DO Editorial A República Suplemento Nós,doRN... Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte d a i d l e a c i s r u a u g i t m ão Po A Naç a d Ano II - Nº 14 - Janeiro de 2006 2 - nós do RN Suplemento Natal, fevereiro 2006 APRESENTAÇÃO O Rio Grande do Norte enlutado RUBENS LEMOS FILHO U ma tarja preta enluta esta edição do “nós, do RN” em homenagem ao grande conterrâneo Vingt-un Rosado, cujo coração parou de bater ao apagar das luzes de 2005. Filho caçula de Jerônimo Rosado e Isaura Rosado Maia, Vingt-un um homem especial, de espírito fraternal e uma compreensão especial dos problemas alheios. Nasceu em Mossoró, a 25 de setembro de 1920. Como era costume então, fez o Curso Primário com as professoras Egídia Saldanha e Lourdes Leide, e o ginásio no Diocesano Santa Luzia. Na busca pela formação acadêmica que não existia entre nós, foi concluir os estudos na Escola Superior de Agricultura de Lavras, em Minas Gerais, em 1945. Diplomado em Agronomia, retornou à terra trazendo na bagagem uma cultura multifacetada. Em 1940 já publicara seu primeiro trabalho, a História de Mossoró, editado pelos Irmãos Pongetti Editores, do Rio de Janeiro, como Vol. III da Coleção Biblioteca de História do Rio Grande do Norte. Desde então as suas contribuições culturais não parariam. Autor de cerca de 700 obras (entre livros e folhetos), participou da Academia Mossoroense de Letras, fundou o Instituto Cultural do Oeste Potiguar e ocupava a cadeira nº 38 da Academia Norte-RioGrandense de Letras. Quando aluno nas Minas Gerais, sonhou com uma Escola de Agricultura em Mossoró, pela qual batalhou até ver concretizado seu projeto em 1967, no decreto de criação da ESAM, do prefeito Raimundo Soares de Souza. Outra utopia, a Coleção Mossoroense, tornou-se real em 1949 na lei promulgada pelo seu irmão, Dix-sept Rosado, então prefeito de Mossoró. O Estado e o Governo do Rio Grande do Norte, por decreto da Excelentíssima Senhora Governadora Wilma Maria de Faria, homenagearam Vingt-um com um luto oficial de três dias, uma reverência ao iluminado mossoroense, norte-rio-grandense e brasileiro que foi Vingt-un Rosado. EDITORIAL Vingt-un: sua contribuição cidadã MIRANDA SÁ O amor transcendental do professor Vingt-un Rosado pela literatura materializou-se na editoração da Coleção Mossoroense, sem favor, uma das maiores coleções do país, e é preciso que se diga que inúmeras entre as mais de 4.000 publicações, foram bancadas do próprio bolso. A Coleção é sem dúvida alguma um marco na trajetória desse intelectual que se projetou na cultura brasileira contemporânea por méritos próprios, pela sensibilidade de reconhecer valores pessoais e a objetividade de alavancar vocações, divulgando a arte, a literatura e a ciência. Foram essas qualidades ímpares de Vingt-un que levaram o Departamento Estadual de Imprensa – DEI, incentivado pela governadora Wilma Maria de Faria, a estabelecer a honrosa parceria com a Coleção Mossoroense. Para satisfação e orgulho dos que fazem a Imprensa Oficial do Rio Grande do Norte, os interesses comuns pela divulgação da cultura de Vingt-um e do Governo do Estado foram sacramentados na I Feira de Livros de Mossoró, quando o Mestre e muitos dos seus colaboradores passaram mais de uma hora conosco no stand montado pelo DEI. Esta saudosa memória ficou indelevelmente tatuada nos nossos corações ao tomarmos conhecimento da sua morte no dia 21 de dezembro de 2006, no instante em que a emoção dominava a intelectualidade norte-rio-grandense e a imprensa mossoroense fazia muito profissionalmente o paralelismo entre as duas perdas do ano que passou, arrancando do nosso convívio Dorian Jorge Freire e Vingt-un. Com referência a 2005 e a História do Povo Potiguar esta conjugação é indissolúvel no vigor da passagem dos dois pela humanidade viva. Os dois tiveram o mérito de fazer política sem se macular com a sujeira que tristemente o exercício dessa nobre atividade traz, devido a uma minoria sem caráter e sem honra. A participação de Vingt-un e Dorian na vida pública deve ser creditada à contribuição cidadã que deram ao Rio Grande do Norte e ao Brasil, pela formação filosófica e os compromissos ideológicos individuais de ambos. É por isso que o Rio Grande do Norte se curva solidarizando-se ao sentimento de pesar que se abateu sobre os nossos irmãos mossoroenses. Estado do Rio Grande do Norte Assessoria de Comunicação Social WILMA MARIA DE FARIA Governadora do Estado CARLOS ALBERTO DE FARIA Gabinete Civil do Governo do Estado RUBENS MANOEL LEMOS FILHO Assessoria de Comunicação Social RUBENS MANOEL LEMOS FILHO Diretor Geral em exercício Henrique Miranda Sá Neto Coordenador deAdministração e Editoração JURACIR BATISTA DE OLIVEIRA Subcoordenador de Finanças EDUARDO DE SOUZA PINTO FREIRE Subcoordenador de Informática nós, do RN editor-geral MIRANDA SÁ chefe de redação MOURA NETO equipe redacional PAULO DUMARESQ - REPORTAGEM ANCHIETA FERNANDES - PESQUISA JOÃO MARIA ALVES - FOTOGRAFIA diagramação e arte final EDENILDO SIMÕES PAULINHO CAVALCANTI Programação Visual EMANOEL AMARAL PAULINHO CAVALCANTI Capa EMANOEL AMARAL Colaboradores CARLOS MORAIS CARLA XAVIER EDSON BENIGNO CARLOS DE SOUZA CARLOS FREDERICO CÂMARA MARJORIE SALU MIRANDA SÁ Coordenação Gráfica WILLAMS LAURENTINO VALMIR ARAÚJO Depertamento Estadual de Imprensa Av. Câmara Cascudo, 355 - Ribeira - Natal - RN CEP.: 59.025 - 280 Tel.: (84) 3232 6793 Site: www.dei.rn.gov.br - e-mail: [email protected] Natal, janeiro 2006 Suplemento nós do RN-3 FOTO/ARQUIVO A sublimação pela música sacra Glênio Manso Maciel traz consigo uma bagagem de mais de 30 anos como regente. Atualmente rege o Canto Coral Irmão Sol, grupo especializado na literatura de canto gregoriano há 14 anos. É um dos poucos corais de canto gregoriano do país não formado por religiosos. “Nosso coral tem como objetivo aproximar as pessoas da arte, do belo, do sacro. Fazê-las ver a música como uma fonte de conhecimento e veículo de reaproximação com Deus. Além de ser uma opção para os que gostam de uma boa música de ritmo livre, não mensurada”, afirma. No ano passado o grupo Irmão Sol esteve se apresentando em várias cidades do interior do Rio Grande do Norte e também em outros Estados. Segundo o regente, o coral tornou-se conhecido pelas suas apresentações em lugares inusitados, executando encenações que remontam o cotidiano dos mosteiros e a vida monacal, criando um clima medieval e transcendental. “Dos memoráveis concertos dados pelo grupo podemos citar o da Fortaleza dos Reis Magos em agosto e outubro de 2004. Também a apresentação no Cemitério Morada da Paz, em 1996, e no Eremitário do Santo Lenho, em 1999 e 2001”, conta. O grupo sempre se apresenta com o hábito franciscano e com os pés descalços, mostrando despojamento e fazendo da apresentação muito mais do que uma arte, uma oração. É formado por pessoas de diferentes faixas etárias e sociais. Integram estudantes, professores, artistas, advogados, profissionais liberais. Todos acreditando na transformação do homem através da música. “A cada canto elas meditam, gerando auto-conhecimento e, conseqüentemente, uma transcendência de suas ações, uma elevação de si, uma sublimação”, afirma. Ernani da Silveira, ex-prefeito e regente do Coral da Maior Idade, cujos integrantes possuem idade acima de 65 anos EDSON BENIGNO ntre a política e a música, ele preferiu a segunda. O ex-prefeito Ernani Alves Silveira, aos 80 anos, é o regente do Coral da Maior Idade e do Coral dos Jovens da Igreja Bom Jesus, na Ribeira, onde se apresenta, religiosamente, nas tardes de sábado e nas manhãs de domingo. Seu amor pela música só é comparável ao sentimento que outro regente nutre pelo trabalho que faz: Glênio Manso Maciel é um dos raros maestros do Rio Grande do Norte especializado em canto gregoriano. Os dois são exemplos de homens dedicados à música. Nascido em Macau, em 25 outubro de 1925, Ernani Silveira foi vice prefeito de Natal entre 1966 a 1969. Quando o titular Agnelo Alves deixou o cargo, ele assumiu por 22 meses. Como amante da boa música, na sua administração deu total apoio aos corais, sem imaginar que, anos mais tarde, dedicaria-se de corpo e alma a eles, os corais. A paixão pela música começou no Seminário, onde ingressou aos 12 anos. “O reitor, que era um grande músico, notou minha vocação para a música e me ensinou teclado”, conta. No Seminário Maior, em Fortaleza, aprendeu a reger uma orquestra.` Para quem não sabe, há uma diferença básica entre reger uma orquestra e um coral. “A orquestra é mais fácil de reger porque os participantes são músicos e sabem ler as partituras. No coral, não precisa que o integrante entenda de música”, explica. Antes e depois da política, Ernani exerceu outras atividades. Atuou, por exemplo, na Escola de Pilotagem do Estado, onde chegou a ministrar aulas de teoria e prática. Mas é como regente que ele se realiza na vida. “Participo muito mais pelo prazer”, diz. O Coral da Maior Idade, que sempre arranca aplausos do público desde 1994, quando foi criado, não recebe apoio de entidades oficiais e não-governamentais. Seus integrantes, com idade acima de 65 anos, se reúnem para ensaiar todas as segundas-feiras. “Cerca de 90% dos integrantes são viúvas cujos maridos deixaram uma boa situação econômica”, explica. Seja diante de senhoras da terceira idade ou de jovens católicos, Ernani Silveira é a mesma pessoa: um jovem senhor que, com a batuta nas mãos, gosta de executar, por puro prazer e diletantismo, as mais belas canções que jamais conheceu. Seja a Oração de São Francisco, seja as grandes composições da MPB ou boleros, que tanto admira. 4- nós do RN Natal, janeiro 2006 Suplemento CARLOS DE SOUZA E ra uma noite suave de sextafeira, do dia 20 de maio de 1988, precisamente 23 horas, quando o folclorista Gumercindo Saraiva disse adeus ao mundo que amava. Hoje pouca gente lembra daquele homem baixinho, simpático, com seu bigode fininho, postado por trás do balcão de sua loja de instrumentos musicais, na Avenida Rio Branco (onde hoje funciona o Sebo Vermelho). Mas seus livros desafiam o tempo e ainda clamam nas prateleiras para serem lidos novamente. De vez em quando um pesquisador pega um de seus volumes empoeirados numa biblioteca qualquer do país e ele vive novamente. O velho e bom Gumercindo Saraiva. Em sua coluna de domingo, dia 22 de maio de 1988, na Tribuna do Norte, o jornalista Woden Madruga descreveu assim o momento: “Acho que Gumercindo Saraiva morreu feliz. Ele estava feliz na noite de sexta-feira, cercado de amigos, artistas, escritores, músicos, o seu mundo intelectual, fazendo a coisa que gostava de fazer, que fez ao longo de seus 72 anos. Gumercindo acabara de tocar no seu velho violino três peças musicais, acompanhado pelos violões de Paulo Tito e Antônio Sete Cordas, aplaudido pelo público que ocupava o pátio interno da Fundação José Augusto na festa de lançamento de mais um número do jornal O Galo. Guardou o instrumento no estojo e se dirigiu para um grupo de amigos. Conversava com Racine Santos, Danilo Emerenciano e Jurandyr Navarro, quando tombou sem dizer uma palavra”. Gumercindo Saraiva era daquele tipo de pesquisador humilde, que quase sempre é relegado ao esquecimento nesta província do Rio Grande do Norte que adora as luzes da ribalta e detesta a dança das letras sobre as páginas impressas de um livro. Vejam o que diz Woden Madruga mais na frente em sua coluna daquele ano de 88: “O Rio Grande do Norte perdeu um de seus intelectuais mais sérios. A sua obra de pesquisa nos diversos campos da cultura popular é fantástica. Ricamente fantástica no valor que ela encerra, na riqueza de conhecimento, de informações. Um infatigável trabalhador intelectual, o Gumercindo, uma figura boa, simples, cordial. Um apaixonado da música. A essa arte dedicou quase toda a sua vida, como músico e como obreiro da música, presente em todos movimentos musicais que fizeram no Rio Grande do Norte nestes últimos 50 anos. Todos nós choramos sua ausência”. Assim era o homem Gumercindo Saraiva. Ocupava a cadeira de número seis da Academia Norte-RioGrandense de Letras, cujo patrono é Luiz Wanderley e a fundadora Carolina Wanderley, expoentes da cultura potiguar do início do século. Em sua fecunda vida de pesquisador produziu mais de 30 trabalhos, entre artigos, plaquetes, ensaios, etc. Os mais conhecidos: Adágios, Provérbios e Temas Musicais, Itatiaia Editora, R$ 15,00 e Gíria Brasileira (1988), Itatiaia Editora, R$ 20,00, ambos de prestígio nacional, que podem ser encontrados em livrarias, sebos e na internet. Bem como Trovadores Potiguares, Lendas do Brasil e Cantilena do Beco da Quarentena, que são mais difíceis e talvez só sejam encontrados em bibliotecas públicas ou de colecionadores. Todo o restante da obra de Gumercindo Saraiva aguarda publicação e reconhecimento. O editor Abimael Silva do Sebo Vermelho está preparando a edição de dois livros dele, dos anos 60: Trovadores Potiguares e A Modinha Norte-RioGrandense. Gumercindo Saraiva: infatigável trabalhador intelectual Musicólogo e folclorista No ano em que faleceu, Gumercindo Saraiva continuava produzindo como se fosse um jovem. Deixou dez livros prontos para a publicação. Quase todo domingo o leitor da Tribuna do Norte podia ler seus artigos sobre a influência do negro na música popular brasileira. Mais moderno impossível. No entanto, pouca gente houve falar nele hoje em dia. Intelectual autodidata, Gumercindo Saraiva compensava a falta de escolaridade com muito trabalho. Ele nasceu na Paraíba e se tornou musicólogo, folclorista, compositor, membro da Academia Norte-RioGrandense de Letras, da Academia Brasileira de História, além de ter feito parte de vários institutos históricos e geográficos do país. Era destacado também na área de Folclore, conhecimento que lhe rende ensaios e artigos na imprensa e revistas especializadas. Por ocasião de seu falecimento, vários amigos se pronunciaram a seu respeito. O presidente da Academia NorteRio-Grandese de Letras, Diógenes da Cunha Lima, disse: “Ele era freqüentador assíduo da Academia, sugeria muitas idéias. Era um pesquisador infatigável, não parava. Tudo que era da terra lhe interessava. Recentemente, se mostrava disposto a levantar uma pesquisa sobre a mulher do Rio Grande do Norte”. O amigo e acadêmico Nilson Patriota disse: “Como pessoa humana, ele era extraordinário”. O pesquisador Grácio Barbalho disse: “Eu freqüentemente me comunicava com ele, fazíamos perguntas recíprocas para chegar a um entendimento sobre a música popular. Gumercindo sempre foi um pesquisador atento, esmiuçado no nosso ofício”. De minha parte, vi muitas vezes Gumercindo Saraiva entrar na redação da Tribuna do Norte para entregar seu artigo semanal. Algumas vezes o caderno de Idéias já estava fechado e ele se aborrecia com o então editor Emanoel Barreto, que explicava, sempre com toda a paciência possível, que já não podia abrir espaço nas páginas que já haviam descido para a oficina. Na semana seguinte, Gumercindo voltava com toda a simpatia, como se não tivesse acontecido nada. Por causa de tal temperamento era querido e respeitado pelos colegas de redação. Na reportagem sobre seu falecimento o repórter lembra esse fato. Eu achava ele legal, mas não sabia de sua importância como hoje sei. Natal, janeiro 2006 Suplemento FOTO/ARQUIVO De volta a Natal, a consagração MARJORIE SALÚ MIRANDA SÁ o apagar das luzes do século XIX, em 1898, o músico e compositor Antonio Pedro Dantas, apelidado Tonheca Dantas ou simplesmente Tonheca, chegava à cidade do Natal para se submeter a um concurso para instrumentista da Banda do Batalhão de Segurança. Há contradições entre os pesquisadores, sobre a data do seu nascimento. Não há controvérsias, porém, sobre o seu valor artístico. Originário dos Dantas de Carnaúba, de família tradicionalmente ligada à música, iniciou-se tocando flauta e depois o clarinete, instrumento que o consagrou. Destacava-se no Seridó a arte musical, sempre presente nas concentrações das feiras e das festas sacras. Famílias inteiras dedicavamse à música e entre elas, os Dantas de Carnaúba. Como seus parentes, Tonheca encaminhou-se para a música e encarreirou-se na vida artística e fugiu do anonimato graças às modinhas, aos dobrados e valsas da sua lavra, conquistando uma vaga remunerada na Banda do Acari. Quando veio para a capital, aos 28 anos de idade, Tonheca já era um músico consumado, que na mais tenra infância se revelara habilidoso flautista, adotando depois o clarinete e tocando com desenvoltura quase todos os instrumentos de sopro, madeiras e metais. A Em Natal, conquistou a admiração dos colegas no concurso que prestou para mestre da Banda do Batalhão de Segurança, revelando a sua virtuosidade em quase todo instrumental da banda. Os examinadores surpreenderam-se com a sua versatilidade, conforme relata o historiador Cláudio Galvão: “O comandante Lins Caldas (que comandou a Polícia Militar de janeiro de 1895 a dezembro de 1913), chegou ao alojamento da Banda com mais alguns oficiais e chamou os candidatos. [...] Em seguida, foi a vez de Tonheca. O comandante lhe entregou uma partitura diferente da primeira e perguntou ao candidato qual instrumento iria escolher. – “qualquer um...” respondeu. “O senhor diga qual o que quer.” Os membros da comissão se entreolharam, surpresos com a audácia daquele sertanejo moreno e franzino, e resolveram pôr a prova seus conhecimentos mandando que fosse tocando a peça nos diversos instrumentos da Banda. Tonheca não teve dúvidas; pôs a música na estante e abriu a caixa da clarineta. Experimentou a palheta e tocou a peça sem hesitações. Depois, guardou o instrumento e apanhou um sax-tenor. Experimentou umas escalas e tocou. Deixando os instrumentos de palheta, pediu um trompete, instrumento de bocal, e tocou tudo com o mesmo desembaraço. Depois, foi a vez da flauta, instrumento de embocadura e afinação diferentes do que antes usara. Quando ia pedir um bombardino, os membros da comissão mandaram parar dizendo que já era suficiente.” nós do RN-5 Aventuras - O aventureirismo de Tonheca Dantas enlouquece os seus biógrafos. Estabelecido em Natal e já com 30 anos de idade, decidiu correr o mundo em busca de fortuna. Todos os conselhos orientavam-no a ir para o Rio de Janeiro, então capital da República, e em 1902, lhe foram dadas muitas cartas de recomendação de personalidades norte-riograndenses. Inexplicavelmente, em vez de ir para o Sul, vai para o Norte, com destino a Belém do Pará, em maio de 1903, depois de uma passagem pela Paraíba, onde também fez história. Segundo os cronistas da época, Belém era um dos centros culturais mais importantes do Brasil, principalmente no setor musical. O monumental Teatro da Paz, inaugurado em 1878, apresentava orquestras e companhias de ópera vindas diretamente da Europa, tendo o próprio maestro Carlos Gomes se exibido lá. O governo da Província incentivava as bandas militares. Sabendo que a Banda do Corpo de Bombeiros passava por uma reestruturação, Tonheca procurou seu regente. e sentou praça no mesmo ano da sua chegada ao Pará. Muito prestigiado como músico e compositor, manteve um razoável padrão de vida, e várias de suas composições, impressas na Alemanha, eram encontradas nas casas especializadas de Belém. Retornando do Pará, onde passou oito anos, Tonheca aportou em Natal em 1910 com novo casamento e renovada disposição para o trabalho, voltando à Banda Militar e atuando nos cinemas que surgiam, apresentando-se nas salas-deespera e acompanhando com improvisos os filmes mudos. O agitado período histórico em que Tonheca viveu e produziu as valsas que se eternizaram na memória do povo potiguar, registra os passos mais firmes da República Velha, a partir da eleição de Manoel Ferraz Campos Sales para a Presidência e os embates políticos da luta pelo poder no Rio Grande do Norte, pelas indicações dos cargos federais feitas na capital da República. Nesta época, a civilização vivia grandes mudanças, colhendo os frutos da Revolução Industrial e os efeitos da ideologia burguesa vitoriosa na Europa e nos Estados Unidos da América. A música foi, talvez, a expressão artística que mais se aproveitou dos benefícios da ciência moderna, divulgando-se e massificandose pelo rádio, reproduzindo-se e multiplicando-se pelo gravador e ideologizando-se pelo cinema. É deste mar que emerge a expressão mais tecnicamente elaborada da música nacional, a valsa brasileira, meio popular e meio clássica. Nasceu do romantismo, filha da chamada música-de-salão, um produto brasileiro por sua vez descendente da modinha imperial, que a corte do imperador Pedro II adotou e projetou. A valsa brasileira adquiriu o conceito respeitoso que consagrou Tonheca, cuja popularidade chegou aos dias de hoje, com surpreendentes aplausos de todas as camadas da sociedade norte-rio-grandense para as suas valsas. Para a consagração de Tonheca, não há uma orquestra, banda sinfônica ou conjunto musical no Rio Grande do Norte que não possua as partituras e não execute Royal Cinema, uma das composições que se tornou clássica. Nas retretas domingueiras e nas tocatas exclusivas, a valsa Royal Cinema agrada os ouvintes de todas as idades, sempre arrancando aplausos da platéia. Antonio Pedro Dantas – Tonheca, é um herói de três Estados: Rio Grande do Norte, Paraíba e Pará, onde distribuiu e consagrou as suas próprias composições. 6- nós do RN S e os Deuses e Deusas da Músi ca morassem no Rio Grande do Norte certamente respaldariam o projeto Seis & Meia, implantado em 1995, pelo Governo do Estado, via Fundação José Augusto, para divulgar o artista potiguar, além de proporcionar aos amantes da boa música shows com nomes consagrados da MPB. Na opinião de público e crítica, o Seis & Meia é o projeto musical mais importante da história do Estado. Ressaltese que a trajetória vitoriosa do Seis & Meia, nestes 10 anos, deve-se em parte à iniciativa privada, apoiadora do projeto desde os seus primórdios. Coordenador do Seis & Meia, no período de 1995 a 1998, o produtor cultural José Dias conta que o projeto já existia no Rio de Janeiro, idealizado pelo jornalista carioca Albino Pinheiro. Quando o Seis & Meia foi levado para Mossoró, a Petrobrás, apoiadora do projeto, exigiu a autorização de Albino Pinheiro. “Em Mossoró, o projeto passou a ser oficial; em Natal, não”, revela Dias. Pela contabilidade do coordenador, nos quatro anos que ficou à frente do Seis & Meia foram realizados 300 shows em Natal e 225 em Mossoró. Ele lembra com orgulho que o projeto lançou nomes como Antônio Nóbrega, Chico César, Daúde, Paulinho Moska, Renato Braz, Rita Ribeiro, Zeca Apoio aos artistas locais E assim se passaram dez anos. O atual coordenador do Seis & Meia, William Collier, um dos criadores do projeto, em dobradinha com José Dias, afirma que o seu rebento é o maior projeto de música do Brasil, em termos qualitativos, salientando que o grande diferencial é o viés cultural e artístico. Ele faz questão de lembrar que o Suplemento Natal, janeiro 2006 Baleiro, Cascabulho e Mestre Ambrósio. Para José Dias, o momento consagrador do Seis & Meia foi o show de Chico César com o Teatro Alberto Maranhão lotado. Menciona a apresentação de Renato Braz como outro momento supremo. O projeto também trouxe medalhões da MPB, notadamente Edu Lobo, Carlos Lyra, Dori Caymmi, Fagner, Geraldo Azevedo, Jamelão, Johnny Alf, Luiz Melodia, Nana Caymmi, Os Demônios da Garoa, Quarteto em Cy e MPB-4. “Eu devo o sucesso do Seis & Meia a Raimundo Fagner, que veio tocar duas sessões de graça, pela intervenção de Chico Miséria e Gaudêncio Torquato. Sem o gesto de Fagner a gente não estava nesse movimento musical que Natal está experimentando hoje”, assevera. Dias cita ainda os shows de Lane Cardoso, Galvão Filho e Isaque Galvão, todos no último ano de sua gestão, como os mais representativos do projeto em 1998. “Lane Cardoso disse que o grande momento que se sentiu artista foi quando participou do Seis & Meia”, declara o ex-chefe do núcleo de Música da FJA. Fazendo mea culpa, o produtor pede desculpas pelo tratamento discriminatório que emprestava ao artista local antes de assumir o Seis & Meia. Hoje, com o preconceito distante, ele comanda o Seaway Cultural, projeto voltado para a divulgação e valorização da música e do músico norte-rio-grandense. Depois da implantação do Seis & Meia, o panorama da música popular potiguar mudou radicalmente. Natal tem hoje 12 projetos relacionados à música, só ficando atrás de São Paulo no ranking das capitais brasileiras. O posicionamento profissional, a concepção dos shows e a facilidade tecnológica têm contribuído para essa florescência musical. Seis & Meia promove hoje intercâmbio com outras cidades nordestinas, como João Pessoa, Campina Grande e Recife, e é o que melhor remunera os artistas da cidade. “Os shows têm qualidade sonora excelente, realizados num teatro que tem toda uma acústica preparada para receber o artista. Quando eu falo maior é em todos os sentidos”, orgulha-se. Com a marca de aproximadamente 450 shows (produções) no Seis & Meia, Collier sonha com a interiorização do projeto, levando o Seis & Meia a cidades equipadas com teatro e que possam receber os artistas dignamente. Para isso, frisa, tem que haver o interesse da Prefeitura em firmar parceria com o Governo do Estado, por intermédio da Fundação José Augusto. O produtor arrisca dizer ainda, sem medo de desafinar, que os shows de Marina Elali/Agnaldo Rayol, Diogo Guanabara/Osvaldo Montenegro, Alceu Valença, Cama de Gato, Chico César, Moraes Moreira, Paulo Moura, Sivuca e Zeca Baleiro, merecem registro nos anais do projeto. “O Seis & Meia é uma vitrine. Nós temos cerca de 300 artistas locais inscritos para participar do projeto. O nosso critério contempla tanto o artista neófito quanto o veterano, que já tem história e estrada”, explica. Em que pese ter passado por algumas dificuldades de ordem financeira devido a atrasos no repasse da empre- sa patrocinadora, o Seis & Meia entra em seu 11o ano procurando manter-se vivo e renovado. Uma das soluções seria um plano de mídia mais arrojado, pois, conforme o coordenador, o Governo do Estado vem cumprindo a sua parte. “Para este ano, eu quero quebrar um pouco as regras do projeto e iniciá-lo com o Delicatto, um dos maiores grupos que eu já vi tocar em 15 anos de produção e que fechou o Seis & Meia no ano passado. Como atração nacional, penso na cantora Ângela Maria”, adianta o produtor cultural. Só resta desejar longa vida ao Seis & Meia. da música potiguar PAULO JORGE DUMARESQ Natal, janeiro 2006 nós do RN-7 Suplemento FOTO/GIOVANNI SÉRGIO anto de casa faz milagre? Nem sempre. A julgar pela pouca fé dos heréticos muitos santos têm que deixar o altar de sua morada e baixar em outra freguesia para provar, sim, que podem operar milagre distante de seu torrão. Com cantores, compositores e músicos norte-riograndenses não é diferente. O jeito é mesmo pegar a estrada para fazer sucesso. Quem pensa que são poucos os artistas locais que fazem fama e ganham notoriedade fora do Estado se engana redondamente. e d s o A prova está no n u n c o a catalogo i c s Dicionário da ara Apó tam , Câm q u e c o n a a Música do Rio s i u p e s q e r b e t e s istória d Grande do v h 600 os de otiguar n a Norte (Editora 0 10 ca p músi AMP, 2001, 654 p.), da pesquisadora Leide Câmara. Após cinco anos de pesquisa, Câmara catalogou 600 verbetes que contam 100 anos de história da música potiguar. Muitos artistas pesquisados chegam mesmo a ultrapassar as fronteiras do Brasil. Da música brega ao rock, da MPB ao clássico, passando pela música instrumental, o gênio potiguar no passado ou no presente deixa(ou) a sua marca por onde passa(ou). O Rio Grande do Norte deu ao país, por exemplo, o cantor romântico Gilliard e as divas Glorinha Oliveira e Núbia Lafayette. Numa linha mais popular ou brega, como queira o leitor, encontramos os cantores Bartô Galeno, Carlos Alexandre e Fernando Luís. Só para citar os mais conhecidos. Outro vasto campo para ser pesquisado é o da música instrumental. Que tal ouvir com atenção os acordes de Antônio Madureira (Quinteto Armorial e Quarteto Romançal), Antúlio Madureira, Henrique Brito (inventor do violão elétrico), Ivanildo (O Sax de Ouro), Joca Costa, KChimbinho, Mingo Araújo, e Sando (flautista do Quinteto Violado)? Na música erudita, sobressaem-se Aldo Parisot, Cussy de Almeida, Mário Tavares, Paulino Chaves, Oriano de Almeida e Waldemar de Almeida, entre outros. O brasileiro ou estrangeiro algum dia cantarolou canção de Ademilde Fonseca, Babal, Chico Antônio, Chico Elion, Cleudo Freire, Dosinho, Edinho Queiroz, Elino Julião, como Alforria, Cebola Ralada, Circuito Fernando Cascudo, Gilson de Macau Musical, Flor de Cactus, General (compositor de Casinha Branca), Junkie e O Surto também deram seu Hianto de Almeida, Leno (da dupla recado pelo país. Leno & Lilian), Lucinha Morena, Afirma Leide Câmara que Pedrinho Mendes, os músicos e compositores Terezinha rio-grandenses- do-norte de m ue ve ical q de Jesus e a maior relevância internacior b us ma o mória m 100 u mais É nal são Aldo Parisot, “ a me ecuperei r a r recentemenr t ” Mário Tavares, Paulino regis ado. Eu a no RN t c te João s i Chaves e Waldemar de d o E s da mús Batista, ara Almeida. O Dicionário ano m â eC Marina Elali e Leid da Música do Rio Roberta Sá. É Grande do Norte vem de bom tom não dar a conhecer às novas gerações esquecer a essas personalidades da música romanceira Dona Militana, potiguar e contribuir para tirar alguns abrindo passagem alhures e algures outros esquecidos da mídia do ostrapara a literatura oral do RN. cismo. “É uma obra que vem registrar Os trios são capítulo à parte. Procure a memória musical do Estado. Eu conhecer, caro leitor, os trios Inajá, recuperei 100 anos da música no RN”, Irakitan, Marayá e Mossoró. Bandas depõe a pesquisadora. (PJD) A pesquisadora Leide Câmara, autora do livro Dicionário da Música do Rio Grande do Norte nós do RN-8 Ademilde Ferreira Fonseca Delfim A “Rainha do Choro” nasceu em Macaíba. Seu primeiro disco, gravado pela Columbia, em 1942, alcançou grande sucesso e fez com que as pessoas cantarolassem nas ruas a letra alegre de “Tico-tico no fubá”, de Eurico Barreiros e música de Zequinha de Abreu. João Bosco e Aldir Blanc homenageiam a cantora com a música “Títulos de nobreza”. Na letra, os compositores usaram títulos de choros famosos gravados pela Rainha. Ademilde Fonseca é, merecidamente, conhecida em todo o País como a responsável pela popularização do chorinho com letra. Aldo Parisot Reconhecido como um dos maiores violoncelistas do mundo, o natalense Aldo Parisot tem-se revelado um artista dos mais completos, seja como solista, camerista ou recitalista e um excelente artista plástico, além de exímio professor. Iniciou os estudos aos oito anos de idade. Viveu e estudou no Rio de Janeiro. Foi o primeiro violoncelista da Orquestra Sinfônica Brasileira e solista das principais orquestras do mundo. Reside nos Estados Unidos e é professor titular da Universidade de Yale. Francisco Antônio Moreira Chico Antônio nasceu em Pedro Velho. Na juventude, foi levado a cantar para o escritor Mário de Andrade, que aproveitou o tempo fazendo o coquista cantar sem parar, anotando toadas e versos. E, para melhor gravar os cocos, ia tentando imitá-lo. A emoção do escritor é nítida no livro “O turista aprendiz”. Chico Suplemento Antônio cantou, venceu e fez escola, e seus cocos vêm sendo gravados por músicos da nova geração. O coquista figura entre os dez títulos do último lote de discos raros da coleção musical Itaú Cultural - Acervo Funarte. Claudomiro Batista de Oliveira O compositor, nascido em Augusto Severo, é considerado um carnavalesco de primeira linha, ao lado dos pernambucanos Capiba e Nelson Ferreira. Dosinho é também autor de samba-canção, músicas para campanhas publicitárias e políticas e hinos de clubes de futebol. Autor de vários sucessos carnavalescos, além de “Eu não vou, vão me levando”, música muito tocada nas rádios de todo o Brasil, na década de 1940, interpretada pela cantora Marlene. Nasceu em Macau e projetou-se musicalmente no Rio de Janeiro como cantor profissional com o apoio do irmão e parceiro Hianto de Almeida. Bonito e dono de voz privilegiada, fez sucesso na noite carioca e em Portugal, onde realizou temporada de quatro anos. Gravou vários discos pelo selo internacional Columbia, e sua parceria com Hianto, em várias composições, foram sucesso na voz de Dalva de Oliveira, Vera Lúcia e Cauby Peixoto. Hianto Ramalho de Almeida O precursor da bossa-nova também nasceu em Macau. No Rio de Janeiro, fez carreira musical. Compôs o samba “Meia luz”, em parceria com João Luiz, gravada, em 1952, por João Gilberto em seu primeiro disco. Como cantor, lançou, em 1955, um disco com direção, arranjos e acompanhamento de Tom Jobim e seu Henrique Brito conjunto. Foi o compositor mais gravado O gênio do violão nasceu em Natal, onde se revelou aos doze anos de idade, do Rio Grande do Norte por célebres intérpretes da música brasileira: Dalva solando peças difíceis numa corda só, em concerto realizado no Teatro Carlos de Oliveira e Roberto Inglez, Elizete Gomes (Teatro Alberto Maranhão). Em Cardoso, Cauby Peixoto, Pery Ribeiro, Marlene, Lúcio Alves, Maysa, Elza 1920, já estudando no Rio de Janeiro, recebeu o apelido de “Violão” pelos seus Soares, entre outros. colegas, entre eles, Carlos Alberto Sebastião Barros Ferreira Braga, o Braguinha (João de K-Ximbinho revelou-se um dos mais Barro), com quem integrou, no ano de importantes compositores de choros que 1928, o conjunto Flor do Tempo, mais sugeriam acompanhamento tipo bossatarde denominado de Bando de nova, e se destacou realizando o perfeito Tangarás, ao lado de Noel Rosa, Almicasamento entre o choro e os elementos rante e Alvinho. A Henrique Brito é harmônicos, originados do jazz. O mestre atribuída a invenção da violata e do do clarinete nasceu em Taipu, era violão elétrico e a introdução desse compositor, arranjador musical das instrumento no Brasil. gravadoras Odeon e Polydor, orquestrador da TV Globo e fez parte da Haroldo Ramalho de Almeida Orquestra Sinfônica Nacional. O famoso Rodrigues Natal, fevereiro 2006 nós do RN-5 choro “Sonoroso”, em parceria com Del Loro, foi sua primeira música gravada, em 1946, por Severino Araújo. Quase todos os grandes músicos do país têm no seu repertório “Sonoroso”. Gileno Osório Wanderley de Azevedo O compositor e intérprete natalense tornou-se conhecido nacionalmente quando fez dupla com Lilian Knapp, no Rio de Janeiro, onde reside. Com a cantora, gravou, entre outras, as músicas “Pobre menina” e “Devolva-me”, que foram sucesso na primeira fase da Jovem Guarda, na década de 1960. Depois da dupla desfeita, Leno seguiu carreira solo. Raul Seixas, parceiro musical de Leno, produziu um disco para o cantor potiguar. Mário Tavares O natalense Mário Tavares é membro efetivo da Academia Brasileira de Música e o mais autorizado intérprete da obra de Villa-Lobos. Violoncelista, regente trinta e oito anos da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e um dos maestros brasileiros que mais apresentou obras de autores nacionais dentro e fora do País. De suas composições, destaca-se o poema sinfônico-coral “Ganguzama”, que, na opinião de Francisco Mignone, é “a concepção brasileira mais genialmente composta depois da obra de VillaLobos”. Carlos Vasques Nasceu em Macau. Violonista, compositor e cantor, foi morar no Rio de Janeiro em 1897. Primeiro cantor potiguar a ter registro fonográfico. Natal, fevereiro 2006 Gravou, em 1908, o lundu “Olhar de santa”, pela Odeon. Nozinho era um dos seis cantores profissionais da Casa Edison, que fizeram sucesso no início do século XX. Foi um dos grandes intérpretes de Catulo da Paixão Cearense. Idenilde de Araújo Alves A cantora nasceu em Assu. Aos oito anos de idade, já morando no Rio de Janeiro, cantava no “Clube do Guri”, da extinta TV Tupi. Em 1959, gravou o seu primeiro disco com o nome de “Nilde de Araújo”. Assumiu o nome artístico de “Núbia Lafayette”. Em 1960, lançou seu primeiro disco, pelo selo RCA, no qual gravou os sambas “Devolvi” e “Nosso amargor”; depois vieram outros sucessos: “Casa e comida” e “Seria tão diferente”, que a consagraram no cenário nacional como cantora romântica. Oriano de Almeida Nasceu no Pará e adotou Natal como sua terra. O pianista, compositor, escritor, aos doze anos de idade, realizou o seu primeiro concerto na capital do RN. Fez turnês na Europa e Estados Unidos. Em Varsóvia, na Polônia, classificou-se como um dos dez maiores intérpretes de Frederic Chopin no mundo. Gravou a obra completa do compositor, em 1960, na Rádio MEC, e participou do programa O Céu é o Limite, na TV Tupi, em São Paulo, respondendo sobre a vida e obra de Chopin, ganhando o maior prêmio até então concedido na televisão brasileira. Paulino de Vasconcelos Chaves Pianista, compositor, regente, professor e membro da Academia Brasileira de Música. Nasceu em Natal, mas viveu Suplemento em Belém do Pará, Alemanha e Rio de Janeiro. Em 1914, formou, em Belém, uma escola para pianistas, que depois se aprimoravam na cidade alemã de Leipzig. Em 1908, marcou presença em Natal. Todo o repertório de Paulino Chaves era tocado sem partitura e o público não sabia o que mais admirar no genial pianista: se a técnica excelente ou a expressão empolgante, ou ainda, a memória prodigiosa”. na cidade de São Sebastião. Adotou o nome Terezinha de Jesus por sugestão de Abel Silva, Gravou cinco LPs e quatro compactos. Voltou a morar em Natal em 1995. Foi atração local do Projeto Seis e Meia, da Fundação José Augusto, no Teatro Alberto Maranhão, em julho de 1996, abrindo para Belchior; e para Dominguinhos, em 1997. Participou do Projeto Canto Geral, da TV Universitária. Paulo Peres Tito O natalense Paulo Tito é um monumento vivo da música potiguar, testemunho de gerações de músicos do Estado. A convite de Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi para o Rio de janeiro em 1954, onde trabalhou na Rádio Mayrink Veiga. Cantor e compositor, também atuou em diferentes atividades nas áreas de gravação de discos. Foi assistente de estúdio, coordenador, produtor e diretor musical, arranjador e regente. Paulo Tito tem músicas gravadas por Altemar Dutra, Elis Regina, Maysa Matarazzo, Augusto César, Banda do Almeidinha, Bergenaldo Wanderley, Carequinha, Carlos José, Cauby Peixoto, Julinho e seu conjunto, Os Cariocas, Os Infernais da Bossa, Papel Gomes, Perla, Pery Ribeiro, Zé Gonzaga, e pelo instrumentista e compositor Renato Tito, seu irmão. Tonheca Dantas Compositor, maestro, tocava vários instrumentos, nasceu em Carnaúba dos Dantas. Regeu bandas de música do interior do Estado, e em João Pessoa e Belém. Compôs valsas, dobrados, hinos e marchas. A célebre valsa Royal Cinema foi executada até pela orquestra da BBC, de Londres, na época da 2ª Guerra Mundial. Terezinha de Meneses Cruz Terezinha de Jesus nasceu em Florânia, no dia 3 de julho de 1951. Em busca do sucesso, foi morar no Rio de Janeiro, em 1972. Fagner, Morais Moreira, Gonzaguinha, Sueli Costa, Capinan foram seus amigos ao chegar Francisco Uriel Lourival O compositor e seresteiro natalense, filho do poeta Lourival Açucena, foi para o Rio de Janeiro, onde viveu e fez sucesso nas rodas de serenatas. Compôs “A ceguinha”, modinha gravada por Arthur Castro, em 1925, mas o sucesso veio em 1934 com a famosa valsa “Mimi”, gravada por Sílvio Caldas. Uriel compôs também “Céu moreno”, canção gravada em 1935 por Orlando Silva, e a valsa “Botão de rosa”, sucesso em 1937 na voz de Vicente Celestino. nós do RN-9 Gilliard Cordeiro Marinho O compositor e cantor romântico nasceu em Natal e ficou conhecido internacionalmente por meio da música “Aquela nuvem”, de sua autoria. No início da carreira, contou com o apoio do então radialista, e depois político, Carlos Alberto de Souza, e com ele assinou algumas parcerias. Na década de 1980, alcançou sucesso no eixo RioSão Paulo com músicas que foram temas de novelas da Rede Globo de Televisão, entre elas, Partido Alto, Pão Pão/Beijo Beijo, Plumas & Paetês. Waldemar de Almeida O compositor e maestro nasceu em Macau. Iniciou os estudos de piano em Natal, aperfeiçoou-se no Rio de Janeiro, Alemanha e França. Retornou a Natal, onde criou, em 1933, o Instituto de Música e a cadeira de Canto Orfeônico. Waldemar de Almeida fundou, em 1936, a revista Som – especializada em música – que se tornou bandeira do movimento desfraldado por Luís da Câmara Cascudo e Gumercindo Saraiva, em defesa e valorização da vida musical no Estado. É autor dos livros “Normas pianísticas”, “Do Recife a Varsóvia” e “Do Recife a Dallas”. (*) Fonte: Dicionário da Música do Rio Grande do Norte. Editora AMP. Ano: 2001. 654 p. Autora: Leide Câmara. 10- nós do RN Suplemento Natal, janeiro 2006 Apresentações de artistas famosos A princípio, a finalidade era cultivar a harmonia dos instrumentos de corda. Depois, passou a promover cursos, concertos e festivais, divulgando músicas de artistas famosos e dos compositores conterrâneos, congregando todos os meios para preservar as tradições folclóricas e para o desenvolvimento da arte musical potiguar. Seus integrantes se reuniam semanalmente e destes encontros fluíam as mais belas páginas musicais, clássicas e populares, com predominância, claro, do violão. Era composto por um número ilimitado de associados, sem distinção de nacionalidade, credo religioso, filosófico ou político, que se dividiam nas categorias de sócios efetivos, sócios honorários e sócios correspondentes. O Clube do Violão de Natal, sociedade civil sem fins lucrativos, foi fundado em 23 de junho de 1949, tendo entre seus inspiradores pessoas como Arnaldo José Pires, Veríssimo e Protásio Pinheiro de Melo, João Galvão de Oliveira Filho, José Dantas Emerenciano, Geraldo Bezerra de Melo, Sérgio Guedes, Guilherme Wanderlein e João Lucas Sobrinho. Dez anos depois da fundação, o clube passou pela primeira grande modifica- ção. Seus estatutos foram reformados, ampliando o leque de atuação da entidade, conforme decisão aprovada em assembléia geral em 20 de junho de 1959 e publicada no Diário Oficial do Município. Nessa época, também, foi reconhecido pela Câmara Municipal como “utilidade pública”. Durante muito tempo as reuniões foram realizadas na residência de Arnaldo José Pires. A solenidade de posse da diretoria que assumiu o controle do clube em 26 de junho de 1959, de acordo com o que foi registrado na coluna de música assinada por Jaime dos G. Wanderley no jornal Folha da tarde, ocorreu no Salão de Honra do Instituto de Música do Rio Grande do Norte, às 20 horas, contando com a presença de autoridades, jornalistas e famílias especialmente convidadas. Naquela oportunidade, discursou o historiador Luis da Câmara Cascudo e, após a saudação deste grande tribuno, houve a aula inaugural dos cursos de violão a cargo do professor pernambucano Júlio Moreira. FOTOS/ARQUIVO CARLOS FREDERICO CÂMARA SÓCIOS FUNDADORES ARNALDO JOSÉ PIRES VERÍSSIMO PINHEIRO DE MELO JOÃO GALVÃO DE OLIVEIRA FILHO JOSÉ DANTAS EMERENCIANO GERALDO BEZERRA DE MELO PROTÁSIO PINHEIRO DE MELO SÉRGIO GUEDES GUILERME WANDERLEIN JOÃO LUCAS SOBRINHO Empresário Advogado Empresário Empresário Dentista Bacharel Médico Funcionário Público Aposentado Funcionário Público Aposentado Genardo Lucas da Câmara (foto acima), sócio do clube, e a violonista argentina Maria Luíza Anido, com Protásio Melo, Arnaldo Pires e Milton Dantas O Clube do Violão de Natal promoveu apresentações de artistas famosos. A excepcional violonista argentina Maria Luiza Anido esteve várias vezes na capital realizando concertos musicais no Teatro Carlos Gomes, executando músicas clássicas de grandes gênios como Recuerdo de la Alhambra, de Francisco Tárrega, Adágio da Sonata ao Luar, de Beethoven, Courante e Bourrré, de Bach. Também trouxe à cidade o grande artista Lupércio Miranda, excepcional executante de bandolim. O Clube de Violão de Natal patrocinava os talentos locais. Por seu intermédio, por exemplo, o violonista potiguar autodidata Genardo Lucas da Câmara se apresentou no Teatro Carlos Gomes na noite de terça-feira, 12 de janeiro de 1954, em homenagem ao prefeito de Natal, Creso Bezerra de Melo. Nessa apresentação, para uma platéia selecionada, executou 22 músicas de grandes gênios como Francisco Tárrega, Beethoven, Schubert, Bach, Albeniz, Ernesto Nazareth e outros. O violonista Genardo Lucas da Câmara, em companhia de seu pai violonista João Lucas, também se apresentou ao comendador Luiz da Câmara Cascudo, na casa de veraneio deste, na praia de Areia Preta, numa bela manhã de domingo, onde executou belas páginas de música clássica, dentre as quais Capricho Árabe e Recuerdo de la Alhambra, de Francisco Tárrega, e Astúrias, de Isaac Albeniz. Esteve também presente, nesta ocasião, o jovem Fernando Luiz da Câmara Cascudo, filho do Comendador Luiz da Câmara Cascudo. O Clube do Violão promoveu um festival nos salões do América para angariar recursos para o violonista natalense Vivaldo Medeiros, filho do compositor Eduardo Medeiros, autor da consagrada “Praeira”, quando de sua partida para o sul do país. Todos os sócios e simpatizantes participaram do evento, destinado a ajudar na viagem do homenageado. Também promoveu várias apresentações na rádio Poti do violonista paraibano Milton Dantas, hóspede do violonista Arnaldo José Pires. Marcou época em Natal e inspirou o surgimento, décadas depois, de outras organizações similares, como o Clabom – Clube dos Amantes da Boa Música. O Clube do Violão de Natal vingou por mais de duas décadas e quem dele participou e ainda está vivo para contar a história, como Genardo Lucas da Câmara, guarda muitas e boas lembranças deste tempo. Natal, janeiro 2006 Suplemento falecimento, no Pará, do grande compositor paulista Antônio Carlos Gomes (autor da ópera “O Guarani”, e cujo nome foi o primitivo do atual Teatro Alberto Maranhão). O idealizador da poliantéia foi José A. de Viveiros. Com quatro páginas, a revista publicou os títulos das diversas óperas do compositor, além de artigos e poesias sobre ele. O jornalismo como elemento de divulgação da música mbora a música seja uma arte tão fluída e comunicativa em qualquer cultura, alguns representantes da informação jornalística sempre sentiram necessidade de criar órgãos específicos para divulgar a referida arte. Aqui, no Rio Grande do Norte, podese mencionar vários destes órgãos, relacionados à música por um determinado segmento específico, conforme mostra pesquisa realizada por Anchieta Fernandes. 1) Jornais e revistas norte-riograndenses dedicados à divulgação musical em geral: a) Euterpe – Com o nome homenageando a deusa grega da música, esta revista foi lançada em Natal no começo do século passado. Precisamente em setembro de 1908. Era o tempo das associações que se denominavam grêmios. Tinha os grêmios literários natalenses, mas existia também em Natal, em 1908, o Grêmio Recreativo e Musical, responsável pela revista Euterpe. Era dirigida por Aníbal Cocunás, tendo como redatores Tertuliano de Brito, Antonio de Sousa e João Damasceno (do 2o Batalhão de Infantaria). b) Som – Esta revista foi lançada em Natal, em 1936, como órgão da Sociedade de Cultura Musical do Rio Grande do Norte (que fora fundada na capital do Estado, a 04 de junho de 1936, tendo como seu primeiro presidente o então Bispo de Natal, Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas). O primeiro número circulou a 11 de julho de 1936, sob a orientação de Luís da Câmara Cascudo e do maestro Waldemar de Almeida. Especializada em música, seus artigos nós do RN-11 b) Jornal do Fã-Clube Netinho Pra Sempre Eu Vou Te Amar – Jornalzinho do fã-clube natalense do cantor baiano Netinho, que tem sido um dos destaques do Carnatal (o carnaval natalense fora de época). Publica a Discografia e a Agenda das atividades do cantor em todo o Brasil. Elaborado pela turminha de fãs (Ana, que é a presidente; Joseane, Adriano, Arlene, Rogério, Lívia, Abmael, Ana Karla, Salete, Luiz e Ozilene), o jornal foi lançado em Natal em 2000. Jornal informativo do Sebo Balalaika diziam respeito à referida arte. Circulou até o ano de 1948. c) Chico Folia – Ao preço de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) cada número, com doze páginas, esta revista foi lançada em Natal, em 1960, para divulgar frevos, sambas e marchas para o carnaval natalense do referido ano. d) Trench – Fanzine de rock natalense, editado por Rodrigo Hammer e Carlos Henrique Leiros. O primeiro exemplar circulou em 1988. De visual sofisticado, bem diagramado, programação dinâmica no feitio gráfico, valeu também pela capacidade crítica do jornalista, fotógrafo, publicitário e estudioso de música Rodrigo Hammer em atualizar o aficcionado do gênero em Natal. Circularam cerca de 14 números; que eram entregues ao leitor, cuidadosamente protegidos em sacos plásticos. Os mesmos editores de “Trench” lançaram em 2003, em Natal, o jornal “The Brotherhood of Poison”, com comentários sobre o “lado negro do Rock’n’Roll.” e) Automatic – Em junho de 1998, começou a circular em Natal este fanzine, dedicado à música pop, internacional, nacional e norte-riograndense. f) Hangar – A 15 de dezembro de 1999, esta revista foi lançada em Natal, dedicando-se principalmente à divulgação de músicos e bandas natalenses. Na capa do primeiro número, a banda General Junkie. Editada por Marcelo Veni, tendo Paulo Augusto como jornalista responsável; Alessandra Galvão aparece como repórter (sendo também a redatora do primeiro Editorial); Venâncio Pinheiro como responsável pelo design gráfico e Alexandro Gurgel pela diagramação. Impressa pela editora da UFRN, teve no primeiro número tiragem de 1001 exemplares, distribuídos gratuitamente em vários locais da capital norteriograndense. 2) Jornais e revistas norte-riograndenses dedicados a músicos, individualmente: a) Carlos Gomes – Revista no formato poliantéia (sai uma única vez, geralmente homenageando uma figura falecida), lançada em Natal a 17 de outubro de 1896, um mês depois do 3) Jornais com nomes de ritmos musicais: a) O Frevo – Órgão carnavalesco, “meio sério..meio risão”, circulou em Natal, sempre no período do tríduo momesco, de 1939 a 1942. Tinha como diretores Gomes Sobrinho, Diniz D. Pípolo e Galhardo Gomes. b) E Tome Polca – Na Base Aérea de Parnamirim, circulavam jornaizinhos feitos pelos militares. Este “E Tome Polca” circulou entre a oficialidade da base no ano de 1959. A inclusão da música de origem tcheca no título é talvez porque os oficiais da base tinham, ainda em 1959, a nostalgia dos seus colegas de farda americanos, que trouxeram a música e a forma de dançá-la para cassinos natalenses durante a época da segunda guerra mundial. 4) Jornais e revistas com nomes de instrumentos musicais (não são propriamente dedicados à música, apenas usando o nome do instrumento como título): a) Balalaika – Informativo cultural do sebo natalense de igual nome, organizado por Severino Ramos e Antônio Carlos Pereira. Tendo como editor Luciano de Almeida, o jornal foi lançado em Junho de 1997. 12- nós do RN Natal, janeiro 2006 Suplemento ANCHIETA FERNANDES P O natalense Henrique Brito (acima) fazia música em parceria com Noel Rosa Maria Alcina (abaixo) se apresentou com uma roupa que trazia poema do natalense Marcos Silva ouca gente sabe, mas o inventor do violão elétrico (que atualmente é mais conhecido, em seu formato contemporâneo, com o nome de guitarra elétrica) foi um norte-rio-grandense. Segundo o radialista carioca Almirante, em seu livro “No Tempo de Noel Rosa” (1951), o instrumentista natalense Henrique Brito, após uma viagem aos Estados Unidos, “de volta ao Rio, exibiu o primeiro violão elétrico que se conheceu por aqui, indiscutivelmente uma invenção sua. Desde 1929, mostrava-se insatisfeito com o pequeno som dos violões comuns. O advento do cinema falado deulhe a idéia de adaptar um ampliador ao seu instrumento, mas, apesar de sugerida a novidade a vários técnicos brasileiros, nenhum lhe deu importância. Em sua permanência nos Estados Unidos, Brito, um dia, expôs sua idéia a um fabricante de instrumentos, na cidade de São Francisco. O industrial aproveitou-se da idéia, registrou-a e construiu o primeiro violão elétrico, dando-o de presente a Henrique Brito que, se tivesse a patente do instrumento, teria ganho rios de dinheiro. A idéia de juntar à eletricidade a percussão de instrumentos musicais evoluiu até à vanguarda da música eletrônica, quando o alemão Karlheins Stockausen fundou em Colônia, em 1950, seu famoso estúdio de pesquisas. É na compreensão destas e de outras realidades da cultura contemporânea que o Poema/Processo apareceu no Brasil, com a primeira exposição inaugurada em Natal em dezembro de 1967. O Poema/Processo não se marginalizou na música, mas englobou-a dentro do seu operatório, como componente social/ informacional de um mundo novo, a exigir respostas novas, através de processos inventivos desencadeadores. Na “Proposição” com que o movimento se apresentou ao público da primeira exposição, havia dois itens sintomáticos: a) ruído (industrial) levado à categoria de música; b) computador eletrônico como pesquisa musical. Não é o caso de dizer se a música/processo é um título a mais a acrescentar aos que já existem: música concreta, eletrônica, eletroacústica, serialística, dodecafônica, aleatória etc., porque, ao invés de todas estas pesquisas, levadas no contexto da tecnologia em progresso, o Poema/Processo pode fazer-se funcionar atualizando a lógica ou a consciência do uso delas. Simultaneidade sonora A esse respeito é que o poeta/ processo natalense Frederico Marcos se preocupou em criar a música/processo, trabalhando a microfonia e atingindo o que ele chamou de simultaneidade sonora: “o efeito da microfonia é produzido exatamente por uma superposição de canais: os dois canais – o microfone e o alto-falante – deixam de existir nas suas funções estatísticas, para se unirem numa simultaneidade sonora.” No ensaio “Do Verso ao Poema/Processo: a Vanguarda no Rio Grande do Norte”, Moacy Cirne explicou bem o que poderá ser o caminho dos que se interessarem por esta pesquisa da música/ processo: “No campo da música, Frederico Marcos pretendeu organizar uma nova área de possibilidades sonoras: a) obtendo/captando – ou gravando – ruídos através de processos eletroacústicos e fonomecânicos; b) criando – ou obtendo – novos sons/ ruídos partindo dos ruídos existentes com a utilização de processos técnicos novos e exclusivos: criação de novo processo de captar/inventar sons; c) adaptando ao som as teorias do Poema/Processo (visual), inclusive – em alguns casos – exigindo a participação do consumidor/ouvinte. A música/processo não pretende ser poema fônico: as coordenadas operatórias são diferentes. Os poemas/processos sonoros (neste caso poemas fônicos), que permitam versões gráficas ou materiais, serão trabalhados na etapa seguinte de sua evolução criativa. Trata-se, pois, de projetos sonoros.” Se as possibilidades eletrônicas de produção de som (sintetizadores, geradores de áudio, filtros polifônicos) acabaram com a prioridade dos instrumentos de produção mecânica da música tradicional; se hoje, com a técnica da superdublagem (superposição na fita de gravação de duas ou mais camadas de som) é possível obter, com um só instrumento, o efeito de dois ou mais instrumentos ou quartetos de uma só voz; se o som hoje, nos estúdios de gravação, é cortado, emendado novamente, acelerado, reverberado – então toda esta nova realidade possibilita igualmente novos processos. Até mesmo como novos modelos de execução de um espetáculo musical, de um show. Durante um festival de música em Muriaé, no estado de Minas Gerais, a cantora Maria Alcina, propondo-se a um “envolver total”, foi durante a cena arrancando palavras, ruídos, sons; desnivelando os instrumentos e tomando posições corporais em relação ao desenvolvimento da música. O importante, além do mais, é que ela vestia uma roupa trazendo ao centro um poema/processo do poeta e historiador natalense Marcos Silva, e isto contribuiu como elemento informacional para o conjunto do espetáculo. Natal, janeiro 2006 Suplemento Uma “Praieira” à beira de um ataque de nervos A Câmara Municipal do Natal aprovou requerimento do vereador Antônio Félix, decretando, em razão da popularidade e essência de seus versos, todos eles inspirados em motivos tipicamente natalenses, a famosa canção popular como Canção Tradicional da Cidade. 121a. sessão da Câmara Municipal e publicado no Diário Oficial, de 11 de janeiro de 1972 CARLOS s poetas, em seus rompantes e relampejantes descontentamentos da criação artística, fragilizam-se a ponto de exporem seus retalhos de obrasprimas em incandescência à carbonização. Otoniel Menezes, na fogosidade buliçosa dos seus 27 anos de idade, em meio à travessia emblemática da nossa tumultuada vida política e envolvido pelo arrastão da fervilhância cultural centenáriomodernista de 1922, quase destrói a canção “Serenata do Pescador”, transformada em “Praieira dos meus amores” e ungida, oficial e popularmente, à condição única de musa músico-poética de Natal. Naquele outubro de 1922, Natal se alvoroçava com o terremoto provocado por 12 humildes pescadores que, nos barcos Íris, comandado pelo mestre Francisco Candido de Oliveira, no Pinta, sobre a mestrança de Manuel Claudino da Silva, e no República, com Filadelfo Tomás Marinho no comando, navegando num reide marítimo. Os jangadeiros, partindo de Natal, em 27 de agosto, chegaram ao Rio de Janeiro a 20 de setembro, sendo alvos de uma ruidosa acolhida que empolgou até o veterano Rui Barbosa, que ensaiou uma proclamação, bradando: “Salve, bravos jangadeiros do Norte”, usando a licença poética fluídica que metamorfoseava as embarcações e desmembrava o território nordestino. O desembarque dos pescadores, na tarde de 19 de outubro, chacoalhava a O MORAIS cidade, em êxtase, e com homenagens a toda hora, desalinhando mesmo o sisudo governador Antonio de Souza, mestre de cerimônia das promoções festivas do centenário da indepen- dência. Otoniel, numa noitada boêmia com outros companheiros, aproveitava o clima fluvi-telúrico do “sussurro das ondas do Potengi” no Passo da Pátria, às margens plácidas do memorável rio que acalanta Natal. Ali, ouvindo o suave cantar do “sussurro das ondas do Potengi amado”, compôs os versos pioneiros de seu salgado poema de doce e ingênua ternura, em regozijo pela façanhuda ousadia dos destemidos pescadores. Nele, devaneou o sempre retorno incerto e imponderável das desgastantes ocupações de mareação daqueles seres sofridos que, iria cantar, em louvação de bem-aventurança e amorosidade, à janela da amada, a praieira dos seus amores. E, ao final da farra etilírica, o poeta, na noite de 18 para 19 de outubro, véspera do retorno dos trabalhadores marinhos que se converteram em “heróis do mar”, o rigoroso poeta sentiu o travo amargo da incompletude do produto final da lavradura poética. Mais tarde, ao acordar, ainda engulhava sua insatisfação e cascavilhava o papel com os rabiscos da poesia da madrugada, solicitada para ser declamada, juntamente com os poetas Bezerra Júnior e Edinor Avelino, durante as homenagens previstas. Leu, releu, emendou, Otoniel Menezes: autor de Praieira copidescou e, mesmo assim, indispôsse com seus escritos. Sua apreciação era de que, a forma estética não se encaixava no desejado para exprimir o momento. Fantasiava a criação de versos entusiásticos, enaltecedores da heróica maratona marinha, temperada com versos insinuantes da bravura e destemor. Decididamente, aquele esparramado na noitada, com suas tintas essencialmente românticas, não o deleitava. Irritadiço, pensou, num primeiro instante, em rasgar, espedaçar e esquecer aquele sentimento de vazio poético-existencial. E, logo depois, na tarde calorenta, enquanto os pescadores desembarcavam e toda a cidade debandava em carros, bondes, ônibus, a pé, convergindo para a ribeira, numa majestosa confraternização homenageatória aglomerava-se, em carroças, para a Ribeira, o poeta suava, no meio da multidão, enquanto aguardava o seu momento de declamar sua criação. Comentou, então, com o amigo Bezerra Júnior, poeta mais experiente e a quem mostrara sua indigesta composição, ter decidido que, ao invés da “Serenata do Pescador”, nós do RN-13 declamaria “Cântico da Vitória”, considerável mais conveniente para a ocasião. Daí porque a “Serenata do Pescador” hibernou até a noite de 16 de dezembro de 1922, quando recebeu uma exuberante homenagem, no Teatro Carlos Gomes, no “Festival do poeta Otoniel Menezes”, em que aquela canção recebeu interpretação, em caráter oficial, para uma ruidosa platéia que lotava as dependências do então teatro Carlos Gomes, na Ribeira, que assistiu a uma programação dividida em três partes, durante as quais se apresentaram a elite na música e poesia da cidade. No primeiro segmento: a canção Sob as Mangueiras, musicada por Carmino Romano dos versos de Otoniel Menezes. o garoto Genar Wanderley, calouro que se tornaria um dos primeiros locutores da radiofonia norte-rio-grandense, destacou-se na progra- mação da segunda parte, na declamação dos versos de Pindorama, outra peça da ourivesaria poética do homenageado da noite. O futuroso artista conquistou, com ela, a medalha de ouro de um concurso das festividades lítero-cívicas, patrocinadas pelo governador Antonio de Souza, durante o centenário. A “Serenata do Pescador”, batizada pela tradição de “Praieira’, dessa maneira, despertou para o sucesso nesta exibição pública pioneira, no encerramento do festival otonieliano, na voz do amigo Deolindo Silva, outro conhecido poeta boêmio dos tempos de Otoniel Menezes. Circulou uma informação que o jovem cantor, de 15 anos, Afonso Santos Lima teria sido, na realidade, o primeiro a cantá-la. Uma possibilidade, em situação oficial, descartada pelo pesquisador Cláudio Galvão, uma das autoridades em se tratando do poeta, juntamente com Laélio Menezes, filho de Otoniel e que prepara o mais substancioso trabalho sobre a obra e vida do pai. O pesquisador até admite que Santos Lima teria sido um dos primeiro intérpretes da “Serenata do Pescador, pois a música circulou pela cidade, antes da exibição oficial. Mas, certamente, apenas durante reunião de amigos, em alguma noitada seresteira. 14- nós do RN Suplemento Natal, janeiro 2006 CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 13 No caminho da “Praieira” surgiu uma música desfile peregrinava pela frente das sedes dos clubes náuticos, Sport e Centro Náutico, na rua do Comércio (hoje Chile), e demorava-se nelas para ouvir, recitados por Edinor Avelino e Otoniel, os discursos cívico-poéticos que saudavam a odisséia marítima dos pescadores. Bezerra Júnior aproveitou o contato para conversar sobre a poesia, que não satisfazia a Otoniel, e, contrariamente, elogiou os versos, embora ponderasse que não se encaixavam bem numa cerimônia de saudação daquela natureza. Sugeriu, então, numa afortunada premonição, que ganhariam mais encantamento caso fossem musicados, para ganhar uma transformação músico-poética. Ofereceu-se, prazerosamente, para levar os versos ao seu amigo Eduardo Medeiros, musicista de alguns de seus poemas, residente nas imediações. Otoniel, satisfeito com a sugestão, decidiu acompanhá-lo até o número 13 de uma modesta casa da rua “Rocas de Dentro” (atual Pereira Simões), residência do veterano musicista de 35 anos de idade. Medeiros, remanchão e pecuniário, entocou o pedido, ao ser entregue por familiares, quando retornou à sua residência. Um mês depois, ao encontrar-se com Bezerra Júnior, Otoniel Menezes comentou sobre o não aparecimento de Eduardo Medeiros. O poeta curraisnovense ponderou que a sacrificada situação do músico, um profissional num meio não valorizado, pecuniariamente. O poeta, funcionário público estadual, desculpou-se pela desatenção, e envelopou uma nota de 20 mil réis e despachou um contínuo do Palácio do Governo para levá-lo até à residência do músico. Eduardo, logo na manhã seguinte, batia à porta de Otoniel Menezes, e mostrava seu trabalho pronto, na ponta da língua, dedilhando seu violão que trouxera a tiracolo. E, depois de cantar a melodia, rapidamente criada, explicou ter se apropriado, durante a composição da música, de um “velho fado”. Assim, a “Praieira”ganhava um parceiro e uma sua produção musical, ressaltada, em uma nota de rodapé, à página 51 de seu “Jardim Tropical” e logo abaixo dos seus versos, onde Otoniel valoriza o trabalho de Eduardo Medeiros, o “inspirado musicista” que “pelo seu talento” conseguiu valorizar os versos de seu poema, ao criar um ‘lindíssimo fado que a cidade repete nas serenatas ou nos salões da aristocracia, de bairro a bairro”. (CM) Eduardo Medeiros valorizou os versos de Otoniel Menezes (nome de rua no bairro de Santo Reis) ao musicar Praieira, um lindíssimo fado que passou a ser tocado nas serenatas e salões da aristocracia Natal, janeiro 2006 Suplemento nós do RN-15 FOTO/ARQUIVO CARLA XAVIER O Rio Grande do Norte não é só a terra de grandes poetas ou do turismo. O lirismo e a beleza do litoral potiguar não inspiram apenas escritores; também serve de combustível para talentos musicais. Vozes graves ou aveludadas, ritmos variados, estilos diversos revelam a qualidade musical dos artistas que aqui vivem e permitem afirmar que a boa música é mais uma riqueza do “Estado PapaJerimum”. Mesmo assim, nem todas as portas foram abertas para a boa música norte-rio-grandense. Nos últimos anos, o surgimento de novos espaços proporcionou novas oportunidades. Projetos culturais como Cosern Musical, Prêmio Hangar, Seaway Cultural e outros festivais têm dado oportunidades para que os artistas apresentem seus shows, alcançando um público fora dos barzinhos. A cantora Lene Macedo começou sua carreira há sete anos e, de lá para cá, acha que houve uma melhora significativa de novos cenários para se apresentar. “Novos locais vem surgindo e isso tem contribuído para que os artistas se destaquem e obtenham reconhecimento. As coisas estão acontecendo aos poucos, mas ainda falta incentivo”, afirma. O Shopping Seaway desde 2004 vem desenvolvendo um projeto cultural com artistas da terra. O Seaway Cultural, como é conhecido, se destaca por abrir as portas para o artista potiguar e, principalmente, por se propor a criar um público consumidor de cultura. O produtor cultural do projeto, José Dias, ressalta o bom momento que vive a música do Estado e a necessidade de con- solidação da mesma, creditando a isso iniciativas como o 1º Festival da Música Instrumental do RN, que serviu para apresentar o talento dos bons músicos do Estado. As apresentações no shopping ocorrem de quinta-feira a domingo. A Casa da Ribeira, aberta em 2001, também se apresenta como mais um abrigo para a cultura do artista potiguar. A Casa oferece a Sala Cosern de Teatro, com 160 lugares, onde desenvolve, além de espetáculos teatrais, shows musicais. Entre os diversos projetos acolhidos no espaço, merece destaque o Cosern Musical. O projeto, que é regido pela Lei de Incentivo Câmara Cascudo do Governo do Estado, se propõe a incentivar a música do artista potiguar. “A importância desse projeto está na oportunidade que nos é dada para montarmos o nosso show, com cenário, figurino, iluminação, performance, músicos, nosso repertório, enfim, mostrarmos a nossa cara”, destaca a cantora mineira, que há três anos vive em Natal, Luciane Antunes. Os organizadores do Cosern Musical destacam também o trabalho de mídia, o que ajuda na “popularização” do artista. O bairro da Ribeira também é endereço do Itajubartes, localizado na antiga morada do poeta Ferreira Itajubá, na rua Chile. O novo espaço também tem como proposta incentivar a cultura norte-riograndense. “Um dos nossos propósitos é oferecer um palco para que o talento do músico potiguar aflore e que o público aprecie a boa música”, destaca o ator Beto Vieira, um dos organizadores do local. Quem pensa que um salão de beleza é local apenas para tesouras, escovas e esmaltes engana-se. O Nalva Salão Café, também na Ribeira, abriu suas portas com uma proposta diferente e inovadora. Além dos serviços de salão de beleza, Nalva oferece um café com apresentações de artistas locais todas as segundas-feiras. Importância dos festivais Festivais como os dois que ocorreram na Praia do Meio (2003/ 2004 e 2004/2005); o da Igreja de Ponta Negra, que ocorre todos os anos; o Prêmio Hangar, que há sete anos elege os melhores artistas da terra, são fundamentais para a consolidação da música potiguar. Mas é unanimidade entre a classe a constatação de que ainda falta muito. “Natal tem público, tem espaço e tem empresários que podem investir. O que falta é vontade de fazer”, destaca Luciane Antunes. Para os artistas viverem de música em Natal precisam trabalhar em bares, festas particulares e outros eventos. “Se fossemos viver apenas de shows, não seria possível, porque o gasto é muito com cenário, contratar bons músicos, equipamentos, figurino e tantas outras coisas necessárias para uma boa apresentação”, afirma Jô, companheiro de trabalho e esposo de Lene Macedo. O casal, assim como Luciane Antunes, conseguiu Itajubar, local onde novos artistas, como Luciane Antunes, passaram a se apresentar aprovar projetos para gravação de seus CD´s, mas ainda esbarra na falta de patrocínio. O cachê é outro problema. Alguns músicos conseguem nivelar um preço para suas apresentações, outros sofrem com o pouco que é oferecido. Mas, a principal reclamação nesse sentido diz respeito à demora no pagamento. Mesmo com as dificuldades, a classe musical destaca que mais importante que a necessidade capitalista é poder apresentar seus trabalhos e obter o reconhecimento do público. Os talentos que aqui vivem, como Lene e Jô, Luciane Antunes, Michele Lima, Diego Brasil, Pedrinho Mendes, Ivan do Monte, Roberta Karina, Marcondes Brasil, Simona Talma, Luís Gadelha, Valeria Oliveira, Dário Nascimento, João e Alan, Hélio Ferreira, Paulo Porfírio, Kelly Rocha, Ricardo Wanamarque, Fadja Lorena e tantos outros nomes continuam a oferecer algo que não tem preço: a arte. “E arte não se julga, não se compra, cada um tem o seu talento”, como diz Jô. Natal - Janeiro de 2006 Suplemento 16 .................................................................................................................................................................................. Ontem, o bolero do Irakitan; hoje, a salsa do Camba O Rio Grande do Norte tem sido um solo fértil para o surgimento de grupos musicais. Ontem e hoje. Os mais antigos ainda devem lembrar dos acordes que fluíam dos palcos onde pisaram, no passado, os Vocalistas Potiguares (1941/49), Ases da Lua (1945/48), Trio Irapuru (1951/54), Trio Marayá (1954/75), Trio Os Rouxinós, Trio Hawai (!957/95), Trio Inajá (1958/1998), Trio Menura (1963/80), Trio Ipanema (1963/71), Trio Cigano (1976/93) e Trio Irakitan (1950). Os mais jovens ainda se remexem ao som de grupos como Alforria e Camba. Entre todos talvez o que tenha feito mais sucesso fora da aldeia potiguar tenha sido o Trio Irakitan, cuja formação inicial, a partir de 1950, contava com Paulo Gilvan Duarte Bezerril (afochê), Edson Reis de França, “Edinho” (violão), João Manoel de Araújo Costa Neto, “Joãozinho” (tantã). Destes, apenas Paulo Gilvan ficou até os dias atuais, ainda atuando com este grupo no eixo Rio-São Paulo. Segundo Manoel Procópio de Moura Júnior, no livro Tributo aos Conjuntos Vocais do Rio Grande do Norte, a história do Trio Irakitan começou a ser escrita ainda na Rádio Poti, onde Gilvan, Edinho e Joãozinho se apresentavam individualmente, no final da década de 40, no programa reservado à Sociedade Artística Estudantil. A ascensão do trio aconteceu aos poucos: da Rádio Clube de Pernambuco para uma temporada no Maranhão; de uma excursão pelo Piauí, Paraíba, Ceará, Amazonas e Acre para as Guianas Inglesa e Holandesa, Ilha de Trinidad, Tobago, Venezuela, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, até atingir a cidade do México, onde conquistou a consagração. “Este Conjunto Vocal, reconhecido como um dos melhores do mundo, já tendo percorrido todos os Estados brasileiros, com respeitável know how internacional, participou de um filme intitulado ´levame em tus brazos´, ao lado da bela vedete Ninon Sevilha, onde interpretou as músicas Banzo, de Hekel Tavares e Murilo Araújo, e O Vento, de Dourival Caymmi”, conta Procópio de Moura Júnior. O trio participou de outros filmes musicais e se destacou ao lado de cantores internacionais como Nat King Cole, Sammy Davis Jr. e Edit Piaff. Gravou mais de 50 discos, em toda sua trajetória artística, fazendo escola e influenciando outros grupos musicais do Rio Grande do Norte, como Trio Inajá e Mui Yrapuan, no passado, e servindo de inspiração aos modernos, como Camba, que interpreta ritmos caribenhos como a salsa, merengue e rumba. Muito recentemente os remanescentes do Trio Marayá (Bering Leiros e Hilton Acioli, no caso, pois Marconi Campos já faleceu) se apresentaram em Natal para comemorar os 40 anos em que se exibiram no Festival da TV Recorde, acompanhando Jair Rodrigues na interpretação de Disparada, de Geraldo Vandré, com a qual obtiveram o primeiro lugar. Este grupo, a exemplo do Irakitan, também teve projeção internacional. Os saudosistas podem até lamentar os tempos que se foram, e com eles os sucessos que eram tocados antigamente por estes grupos, mas as novas gerações não. Alforria, Perfume de Gardênia, Camba e Três no Tom, entre outros, estão ocupando os palcos e formando platéias neste momento. Como também há, hoje, grandes músicos que atuam ora acompanhando um artista ora outro, seja conterrâneo ou de fama nacional, sem necessariamente formarem, eles mesmos, um grupo específico. Carlinhos Moreno (violão), Nemias Lopes e Beethoven (saxofone), Manoca (guitarra), Júnior Primata (baixista), Gilberto Cabral (trombone) e Carlos Zen (flauta). Só pra citar alguns. Carlos Zen, na solenidade de comemoração dos 50 anos da Emater, na sede da empresa, no final do ano passado, encantou a todos, incluindo a governadora Wilma de Faria e o representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, tocando o Hino Nacional com sua flauta. O trombonista Gilberto Cabral, da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, depois de ter gravado/tocado com gente como Alceu Valença, Bibi Ferreira, Caubi Peixoto, Edu Lobo e Cidade Negra, entre outros, e integrado a Banda Alforria e Camba, onde ainda atua, gravou seu próprio CD solo, “Musa”, com o reconhecimento da crítica. Exemplo de talento e virtuosismo, como tantos outros músicos, citados ou não aqui, da nova geração. (Moura Neto)