de um aspirador o buraco negro que a (o) sugará para baixo,
deixe-se cair sem medo. Pense que você está deslizando em um escorregador. No fim do túnel
haverá uma luz muito forte. Tente ficar em pé e aguarde que alguém virá buscá-la (o). Quando
isto acontecer, é importante avisar que você ali se encontra para uma rápida visita.
Peça então para conversar com um Mestre. Quando ele surgir, observe sua aparência, a forma
com que surge, os mínimos detalhes. Conserve com o Mestre e peça-lhe o que for necessário
para compreender este momento. Entregue-se a esta sensação, registre as imagens e palavras e
guarde tudo em seu coração. Se Ele lhe oferecer para dar um passeio, não recuse a oferta, não
tenha medo, pois você verá o que lhe for permitido ver e o conhecerá o que necessita conhecer.
Depois despeça-se do Mestre, faça-lhe uma reverência e agradeça o contato. Retorne então à
saída da caverna. Agora, você será puxada (o) para cima e novamente se encontrará solta (o) no
espaço. Localize seu corpo e lentamente volte para ele, carregando as mensagens recebidas e
agora, consciente do caminho a seguir.
Abra os olhos, espreguice e permaneça deitada (o) alguns instantes assim.
SEJA BEM-VINDA (O) AO MUNDO DOS VIVOS!
Este ensaio de morte, não é coisa fácil, mas a consciência da morte, pode nos ajudar a contentarnos com fazer um pouco menos e um pouco mais devagar. Talvez o que realmente importa é
aceitar de bom grado o que a vida nos oferece.
Não sabemos se ainda temos vinte, quarenta anos ou apenas um dia para pôr em prática o que
quer que a vida nos oferece em sua agenda. Por isso, talvez não devêssemos lutar tanto pelos
aplausos, porém mais pelo prazer e a graça da dança.
PENSE NISSO!
AS GWRAGEDD ANNWN
De todos os contos de fadas populares de Gales, o que tem tido maior difusão e uma vida
mais longa é das Donzelas do Lago que, alguma que outra, vez, se apoderam dos mortais
para torná-los seus maridos.
Existem muitas fadas sinistras na tradição galesa, porém essas fadas aquáticas não se
encontram entre elas, pois são muito belas e desejáveis, porém não são sereias nem
ondinas.
John Rhys dedica um capítulo de "Celtic Dolk-Lore (Capítulo I)" paras elas. A mais
conhecida e mais antiga das histórias relativas a Gwragedd Annwn é a do relato da dama
de Llyn y Fan Fach, um pequeno e lindo lago próximo das "Black Mountains".
Sucedeu-se no século XII em uma fazenda em Blaensawde, perto de Mydfai, com uma
viúva, que mandava o único filho a milhas de distância vale acima para pastorear suas
vacas as margens de Llyn y Fan Fach. Um dia viu uma encantadora criatura que remava
de um lado para outro em um pequeno barco dourado sobre a superfície do lago. No
mesmo instante apaixonou-se por ela e ofereceu o pão que havia trazido para comida de
seu almoço.
Ela olhou bondosamente para ele, mas respondeu:
-" Teu pão está muito duro", e submergiu no lago.
O jovem voltou para casa e contou para a mãe o ocorrido. A mãe simpatizou com ela e no
dia seguinte deu ao filho, para levar consigo, uma massa não cosida que ele ofereceu a
fada, porém ela não aceitou dizendo que estava muito branca e desapareceu de novo.
Ao terceiro, sua mãe lhe entregou um pão ligeiramente tostado. Esse foi muito bem aceito,
pois do lago surgiram três figuras: um ancião de porte nobre e majestoso que tinha de
cada lado uma de suas lindas filhas, as duas, gêmeas idênticas. O ancião falou ao rapaz
que se separaria de bom grado da filha, a qual ele havia se apaixonado, se fosse capaz de
indicá-la.
As damas feéricas eram parecidas como as gotas da água, e o jovem fazendeiro havia
abandonado a eleição desesperado se uma delas não houvesse movido ligeiramente o pé,
com o que ele pode reconhecer o característico cordão de sua sandália e elegê-la
corretamente.
O pai pediu como dote a filha tantas vacas quanto pudesse contar de uma só vez, e ela
contou depressa. Porém advertiu a seu futuro marido que devia tratá-la bem e que a
perderia a bela esposa se chegasse a bater nela por três vezes, sem motivo.
A fada e o rapaz mortal casaram-se e foram muito felizes, tiveram três belos filhos, porém
ela mantinha estranhos costumes: podia chorar quando os demais se alegravam, como nos
casamentos, ou rir e cantar quando os demais estavam tristes, como no funeral de uma
criança, e essas peculiaridades foram a causa para que o marido a repreendesse por três
vezes, com uma palmada amorosa, que foi o suficiente para constituir uma violação do
Tabu, por isso ela se viu obrigada a abandoná-lo.
Entretanto, não levou seus três filhos, mas os visitou e lhes ensinou profundos segredos da
medicina, com os quais se converteram nos famosos médicos de Mydfai e esta capacidade
perdurou na família até que se extinguiu no século XIX.
Rhy reproduz esse conto de "The Physicians of Mydfai", de "Rees of Tonn", porém
também incluiu variações do mesmo procedentes de coleções orais, adicionando novos
detalhes em algumas versões, embora alguns eram rudimentares. Wirt Sikes, em "British
Goblins", conta a mesma história com considerável detalhe, porém sem dar sua fonte,
coisa que já faz Rhys. Em todos os relatos o tabu acaba sendo violado e a fada desaparece.
Existe também a lenda da existência uma cidade submersa, no lago de nossa história, que é
o lar das Gwragedd Annwn. Há relatos de pessoas que afirmam terem vistos torres abaixo
da superfície da água e haver ouvido o repicar de sinos.
Em outros tempos, dizia-se que todas as manhãs do dia do Ano Novo, podia ver-se uma
porta aberta em uma rocha próxima a um lago de Gales e os que se atreviam a entrar
chegavam a uma passagem secreta que lhes conduzia a uma pequena ilha situada no meio
do lago. Ali encontravam um lindo jardim habitado pelas Gwragged Annwn, que recebiam
seus hóspedes, oferecendo-lhes todo o gênero de frutas e flores e deleitando-lhes com uma
suave música.
As fadas
revelavam aos seus visitantes assombrosos segredos e os convidavam a permanecerem ali
todo o tempo que desejassem. Entretanto, lhes advertiam de que a ilha era sagrada e que
dela nada podiam levar.
Sucedeu um dia
que um visitante do mágico jardim guardou em seu bolso uma flor que haviam lhe
oferecido, pensando que lhe daria sorte. Porém, no momento em que tocou novamente a
terra "profana", desapareceu a flor e caiu ao solo inconsciente. Os demais hóspedes da
terra encantada, elas se despediram com sua habitual cortesia, porém desde aquele dia a
porta que levava a tão belo jardim se fechou para sempre.
QUEM SÃO ELAS?
As Gwragedd Annwn, como podemos constatar, são seres feéricos marinhos femininos de
Gales, considerados muito sedutores. São ninfas aquáticas que vivem no fundo dos lagos,
dos quais saem de vez em quando para pentear seus lindos cabelos dourados.
Dizem que é muito difícil vê-las, pois a qualquer ruído, desaparecem na água. Elas
possuem também, um enorme conhecimento sobre ervas medicinais.
AS VALQUÍRIAS
As Valquírias são as "Defensoras dos Assassinados" da mitologia nórdica, correspondendo
às Erínias gregas. Mas elas não possuíam a ânsia grega de vingança do matricídio, a
proteção da linhagem feminina ligada às Erínias. Mas, os nomes das Valquírias, tal como
preservados em algumas histórias, retêm uma concepção das selvagens primais das
Erínias, são eles: Hlokk (a Estridente), Goll (a Gritadora) e Skogul (a Violenta).
A mitologia nórdica foi escrita em um período de guerras extremamente patriarcal do
desenvolvimento das sociedades germano-escandinavas e, por isso, as Valquírias, embora
sem dúvida remanescentes de uma deusa tríplice anterior, têm estreitas ligações com o
masculino heróico. Geirahod era a Valquíria que decidia a vitória nos combates,
juntamente com um grupo de guerreiras chamadas "As Luzes da Noite", devido ao
esplendor luminoso de suas armaduras. São as Vlaquírias também, que levam as almas
nobres dos que perderam a vida nas batalhas para a companhia de Odin, em Valhala,
onde essas alcançam a recompensa eterna.
Valhala é o grande palácio de Odin, onde ele se diverte em festas na companhia dos heróis
que morriam em combate. Lá era servida a carne de javali Schrinnir e o hidromel
fornecido pela cabra Heidrum. Quando não encontravam nos festins, os heróis se
divertiam lutando. Todos os dias dirigiam-se ao pátio ou campo e lutavam até fazerem-se
em pedaços. Esse era seu passatempo, mas chegada a hora da refeição, eles se
restabeleciam dos ferimentos e voltam ao festim no Valhala.
Raramente se apresentavam as Valquírias como três. O seu aparecimento sempre se dava
em múltiplos de três, como as Nove, ou as Três Noves e, em uma história, até como as Nove
Noves.
As Valquírias tem freqüentemente inspirado poetas como mulheres guerreiras que
cavalgam corcéis, armadas de elmos e lanças. Elas foram um arquétipo tão poderoso da
alma nórdica, que foram vistas, em épocas ulteriores, como dotadas de uma faceta
delicada e suave em sua natureza, podendo parecer como Donzelas-Cisne, capazes de voar
através dos céus, carregando os guerreiros mortos para o Valhala. Os nórdicos desejavam
a tal ponto suavizar e tornar agradável a terrível faceta primal da deusa que a
representavam em uma forma mais branda, razão por que as Valquírias por vezes
assumiam a forma de afáveis Donzelas-Cisne. Foi por isso, que elas passaram para o
imaginário artístico moderno com as enormes asas laterais em seus capacetes.
Elas tinham múltiplas tarefas como:de selecionar os guerreiros mortos, que perecem na
batalha ou em combate, como enfrentando um dragão, etc. Estes guerreiros mortos são
conhecidos como os Einherjar, e são escolhidos para lutar ao lado dos deuses no Ragnarok.
Os nórdicos acreditavam que chegaria um tempo que seriam todos destruídos, mas este
tempo não chegaria inesperadamente e para este dia davam o nome de Ragnarok. Os
Einherjar esperam pelo Ragnarök (O Crepúsculo dos Deuses), no palácio de Odin,
chamado Valhala. As Valquírias tinham ainda a função de servir o hidromel em chifres ou
taças para os Einherjar no Valhala (as donzelas-do-hidromel). E por fim ajudam ou
protegem um guerreiro no campo de batalha (as donzelas-guerreiras e donzelasescudeiras).
Três Valquírias aparecem na Völsungasaga (“A Saga dos Volsungos”) e nas Baladas
Heróicas da Edda Poética. Sigrún (“runa-vitoriosa”) casada com o herói Helgi, o filho de
Sigmundr. As outras duas Valquírias são Brunhild (“brilhante-na-batalha”) e Gudrun
(“runa-da-batalha”), e estas duas são associadas com o herói Sigurd, um outro filho de
Sigmundr. Gudrun também tem sido associada com Helgi em outra fonte, como a primeira
esposa do herói.
Outra Valquíria que aparece nos poemas da Edda Poética é Svava, aquela que se
enamorou do jovem herói Helgi, dando-lhe este nome e ensinando-o a falar. Svava porém
seria outro nome para Sigrún, que é casada com Helgi, em outras duas baladas da Edda
Poética, todas essas baladas seriam então versões diferentes de uma mesma história.
Temos ainda, entre essas lendárias cavaleiras, a mais jovem Norn chamada Skuld.
Na Völuspá ("A Profecia da Vidente"-ver obs.1), da Edda Poética, vemos também
descritas suas famosas cavalgadas através dos céus, imortalizada na música do compositor
clássico alemão Richard Wagner. Richard Wagner, o famoso compositor clássico da
tetralogia Der Ring des Nibelungen (“O Anel dos Nibelungos”), deu uma origem para as
suas Valquírias, que seriam então nove filhas do deus Wotan (Odin) com a deusa Erda
(Jörd), a Mãe-Terra. Aquelas que cavalgam pelos campos de batalha recolhendo os
guerreiros mortos, sendo uma delas Brunhild (Brynhild), aquela que foi punida com a
mortalidade.
Brunhild é a mais famosa de todas as Valquírias. Na Völsungasaga e na Edda Poética,
Odin pune Brunhild, por auxiliar o rei errado a morrer em batalha. Odin então a condena
a casar-se apenas com um guerreiro valente e destemido, então ela foi deixada adormecida
em um Anel de Fogo, até o valente herói poder atravessar as chamas. Sigurðr atravessou
através das chamas, duas vezes. A segunda vez, ela foi enganada para casar-se com
Gunnar, o irmão de Gudrun, enquanto o herói casou-se com Gudrun. Por fim ela causou a
morte de Sigurðr. Brunhild caída em desgosto, morre na pira funerária de Sigurðr.
Brunhild recebe um nome diferente em uma das baladas da Edda Poética. Na "A Balada
de Sigrdrífa", Brunhild é conhecida como Sigrdrífa (“estimuladora-da-vitória”), onde ela
ensina para o herói a runa da vitória.
Dia 31 de janeiro é a data dedicada às Valquírias. Acreditava-se que a aurora boreal, o Sol
da meia-noite dos países nórdicos, era a luz refletida pelos escudos das Valquírias ao
levarem as almas para Valhala.
No primórdio dos tempos, as Valquírias foram adoradas com sacrifícios (geralmente
animais), mas hoje elas possuem uma conotação mais benigna e foram trazidas para nossa
vida atual. De Deusas de Guerra, passaram a representar o lado escuro de nossas mentes e
corações. Quando uma Valquíria está ao nosso lado, podemos viajar à estes lugares e
retornarmos mais fortalecidas. As Valquírias chegam até nossas vidas, para lembrar-nos,
que assim como a semente precisa ser enterrada na terra escura, nosso espírito também
necessita abraçar sua escuridão a fim de crescer.
Em cada um de nós há um herói, à deriva entre as correntes de ambivalência que se
cruzam. Em cada um de nós há o arquétipo do herói, com a capacidade de fazer frente as
desafios da vida. E, a única medida pela qual poderemos ser julgados quando tudo
terminar, é pelo que nos tornamos diante de todas as forças que tentaram nos deter. As
histórias de heróis podem nos guiar, mas cabe a cada um responder ao seu próprio
chamado, individualizando-se.
A busca do verdadeiro herói implica em uma viagem, da inconsciência até o
conscientização, das tenebrosas profundezas até as altitudes luminosas, da dependência à
auto-suficiência. O ritual abaixo vai lhe auxiliar bastante na busca de seu interior heróico,
portanto, não deixe de fazê-lo.
RITUAL DAS VALQUÍRIAS
Para este ritual de meditação você precisará:
9 ou 13 velas pretas, sendo que 1 deve ser maior que todas as outras;
Um caderno e uma caneta;
Um atame.
Trace o círculo e posicione as velas em torno dele, deixando a maior para ser posicionada
no centro do círculo. Chame os quatro elementos, para participarem do ritual.
De pé, no centro do círculo, com os braços esticados para cima e com o atame em sua
"mão de poder", diga:
Convido-as, Valquírias, Donzelas-Cisne,
Para estarem comigo presentes agora,
E enquanto durar minha própria batalha,
Ao encontro com meus demônios interiores.
Sente-se em frente da vela preta grande, mas não a acenda ainda.
Sente-se na frente da vela preta grande, mas não se ilumine ainda. Certifique-se que esteja
sentada confortavelmente. Agora, através dos pés, tente conectar-se com a terra e relaxe o
corpo. Respire profundamente e inspire devagar. Visualize então uma floresta escura, onde
uma força desconhecida começa a puxá-la. Você muitos animais pequenos, árvores, que
parecem guiá-la. Há mesmo um animal que estará com você desde o início desta viagem
até o fim, é o seu animal de poder. É importante identificá-lo, pois ele poderá lhe auxiliar
em outras viagens, é só chamá-lo.
De
repente você depara-se com uma toca de grande profundidade, que até parece ser moradia
de algum animal da floresta. Respire profundamente, pois deverá rastejar pelo buraco.
Sinta o frescor da terra úmida, com a mudança de temperatura, pois aqui o calor do sol
nunca chega. Penetre o mais profundo que conseguir e alcançará uma seção com muitos
túneis, bem no interior da terra. Agora pensará que caminho tomar e é então que uma voz
que lhe dirá:
-"Não pare minha filha, estou aqui. Venha um pouco mais a frente e me verá".
Siga o som da voz e lá à frente encontrará uma mulher pequena, de cabelos loiros e olhos
azuis, vestindo um lindo casaco de penas de cisne para lhe aquecer. Está na frente do fogo
e convida você para juntar-se a ela.
-"Seu coração é corajoso", lhe dirá. "Somente um bravo coração poderia encontrar minha
morada. Eu sou a Valquíria. Estou aqui para ajudá-la a enfrentar seus medos".
Ela lhe dará um chá para tomar e em seguida começará a sentir muito sono. Você fecha os
olhos para descansar e encontra-se agora em um outro túnel, mas não estará sozinha, pois
a Valquíria sempre estará ao seu lado.
Você pergunta: - "O que faço agora?"
A Valquíria responderá: - "Me fale de seus medos."
Comece com os medos que você tinha na infância e relate até os dias atuais. Ao falar sobre
eles, sentirá que eles já não a assustam tanto, muito pelo contrário, estão se tornando
amigáveis. Entregue então, todos os seus medos como presentes à Valquíria, dizendo-lhe
também como conseguiu solucioná-los.
A Valquíria lhe dirá que sempre que tiver necessidade de enfrentar seus medos, ela estará
no mesmo lugar esperando por você. Abrace-a e beije-a com carinho e peça-lhe para lhe
mostrar a saída. Inicie então, a subida pelo longo túnel. Ao chegar à entrada, verá que
todos os animais permaneceram aguardando-a. Eles trouxeram muitas frutas para
compartilharem com você. Coma com eles e agradeça pela ajuda.
Respire e inspire profundamente e quando você sentir que está de volta ao seu corpo, abra
os olhos. Acenda a vela preta e em seguida escreva tudo o que se lembra da viagem em seu
caderno. Se quiser, beba um pouco de água.Quando terminar de escrever, agradeça
novamente as Valquírias e os elementos que compareceram em seu ritual e feche o círculo.
Deixe as velas queimarem até o fim.
Animais correspondentes: Cavalo e o lobo
Runas: Elhaz que significa a proteção
Cores: Preto
Sinal Astrológico: Câncer
OBSERVAÇÕES:
1- O Poema Eddico Völuspa, descreve um período de caos primitivo, seguido da criação de
gigantes, deuses e finalmente a humanidade.
POR QUAL DEUSA VOCÊ É REGIDA?
(Para homens e mulher)
Você deve responder ao questionário abaixo e então descobrirá por si mesma quais deusas
estão influenciando sua vida atual.
Instruções:
Mulheres: Leia atentamente as seis afirmações de cada pergunta e escolha a resposta que
mais se identifica ou já se identificou com você.
Homens: Leia as seis afirmações e escolha aquela que pertence ao tipo de mulher que mais
lhe atrai.
Questionário:
1. APARÊNCIA (a minha aparência/ a aparência dela)
A. Como não costumo sair muito, roupas e maquiagens não são tão importantes para mim.
B. Prefiro vestir jeans e uma camiseta confortável.
C. Minha aparência não é nada convencional.
D. Gosto de me vestir com roupas mais conservadoras e uso pouca maquiagem.
E. Gosto de me arrumar com roupas bem sensuais e provocantes.
F. Estar bem vestida e maquiada me dá segurança para enfrentar o mundo.
2. MEU CORPO (como eu sinto meu corpo/como ela sente seu corpo)
A. Eu não penso em meu corpo.
B. Meu corpo se sente melhor quando estou ativa e fazendo exercícios.
C. Gosto que meu corpo seja tocado e acariciado bastante pela pessoa que eu amo.
D. Muitas vezes eu não sinto absolutamente nada no meu corpo.
E. Acho deveras embaraçoso falar de meu corpo.
F. Se pudesse estaria sempre grávida, é o jeito com que mais me identifico com o meu
corpo.
3. CASA E LAR (o que realmente importa para mim/para ela)
A. Gosto de minha casa seja elegante e impressione as pessoas.
B. Prefiro a cidade, para mim um apartamento está sob medida.
C. Minha casa deve ser aconchegante e ter lugar para muitos amigos.
D. Preciso de privacidade e espaço para fazer tudo o que gosto.
E. O lugar onde vivo deve ser bonito e confortável.
F. Prefiro viver no campo onde posso ficar próxima da natureza.
4. ALIMENTAÇÃO E COMIDA (a importância para mim/para ela)
A. Tomo cuidado com a alimentação por necessito de um corpo saudável.
B. Gosto de jantar fora em lugar bem romântico.
C. Gosto muito de comer fora onde possa conversar com meus amigos.
D. Eu realmente gosto de cozinhar para minha família e amigos.
E. As refeições são momentos familiares importantes.
F, Comer não é coisa importante para mim.
5. INFÂNCIA (como eu costumava ser/ela costumava ser)
A. Eu tinha muitas brincadeiras secretas e muitos mundos imaginários.
B. Eu sempre dirigia as brincadeiras com minhas amigas.
C. Eu gostava de brincar com bonecas.
D. Eu tinha sempre o nariz enfiado num livro depois de uma certa idade.
E. Eu estar ao ar livre e entre os animais.
F. Eu adorava brincar de desfile e me vestir como gente grande.
6. OS HOMENS (o que preciso em um/o que ela precisa em um)
A. Quero um homem que se excite sexualmente sempre.
B. Quero um homem que me proteja e me faça mimos.
C. Quero um homem que seja independente e me proporcione bastante espaço.
D. Preciso de um homem que me desafie intelectualmente.
E. Preciso de um homem que compreenda o meu mundo interior.
F. Quero um homem de cuja posição no mundo eu possa me orgulhar.
7. AMOR E CASAMENTO (o que significa para mim/para ela)
A. O casamento só dá certo quando houver uma ligação espiritual maior.
B. Casamento é o alicerce da sociedade.
C. O amor é mais importante que tudo, sem ele meu casamento seria vazio.
D. Tudo bem com o amor e o casamento, desde que eu tenha o meu espaço.
E. O casamento protege os filhos, amor apenas não é suficiente.
F. Meu casamento às vezes tem que ser sacrificado em função do meu trabalho.
8. SEXUALIDADE (como eu sou na cama/como ela é na cama)
A. Às vezes é difícil eu me soltar completamente quando faço sexo.
B. Eu me excito facilmente com o homem certo.
C. Às vezes leva um certo tempo até eu de fato entrar no meu corpo.
D. No sexo, adoro tanto dar quanto receber.
E. Eu sou meio tímida sexualmente, mas posso me tornar quase selvagem.
F. O sexo pode ser extático e quase místico para mim.
9. OS FILHOS (o papel deles na minha vida/na vida dela)
A. Sinto-me feliz quando estou fazendo alguma coisa ao ar livre com meus filhos.
B. Meus filhos são a maior realização da minha vida.
C. Eu espero que meus filhos venham a ser um grande crédito a meu favor.
D. Prefiro não ter filhos e me dedicar à minha carreira.
E. Eu amo meus filhos, mas a minha vida amorosa é igualmente importante.
F. Eu amo meus filhos e quero sempre saber o que estão sentindo ou pensando.
10. PASSATEMPOS (coisas que eu gosto de fazer/que ela gosta de fazer)
A. Metafísica, leitura de tarô, astrologia, tudo que diz respeito ao esoterismo.
B. Estar sempre apaixonada, colecionar jóias, comprar roupas bonitas, ouvir música e ir
ao teatro.
C. Esportes, atletismo, correr, acampar, pescar, velejar, montar a cavalo.
D. Serviços comunitários, clubes sociais, grupos voluntários, igrejas paroquiais.
E. Campanhas políticas, apoio a minorias, museus, séries de conferências, leituras.
F. Cozinhar, jardinar, bordar, tecer, costurar.
11. FESTAS (como eu me comporto/como ela se comporta nelas)
A. Eu geralmente me envolvo em discussões políticas ou intelectuais.
B. Costumo ser atraída por pessoas com problemas.
C. Prefiro ser anfitriã das minhas festas.
D. Não consigo deixar de querer localizar o homem mais sensual da festa.
E. Gosto de ter certeza que todos estão se divertindo.
F. Festas me deixam tensa, não gosto muito delas.
12. AMIZADES (o lugar que ocupa na minha vida/na vida dela)
A. A maioria das minhas amigas tem filhos da mesma idade que os meus.
B. Escolho as minhas amizades com muito cuidado e elas são muito importantes para mim.
C. Gosto de partilhar minhas últimas idéias e projetos com minhas amigas e amigos.
D. Minhas amizades tendem a ser amizades mágicas.
E. Minhas amigas são basicamente as esposas dos amigos de meu marido.
F. Meus amigos são geralmente mais importantes para mim do que minhas amigas.
13. LIVROS (que tipo de livros eu trago por perto/ela traz por perto)
A. Livros de receitas, de artesanato, de como cuidar das crianças.
B. Literatura, biografias, livros de viagem, história ilustrada.
C. Livros da Nova Era, psicologia, metafísica, I Ching.
D. Livro de esportes e saúde, manuais de ioga, livros de animais de vida selvagem.
E. Livros de arte, biografias populares, romances e poesias
F. Política, sociologia, livros intelectuais recentes, livros feministas.
14. O MUNDO AÍ FORA (minha atitude/ a atitude dela)
A. Eu sempre procuro me manter informada sobre o que acontece no mundo.
B. A política só me interessa pelas intrigas de bastidores.
C. Eu conheço mais do mundo através dos meus sonhos do que pela TV ou jornais.
D. Eu raramente sei, ou quero saber, o que está acontecendo no mundo.
E. O mundo é basicamente dos homens, eles que são "brancos" que se entendam.
F. É importante para mim ter um papel ativo na comunidade.
VAMOS AGORA CALCULAR OS PONTOS:
ATENA AFRODITE PERSÉFONE ÁRTEMIS DEMÉTER HERA
1-F
1- E
1- C
1-B
1-A
1-D
2-A
2-C
2-D
2-B
2-F
2-E
3-B
3-E
3-D
3-F
3-C
3-A
4-C
4-B
4-F
4-A
4-D
4-E
5-D
5-F
5-A
5-E
5-C
5-B
6-D
6-A
6-E
6-C
6-B
6-F
7-F
7-C
7-A
7-D
7-E
7-B
8-C
8-B
8-F
8-E
8-D
8-A
9-D
9-E
9-F
9-A
9-B
9-C
10 - E
10 - B
10 - A
10 - C
10 - F
10 - D
11 - A
11 - D
11 - B
11 - F
11 - E
11 - C
12 - C
12 - F
12 - D
12 - B
12 - A
12 -E
13 - F
13 - E
13 - C
13 - D
13 - A
13 - B
14 - A
14 - B
14 - C
14 - D
14 - E
14 - F
Você deve somar os valores de cada coluna da tabela acima, obtendo assim um coeficiente
para cada deusa. As deusas que tiverem maior pontuação são as que se fazem mais fortes
em sua vida, ao passo que as rejeitadas terão coeficientes mais baixos. Você acabou de
traçar um "Perfil das Deusas".
INTERPRETAÇÃO
Depois de traçar o perfil, o que fazer a respeito e o que significa?
O questionário que foi respondido reflete um processo dinâmico, pois você não é a mesma
pessoa de um ano atrás e não será a mesma daqui mais um ano. Nós estamos sempre nos
transformando com experiências e informações novas, portanto o seu "Perfil das Deusas"
será diferente em diferentes épocas de sua vida.
O importante deste questionário é a relação entre as deusas do seu Perfil. Devemos
aprender a usar o perfil e as deusas como mapas para explorar o interior de nossa psique.
O objetivo maior está em tornarmos cientes das qualidades e das chagas de cada uma das
deusas, trazê-las à consciência e trabalhar com elas a fim de desenvolver essas qualidades e
curar as chagas.
CONCILIANDO DEUSAS
Uma mulher, com certeza possui uma ou mais deusas dominantes na sua constituição.
Todas nós temos que atravessar as diversas etapas arquétipicas e vivenciais da vida: bebê,
criança, adolescente, adulta e mais velha. O relevante é COMO vivenciamos tais estágios,
pois eles nos dirão de maneira óbvia e sutil, as deusas que estão se expressando em nós.
Para encontrarmos essas deusas, será necessário escrevermos todas as coisas que mais se
destacam na nossa memória ao longo dos diferentes estágios de nossas vidas. Quando o
rascunho estiver completo, é hora de se analisar e identificar quais deusas estão
representadas e em que estágio de nossa caminhada. Às vezes o poder de uma deusa
desponta cedo na vida, outras mais tarde. Portanto, o importante ao identificarmos as
vivências pessoais com cada deusa é também descobrir qual delas se sobressai e qual está
ausente. A deusa com a qual temos questões pendentes, provavelmente não será nem
aquela que teve menos voz ativa em nossa vida até o momento, nem aquela cuja voz
"passiva" sempre ouvimos mas nunca escutamos. A tarefa é descobrir quais são as
questões que devem ser solucionadas com elas.
Em seu rascunho faça seis círculos, um para cada deusa e dentro de cada um deles escreva
palavras que você associa a cada uma delas. Com certeza você começará a ver o quanto à
chaga de cada deusa influência o seu dia-a-dia.
Tradicionalmente o ciclo de vida as mulheres apresentava três estágios: Jovem, Mãe e
Anciã. Mas hoje já se melhora um pouco mais este contexto, pois os tempos são outros:
1 . Primeira Fase: PERSÉFONE (como jovem) - que rege a infância e a juventude
2. Segunda fase: ÁRTEMIS E ATENA - regem a adolescência, o início da idade adulta e a
transição.
3. Terceira fase: DEMÉTER E AFRODITE - regem respectivamente a maternidade e os
relacionamentos na maturidade.
4 Quarta fase: HERA - rege a metade da vida, a mulher enquanto "dignatária"
5 - Quinta fase: PERSÉFONE (como anciã) - rege a velhice e a morte, a mulher "sábia".
Tomemos as quatro deusas agrupadas acima como as mais atuantes hoje em dia na vida de
toda a mulher a partir do final da adolescência: DEMÉTER, AFRODITE, ATENA e
ÁRTEMIS. Elas estarão agindo na psique de quase todas as mulheres. Deméter quer
bebês, Afrodite busca romance, Atena deseja uma carreira e Ártemis quer ficar sozinha.
Como optar entre elas? Primeiro você deverá ouvir sua voz interior. A essas alturas você já
sabe qual é sua deusa dominante. Segundo, deverá examinar as influências externas que a
estão aproximando ou afastando do domínio das outras deusas. Dê uma refletida na sua
mãe. Qual deusa a domina? Você seguiu o caminho que ela lhe projetou? Você também
deve estar atenta ao seu pai Você não estaria se moldando para agradá-lo?
E indo além de seus pais, você deve examinar os valores gerais da comunidade em que foi
criada e como eles influenciaram ou distorceram o seu tipo fundamental de deusa.
E ENTÃO, O QUE FAZEMOS?
Não tem importância o método, o que importa é conhecermos quais energias das deusas
são poderosas em nós para que possamos estabelecer alianças que beneficiem aquelas que
estão mais fracas ou ausentes.
Talvez fique mais fácil se você visualizar seis almofadas confortáveis e você senta naquela
em que se sentir mais à vontade. Agora imagine outras mulheres sentadas nos demais
lugares, mulheres que lhe povoaram a mente enquanto você respondia o questionário,
independente de gostar ou não delas. Certamente existirá alguma que você preferirá evitar
por completo. Agora que você visualizou a sua sombra, poderá confrontá-la com coisas a
respeito das quais discordam: as atitudes dela sobre comida e política, o modo de cuidar
da casa e de si própria, os valores que defende. Uma coisa de por as coisas em pratos
limpos com sua sombra é escrever a ela uma carta expressando tudo aquilo que você já
pensou ou sentiu, mas nunca teve a chance de manifestar.
Agora que você já escreveu, reflita! Será que sua sombra tem algo a lhe dizer?
Todos os textos desta pasta foram elaborados,pesquisados e
desenvolvidos por:
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia consultada:
O Ramo de Ouro - Sir James George Frazer
A Deusa Interior - Jennifer Baker Woolger/Roger j. Wooger
As Deusas e a Mulher - Jean Shinoda Bolen
O livro de Lilith - Barbara Koltuv
L I L I T H , A L U A N E G R A - R O B E RT O S I C U T E R I
Explorando o Druidismo Celta - Sirona Knight
Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May
O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino
O Livro Mágico da Lua - D. J.Conway
O Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashinsky
Os Mistérios Wiccanos - Raven Grimassi
Todas as Deusas do Mundo - Claudiney Prieto
O Anuário da Grande Mãe - Mirella Fauer
A Grande Mãe - Eric Neumann
La Mythologie Celtique - Y. Brékillen
La Reine et le Graal - C. Méla
Diccionario Espasa - J. Felipe Alonso
Hadas y Elfos - Édouard Brasey
La Mujer Celta - Jean Markale
Diccionario de Las Hadas - Katharine Briggs
El Gran Libro de la Mitologia - Diccionario Ilustrado de Dioses, Heroes y Mitos - Editora
Dastin; Madrid
Hadas y Elfos - Édouard Brasey
Enanos y Gnomos - Édouard Brasey
O Amor Mágico -Laurie Cabot e Tom Cowan
Hadas - Jesus Callejo
Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May
A Deusa Tríplice - Adam Mclean
HADAS - MONTENA; BRIAN FROUD Y ALAN LEE
O Medo do Feminino - E. Neumann
Consciência Solar, Consciência Lunar - Murray Stein
As Deusas e a Mulher - Jean Shinoda Bolen
Caminho para Iniciação Feminina - Sylvia B. Perera
La Reine et le Graal - C. Méla
La légende Arthurienne - E. Faral
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
Bruxas e heróis - Eisendrath Young
Os mistérios Celtas - John Sharkey
Druidismo Celta - Sirona Knight
Livro Mágico da Lua - D.J. Conway
A Grande Mãe - Erich Neumann
F O R A M C O N S U LTA D O S A L G U N S S I T E S N A I N T E R N E T
A N A M C A R A - J O H N O'D O N O H U
T H E C E LT D R U I D - G E O F F R E Y H I G G I N S
O ANUÁRIO DA GRANDE MÃE - MIRELLA FAUR
A N A M C A R A - J O H N O'D O N O H U
ALGUNS SITES AMERICANOS
"A deusa Interior" - Jennifer Barker Woolger/Roger J. Woolger
"Those Women" - Nor Hall
"The Myth of Women's" Sylvia Ann Hewlen
"Aspects of the Feminine" - Princeton
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