saúde notícias 20 de junho de 2016

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Diário de Pernambuco - PE
20/06/2016 - 08:05
Trinta anos do Programa Nacional de DST e Aids
O Brasil, ao longo desse tempo, transformou-se em referência mundial. Com uma média
de 40 mil novos casos por ano
Alice de Souza
A brincadeira entre os amigos sobre quem seria o próximo eram constantes. Com alguns
colegas internados, Roberto Brito, 52 anos, não se abalou quando a notícia da Aids
chegou. Mesmo assim, o diagnóstico dado há 18 anos dividiu a vida dele em antes e
depois. A Aids é um marco não somente na história das pessoas que vivem com a
doença, mas da formulação das políticas públicas de saúde do país. Há 30 anos, era
instituído o Programa Nacional de DST e Aids. O Brasil, ao longo desse tempo,
transformou-se em referência mundial. Com uma média de 40 mil novos casos por ano.
O primeiro diagnóstico de Aids no Brasil foi de 1982. O país registrou nos primeiros 15
anos de epidemia 83,5 mil casos, com concentração nas capitais das regiões Sul e
Sudeste. Até junho de 2015, data do último boletim epidemiológico divulgado pelo
Ministério da Saúde, eram 798 mil casos. A taxa de detecção da Aids no Brasil segue
tendência de estabilização nos últimos 10 anos, com uma média de 20,5 casos para cada
100 mil habitantes.
Em Pernambuco, são quase 23 mil pessoas com a doença. O estado é o primeiro do
Nordeste em diagnósticos. O primeiro paciente foi um homem de 32 anos, bissexual,
morador do Cabo de Santo Agostinho, que nunca tinha viajado para o exterior. O
diagnóstico só foi dado em 1983. Dois anos antes, casos sugestivos para a doença
também chegaram a ser recebidos nos hospitais, mas ainda não se tinha informação
sobre a enfermidade.
A história está na memória da médica e pesquisadora do Centro de Pesquisa Aggeus
Magalhães (CpqAM/Fiocruz), Ana Brito, que acompanhou na época. “A Aids foi o
grande motor para a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela era discutida
dentro da perspectiva de controle social, que foi absorvido na reforma sanitária como
um dos pilares importantes para a saúde.” Ela correlaciona a epidemia ainda com a
introdução de outros conceitos fundamentais para a saúde atual, como a segurança do
sangue, e a discussão de assuntos antes velados na formação acadêmica e nas famílias,
como sexo, drogas e morte.
No começo da epidemia, os casos se concentravam entre homens homossexuais e
bissexuais. A transmissão majoritária no Brasil sempre foi a sexual, padrão que
predomina até hoje, mas com o crack atualmente como pano de fundo (troca de sexo por
drogas e transmissão por consequência). O estudo Vulnerabilidade de usuários de crack
ao HIV e outras doenças transmissíveis: estudo sociocomportamental e de prevalência
no estado de Pernambuco mostrou que a prevalência de infecção de HIV entre os
usuários pesquisados era 17 vezes a estimada para a população geral brasileira.
Desde 1991, o Brasil faz a distribuição gratuita de antirretrovirais. Garantir o
abastecimento dos medicamentos ainda é desafio, denuncia o coordenador da Rede de
Pessoas Vivendo com HIV e Aids em Pernambuco, José Cândido Silva. “O Brasil tem o
melhor programa do mundo, mas o usuário não tem autonomia. A Aids não caminha
com a assistência social, moradia digna, previdência, etc. Em Pernambuco, há cerca de
dois anos tem faltado medicamento com frequência. Uma consulta, com qualquer
especialistas, não dá para conseguir com menos de três meses.”
Pernambuco tem 37 serviços de assistência especializada. O coordenador do Programa
Estadual de DST/Aids de Pernambuco, François Figueirôa, admitiu a necessidade de
aumentar a rede, composta não só por unidade estaduais. Também afirmou que houve
problema de logística na entrega dos medicamentos, mas que isso vem sendo discutido
na secretaria. No Recife, o coordenador de DST/Aids, Alberto Silva, destaca a
necessidade de ampliar o atendimento ambulatorial, pois “os serviços atualmente em
funcionamento encontram dificuldade para a adesão de novos usuários”. Apesar disso,
garante ele, ninguém fica sem atendimento.
O Brasil assinou a Declaração de Paris, se comprometendo com as metas “90 90 90”,
pelo fim da Aids até 2030. Daqui para lá, o maior dos obstáculos é também um antigo
conhecido: o preconceito. “Viver com Aids é possível, difícil é o estigma nas costas. O
preconceito ainda é grande e atrapalha na adesão ao tratamento”, concluiu José
Cândido.
Diário de Pernambuco - PE
20/06/2016 - 08:05
Adultos jovens são as maiores vítimas em PE
Ao longo dos últimos 30 anos, a percepção da Aids e das suas consequências mudou. O
temor da epidemia, diante da incorporação de ações de prevenção e tratamento, deu
lugar à perspectiva de que é possível conviver com a doença sem maiores
consequências. Isso, ressaltam os especialistas, é também uma falácia que ajudou numa
mudança no padrão de transmissão e virou ameaça para os jovens. Em Pernambuco, a
epidemia de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde se concentra,
sobretudo, na população de adultos jovens, entre 20 e 39 anos.
Quase sete em cada 10 pessoas atingidas pela epidemia no estado, entre julho de 2014 e
março de 2015, estão nessa faixa etária. O maior percentual de casos notificados é na
população entre 20 e 29 anos, com 36% do total. A pesquisa Estimação de Incidência de
HIV feita em Curitiba e no Recife, com casos diagnosticados em 2013, mostra que a
capital pernambucana também segue essa tendência. A maioria dos infectados era do
sexo masculino, tinha entre 13 e 24 anos e fazia sexo com outros homens. Desde julho
de 2014, 24% dos notificados na cidade têm entre 15 e 24 anos. Os casos de Aids nessa
população no Recife representam 10% do total.
“Houve uma caracterização da Aids como uma doença que pode ser controlada. Isso
refletiu na diminuição de recursos e na prevenção. A epidemia ainda segue concentrada
na população LGBT, em pessoas que trabalham com sexo, mas existe o outro lado da
epidemia, de cada vez mais jovens se infectando, que não recebe atenção”, afirmou a
assessora de programas da ONG Gestos, Juliana César.
François Figueirôa, afirmou que a prevenção é discutida com os jovens a partir de
estratégias de comunicação direcionadas. Ele, assim como Roberto Brito, lembra que os
medicamentos precisam ser tomados pelo resto da vida e têm seus efeitos colaterais.
“Sinto dor nos ossos e nos rins”, lembra Roberto.
Dados
Aids no Brasil
O Brasil registra em média 40 mil casos de Aids por ano
798 mil casos registrados desde o início da epidemia até junho de 2015
Distribuição geográfica dos casos
53,8% no Sudeste
20% no Sul
14,6% no Nordeste
5,9% no Centro-Oeste
5,7% no Norte
A Aids em Pernambuco
28 mil casos desde 1980 até junho de 2015
n Pernambuco é o 8º em taxa de mortalidade por Aids no Brasil e o primeiro no
Nordeste
De julho de 2014 a março de 2015
1,6 mil casos notificados de Aids
Perfil dos acometidos entre 2014 e 2015
Municípios com maior proporção de casos de Aids em Pernambuco entre 2014 e 2015
31% Recife
10% Jaboatão
9% Olinda
5% Caruaru
4% Paulista
Linha do tempo da Aids
2013
Política de tratamento como prevenção do HIV é adotada
2008
Prêmio Nobel de Medicina é entregue aos franceses Françoise Barré-Sinoussi e Luc
Montagnier pela descoberta do HIV, causador da Aids
1996
Programa Nacional de DST e Aids lança o primeiro consenso em terapia antirretroviral
(regulamentação da prescrição de medicações para combater o HIV)
1993
Início da notificação da aids no Sistema Nacional de Notificação de Doenças (SINAN)
1992
MS inclui os procedimentos para o tratamento da Aids na tabela do SUS
1982
Primeiro caso diagnosticado no Brasil, em São Paulo
Jornal do Commercio - PE
20/06/2016 - 08:17
Voz do Leitor
Insulina
Novamente a insulina Lantus está em falta na Farmácia do Estado. Mesmo com decisão
judicial em favor do paciente, o governo insiste em descumprir a ordem. ● João G. de
Pontes, por e-mail
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