ESTUDO 2 A PRÁTICA DA ORAÇÃO SUMÁRIO Formas de oração. Como orar. Oração espontânea e natural. Orientação para praticar a oração. Competências a serem Construídas Depois de realizar este estudo, você deverá ter construído as seguintes competências: Competência-chave: aplicar programa diário de oração. Competências-secundárias: 1 Descrever as formas de oração. 2 Caracterizar e aplicar os aspectos da oração 3 eficaz. Avaliar a oração agradável a Deus. Introdução Uma das principais características de um ambiente urbano é a pressa e as muitas coisas para fazer. Como cristãos, parece que esse corre do dia a dia afeta diretamente a prioridade que deveríamos dar a oração. Isso nos leva a perguntar por que a oração é tão importante assim? Não bastariam os momentos de oração silenciosa e coletiva que passamos na igreja? É preciso mesmo orar todo dia? O assunto da oração está ligado à nossa vida de adoração diária. A oração reflete o privilégio dos filhos de Deus de conversarem com seu Pai celeste. É certo que não podemos falar com Deus de qualquer jeito, mas também é certo que, sendo nosso corpo o templo do Espírito Santo, de jeito nenhum podemos ficar sem falar com ele. A Bíblia é muito rica em instruções acerca da oração, entretanto o foco desse estudo diz respeito a prática da oração diária, sem negligenciar as orações que fazemos em conjunto com outros irmãos. Aprendendo um Pouco Com Jesus Um dia Jesus estava orando num certo lugar. Quando acabou de orar um de seus discípulos pediu: - Senhor, nos ensine a orar (Lc 11.1). A partir desse texto, Jesus nos dá o exemplo de sua prática diária de oração. Os discípulos ao perceberem que Jesus orava regularmente, pediram que ele os ensinasse a orar. Cremos que a prática da oração diária era uma dificuldade para os discípulos, assim como o é pra nós. Não devemos nos iludir achando que conseguiremos orar diariamente sem nenhum esforço intencional. Isto não significa que orar é um desprazer, mas da mesma forma como nos programamos e priorizamos a alimentação de nosso corpo, o mesmo deve ser feito com o espírito. Há quem diga que a oração é o oxigênio espiritual e os discípulos sentiram essa necessidade de orar, e de aprender a orar com Jesus. Em termos práticos podemos identificar, pelo menos, quatro aspectos sobre a oração que Jesus nos ensinou. (1) Por hipótese alguma a oração é uma obrigatoriedade, ela é uma necessidade prazerosa; (2) A conversa é íntima, sincera e respeitosa. Jesus nos ensinou a dizer “Pai nosso”, refletindo intimidade; e também “santificado seja teu nome” que expressa respeito e o desejo de que Deus seja glorificado por todos. Orar não é aprender uma reza, uma fórmula padronizada de falar com Deus e de lhe dirigir pedidos; (3) Na oração externamos a nossa total dependência de Deus, tanto para as coisas simples como o pão de cada dia, quanto para o livramento das ações do Maligno; (4) É na oração diária que nos lembramos que somos pecadores e precisamos, dia a dia do perdão de Cristo. Por sermos pecadores perdoados é também pela oração que obtemos forças para perdoar quem nos ofende. Oração é falar com Deus. Com Deus, que tem critérios de apreciação diferentes daqueles que as pessoas têm, como se lê em I Sm 16.7: ...o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração. 1. Formas de Orar Há várias formas de oração, de acordo com as circunstâncias, necessidades e objetivos no momento de orar. Há, por exemplo, orações públicas (igreja, refeição com a família, pequenos grupos) e orações em secreto no quarto ou outro lugar solitário. Na oração pública a pessoa que ora ergue sua voz, enquanto outros acompnhanham a oração que é feita. Ao final dizemos AMÉM (Assim seja), se concordamos com o que foi falado. Aquele que ora na igreja ou num grupo pequeno, torna-se representante da oração dos crentes presentes ali. Os que o ouvem precisam dirigir sua própria oração na oração que ele faz, devem sentir-se conduzidos a Deus por meio dela, edificados, ajudados e abençoados. Por isso, a oração comunitária é feita em voz alta, com palavras compreensíveis, para que a congregação, no bom uso dos améns, dizendo a Deus e àquele que fala, que as palavras do que orou foram as palavras que todos gostariam de dizer naquele momento e sobre aquele assunto. O exemplo de Neemias mostra que na oração individual podemos identificar duas formas. Primeiro a oração que é feita em local reservado, solitário onde apenas você e Deus estão presentes. Neste contexto podemos abrir totalmente o coração, chorar, falar em voz alta ou não (Ne 1.5-10). Nesse reencontro pessoal nem sempre é com voz audível que nos expressamos Jesus ensinou que o Senhor Deus no vê e nos ouve em secreto (Mt 6.4). A segunda forma de oração individual é quando oramos em nossa própria mente, nossa própria oração, mesmo estando entre outras pessoas. Neemias fez isto diante do rei persa (Ne 2.4). 2. Como Orar É importante e necessário orar, porém mais ainda é saber orar. O Texto de Tiago 4.3 alerta que muitas vezes não sabemos orar e pedimos mal. Pedir mal não é o uso de palavras incorretas, com erros gramaticais nas frases, ou usar uma forma mal estruturada na apresentação das idéias na oração. Não saber como orar significa a ação de motivações, sentimentos ou desejos egoístas na oração. Tiago também nos orienta a pedirmos bem. O primeiro aspecto é orar com sabedoria (Tg 1.5). Sabedoria divina significa saber aplicar adequadamente os ensinos da Palavra de Deus, significa humildade e submissão à vontade dEle. Paulo fala dessa sabedoria em I Coríntios 2.11-16. É uma espécie de radar orientador espiritual, que mostra se Deus aprova ou não o que pedimos. É o próprio Deus quem concede essa sabedoria (Tg 1.5). Jesus não hesitou em tomar essa atitude na oração do Getsêmani, quando por três vezes demonstrou sua posição de obediência e submissão à vontade do Pai (Jo 18.36-46). O segundo requisito na oração é orar com fé (Tg 1.6). A fé na oração se caracteriza pela certeza que a resposta de Deus virá, na medida do que Deus considerar ser o melhor para nós. Note bem, a fé não é esperar que Deus nos responda exatamente o que pedimos, mas saber que Deus vai responder nossas necessidades de acordo a sua perfeita vontade. A fé não é na oração em si mesma, mas em Deus e na maneira pela qual ele escolhe responder à oração que fizermos. O terceiro elemento na oração é fervor (Tg 5.17). Não se trata de sensacionalismo através de palavras, com tremores na voz e com expressões de petições que parecem “arrebentar os céus”. Fervor é ter o coração aquecido e decidido em buscar agradar a Deus. Como diz um antigo hino: Em fervente oração, vens o teu coração Na presença de Deus derramar. Mas não podes fruir o que estás a pedir Sem que tudo abandones no altar. Você quer orar com fervor? Então não ore para você mesmo, como fez o fariseu (Lc 18.11). Ore entregando o seu coração ao Senhor e ele, recebendo a sua oração, lhe aquecerá o espírito em consagração pessoal. Além desses elementos, o Senhor acrescenta mais um: oração em nome de Jesus (Jo 14.33). Isso significa que para a oração ser aceita por Deus, necessitamos da mediação de Jesus. Sem o endosso de Cristo, sem o seu aval, nenhuma oração será conhecida por Deus. Logo, não é porque o nome de Jesus aparece no costumeiro final das orações, que ela será atendida. Mas, porque na nossa oração ele está presente, em cada palavra, em cada pensamento, em cada pedido. Há ainda mais um aspecto na oração agradável a Deus: lembra-te de teu irmão quando orares. Por mais solitária que seja uma oração, nunca pode chegar a ser individualista. Jesus nos ordena que, indo adora, devemos verificar, antes de prestar nosso culto a Deus, se alguma coisa precisa ser acertada entre nós e nossos irmãos (Mt 5.23-24). Nossa aceitação por Deus está na dependência de nossas relações com as pessoas (Mt 6.14-15). Ninguém pode ter comunhão com Deus se mantiver conscientemente rompida a comunhão com seu irmão. Volta, disse Jesus, reconcilia-te primeiro com ele, e depois vem. Só então poderemos começar a orar como ensinou: Pai nosso, que estás nos céus... 3. Oração Espontânea e Natural Você se sente bem quando ora? Você sente falta de estar algum tempo a sós a com Deus regularmente? Você ora quando te lembram ou é algo que ocorre espontaneamente? De onde vem a espontaneidade na oração? Pelo menos três razoes podem ser apresentadas: Um novo coração O desejo de orar vem de um coração que foi transformado por Cristo. Essa transformação nos tirou do estado de inimigos de Deus e nos tornou seus filhos (Jo 1.12). Assim como um filho deseja estar seu pai e conversar com ele, assim o cristão anseia por orar a Deus, o Pai celeste. Como a fome está para o corpo, o desejo de orar reflete boa saúde espiritual. Um Pai bondoso e gracioso A segunda razão pelo qual a verdadeira oração é espontânea e natural reside no fato que Deus é sempre bom para com todos os seus filhos e filhas. Você não é um estranho para Cristo, mas alguém ligado a ele por inquebráveis laços de amor e misericórdia (Mt 7.17). O Deus a quem nossa oração se dirige, é grandioso, poderoso e Rei do universo, muito acima de nossa frágil condição humana e pecadora, mas, antes de tudo, ele é o Pai nosso que está nos céus. É grande convite à oração pensarmos nisso. Ter a Deus como Pai é poder contar com ele, com sua compreensão, com sua simpatia, com seus braços amigos abertos para nos envolver e proteger, e nos levantarem para nos dirigir e nos colocar na melhor direção, a melhor e mais conveniente. Como Pai, Deus não nos expulsa da sua presença, e dessa presença nunca sentiremos falta (Mt 28.20). Jesus ensinou esta verdade claramente na parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-24). Mais importante do que todo o erro que o filho havia cometido, e que persistia além de toda a ingratidão e toda a rebeldia do filho, era o fato daquele jovem poder voltar atrás. Aquele que ficara continuava a ser o seu pai! Voltando, ele pode dizer que não era digno de ser chamado filho, mas o pai não havia mudado, ele podia chamá-lo de pai. Toda a segurança para a volta do filho, toda a sua coragem e desinibição para confessar e pedir perdão, estavam ligadas ao fato de haver um pai bondoso e cheio de graça. Somos motivados a orar em qualquer circunstância, pois nosso Deus é nosso Pai. O fato de Deus ser nosso Pai é confortante, mas também é desafiador. Quando chamamos Deus de Pai, não estamos somente certos das ações e relações bondosas afetuosas dele para conosco. Há também as nossas ações para com ele: somos seus filhos. O fato do jovem ter errado o ter dito “não mereço mais ser chamado de seu filho”, não implicava em ele perder sua filiação. Significava apenas o peso e a tristeza gerados pelo pecado cometido, diante de um Pai que sempre havia sido bom para ele. E foi assim que o pai da parábola se referiu àquele moço: este meu filho. Quando um filho volta, é sempre filho para Deus. É por isso que independente do que tenhamos feito a nossa oração deve ser sincera e espontânea, refletindo a realidade do coração. 4. Orientação para praticar a Oração Por causa das inúmeras, responsabilidades, compromissos outras atividades que aparecerem a cada dia, é preciso tomar uma atitude firme para se praticar a oração com freqüência. Para tanto oferecemos a você algumas orientações para que a importância da oração se torne real e não apenas um desejo. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Reserve um tempo – Sempre que agendamos um período de tempo para algo estamos dizendo para nós mesmo que é importante e precisa respeitado. Aproveite o tempo – Nas suas diversas atividades, provavelmente você encontrará “espaços vazios” que podem ser transformados em momentos de oração. Tenha um parceiro de oração – Alguém que você permita que lhe lembre da necessidade de orar e com quem você compartilhe bênçãos e dificuldades. Jesus convidou várias vezes Pedro, Tiago e João para orarem com ele. Não se deixe tomar pelo cansaço – Orar exige esforço. Marque a sua mente com a verdade de que a prática de oração não é uma opção, mas um privilégionecessidade-dever. Escolha um lugar apropriado – Você pode orar em qualquer lugar, mas tenha um em particular que lhe ajuda na conversa com Deus. Deve ser um local calmo, silencioso onde você pode ser você, não ser incomodado, nem chamar a atenção de ninguém. Ao orar não se limite a pedir - Durante o tempo da sua oração, adore a Deus, contemple as belezas da criação, faça agradecimentos, interceda pelas pessoas, confesse pecados, faça pedidos por sua vida espiritual e física, por seus relacionamentos, evangelização, oportunidades etc. Não se preocupe com o tempo – Mas não ore mandando mensagens rápidas para Deus. Seja detalhista ao invés de anunciar manchetes. Você precisa conversar. Normalmente, a reserva de 30 minutos reflete um bom começo. Conclusão Charles L. Allen considera que a “oração não é um simples dizer de palavras. Estas formam apenas a estrutura em que o templo do pensamento é construído.” E, continuando a falar sobre o Pai Nosso, diz: “O poder do Pai Nosso não está nas palavras, mas na realidade significativa de nossa mente quando o recitamos.” Não foi por acaso que Jesus nos deu no Pai Nosso um modelo orientador de como orar. Deus mesmo nos ensina a orar porque somos muito inclinados só orar pedindo coisas que desejamos. Cada um de nós crê que o que deseja pedir é a coisa mais importante que se deve pedir. Mas, para que nossa oração prática de oração diária seja sadia é preciso aceitar que Deus nos mostre o caminho da verdadeira oração. Em oração proclamamos as maravilhas divinas, em oração somos agradecidos, pela oração confessamos pecados e recebemos perdão, na oração recebemos força para enfrentar as dificuldades, ao orarmos somos preenchidos com paz. Em oração também ouvimos a Deus. Ele nos corrige e nos orienta. Pela oração Deus nos transforma em verdadeiros sacerdotes que intercedem pelos incrédulos, pelos irmãos e pela igreja. Bibliografia LOYD-JONNES, Martin. Estudos no Sermão do Monte. São Paulo: Mundo Cristão, 1980. XIMENES, Rubem. Estudos sobre o Pai Nosso. Recife: manuscrito não publicado, 1998. Para Saber Fazer Exercício I: analise a oração a seguir, escrita por Calvino, e procure destacar os elementos constitutivos numa oração, tais como adoração, petição, ação de graças etc.: “Ó Senhor Deus, a quem aprouve criar a noite para o repouso do ser humano, assim como lhe deste o dia para o trabalho; permite que possamos descansar esta noite de modo que os nossos corpos e que as nossas almas possam permanecer despertos para Ti e que possam sentir-se sustentados pelo Teu amor. Permite que possamos afastar de nós todos os cuidados terrenos, que a lembrança da Tua bondade e da Tua graça estejam sempre presentes em nossas mentes, de maneira que, enquanto descansarem os nossos corpos, achem as nossas consciências repouso espiritual, de tal maneira que até mesmo o nosso sonho seja para a glória de Teu nome. Visto que não somos mais do que pobres pecadores e não passamos este dia sem ofender-Te de múltiplas formas, suplicamos-Te que, assim como todas as coisas estão ocultas sob a sombra que enviaste sobre a Terra, assim Te dignes sepultar as nossas faltas por Tua compaixão, de modo que não sejamos afastados da Tua presença. Ouve-nos, Deus nosso, nosso Pai e Salvador; por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém!” Exercício II: faça um plano diário de oração pessoal. Construa uma tabela, onde possa acompanhar os pedidos realizados por você mesmo, pela sua família, pela igreja e pela as demais pessoas. Veja o exemplo: Data do Pedido Pedido Data da Resposta Autor: Rubem Ximenes Sérgio Lyra. Elaborado em: 10/03/2004. Última revisão: 15/03/2006.