Suplemento

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DO
Editorial
A República
Suplemento
Nós,doRN...
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte
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Ano II - Nº 14 - Janeiro de 2006
2 - nós do RN
Suplemento
Natal, fevereiro 2006
APRESENTAÇÃO
O Rio Grande do Norte enlutado
RUBENS LEMOS FILHO
U
ma tarja preta enluta esta edição do “nós, do
RN” em homenagem ao grande conterrâneo
Vingt-un Rosado, cujo coração parou de bater ao
apagar das luzes de 2005. Filho caçula de Jerônimo Rosado
e Isaura Rosado Maia, Vingt-un um homem especial, de
espírito fraternal e uma compreensão especial dos problemas alheios.
Nasceu em Mossoró, a 25 de setembro de 1920.
Como era costume então, fez o Curso Primário com
as professoras Egídia Saldanha e Lourdes Leide, e o
ginásio no Diocesano Santa Luzia.
Na busca pela formação acadêmica que não existia entre nós, foi concluir os estudos na Escola Superior de Agricultura de Lavras, em Minas Gerais, em
1945.
Diplomado em Agronomia, retornou à terra trazendo na bagagem uma cultura multifacetada. Em 1940
já publicara seu primeiro trabalho, a História de
Mossoró, editado pelos Irmãos Pongetti Editores, do
Rio de Janeiro, como Vol. III da Coleção Biblioteca
de História do Rio Grande do Norte.
Desde então as suas contribuições culturais não parariam. Autor de cerca de 700 obras (entre livros e
folhetos), participou da Academia Mossoroense de
Letras, fundou o Instituto Cultural do Oeste Potiguar
e ocupava a cadeira nº 38 da Academia Norte-RioGrandense de Letras.
Quando aluno nas Minas Gerais, sonhou com uma
Escola de Agricultura em Mossoró, pela qual batalhou
até ver concretizado seu projeto em 1967, no decreto
de criação da ESAM, do prefeito Raimundo Soares
de Souza. Outra utopia, a Coleção Mossoroense, tornou-se real em 1949 na lei promulgada pelo seu irmão, Dix-sept Rosado, então prefeito de Mossoró.
O Estado e o Governo do Rio Grande do Norte, por
decreto da Excelentíssima Senhora Governadora
Wilma Maria de Faria, homenagearam Vingt-um com
um luto oficial de três dias, uma reverência ao iluminado mossoroense, norte-rio-grandense e brasileiro
que foi Vingt-un Rosado.
EDITORIAL
Vingt-un: sua contribuição cidadã
MIRANDA SÁ
O
amor transcendental do professor Vingt-un
Rosado pela literatura materializou-se na
editoração da Coleção Mossoroense, sem
favor, uma das maiores coleções do país, e é preciso
que se diga que inúmeras entre as mais de 4.000 publicações, foram bancadas do próprio bolso.
A Coleção é sem dúvida alguma um marco na trajetória desse intelectual que se projetou na cultura brasileira contemporânea por méritos próprios, pela sensibilidade de reconhecer valores pessoais e a objetividade de alavancar vocações, divulgando a arte, a literatura e a ciência.
Foram essas qualidades ímpares de Vingt-un que
levaram o Departamento Estadual de Imprensa – DEI,
incentivado pela governadora Wilma Maria de Faria,
a estabelecer a honrosa parceria com a Coleção
Mossoroense.
Para satisfação e orgulho dos que fazem a Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte, os interesses comuns pela divulgação da cultura de Vingt-um e do
Governo do Estado foram sacramentados na I Feira
de Livros de Mossoró, quando o Mestre e muitos dos
seus colaboradores passaram mais de uma hora
conosco no stand montado pelo DEI.
Esta saudosa memória ficou indelevelmente tatuada nos nossos corações ao tomarmos conhecimento
da sua morte no dia 21 de dezembro de 2006, no instante em que a emoção dominava a intelectualidade
norte-rio-grandense e a imprensa mossoroense fazia
muito profissionalmente o paralelismo entre as duas
perdas do ano que passou, arrancando do nosso convívio Dorian Jorge Freire e Vingt-un. Com referência
a 2005 e a História do Povo Potiguar esta conjugação
é indissolúvel no vigor da passagem dos dois pela humanidade viva.
Os dois tiveram o mérito de fazer política sem se
macular com a sujeira que tristemente o exercício
dessa nobre atividade traz, devido a uma minoria sem
caráter e sem honra.
A participação de Vingt-un e Dorian na vida pública
deve ser creditada à contribuição cidadã que deram
ao Rio Grande do Norte e ao Brasil, pela formação
filosófica e os compromissos ideológicos individuais
de ambos. É por isso que o Rio Grande do Norte se
curva solidarizando-se ao sentimento de pesar que se
abateu sobre os nossos irmãos mossoroenses.
Estado do Rio Grande do Norte
Assessoria de Comunicação Social
WILMA MARIA DE FARIA
Governadora do Estado
CARLOS ALBERTO DE FARIA
Gabinete Civil do Governo do Estado
RUBENS MANOEL LEMOS FILHO
Assessoria de Comunicação Social
RUBENS MANOEL LEMOS FILHO
Diretor Geral em exercício
Henrique Miranda Sá Neto
Coordenador deAdministração
e Editoração
JURACIR BATISTA DE OLIVEIRA
Subcoordenador de Finanças
EDUARDO DE SOUZA PINTO FREIRE
Subcoordenador de Informática
nós, do RN
editor-geral
MIRANDA SÁ
chefe de redação
MOURA NETO
equipe redacional
PAULO DUMARESQ - REPORTAGEM
ANCHIETA FERNANDES - PESQUISA
JOÃO MARIA ALVES - FOTOGRAFIA
diagramação e arte final
EDENILDO SIMÕES
PAULINHO CAVALCANTI
Programação Visual
EMANOEL AMARAL
PAULINHO CAVALCANTI
Capa
EMANOEL AMARAL
Colaboradores
CARLOS MORAIS
CARLA XAVIER
EDSON BENIGNO
CARLOS DE SOUZA
CARLOS FREDERICO CÂMARA
MARJORIE SALU MIRANDA SÁ
Coordenação Gráfica
WILLAMS LAURENTINO
VALMIR ARAÚJO
Depertamento Estadual de Imprensa
Av. Câmara Cascudo,
355 - Ribeira - Natal - RN
CEP.: 59.025 - 280 Tel.: (84) 3232 6793
Site: www.dei.rn.gov.br - e-mail: [email protected]
Natal, janeiro 2006
Suplemento
nós do RN-3
FOTO/ARQUIVO
A sublimação
pela música
sacra
Glênio Manso Maciel traz consigo
uma bagagem de mais de 30 anos
como regente. Atualmente rege o
Canto Coral Irmão Sol, grupo
especializado na literatura de canto
gregoriano há 14 anos. É um dos
poucos corais de canto gregoriano
do país não formado por religiosos.
“Nosso coral tem como objetivo
aproximar as pessoas da arte, do
belo, do sacro. Fazê-las ver a música
como uma fonte de conhecimento e
veículo de reaproximação com
Deus. Além de ser uma opção para
os que gostam de uma boa música
de ritmo livre, não mensurada”,
afirma.
No ano passado o grupo Irmão Sol
esteve se apresentando em várias
cidades do interior do Rio Grande
do Norte e também em outros
Estados. Segundo o regente, o coral
tornou-se conhecido pelas suas
apresentações em lugares inusitados, executando encenações que
remontam o cotidiano dos mosteiros
e a vida monacal, criando um clima
medieval e transcendental. “Dos
memoráveis concertos dados pelo
grupo podemos citar o da Fortaleza
dos Reis Magos em agosto e outubro
de 2004. Também a apresentação
no Cemitério Morada da Paz, em
1996, e no Eremitário do Santo
Lenho, em 1999 e 2001”, conta.
O grupo sempre se apresenta
com o hábito franciscano e com os
pés descalços, mostrando despojamento e fazendo da apresentação muito mais do que uma arte,
uma oração. É formado por pessoas
de diferentes faixas etárias e sociais.
Integram estudantes, professores,
artistas, advogados, profissionais
liberais. Todos acreditando na
transformação do homem através da
música. “A cada canto elas meditam, gerando auto-conhecimento
e, conseqüentemente, uma transcendência de suas ações, uma
elevação de si, uma sublimação”,
afirma.
Ernani da Silveira, ex-prefeito e regente do Coral da Maior Idade, cujos integrantes possuem idade acima de 65 anos
EDSON BENIGNO
ntre a política e a música,
ele preferiu a segunda. O
ex-prefeito Ernani Alves
Silveira, aos 80 anos, é o
regente do Coral da
Maior Idade e do Coral
dos Jovens da Igreja
Bom Jesus, na Ribeira, onde se
apresenta, religiosamente, nas tardes
de sábado e nas manhãs de domingo.
Seu amor pela música só é comparável ao sentimento que outro regente
nutre pelo trabalho que faz: Glênio
Manso Maciel é um dos raros maestros do Rio Grande do Norte especializado em canto gregoriano. Os dois
são exemplos de homens dedicados à
música.
Nascido em Macau, em 25 outubro
de 1925, Ernani Silveira foi vice
prefeito de Natal entre 1966 a 1969.
Quando o titular Agnelo Alves deixou
o cargo, ele assumiu por 22 meses.
Como amante da boa música, na sua
administração deu total apoio aos
corais, sem imaginar que, anos mais
tarde, dedicaria-se de corpo e alma a
eles, os corais. A paixão pela música
começou no Seminário, onde ingressou
aos 12 anos. “O reitor, que era um
grande músico, notou minha vocação
para a música e me ensinou teclado”,
conta. No Seminário Maior, em Fortaleza, aprendeu a reger uma orquestra.`
Para quem não sabe, há uma diferença básica entre reger uma orquestra e um coral. “A orquestra é mais
fácil de reger porque os participantes
são músicos e sabem ler as partituras.
No coral, não precisa que o integrante
entenda de música”, explica.
Antes e depois da política, Ernani
exerceu outras atividades. Atuou, por
exemplo, na Escola de Pilotagem do
Estado, onde chegou a ministrar aulas
de teoria e prática. Mas é como
regente que ele se realiza na vida.
“Participo muito mais pelo prazer”,
diz. O Coral da Maior Idade, que
sempre arranca aplausos do público
desde 1994, quando foi criado, não
recebe apoio de entidades oficiais e
não-governamentais. Seus integrantes,
com idade acima de 65 anos, se
reúnem para ensaiar todas as segundas-feiras.
“Cerca de 90% dos integrantes são
viúvas cujos maridos deixaram uma
boa situação econômica”, explica.
Seja diante de senhoras da terceira
idade ou de jovens católicos, Ernani
Silveira é a mesma pessoa: um jovem
senhor que, com a batuta nas mãos,
gosta de executar, por puro prazer e
diletantismo, as mais belas canções
que jamais conheceu. Seja a Oração
de São Francisco, seja as grandes
composições da MPB ou boleros, que
tanto admira.
4- nós do RN
Natal, janeiro 2006
Suplemento
CARLOS DE SOUZA
E
ra uma noite suave de sextafeira, do dia 20 de maio de
1988, precisamente 23 horas,
quando o folclorista Gumercindo
Saraiva disse adeus ao mundo que
amava. Hoje pouca gente lembra
daquele homem baixinho, simpático,
com seu bigode fininho, postado por
trás do balcão de sua loja de instrumentos musicais, na Avenida Rio
Branco (onde hoje funciona o Sebo
Vermelho). Mas seus livros desafiam
o tempo e ainda clamam nas prateleiras para serem lidos novamente. De
vez em quando um pesquisador pega
um de seus volumes empoeirados
numa biblioteca qualquer do país e ele
vive novamente. O velho e bom
Gumercindo Saraiva.
Em sua coluna de domingo, dia 22
de maio de 1988, na Tribuna do Norte,
o jornalista Woden Madruga descreveu assim o momento: “Acho que
Gumercindo Saraiva morreu feliz. Ele
estava feliz na noite de sexta-feira,
cercado de amigos, artistas, escritores,
músicos, o seu mundo intelectual,
fazendo a coisa que gostava de fazer,
que fez ao longo de seus 72 anos.
Gumercindo acabara de tocar no seu
velho violino três peças musicais,
acompanhado pelos violões de Paulo
Tito e Antônio Sete Cordas, aplaudido
pelo público que ocupava o pátio
interno da Fundação José Augusto na
festa de lançamento de mais um
número do jornal O Galo. Guardou o
instrumento no estojo e se dirigiu para
um grupo de amigos. Conversava com
Racine Santos, Danilo Emerenciano e
Jurandyr Navarro, quando tombou
sem dizer uma palavra”.
Gumercindo Saraiva era daquele
tipo de pesquisador humilde, que
quase sempre é relegado ao esquecimento nesta província do Rio Grande
do Norte que adora as luzes da ribalta
e detesta a dança das letras sobre as
páginas impressas de um livro. Vejam
o que diz Woden Madruga mais na
frente em sua coluna daquele ano de
88: “O Rio Grande do Norte perdeu
um de seus intelectuais mais sérios. A
sua obra de pesquisa nos diversos
campos da cultura popular é fantástica. Ricamente fantástica no valor que
ela encerra, na riqueza de conhecimento, de informações. Um infatigável trabalhador intelectual, o
Gumercindo, uma figura boa, simples,
cordial. Um apaixonado da música. A
essa arte dedicou quase toda a sua
vida, como músico e como obreiro da
música, presente em todos movimentos musicais que fizeram no Rio
Grande do Norte nestes últimos 50
anos. Todos nós choramos sua ausência”.
Assim era o homem Gumercindo
Saraiva. Ocupava a cadeira de número seis da Academia Norte-RioGrandense de Letras, cujo patrono é
Luiz Wanderley e a fundadora Carolina Wanderley, expoentes da cultura
potiguar do início do século. Em sua
fecunda vida de pesquisador produziu
mais de 30 trabalhos, entre artigos,
plaquetes, ensaios, etc. Os mais
conhecidos: Adágios, Provérbios e
Temas Musicais, Itatiaia Editora, R$
15,00 e Gíria Brasileira (1988), Itatiaia
Editora, R$ 20,00, ambos de prestígio
nacional, que podem ser encontrados
em livrarias, sebos e na internet. Bem
como Trovadores Potiguares, Lendas
do Brasil e Cantilena do Beco da
Quarentena, que são mais difíceis e
talvez só sejam encontrados em
bibliotecas públicas ou de colecionadores.
Todo o restante da obra de
Gumercindo Saraiva aguarda publicação e reconhecimento. O editor
Abimael Silva do Sebo Vermelho está
preparando a edição de dois livros
dele, dos anos 60: Trovadores
Potiguares e A Modinha Norte-RioGrandense.
Gumercindo
Saraiva: infatigável
trabalhador
intelectual
Musicólogo e
folclorista
No ano em que faleceu,
Gumercindo Saraiva continuava
produzindo como se fosse um jovem.
Deixou dez livros prontos para a
publicação. Quase todo domingo o
leitor da Tribuna do Norte podia ler
seus artigos sobre a influência do
negro na música popular brasileira.
Mais moderno impossível. No entanto,
pouca gente houve falar nele hoje em
dia. Intelectual autodidata,
Gumercindo Saraiva compensava a
falta de escolaridade com muito
trabalho.
Ele nasceu na Paraíba e se tornou
musicólogo, folclorista, compositor,
membro da Academia Norte-RioGrandense de Letras, da Academia
Brasileira de História, além de ter
feito parte de vários institutos históricos e geográficos do país. Era destacado também na área de Folclore,
conhecimento que lhe rende ensaios e
artigos na imprensa e revistas
especializadas. Por ocasião de seu
falecimento, vários amigos se pronunciaram a seu respeito.
O presidente da Academia NorteRio-Grandese de Letras, Diógenes da
Cunha Lima, disse: “Ele era
freqüentador assíduo da Academia,
sugeria muitas idéias. Era um pesquisador infatigável, não parava. Tudo
que era da terra lhe interessava.
Recentemente, se mostrava disposto a
levantar uma pesquisa sobre a mulher
do Rio Grande do Norte”. O amigo e
acadêmico Nilson Patriota disse:
“Como pessoa humana, ele era
extraordinário”. O pesquisador Grácio
Barbalho disse: “Eu freqüentemente
me comunicava com ele, fazíamos
perguntas recíprocas para chegar a
um entendimento sobre a música
popular. Gumercindo sempre foi um
pesquisador atento, esmiuçado no
nosso ofício”.
De minha parte, vi muitas vezes
Gumercindo Saraiva entrar na redação da Tribuna do Norte para entregar
seu artigo semanal. Algumas vezes o
caderno de Idéias já estava fechado e
ele se aborrecia com o então editor
Emanoel Barreto, que explicava,
sempre com toda a paciência possível,
que já não podia abrir espaço nas
páginas que já haviam descido para a
oficina. Na semana seguinte,
Gumercindo voltava com toda a
simpatia, como se não tivesse acontecido nada. Por causa de tal temperamento era querido e respeitado pelos
colegas de redação. Na reportagem
sobre seu falecimento o repórter
lembra esse fato. Eu achava ele legal,
mas não sabia de sua importância
como hoje sei.
Natal, janeiro 2006
Suplemento
FOTO/ARQUIVO
De volta a
Natal, a
consagração
MARJORIE SALÚ MIRANDA SÁ
o apagar das luzes do
século XIX, em 1898, o
músico e compositor
Antonio Pedro Dantas,
apelidado Tonheca Dantas
ou simplesmente Tonheca, chegava à
cidade do Natal para se submeter a
um concurso para instrumentista da
Banda do Batalhão de Segurança. Há
contradições entre os pesquisadores,
sobre a data do seu nascimento. Não
há controvérsias, porém, sobre o seu
valor artístico. Originário dos Dantas
de Carnaúba, de família
tradicionalmente ligada à música,
iniciou-se tocando flauta e depois o
clarinete, instrumento que o
consagrou.
Destacava-se no Seridó a arte
musical, sempre presente nas concentrações das feiras e das festas
sacras. Famílias inteiras dedicavamse à música e entre elas, os Dantas
de Carnaúba. Como seus parentes,
Tonheca encaminhou-se para a
música e encarreirou-se na vida
artística e fugiu do anonimato graças
às modinhas, aos dobrados e valsas
da sua lavra, conquistando uma vaga
remunerada na Banda do Acari.
Quando veio para a capital, aos 28
anos de idade, Tonheca já era um
músico consumado, que na mais tenra
infância se revelara habilidoso
flautista, adotando depois o clarinete e
tocando com desenvoltura quase
todos os instrumentos de sopro,
madeiras e metais.
A
Em
Natal,
conquistou a
admiração dos colegas no concurso
que prestou para mestre da Banda do
Batalhão de Segurança, revelando a
sua virtuosidade em quase todo
instrumental da banda. Os
examinadores surpreenderam-se com
a sua versatilidade, conforme relata o
historiador Cláudio Galvão:
“O comandante Lins Caldas (que
comandou a Polícia Militar de janeiro
de 1895 a dezembro de 1913), chegou
ao alojamento da Banda com mais
alguns oficiais e chamou os candidatos.
[...] Em seguida, foi a vez de Tonheca. O
comandante lhe entregou uma partitura
diferente da primeira e perguntou ao
candidato qual instrumento iria
escolher. – “qualquer um...” respondeu.
“O senhor diga qual o que quer.” Os
membros da comissão se entreolharam,
surpresos com a audácia daquele
sertanejo moreno e franzino, e
resolveram pôr a prova seus
conhecimentos mandando que fosse
tocando a peça nos diversos
instrumentos da Banda. Tonheca não
teve dúvidas; pôs a música na estante e
abriu a caixa da clarineta.
Experimentou a palheta e tocou a peça
sem hesitações. Depois, guardou o
instrumento e apanhou um sax-tenor.
Experimentou umas escalas e tocou.
Deixando os instrumentos de palheta,
pediu um trompete, instrumento de
bocal, e tocou tudo com o mesmo
desembaraço. Depois, foi a vez da
flauta, instrumento de embocadura e
afinação diferentes do que antes usara.
Quando ia pedir um bombardino, os
membros da comissão mandaram parar
dizendo que já era suficiente.”
nós do RN-5
Aventuras - O aventureirismo de
Tonheca Dantas enlouquece os seus
biógrafos. Estabelecido em Natal e já
com 30 anos de idade, decidiu correr
o mundo em busca de fortuna. Todos
os conselhos orientavam-no a ir para
o Rio de Janeiro, então capital da
República, e em 1902, lhe foram
dadas muitas cartas de recomendação
de personalidades norte-riograndenses.
Inexplicavelmente, em vez de ir
para o Sul, vai para o Norte, com
destino a Belém do Pará, em maio de
1903, depois de uma passagem pela
Paraíba, onde também fez história.
Segundo os cronistas da época,
Belém era um dos centros culturais
mais importantes do Brasil,
principalmente no setor musical. O
monumental Teatro da Paz,
inaugurado em 1878, apresentava
orquestras e companhias de ópera
vindas diretamente da Europa, tendo o
próprio maestro Carlos Gomes se
exibido lá. O governo da Província
incentivava as bandas militares.
Sabendo que a Banda do Corpo de
Bombeiros passava por uma
reestruturação, Tonheca procurou seu
regente. e sentou praça no mesmo
ano da sua chegada ao Pará. Muito
prestigiado como músico e
compositor, manteve um razoável
padrão de vida, e várias de suas
composições, impressas na Alemanha,
eram encontradas nas casas
especializadas de Belém.
Retornando do Pará, onde passou oito
anos, Tonheca aportou em Natal em 1910
com novo casamento e renovada
disposição para o trabalho, voltando à
Banda Militar e atuando nos cinemas que
surgiam, apresentando-se nas salas-deespera e acompanhando com improvisos
os filmes mudos. O agitado período
histórico em que Tonheca viveu e
produziu as valsas que se eternizaram na
memória do povo potiguar, registra os
passos mais firmes da República Velha, a
partir da eleição de Manoel Ferraz Campos
Sales para a Presidência e os embates
políticos da luta pelo poder no Rio Grande
do Norte, pelas indicações dos cargos
federais feitas na capital da República.
Nesta época, a civilização vivia grandes
mudanças, colhendo os frutos da
Revolução Industrial e os efeitos da
ideologia burguesa vitoriosa na Europa e
nos Estados Unidos da América. A música
foi, talvez, a expressão artística que mais
se aproveitou dos benefícios da ciência
moderna, divulgando-se e massificandose pelo rádio, reproduzindo-se e
multiplicando-se pelo gravador e
ideologizando-se pelo cinema.
É deste mar que emerge a expressão
mais tecnicamente elaborada da música
nacional, a valsa brasileira, meio popular e
meio clássica. Nasceu do romantismo,
filha da chamada música-de-salão, um
produto brasileiro por sua vez
descendente da modinha imperial, que a
corte do imperador Pedro II adotou e
projetou. A valsa brasileira adquiriu o
conceito respeitoso que consagrou
Tonheca, cuja popularidade chegou aos
dias de hoje, com surpreendentes
aplausos de todas as camadas da
sociedade norte-rio-grandense para as
suas valsas.
Para a consagração de Tonheca, não há
uma orquestra, banda sinfônica ou
conjunto musical no Rio Grande do Norte
que não possua as partituras e não
execute Royal Cinema, uma das
composições que se tornou clássica. Nas
retretas domingueiras e nas tocatas
exclusivas, a valsa Royal Cinema agrada
os ouvintes de todas as idades, sempre
arrancando aplausos da platéia. Antonio
Pedro Dantas – Tonheca, é um herói de
três Estados: Rio Grande do Norte, Paraíba
e Pará, onde distribuiu e consagrou as
suas próprias composições.
6- nós do RN
S
e os Deuses e Deusas da Músi
ca morassem no Rio Grande do
Norte certamente respaldariam
o projeto Seis & Meia, implantado em
1995, pelo Governo do Estado, via
Fundação José Augusto, para divulgar
o artista potiguar, além de proporcionar aos amantes da boa música shows
com nomes consagrados da MPB. Na
opinião de público e crítica, o Seis &
Meia é o projeto musical mais importante da história do Estado. Ressaltese que a trajetória vitoriosa do Seis &
Meia, nestes 10 anos, deve-se em
parte à iniciativa privada, apoiadora do
projeto desde os seus primórdios.
Coordenador do Seis & Meia, no
período de 1995 a 1998, o produtor
cultural José Dias conta que o projeto
já existia no Rio de Janeiro, idealizado
pelo jornalista carioca Albino Pinheiro.
Quando o Seis & Meia foi levado para
Mossoró, a Petrobrás, apoiadora do
projeto, exigiu a autorização de Albino
Pinheiro. “Em Mossoró, o projeto
passou a ser oficial; em Natal, não”,
revela Dias.
Pela contabilidade do coordenador,
nos quatro anos que ficou à frente do
Seis & Meia foram realizados 300
shows em Natal e 225 em Mossoró.
Ele lembra com orgulho que o projeto
lançou nomes como Antônio Nóbrega,
Chico César, Daúde, Paulinho Moska,
Renato Braz, Rita Ribeiro, Zeca
Apoio aos
artistas
locais
E assim se passaram dez anos.
O atual coordenador do Seis &
Meia, William Collier, um dos
criadores do projeto, em
dobradinha com José Dias, afirma
que o seu rebento é o maior projeto
de música do Brasil, em termos
qualitativos, salientando que o
grande diferencial é o viés cultural
e artístico.
Ele faz questão de lembrar que o
Suplemento
Natal, janeiro 2006
Baleiro, Cascabulho e Mestre
Ambrósio. Para José Dias, o momento
consagrador do Seis & Meia foi o
show de Chico César com o Teatro
Alberto Maranhão lotado. Menciona a
apresentação de Renato Braz como
outro momento supremo.
O projeto também trouxe medalhões
da MPB, notadamente Edu Lobo,
Carlos Lyra, Dori Caymmi, Fagner,
Geraldo Azevedo, Jamelão, Johnny
Alf, Luiz Melodia, Nana Caymmi, Os
Demônios da Garoa, Quarteto em Cy
e MPB-4. “Eu devo o sucesso do Seis
& Meia a Raimundo Fagner, que veio
tocar duas sessões de graça, pela
intervenção de Chico Miséria e
Gaudêncio Torquato. Sem o gesto de
Fagner a gente não estava nesse
movimento musical que Natal está
experimentando hoje”, assevera.
Dias cita ainda os shows de Lane
Cardoso, Galvão Filho e Isaque
Galvão, todos no último ano de sua
gestão, como os mais representativos
do projeto em 1998. “Lane Cardoso
disse que o grande momento que se
sentiu artista foi quando participou do
Seis & Meia”, declara o ex-chefe do
núcleo de Música da FJA.
Fazendo mea culpa, o produtor pede
desculpas pelo tratamento
discriminatório que emprestava ao
artista local antes de assumir o Seis &
Meia. Hoje, com o preconceito distante, ele comanda o Seaway Cultural,
projeto voltado para a divulgação e
valorização da música e do músico
norte-rio-grandense.
Depois da implantação do Seis &
Meia, o panorama da música popular
potiguar mudou radicalmente. Natal
tem hoje 12 projetos relacionados à
música, só ficando atrás de São Paulo
no ranking das capitais brasileiras. O
posicionamento profissional, a concepção dos shows e a facilidade
tecnológica têm contribuído para essa
florescência musical.
Seis & Meia promove hoje intercâmbio com outras cidades nordestinas,
como João Pessoa, Campina Grande e
Recife, e é o que melhor remunera os
artistas da cidade. “Os shows têm
qualidade sonora excelente, realizados
num teatro que tem toda uma acústica
preparada para receber o artista.
Quando eu falo maior é em todos os
sentidos”, orgulha-se.
Com a marca de aproximadamente
450 shows (produções) no Seis &
Meia, Collier sonha com a
interiorização do projeto, levando o
Seis & Meia a cidades equipadas com
teatro e que possam receber os
artistas dignamente. Para isso, frisa,
tem que haver o interesse da Prefeitura em firmar parceria com o Governo
do Estado, por intermédio da Fundação José Augusto.
O produtor arrisca dizer ainda,
sem medo de desafinar, que os shows
de Marina Elali/Agnaldo Rayol, Diogo
Guanabara/Osvaldo Montenegro,
Alceu Valença, Cama de Gato, Chico
César, Moraes Moreira, Paulo Moura,
Sivuca e Zeca Baleiro, merecem
registro nos anais do projeto. “O Seis
& Meia é uma vitrine. Nós temos
cerca de 300 artistas locais inscritos
para participar do projeto. O nosso
critério contempla tanto o artista
neófito quanto o veterano, que já tem
história e estrada”, explica.
Em que pese ter passado por algumas dificuldades de ordem financeira
devido a atrasos no repasse da empre-
sa patrocinadora, o Seis & Meia
entra em seu 11o ano procurando
manter-se vivo e renovado. Uma
das soluções seria um plano de
mídia mais arrojado, pois, conforme o coordenador, o Governo do
Estado vem cumprindo a sua
parte.
“Para este ano, eu quero quebrar
um pouco as regras do projeto e
iniciá-lo com o Delicatto, um dos
maiores grupos que eu já vi tocar
em 15 anos de produção e que
fechou o Seis & Meia no ano
passado. Como atração nacional,
penso na cantora Ângela Maria”,
adianta o produtor cultural. Só
resta desejar longa vida ao Seis &
Meia.
da música potiguar
PAULO JORGE DUMARESQ
Natal, janeiro 2006
nós do RN-7
Suplemento
FOTO/GIOVANNI SÉRGIO
anto de casa faz milagre?
Nem sempre. A julgar pela
pouca fé dos heréticos muitos
santos têm que deixar o altar
de sua morada e baixar em
outra freguesia para provar,
sim, que podem operar
milagre distante de seu
torrão. Com cantores, compositores e músicos norte-riograndenses não é diferente.
O jeito é mesmo pegar a
estrada para fazer sucesso.
Quem pensa que são poucos
os artistas locais que fazem
fama
e ganham notoriedade
fora do Estado se
engana redondamente.
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AMP, 2001,
654 p.), da
pesquisadora Leide
Câmara. Após cinco anos de
pesquisa, Câmara catalogou 600
verbetes que contam 100 anos de
história da música potiguar. Muitos
artistas pesquisados chegam
mesmo a ultrapassar as fronteiras
do Brasil. Da música brega ao
rock, da MPB ao clássico, passando pela música instrumental, o
gênio potiguar no passado ou no
presente deixa(ou) a sua marca
por onde passa(ou).
O Rio Grande do Norte deu ao
país, por exemplo, o cantor romântico Gilliard e as divas Glorinha
Oliveira e Núbia Lafayette. Numa
linha mais popular ou brega, como
queira o leitor, encontramos os cantores Bartô Galeno, Carlos Alexandre e
Fernando Luís. Só para citar os mais
conhecidos.
Outro vasto campo para ser
pesquisado é o da música instrumental.
Que tal ouvir com atenção os acordes
de Antônio Madureira (Quinteto
Armorial e Quarteto Romançal),
Antúlio Madureira, Henrique Brito
(inventor do violão elétrico), Ivanildo
(O Sax de Ouro), Joca Costa, KChimbinho, Mingo Araújo, e Sando
(flautista do Quinteto Violado)?
Na música erudita, sobressaem-se
Aldo Parisot, Cussy de Almeida, Mário
Tavares, Paulino Chaves, Oriano de
Almeida e Waldemar de Almeida, entre
outros. O brasileiro ou estrangeiro
algum dia cantarolou canção de
Ademilde Fonseca, Babal, Chico
Antônio, Chico Elion, Cleudo Freire,
Dosinho, Edinho Queiroz, Elino Julião,
como Alforria, Cebola Ralada, Circuito
Fernando Cascudo, Gilson de Macau
Musical, Flor de Cactus, General
(compositor de Casinha Branca),
Junkie e O Surto também deram seu
Hianto de Almeida, Leno (da dupla
recado pelo país.
Leno & Lilian), Lucinha Morena,
Afirma Leide Câmara que
Pedrinho Mendes,
os músicos e compositores
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essas personalidades da música
romanceira Dona
Militana,
potiguar e contribuir para tirar alguns
abrindo passagem alhures e algures
outros esquecidos da mídia do ostrapara a literatura oral do RN.
cismo. “É uma obra que vem registrar
Os trios são capítulo à parte. Procure a memória musical do Estado. Eu
conhecer, caro leitor, os trios Inajá,
recuperei 100 anos da música no RN”,
Irakitan, Marayá e Mossoró. Bandas
depõe a pesquisadora. (PJD)
A pesquisadora
Leide Câmara,
autora do livro
Dicionário da
Música do Rio
Grande do
Norte
nós do RN-8
Ademilde Ferreira
Fonseca Delfim
A “Rainha do Choro” nasceu
em Macaíba. Seu primeiro disco,
gravado pela Columbia, em 1942,
alcançou grande sucesso e fez
com que as pessoas cantarolassem nas ruas a letra alegre de
“Tico-tico no fubá”, de Eurico
Barreiros e música de Zequinha
de Abreu. João Bosco e Aldir
Blanc homenageiam a cantora
com a música “Títulos de nobreza”. Na letra, os compositores
usaram títulos de choros famosos
gravados pela Rainha. Ademilde
Fonseca é, merecidamente,
conhecida em todo o País como a
responsável pela popularização do
chorinho com letra.
Aldo Parisot
Reconhecido como um dos maiores
violoncelistas do mundo, o natalense
Aldo Parisot tem-se revelado um artista
dos mais completos, seja como solista,
camerista ou recitalista e um excelente
artista plástico, além de exímio professor.
Iniciou os estudos aos oito anos de idade.
Viveu e estudou no Rio de Janeiro. Foi o
primeiro violoncelista da Orquestra
Sinfônica Brasileira e solista das principais orquestras do mundo. Reside nos
Estados Unidos e é professor titular da
Universidade de Yale.
Francisco Antônio Moreira
Chico Antônio nasceu em Pedro Velho.
Na juventude, foi levado a cantar para o
escritor Mário de Andrade, que aproveitou o tempo fazendo o coquista cantar
sem parar, anotando toadas e versos. E,
para melhor gravar os cocos, ia tentando
imitá-lo. A emoção do escritor é nítida
no livro “O turista aprendiz”. Chico
Suplemento
Antônio cantou, venceu e fez escola, e
seus cocos vêm sendo gravados por
músicos da nova geração. O coquista
figura entre os dez títulos do último lote
de discos raros da coleção musical Itaú
Cultural - Acervo Funarte.
Claudomiro Batista de Oliveira
O compositor, nascido em Augusto
Severo, é considerado um carnavalesco
de primeira linha, ao lado dos
pernambucanos Capiba e Nelson
Ferreira. Dosinho é também autor de
samba-canção, músicas para campanhas
publicitárias e políticas e hinos de clubes
de futebol. Autor de vários sucessos
carnavalescos, além de “Eu não vou, vão
me levando”, música muito tocada nas
rádios de todo o Brasil, na década de
1940, interpretada pela cantora Marlene.
Nasceu em Macau e projetou-se
musicalmente no Rio de Janeiro como
cantor profissional com o apoio do irmão
e parceiro Hianto de Almeida. Bonito e
dono de voz privilegiada, fez sucesso na
noite carioca e em Portugal, onde realizou temporada de quatro anos. Gravou
vários discos pelo selo internacional
Columbia, e sua parceria com Hianto,
em várias composições, foram sucesso
na voz de Dalva de Oliveira, Vera Lúcia
e Cauby Peixoto.
Hianto Ramalho de Almeida
O precursor da bossa-nova também
nasceu em Macau. No Rio de Janeiro,
fez carreira musical. Compôs o samba
“Meia luz”, em parceria com João Luiz,
gravada, em 1952, por João Gilberto em
seu primeiro disco. Como cantor, lançou,
em 1955, um disco com direção, arranjos
e acompanhamento de Tom Jobim e seu
Henrique Brito
conjunto. Foi o compositor mais gravado
O gênio do violão nasceu em Natal,
onde se revelou aos doze anos de idade, do Rio Grande do Norte por célebres
intérpretes da música brasileira: Dalva
solando peças difíceis numa corda só,
em concerto realizado no Teatro Carlos de Oliveira e Roberto Inglez, Elizete
Gomes (Teatro Alberto Maranhão). Em Cardoso, Cauby Peixoto, Pery Ribeiro,
Marlene, Lúcio Alves, Maysa, Elza
1920, já estudando no Rio de Janeiro,
recebeu o apelido de “Violão” pelos seus Soares, entre outros.
colegas, entre eles, Carlos Alberto
Sebastião Barros
Ferreira Braga, o Braguinha (João de
K-Ximbinho revelou-se um dos mais
Barro), com quem integrou, no ano de
importantes compositores de choros que
1928, o conjunto Flor do Tempo, mais
sugeriam acompanhamento tipo bossatarde denominado de Bando de
nova, e se destacou realizando o perfeito
Tangarás, ao lado de Noel Rosa, Almicasamento entre o choro e os elementos
rante e Alvinho. A Henrique Brito é
harmônicos, originados do jazz. O mestre
atribuída a invenção da violata e do
do clarinete nasceu em Taipu, era
violão elétrico e a introdução desse
compositor, arranjador musical das
instrumento no Brasil.
gravadoras Odeon e Polydor,
orquestrador da TV Globo e fez parte da
Haroldo Ramalho de Almeida
Orquestra Sinfônica Nacional. O famoso
Rodrigues
Natal, fevereiro 2006
nós do RN-5
choro “Sonoroso”, em parceria com Del
Loro, foi sua primeira música gravada,
em 1946, por Severino Araújo. Quase
todos os grandes músicos do país têm no
seu repertório “Sonoroso”.
Gileno Osório Wanderley de Azevedo
O compositor e intérprete natalense
tornou-se conhecido nacionalmente
quando fez dupla com Lilian Knapp, no
Rio de Janeiro, onde reside. Com a
cantora, gravou, entre outras, as músicas
“Pobre menina” e “Devolva-me”, que
foram sucesso na primeira fase da
Jovem Guarda, na década de 1960.
Depois da dupla desfeita, Leno seguiu
carreira solo. Raul Seixas, parceiro
musical de Leno, produziu um disco para
o cantor potiguar.
Mário Tavares
O natalense Mário Tavares é membro
efetivo da Academia Brasileira de
Música e o mais autorizado intérprete da
obra de Villa-Lobos. Violoncelista,
regente trinta e oito anos da Orquestra
Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro e um dos maestros brasileiros
que mais apresentou obras de autores
nacionais dentro e fora do País. De suas
composições, destaca-se o poema
sinfônico-coral “Ganguzama”, que, na
opinião de Francisco Mignone, é “a
concepção brasileira mais genialmente
composta depois da obra de VillaLobos”.
Carlos Vasques
Nasceu em Macau. Violonista, compositor e cantor, foi morar no Rio de
Janeiro em 1897. Primeiro cantor
potiguar a ter registro fonográfico.
Natal, fevereiro 2006
Gravou, em 1908, o lundu “Olhar de
santa”, pela Odeon. Nozinho era um dos
seis cantores profissionais da Casa
Edison, que fizeram sucesso no início do
século XX. Foi um dos grandes intérpretes de Catulo da Paixão Cearense.
Idenilde de Araújo Alves
A cantora nasceu em Assu. Aos oito
anos de idade, já morando no Rio de
Janeiro, cantava no “Clube do Guri”, da
extinta TV Tupi. Em 1959, gravou o seu
primeiro disco com o nome de “Nilde de
Araújo”. Assumiu o nome artístico de
“Núbia Lafayette”. Em 1960, lançou seu
primeiro disco, pelo selo RCA, no qual
gravou os sambas “Devolvi” e “Nosso
amargor”; depois vieram outros sucessos: “Casa e comida” e “Seria tão
diferente”, que a consagraram no cenário nacional como cantora romântica.
Oriano de Almeida
Nasceu no Pará e adotou Natal como
sua terra. O pianista, compositor, escritor, aos doze anos de idade, realizou o
seu primeiro concerto na capital do RN.
Fez turnês na Europa e Estados Unidos.
Em Varsóvia, na Polônia, classificou-se
como um dos dez maiores intérpretes de
Frederic Chopin no mundo. Gravou a
obra completa do compositor, em 1960,
na Rádio MEC, e participou do programa
O Céu é o Limite, na TV Tupi, em São
Paulo, respondendo sobre a vida e obra
de Chopin, ganhando o maior prêmio até
então concedido na televisão brasileira.
Paulino de Vasconcelos Chaves
Pianista, compositor, regente, professor
e membro da Academia Brasileira de
Música. Nasceu em Natal, mas viveu
Suplemento
em Belém do Pará, Alemanha e Rio de
Janeiro. Em 1914, formou, em Belém,
uma escola para pianistas, que depois se
aprimoravam na cidade alemã de
Leipzig. Em 1908, marcou presença em
Natal. Todo o repertório de Paulino
Chaves era tocado sem partitura e o
público não sabia o que mais admirar no
genial pianista: se a técnica excelente ou
a expressão empolgante, ou ainda, a
memória prodigiosa”.
na cidade de São Sebastião. Adotou o
nome Terezinha de Jesus por sugestão de Abel Silva, Gravou cinco LPs e
quatro compactos. Voltou a morar em
Natal em 1995. Foi atração local do
Projeto Seis e Meia, da Fundação
José Augusto, no Teatro Alberto
Maranhão, em julho de 1996, abrindo
para Belchior; e para Dominguinhos,
em 1997. Participou do Projeto Canto
Geral, da TV Universitária.
Paulo Peres Tito
O natalense Paulo Tito é um monumento vivo da música potiguar, testemunho de gerações de músicos do Estado.
A convite de Luiz Gonzaga, o rei do
baião, foi para o Rio de janeiro em 1954,
onde trabalhou na Rádio Mayrink Veiga.
Cantor e compositor, também atuou em
diferentes atividades nas áreas de
gravação de discos. Foi assistente de
estúdio, coordenador, produtor e diretor
musical, arranjador e regente. Paulo Tito
tem músicas gravadas por Altemar
Dutra, Elis Regina, Maysa Matarazzo,
Augusto César, Banda do Almeidinha,
Bergenaldo Wanderley, Carequinha,
Carlos José, Cauby Peixoto, Julinho e
seu conjunto, Os Cariocas, Os Infernais
da Bossa, Papel Gomes, Perla, Pery
Ribeiro, Zé Gonzaga, e pelo
instrumentista e compositor Renato Tito,
seu irmão.
Tonheca Dantas
Compositor, maestro, tocava vários
instrumentos, nasceu em Carnaúba
dos Dantas. Regeu bandas de música
do interior do Estado, e em João
Pessoa e Belém. Compôs valsas,
dobrados, hinos e marchas. A célebre
valsa Royal Cinema foi executada até
pela orquestra da BBC, de Londres,
na época da 2ª Guerra Mundial.
Terezinha de Meneses Cruz
Terezinha de Jesus nasceu em
Florânia, no dia 3 de julho de 1951. Em
busca do sucesso, foi morar no Rio de
Janeiro, em 1972. Fagner, Morais
Moreira, Gonzaguinha, Sueli Costa,
Capinan foram seus amigos ao chegar
Francisco Uriel Lourival
O compositor e seresteiro
natalense, filho do poeta Lourival
Açucena, foi para o Rio de Janeiro,
onde viveu e fez sucesso nas rodas
de serenatas. Compôs “A
ceguinha”, modinha gravada por
Arthur Castro, em 1925, mas o
sucesso veio em 1934 com a
famosa valsa “Mimi”, gravada por
Sílvio Caldas. Uriel compôs também “Céu moreno”, canção gravada em 1935 por Orlando Silva, e a
valsa “Botão de rosa”, sucesso em
1937 na voz de Vicente Celestino.
nós do RN-9
Gilliard Cordeiro Marinho
O compositor e cantor
romântico nasceu em Natal e
ficou conhecido internacionalmente por meio da música
“Aquela nuvem”, de sua
autoria. No início da carreira,
contou com o apoio do então
radialista, e depois político,
Carlos Alberto de Souza, e
com ele assinou algumas
parcerias. Na década de 1980,
alcançou sucesso no eixo RioSão Paulo com músicas que
foram temas de novelas da
Rede Globo de Televisão,
entre elas, Partido Alto, Pão
Pão/Beijo Beijo, Plumas &
Paetês.
Waldemar de Almeida
O compositor e maestro nasceu
em Macau. Iniciou os estudos de
piano em Natal, aperfeiçoou-se
no Rio de Janeiro, Alemanha e
França. Retornou a Natal, onde
criou, em 1933, o Instituto de
Música e a cadeira de Canto
Orfeônico. Waldemar de Almeida
fundou, em 1936, a revista Som –
especializada em música – que se
tornou bandeira do movimento
desfraldado por Luís da Câmara
Cascudo e Gumercindo Saraiva,
em defesa e valorização da vida
musical no Estado. É autor dos
livros “Normas pianísticas”, “Do
Recife a Varsóvia” e “Do Recife
a Dallas”.
(*) Fonte: Dicionário da Música do Rio Grande do Norte. Editora
AMP. Ano: 2001. 654 p. Autora: Leide Câmara.
10- nós do RN
Suplemento
Natal, janeiro 2006
Apresentações de artistas famosos
A
princípio, a finalidade era cultivar a harmonia dos instrumentos de corda. Depois, passou a
promover cursos, concertos e festivais,
divulgando músicas de artistas famosos
e dos compositores conterrâneos, congregando todos os meios para preservar as tradições folclóricas e para o desenvolvimento da arte musical potiguar.
Seus integrantes se reuniam semanalmente e destes encontros fluíam as mais
belas páginas musicais, clássicas e populares, com predominância, claro, do
violão.
Era composto por um número ilimitado de associados, sem distinção de nacionalidade, credo religioso, filosófico ou
político, que se dividiam nas categorias
de sócios efetivos, sócios honorários e
sócios correspondentes. O Clube do
Violão de Natal, sociedade civil sem fins
lucrativos, foi fundado em 23 de junho
de 1949, tendo entre seus inspiradores
pessoas como Arnaldo José Pires,
Veríssimo e Protásio Pinheiro de Melo,
João Galvão de Oliveira Filho, José
Dantas Emerenciano, Geraldo Bezerra
de Melo, Sérgio Guedes, Guilherme
Wanderlein e João Lucas Sobrinho.
Dez anos depois da fundação, o clube
passou pela primeira grande modifica-
ção. Seus estatutos foram reformados,
ampliando o leque de atuação da entidade, conforme decisão aprovada em
assembléia geral em 20 de junho de 1959
e publicada no Diário Oficial do Município. Nessa época, também, foi reconhecido pela Câmara Municipal como
“utilidade pública”.
Durante muito tempo as reuniões foram realizadas na residência de Arnaldo
José Pires. A solenidade de posse da
diretoria que assumiu o controle do clube em 26 de junho de 1959, de acordo
com o que foi registrado na coluna de
música assinada por Jaime dos G.
Wanderley no jornal Folha da tarde,
ocorreu no Salão de Honra
do Instituto de Música
do Rio Grande do Norte, às 20 horas, contando com a presença de
autoridades, jornalistas e
famílias especialmente
convidadas. Naquela oportunidade, discursou o historiador Luis da Câmara
Cascudo e, após a saudação
deste grande tribuno, houve a
aula inaugural dos cursos de violão a cargo do professor
pernambucano Júlio Moreira.
FOTOS/ARQUIVO
CARLOS FREDERICO CÂMARA
SÓCIOS FUNDADORES
ARNALDO JOSÉ PIRES
VERÍSSIMO PINHEIRO DE MELO
JOÃO GALVÃO DE OLIVEIRA FILHO
JOSÉ DANTAS EMERENCIANO
GERALDO BEZERRA DE MELO
PROTÁSIO PINHEIRO DE MELO
SÉRGIO GUEDES
GUILERME WANDERLEIN
JOÃO LUCAS SOBRINHO
Empresário
Advogado
Empresário
Empresário
Dentista
Bacharel
Médico
Funcionário Público Aposentado
Funcionário Público Aposentado
Genardo Lucas da Câmara (foto
acima), sócio do clube, e a
violonista argentina Maria Luíza
Anido, com Protásio Melo,
Arnaldo Pires e Milton Dantas
O Clube do Violão de Natal promoveu apresentações de artistas famosos. A excepcional violonista argentina Maria Luiza Anido esteve várias vezes na capital realizando concertos musicais no
Teatro Carlos Gomes, executando músicas clássicas de grandes gênios como Recuerdo de la
Alhambra, de Francisco Tárrega, Adágio da Sonata ao Luar, de Beethoven, Courante e Bourrré,
de Bach. Também trouxe à cidade o grande
artista Lupércio Miranda, excepcional executante de bandolim.
O Clube de Violão de Natal patrocinava os
talentos locais. Por seu intermédio, por exemplo, o violonista potiguar autodidata Genardo
Lucas da Câmara se apresentou no Teatro
Carlos Gomes na noite de terça-feira, 12
de janeiro de 1954, em homenagem ao prefeito de Natal, Creso Bezerra de Melo.
Nessa apresentação, para uma platéia selecionada, executou 22 músicas de grandes gênios como Francisco Tárrega,
Beethoven, Schubert, Bach, Albeniz,
Ernesto Nazareth e outros.
O violonista Genardo Lucas da Câmara, em companhia de seu pai violonista João
Lucas, também se apresentou ao comendador Luiz
da Câmara Cascudo, na casa de veraneio deste, na
praia de Areia Preta, numa bela manhã de domingo, onde executou belas páginas de música clássica, dentre as quais Capricho Árabe e Recuerdo de
la Alhambra, de Francisco Tárrega, e Astúrias, de
Isaac Albeniz. Esteve também presente, nesta ocasião, o jovem Fernando Luiz da Câmara Cascudo,
filho do Comendador Luiz da Câmara Cascudo.
O Clube do Violão promoveu um festival nos salões do América para angariar recursos para o violonista natalense Vivaldo Medeiros, filho do compositor Eduardo Medeiros, autor da consagrada
“Praeira”, quando de sua partida para o sul do
país. Todos os sócios e simpatizantes participaram do evento, destinado a ajudar na viagem do
homenageado. Também promoveu várias apresentações na rádio Poti do violonista paraibano
Milton Dantas, hóspede do violonista Arnaldo
José Pires.
Marcou época em Natal e inspirou o surgimento,
décadas depois, de outras organizações similares,
como o Clabom – Clube dos Amantes da Boa Música. O Clube do Violão de Natal vingou por mais
de duas décadas e quem dele participou e ainda
está vivo para contar a história, como Genardo Lucas
da Câmara, guarda muitas e boas lembranças deste tempo.
Natal, janeiro 2006
Suplemento
falecimento, no Pará, do grande
compositor paulista Antônio Carlos
Gomes (autor da ópera “O Guarani”,
e cujo nome foi o primitivo do atual
Teatro Alberto Maranhão). O
idealizador da poliantéia foi José A. de
Viveiros. Com quatro páginas, a
revista publicou os títulos das diversas
óperas do compositor, além de artigos
e poesias sobre ele.
O jornalismo
como elemento de
divulgação da música
mbora a música seja uma arte tão fluída e
comunicativa em qualquer cultura, alguns
representantes da informação jornalística
sempre sentiram necessidade de criar
órgãos específicos para divulgar a referida
arte. Aqui, no Rio Grande do Norte, podese mencionar vários destes órgãos, relacionados à música por um determinado segmento específico, conforme mostra pesquisa realizada por Anchieta Fernandes.
1) Jornais e revistas norte-riograndenses dedicados à divulgação
musical em geral:
a) Euterpe – Com o nome homenageando a deusa grega da música, esta
revista foi lançada em Natal no
começo do século passado. Precisamente em setembro de 1908. Era o
tempo das associações que se denominavam grêmios. Tinha os grêmios
literários natalenses, mas existia
também em Natal, em 1908, o Grêmio
Recreativo e Musical, responsável
pela revista Euterpe. Era dirigida por
Aníbal Cocunás, tendo como redatores Tertuliano de Brito, Antonio de
Sousa e João Damasceno (do 2o
Batalhão de Infantaria).
b) Som – Esta revista foi lançada
em Natal, em 1936, como órgão da
Sociedade de Cultura Musical do Rio
Grande do Norte (que fora fundada na
capital do Estado, a 04 de junho de
1936, tendo como seu primeiro presidente o então Bispo de Natal, Dom
Marcolino Esmeraldo de Souza
Dantas). O primeiro número circulou
a 11 de julho de 1936, sob a orientação
de Luís da Câmara Cascudo e do
maestro Waldemar de Almeida.
Especializada em música, seus artigos
nós do RN-11
b) Jornal do Fã-Clube Netinho Pra
Sempre Eu Vou Te Amar –
Jornalzinho do fã-clube natalense do
cantor baiano Netinho, que tem sido
um dos destaques do Carnatal (o
carnaval natalense fora de época).
Publica a Discografia e a Agenda das
atividades do cantor em todo o Brasil.
Elaborado pela turminha de fãs (Ana,
que é a presidente; Joseane, Adriano,
Arlene, Rogério, Lívia, Abmael, Ana
Karla, Salete, Luiz e Ozilene), o jornal
foi lançado em Natal em 2000.
Jornal informativo do Sebo Balalaika
diziam respeito à referida arte. Circulou até o ano de 1948.
c) Chico Folia – Ao preço de Cr$
10,00 (dez cruzeiros) cada número,
com doze páginas, esta revista foi
lançada em Natal, em 1960, para
divulgar frevos, sambas e marchas
para o carnaval natalense do referido
ano.
d) Trench – Fanzine de rock
natalense, editado por Rodrigo
Hammer e Carlos Henrique Leiros. O
primeiro exemplar circulou em 1988.
De visual sofisticado, bem
diagramado, programação dinâmica no
feitio gráfico, valeu também pela
capacidade crítica do jornalista,
fotógrafo, publicitário e estudioso de
música Rodrigo Hammer em atualizar
o aficcionado do gênero em Natal.
Circularam cerca de 14 números; que
eram entregues ao leitor, cuidadosamente protegidos em sacos plásticos.
Os mesmos editores de “Trench”
lançaram em 2003, em Natal, o jornal
“The Brotherhood of Poison”, com
comentários sobre o “lado negro do
Rock’n’Roll.”
e) Automatic – Em junho de 1998,
começou a circular em Natal este
fanzine, dedicado à música pop,
internacional, nacional e norte-riograndense.
f) Hangar – A 15 de dezembro de
1999, esta revista foi lançada em
Natal, dedicando-se principalmente à
divulgação de músicos e bandas
natalenses. Na capa do primeiro
número, a banda General Junkie.
Editada por Marcelo Veni, tendo Paulo
Augusto como jornalista responsável;
Alessandra Galvão aparece como
repórter (sendo também a redatora do
primeiro Editorial); Venâncio Pinheiro
como responsável pelo design gráfico
e Alexandro Gurgel pela diagramação.
Impressa pela editora da UFRN, teve
no primeiro número tiragem de 1001
exemplares, distribuídos gratuitamente
em vários locais da capital norteriograndense.
2) Jornais e revistas norte-riograndenses dedicados a músicos,
individualmente:
a) Carlos Gomes – Revista no
formato poliantéia (sai uma única vez,
geralmente homenageando uma figura
falecida), lançada em Natal a 17 de
outubro de 1896, um mês depois do
3) Jornais com nomes de
ritmos musicais:
a) O Frevo – Órgão carnavalesco,
“meio sério..meio risão”, circulou em
Natal, sempre no período do tríduo
momesco, de 1939 a 1942. Tinha
como diretores Gomes Sobrinho, Diniz
D. Pípolo e Galhardo Gomes.
b) E Tome Polca – Na Base
Aérea de Parnamirim, circulavam
jornaizinhos feitos pelos militares. Este
“E Tome Polca” circulou entre a
oficialidade da base no ano de 1959. A
inclusão da música de origem tcheca
no título é talvez porque os oficiais da
base tinham, ainda em 1959, a nostalgia dos seus colegas de farda americanos, que trouxeram a música e a
forma de dançá-la para cassinos
natalenses durante a época da segunda guerra mundial.
4) Jornais e revistas com nomes
de instrumentos musicais (não são
propriamente dedicados à música,
apenas usando o nome do instrumento como título):
a) Balalaika – Informativo cultural
do sebo natalense de igual nome,
organizado por Severino Ramos e
Antônio Carlos Pereira. Tendo como
editor Luciano de Almeida, o jornal foi
lançado em Junho de 1997.
12- nós do RN
Natal, janeiro 2006
Suplemento
ANCHIETA FERNANDES
P
O natalense
Henrique
Brito (acima)
fazia música
em parceria
com Noel
Rosa
Maria Alcina
(abaixo) se
apresentou
com uma
roupa que
trazia poema
do natalense
Marcos Silva
ouca gente sabe, mas o inventor do violão elétrico (que
atualmente é mais conhecido,
em seu formato contemporâneo, com
o nome de guitarra elétrica) foi um
norte-rio-grandense. Segundo o
radialista carioca Almirante, em seu
livro “No Tempo de Noel Rosa”
(1951), o instrumentista natalense
Henrique Brito, após uma viagem aos
Estados Unidos, “de volta ao Rio,
exibiu o primeiro violão elétrico que se
conheceu por aqui, indiscutivelmente
uma invenção sua. Desde 1929,
mostrava-se insatisfeito com o pequeno som dos violões comuns.
O advento do cinema falado deulhe a idéia de adaptar um ampliador ao
seu instrumento, mas, apesar de
sugerida a novidade a vários técnicos
brasileiros, nenhum lhe deu importância. Em sua permanência nos Estados
Unidos, Brito, um dia, expôs sua idéia
a um fabricante de instrumentos, na
cidade de São Francisco. O industrial
aproveitou-se da idéia, registrou-a e
construiu o primeiro violão elétrico,
dando-o de presente a Henrique Brito
que, se tivesse a patente do instrumento, teria ganho rios de dinheiro.
A idéia de juntar à eletricidade a
percussão de instrumentos musicais
evoluiu até à vanguarda da música
eletrônica, quando o alemão Karlheins
Stockausen fundou em Colônia, em
1950, seu famoso estúdio de pesquisas. É na compreensão destas e de
outras realidades da cultura contemporânea que o Poema/Processo
apareceu no Brasil, com a primeira
exposição inaugurada em Natal em
dezembro de 1967. O Poema/Processo não se marginalizou na música, mas
englobou-a dentro do seu operatório,
como componente social/
informacional de um mundo novo, a
exigir respostas novas, através de
processos inventivos
desencadeadores.
Na “Proposição” com que o movimento se apresentou ao público da
primeira exposição, havia dois itens
sintomáticos: a) ruído (industrial)
levado à categoria de música; b)
computador eletrônico como pesquisa
musical. Não é o caso de dizer se a
música/processo é um título a mais a
acrescentar aos que já existem:
música concreta, eletrônica,
eletroacústica, serialística,
dodecafônica, aleatória etc., porque,
ao invés de todas estas pesquisas,
levadas no contexto da tecnologia em
progresso, o Poema/Processo pode
fazer-se funcionar atualizando a lógica
ou a consciência do uso delas.
Simultaneidade sonora
A esse respeito é que o poeta/
processo natalense Frederico
Marcos se preocupou em criar a
música/processo, trabalhando a
microfonia e atingindo o que ele
chamou de simultaneidade sonora:
“o efeito da microfonia é produzido
exatamente por uma superposição
de canais: os dois canais – o microfone e o alto-falante – deixam de
existir nas suas funções estatísticas,
para se unirem numa simultaneidade sonora.” No ensaio “Do Verso
ao Poema/Processo: a Vanguarda
no Rio Grande do Norte”, Moacy
Cirne explicou bem o que poderá
ser o caminho dos que se interessarem por esta pesquisa da música/
processo:
“No campo da música, Frederico
Marcos pretendeu organizar uma
nova área de possibilidades sonoras:
a) obtendo/captando – ou gravando
– ruídos através de processos
eletroacústicos e fonomecânicos; b)
criando – ou obtendo – novos sons/
ruídos partindo dos ruídos existentes
com a utilização de processos
técnicos novos e exclusivos: criação
de novo processo de captar/inventar
sons; c) adaptando ao som as
teorias do Poema/Processo (visual),
inclusive – em alguns casos –
exigindo a participação do consumidor/ouvinte. A música/processo não
pretende ser poema fônico: as
coordenadas operatórias são diferentes. Os poemas/processos
sonoros (neste caso poemas
fônicos), que permitam versões
gráficas ou materiais, serão trabalhados na etapa seguinte de sua
evolução criativa. Trata-se, pois, de
projetos sonoros.”
Se as possibilidades eletrônicas de
produção de som (sintetizadores,
geradores de áudio, filtros
polifônicos) acabaram com a prioridade dos instrumentos de produção
mecânica da música tradicional; se
hoje, com a técnica da
superdublagem (superposição na fita
de gravação de duas ou mais camadas de som) é possível obter, com
um só instrumento, o efeito de dois
ou mais instrumentos ou quartetos
de uma só voz; se o som hoje, nos
estúdios de gravação, é cortado,
emendado novamente, acelerado,
reverberado – então toda esta nova
realidade possibilita igualmente
novos processos.
Até mesmo como novos modelos
de execução de um espetáculo
musical, de um show. Durante um
festival de música em Muriaé, no
estado de Minas Gerais, a cantora
Maria Alcina, propondo-se a um
“envolver total”, foi durante a cena
arrancando palavras, ruídos, sons;
desnivelando os instrumentos e
tomando posições corporais em
relação ao desenvolvimento da
música. O importante, além do mais,
é que ela vestia uma roupa trazendo
ao centro um poema/processo do
poeta e historiador natalense Marcos Silva, e isto contribuiu como
elemento informacional para o
conjunto do espetáculo.
Natal, janeiro 2006
Suplemento
Uma “Praieira” à beira
de um ataque de nervos
A Câmara Municipal do Natal aprovou requerimento do vereador Antônio
Félix, decretando, em razão da popularidade e essência de seus versos,
todos eles inspirados em motivos tipicamente natalenses, a famosa canção
popular como Canção Tradicional da Cidade. 121a. sessão da Câmara
Municipal e publicado no Diário Oficial, de 11 de janeiro de 1972
CARLOS
s poetas, em seus
rompantes e relampejantes
descontentamentos da
criação artística,
fragilizam-se a ponto
de exporem seus retalhos de obrasprimas em incandescência à
carbonização. Otoniel Menezes, na
fogosidade buliçosa dos seus 27 anos
de idade, em meio à travessia
emblemática da nossa tumultuada vida
política e envolvido pelo arrastão da
fervilhância cultural centenáriomodernista de 1922, quase destrói a
canção “Serenata do Pescador”,
transformada em “Praieira dos meus
amores” e ungida, oficial e
popularmente, à condição única de
musa músico-poética de Natal.
Naquele outubro de 1922, Natal se
alvoroçava com o terremoto
provocado por 12 humildes
pescadores que, nos barcos Íris,
comandado pelo mestre Francisco
Candido de Oliveira, no Pinta, sobre a
mestrança de Manuel Claudino da
Silva, e no República, com Filadelfo
Tomás Marinho no comando,
navegando num reide marítimo. Os
jangadeiros, partindo de Natal, em 27
de agosto, chegaram ao Rio de
Janeiro a 20 de setembro, sendo alvos
de uma ruidosa acolhida que empolgou
até o veterano Rui Barbosa, que
ensaiou uma proclamação, bradando:
“Salve, bravos jangadeiros do Norte”,
usando a licença poética fluídica que
metamorfoseava as embarcações e
desmembrava o território nordestino.
O desembarque dos pescadores, na
tarde de 19 de outubro, chacoalhava a
O
MORAIS
cidade, em êxtase, e com
homenagens a toda hora,
desalinhando mesmo o sisudo
governador Antonio de Souza, mestre
de cerimônia das promoções festivas
do centenário da indepen- dência.
Otoniel, numa noitada boêmia com
outros companheiros, aproveitava o
clima fluvi-telúrico do “sussurro das
ondas do Potengi” no Passo da
Pátria, às margens plácidas do
memorável rio que acalanta Natal.
Ali, ouvindo o suave cantar do
“sussurro das ondas do Potengi
amado”, compôs os versos pioneiros
de seu salgado poema de doce e
ingênua ternura, em regozijo pela
façanhuda ousadia dos destemidos
pescadores. Nele, devaneou o
sempre retorno incerto e
imponderável das desgastantes
ocupações de mareação daqueles
seres sofridos que, iria cantar, em
louvação de bem-aventurança e
amorosidade, à janela da amada, a
praieira dos seus amores.
E, ao final da farra etilírica, o poeta,
na noite de 18 para 19 de outubro,
véspera do retorno dos trabalhadores
marinhos que se converteram em
“heróis do mar”, o rigoroso poeta
sentiu o travo amargo da
incompletude do produto final da
lavradura poética.
Mais tarde, ao acordar, ainda
engulhava sua insatisfação e
cascavilhava o papel com os rabiscos
da poesia da madrugada, solicitada
para ser declamada, juntamente com
os poetas Bezerra Júnior e Edinor
Avelino, durante as homenagens
previstas. Leu, releu, emendou,
Otoniel Menezes: autor de Praieira
copidescou e, mesmo assim, indispôsse com seus escritos. Sua apreciação
era de que, a forma estética não se
encaixava no desejado para exprimir o
momento. Fantasiava a criação de
versos entusiásticos, enaltecedores da
heróica maratona marinha, temperada
com versos insinuantes da bravura e
destemor. Decididamente, aquele
esparramado na noitada, com suas
tintas essencialmente românticas, não o
deleitava. Irritadiço, pensou, num
primeiro instante, em rasgar, espedaçar
e esquecer aquele sentimento de vazio
poético-existencial.
E, logo depois, na tarde calorenta,
enquanto os pescadores
desembarcavam e toda a cidade
debandava em carros, bondes, ônibus,
a pé, convergindo para a ribeira, numa
majestosa confraternização
homenageatória aglomerava-se, em
carroças, para a Ribeira, o poeta
suava, no meio da multidão, enquanto
aguardava o seu momento de declamar
sua criação. Comentou, então, com o
amigo Bezerra Júnior, poeta mais
experiente e a quem mostrara sua
indigesta composição, ter decidido que,
ao invés da “Serenata do Pescador”,
nós do RN-13
declamaria “Cântico da Vitória”,
considerável mais conveniente para a
ocasião.
Daí porque a “Serenata do
Pescador” hibernou até a noite de 16
de dezembro de 1922, quando recebeu
uma exuberante homenagem, no
Teatro Carlos Gomes, no “Festival do
poeta Otoniel Menezes”, em que
aquela canção recebeu interpretação,
em caráter oficial, para uma ruidosa
platéia que lotava as dependências do
então teatro Carlos Gomes, na
Ribeira, que assistiu a uma
programação dividida em três partes,
durante as quais se apresentaram a
elite na música e poesia da cidade.
No primeiro segmento: a canção
Sob as Mangueiras, musicada por
Carmino Romano dos versos de
Otoniel Menezes. o garoto Genar
Wanderley, calouro que se tornaria um
dos primeiros locutores da radiofonia
norte-rio-grandense, destacou-se na
progra- mação da segunda parte, na
declamação dos versos de Pindorama,
outra peça da ourivesaria poética do
homenageado da noite. O futuroso
artista conquistou, com ela, a medalha
de ouro de um concurso das
festividades lítero-cívicas,
patrocinadas pelo governador Antonio
de Souza, durante o centenário.
A “Serenata do Pescador”, batizada
pela tradição de “Praieira’, dessa
maneira, despertou para o sucesso
nesta exibição pública pioneira, no
encerramento do festival otonieliano,
na voz do amigo Deolindo Silva, outro
conhecido poeta boêmio dos tempos
de Otoniel Menezes.
Circulou uma informação que o
jovem cantor, de 15 anos, Afonso
Santos Lima teria sido, na realidade, o
primeiro a cantá-la. Uma
possibilidade, em situação oficial,
descartada pelo pesquisador Cláudio
Galvão, uma das autoridades em se
tratando do poeta, juntamente com
Laélio Menezes, filho de Otoniel e que
prepara o mais substancioso trabalho
sobre a obra e vida do pai. O
pesquisador até admite que Santos
Lima teria sido um dos primeiro
intérpretes da “Serenata do Pescador,
pois a música circulou pela cidade,
antes da exibição oficial. Mas,
certamente, apenas durante reunião
de amigos, em alguma noitada
seresteira.
14- nós do RN
Suplemento
Natal, janeiro 2006
CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 13
No caminho da “Praieira”
surgiu uma música
desfile peregrinava pela frente das
sedes dos clubes náuticos, Sport e
Centro Náutico, na rua do Comércio
(hoje Chile), e demorava-se nelas para
ouvir, recitados por Edinor Avelino e
Otoniel, os discursos cívico-poéticos que
saudavam a odisséia marítima dos
pescadores. Bezerra Júnior aproveitou
o contato para conversar sobre a poesia,
que não satisfazia a Otoniel, e,
contrariamente, elogiou os versos,
embora ponderasse que não se
encaixavam bem numa cerimônia de
saudação daquela natureza. Sugeriu,
então, numa afortunada premonição,
que ganhariam mais encantamento caso
fossem musicados, para ganhar uma
transformação
músico-poética.
Ofereceu-se, prazerosamente, para
levar os versos ao seu amigo Eduardo
Medeiros, musicista de alguns de seus
poemas, residente nas imediações.
Otoniel, satisfeito com a sugestão,
decidiu acompanhá-lo até o número 13
de uma modesta casa da rua “Rocas de
Dentro” (atual Pereira Simões),
residência do veterano musicista de 35
anos de idade. Medeiros, remanchão e
pecuniário, entocou o pedido, ao ser
entregue por familiares, quando retornou
à sua residência.
Um mês depois, ao encontrar-se com
Bezerra Júnior, Otoniel Menezes
comentou sobre o não aparecimento de
Eduardo Medeiros. O poeta curraisnovense ponderou que a sacrificada
situação do músico, um profissional num
meio não valorizado, pecuniariamente.
O poeta, funcionário público estadual,
desculpou-se pela desatenção, e
envelopou uma nota de 20 mil réis e
despachou um contínuo do Palácio do
Governo para levá-lo até à residência
do músico. Eduardo, logo na manhã
seguinte, batia à porta de Otoniel
Menezes, e mostrava seu trabalho
pronto, na ponta da língua, dedilhando
seu violão que trouxera a tiracolo. E,
depois de cantar a melodia,
rapidamente criada, explicou ter se
apropriado, durante a composição da
música, de um “velho fado”. Assim, a
“Praieira”ganhava um parceiro e uma
sua produção musical, ressaltada, em
uma nota de rodapé, à página 51 de
seu “Jardim Tropical” e logo abaixo dos
seus versos, onde Otoniel valoriza o
trabalho de Eduardo Medeiros, o
“inspirado musicista” que “pelo seu
talento” conseguiu valorizar os versos
de seu poema, ao criar um ‘lindíssimo
fado que a cidade repete nas serenatas
ou nos salões da aristocracia, de bairro
a bairro”. (CM)
Eduardo Medeiros valorizou os versos de Otoniel
Menezes (nome de rua no bairro de Santo Reis) ao
musicar Praieira, um lindíssimo fado que passou a ser
tocado nas serenatas e salões da aristocracia
Natal, janeiro 2006
Suplemento
nós do RN-15
FOTO/ARQUIVO
CARLA XAVIER
O
Rio Grande do Norte não é só
a terra de grandes poetas ou
do turismo. O lirismo e a beleza do litoral potiguar não inspiram apenas escritores; também serve de combustível para talentos musicais. Vozes
graves ou aveludadas, ritmos variados,
estilos diversos revelam a qualidade
musical dos artistas que aqui vivem e
permitem afirmar que a boa música é
mais uma riqueza do “Estado PapaJerimum”. Mesmo assim, nem todas as
portas foram abertas para a boa música norte-rio-grandense.
Nos últimos anos, o surgimento de
novos espaços proporcionou novas oportunidades. Projetos culturais como
Cosern Musical, Prêmio Hangar,
Seaway Cultural e outros festivais têm
dado oportunidades para que os artistas
apresentem seus shows, alcançando um
público fora dos barzinhos.
A cantora Lene Macedo começou sua
carreira há sete anos e, de lá para cá,
acha que houve uma melhora significativa de novos cenários para se apresentar. “Novos locais vem surgindo e isso
tem contribuído para que os artistas se
destaquem e obtenham reconhecimento. As coisas estão acontecendo aos
poucos, mas ainda falta incentivo”, afirma.
O Shopping Seaway desde 2004 vem
desenvolvendo um projeto cultural com
artistas da terra. O Seaway Cultural,
como é conhecido, se destaca por abrir
as portas para o artista potiguar e, principalmente, por se propor a criar um
público consumidor de cultura. O produtor cultural do projeto, José Dias, ressalta o bom momento que vive a música do Estado e a necessidade de con-
solidação da mesma, creditando a isso
iniciativas como o 1º Festival da Música Instrumental do RN, que serviu para
apresentar o talento dos bons músicos
do Estado. As apresentações no
shopping ocorrem de quinta-feira a domingo.
A Casa da Ribeira, aberta em 2001,
também se apresenta como mais um
abrigo para a cultura do artista potiguar.
A Casa oferece a Sala Cosern de Teatro, com 160 lugares, onde desenvolve,
além de espetáculos teatrais, shows musicais. Entre os diversos projetos acolhidos no espaço, merece destaque o
Cosern Musical. O projeto, que é regido pela Lei de Incentivo Câmara
Cascudo do Governo do Estado, se propõe a incentivar a música do artista
potiguar.
“A importância desse projeto está na
oportunidade que nos é dada para montarmos o nosso show, com cenário, figurino, iluminação, performance, músicos, nosso repertório, enfim, mostrarmos
a nossa cara”, destaca a cantora mineira, que há três anos vive em Natal,
Luciane Antunes. Os organizadores do
Cosern Musical destacam também o trabalho de mídia, o que ajuda na
“popularização” do artista.
O bairro da Ribeira também é endereço do Itajubartes, localizado na antiga
morada do poeta Ferreira Itajubá, na rua
Chile. O novo espaço também tem como
proposta incentivar a cultura norte-riograndense. “Um dos nossos propósitos
é oferecer um palco para que o talento
do músico potiguar aflore e que o público aprecie a boa música”, destaca o ator
Beto Vieira, um dos organizadores do
local.
Quem pensa que um salão de beleza
é local apenas para tesouras, escovas e
esmaltes engana-se. O Nalva Salão
Café, também na Ribeira, abriu suas
portas com uma proposta diferente e inovadora. Além dos serviços de salão de
beleza, Nalva oferece um café com
apresentações de artistas locais todas
as segundas-feiras.
Importância
dos festivais
Festivais como os dois que
ocorreram na Praia do Meio (2003/
2004 e 2004/2005); o da Igreja de
Ponta Negra, que ocorre todos os
anos; o Prêmio Hangar, que há sete
anos elege os melhores artistas da
terra, são fundamentais para a consolidação da música potiguar. Mas é
unanimidade entre a classe a
constatação de que ainda falta muito.
“Natal tem público, tem espaço e tem
empresários que podem investir. O
que falta é vontade de fazer”, destaca
Luciane Antunes.
Para os artistas viverem de
música em Natal precisam trabalhar
em bares, festas particulares e outros
eventos. “Se fossemos viver apenas
de shows, não seria possível, porque o
gasto é muito com cenário, contratar
bons músicos, equipamentos, figurino
e tantas outras coisas necessárias
para uma boa apresentação”, afirma
Jô, companheiro de trabalho e esposo
de Lene Macedo. O casal, assim
como Luciane Antunes, conseguiu
Itajubar, local onde novos
artistas, como Luciane
Antunes, passaram
a se apresentar
aprovar projetos para gravação de
seus CD´s, mas ainda esbarra na falta
de patrocínio.
O cachê é outro problema.
Alguns músicos conseguem nivelar
um preço para suas apresentações,
outros sofrem com o pouco que é
oferecido. Mas, a principal reclamação nesse sentido diz respeito à
demora no pagamento. Mesmo com
as dificuldades, a classe musical
destaca que mais importante que a
necessidade capitalista é poder apresentar seus trabalhos e obter o reconhecimento do público.
Os talentos que aqui vivem,
como Lene e Jô, Luciane Antunes,
Michele Lima, Diego Brasil, Pedrinho
Mendes, Ivan do Monte, Roberta
Karina, Marcondes Brasil, Simona
Talma, Luís Gadelha, Valeria Oliveira,
Dário Nascimento, João e Alan, Hélio
Ferreira, Paulo Porfírio, Kelly Rocha,
Ricardo Wanamarque, Fadja Lorena e
tantos outros nomes continuam a
oferecer algo que não tem preço: a
arte. “E arte não se julga, não se
compra, cada um tem o seu talento”,
como diz Jô.
Natal - Janeiro de 2006
Suplemento
16 ..................................................................................................................................................................................
Ontem, o bolero do Irakitan;
hoje, a salsa do Camba
O
Rio Grande do Norte tem sido um solo
fértil para o surgimento de grupos musicais.
Ontem e hoje. Os mais antigos ainda
devem lembrar dos acordes que fluíam dos palcos
onde pisaram, no passado, os Vocalistas Potiguares
(1941/49), Ases da Lua (1945/48), Trio Irapuru
(1951/54), Trio Marayá (1954/75), Trio Os
Rouxinós, Trio Hawai (!957/95), Trio Inajá
(1958/1998), Trio Menura (1963/80), Trio Ipanema
(1963/71), Trio Cigano (1976/93) e Trio Irakitan
(1950). Os mais jovens ainda se remexem ao som
de grupos como Alforria e Camba.
Entre todos talvez o que tenha feito mais sucesso
fora da aldeia potiguar tenha sido o Trio Irakitan,
cuja formação inicial, a partir de 1950, contava
com Paulo Gilvan Duarte Bezerril (afochê), Edson
Reis de França, “Edinho” (violão), João Manoel de
Araújo Costa Neto, “Joãozinho” (tantã). Destes,
apenas Paulo Gilvan ficou até os dias atuais, ainda
atuando com este grupo no eixo Rio-São Paulo.
Segundo Manoel Procópio de Moura Júnior, no
livro Tributo aos Conjuntos Vocais do Rio Grande
do Norte, a história do Trio Irakitan começou a ser
escrita ainda na Rádio Poti, onde Gilvan, Edinho e
Joãozinho se apresentavam individualmente, no
final da década de 40, no programa reservado à
Sociedade Artística Estudantil.
A ascensão do trio aconteceu aos poucos: da Rádio
Clube de Pernambuco para uma temporada no
Maranhão; de uma excursão pelo Piauí, Paraíba,
Ceará, Amazonas e Acre para as Guianas Inglesa e
Holandesa, Ilha de Trinidad, Tobago, Venezuela,
Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El
Salvador, Guatemala, até atingir a cidade do
México, onde conquistou a consagração.
“Este Conjunto Vocal, reconhecido como um dos
melhores do mundo, já tendo percorrido todos os
Estados brasileiros, com respeitável know how
internacional, participou de um filme intitulado
´levame em tus brazos´, ao lado da bela vedete
Ninon Sevilha, onde interpretou as músicas Banzo,
de Hekel Tavares e Murilo Araújo, e O Vento, de
Dourival Caymmi”, conta Procópio de Moura
Júnior.
O trio participou de outros filmes musicais e se
destacou ao lado de cantores internacionais como
Nat King Cole, Sammy Davis Jr. e Edit Piaff.
Gravou mais de 50 discos, em toda sua trajetória
artística, fazendo escola e influenciando outros
grupos musicais do Rio Grande do Norte, como
Trio Inajá e Mui Yrapuan, no passado, e servindo
de inspiração aos modernos, como Camba, que
interpreta ritmos caribenhos como a salsa,
merengue e rumba.
Muito recentemente os remanescentes do Trio
Marayá (Bering Leiros e Hilton Acioli, no caso,
pois Marconi Campos já faleceu) se apresentaram
em Natal para comemorar os 40 anos em que se
exibiram no Festival da TV Recorde,
acompanhando Jair Rodrigues na interpretação de
Disparada, de Geraldo Vandré, com a qual
obtiveram o primeiro lugar. Este grupo, a exemplo
do Irakitan, também teve projeção internacional.
Os saudosistas podem até lamentar os tempos que
se foram, e com eles os sucessos que eram tocados
antigamente por estes grupos, mas as novas
gerações não. Alforria, Perfume de Gardênia,
Camba e Três no Tom, entre outros, estão ocupando
os palcos e formando platéias neste momento.
Como também há, hoje, grandes músicos que atuam
ora acompanhando um artista ora outro, seja
conterrâneo ou de fama nacional, sem
necessariamente formarem, eles mesmos, um grupo
específico.
Carlinhos Moreno (violão), Nemias Lopes e
Beethoven (saxofone), Manoca (guitarra), Júnior
Primata (baixista), Gilberto Cabral (trombone) e
Carlos Zen (flauta). Só pra citar alguns. Carlos Zen,
na solenidade de comemoração dos 50 anos da
Emater, na sede da empresa, no final do ano
passado, encantou a todos, incluindo a governadora
Wilma de Faria e o representante do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, tocando o Hino
Nacional com sua flauta.
O trombonista Gilberto Cabral, da Orquestra
Sinfônica do Rio Grande do Norte, depois de ter
gravado/tocado com gente como Alceu Valença,
Bibi Ferreira, Caubi Peixoto, Edu Lobo e
Cidade Negra, entre
outros, e integrado a
Banda Alforria e Camba,
onde ainda atua, gravou
seu próprio CD solo,
“Musa”, com o
reconhecimento da crítica.
Exemplo de talento e
virtuosismo, como tantos
outros músicos, citados ou
não aqui, da nova geração.
(Moura Neto)
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