“UMA VIDA CURTA PRA VIVER E APENAS UM ENCONTRO PRA LEMBRAR...” Segundo o dito popular, “a vida é feita de encontros e reencontros”. Mas não parece ser a realidade para todos os seres na natureza; porque pelo menos para um grupo de insetos aquáticos, a morte ocorre logo após seu primeiro e único encontro. Esses organismos são os Ephemeroptera! Mas não significa que toda sua vida seja efêmera, é apenas passageira após o seu único encontro. Os Ephemeroptera são pequenos insetos aquáticos que vivem a maior parte de sua vida dentro da água. Nessa fase está na forma de ninfa, período no qual se alimenta. Após alguns meses ou anos, dependendo da espécie, eles emergem (saem da água) e desenvolvem asas, tornando um organismo terrestre. Porém, ainda não estará preparado para voar. Nesse estágio passa a ser chamado de “subimago”. Essa fase dura somente alguns minutos, e logo após ele se torna, de fato, um adulto (imago), que sobrevoa até encontrar um parceiro. No entanto, após um único encontro, a fêmea coloca os ovos no rio e morre, assim como o macho. A vida dos efêmeropteros adultos dura um pouco mais de 24 horas. Por isso o nome Ephemeroptera, que significa o quão efêmero (passageiro) é a sua vida adulta (Figura 1). Figura 1. Ciclo de vida dos Ephemeroptera. Um pouco triste não é? Mas qual a função dos efêmeropteras no meio ambiente? Embora tenha uma vida adulta passageira, a importância desses organismos na natureza não é efêmera. Eles são muito importantes para a comunidade aquática, porque ajudam na ciclagem de nutrientes ao fragmentar as folhas que caem na água e por servirem de alimento para peixes e outros organismos. Quando adultos, eles não se alimentam, somente dão continuidade a espécie (Figura 2). Figura 2. Representantes de Ephemeroptera (a) ninfa e (b) adulto. Outro importante papel dos Ephemeroptera é que juntamente com outros grupos de insetos (por exemplo, Plecoptera e Trichoptera) eles nos ajudam a entender o que está acontecendo no meio ambiente. São organismos bioindicadores, ocorrendo somente em ambiente com água de boa qualidade. Este grupo tem sido razoavelmente estudado, mas ainda existem muitas regiões que não foram visitadas, ou por causa do difícil acesso ou por falta de pesquisadores. Uma dessas regiões é o sudoeste da Bahia. O trabalho intitulado “Ordem Ephemeroptera (Insecta) no Parque Estadual da Serra dos Montes Altos, Bahia, Brasil” tem sido um dos pioneiros em estudar os Ephemeroptera no sudoeste baiano. Realizado pela Bióloga Msc Maria Adonay Melo Nogueira, a pesquisa foi conduzida através do Programa de Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais, oferecido pela Universidade Estadual de Santa Cruz/UESC. O estudo inventariou a fauna de ninfas de Ephemeroptera no Parque e avaliou a influência sazonal e espacial sobre essa comunidade. Para a realização da pesquisa no Parque foram escolhidos quatro rios; o Riacho da Mandiroba (Sebastião Laranjeiras), Rio da Mata (Sebastião Laranjeiras), Rio do Pires (Pires) e Rio Brejo da Taboa (Candiba) (Figura 3 e 4). As coletas foram feitas em quatro períodos durantes os anos de 2012 e 2013. Figura 3. O Parque Estadual da Serra dos Montes Altos, o P.E.S.M.A. (área em branco no centro), evidenciando a localização dos rios amostrados. A Unidade de Conservação foi implantada em novembro de 2010, para permitir a conservação da única área remanescente ainda com vegetação nativa em uma região cuja vegetação foi devastada e substituída por pastagem e agricultura. O Parque é compreendido pelos municípios de Sebastião Laranjeiras, Urandi, Pindaí, Candiba, Guanambi e Palmas de Monte Alto. Figura 4. (a) Vista da Serra; (b) Cachoeira do Riacho da Mandiroba; (c) Vegetação típica de Cerrado (d) Pintura rupestre. A vegetação predominante no Parque é o Cerrado, com manchas de Caatinga e transição entre os mesmos, além de manchas de Floresta Semidecídua e Mata de galeria. Existe, também, uma grande quantidade de nascentes e cachoeiras por toda a extensão da Serra. Essas características garantem uma grande diversidade de organismos, tanto relacionado à flora quanto a fauna. Além disso, possui áreas com potencial arqueológico, como as pinturas rupestres. Foram coletadas 8.204 ninfas de Ephemeroptera e depois identificadas através das características físicas. Posteriormente foram classificadas e distribuídas em cinco famílias, 20 gêneros e 30 espécies. O número anteriormente registrado para a Bahia era de 41 espécies, distribuídas em 23 gêneros e quatro famílias. Após o estudo realizado no Parque os registros foram ampliados para seis famílias, 30 gêneros e 58 espécies. Dentre esses números, foram encontrados dois novos registros de família para a Bahia, 13 novos registros de espécies, e duas novas espécies que estão em fase de descrição. Estes novos registros indicam que esses organismos ainda não haviam sido encontrados no estado da Bahia. Este resultado evidencia a necessidade de estudos no estado como um todo, e principalmente no sudoeste da Bahia, uma vez que foi comprovada a riqueza de Ephemeroptera presente neste local. Outras análises foram realizadas, como o substrato onde esses organismos vivem e a interferência dos períodos chuvoso e seco sobre a comunidade aquática. E todas as análises reforçam o quão desconhecido é o Parque Estadual da Serra dos Montes Altos, e reforçam, também, a necessidade de mais pesquisas que evolvam vários outros grupos de organismos, pois isso pode tornar a região reconhecida mundialmente e permitir, dessa forma, a contínua preservação dessa área que se tornou o único refúgio natural para os animais, em uma região que tem sido drasticamente modificada pelo homem.