MÉTODO EHRENFRIED E A IMPORTÂNCIA DA MUSCULATURA DO HIÓIDE O hióide é um osso pequeno, aparentemente insignificante e muito pouco estudado. Dificilmente se encontra alguma referência literária. Já foi considerado por muitos como órgão vestigial, mas tem uma grande importância no contexto geral do corpo humano. É um osso único localizado no centro do pescoço, em uma posição estratégica: abaixo da mandíbula, acima da cartilagem tireóidea e na altura do corpo da terceira vértebra cervical. Esse osso é formado por um corpo e quatro asas, duas maiores e duas menores. Ele não apresenta-se articulado com nenhum outro osso, e está ligado a sustentação da laringe. Para encontrá- lo, coloca-se o polegar e o indicador em cada lado do pescoço, anterior, abaixo do queixo separados por cerca de 7,5 a 10cm. Comprime-se suavemente até sentir a resistência. Pode ser útil fazer uma deglutição, o que também o torna palpável. O hióide se relaciona com várias outras estruturas que estão ao seu redor através de uma extensa cadeia tendino- muscular. Os músculos superiores ao hióide são considerados supra-hióideos e vão se relacionar com a base do crânio (através dos músculos do palato e estilohióideo), com a mandíbula (milohióideo, digástrico, geniohióideo) e com a língua (genioglosso, hipoglosso, palatoglosso). Os músculos inferiores ao hióide são considerados infra-hióideos e vão se relacionar com a laringe e com a cintura escapular (esternohióideo, esternotireóideo, omohióideo). Sendo aparado por esses poderosos grupos de músculos e tendões, o hióide ocupa uma posição transversal onde é solicitado por muitas funções vitais como respiração, mastigação, deglutição e fonação. A mais importante delas vai ser a respiração. O hióide é a única estrutura resistente localizada acima da traquéia. Ele mantém a via respiratória aberta a cada frame de tempo permitindo ao mesmo tempo a articulação e a modulação dos sons. A deglutição é um mecanismo de ações musculares onde todos os músculos relacionados com a cavidade oral entram em jogo. Quando essa sinergia é quebrada podem ocorrer várias anomalias no processo e assim aparece a deglutição atípica ou adaptada. São três as fases de uma deglutição. Na fase oral, a língua mantém o alimento entre os dentes onde é triturado e moído. Movimentos de um lado para o outro e de torção de língua, efetuados principalmente pelos músculos intrínsecos e pelos estiloglossos atuam na mistura do alimento com a saliva e na separação das partículas maiores das que já estão moídas prontas para fazer parte do bolo e ser deglutida. Na segunda fase, chamada de voluntária, os músculos depressores da língua se contraem e formam um sulco na porção posterior do dorso da língua, que aninha o bolo. Um movimento realizado pelos músculos intrínsecos eleva a porção anterior e depois posterior do dorso da língua até o palato duro. Este movimento sequencial desloca o bolo e o espreme no sentido das fauces. A base da língua é elevada e tracionada posteriormente, principalmente pela ação dos músculos estiloglossos, forçando o bolo através das fauces para dentro da faringe. Simultaneamente, com essa elevação da base da língua, ocorre uma ação moderada de elevação do osso hióide e da faringe. Numa última fase, considerada involuntária (reflexa), quando o bolo passa através das fauces para a faringe, ramos dos nervos cranianos V, IX e X são estimulados, produzindo impulsos no ramo aferente do reflexo da deglutição. Ao atingirem o tronco cerebral, são transmitidos através de sinapses a fibras aferentes dos nervos cranianos IX, X e XI efetuando os seguintes eventos automáticos: o palato mole é elevado e posto em contato com a parte faríngea posterior pela contração dos músculos tensor e levantador do véu palatino. Essa ação fecha e isola a nasofaringe assegurando a passagem do bolo para dentro da luz laringofaríngea. Essa passagem é facilitada quando a luz é expandida pela elevação da parede faríngea e o movimento cranial e anterior do osso hióide e laringe. Quando o fim do bolo deixa a cavidade oral, a abertura da orofaringe é fechada pe la contração dos músculos palatofaríngeos e pela descida do palato mole. Uma alteração do tônus muscular ou da mobilidade do hióide leva a uma deglutição atípica podendo causar o hábito da respiração bucal, desvios na articulação de alguns fonemas e uma desorganização corporal principalmente no que diz respeito a coluna cervical. A respiração oral leva à protrusão de cabeça visando a manutenção da via respiratória pela necessidade de uma melhor respiração, através da retificação do trajeto das vias, favorecendo a chegada mais rápida do ar aos pulmões. Consequentemente, os grupos musculares tomam uma nova trajetória de função que passa a ser para frente e para baixo. Com a musculatura do pescoço e da nuca nesta nova orientação é comum ver a coluna cervical retificada. Encontramos frequentemente sintomas de engasgo e pigarro na garganta em pacientes portadores dessa disfunção. Além disso, o hióide vai ser responsável também pela manutenção da posição da cabeça. Se observarmos em uma vista lateral a relação crâneo-coluna cervical, notaremos que 2/3 do peso da cabeça ficam a frente, portanto seu centro de gravidade descansa na parte anterior da coluna cervical. Somado a esse peso, que já é fisiológico, se o bloco cervical todo estiver anteriorizado, esse peso aumentará significativamente. Sabemos que a cabeça pesa em torno de 5Kg. Imagina todo esse peso sobre a traquéia e as cordas vocais. Torna-se, então, necessário um bom equilíbrio tônico dessa musculatura. SUGESTÕES DE MOVIMENTOS A principal contribuição do Método é a PTL (períneo, transverso e língua). Sendo uma cadeia de sustentação profunda, promove uma tração vertebral permanente trazendo um menor gasto energético para o corpo. No momento em que a língua é sugada no palato, ativa toda musculatura do hióide, responsável pela manutenção da cabeça sobre a cintura escapular. Outras sugestões seriam todos os movimentos que trabalhem os músculos da língua, músculos do palato mole, músculos das fauces, músculos supra- hióideos e músculos infra-hióideos, encontrados dentro do Método Ehrenfried. CONCLUSÃO Demonstrou-se aqui a importância da musculatura relacionada ao osso hióide e seu bom posicionamento, não só para uma boa postura corporal, mas também para as principais funções vitais. Portanto, torna-se claro que devemos incluir movimentos para o hióide no trabalho corporal geral, aproveitando a abrangência que o Método permite.