UNISAL AILEN ROSE BALOG DE LIMA METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL: FAZENDO DA DOCÊNCIA UMA ARTE AMERICANA 2010 UNISAL AILEN ROSE BALOG DE LIMA METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL: FAZENDO DA DOCÊNCIA UMA ARTE Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano, sob a orientação da Profª. Dra. Norma Silvia Trindade de Lima. AMERICANA 2010 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profª. Drª. Norma Silvia Trindade de Lima Orientadora UNISAL _______________________________________________ Prof. Dr. Jetro Meira de Oliveira Membro Externo UNASP ________________________________________________ Prof. Dr. Luís Antônio Groppo UNISAL Dissertação defendida e aprovada em _______________ de 2010 RESUMO O presente trabalho surgiu da observação do quadro da educação musical no contexto escolar, associada à proposição da sistematização de uma metodologia de ensino para futuros professores de educação musical, com o propósito de auxiliar a docência musical na sua fase inicial, tornando a prática mais sequencial e prazerosa, contribuindo assim para uma ressignificação do trabalho musical. Para tanto, foi feito um levantamento do caminho historicamente percorrido pelo ensino de música na educação brasileira, desde seu surgimento, passando pelas reformulações feitas ao longo dos séculos e à luz dos dispositivos legais criados para sustentá-las. Em continuidade à pesquisa são apresentados os conceitos com detalhes das concepções da educação musical como ensino-aprendizagem a partir dos estudos feitos pelos educadores. É feita ainda a apresentação dos principais educadores musicais do século XX e especificamente alguns educadores no Brasil, que contribuíram e influenciaram a construção do que hoje se entende por educação musical. Para finalizar foi apresentada a sistematização de uma metodologia de ensino a partir das minhas práticas e experiências na educação musical e suas implicações. Palavras-chave: Metodologia de ensino. Educação Musical. Formação de educadores musicais. ABSTRACT The present work arose of the observation of the chart of the education musical education in the school context, associated to the proposition of the systematization of a methodology of education for future musical education teachers, with the purpose of helping the musical teaching in his initial phase, making the practice more sequential and enjoyable, contributing so to a redefinition of the musical work. For this, there was done a lifting of the way historically passed by the teaching of music in the Brazilian education, from his appearance, passing by the reformulations done along the centuries and by the light of the legal devices created to support them. Continuing the search concepts are presented with details of the conceptions of music education as teaching and learning from the studies made by educators. It is still done the presentation of the principal musical educators of the century XX and specifically some educators in Brazil, who contributed and influenced the construction of what today is meant for music education. To finish was presented the systematization of teaching methodology from my practice and experience in music education and its implications. Key-words: Methodology of teaching. Musical education. Formation of musical educators. AGRADECIMENTOS A Deus, Toda Glória, honra e louvor, pois sem Ele nada seria possível. À família Meu esposo Lima, que me acompanhou em todo este período, me apoiando e incentivando, sempre me ouvindo nos momentos mais difíceis nesta conquista. Minha filha Liane Rose que mesmo sentindo minha falta, soube entender minhas ausências. Aos meus pais que sempre me apoiaram em todos meus estudos e empreendimentos. À minha orientadora Profª. Drª. Norma Silvia Trindade de Lima Especial gratidão, pela motivação, apoio e condução de meus passos por caminhos antes desconhecidos. Obrigada por tudo. Aos mestres Obrigada pelas contribuições e sugestões apresentadas, e em especial ao Prof. Luis Antonio Groppo pelo estímulo para prosseguir com ideias e sugestões para desenvolver o trabalho. Ao Prof. Jetro de Oliveira pelas contribuições e por sua participação na banca. Aos meus amigos Que me acompanharam e deram força estando sempre presentes. Tenho muitos amigos que são especiais, mas quero agradecer especialmente a Ellen, que mais que uma coordenadora é minha grande amiga, que me deu muita força para fazer este mestrado compartilhando comigo todos os momentos desta caminhada e me auxiliando com materiais para que pudesse desenvolver melhor este trabalho. Muito Obrigada. Aos meus colegas do mestrado que me acompanharam nestes dois anos quero agradecer pelo companheirismo, e em especial ao Bibiano que fez todas as disciplinas e os trabalhos para apresentação comigo. Obrigada pela força. A Instituição Agradeço imensamente à direção geral e acadêmica do UNASP (Centro Universitário Adventista) aonde trabalho há 15 anos, pelo incentivo e apoio financeiro total neste período. Quero agradecer aos que colaboraram e me substituíram em minhas ausências, em especial os que trabalham diretamente comigo, como a Cecília, Adriana, Prof. Vandir, Ester e Luis. Obrigada pelo apoio. Alunos e colaboradores Agradeço aos meus alunos da graduação que me ajudaram na busca de materiais e imagens. Enfim, quero agradecer a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para esta realização. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................... 8 1 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE MÚSICA PARA UM CONTEXTO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO ............................................................... 12 1.1 A formação inicial de professores de música ....................................... 19 1.2 A formação e opinião dos licenciandos ................................................ 29 2 A EDUCAÇÃO MUSICAL ESCOLAR NO BRASIL NO CONTEXTO DAS LEGISLAÇÕES E REFORMAS EDUCATIVAS ........................................ 31 2.1 A educação no Brasil conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais ..... 31 2.2 História da Educação Musical e tendências das práticas pedagógicas ...... 43 3 CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO MUSICAL E METODOLOGIAS APLICADAS.. 50 3.1 O sentido e o significado da Educação Musical ................................... 50 3.2 A música no currículo escolar............................................................... 57 3.3 Considerações sobre a Educação Musical: aportes e concepções ...... 60 3.4 Fundamentação teórico-filosófica da Educação Musical ...................... 65 3.5 Contribuição teórica de educadores ..................................................... 72 3.5.1 Educadores musicais e metodologias aplicadas ......................... 81 3.5.2 Métodos ativos em musicalização infantil ................................... 82 3.5.3 As concepções e contribuições de alguns educadores musicais brasileiros .................................................................................... 89 4 RELATO DE EXPERIÊNCIA: RESSIGNIFICANDO CONCEITOS E PRÁTICAS PARA O ENSINO DA MÚSICA ............................................... 94 4.1 A Educação Musical no contexto escolar ............................................. 99 4.2 A prática musical a partir de atividades lúdicas e de integração coletiva ............................................................................................... 100 4.3 Coral: Projeto Musical: “CUCO” na escola ......................................... 123 CONCLUSÃO ................................................................................................. 134 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 139 8 INTRODUÇÃO Desde a implantação da Educação Artística na grade curricular do ensino fundamental, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971 (Lei nº 5.692/71), a área musical vem, gradativamente, perdendo o significado na sala de aula. Apesar de incluída no currículo escolar, foi considerada atividade educativa e não disciplina. Consequentemente surgiram dificuldades em relação a adaptações do docente, que foi obrigado a fazer cursos de complementação em artes plásticas, musicais e cênicas, abrangendo toda a Educação Artística, e a tornar-se polivalente. Devido a esse contexto acadêmico, foram poucas as escolas que conseguiram manter uma prática musical constante e efetiva; muitas focaramse em projetos alternativos, que aconteciam conforme a especialidade do professor. Em consequência, a música tornou-se ausente da maioria das grades curriculares do ensino fundamental, inviabilizando o acesso de todos os alunos a ela de maneira democrática. A partir de 1996 a Arte foi reconhecida pela lei nº 9.394/96 (artigo 26, parágrafo 2º) como conteúdo obrigatório, e retomou não somente seu espaço na grade curricular, como se incorporou igualmente a todas as disciplinas escolares, fator de considerável relevância às distintas áreas de conhecimento. Porém, quando comparada a outras disciplinas escolares, consideradas “mais necessárias”, frequentemente o ensino de Arte acaba subjugado a um mero passatempo decorrente da falta de especialização dos professores em geral. A Lei 11.769, publicada no Diário Oficial da União (D.O.U.) de 19 de agosto de 2008 altera a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, instituindo a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas brasileiras. A partir de tais parâmetros legais e dada a importância da disciplina de Arte, cabe conceituar a música como vertente fundamental no contexto acadêmico. Esta pode significar desde a atividade de cantar em sala de aula, via métodos tradicionais de educação musical, ou trabalhos desenvolvidos dentro de uma visão contemporânea. Aqui deve-se levar em consideração não 9 só as diversas maneiras de nos relacionarmos com a música, num verdadeiro contexto interdisciplinar, como também associarmos a ela os diversos contextos culturais, por meio de um repertório que tenha significado e que parta dos alunos, valorizando a vivência das crianças, trazendo benefícios a outras áreas do currículo. Tal posicionamento possibilita desta forma uma nova maneira de abordar os conteúdos das outras disciplinas, bem como um crescente desenvolvimento de memória, concentração e sensibilidade. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCN (BRASIL, 1998) destaca que a música tende a ficar em segundo plano na visão acadêmica da escola ou como suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos. Além de atividade de apoio a outras disciplinas, é igualmente associada a datas festivas e cívicas ou, ainda relacionadas às atividades mecânicas e estereotipadas sem finalidade educativa definida. Existem métodos e técnicas de ensino musical que têm alcançado propósitos relevantes para o aprendizado, porém ainda há uma lacuna no tocante à criação de uma metodologia própria para o iniciante da docência musical, direcionada ao público infantil, bem como à valorização desta prática. Encontram-se dificuldades para harmonizar as metodologias já existentes e, a partir dessa integração, gerar um novo caminho para o ensino de música, que tenha a possibilidade de evidenciar práticas eficazes e prazerosas para quem aprende e para quem ensina, sobretudo os iniciantes. Há, contudo, algumas preocupações e indagações que devem vir antes da prática e quero aqui destacá-las. A mesma Lei 11.769/2008 que propõe a obrigatoriedade do ensino de música na Educação Básica leva o educador musical a assumir o compromisso com a escola. Qual seria, entretanto, a função da Educação Musical no contexto atual? Qual é o alcance do ensino musical nas dimensões cultural, social e humanística? A partir de quais concepções filosóficas? Quais metodologias devem ser utilizadas ou quais serviriam, no contexto escolar? De que maneira pode ser feita a Educação Musical, para que as escolas passem a ter um ensino musical significativo? Como a Universidade pode contribuir para a implementação de um ensino musical democrático e transformador? Como pode ser feito para que a música contribua para uma ressignificação do trabalho nesta área, inclusive com 10 professores capacitados para revitalizarem esta Educação Musical na escola? Com base nessas interrogativas, consideradas como vetores de direcionamento desse trabalho, propomos como principal objetivo ressignificar a educação musical por meio de uma sistematização da metodologia de ensino para futuros professores de Educação Musical. Apesar de termos a lei aprovada, fica uma expectativa sobre como padronizar uma metodologia com professores capacitados para revitalizar a Educação Musical na escola. É neste sentido que considero importante fazer, por meio do rastreamento de algumas teses, dissertações e textos, uma busca de educadores musicais que tenham desenvolvido trabalhos para facilitar o ensino de música nas escolas. Para tanto se faz necessária a noção da perspectiva histórica dos momentos pelos quais já passamos, a definição do conceito de Educação Musical, bem como uma investigação das principais contribuições metodológicas de educadores musicais relevantes, desde o século passado até a atualidade. Analisando as várias formas pelas quais a música se faz presente na escola, alguns educadores musicais defendem a ideia de que a música tornase necessária para o funcionamento da vida na escola por ser um elemento de transformação social, e é concebida como um meio para controlar comportamentos de forma mais amena. Através da música podem ser desenvolvidas formas de utilização de gestos ou sons que substituem as palavras. Portanto para superar um caráter funcionalista e utilitarista, torna-se imprescindível que o professor tenha domínio dos elementos inerentes à música e disponha de técnicas, metodologias, recursos materiais e espaço físico adequado. A importância de trabalhar com atividades lúdicas para um melhor desempenho no aprendizado dos conteúdos será destacada neste trabalho citando alguns educadores que acreditam em tal prática pedagógica, pois é preciso reencontrar caminhos, para que estes sejam usados como uma espécie de libertação, de desafio. Tomando como parâmetros os autores que aqui serão abordados, considero importante constatar o papel que a prática musical proporciona para a aprendizagem como um todo. Desta forma o trabalho apresenta no primeiro capítulo como preocupação fundamental a formação dos professores de música no contexto escolar contemporâneo. No segundo capítulo apresenta a Educação Musical 11 escolar no Brasil no contexto das legislações e reformas educativas, mostrando primeiramente a educação no Brasil conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998), e em seguida a história da educação musical e as tendências das práticas pedagógicas. No terceiro capítulo são apresentadas as concepções da educação musical com suas metodologias aplicadas para uma melhor compreensão da Educação Musical, colocando os aportes filosóficos, considerando os principais educadores musicais do século XX e, especificamente, brasileiros, que influenciaram a Educação Musical. No último capítulo 4 apresento um relato a partir da minha experiência como educadora musical há mais de 20 anos, uma sistematização metodológica para o ensino de música na escola, e suas implicações. Espera-se que este trabalho contribua para sistematizar uma metodologia do ensino da música direcionada ao educador musical para a educação básica, e que funcione como apoio para um ensino-aprendizagem mais eficiente e prazeroso. 12 CAPÍTULO I A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE MÚSICA PARA UM CONTEXTO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO Da mesma forma que muitos, venho atuando como professora de música há mais de 20 anos, nas escolas específicas de música e no ensino regular. Durante estes anos pude perceber, na prática, que apenas saber música não era o suficiente para atuar nos contextos pedagógico-musicais. Isto está além dos conteúdos musicais, havendo a necessidade de um suporte teórico-pedagógico específico. Sem esta preparação e com muitas dificuldades, entre erros e acertos, fui aprendendo na prática, a complexidade de ser professor de música. Defender esta área de conhecimento no contexto escolar, onde se tem a música como mais uma disciplina no currículo, com finalidades diversas, que vão desde acalmar os alunos até ensaiá-los para a participação em todos os eventos festivos da escola, também tem sido uma tarefa árdua. A partir destas colocações, faço alguns questionamentos: Com o curso de licenciatura em música, os licenciandos tornam-se aptos para atuar nas escolas de ensino básico? Que tipo de formação a licenciatura em música proporciona aos indivíduos? Esses questionamentos instigaram-me a buscar respostas que pudessem esclarecer o panorama do ensino de música no Brasil, quanto à formação de professores. Verificando a literatura da Educação Musical, podese perceber que as dificuldades e questionamentos também foram preocupações de estudiosos da área. Estes temas estão relacionados, de uma forma direta ou indireta, com a problemática da música nas escolas e a formação de professores de música. Apesar da área da Educação Musical no Brasil possuir uma considerável literatura sobre a formação de professores, ainda carece de teorias que fundamentem a discussão desta temática. Assim considero importante fazer 13 uma busca de subsídios na literatura da Educação, podendo constatar que a formação de professores, o papel do professor e a sua profissionalização, para atuar no mundo contemporâneo com uma nova configuração do contexto escolar, fazem parte da colocação de acordo com Estrela (2002) alguns estudiosos, tais como: Marcelo Garcia (1995, 1999); Giroux (1997); Kincheloe (1997); Nóvoa (1995); Pérez Gómez (1995, 2000a, 2000b); Gimeno Sacristán (2001); Gimeno Sacristán e Pérez Gómez (2000); Schön (1995, 2000); Young (1998); e Zeichner (1993, 1994, 1995). Segundo Estrela (2002), devido às transformações sociais verificadas nestas últimas décadas, houve reformas de ensino que procuraram acompanhar e dar respostas às novas demandas da sociedade industrializada. Neste processo ampliou-se o papel do professor, e este se viu obrigado a desempenhar papéis cada vez mais complexos para atuar nas escolas. Atuação que não se esgota nas salas de aula “[...] mas que se estende a toda escola e à comunidade, configurando uma nova profissionalidade e um novo profissionalismo, e postulando uma nova formação profissional, iniciada e continuada” (ESTRELA, 2002, p.5). Marcelo Garcia (1999) conceitua a formação de professores como uma [...] área de conhecimento, investigação e de propostas e teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem (GARCIA, 1999, p. 26). Para este autor, os professores em formação são aqueles que cursam a formação inicial de professores em instituições específicas, com profissionais especializados, as quais apresentam um currículo que estabelece a sequência e o conteúdo instrucional do programa de formação. No Brasil, a formação inicial de professores é realizada nos institutos superiores de educação, faculdades e universidades. Nóvoa (1995) atribui à universidade um papel fundamental na formação inicial de professores, porque acredita “que a 14 existência de uma carreira docente única e a dignificação da profissão docente exigem que a formação de todos os professores tenha um estatuto universitário” (NÓVOA, 1995, p. 26). No caso do professor de música isto se traduz na necessidade de cursar ou ter cursado a Licenciatura em Música. Com as alterações que vem acontecendo na legislação trazendo como obrigatório o ensino de música, veio como uma oportunidade de valorizar e de legitimar a inclusão da música nos currículos nas escolas. Para tal fato, a formação de professores de música, que vão atuar nesses contextos, necessita ser vista sob uma perspectiva mais crítica e com uma concepção mais ampla do papel do professor de música. Pode-se constatar na literatura da Educação Musical no Brasil que, nessa última década, dentre as preocupações com a formação de professores, a formação inicial vem se destacando, visto que esta, conforme a literatura capacita os indivíduos a exercerem profissional e legalmente a função de professor. A LDB, entre outras exigências, introduziu um currículo mais flexibilizado e procurou respeitar e aceitar as diferenças de perfis das várias instituições e regiões brasileiras (OLIVEIRA, 1999, p. 22). Devido a este fato, e para melhor adaptação do ensino superior às demandas da sociedade contemporânea, as instituições passaram a realizar uma reformulação curricular em seus cursos. Entretanto, Oliveira (1999), ressalta que, antes de haver uma reformulação curricular, recomenda-se à instituição realizar um estudo do seu contexto e sua realidade de forma sistemática. Essa autora salienta ainda, que quando decisões curriculares são tomadas através de opiniões tendenciosas e pelo senso comum, trazem sérios danos posteriores para a instituição. Portanto, tornam-se necessárias mais investigações sobre a realidade dos diversos contextos educacionais que possam contribuir no desenvolvimento de propostas curriculares condizentes com realidades às quais se dirigem. Uma das formas de conhecer a realidade dos contextos pedagógicomusicais é questionando os indivíduos que fazem parte daqueles cenários, como alunos, professores, funcionários da administração, entre outros. Entretanto, são poucos os dados sistematizados que revelam a formação inicial de professores de música sob a perspectiva dos próprios licenciandos, daqueles que recebem a formação e, ao mesmo tempo, atuam como 15 professores. Para fundamentar esta questão encontra-se Pérez Gomez (1995), trazendo pontos convergentes. Inicialmente, o autor identificou quatro perspectivas de formação de professores, a saber: perspectiva acadêmica, perspectiva técnica, perspectiva prática e perspectiva de reconstrução social. Tendo em vista a amplitude do tema formação de professores, em outro estudo (1995) o autor traz em seu trabalho mais três enfoques que, na realidade, são as sobreposições das perspectivas classificadas anteriormente. São eles: o enfoque prático artesanal, o enfoque técnico-academicista e o enfoque reflexivo (a investigação-ação). A identificação de perspectivas e enfoques na formação de professores se torna relevante, levando em consideração que cada modelo de formação de professores é que objetivará o perfil do professor que se quer formar. Além disso, essa identificação auxilia na reflexão sobre diferentes abordagens para a formação de professores em música. Fica evidente a necessidade de docentes que tenham conhecimento da fundamentação pedagógica do ensino de música e saibam escolher os conteúdos adequados, adaptando-os à metodologia apropriada. Entretanto, analisando a formação de futuros professores tanto no curso de licenciatura em música como de professores generalistas, observa-se que há uma defasagem entre esta demanda e a realidade, gerando uma necessidade de materiais que norteiem e complementem o ensino da música na escola. É comum encontrarmos recursos didáticos de qualidade, porém estes nem sempre privilegiam a formação musical da criança de maneira sistemática e integral. Existe uma liberdade de execução do trabalho do professor em sala de aula, que pode ser benéfica ou não. Para aquele que não está adequadamente preparado para o uso destes recursos – quer seja pela inexperiência de início de carreira, ou por eventuais lacunas em sua formação, tal liberdade pode gerar insegurança, comprometendo a prática. A formação de professores de música também tem sido motivo de reflexão de pesquisadores da área. Del Ben (2007) afirma que a licenciatura deve formar, um profissional capaz de assumir – e responder produtivamente ao: compromisso social, humano e cultural de atuar em diferentes contextos educativos, além de atender ao 16 compromisso de acolher diferentes músicas, distintas culturas e as múltiplas funções que a música pode ter na vida social (DEL BEN, 2007, p. 53). Nos últimos anos, a ausência da música no currículo das escolas do ensino básico foi uma preocupação constante dos educadores musicais do Brasil. Alguns deles, como Alda de Oliveira (2007), Luciana Del Ben (2002), Liane Hentschke (1994), afirmam que a música teria desaparecido das escolas. Contudo é importante que seja discutida tal concepção, culminando em um bom programa de educação musical nas escolas (OLIVEIRA, 2007). A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi alterada, incluindo a obrigatoriedade das aulas de música em escolas brasileiras, conforme a lei 11.769, publicada no Diário Oficial da União de 19 de agosto de 2008. Contudo não tem impedido a criação de novos espaços e a perpetuação de antigos rituais escolares, como a hora Cívica, bandas marciais e, em especial, o coral. As escolas brasileiras realizavam diversas práticas, com diferentes modelos e concepções de ensino de música envolvendo algumas formas de modalidades de organização e de articulação com a comunidade escolar. Devido a estas práticas desenvolvidas torna-se importante a compreensão de que a música atinge os diversos contextos culturais, por meio de um repertório significativo que valoriza o cotidiano vivido pelas crianças, e ganha importância à medida que traz benefícios a outras áreas do currículo de acordo com Gifford (apud DEL BEN, 2002, p. 121). Bresler (apud DEL BEN, 2002, p. 28) diz que a música serve como um tempero para as outras disciplinas curriculares, e que é mais provável que a referida disciplina, não seja a causa do sucesso para um melhor aprendizado em outras disciplinas curriculares, mas, de acordo com a forma que seu estudo é desenvolvido, serão apresentadas melhoras na memória, na concentração e na sensibilidade. Ela é concebida como meio e não como fim, sendo utilizada como ferramenta de apoio para o desenvolvimento de outras disciplinas. Diante deste quadro, pode-se dizer que a música e todos os seus conteúdos intrínsecos e extrínsecos não são vistos como algo passível de ser ensinado e apreendido, até porque os professores que procuram trabalhar com música em sala de aula 17 não possuem domínio e formação específica para desenvolver o ensino nas escolas. Devido à falta de preparo dos professores, a música é considerada suporte para atender as mais diversas situações cotidianas ou como mero passatempo, tornando as atividades mecânicas e estereotipadas conforme nos é apresentado no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL. RCN, 1998). E neste aspecto a educadora musical afirma: Os poucos instantes em que se faz música na escola se resumem a cantar e mais cantar, muitas vezes de maneira mecânica, sem que o repertório seja trabalhado adequadamente e de acordo com as possibilidades vocais das crianças, ou, mesmo, sem explorar a dimensão artística musical desse repertório (HENTSCHKE, 1995, p. 35). Friedmann (1998) descreve a escola como um elemento de transformação da sociedade, cuja função é contribuir, junto com outras instâncias da vida social, para que essas transformações se efetivem. E nesse sentido a escola deve trabalhar as crianças como seres sociais, no sentido de que sua integração na sociedade seja construtiva. A educação deve ter a preocupação de propiciar para todas as crianças um desenvolvimento integral e dinâmico (cognitivo, afetivo, linguístico, social, moral e físico-motor), de forma a construir-lhes a autonomia, criatividade, responsabilidade e cooperação. Almeida (1998) acredita que é preciso reencontrar caminhos para uma prática pedagógica escolar, como uma espécie de libertação, de desafios, tendo na educação lúdica uma boa alternativa. Tomando como parâmetros os autores até aqui abordados fica claro o importante papel que a prática musical desempenha para a aprendizagem como um todo. Para tanto é preciso delinear com clareza o que ensinar, para quê e para quem. Como ensinar para tornar a música viva, seu conteúdo afinado com a realidade do aluno, e quem deve ensinar. Além da capacidade técnica e da compreensão do fenômeno musical, a flexibilidade por parte do professor é essencial, pois ser flexível é fundamental para a necessidade de tomada de decisões, permitindo críticas às metodologias e às próprias práticas pedagógicas diante da cultura e da sociedade na qual irá atuar. 18 Neste caso, atenção especial deveria ser dispensada ao ensino de música no nível da educação básica, principalmente na educação infantil e no ensino fundamental, pois é nessa etapa que o indivíduo estabelece e pode ter assegurada sua relação com o conhecimento, operando-o no nível cognitivo, de sensibilidade e de formação da personalidade. Considera-se a importância da educação musical na sociedade contemporânea justificada pela função de promover o desenvolvimento do ser humano, não pelo adestramento ou alienação, mas pela conscientização da interdependência entre o corpo e a mente, entre a razão e a sensibilidade, entre a ciência e a estética. É preciso abrir espaço para a liberdade da criação e da recriação do discurso musical, por meio da ação própria do sujeito sobre o material sonoro. A interação entre os homens, tendo a música como mediadora, deve ocorrer com o propósito de intensificar certas funções de atividade humana como a linguagem, contribuindo para a formação de um ambiente rico e saudável, elevando o potencial da comunicação estética. De acordo com Saviani (2000) A educação integral do homem é uma educação de caráter desinteressado que além do conhecimento da natureza e da cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem outro objetivo senão o de relacionar-se com elas. Abre-se aqui todo um campo para a educação artística para integrar à educação, que em meu entender, é a educação musical. Com efeito, a música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já que, a par de manifestação estética por excelência (...) apresenta-se como um dos recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se atingir o desenvolvimento integral do ser humano (SAVIANI, 2000, p. 40). Entende-se que o ensino de artes, especialmente da música, deve ser considerado na educação escolar da mesma forma que outras áreas do conhecimento, como a matemática, a língua portuguesa, a história e outras. Porém, por oferecer uma forma de conhecimento específico, deve ser encarado de modo organizado, coerente, que o situa entre vivência, expressão e compreensão. A escola é um instituição na qual esse conhecimento pode ser instituído e adquirido. A nova LDB vem dar essa garantia na medida em que torna o 19 conhecimento artístico obrigatório no currículo do ensinp fundamental e médio. O problema começa aí, a partir do momento em que passar do papel e chegar até as escolas, ser incluído e oferecido aos alunos no horário escolar, requer um maior interesse por parte dos administradores escolares e dos próprios docentes, manifestando-se pela sensibilização e pelo valor do ensino da arte na escola. 1.1 A formação inicial de professores de música A evolução das novas tecnologias de comunicação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a internacionalização da economia proporcionaram uma nova forma de relacionamento entre os indivíduos, criando assim novos interesses nas relações econômicas, políticas e culturais (Garcia, 1999). Surge um novo tipo de cidadão, com novos hábitos, modo de pensar, sentir, agir, e consequentemente, ocorrem mudanças na relação entre o trabalho e a organização de produção (KINCHELOE, 1997; PÉREZ GOMEZ, 2000). “Devido a esses fatos, surge a preocupação com a formação, que não restringe apenas ao contexto escolar, mas abrange contextos mais amplos, como o empresarial, social, político, entre outros” (GARCIA, 1999, p. 11). Para o indivíduo entender e conviver em uma sociedade com essa nova configuração é imprescindível ter acesso a uma educação, a uma formação escolar. A educação não deve ser entendida como especialização, ou apenas aquisição, difusão e reprodução de conhecimento e cultura, mas também como diferenciação de uma formação geral de inovação do conhecimento que envolve toda a personalidade, que se preocupa com o desenvolvimento e bemestar dos indivíduos e o insere nas “atividades sociais produtivas” (GIMENO SACRISTÁN, 2001, p. 17). Essa necessidade de formação no contexto escolar legitima a preocupação com a formação de professores, pois são estes que formarão os indivíduos dentro dessa nova concepção de educação. Nóvoa (1995) ressalta a importância da formação do professor, pois [...] não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores. Esta afirmação é de uma banalidade a toda a prova. E, no entanto, vale a pena recordá-la num momento em 20 que o ensino e os professores se encontram sob o fogo cruzado das mais diversas críticas e acusações (NÓVOA, 1995, p. 11). Garcia (1999, p. 26) considera a formação de professores como uma área de “conhecimento e investigação”, a qual enfoca o “estudo do processo” sistemático e organizado, onde os professores aprendem e desenvolvem sozinhos ou em grupo, seus conhecimentos e competências profissionais. O conceito abrange tanto os indivíduos que estudam para serem professores (formação inicial) como aqueles que já atuam no ensino (formação de professores principiantes e desenvolvimento profissional dos professores). Essa formação deve capacitar o professor a trabalhar profissionalmente, não só em aula, mas almejando uma educação de melhor qualidade. Devido ao fato deste conceito abranger tanto a formação inicial, quanto a formação de professores iniciantes e desenvolvimento profissional de professores, vale delimitar o tema ao qual será dada maior ênfase: a formação de professores de música. Para Garcia (1999), a formação inicial de professores ocorre em instituições específicas, onde as aulas são ministradas por professores especializados e o currículo estabelece a sequência e o conteúdo de instrução do programa. No caso do Brasil, a formação inicial de professores de música deverá acontecer nos cursos de licenciatura em música. Levando em consideração as transformações sociais, o ensino foi-se adaptando às exigências, e as reformas procuraram acompanhar e dar repostas às novas demandas da sociedade industrializada. As concepções de educação, escola e currículo se ampliaram, bem como o papel do professor. A atuação não se esgotava na sala de aula, mas se estendia a toda a escola e à comunidade, configurando uma nova profissão e um novo profissionalismo do professor. Isso demandou uma nova formação profissional do professor, que abrange a formação inicial e continuada (ESTRELA, 2002, p. 5). O Brasil também sofreu e sofre influências das modernizações e transformações sociais e, para acompanhá-las, também foram feitas reformas. A LDB introduz um currículo mais flexibilizado e procura respeitar e aceitar as diferenças de perfis das várias instituições e regiões brasileiras (OLIVEIRA, 1999). Surge assim, uma oportunidade para a área valorizar e legitimar as aulas de música nos currículos escolares. 21 No entanto, ainda é possível constatar que muitos profissionais que trabalham o ensino das artes nas escolas são vindos do curso de licenciatura em educação artística. Esses professores, devido à formação polivalente na área das artes (artes visuais, música e teatro), não conseguem trabalhar de forma satisfatória todas as modalidades artísticas. Dessa forma, o ensino de música foi gradativamente desaparecendo do currículo escolar, e quando as escolas possuem aulas, estas se resumem ao canto nos eventos, às apreciações musicais, utilizando desenhos ou trabalhos manuais, entre outras. No caso da apreciação musical da forma descrita, é uma atividade passiva, com a música servindo “de pano de fundo para outras atividades” (SOUZA; HENTSCHKE; OLIVEIRA; DEL BEN; MATEIRO, 2002, p. 100). Considerando esses fatos, surge a necessidade de preparar professores especialistas em música para atuarem nos contextos pedagógico-musicais escolares. A preocupação em enfocar com maior ênfase o contexto escolar se justifica na medida em que há uma grande necessidade, neste momento, de todos os educadores musicais, fortalecerem o espaço escolar. É preciso formar e inserir os licenciandos nesses espaços de modo que consigam interagir com as concepções atuais de educação, de educação musical, de música, de escola e de currículo. Além disso, devem saber, de forma competente e fundamentada, defender e valorizar a inserção da música no currículo escolar em todos os níveis da educação básica; devem também, ter conhecimentos pedagógico-musicais para proporcionarem aos seus alunos experiências musicais de maneira completa e significativa. Segundo Hentschke (1995), alguns autores da educação musical, dentre eles Swanwick, advogam a necessidade de dar oportunidades, para crianças e jovens, de uma vivência equilibrada entre a composição, a execução e a apreciação, fundamentadas no estudo da técnica e literatura musical. Para isso, os estudiosos da área, cientes da ampliação dos conceitos (educação, educação musical, música, escola e currículo), discutem a formação de professores de música, inicial e continuada (ARROYO, 2000; HENTSCHKE, 2000; SOUZA, 1997, 2000). Nesta temática se vê presente a preocupação com os programas curriculares dos cursos de licenciatura em música. 22 Segundo Hentschke esses currículos se encontravam descontextualizados, compartimentados e desatualizados, preocupados em transmitir conteúdos, sem haver conexão entre eles (HENTSCHKE, 1995, 2000). Seria necessário que os cursos de licenciatura em música desenvolvessem nos licenciandos capacidades críticas e reflexivas, e não atitudes passivas de meros consumidores de saberes. Para isso, continua a autora, é necessário que o professor formador “propicie um debate em sala de aula para compartilhar experiências profissionais” (HENTSCHKE, 2000, p. 85), além de ter uma postura sem preconceitos dos fazeres musicais produzidos em espaços não-escolares. Na área da Educação Musical, constata-se na literatura brasileira a existência de poucos estudos, referentes à formação de professores de música, que trazem dados diretos da realidade do contexto pedagógico-musical em que estes atuam. Entre estas investigações encontra-se o trabalho de Beineke (2000), que investigou os conhecimentos práticos de três professoras de música do ensino fundamental. A autora buscou ouvir as professoras procurando ressaltar algumas lógicas que sustentam suas ações pedagógicas. Os resultados sugeriram que “os conhecimentos práticos do educador musical só podem ser desenvolvidos através de uma formação em que sejam oportunizadas experiências concretas de ensino” (BEINEKE, 2000, p. 170). Nessa formação, continua a autora, deverá haver orientação dos processos de reflexão dos professores sobre suas próprias práticas, levando também em consideração os conhecimentos musicais e pedagógicos. Del Ben (2001), por sua vez, investigou como as concepções e ações de professores de música configuram a prática pedagógico-musical em escolas do ensino fundamental. A autora constatou poucos dados sobre a educação musical escolar brasileira provenientes das realidades das salas de aula e, por esse motivo, buscou “conhecer e compreender o ensino a partir do mundo concreto e cotidiano das práticas vividas pelos professores de música” ( DEL BEN, 2001, p. 290). Quanto à formação inicial, a autora sugere uma união entre “teoria e prática e entre musicologias e pedagogias não somente durante o estágio supervisionado, mas durante todo o processo de formação” (DEL BEN, 2001, p. 298). 23 Marques (1999) investigou as articulações entre as dimensões teóricas e filosóficas e as dimensões práticas das atividades pedagógicas de alunos de graduação dos cursos de licenciatura em música das instituições públicas e privadas, em seus estágios supervisionados em Salvador (BA). O pesquisador observou pouca fundamentação teórica dos estagiários e a desvinculação entre as dimensões teórico-filosóficas e práticas de suas atividades pedagógicomusicais. Além da precária fundamentação teórica dos licenciandos, Souza (1997) observa que na formação inicial não há equilíbrio entre as disciplinas teóricas e práticas. Entre as dificuldades que os licenciandos enfrentam está a de ministrar aulas de música, devido aos problemas sociais dos alunos, que contribuem para gerar conflitos, indisciplina, problemas de grupo, entre outros. Para os problemas pedagógico-musicais, esta autora sugere que estes poderão ser solucionados a partir das [...] competências específicas (domínio técnico através da prática de um instrumento musical), competência metodológica (metodologia do ensino da música) e competência social (conhecimento de fundamentos da Psicologia e Sociologia) [...] (SOUZA, 1997, p. 16). Em se tratando do equilíbrio entre a teoria e a prática, Kleber (2000b), em sua investigação sobre o currículo de formação inicial de professores de música ressalta que todos os depoimentos de alunos e professores que entrevistou sugerem a necessidade do estágio supervisionado iniciar mais cedo. Segundo a autora, desse modo haveria mais tempo para os alunos integrarem a teoria com a prática, podendo estar preparados para atuarem com “competência e, sobretudo, para que tenham uma vivência positiva e significativa” (KLEBER, 2000, p. 196). Mateiro (2000) realizou uma pesquisa com objetivo de compreender as condições efetivas do estágio supervisionado, ouvindo as experiências, vivências e dificuldades dos licenciandos. Com essa investigação a autora chegou à conclusão de que é confirmada a necessidade de reflexão sobre a estrutura curricular do curso de licenciatura em música. A autora ainda avaliou 24 [...] a importância e a eficácia do estágio como um componente fundamental na formação dos professores e buscou refletir acerca de aspectos essenciais a superar frente à aplicação das possibilidades das últimas políticas educacionais (MATEIRO, 2000, p. 1). Para muitos licenciados, o estágio poderá ser o primeiro e/ou o único acesso a uma sala de aula, onde estes se integram com a realidade do contexto escolar. Em alguns cursos, os estágios estão sendo realizados em espaços pedagógico-musicais mais amplos, como, por exemplo, aulas de música em igrejas, oficinas de música em clubes, nas escolas da prefeitura e em projetos para crianças carentes. Em outros cursos, os estágios acontecem obrigatoriamente em espaço escolar, mas não necessariamente dentro da sala de aula, podendo ocorrer também através de oficinas de música. A obrigatoriedade do estágio no contexto escolar, por um lado, não tem aspectos positivos, pois alguns licenciandos têm pouco interesse pelo ensino da música e pela prática escolar (SOUZA, 1997, p.15). Também são poucos os licenciandos que afirmam que irão continuar atuando como professor de música em escolas (MATEIRO, 2002). Por outro lado, a obrigatoriedade do estágio no contexto escolar pode trazer uma contribuição para sua formação pedagógico-musical. Esse fato foi verificado na pesquisa de Kleber (2000), onde a autora constatou que “a escola pública foi um espaço que mais fascinou e desfrutou os estagiários, tanto no que se refere às suas competências didático-pedagógico-musicais como no aspecto sócio-político” (KLEBER, 2000, p. 196). Diante deste contexto o estágio supervisionado, passa acontecer na segunda metade do curso, e com a duração de 400 horas, para estar coerente ao novo paradigma das Diretrizes Curriculares e a todas as exigências profissionais do professor. Além dos espaços escolares, atualmente estão sendo investigados outros espaços não-escolares onde acontecem também o ensino e a aprendizagem musical. Hentschke (2001) observa que esses múltiplos espaços e possibilidades de atuação não são tão recentes. A constatação da necessidade de formar profissionais críticos e reflexivos, que saibam atuar nos espaços escolares e, principalmente, nos espaços não-escolares, é que faz emergir discussões na área e colocar em pauta os espaços que antes não eram investigados. A autora ressalta que esta preocupação provavelmente 25 advém da busca de referenciais na área das Ciências Sociais, como da Antropologia, da Pedagogia, da Sociologia. Existe um consenso entre os educadores musicais que a área da Educação Musical, devido ao diálogo com as Ciências Sociais, tem ampliado o seu campo de estudo. As pesquisas, que antes eram realizadas em espaços escolares e acadêmicos, agora se preocupam em investigar também os espaços não-escolares. Para garantir que esse trânsito, entre os espaços escolares e os não-escolares, sendo realizado de maneira significativa para os professores de música e alunos, alguns pesquisadores buscam um olhar crítico e reflexivo na formação dos professores que irão atuar nesses contextos. De acordo com Souza (2000), a discussão do trânsito da educação musical entre o escolar e não-escolar, [...] não pode estar resumido no conteúdo que se ensina ou na música que pode frequentar a sala de aula, mas deverá considerar que tipo de formação de professores é necessário e que modificações são necessárias para poder atuar nos vários campos emergentes da educação musical (SOUZA, 2000, p. 145-146). Para a autora, é preciso que na formação de professores haja uma conscientização de que atualmente há uma ampliação do campo da educação musical. Neste, estão inseridas todas as práticas musicais que ocorrem nos espaços escolares e não-escolares, e nos espaços que a autora denomina de “alternativos” (SOUZA, 2000, p.139). Kleber (2000) preocupada com a formação de professores de música críticos e reflexivos que atendam a educação musical com diversas concepções e práticas, coloca que: [...] os cursos de licenciatura na área de música devem formar um profissional que compreenda a diversidade cultural e que esteja preparado para trabalhar em diferentes situações, contemplando o saber sistematizado e o saber cotidianamente construído (KLEBER, 2000, p.155). No que tange às competências profissionais, verificou-se “um descompasso entre o discurso e a prática da educação musical [...] o que demanda uma urgente reformulação de grande parte dos currículos das licenciaturas em música” (KLEBER, 2000, p. 156). 26 Mas como fazer uma reformulação dos currículos das licenciaturas em música se ainda não se conhece quais são esses múltiplos espaços e possibilidades de atuação no Brasil? Qual a formação inicial do professor de música para atuar nos espaços emergentes? Qual a concepção e as práticas da educação musical? Segundo Hentschke (2001, p. 68), não há uma concepção de Educação Musical, e sim a coexistência de múltiplas concepções de Educação Musical “que não são excludentes”. Devido a esse fato, o professor de música necessita desenvolver competências que ultrapassem os conhecimentos desenvolvidos atualmente nos cursos de formação de professores. A autora ressalta ainda que esses cursos apresentam “seus currículos estanques e com seu baixo impacto social, causado pelo distanciamento entre o currículo adotado e o contexto de atuação profissional dos futuros professores” (HENTSCHKE, 2001, p. 69). Se por um lado, alguns autores defendem que a formação de professores de música deve ser realizada em instituições, por outro lado, há aqueles que defendem que a transmissão de conhecimentos e habilidades musicais pertence a qualquer pessoa que os possua. Para Kraemer (2000), a educação musical “ocupa-se com as relações entre a(s) música(s) sob os aspectos de apropriação e de transmissão” O autor atribui à pedagogia da música a tarefa de: “compreender e interpretar, descrever e esclarecer, conscientizar e transformar” (KRAEMER, 2000, p. 66). Nessa concepção, a área de atuação compreende toda a prática músico-educacional que acontece em espaços escolares e não-escolares, bem como “toda cultura musical em processo de formação” (KRAEMER, 2000, p. 51). Nesse caso, o conhecimento pedagógico-musical não está só nas instituições, mas pertence a todas as pessoas que transmitem conhecimentos e habilidades musicais. Estas podem ser críticos de música (jornalistas e especialistas), regentes (coros e orquestras), músicos religiosos, músicos populares, professores particulares de música, entre outros. A área e o espaço pedagógico-musical se configuram amplos, podendo abranger: Educação musical escolar e extra-escolar, processo de impregnação músico-cultural na família, nos jardins de infância, 27 escola de música, escola, escola superior, escola popular, instituições de formação continuada, aulas particulares, em corais, conjuntos, organizações comunitárias, através da influência dos meios de comunicação, dos da mesma idade e outros (KRAEMER, 2000, p.67). Essa ideia de educação musical, em que o conhecimento pedagógicomusical pertence a todos os espaços e pode ser “transmitido” por qualquer pessoa que detenha esses conhecimentos, é muito ampla, podendo produzir, na realidade brasileira, uma visão equivocada sobre “ser professor de música”. É possível constatar que, nas escolas regulares, profissionais das mais diversas formações estão atuando como professores de música. Qualquer pessoa que sabe música pode ser um educador musical? De acordo com Hentschke (2001), o papel do professor de música está sendo questionado. Este deve ter flexibilidade, ser reflexivo, possuir um conhecimento pedagógico-musical fundamentado na literatura e experimentando na prática, além de ter a competência de perceber e agir em realidades distintas. É necessário proporcionar aos licenciandos na formação inicial de professores de música, a capacidade de “saber administrar e gerenciar o conhecimento dos alunos, capacitando-os a atribuir sentido ao mundo musical à sua volta” (HENTSCHKE, 2001, p. 72). Essa colocação da autora parece sugerir que não é qualquer pessoa que saiba música que poderá ser considerada um educador musical. Desde o ano de 2000, a ABEM no X Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical, teve como tema e objetivo, promover debates sobre a configuração do campo da Educação Musical, as demandas profissionais e as competências necessárias para a atuação do educador musical. Já se pode observar nos espaços urbanos uma demanda por profissionais que atuem em projetos culturais e sociais. Segundo Oliveira (2000), devido aos acontecimentos de mudanças da organização educacional, ampliam-se possíveis campos de atuação para os educadores musicais, como consultorias, cursos, voluntariados escolares e comunitários e educação continuada e de atualização. Entretanto, se questiona a formação que este educador musical terá para atuar nesses espaços diversificados. O XI Encontro Anual da ABEM em 2002, teve como principal tema o debate sobre a necessidade de articulação e diálogo entre a formação de 28 profissionais do ensino de música e pesquisa. Foram realizadas discussões e reflexões acerca das concepções de formação desses profissionais, bem como sobre a implementação das Diretrizes Curriculares e os espaços que esses profissionais ocupam no mercado de trabalho. Segundo Oliveira (2000), as Diretrizes Curriculares foram confeccionadas para guiar e orientar o ensino superior de música para uma formação mais abrangente e aprofundada, flexibilizada. Utilizando-se deste documento as instituições e professores poderiam construir seus currículos, ou seja, estabelecendo metas e objetivos, atividades de ensino e avaliação, de acordo com modelos ou perspectivas de formação de professores que mais se adaptem à concepção de currículo da instituição ou à de sua região. Seguindo todos esses requisitos a Comissão de Especialistas de Ensino – Música (CEEMúsica) do MEC confeccionou uma proposta de diretrizes para o curso de música. Essa proposta foi finalizada em 1999. No entanto, somente em 2002 o Conselho Nacional de Educação aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em música. Hentschke (2002), em um debate da ABEM, expôs que nesse documento oficial a proposta para o curso de música não se encontrava na íntegra. A autora, que participou da CEE-Música na confecção da proposta de Diretrizes Curriculares para o curso de música, relatou que houveram adaptações e que algumas partes do texto foram suprimidas. No entanto, o documento oficial afirma que o parecer “[...] contempla as orientações das Comissões de Especialistas e as da SESu/Mec, as quais, na sua grande maioria, foram acolhidas e reproduzidas na sua totalidade [...]” (BRASIL, 2000, p. 8). Levando em consideração as Diretrizes Curriculares Nacionais, muitos cursos de licenciatura estão em processo de reformulação curricular, e outros já estão implementando suas reformulações. Entretanto, Oliveira (2000) salienta que seria de grande contribuição se a instituição realizasse um estudo aprofundado do seu contexto, de maneira sistemática e realista antes de haver uma reformulação curricular. No entanto a autora coloca que também muitas decisões curriculares são tomadas através de opiniões tendenciosas e pelo senso comum, o que pode causar sérios danos posteriores para a instituição. (OLIVEIRA, 2000, p. 14). 29 Portanto, através das discussões entre os educadores musicais, é possível observar que ainda se fazem necessárias mais investigações, sobre a realidade dos diversos contextos educacionais, que possam contribuir no desenvolvimento de propostas curriculares condizentes às realidades às quais se dirigem. 1.2 A formação e opinião dos licenciandos Considera-se importante dar voz aos licenciandos, porque são considerados sujeitos adultos que pensam e aprendem, e não meros consumidores e reprodutores de saberes. Para Pereira (1998) o licenciando deve [...] ser compreendido como sujeito em formação que traz consigo uma representação de educação construída durante sua própria escolarização, que vivencia uma formação superior fundamentada e que continuará se formando na prática pedagógica com questões advindas da realidade escola (PEREIRA, 1998, p. 58). É importante também a opinião dos licenciandos, pelo fato de estarem submetido a dois âmbitos, de um lado como aluno na universidade e, de outro, como professor, pode trazer dados de sua experiência nessas realidades. Esses dados podem auxiliar na identificação dos espaços em que atuam, quais os conhecimentos adquiridos na universidade que estão sendo aproveitados na prática com eficácia e quais são as necessidades para que os novos conhecimentos venham a ser utilizados nesses contextos de atuação. Segundo Bireaud (1995), o significado da eficácia no sistema educativo adquire uma noção ambígua que pode estabelecer falso consenso. A autora ressalta que a eficácia do curso superior num plano social, visto como setor de produção semelhante a qualquer outro do setor econômico, é calculada em relação aos números de diplomas concedidos, tendo-se em conta os custos de funcionamento do sistema. No entanto, continua a autora, sob a perspectiva dos licenciandos a eficácia implica outro sentido: [...] os estudantes avaliam-na, em função do seu projeto pessoal, que tanto pode implicar a sua inserção profissional 30 como o seu enriquecimento intelectual, que não são forçosamente medidos, em qualquer dos casos, pela bitola dos diplomas obtidos [...] (BIREAUD, 1995, p. 14). Por considerar professores e alunos como importante colaborador para a pesquisa em educação musical, faz-se necessário trazer as duas possibilidades em uma mesma pessoa: o licenciando. Ele de um lado, é aluno na universidade, e, de outro, professor nos espaços onde atua. Isto torna o licenciando um colaborador em potencial nesta pesquisa cujo tema é a formação dos professores. Ao discutir sobre a teoria social e a formação de professores, Giroux (1997) traz à pauta a importância de ouvir os estudantes. O autor observa que alguns teóricos educacionais de esquerda enfatizam o relacionamento entre as escolas e o campo econômico a partir de questionamento na identificação e subjetividade da voz do estudante. Também salienta a intervenção do Estado no processo econômico gerou “novos discursos simbólicos” e isso pode ser notado na maneira como o “Estado controla a forma e conteúdo dos programas de formação de professores através da legislação de exigências de certificação para futuros professores” (GIROUX, 1997, p. 201). Segundo o autor, [...] as questões referentes a como os estudantes produzem significados e criam suas histórias culturais não podem ser respondidas recorrendo-se unicamente às discussões de determinismo econômico e de classe social, mas devem começar a abordar as formas nas quais a cultura e a experiência se unem para constituir aspectos poderosamente dominantes da agência humana (GIROUX, 1997, p. 201). De acordo com o autor, “silenciar a voz do estudante é torná-lo impotente, pois compreender sua voz é confrontar a necessidade de fazer nascer símbolos, linguagem e gesto, nascidos de sua biografia pessoal” (GIROUX, 1997, p. 201-202). Para ele, os programas de formação de professores devem se comprometer em questões de fortalecimento, combinando conhecimento e análise crítica, com intuito de transformar a realidade no interesse da sociedade (GIROUX, 1997, p. 202-203). 31 CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO MUSICAL ESCOLAR NO BRASIL NO CONTEXTO DAS LEGISLAÇÕES E REFORMAS EDUCATIVAS A partir da perspectiva histórica colocada na primeira parte deste trabalho, é importante que se destaque o conceito e a história da Educação Musical, e para que haja uma melhor compreensão desta no Brasil é importante conhecer primeiramente a trajetória da tradição pedagógica brasileira. De acordo com os PCN (1997) [...] até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o ensino fundamental (primeiro grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) quanto para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 13). 2.1 A Educação no Brasil conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais Coube aos Estados a formulação de propostas curriculares que serviriam de base às escolas estaduais, municipais e particulares situadas em seu território, compondo, assim, seus respectivos sistemas de ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os anos 80 segundo as tendências educacionais. Em 1988 o Plano Decenal de Educação, afirma a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no campo curricular capazes de orientar as ações educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-lo aos ideais democráticos e à busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras. 32 Nesse sentido, ampliam-se as responsabilidades do poder público para com a educação de todos, ao mesmo tempo em que a Emenda Constitucional n. 4, de 12 de setembro de 1996, priorizou o ensino fundamental, disciplinando a participação de Estados e Municípios no tocante ao financiamento desse nível de ensino. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, consolida e amplia o dever do poder público para com a educação em geral e em particular para com o ensino fundamental, que assegurava a todos a formação básica comum indispensável para o exercício da cidadania, fornecendo meios para progredirem no trabalho e em estudos posteriores. O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do ensino fundamental, que é o de propiciar ao sujeito a formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de condições de aprendizagem para: [...] I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (art. 32) (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 15). Devido a estes fatos se fez necessário organizar uma proposta educacional que tivesse em vista a qualidade da formação a ser oferecida a todos os estudantes. Um ensino de qualidade que a sociedade pudesse se expressar, e com a possibilidade do sistema educacional propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira, considerando os interesses e as motivações dos alunos e garantindo as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, que fossem capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade contemporânea. E para tanto precisariam [...] dominar a língua falada e escrita, os princípios da reflexão matemática, as coordenadas espaciais e temporais que 33 organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação científica, as condições de fruição da arte e das mensagens estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas diferentes concepções do papel da educação no mundo democrático (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 27). Essas exigências apontavam a relevância de discussões sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação, a importância da solidariedade e do respeito. Caberia ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural, e apresentar para a escola, a necessidade de assumir-se como espaço social de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania. Tratava-se de ter em vista a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em função de novos saberes que iriam produzir e formar um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos ritmos e processos. De acordo com os PCN (1997) essas novas relações entre conhecimento e trabalho exigiam capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, “aprender a aprender”. Isso colocou novas demandas para a escola. A educação básica passou a ter assim a função de garantir condições para que o aluno construísse instrumentos que o capacitassem para um processo de educação permanente. Para tanto, seria necessário que, [...] no processo de ensino e aprendizagem, fossem exploradas: a aprendizagem de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não só o descobrimento das potencialidades do trabalho individual, mas também, e, sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de segurança em relação às suas próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de interlocução mais complexos e diferenciados (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 28). 34 Behrens (2020) afirma que um dos grandes desafios da educação é formar cidadãos autônomos, dispostos a promover sua auto-formação ao longo da vida, mantendo uma atitude de pesquisador responsável pelo próprio aprendizado. Diante disto, a autora diz que, busca-se por meio de inúmeras propostas metodológicas, ampliar o eixo da ação docente, tendo como foco principal o aprender a aprender. Isto pode significar um futuro rico em possibilidades, pois no lugar de espectadores se formarão investigadores, no lugar de pessoas passivas e mudas, teremos cidadãos decididos e politizados, pessoas que saberão que além do acesso as informações, também é importante saber como analisá-las para então, organizar novos saberes. Neste contexto os PCN (1997) ressaltam que: [...] a prática de todo professor, mesmo de forma inconsciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e aprendizagem que determina sua compreensão dos papéis de professor e aluno, da metodologia, da função social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados. A discussão dessas questões é importante para que se explicitem os pressupostos pedagógicos que trazem coerência à atividade de ensino, entre o que se pensa estar fazendo e o que realmente se faz. Tais práticas se constituem a partir das concepções educativas e metodologias de ensino que permearam a formação educacional e o percurso profissional do professor, aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são contemporâneas (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 30). As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não apareciam em forma pura, mas com características particulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de uma linha pedagógica. A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixava evidente a influência dos grandes movimentos educacionais internacionais, da mesma forma que expressavam as especificidades de nossa história política, social e cultural, a cada período em que eram consideradas. De acordo com Libâneo (2002) foram identificadas na tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. A pedagogia tradicional era uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se definia como a de vigiar e aconselhar os alunos, 35 corrigir e ensinar a matéria. A metodologia decorrente de tal concepção baseava-se na exposição oral dos conteúdos, numa sequência predeterminada e fixa independentemente do contexto escolar; enfatizava-se a necessidade de exercícios repetidos para garantir a memorização dos conteúdos, transmitindo conhecimentos disciplinares para a formação geral do aluno, quando fosse inserido na sociedade, e no momento de escolher por uma profissão valorizada. A pedagogia renovada era uma concepção que incluía várias correntes que, de uma forma ou de outra, estavam ligadas ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa, que valorizavam o indivíduo como ser livre, ativo e social. O centro da atividade escolar não era o professor nem os conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais importante não era o ensino, mas o processo de aprendizagem. Em oposição à Escola Tradicional, a Escola Nova destacava o princípio da aprendizagem por descoberta e estabelecia que a atitude de aprendizagem partisse do interesse do aluno, que, por sua vez, aprendia fundamentalmente pela experiência, pelo que descobriam por si mesmos. Nesta escola o professor era visto, então, como facilitador no processo de busca de conhecimento que deveria partir do aluno. Cabia ao professor organizar e coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos, para desenvolverem suas capacidades e habilidades intelectuais. Os documentos do PCN (1997) relatam que essa tendência, “que teve grande penetração no Brasil na década de 30, no âmbito do ensino pré-escolar (jardim de infância), até hoje influencia muitas práticas pedagógicas” (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 32). Nos anos 70 apareceu o tecnicismo educacional, inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que definiu uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes. Houve uma valorização grande para a tecnologia programada de ensino, trazendo a ideia de que aprender depende exclusivamente de especialistas e de técnicas, valorizando nessa perspectiva não o professor, mas a tecnologia. O professor passa a ser 36 um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno foi reduzida a um indivíduo que reagia aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não eram considerados e a atenção que recebia era para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deveria programar. No final dos anos 70 e início dos 80, ocorreu uma mobilização dos educadores para buscar uma educação crítica a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas, que tivesse em vista a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade. Ao lado das denominadas teorias crítico-reprodutivistas, firmava-se no meio educacional a presença da “pedagogia libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos conteúdos”, assumida por educadores de orientação marxista. A pedagogia libertadora teve suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram interrompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desenvolvimento retomado no final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa proposta, a atividade escolar baseava-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre a realidade social imediata; analisavam-se os problemas, seus fatores determinantes e organizava-se uma forma de atuação para que pudesse ser transformada a realidade social e política. O professor era um coordenador de atividades que organizava e atuava conjuntamente com os alunos. A pedagogia crítico-social dos conteúdos que surgiu no final dos anos 70 e início dos 80 se colocou como uma reação de alguns educadores que não aceitava a pouca relevância que a pedagogia libertadora dava ao aprendizado elaborado, historicamente acumulado, que constituía parte do acervo cultural da humanidade. A pedagogia crítico-social dos conteúdos entendia que não bastava ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que era necessário que se tivesse domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos pudessem interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe. Tavares (2002) diz que as tendências pedagógicas que marcaram a trajetória educacional brasileira começam trazer contribuições para uma 37 proposta atual que buscasse recuperar aspectos positivos das práticas anteriores em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem, realizando uma releitura dessas práticas à luz dos avanços ocorridos nas produções teóricas, nas investigações e em fatos que se tornaram observáveis nas experiências educativas mais recentes que estavam sendo realizadas em diferentes Estados e Municípios do Brasil nesta época. No final dos anos 70, as tendências didáticas tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés era mais sociológico e político. A partir dos anos 80 surge com maior evidência um movimento que pretende a integração entre essas abordagens. Se por um lado não é mais possível deixar de se ter preocupações com o domínio de conhecimentos formais para a participação crítica na sociedade, considera-se também que é necessária uma adequação pedagógica às características de um aluno que pensa de um professor que sabe e aos conteúdos de valor social e formativo. Esse momento se caracteriza pelo enfoque centrado no caráter social do processo de ensino e aprendizagem e é marcado pela influência da psicologia genética. O enfoque social dado aos processos de ensino e aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de extrema relevância, em particular no que se refere à maneira como se devem entender as relações entre desenvolvimento e aprendizagem, à importância da relação interpessoal nesse processo, à relação entre cultura e educação e ao papel da ação educativa ajustada às situações de aprendizagem e às características da atividade mental construtiva do aluno em cada momento de sua escolaridade (BRASIL, PCN, vol. I, 1997, p. 32). A psicologia genética buscava um aprofundamento sobre o processo de desenvolvimento na construção do conhecimento. Compreender os mecanismos pelos quais as crianças construíam representações internas de conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva psicogenética, trazia uma contribuição para além das descrições dos grandes estágios de desenvolvimento. Em 80 foi revolucionado o ensino da língua escrita no Brasil, e ao mesmo tempo, provocou-se uma revisão do tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhecimento, ou foi muitas vezes interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista para alfabetização, transformando a investigação acadêmica em método de ensino. Com esses equívocos, difundiram-se, sob o rótulo de pedagogia construtivista, as ideias de que não se deveriam corrigir os erros e de que as 38 crianças aprenderiam fazendo do seu jeito. Essa pedagogia, dita construtivista, trouxe sérios problemas ao processo de ensino e aprendizagem, pois desconsiderava a função primordial da escola que é ensinar, intervindo para que os alunos aprendessem o que, sozinhos, não teriam condições de aprender. A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecia a importância da participação construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que favorecessem o desenvolvimento das capacidades necessárias à formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de ensino e aprendizagem como um processo que se desenvolvesse por etapas, o que se propunha era uma visão complexa e provisória do conhecimento, uma vez que não era possível chegar de imediato ao conhecimento correto, mas somente por aproximações sucessivas que permitiam sua reconstrução. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objetivos educacionais que propõem quanto na conceitualização do significado das áreas de ensino e dos temas da vida social contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos, mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno possa ser sujeito de sua própria formação, em um complexo processo interativo em que também o professor se veja como sujeito de conhecimento (BRASIL, PCN, vol. I, 1997, p. 33). Nesta fase, a importância dada aos conteúdos revelava o compromisso da instituição escolar com os saberes convencionados pela sociedade, fazendo com que tudo que fosse ensinado estivesse em consonância com as questões sociais que marcavam cada época. Isso exigia que a escola fosse um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deveria necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural maior. A formação escolar propiciaria o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e universais. 39 Na proposta dos PCN (1997), é colocada a educação escolar como uma prática que tem possibilidades de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente. A prática escolar se diferencia de qualquer outra, por ser uma ação intencional, sistematizada, planejada e continuada por crianças e jovens durante um período extenso e contínuo de tempo. A escola tem como objetivo formar cidadãos para atuar de maneira competente e digna na sociedade, buscando conteúdos relacionados com as questões sociais que marcam um momento histórico, cuja sua assimilação são consideradas essenciais para que os alunos exerçam seus direitos e deveres. Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garanta um conjunto de práticas planejadas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição social com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 34). Nos PCN (1997), para esta função socializadora a escola ressalta dois aspectos que são o desenvolvimento individual e o contexto social e cultural, podendo compartilhar com outras pessoas seus saberes e a forma de conhecimento individual, pois como não há desenvolvimento individual para a sociedade e cultura, é necessário que se tenha um processo de socialização. Os conhecimentos que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido quando são produtos de uma construção dinâmica que se opera na interação constante entre o saber escolar e os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola, num processo contínuo e permanente de aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, culturais e psicológicos. A escola deve se posicionar dando oportunidade para que sejam trabalhados temas que sejam relevantes para a formação de valores e atitudes 40 do sujeito em relação aos outros. E para que a escola possa exercer sua função social deve possibilitar aos alunos condições para desenvolver competência e consciência profissional, possibilitando o cultivo dos bens culturais e sociais, considerando as expectativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da comunidade, dos professores, enfim, dos envolvidos diretamente no processo educativo. De acordo com os PCN (1997) se o projeto educacional exige ressignificar o processo de ensino e aprendizagem, este precisa se preocupar em preservar o desejo de conhecer e de saber como que todas as crianças chegam à escola. É preciso manter a boa qualidade do vínculo com o conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso reiterado. [...] mas para garantir experiências de sucesso não é preciso omitir ou disfarçar o fracasso, é bem ao contrário, significa conseguir realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, com propostas e intervenções pedagógicas adequadas. O professor deve ter propostas claras sobre o que, quando e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o planejamento de atividades de ensino para a aprendizagem de maneira adequada e coerente com seus objetivos. É a partir dessas determinações que o professor elabora a programação diária de sala de aula e organiza sua intervenção de maneira a propor situações de aprendizagem ajustadas às capacidades cognitivas dos alunos. Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajustar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a aprendizagem (BRASIL. PCN, vol. I, 1997, p. 39). E diante deste contexto da educação no Brasil a partir dos documentos relatados nos PCN (1997), é enfatizado que o ensino e a aprendizagem de conteúdos colaboram para a formação do cidadão, buscando igualdade de participação e compreensão sobre a produção nacional e internacional de arte. A seleção e a ordenação de conteúdos gerais de Arte têm como pressupostos a clarificação de alguns critérios, que também encaminham a elaboração dos conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança e, no conjunto, procuram promover a formação artística e estética do aprendiz e a sua participação na sociedade. É importante que o aluno em sua escolaridade tenha oportunidade de vivenciar maior número de formas de arte, precisando para isto que cada modalidade de arte seja desenvolvida e aprofundada. 41 Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula (BRASIL. PCN, vol. VI, 1997, p. 54). Os alunos devem sentir que estão “fazendo música” e o quanto é prazeroso colocar suas personalidades nestas produções, sentir-se inteiros no processo musical, brincando, se divertindo e aprendendo. Em torno dessa imagem, que traz significado à prática musical e sentido à vida escolar, é possível construir novas maneiras de dar aula, elaborando estratégias que visem a uma produção musical calcada no prazer, no desenvolvimento do pensamento autônomo dos alunos e no desejo de aprender música na sala de aula, reformulando constantemente sua prática docente, adequando-a às necessidades e aos interesses coletivos. Paulo Freire (1997) nos diz que ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, da boniteza e da alegria, cabendo aos professores a eterna busca pelo “gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido, e que ensinar exige alegria e esperança e que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando” (FREIRE, 1997, p. 160). Propondo uma pedagogia das diferenças voltamos a salientar a importância da observação por parte do professor, quando ele realmente conhece seus alunos e, assim, escolhe a melhor forma de ajudá-los quanto ao seu desenvolvimento pessoal e musical. Isso implica a percepção do aluno como uma pessoa – não apenas um ser que aprende, as uma criança cuja vida, dentro e fora da escola, é objeto do conhecimento e da atenção da professora. Na visão de Gainza (1977), “o educador musical que sente a Pedagogia como uma arte, aspira a ser um intérprete e não um mero repetidor da obra pedagógica dos diferentes educadores musicais com quem ele tem contato” (GAINZA, apud JOLY, 2003, p. 122). Esta atitude será tomada, certamente, por aqueles educadores musicais que realmente acreditam na Educação Musical como meio efetivo na formação da criança, valorizando a cultura que sustenta a vida destes alunos dentro e fora da escola, e que é capaz de contaminar a Educação pela Arte, assim como de possibilitar que o educando se construa e reconheça como indivíduo e ser social, através dos conhecimentos musicais adquiridos. 42 As características e as possibilidades até aqui levantadas mediante o ensino de música nas escolas regulares, veiculam grande relevância à coletividade, porque em geral, os alunos aprendem muito uns com os outros nos trabalhos de grupos, nos quais as diferenças e as aptidões individuais estão postas. Faz-se necessário então, o uso da dialética, das relações desta diversidade com o eu individual, em que os alunos ora se identificam com os interesses comuns e ora percebem-se enquanto indivíduos com atitudes, gostos e conhecimentos próprios. Mais uma vez está nas mãos do professor a construção de uma projeto que potencialize a participação de todos, provocando a reflexão e a consequente ação. Ou seja, um processo de ensinar e de aprender baseado na auto-reflexão e na ponderação conjunta. A aprendizagem não está limitada à ação de um aluno e do professor, mas vê-se ampliada para um grupo social com interesses, necessidades e exigências que vão configurando uma cultura peculiar, na qual o professor desempenha papel fundamental no processo de ensinar e aprender. Volto a citar Paulo Freire, por perceber em seu trabalho uma forte ligação que ele faz quando valoriza a educação pela comunicação, e aponta para um saber que se constrói a partir da interlocução que busca significados que são partilhados, controlando as próprias ações e apropriando-se do saber como um processo social. Reforçando a importância da comunicação entre os grupos o autor afirma que os homens, na busca de significados e consensos para os problemas que afligem a coletividade, podem chegar à transformação social quando se assumirem como protagonistas e forem capazes de refletir e criticar em conjunto: [...] para ambas as partes, a tarefa interpretativa consiste em incorporar na sua perspectiva, a interpretação da situação produzida pelo outro, de tal maneira que, na versão revista, o seu mundo exterior e o meu mundo interior se possam relativizar – em função da relação entre o nosso mundo vital e o mundo – gerando uma aproximação suficiente entre as definições discrepantes que se produzem acerca da situação (FREIRE, 2000, p. 24). Com relação ao pensamento de Freire, encontra-se sentido quando se concorda que o ato educativo deixa, assim, de se basear numa relação em que o professor, detentor do conhecimento, procura transformar o aluno ignorante, 43 que passa a entender-se como parte de uma comunidade educativa, na qual se criam as condições para que o currículo seja algo que vai sendo construído através do diálogo em que todos participam. Enfim, seja buscando novas formas de atuar na escola, seja construindo propostas pedagógicas e metodológicas adequadas para esse contexto educacional musical, seja ainda repensando a formação do professor, [...] é preciso aprofundar cada vez mais o compromisso com a educação básica, pois só assim a educação musical pode de fato pretender o reconhecimento de seu valor e de sua necessidade na formação de todos os cidadãos. Este é, portanto, o grande desafio (FREIRE, 2000, p. 36). A escola pode realizar um ensino de música que esteja ao alcance de todos, visto ser um espaço de construção e reconstrução do conhecimento. A ousadia fica por conta das tentativas de democratizar o acesso à arte, de se projetar nesta tarefa de renovação, reconstrução e, mais ainda, de apoiar as atividades pedagógicas musicais, considerando-as qualitativamente significativas. Se o verdadeiro objetivo é aproximar o aluno da música, levandoo a gostar de ouvi-la, apreciá-la e compreendê-la, é preciso, com urgência, preencher o vazio musical no cotidiano escolar o qual, ao mesmo tempo, deixase escapar aos nossos sentidos. Fazendo uma reflexão da educação no Brasil a partir desta preocupação da formação completa do sujeito para a sociedade contemporânea, e qual a contribuição da Educação Musical para a Educação Básica. Que conexão é possível ser feita entre o que a Educação Musical proporciona ao aluno e o que a Educação Básica visa formar. Para uma melhor compreensão dos benefícios da Educação Musical na formação do sujeito considero importante uma reflexão de como vem acontecendo sua trajetória histórica ao longo dos anos. 2.2 História da Educação Musical e tendências das práticas pedagógicas No Brasil, a Educação Musical passou por uma trajetória lenta e reformista, observando-se as mais diversas concepções referentes ao ensino da música. Por exemplo, com a queda do sistema Republicano em 1930, instalou-se uma política educacional nacionalista e autoritária que utilizou a 44 música para desenvolver a "coletividade", a "disciplina" e o "patriotismo". É durante esse período que se dá a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas primárias e secundárias (Decreto nº 19891, de 11 de abril de 1931), refletindo um momento de transformação liderado por Villa-Lobos. A esse respeito cita-se o pensamento de Souza (1998): A ideia sobre a educação musical na literatura dos anos trinta é muito diferenciada e por vezes contraditória. Especialmente são colocados objetivos sócio-políticos muito gerais como educação musical a serviço da coletividade e unidade nacional, o despertar do sentimento de brasilidade ou ainda disciplina social, que no entanto não são em lugar algum claramente definidos mas apenas vagamente descritos (SOUZA, 1998, p.13). A Educação Musical, do modo como foi concebido no século XIX, ocupou lugar de destaque em nossa educação, e seu reconhecimento, sua importância e seus benefícios à elite eram visíveis, uma vez que em nossa realidade a educação do século XIX foi quase toda preceptoral, ou seja, trabalhada por preceptores que atendiam as elites. De acordo com Fonterrada (2005) o educador musical iniciava seus alunos na tradicional cultural musical européia, com o objetivo de formar músicos, independente de seguirem uma carreira musical. Ensinava-se nas poucas escolas de elite a alfabetização musical, o ler e escrever músicas, a fim de serem introduzidos na prática de instrumentos tradicionais. Foi um decreto federal de 1854 que regulamentou a Educação Musical escolar, orientando as atividades docentes. No ano seguinte, uma nova lei estabeleceu as diretrizes dos concursos públicos para a contratação de professores de música. A título de ilustração nota-se, conforme comenta Jardim (2006), que o ensino de canto coral foi instituído no Brasil desde o século XIX, quando o decreto nº. 27, de 12 de março de 1890, estabelecia tal matéria para a formação do professor normalista e iniciação musical infantil (crianças de 7 a 10 anos). Contudo, surgiram no século XX novos métodos de ensino de aprendizagem pela descoberta, centrados na criança, aprofundando a ideia de alfabetização musical, visando despertar os “sentimentos” e as “expressões”. O aluno passava a partir daí a construir seu processo de aquisição do 45 conhecimento. Assim, coube ao educador musical perceber as crianças como compositoras e inventoras, encorajando-as à auto-expressão. Essa forma de ensino musical sofreu críticas com relação à exigência e a perspicácia do educador. O conteúdo e a forma de métodos específicos eram testados na execução de um instrumento, ficando difícil a avaliação da capacidade criativa do aluno. Ainda durante o século XX, cresceu a preocupação de se preservar determinadas culturas de cada região do país, para não perder sua originalidade. Buscou-se, também, compreender a maneira como se manifestavam as diferentes culturas existentes em nosso país, bem como o reconhecimento e valorização de cada grupo étnico e o respeito entre esses grupos. O enfoque multicultural se contrapõe à ênfase dada anteriormente à herança européia, ao ensino da notação e aos instrumentos tradicionais. Assim, esse ensino, sofreu duras críticas e lançou desafios ao educador, que necessitaria conhecer costumes, práticas, instrumentos musicais que nunca vira ou estudara, e os estudantes teriam a oportunidade de construir seus conhecimentos nas diferentes manifestações musicais de diferentes repertórios, instrumentos, formas de notação e outras. Na Primeira República, a legislação educacional evoluiu diversamente em cada estado, fazendo com que em cada região a estrutura e o funcionamento das escolas adquirissem características muito específicas. Em São Paulo, por exemplo, a matriz curricular abrangia disciplinas como educação cívica, leitura de música e canto, exercícios ginásticos e militares e trabalhos manuais apropriados à idade e sexo (NAGLE, 1985). Nos anos 20, acompanhando a modernização e a urbanização do país, jovens educadores como Anísio Teixeira realizaram um ciclo de inovação na pedagogia nacional, difundindo os ideais da Escola Nova no Brasil. Inspirados nas idéias do norte americano John Dewey, esses intelectuais propunham uma escola mais democrática, liberal e concernente aos interesses dos educandos (NAGLE, 1985; FUCCI, 2006; JARDIM, 2008). De acordo com Fucci (2006), acompanhando tal processo, nos anos 30 foram realizadas reformas educacionais no Distrito Federal, das quais tomaram parte educadores e artistas, como Cândido Portinari, Cecília Meireles e Villa- 46 Lobos. O maestro, convidado a ser diretor do ensino artístico no Rio de Janeiro, inseriu a disciplina canto orfeônico no currículo das escolas locais, medida que foi, pela reforma Capanema, ampliada para todo o território nacional. Para apoiar tal projeto, Villa-Lobos fundou a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), a qual visava à realização da orientação, do planejamento e do desenvolvimento do estudo da música nas escolas, em todos os níveis. Com a evolução do ensino de canto orfeônico em todo o território nacional, foi criado o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (CNCO) em 1942, com a finalidade de formar professores capacitados a ministrar tal matéria (FUCCI, 2006, p. 156). Depois da Segunda Grande Guerra, surgiu o movimento Música Viva, liderado por Hans-Joachim Koellreuter, o qual defendia o "combate pela música que revela o eternamente novo, isto é: por uma arte musical que seja a expressão real da época e da sociedade" (BRITO, 1998, p. 27). A organização da música vocal na rede oficial de ensino, durante as décadas de 30 e 40, permitiu uma maior veiculação da música entre a população brasileira por muitas gerações, em um processo de democratização e de valorização cultural. Todavia, em 1961 o Conselho Federal de Educação instituiu a educação musical, em substituição ao canto orfeônico. A educação musical transformou-se em disciplina curricular até o início da década de 1970, quando, com a LDB 5692/71, o Conselho Federal de Educação instituiu o curso de licenciatura em educação artística, alterando o currículo do curso de educação musical e criando a figura do professor polivalente. Essa matriz curricular passou a compor-se de quatro áreas artísticas distintas: música, artes plásticas, artes cênicas e desenho. Assim, a educação artística foi instituída como atividade obrigatória no currículo escolar do 1º e 2º graus (ensino fundamental e médio), em substituição às disciplinas de artes industriais, música e desenho, passando a ser um componente da área de comunicação e expressão (FUCCI, 2006, p. 155). Em 1971, a música passou a fazer parte de um ensino interdisciplinar, com base no artigo 7º da Lei 5692 de 1971. Com esta reforma, a Educação Artística foi introduzida nos currículos escolares de I e II Graus, trazendo problemas para o ensino da música, bem como para as outras artes (artes plásticas e artes cênicas). De 1971 em diante, o professor de Educação 47 Artística ficou responsável por uma prática pedagógica polivalente. Consequentemente, aqueles profissionais que tinham formação na área da música davam aulas de música e, esporadicamente, pincelavam tentativas com atividades de artes plásticas e artes cênicas. Entretanto, aqueles professores que não tinham formação em música acabavam ministrando aulas apenas nas outras áreas (KATER, 1992). Com a Lei de Diretrizes e Bases da educação nº 9394, de 1996, a educação artística foi substituída pela disciplina arte, componente curricular obrigatório em todos os níveis da educação básica. Com essa resolução, consolidou-se a desagregação total da prática musical na escola. Grande parte dos educadores, licenciados em educação artística, mas sem qualquer qualificação na área de música, não podendo lidar adequadamente com a educação musical, passaram a utilizar um ensino voltado quase que totalmente às artes plásticas. A partir disto a Educação Musical tornou-se, então, privilégio de uns poucos, pois a maioria das escolas brasileiras aboliu o ensino de música dos currículos escolares devido a fatores como a não-obrigatoriedade da aula de música na grade curricular e a falta de profissionais da área, somando-se a isso os valores culturais e sociais que regem a sociedade brasileira. As raras instituições de ensino que ainda preservam a música no programa curricular oferecem uma carga horária mínima e, nessa situação caótica, ainda encontrase a problemática da prática pedagógica da educação musical (BEYER, 1993). Na grande maioria das vezes, segundo Santos (1994), as aulas restringem-se ao trabalho de "eventos culturais objetivando culminâncias que, embora altamente motivadoras, vêm em nome de um produto, sacrificando um processo" (SANTOS, 1994, p.10). E a autora prossegue mencionando que os professores aceitam a função de: [...] festeiro, preparador de hinos; encaram o trabalho artístico e musical como auxiliar pedagógico para fixação de conhecimentos de outras disciplinas; justificam o trabalho artístico e musical como momento de liberação emocional e/ou relaxamento para o desenvolvimento em processos cognitivos desenvolvidos em outras disciplinas do currículo (SANTOS, 1994, p.10). 48 De acordo com Del Ben (2007), vive-se em um momento de expectativa dentre os profissionais da Educação Musical. Tem sido veiculada nos meios acadêmicos, na imprensa musical, nos diversos contextos em que se pratica a música, a vitória do projeto de lei nº 330/2006 em dezembro de 2007, quando este foi aprovado no Senado Federal, após intensos debates com a participação da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), do Grupo de Articulação Parlamentar Pró-Música (GAP), de legisladores e de representantes de diversas instituições do país. Mais recentemente, em junho de 2008, o projeto de lei, agora com o número 2732/08, foi aprovado em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, tendo sido encaminhado para a sanção presidencial. Um novo marco para educação musical passa a surgir com a proposição do projeto de lei 330/2006, que institui a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica, alterando as Leis de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96: a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular arte; a educação musical será ministrada por professores com formação específica na área e os sistemas de ensino terão três anos para se adaptarem às exigências estabelecidas. De acordo com Del Ben (2007), o manifesto pela implantação do ensino musical nas escolas reconhece a discrepância entre os concursos para a contratação de professores polivalentes - que continuam ocorrendo - e o fato das universidades oferecerem candidatados qualificados em cada área artística específica. Diante desse quadro, ressalta-se a importância do professor ter a garantia de um espaço legal para o ensino da música nas escolas de educação básica, a implementação gradativa do ensino de música nestas escolas, a elaboração de concursos públicos com mais vagas específicas na área de música, tendo em vista que resultados de trabalhos realizados em diferentes estados do país sugerem que são escassos os professores de música nas escolas de educação básica, bem como práticas sistematizadas de ensino musical, e a construção de projetos de formação musical e pedagógico-musical continuada para os professores em serviço na educação básica. 49 Penna (2008) ressalta que esses desafios exigem novas reflexões e uma outra formação, com base em uma concepção de música bastante ampla. A autora ainda insiste na questão da educação básica, por entender ser este o espaço em que o ensino de música pode ter um maior alcance social, atuando efetivamente para a democratização no acesso à arte e à música. No entanto são múltiplos os espaços de atuação para o educador musical, pela diversidade de contextos educativos, escolares ou extra-escolares, incluindo os projetos sociais e as escolas especializadas em música. Para tanto, a formação do professor não se esgota apenas no domínio da linguagem musical, sendo indispensável uma perspectiva pedagógica que o prepare para compreender a especificidade de cada contexto educativo e lhe dê recursos para a sua atuação docente e para a construção de alternativas metodológicas. O fato é que toda construção do novo é difícil, colocando em jogo não apenas romper a inércia e os padrões estabelecidos, mas também enfrentar o desconhecido e criar condições para mudanças que não sejam apenas de nomes e de discursos, mas sim transformações efetivas de práticas, de posturas e de concepções. Afinal, de acordo com Penna (2008) o trabalho com música não é somente uma sequência de disciplinas e suas ementas, mas envolve concepções de música, de educação, assim como do papel político e social da escola, que o professor deve estar comprometido com a mudança, e com a educação buscando caminhos para a democratização no acesso à arte e à música. Somente desta maneira os professores de música poderão ocupar com competência e com práticas significativas os possíveis espaços educativos, e em especial a escola regular de educação básica, reconhecendo assim o valor social da educação musical. Neste sentido serão abordadas no próximo capítulo as concepções da educação musical, bem como a sua fundamentação teórica. 50 CAPÍTULO III CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO MUSICAL E METODOLOGIAS APLICADAS Para uma melhor compreensão da Educação musical é necessário uma reflexão sobre o ensino de música, pois engloba campos de conhecimento diversos e a valorização da educação e da música. Para isto se faz necessária uma visão histórica dentro de uma perspectiva psicológica das teorias de ensino e aprendizagem bem como das funções social e filosófica da escola e da música, pois a Educação Musical “é um fundamento importante para a construção de uma proposta de ensino que auxilia na compreensão do sistema de crenças e valores: a forma como é percebido o mundo e o que é definido como importante” (BEINEKE, 1999, p. 117). A seguir serão apresentadas definições dos termos que serão usados com os significados pertinentes a esta pesquisa, pois achei necessário caracterizá-los dentro de uma concepção educacional. 3.1 O sentido e o significado da Educação Musical A Educação Musical, entendida como ciência ou área de conhecimento, não escapa de conviver e de se defrontar com constantes situações problemáticas que são peculiares ao atual momento. Diferentes práticas, espalhadas pelo país, são propostas com a intenção de amenizar as necessidades pedagógicas musicais decorrentes da diversidade de concepções de conhecimento e de mundo. De acordo com Loureiro (2003), mesmo que o ensino de música nas escolas de ensino regular esteja diluído em práticas metodológicas diversas, muitas vezes por falta de fundamentação teórica consistente ou por formação inadequada do educador musical, a Educação Musical envolvida no contexto mais amplo do fenômeno educação não pode negligenciar-se a entender que a 51 “pluralidade não significa renunciar à identidade e não pode, em caso algum, justificar a dispersão, a falta de rigor ou a superficialidade científica” (Pimenta, apud Souza 1996, p. 12). São muitos os problemas enfrentados pela área de educação musical, e dentre eles, é considerado como os de maior importância “a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar” (LOUREIRO, 2003, p 109). Para o professor Koellreutter, [...] a função da arte varia de acordo com as intenções da sociedade. Porque o sistema social, o sistema de convivência inter-humana, é governado pelo esquema de condições econômicas. Na sociedade, o conceito de “arte representativa”, como objeto de ornamentação de uma classe social privilegiada, como um “status-símbolo” na vida privada de uma elite social não envolvente, não é mais relevante (KOELLREUTTER, 1990, pp. 40-41). Loureiro (2003) considera importante na era tecnológica, que a arte se deve ao fato de ser um elemento essencial de integração do homem na sociedade, surgindo como um instrumento de desenvolvimento da personalidade, de libertação, de estímulo à criatividade, meio indispensável de educação. Nessa perspectiva, segundo Koellreutter, A arte torna-se essencial à existência e transforma-se em instrumento de um sistema cultura que enlaça todos os setores deste mundo construído pelo homem contribuindo para dar forma a estes setores. A arte torna-se fator preponderante de estética de humanização do processo civilizador (KOELLREUTTER, 1990, p. 40). Tourinho (1996) afirma que as questões relacionadas a valores da música ou das outras artes sempre foram objetos de contínuo debate e especulação tanto filosófica, quanto histórica ou sociológica. Não são questões generalizáveis, pois situações como tempos, espaços e culturas diferentes tiveram, têm e terão concepções variadas sobre música, suas funções, práticas e, portanto, valores atribuídos ou ligados a ela. A autora afirma que muitas questões podem ser propostas no intuito de reforçar a necessidade de uma reflexão crítica para aprofundamento do valor e da natureza da música e de suas implicações estéticas, psicológicas, históricas, culturais e sociais na vida 52 do indivíduo. Tal reflexão para reconhecerem os valores atribuídos à música deve partir da própria prática pedagógica, possibilitando à sociedade tomar consciência das relações entre educação formal, educação musical, indivíduo e sociedade. Hentschke (1993) identifica pelo menos, cinco valores sobre os quais a prática de educação musical tem sido fundamentada ao longo dos anos. A autora aponta os valores “social, estético, multicultural, psicológico e tradicional” como valores e crenças que, através dos tempos, foram apontados por diversas correntes de pensamento, fundamentados em áreas diversas de conhecimento e que viriam refletir uma concepção de vida, de homem e de arte, dentre elas, a música. Segundo a autora, Faz-se necessário considerar que em toda prática educacional estão refletidos os valores e crenças de seus agentes. Neste sentido, se esses valores e crenças não estiverem fundamentados, eles poderão facilmente ser transformados ou subjugados a pressões externas. A convicção e clareza com que determinados valores são estabelecidos e assumidos são de fundamental importância, pois, com base neles, de modo consciente ou inconsciente, as práticas educacionais são efetivadas. Portanto, subscrever um valor falso para a Educação Musical como, por exemplo, transformando-a em algo lúdico e passageiro, pode não só trazer prejuízo ao educando como também para a própria Educação Musical (HENTSCHKE, 1993, p. 56). Loureiro (2003) se refere à música, e à educação pela música, dentro dessa nova sociedade em fase de desenvolvimento sociocultural, em que sistemas ligados à comunicação de massa, ao desenvolvimento acelerado da tecnologia dominam o cenário nacional, surge a necessidade de fazê-la interagir com este mundo globalizado, numa tentativa de torná-la mais próxima do homem, prevenindo, dessa forma, o declínio de sua importância social. A música, como qualquer conhecimento, entendida como uma linguagem artística, organizada e fundamentada culturalmente, é uma prática social, pois nela estão inseridos valores e significados atribuídos aos indivíduos e à sociedade que a constrói e que dela se ocupam. De acordo com Fonterrada O aprendizado da música envolve a constituição do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O 53 uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto em seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquirirá novos sentidos e significados, modificando também a própria linguagem musical (FONTERRADA, 2005, p. 41). Koellreutter (1990) acredita que somente um tipo de educação musical é capaz de reverter o quadro pelo qual passa o ensino musical: o desenvolvimento da criatividade, do senso crítico e de responsabilidade, da sensibilidade de valores e de memória, e principalmente o desenvolvimento do processo de conscientização com base no raciocínio e da reflexão. É um tipo de Educação Musical que aceita “como função da educação nas escolas a tarefa de transformar critérios e ideias artísticas em uma nova realidade, resultante de mudanças sociais, colocando o homem como objeto da educação musical” (KOELLREUTTER, 1990, p. 6). Por isso Souza (1998) afirma que “a aula de música só pode ter êxito se transformada numa ação significativa, o que pressupõe uma permanente abertura para o novo num diálogo permanente com a realidade sociocultural” (SOUZA, 1998, p. 82). Uma concepção educativa que valoriza a inclusão das disciplinas artísticas, e a música é uma delas, deve estar convencionada e preocupada em desenvolver no indivíduo o interesse pela criação e pela apreciação estética, podendo compreender e até mesmo contestar, ao mesmo tempo em que busca desenvolver sua imaginação e disposição para novas atividades artísticas. Snyders (1994), apesar de reconhecer as dificuldades e as carências que o ensino da música enfrenta no espaço escolar, principalmente quando se propõe a levar aos alunos a apreciação e a experiência do belo, procura apontar caminhos que levem a superar reações adversas e indesejáveis. Para o autor O drama efetivo e cotidiano do ensino da música é que dispõe de muito pouca, verdadeiramente muito pouca, utilidade para o futuro da imensa maioria dos alunos: é preciso lembrar aqui que ele não tem muita influência em seu futuro profissional, nem mesmo em seu futuro escolar, notadamente na passagem para uma classe mais adiantada. Sonho com um ensino de música que responda a estas acusações dizendo que o que 54 propõe não ter por finalidade favorecer um desempenho melhor “em seguida” e que nem pretende ser um modelo reduzido de tudo o que se passará “em seguida” na vida adulta, quando a juventude acabar. A vida se desenvolveria no presente, seria dado valor á existência presente dos alunos. O ensino de música tem, então, um papel exemplar: precisamente porque não visa ao futuro, ao sucesso futuro, só existe e se justifica pela alegria cultural que oferece aos alunos em sua vida de alunos (SNYDERS, 1994, p. 133). Nem todos os alunos são tocados pelas mesmas alegrias, e por isso a importância de mostrar alegrias diferentes, focalizando a escuta de obras de natureza diferente, esperando que em alguma o aluno encontre o que lhe agrade, e que a partir desta que gostou passe a gostar de outras. Nessa perspectiva é sempre importante considerar o interesse do aluno, abrindo espaços para que possa colocar suas ideias sem medo, onde suas vivências passam a colaborar com o crescimento do grupo e tornar mais interessante o momento musical. Nesse aspecto é indiscutível a importância do educador musical. Segundo Reis, Um professor de educação musical que consiga levar seus alunos a um nível verdadeiramente elevado de percepção artística, estará preparando o seu senso crítico para perceber, com maior clareza, as mazelas da sociedade. O esclarecimento tem que ocorrer em todos os níveis e em todas as disciplinas do currículo, mas através da Educação Artística, o aprofundamento ocorre de uma forma especial, atingindo de início, prazerosamente, a sensibilidade e daí partindo, de modo evolutivo – envolvendo sensibilidade, razão, imaginação e a própria “expressão” estética do aluno – num reforço produtivo altamente motivado e gratificante, para uma reflexão cada vez mais ampla, elevada e profunda. Nesta se inclui a descoberta feita pelo próprio educando de seu potencial expressivo e criador, como indivíduo capaz de transformar o mundo, dominar a natureza e influir na alteração do rumo dos acontecimentos (REIS, 1996, p. 89). O essencial é entrar em contato com a própria música, de modo prazeroso e interessante para o aluno, e que o professor de música esteja preparado para descobertas e improvisos. É fundamental o papel da escola no estudo da cultura musical, pois nela poderão ocorrer as trocas de experiências pessoais, intuitivas e diferenciadas. Daí a necessidades de não se perder de vista as práticas musicais que respondem a movimentos sociais e culturais que 55 vão além dos muros da escola, mas que refletem, mais cedo ou mais tarde, no interior da sala de aula. Loureiro (2003) considera o Brasil rico em diversidade e manifestação musical, e é difícil de entender e aceitar que o ensino da música nas escolas não se encontra ainda disseminado. Se vivemos numa sociedade urbana e industrial, em crescente progresso de desenvolvimento, onde várias manifestações culturais se propagam de modo bastante intenso, rápido e diversificado, “não seria exagero imaginar que nossos alunos estariam imersos e que teriam à sua disposição uma variedade musical imensa e rica, formada por músicas de vários estilos, formas e épocas” (LOUREIRO, 2003, p. 122). No entanto as possibilidades não estão ao alcance de todos e isso mostra um quadro que está presente nas escolas, e vem para confirmar que a função da escola continua sendo a de transmitir conteúdos de caráter extenso e elaborado, com conteúdos musicais específicos como, por exemplo, a música clássica. Diante dessa situação, Penna (1996) coloca que o principal desafio do sistema educacional brasileiro continua sendo [...] o de promover um real acesso ao saber, à cultura e à arte. Encarando este desafio, a educação musical precisa buscar, como objetivo último, promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, preparando o aluno para que se torne capaz de aprender criticamente as várias manifestações musicais disponíveis em seu ambiente (PENNA, 1996, p. 23). Mas como a finalidade dos PCN está na configuração de uma nova proposta de ensino, seus objetivos só serão atingidos se um novo modelo de escola vier a proporcionar maiores espaços para a convivência e a interação humanas, buscando a compreensão dos aspectos dinâmicos da cultura, e consequentemente, a valorização da cidadania plural e real, que são necessários para uma prática curricular dentro de uma perspectiva crítica e desafiadora. Hentschke (1993) observa, em relação ao valor tradicional da Educação Musical, a tendência de se desenvolver em algumas habilidades específicas em música, como também a concentração na aprendizagem de história da música e outros, deixando o ensino ficar exclusivo para os que 56 possuem dom ou ouvido musical para estas práticas. Isto gerou uma exclusão indiscriminada das pessoas, e um distanciamento em relação à prática musical. A autora destaca o valor psicológico da música como um valor que em razão da natureza do seu objeto, torna-se inevitável para a prática de educação musical. A ênfase volta-se para o desenvolvimento da criança, onde os princípios educacionais serviram de base para os propósitos da teoria progressiva, encontrando na música seguidores tais como Dalcroze, Orff e. mais tarde, Paynter e Shaffer. Os princípios desta teoria cujo métodos priorizam a aprendizagem por meio da descoberta, em que o aluno deixa de ser um simples receptor de informações, para ser como construtor do seu próprio conhecimento, se tornando um aluno descobridor ou criador. A preocupação volta-se para o aspecto cognitivo da experiência musical, onde a psicologia vem buscando conhecer o pensamento humano e ampliando a compreensão do desenvolvimento e do comportamento, relacionando com as emoções, linguagem e habilidades. Segundo Mársico (1985), O desenvolvimento musical, como todo desenvolvimento humano, parte de experiências concretas e aos poucos se orienta para o crescimento abstrato da linguagem musical. Os conceitos musicais não são adquiridos definitivamente num determinado momento. São primeiro apreendidos vagamente e depois progressivamente compreendidos e interpretados, cada vez com maior precisão (MÁRSICO, 1985, p. 22). Isso significa que diferenças individuais existem e que nem todas as crianças atingem, ao mesmo tempo, o mesmo nível de desenvolvimento. O processo de integração e amadurecimento envolve circunstâncias exteriores que irão se modificando no decorrer dos desenvolvimentos afetivo, psicomotor, cognitivo e musical. Loureiro (2003) diz que a educação musical tem uma função socializadora e que vem contribuir no desenvolvimento e na formação integral do indivíduo. “A importância do ensino de música na escola reside na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir-se sensibilizada pela música, valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p. 127). Considerando que a música desempenha um papel ativo dentro da educação geral do indivíduo, o conhecimento progressivo da linguagem musical deve ser dirigido no sentido de valorizar a percepção e a expressão de 57 elementos sonoros musicais. O processo de ensino musical não é portanto, simplesmente intelectual, mas deve ocorrer pela mediação entre a realidade musical e o sujeito. O uso e o domínio da linguagem musical modificam e transformam o sujeito e, conforme for sua vivência em um ambiente musical rico, organizado e estimulante, o levará ao domínio espontâneo e progressivo de habilidades, podendo ampliar o sentir e o fazer musicais, que serão muito benéficos culturalmente. De acordo com Loureiro (2003), encarar a música como uma linguagem tão importante desenvolvimento quanto amplo outra do qualquer, indivíduo, capaz é um de contribuir problema que para o envolve conhecimento e compreensão musical. “É ter a consciência de que a especificidade da música está no seu entendimento como linguagem, como um sistema de sinais que pode ser vivenciado e compartilhado” (LOUREIRO, 2003, p. 134). Entretanto, o uso e o significado que hoje atribuem à música no âmbito escolar evidenciam uma distorção e, consequentemente, uma insatisfação. Porém, o desenvolvimento das potencialidades torna-se evidente no fazer musical, sendo relevante na medida em que mesmo antes de ser desenvolvida a musicalidade da criança, é preciso trabalhar para se adquirir a disciplina e o relaxamento que são necessários para o bom andamento da aula, pois a música é considerada como facilitadora no processo de aprendizagem. 3.2 A música no currículo escolar Para uma melhor compreensão da palavra currículo, Saviani (2000) define: Currículo é entendido comumente como a relação das disciplinas que compõem um curso ou a relação dos assuntos que constituem uma disciplina, no que ele coincide com o termo programa. Entretanto, no âmbito dos especialistas nessa matéria tem prevalecido a tendência a se considerar o currículo como sendo o conjunto das atividades (incluído o material físico e humano a elas destinado) que se cumprem com vistas a determinado fim. Este pode ser considerado o conceito ampliado de currículo, pois, no que toca à escola, abrange todos os elementos a ela relacionados. Poderíamos dizer que, assim como o método procura responder à pergunta: como se deve fazer para atingir determinado objetivo, o currículo procura responder à pergunta: o que se deve fazer para atingir determinado objetivo? Diz respeito, pois, ao conteúdo da 58 educação e sua distribuição no tempo e espaço que lhes são destinados (SAVIANI, 2000, p. 33). Loureiro (2003) considera a importância da educação musical na sociedade contemporânea justificada pela função de promover o desenvolvimento do ser humano, não por meio do adestramento e da alienação, mas por meio da conscientização da interdependência entre o corpo e a mente, entre a razão e a sensibilidade, entre a ciência e a estética. O ensino da arte, especialmente a música, deve ser considerado na educação escolar da mesma forma que outras áreas do conhecimento, como matemática, a língua portuguesa, a história e outras. Mas como oferece uma forma de conhecimento específico deve ser visto de modo organizado, coerente, que o situa entre vivência, expressão e compreensão. No entanto esse conhecimento pode ser instituído e adquirido também na instituição escolar, e com a nova lei, torna-se esse conhecimento artístico obrigatório no currículo, aparecendo assim um problema para ser resolvido a partir do momento que sair do papel e chegar até as escolas, para ser incluído no currículo e oferecido aos alunos no horário escolar. Com isso terá que ocorrer um maior interesse por parte dos administradores escolares e dos próprios docentes, para uma maior sensibilização e pela valorização do ensino da arte na escola. O ensino da música vem lutando pelo seu espaço no contexto institucionalizado. Esta prática continua sendo privilégio de uma minoria que dispõe de recursos materiais e financeiros para sustentar um ensino desenvolvido em poucas escolas especializadas. A estruturação curricular da disciplina música vem gerando, ao longo dos anos, questões e debates quanto à sua constituição como disciplina escolar bem como quanto à sua programação como prática pedagógica no interior das salas de aula. Diante disso Hentschke (1996) colocava já nesta época que Os problemas que enfrentamos na área da educação musical vão desde a falta de institucionalização e reconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar até a falta de sistematização do ensino da música, seja este como parte do ensino formal, bem como em muitas escolas de música. Em qualquer sistema educacional há um reconhecimento no nível do senso comum a respeito do valor de determinados conteúdos na formação dos indivíduos. 59 Estes são englobados pelas disciplinas chamadas “centrais”, ou do núcleo comum, e que são consideradas como “indispensáveis” para a formação de uma sociedade produtora e consumidora do estado atual (HENTSCHKE, 1996, p. 50). O momento requer a valorização da instituição, da criatividade e da livre expressão do aluno, para que possa se envolver com as diversas situações do seu cotidiano e consiga lidar com elas dentro ou fora do contexto escolar. Além disso, é importante a busca por um currículo inovador que requer motivação no investimento de novos projetos, novas propostas e motivação na realização de atividades e atitudes que possam recuperar o gosto e o senso crítico-musical dos alunos. Resgatar o ensino da música no currículo escolar é defendê-lo como uma área de conhecimento sério e dotada de valor e significado. É acreditar que a escola possa aumentar a alegria dos alunos e dos que com eles convivem. Loureiro (2003) coloca que o ensino da música requer uma proposta curricular que “considere as diferenças culturais, o respeito à individualidade e às experiências de cada aluno e, principalmente, as vivências musicais que os alunos levam para dentro do espaço escolar” (LOUREIRO, 2003, p. 150). O ensino da música no contexto escolar busca alargar horizontes, encontrar concepções didáticas que se apóiam no cotidiano do aluno, tirando o foco de um ensino academicista, compartimentado e arbitrário para equilibrar o conhecimento e a práxis. Mais do que transmitir conteúdos prefixados, distribuídos em planejamentos desvinculados da realidade da escola e do aluno É necessário ensinar-lhes a serem construtores ativos de um conhecimento crítico e transferível a outras situações e problemas, não necessariamente artísticos e, de maneira especial, que lhes ajude a interpretar e agir no mundo em que vivem e em suas próprias vidas (HERNÁNDEZ, 2000, p. 88). Para tanto é importante perceber que se quisermos a música inserida no contexto curricular da escola fundamental, será preciso rever valores e reavaliar o verdadeiro papel da música e sua real finalidade educativa, pois sem isto esta prática estará propensa a ficar do lado de fora da escola. 60 3.3 Considerações sobre a Educação Musical: aportes e concepções A valorização do pensamento lógico, com o desenvolvimento do raciocínio e da capacidade de estabelecer pela mente relações que resultem em estruturações do pensamento humano, é a tendência que a educação está desenvolvendo, fragmentando a estrutura do ser. De acordo com Read (apud CAMPOS, 2000), o que está errado no sistema educacional é o hábito de se estabelecer territórios separados, explorando mais a lógica e diminuindo a atividade imaginativa e o prazer sensível. Campos (2000) fala que é da percepção e da sensibilidade que resultam imagens e sentimentos, matérias elementares com que concebemos o mundo e edificamos nosso comportamento diante dele. Pois a educação por intermédio da arte não só dá à criança uma consciência em que a imagem e o conceito, a sensação e o pensamento se relacionam e estão unidos, como também, simultaneamente, propicia um conhecimento instintivo, que se aproveita da espontaneidade da criança, sua imaginação e sensibilidade expressas pela arte. Fusari (1993) coloca que a educação através da arte é um movimento educativo e cultural que busca formar um ser humano integral, valorizando os aspectos intelectuais, morais, estéticos, procurando despertar a consciência individual e harmonizada ao grupo social que pertence. A autora ressalta as palavras da professora Noêmia Varela como: O espaço da arte-educação é essencial à educação numa dimensão muito mais ampla, em todos os seus níveis e formas de ensino. Não é um campo de atividade, conteúdos e pesquisas de pouco significado. Muito menos está voltado apenas para as atividades artísticas. É território que pede presença de muitos, tem sentido profundo, desempenha papel integrador plural e interdisciplinar no processo formal e nãoformal da educação. Sob este ponto de vista, o arte-educador poderia exercer um papel de agente transformador na escola e na sociedade (VARELA apud FUSARI, 1993, p. 20-21). É importante revalorizar o ensino por meio da busca de novas metodologias de ensino e aprendizagem de arte nas escolas, para garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos técnicos, inventivos, que 61 representem e se expressem em música, artes visuais, desenho, teatro, dança e artes audiovisuais. A partir destes elementos o conhecimento é ampliado, e com a arte podem ser anexadas ações como ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer, e se forem seguidos de uma conexão com os elementos da natureza e da cultura, poderão assim analisar, refletir, formar e transformá-los, pois a arte é expressão humana, que todo mundo pode usufruir, mas, somente será arte quando se expressar com inteligência. Arte é um conjunto de palavras, ou de sons, ou de cores, ou de formas, ou de movimentos, ou de fatos, ou de qualquer outra matéria de sua construção, organizado de forma inteligente a ponto de atrair ou de fascinar o ser humano (RICHERME, 2007, p. 58). Por isso Fusari (1993) fala que o professor de arte, junto com os demais professores e com um trabalho formativo e informativo, tem a possibilidade de “construir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem, e saibam compreendê-lo e nele possam atuar” (FUSARI, 1993, p. 24). Para tanto é importante entender o significado e a conotação de educação que embasa esta pesquisa na visão dos seguintes educadores. Pagano (1965) define a educação: como um processo de transmissão de valores culturais que se realiza por meio de uma relação social entre o educador e o educando. Educar é ajudar alguém a ter valor dentro da esfera cultural, seja na música ou em outra matéria (PAGANO, 1965, p. 7). A autora acredita que a educação é o conhecimento que o indivíduo adquire, e que permite contemplar melhor o que há de belo e bom. Paulo Freire (1983) fala que a educação é um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da realidade e na práxis o poder de transformação. Entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser muito mais que um processo de treinamento ou domesticação, um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora, e nesta visão, o autor critica os educandos serem 62 qualificados como recipientes aonde são colocadas informações que são conduzidas a uma memorização mecânica sem nenhuma vivência. Ele acredita que sem “criatividade, sem participação, não haverá transformação e nem aprendizado” (FREIRE, 1983, p. 36). Outro comentário é que: A educação está presente no contato do dia-a-dia, na observação do outro e de cada um no outro. Há um aprender contínuo na percepção aguda dos mínimos contatos, um transformar que absorve gradualmente mudanças que associam novidades à vontade de aprender (CAMPOS, 2000, p. 19). Campos (2000) ressalta que na vida nada se ensina. Só se aprende conforme o grau de interesse e necessidade, e para tanto a educação deverá oferecer instrumentos e condições que ajudem o aluno a aprender a pensar, a conviver e a amar. Outro autor diz que a educação “é um processo contínuo, que começa nas origens do ser humano e se estende até a morte” (BRANDÃO, 1981, p. 45). Para Aurobindo (apud CAMPOS, 2000) a educação significa aprender a lutar, aprender a intensificar a existência e a cumpri-la com decisão e consciência. Educar, basicamente, é ajudar a assumir a vida, é levar o ser a perceber a grande possibilidade que a vida é. Paulo Freire (1983) coloca outro aspecto da educação: todos deveriam participar do processo ensino-aprendizagem, e valorizar a música, em especial a voz, participando de um coral, e desta forma se expressando socialmente. E Penna (2008) completa dizendo que a função do ensino de música na escola é justamente ampliar o universo musical do aluno, dando-lhe acesso à maior diversidade possível de manifestações musicais, “pois a música é um patrimônio cultural capaz de enriquecer a vida de cada um, ampliando a sua experiência expressiva e significativa” (PENNA, 2008, p. 25). E para uma melhor compreensão da discussão de música, destaco alguns autores como: Andrade (1995), Schafer (1991), Moraes (1983) e Aronoff (apud PENNA, 2008), que definem a música como a organização de sons, ritmos e melodias com a intenção de ser ouvida e que pode nos fazer rir, cantar e dançar, tornando-se uma experiência humana. É considerada uma arte dos 63 sons em movimento e sintética por excelência, fazendo uma ligação do psicológico e do fisiológico. Portanto, de acordo com Sekeff (2002) para pontuar música na educação é preciso defender a necessidade de sua prática em nossas escolas, [...] auxiliar o educando a concretizar sentimentos em formas expressivas; é auxiliá-lo a interpretar sua posição no mundo; é possibilitar-lhe a compreensão de suas vivências, é conferir sentido e significado à sua condição de indivíduo e cidadão (SEKEFF, 2002, p. 120). Mas como toda comunicação envolve conflito, o educando precisa aprender a lidar com esses valores com competência e autonomia, e aparece a possibilidade da música como agente mediador, que poderá auxiliar na construção de um diálogo com a realidade. Para tanto é importante perceber que de outra maneira a musicalização desenvolve nos educandos “um processo educacional orientado que se destina a todos que, na situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas de apreensão da linguagem musical” (PENNA, 2008, p. 41). Com isso, pode-se levar o aluno a se expressar criativamente através de elementos sonoros. A educadora musical Gainza (1988) diz que o objetivo específico da educação musical é musicalizar, ou seja, tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical. Também afirma que: Corresponde à educação musical instrumentalizar com eficácia os processos espontâneos e naturais necessários para que a relação homem-música se estabeleça de maneira direta e efetiva. Uma vez assegurado o vínculo, a música fará, por si só, grande parte do trabalho de musicalização, penetrando no homem, rompendo barreiras de todo o tipo, abrindo canais de expressão e comunicação a nível psicofísico, induzindo, através de suas próprias estruturas internas, modificações significantes no aparelho mental dos seres humanos (GAINZA, 1988, p. 42). Alguns educadores usam o termo musicalização ora com o sentido de alfabetizar musicalmente, ora com o sentido de desenvolver a vivência musical sem priorizar o aprendizado de notação. Existem autores que incorporam os dois sentidos acima que é “o de iniciar o indivíduo no universo da música, 64 conservando ao mesmo tempo, os objetivos amplos da sensibilização para os fenômenos musicais” (JOLY, 2003, p. 48). Tal concepção extrapola o fato de apenas introduzir o indivíduo na linguagem musical. Cauduro (1989) acredita que a musicalização infantil não se resume a aulas de teoria ou aprendizagem técnica de um instrumento e seus objetivos não se extinguem no simples ato de cantar por cantar. Eles são amplos e suas metas almejam extrapolar a educação puramente musical, influindo também na formação geral da criança. A iniciação musical para este autor tem por finalidade aproximar a criança da música, levando-a progressivamente a gostar de ouvi-la, a desfrutar o prazer de cantar, de ritmar com as mãos e pés, de dançar e se movimentar ao som da música. Para Feres (1989), a palavra musicalização tem também um sentido bem mais amplo do que ensinar noções de leitura e escrita musical. Dizer que uma pessoa é musicalizada é dizer que ela possui sensibilidade para os fenômenos musicais e que sabe expressar-se por meio da música, quer cantando, assobiando ou tocando um instrumento. Essa forma atual de conceber a musicalização tem origem no pensamento e concepção de educadores musicais, que nas primeiras décadas do século passado contribuíram para uma série de transformações que constituem uma verdadeira revolução no campo das ideias e da prática pedagógico-musical. Feres (1989) diz a partir daí tratou-se então, de recuperar a educação musical das crianças, por meio da atividade e da experiência da vivência musical, que se havia extraviado para um caminho mecânico e formal do intelectualismo. Musicalizar para Brito (1998) é educar pela música, com o objetivo de contribuir na formação e desenvolvimento da personalidade do indivíduo, pela ampliação da cultura, enriquecimento da inteligência e a vibração da sensibilidade musical. A autora diz que é educar formando um público esclarecido e sensível capaz de ouvir e apreciar obras de arte sonora de todas as épocas e origens, favorecendo o despertar de aptidões musicais. Com a reunião e desenvolvimento dos métodos é que se busca atender musicalmente as vivências das crianças, por meio de sua participação criadora, de acordo com Fontanari (1997). Pelo aproveitamento das capacidades humanas (audição, criação, instinto rítmico) é que se consegue introduzir não só em atividades musicais ou 65 nas formas de expressão, mas também na aprendizagem musical e na aquisição de conhecimentos básicos. Efetua-se dessa forma, “a musicalização através da atividade intuitiva, que cria um estado mental intelectual favorável à aquisição de conhecimentos musicais” (FONTANARI, 1997, p. 22). No entanto é importante a compreensão de que a musicalização e Educação Musical não se sobrepõem. Embora a musicalização seja uma forma de educação musical, entende-se que ela é mais ampla, podendo passar por várias etapas de desenvolvimento que ultrapassam a musicalização. E Arroyo (2000) coloca que: O termo "Educação Musical" abrange muito mais do que a iniciação musical formal, isto é, é educação musical aquela introdução ao estudo formal da música e todo o processo acadêmico que o segue, incluindo a graduação e pósgraduação; é educação musical o ensino e aprendizagem instrumental e outros focos; é educação musical o ensino e aprendizagem informal de música (ARROYO, 2000, p.77). E a partir destes pressupostos colocados, a musicalização é concebida como: [...] um processo educacional orientado, que, visando promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, efetua o desenvolvimento dos instrumentos de percepção, expressão e pensamento necessários à apreensão da linguagem musical, de modo que o indivíduo se torne capaz de apropriar-se criticamente das várias manifestações musicais disponíveis em seu ambiente, que é inserir-se em seu meio sociocultural de modo crítico e participante (PENNA, 2008, p. 47). Após a definição destes termos da Educação Musical que serão utilizados no desenvolvimento desta pesquisa, serão apresentados alguns autores que fundamentam a essência da Educação Musical no Brasil. 3.4 Fundamentação teórico-filosófica da Educação Musical Pensar sobre os fundamentos da Educação Musical nos remete à tarefa de buscar compreender as bases em que se apoia esta atividade, pois fundamental no processo da arte é aquilo que é essencial. O autor Borges (2007) fala que os fundamentos, por sua vez, vão ser aqueles elementos 66 indispensáveis que constituem as bases do agir, do refletir, do interagir, enfim, do “ser e do estar em”. A justificativa para a existência de uma filosofia da Educação Musical, para Reimer (2009), faz menção ao seu impacto na sociedade, que será maior ou menor conforme a qualidade do entendimento oferecido às pessoas. O teórico aponta que “a estética sempre foi usada por educadores musicais para diferentes propósitos e sempre foi considerada secundária” (REIMER, 2009, p. 125). Para este, a estética adotada precisa considerar os maiores aspectos da Educação Musical, suficientemente focados para que possa ser um guia para a ação e a reflexão do educador musical, sendo também pertinente para a arte musical e, ao mesmo tempo, capaz de explicar a natureza de todas as artes. Deve conter forte implicação com a educação e ser relevante para esta e para a sociedade em que vivemos. Para Borges (2007), o ensino de arte deve buscar a educação dos sentimentos. Para tanto, procura desconstruir a noção de arte como linguagem. O autor afirma que vivemos em uma sociedade predominantemente conceitualizadora. Neste aspecto, a Educação Musical é importante porque valoriza não apenas a cognição conceitual, mas também a afetiva, a subjetiva, a criativa e outras. Reimer (2009) define conceito como um conhecimento "sobre", enquanto arte é um conhecimento "de". A questão central da filosofia proposta por Reimer (apud BEINEKE, 1999, p. 122) é a capacidade da Educação Musical ser também estética. Reimer (apud BORGES, 2007) enumera duas categorias de experiências com música: estéticas musicais e estéticas não musicais. Experiências não estéticas podem ser funcionais, referenciais ou acontecerem ao nível técnico crítico. Funcionais são as que se referem ao caráter utilitário da experiência estética, ou seja, o uso prático, religioso, terapêutico, moral, político, comercial, entre outros, da arte. Referenciais são as que não focam a experiência musical em si. O nível técnico-crítico difere das experiências referenciais, por ser pré-estético e faz referência aos aspectos técnicos da obra (REIMER, apud, BORGES, 2007, p. 7). Depois desta argumentação, ressalta a importância da contribuição da filosofia na constituição de um currículo para a Educação Musical. O ponto 67 central da proposta de Reimer (2009, p. 127) está assentado na audição de obras e defende claramente o programa geral de música, pois o objetivo final da Educação Musical é fazer com que o aluno sinta e reaja, por meio da percepção estética e da música. A audição é parte importante da criação e esta deve ser encorajada e sensibilizada pelo desempenho, composição e improvisação. De acordo com Reimer (2009, p. 239) a natureza e o valor da Educação Musical são determinados pela natureza e valor da música. Com base nesta premissa inicial o autor estabelece argumentos para afirmar a necessidade de uma filosofia para Educação Musical. A qualidade da compreensão sobre uma atividade profissional está relacionada ao impacto na sociedade que esta profissão pode obter. Assim, a Educação Musical só deixaria a “periferia da cultura humana” quando houvesse maior entendimento profissional do valor da Educação Musical. Para Hentschke (1996) a música não está no rol das “disciplinas sérias” por causa do “uso que se tem feito dessa área de conhecimento e da atividade profissional decorrente dela” (HENTSCHKE, 1996, p. 37). Para modificar este panorama, é preciso uma tomada de consciência dos profissionais que estão atuando no campo da pedagogia musical. Reimer (apud HENTSCHKE, 1996, p. 37) entende que o profissional consciente do valor de sua profissão, mais que um elo na comunidade pedagógica, é alguém que tem a visão modificada a respeito da natureza e do valor de sua vida pessoal. As bases para a valorização da Educação Musical exigem a configuração de uma filosofia. No entanto, seus efeitos serão mais produtivos se essa filosofia estiver em desenvolvimento durante a formação do educador musical, pois a música é uma disciplina do conhecimento que também constitui caminho para se entender a realidade. Reimer (2009, p. 237) afirma que o aluno que entende a natureza real da música pode partilhar as visões da realidade que a música oferece. O problema nessa questão é o contraste entre o ensino da disciplina e a prática da mesma na escola. Enquanto em suas atividades extra-escolares o aluno se conecta com uma vasta gama de opções musicais e trafega por diversos contextos culturais, como a internet, TV, espaços públicos e outros, na escola ele 68 costuma ter contato com expressões musicais que pouco ou nada tem a ver com a realidade sonora que vivencia diariamente. Em contrapartida, David J. Elliot (1995) discorda radicalmente das opiniões expressas por Reimer e outros pensadores que formularam filosofias a respeito da Educação Musical partindo de uma abordagem estética. Opondose a este tipo de pensamento, propõe a criação de uma outra filosofia, a qual denomina Filosofia Praxial da Educação Musical. Para este autor, o termo estética sugere contemplação e não “ação” sobre. (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 12). O autor argumenta no sentido de comprovar a ligação entre o surgimento da concepção estética da arte e do pensamento burguês e aponta que estética não é sinônimo de Filosofia da Arte. Elliott (1995) escreve que, assim como a experiência musical é geradora de integração e auto-estima, a Educação Musical é proporcionadora de valores como crescimento individual e auto-conhecimento. Na sua visão, o desenvolvimento da musicalidade permite a participação construtiva no complexo de expressões/impressões do próprio aluno e dos outros. Elliott diz também que a escola que nega a educação musical sistemática, está negando ao aluno as chaves cognitivas para uma fonte maior de valores fundamentais da vida (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 12). Mais interessado na educação musical integradora do fazer/ouvir música criativamente, o autor confronta o conceito de educação estética proposto por Reimer que tem a música como objeto. Para Elliott, o conceito de educação estética transforma a música em mero objeto de apreciação. As consequências seriam a desvalorização do desempenho e da criatividade do aluno, ênfase no consumo musical e não no fazer musical ativo e artístico e, ainda, separação entre apreciação e produção de música. Segundo Elliott (1995), a música não deve ser uma coleção de objetos estéticos independentes e o desempenho deve estar no centro da educação musical envolvendo um tipo especial de aprendizagem (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 33). Este ponto já nos revela um problema que atinge diretamente as escolas brasileiras, no caso, as que não são de música, visto que também são orientadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e dão ênfase à apreciação musical e à escuta “em detrimento da prática artística” (FONTERRADA, 2005, p. 38). 69 Para Elliot (1995), faltou providenciar uma explicação racional para a natureza do fazer musical, uma vez que esta importante dimensão da musicalidade tem estado restrita à habilidade e técnica. O autor acredita que todas as formas do fazer musical envolvem um tipo de pensamento multidimensional. A imposição de um método uniforme para todos os tempos é oposto ao que é observável sobre a produção e a experiência musical, pois esta é diversa. Resumidamente, música não é um objeto, mas sim uma atividade humana intencional, a qual engloba: "um fazedor, algum tipo de feito, apenas o fazer em si e um contexto onde o fazedor produz aquilo que faz” (ELLIOTT, 1995, p. 40). O autor cria uma expressão para a qual inventaríamos um verbo para a Língua Portuguesa, tal como “musicar”. Musicar, no sentido de desempenho musical, é um tipo particular de ação humana intencional. Envolve, além de desempenho, a improvisação, a composição, o arranjo e a regência. A audição musical liga-se organicamente ao ato do fazer musical. Estas não estão apenas interligadas. Música e audiência são dimensões mutuamente definidas e reforçadas. Elliot (apud, BEINEKE, 1999, p. 123), considera que as ações dos que desempenham e improvisam não são naturais ou inatas. Elas são culturais. A Educação Musical deve empenhar-se em desenvolver a musicalidade do estudante tendo como centro o seu desempenho, que a musicalidade, desenvolve por indução. Estudantes começam a entrar e fazer parte da cultura musical e então começam a aprender. O processo de aprendizagem musical é promovido por um contexto educacional no qual avanços individuais são observados em estudantes que procuram ser, e este contexto inclui o próprio estudante, um autêntico fazedor musical. De acordo com o ponto de vista colocado por Reimer para a filosofia da Educação Musical de que a música não é um objeto, pode-se perceber que: Reimer requer uma filosofia da Educação Musical baseada na perspectiva da compreensão da obra musical enquanto “objeto estético”. Por sua vez, Elliot busca “atualizar” filosoficamente a Educação Musical e preconiza uma crítica ao que chama de “Educação Musical enquanto Educação Estética”, propondo o que denominou Filosofia Praxial e que está embasada numa 70 perspectiva multicultural. Adorno contribui com a busca da elucidação das relações que estabelecem as contradições existentes no entendimento sobre música em nossa sociedade (FONTERRADA, 2005, p. 110). Para Swanwick (1997), Elliott fundamenta sua crítica em uma caricatura da teoria proposta por Reimer e confunde a perspectiva estética com o formalismo musical. Swanwick, inclusive, critica o formalismo por conceber a experiência musical enquanto dissociada das demais experiências: “O problema é que isto falha em conectar a experiência musical com outra experiência em alguma forma direta. A música está sendo novamente removida da vida, transformada em um tipo de jogo” (SWANWICK, 1997, p. 9). A partir de Reimer (1989) e Elliott (1995), que são exatamente da Educação Musical, percebe-se a necessidade de os Educadores Musicais buscarem conhecimentos sobre outras áreas que possam contribuir no processo de crescimento musical e pessoal próprio e dos estudantes. Elliot (1995) enfatiza o aspecto social da música e nesse sentido, o seu processo de aculturação é sempre intercedido pelo mestre. Para a filosofia praxial, a aculturação se relaciona com a apropriação de um código específico, que é o musical. Isto acontece em um tipo de ambiente musical propício e em uma comunidade que engloba desde aprendizes ao mais desenvolvidos. De acordo com Fonterrada (2005), é extremamente difícil exigir uma verdade sobre a natureza e o ato da Educação Musical. A dúvida faz parte do processo para que se ampliem as concepções. Não se concebe uma educação fechada em suas bases, e nem sem horizontes para se ampliar. Não se concebe a Educação Musical enquanto desatada da vida, sem cor ou movimento. Não se concebe uma Educação Musical apática à dúvida e afastada de uma efetiva prática. Não se concebe uma Educação Musical que não considera o tempo e o espaço atual do estudante enquanto sujeito e da sociedade enquanto estrutura. Não é possível compreender uma Educação Musical que não busque o melhor para o estudante, que não pretenda levá-lo a um ponto diferente da partida, que não é digna de suscitar o gosto do estudante pelo conhecimento. Não se concebe uma Educação Musical que não seja “sonora”. 71 A musicalidade é acertadamente o objeto com o qual lida o Educador Musical e é com este que devemos operacionalizar o trabalho. Possuímos limitações para entender uma Educação Musical descontextualizada, sem inserção no Projeto PolíticoPedagógico da escola ou que não planeja com seus pares de outras áreas e, mesmo, de outras manifestações artísticas (BORGES, 2007, p. 56). Por outro lado, o autor partilha da ideia de música enquanto parte essencial da formação do sujeito social capaz de interagir, de compreender e até de modificar a conjuntura. Compreendemos as dificuldades encontradas nas escolas, em todos os níveis e modalidades, mas é importante lembrar que as críticas devem ser colocadas, pois o acesso à educação é direito de todos. É neste sentido que contribuir musicalmente para a formação integral dos sujeitos é garantir a estes o acesso a um tipo de conhecimento específico que pode lhes ajudar a formular um projeto de vida onde a música desempenhe o seu papel de forma mais consciente. Fonterrada (2005) considera fundamental repetir que a importância da existência da música no currículo das escolas é uma forma de assegurar o acesso dos estudantes a este tipo de manifestação cultural específica. Neste sentido é imprescindível à sociedade cobrar a oferta deste tipo de conhecimento dos condutores das políticas públicas. É importante conscientizar a necessidade do surgimento de experiências de educação musical nas escolas e, ampliando estes horizontes, em redes de ensino, tanto privadas quanto públicas, e também lembrar que “música é objeto de estudo sério sim, e também necessário para a compreensão e assimilação por parte dos indivíduos, de qualquer sociedade” (COSTA, 2004, p. 95). Não se concebe um profissional educador musical que não seja um contínuo pesquisador de seu tema de trabalho. Fazer, estudar e ensinar música são atividades interligadas. Neste sentido, o ideal é sonhar com uma Educação Musical atenta à realidade que está cercada, sempre discutindo um aspecto importantíssimo desta atividade artística que é a transformação. Música transforma o indivíduo. A experiência musical nunca nos devolve inteiros ao marco inicial. Somos transpassados por esta experiência. Transforma-se o indivíduo, pode por extensão contribuir positivamente também para transformações na sociedade (BORGES, 2007, p. 59). 72 Para complementar este estudo da parte filosófica, busco respaldo teórico nas propostas de ensino-aprendizagem de John Dewey (1949, 1974), Jerome S. Bruner (1975), Howard Gardner (1993) e Keith Swanwick (1991, 1999) para uma melhor compreensão da trajetória do ensino da música e o desenvolvimento do aprendizado musical da criança. 3.5 Contribuição teórica de educadores O pensamento de cada um dos autores citados no tópico anterior é relevante para essa discussão. Se para John Dewey (1979) a relação entre a vida social e a escolar deve ser interativa, o que faz da educação uma contínua reconstrução da experiência, e resulta em um aprendizado centrado no aluno, Jerome S. Bruner (1975), embora não compartilhe dessa convicção, tem como hipótese que qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência a quem quer que seja, em qualquer idade, desde que o indivíduo esteja em condição de aprender e o tema seja apresentado de forma apropriada e desperte o interesse. Tais informações têm implicações importantes, posto que a informação influencie diretamente a prática dos educadores de modo geral e, obviamente, os da Educação Musical. A pedagogia de Dewey, por exemplo, se baseia nas experiências de atividades nas quais a educação deve consistir em uma reconstrução ativa pela criança da experiência humana. Ele desenvolveu um esquema em cinco passos que são: Uma atividade espontânea escolhida pela criança de acordo com o seu interesse, tendo o professor o papel de interferir no ambiente do ensino, em segundo lugar o problema que pode surgir no desenvolvimento da atividade como um obstáculo que a criança não consegue resolver sozinha. É preciso formular uma questão para ser investigada. Como terceiro passo vem os dados onde a criança vai buscar informações para ajudar a responder a questão estabelecida, e o professor deverá sugerir alguns locais de informações para os problemas que surgirem. E no quarto passo tem a hipótese, que depois de recolherem os dados, as crianças formularão hipóteses para tentarem achar a solução do problema. Como último passo vem a experimentação que com o processo completo poderá produzir uma resposta adequada. 73 Para Dewey (1979) o ensino realizado na forma deste esquema busca reproduzir as etapas do método científico. Ele acredita que a educação é um processo de vida, é um processo social, e um processo de reconstrução, de reorganização da experiência. O fundamental na educação para Dewey é a relação que se estabelece entre a imaturidade da criança e a experiência do adulto. O educando deve estar sempre buscando e com disposição para aprender. Deve ser responsável e desenvolver o hábito de pensar e investigar. O conceito central do pensamento de Dewey consiste por um lado em experimentar e por outro, em provar. Com base nas experiências testadas é que a educação torna para a criança uma forma de reconstrução constante. Bruner, em sua posição, coloca os aspectos relevantes sobre o ensinoaprendizagem que serão considerados nesta pesquisa, tendo o aprendizado como um processo ativo, por meio do qual o aluno é capaz de aprender como as coisas se relacionam e de como pode aplicá-las. Para ele o currículo deve ser construído em torno de grandes temas, princípios e valores, a serem reexaminados e cujas ideias básicas devem ser trazidas de volta, repetidas vezes, valendo-se do currículo espiral (BRUNER, 1975). O principal objeto de estudo de Jerome Bruner é a aquisição dos processos cognitivos pelo ser humano. Em suas pesquisas ele confere uma nítida ênfase à linguagem como o principal meio de representação simbólica da realidade, tanto concreta quanto abstrata, ao afirmar que o homem constrói o conceito que adquire do mundo através dos símbolos linguísticos. Não obstante, estabelece uma relação intrínseca entre o modo de representação visual, com o conceito da representação linguística. Ele observa que a representação visual, um desenho, por exemplo, é uma das primeiras formas de comunicação utilizada pela criança, juntamente com as representações ativas. As representações ativas feitas pelas crianças em seus primeiros estágios de desenvolvimento, por sua vez, corresponde à tentativa de representação de determinadas realidades, através da supressão do estágio de representação lingüística. Como por exemplo, podemos citar a criança que quando ouve a palavra buraco, lhe vem imediatamente na cabeça o ato de cavar; quando ouve a palavra água, igualmente, lhe passa pela mente a ação de beber água, propriamente dita, e, daí por diante, a criança vai elaborando 74 inúmeras representações ativas que objetivam substituir a linguagem ainda mal formada e em processo de desenvolvimento (BRUNER, 1975). Segundo o autor, na tentativa de adquirir conhecimentos básicos para decifrar o meio em que está inserido, o homem acaba por discernir estratégias sistemáticas de comportamento, reconhecendo, continuamente, regularidades dentro da complexidade dos fenômenos do mundo que o cerca. A partir daí, ele começa a formar conceitos estratégicos que, com o passar do tempo, devidamente assimilados e sedimentados, irão permitir a influência sobre o meio, com o poder de moldá-lo e transformá-lo. Bruner relaciona, basicamente, o comportamento do indivíduo com a aquisição de conhecimentos pelo mesmo. É a educação, encarada como um processo sistemático ou não, que servirá de instrumento para que o homem possa dominar o meio em que vive. Ele observou, igualmente, que a eficiência na aquisição dos processos cognitivos e seu posterior desenvolvimento não se davam, de forma alguma, de maneira igual de pessoa para pessoa. Portanto, pode-se observar, na prática, que cada indivíduo assimila informação em tempos e ritmos diferentes, de acordo com seus respectivos potenciais e capacidades. O autor ressalta que: Há uma diferença entre o comportamento que enfrenta as exigências de um problema e aquele que procura defender-se de qualquer participação (...). A última forma não é uma visão distorcida da primeira; é uma posição diversa com objetivos e necessidades diferentes (BRUNER, 1975, p. 10). Há visível preocupação em relação ao comportamento do ser humano frente ao processo de aprendizagem. Para ele, tanto o comportamento quanto a interação do homem com o mesmo, representou, em todo decorrer de seu trabalho, variáveis de suma importância para a elaboração dos conceitos sobre os processos de aquisição do conhecimento. Neste sentido, as pesquisas e as colocações desses dois autores parecem apontar na mesma direção. Ambos os autores apresentam a educação como processo a se desenvolver ao longo da vida e que implica efetiva participação dos atores nele envolvidos. Para Bruner verdadeira construção de conceitos pela criança é um processo que leva algum tempo para amadurecer em sua plenitude. Primeiramente, o que de fato ocorre, de 75 acordo com Bruner é a captação, pela criança, de níveis de representação do mundo menos complexo, a conseqüente assimilação e construção de conceitos elementares pela mesma, até que um nível de representação superior da realidade possa ser atingido e dominado pela criança. Bruner (1975) estudou, com profundidade, a natureza do desenvolvimento intelectual humano, tendo estabelecido algumas referências: em primeiro lugar se caracteriza por independência crescente da resposta, em relação à natureza imediata do estímulo. É possível prever o comportamento da criança conhecendo os estímulos que nelas agem, durante e imediatamente antes da resposta. Em segundo lugar o desenvolvimento intelectual baseia-se em absorver eventos em um sistema de armazenamento que corresponde ao meio-ambiente. É tal sistema que permite à criança aptidão progressiva para ir além da informação encontrada em uma única ocasião. Ela faz previsões e extrapolações, partindo do modelo armazenado do universo. E em terceiro lugar o desenvolvimento intelectual entende uma capacidade crescente de afirmar, a si mesmo, e aos outros, por palavras ou símbolos, o que alguém fez ou o que alguém fará. Essa prestação de contas ou consciência própria possibilita a transição de um comportamento chamado lógico. O autor ainda ressalta que o desenvolvimento intelectual baseia-se numa interação sistemática e contingente, entre um professor e um aluno, no qual o docente, amplamente equipado com técnicas anteriormente inventadas, ensina à criança. O professor, para Bruner, é importante para a manutenção e perpetuação da cultura e conhecimento. O autor acredita que o ensino é altamente facilitado por meio da linguagem que acaba sendo, não apenas meio de comunicação, mas o instrumento que o estudante pode usar para ordenar o meio-ambiente. A natureza da língua e suas funções devem fazer parte de qualquer teoria do desenvolvimento cognitivo. O autor (1975) destaca nitidamente a importância crucial da aquisição e do domínio da representação simbólica do mundo, que é a linguagem, a comunicação, seja ela oral ou escrita. Logo, a linguagem é o principal instrumento de captação da realidade do meio pelo aluno. E por fim diz que o desenvolvimento intelectual é caracterizado por crescente capacidade para lidar com alternativas e, simultaneamente, atender a várias sequências, ao mesmo tempo, e distribuir tempo e atenção, de maneira apropriada, a todas 76 essas demandas múltiplas. Há, naturalmente, grande distância entre a mente singela de uma criancinha e a aptidão de um menino de dez anos para enfrentar um mundo extremamente complexo. Embora as escolas privilegiem o pensamento analítico, que se caracteriza por caminhar passo a passo, com plena consciência da informação, para o ensino da música o pensamento intuitivo deverá ser altamente valorizado. Na visão de Bruner (1975) o pensamento intuitivo é fortalecido pelo desenvolvimento da autoconfiança e da coragem do aluno, pois pode-se acertar ou errar através da intuição. O professor precisa ser sensível e deve permitir que os alunos arrisquem palpites e respeitem as sugestões dos outros. Resguardadas as diferenças na forma de ver o desenvolvimento do processo educativo, uma terceira voz se soma às dos autores anteriormente citados, Howard Gardner. Uma das principais contribuições de Gardner (1995) para esta pesquisa é reforçar a importância da concepção da música como um campo intelectual autônomo. Seu livro, no capítulo “Inteligência Musical”, apresenta uma análise do desenvolvimento da competência musical, a partir dos primeiros anos de vida, quando bebês balbuciam e cantam, passando pelos vários estágios de crescimento, com forte fundamentação em Piaget. Outra afirmação de Gardner que interessa muito aos educadores musicais é a de que, apesar da bagagem genética ser um elemento muito importante no campo da música, as realizações nesta área são muito suscetíveis ao estímulo cultural (GARDNER, 1995). Ele desenvolveu uma proposta mais revolucionária que se entende por inteligência “a capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários" (GARDNER, 1995, p. 14). O destaque dentro da teoria de Gardner é considerála como possuindo várias facetas, que na verdade são talentos, capacidades e habilidades mentais que são chamadas de inteligências na teoria das Inteligências Múltiplas, como o próprio nome explicita, refutando a ideia tradicional de inteligência como uma capacidade ou potencial geral que se possui em maior ou menor extensão. De acordo com Sekeff (2002) Gardner questiona os testes de medição utilizados e considera que para envolver adequadamente o sistema de cognição humano é necessário incluir um conjunto muito mais amplo de 77 competências, já que a inteligência não é uma propriedade única de nossa mente, como sempre se acreditou. Embora a ideia do currículo espiral em música seja largamente difundida, percebe-se a falta de aplicação e entendimento dos conceitos apresentados para o desenvolvimento do ensino musical. Considera-se importante que a construção de um currículo musical na escola que não leve em conta apenas aspectos teóricos, estruturais e históricos, mas, que “de maneira sequencial [respeite]... a capacidade da criança no processo de aquisição do conhecimento através das três atividades – composição, execução e apreciação” (HENTSCHKE, 1996, p. 69). A autora Sekeff (2002) diz que o exercício da música desenvolve a chamada inteligência musical e esta, por sua vez, colabora no desenvolvimento de todo o sistema cognitivo do educando. Esses elementos comprovam a ênfase na necessidade da música nas escolas, aonde o educador deve abrir espaço para o repertório variado. Embora possam parecer distantes umas das outras, é na somatória dessas vozes que o ensino musical tem se apoiado na consecução de seus objetivos. As pesquisas dos autores já citados anteriormente neste trabalho encontram eco particularmente na voz de Swanwick, quando evidencia que no ensino musical o professor é o facilitador do aprendizado, e deve estimular, aconselhar, perguntar e ajudar, mais do que dar informações. Para esse autor, a grande virtude dessa teoria é “promover a criatividade e a individualidade de cada aluno, cabendo ao professor a tarefa de ver e escutar com maior atenção esse fazer musical” (SWANWICK, 2003, p. 18). Swanwick é um educador musical que se empenhou em estudar como se dá o desenvolvimento musical no ser humano, buscando solucionar questões curriculares nos cursos oficiais de música ingleses. Seu trabalho não é pioneiro, mas vem acrescentar às teorias de desenvolvimento clássicas, ideias originais, elaboradas a partir de constatações fundamentadas em sua prática docente e em sua pesquisa de campo. A teoria sintetiza conhecimentos advindos da pedagogia, psicologia e psicologia da música, levando em consideração as características e necessidades de cada fase do desenvolvimento humano em relação aos processos musicais. Toda a “Teoria 78 Espiral”, criada por ele, está baseada nas ideias de Piaget, ou seja, de que o conhecimento se dá por etapas sucessivas e é construído pelo indivíduo. De acordo com Del Ben (2002, p.77), o aprendizado musical, assim como qualquer outro ramo do conhecimento, deve obedecer etapas sucessivas, consoantes com o nível de amadurecimento psicológico do indivíduo. Swanwick fez um mapeamento do progresso desse conhecimento, estudando um grupo de estudantes na faixa entre os 3 e os 14 anos. Essas crianças, todas alunas de três escolas em Londres, eram procedentes de diversos grupos étnicos e culturais (crianças de origens asiáticas, antilhanas, africanas e sul e norte européias). Durante quatro anos, Swanwick fez gravações de composições feitas por elas, em um total de 745 composições de um universo de 48 estudantes. É importante frisar que esse estudo foi feito dentro da ótica das oficinas de música, priorizando uma visão chamada por seus defensores de linha criativa do ensino musical. Dentro dessa ótica, defendida por muitos educadores contemporâneos, tais como John Paynter e Murray Schafer, o professor deve buscar desenvolver a criatividade e a improvisação, utilizando para isso todo e qualquer material sonoro disponível. A partir de seu estudo, Swanwick (2003) elaborou sua Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical. Para representá-la, ele elaborou um gráfico em forma de espiral. Através dele, Swanwick mostrou os níveis de desenvolvimento, relacionados com a idade das crianças compositoras estudadas. O primeiro nível, o material, ele dividiu em dois níveis: o sensorial e o manipulativo e diz respeito às crianças de 0 a 4 anos. O segundo desses níveis é o da expressão, que compreende crianças na faixa dos 5 aos 9 anos mais ou menos. O terceiro, o da forma, ele dividiu em: especulativo e idiomático, e diz respeito às crianças de 10 a 15 anos. O quarto e último nível, o do valor, ele dividiu em: simbólico e sistemático, e diz respeito às crianças de 15 anos ou mais. A partir dessa teoria, Swanwick (2003) propôs um processo de aprendizagem baseado em um modelo que ele batizou de “CLASP”, que em português foi traduzido para modelo “TECLA”. O modelo consiste em trabalhar os conteúdos de maneira vinculada, para justamente favorecer o desenvolvimento cognitivo de forma integral e não fragmentada. Sua intenção é 79 que as fases não estejam dissociadas, mas sim, mantenham um elo contínuo entre elas. Dessa forma, para uma boa educação musical o professor deve, no entender de Swanwick, estar atento para não priorizar e nem desprezar qualquer dos elementos abaixo, resumidos na sigla TECLA, sendo o T- Técnica que é a manipulação do instrumento, notação simbólica, audição, o E- que é a execução, o tocar e o cantar, o C- é a composição, que envolve a criação, improvisação. O L- envolve a literatura com a história da Música, e o A é a apreciação com o reconhecimento de Estilos/ Forma/ Tonalidade/ Graus. Apesar de trabalhar em uma linha conhecida como oficinas de música, que prioriza a livre experimentação de materiais sonoros, Swanwick compreende a importância do universo sociocultural e afetivo do educando, deixando claro que a criança deve ser estimulada com músicas que estejam no seu dia-a-dia e dentro dos padrões musicais de sua cultura. Isso não significa dizer que não devemos ampliar esse repertório, mostrando outros universos sonoros. A Teoria Espiral pode ser considerada a primeira sequência de desenvolvimento fundamentada na natureza da experiência musical, e de acordo com Henstschke (1996), Esta teoria oferece subsídios aos educadores musicais para a construção de um currículo em música, que não só levaria em conta as dimensões de criticismo musical, como as colocaria de maneira sequencial respeitando assim a capacidade da criança no processo de aquisição do conhecimento através das três atividades que são: composição, execução e apreciação (HENSTSCHKE, 1996, p. 45). Em uma sociedade de constantes mudanças e muitas diferenças sócioculturais, é fundamental que o professor esteja aberto ao discurso musical do aluno. Daí a importância dos princípios apresentados por Swanwick para assegurar a “qualidade da experiência musical durante as interações educacionais” (RUNFOLA, SWANWICK, 2002, p. 393). Por isso é essencial manter essas relações em mente no momento da elaboração do currículo. É importante ressaltar, que esses processos desencadeiam o que chamamos de educação “para” e educação “pela” música, onde os indivíduos, em contato com as atividades artísticas (coral, musicalização, instrumentos musicais, 80 dança) desenvolvem demais atributos como comunicação, sociabilidade, concentração, sensibilidade, senso crítico-criativo, auto-estima, ao mesmo tempo em que adquire uma habilidade artística. Portanto, a contribuição do autor será decisiva no embasamento deste trabalho e seus princípios de Educação Musical irão nortear a elaboração de nosso projeto. Para tanto, uma breve e concisa apresentação desses princípios faz-se necessária. O primeiro princípio é considerar a música como discurso, que demonstra como é importante que o professor de música busque um “forte senso de intenção musical relacionado com propósitos educacionais: as técnicas são usadas para fins musicais, o conhecimento de fatos informa a compreensão musical” (SWANWICK, 2003, p. 58). Em segundo lugar, é fundamental que o professor leve em consideração o discurso musical dos alunos, pois “cada aluno traz consigo um domínio de compreensão musical. Não os introduzimos na música; eles são bem familiarizados com ela” (SWANWICK, 2003, pp. 66 e 67). O autor ainda menciona o desenvolvimento da autonomia do aluno, e citando Bruner coloca “as energias naturais que sustentam a aprendizagem espontânea, que são a curiosidade, desejo de ser competente, querer imitar outros, necessidade de interagir socialmente” (SWANWICK, 2003, p. 67). O terceiro princípio enfatiza a fluência musical como o objetivo primordial, precedendo a leitura e escrita musical. Como afirma o autor, “ensinar música musicalmente pode somente ser feito por aqueles que se preocupam e compreendem que a atividade humana que chamamos música é uma rica forma de discurso” (SWANWICK, 2003, p. 116). Após esta trajetória pela história da educação musical com a sua fundamentação teórica e filosófica, e a compreensão dos termos ArteEducação, Música, Educação Musical e de Musicalização Infantil, considera-se importante um estudo sobre alguns educadores musicais e suas metodologias. Para tanto, serão destacados alguns educadores musicais do Brasil e de outros países, que desenvolveram métodos ativos de musicalização infantil, selecionados cronologicamente desde o final do século XIX e XX até a atualidade. 81 3.5.1 Educadores Musicais e metodologias aplicadas Após uma trajetória das concepções da educação, e da musicalização, de sua importância e benefícios, serão apresentados os métodos ativos em Educação Musical, que surgiram no início do século XX, respondendo a uma série de desafios provocados pelas grandes mudanças ocorridas na sociedade ocidental, na virada do século XIX para o XX. Contudo, nem todos os chamados métodos ativos podem na verdade ser considerados métodos, mas abordagens ou propostas. Fonterrada (2005) coloca que nas décadas de 1950 e 1960, muitos métodos foram introduzidos no Brasil, nos grandes centros urbanos e escolas especializadas de música. No entanto, em razão de uma série de circunstâncias - entre as quais a exclusão da disciplina “Música” dos currículos escolares, substituída pela educação artística, desde 1971 - muitas dessas abordagens foram esquecidas, limitando-se a poucos seguidores, que pertenciam a segmentos educacionais alternativos. Conforme a autora, as escolas de música parecem não dar conta da sua importância, permanecendo, muitas delas, no antigo esquema de iniciar as crianças e jovens diretamente no instrumento, e colocando-os em classe de teoria da música para completar a formação exigida pela aula prática. São poucas as instituições que sistematicamente adotam um trabalho apoiado nos métodos ativos para o aprendizado musical, e mesmo aquelas que investem em aulas de musicalização, é comum que o façam de maneira pouco consistente, ocorrendo, muitas vezes, mais uma recreação do que fonte de conhecimento. No entanto é preciso registrar o esquecimento dos métodos ativos de educação musical em muitos dos espaços, vem sendo danoso ao ensino de música no país, provocando duas posturas opostas: a que adota um dos métodos acriticamente e de maneira descontextualizada descartando outras possibilidades, e a que ignora seus procedimentos e investe em propostas pessoais, geralmente não acompanhadas de reflexão, e baseadas em ensaio-e-erro, que em geral privilegiam a diversão, dentro do pressuposto de que a música é lazer (FONTERRADA, 2005, p. 122). 82 Por isso a educadora musical ressalta que se a ideia é fortalecer a área da Educação Musical, é importante que os educadores musicais pioneiros sejam revisitados cuidadosamente, não para serem adotados tal como se apresentam em suas propostas originais, mas como fonte da qual se podem extrair subsídios para propostas educacionais adequadas ao contexto da escola e da cultura brasileira atuais. Durante muito tempo confundiu-se ensinar com transmitir e, nesse contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um transmissor não necessariamente presente nas necessidades do aluno. Sabese, atualmente, que não ocorre ensino sem a aprendizagem, e esta não acontece senão pela transformação, pela ação de mediação do professor, do processo de busca do conhecimento, que deve sempre partir da criança. Em função destas necessidades, criadas a partir de um momento e ambiente determinados pela atualidade, é que se pretende, através deste trabalho, a elaboração de caminhos para aprendizagem musical, com embasamento na interdisciplinaridade das diversas artes. Este seria o resultado de uma busca constante do máximo de possibilidades para o envolvimento e estimulação das crianças na arte musical. Ao proporem-se meios diversificados para o trabalho da Educação Musical, será importante a análise de algumas relações da criança, como sendo o público alvo bem como o interessado na presente pesquisa. Estas relações são da criança com a arte, criança com o jogo, os sons e a música. Também será imprescindível o destaque dos aspectos em que a musicalização virá sanar e preencher as necessidades solicitadas pelo perfil do novo ambiente e comportamento social resultante de uma nova era. Estes destaques enfocam a relevância da Educação Musical na formação da criança, como ser global que se desenvolve de maneira surpreendente. 3.5.2 Métodos ativos em musicalização infantil Alguns educadores musicais desenvolveram os elementos musicais, transformando-os em atividades lúdicas, que envolviam o esquema corporal e auditivo em vivências contínuas, e que foram chamados de métodos ativos. A sucinta apresentação que se faz nos tópicos seguintes sobre tais autores e 83 seus respectivos métodos é justamente em função da relevância do professor conhecer as condições históricas e o contexto em que o ensino de música se dá em nossos dias, para que proceda tanto à avaliação crítica quanto às necessárias adaptações, e se aproveite efetivamente das contribuições que esses métodos podem trazer ao ensino da música no Brasil. O primeiro dos referidos métodos que aqui se apresenta é o de Émile Jaques Dalcroze. Artista e pedagogo, considerava a importância do equilíbrio do sistema nervoso na execução dos movimentos rítmicos. Segundo Dalcroze (1976), a ginástica rítmica é uma disciplina no sentido rítmico muscular; ela converte o corpo em um instrumento onde vibra o ritmo. Supõe então, o cultivo simultâneo do corpo e do ouvido (eurritmia- o ensino da música por meio de movimentos rítmicos). O método de Dalcroze visa desenvolver a comunicação entre ouvidos que escutam com a mente que analisa sensações orais, e o corpo que atua para produzir e interpretar os sons e sentimentos do ritmo musical. A autora Paz (2000) destaca a descoberta de Dalcroze: os alunos eram incapazes de sentir e expressar música; possuíam conhecimento mecânico, não musical. Ele quis convergir conhecimento mecânico, em entendimento musical. Os discentes desenvolveram habilidade para sentir, ouvir, inventar, imaginar, conceituar, relembrar, ler e escrever; apresentar e interpretar música. Com as descobertas de Dalcroze foram abaladas as bases tradicionais do ensino e aprendizagem do ritmo musical e da música em geral. Greif (1994) esclarece que as ideias de Dalcroze estavam em conformidade com o pensamento pedagógico da época, apoiado na biologia e na psicologia. Mostra ainda, a questão da experiência em educação, que está presente na filosofia de John Dewey, e de como esta se reflete em Dalcroze. “Seu objetivo era o experimentar ao invés do saber, como elemento detonador de um desejo de se expressar” (PAZ, 2000, p. 256). Dalcroze “explicita a funcionalidade do método mostrando que os exercícios rítmicos têm a função de auxiliar no reconhecimento da altura de sons e nos intervalos entre sons, na percepção dos sons harmônicos, na audição de cada nota dos acordes” (GREIF, 1994, p. 38). Paz (2000) coloca que para Dalcroze o ritmo é o elemento que mais afeta a sensibilidade infantil, e que a prática do método é revestida de grande 84 prazer, concentração, criatividade, além da vivência da música propriamente dita. A autora enfatiza alguns aspectos que são desenvolvidos como o cultivo de atenção, a preparação e cultura do corpo, o desenvolvimento do ouvido e preparação para a música, os exercícios em conjunto, apreciação de espaço e disciplina grupal, e os exercícios de expressão individual espontânea musical e plástica. A influência de Dalcroze e de sua forma peculiar de lidar com o ensino musical gerou discípulos, como Edgar Willems, que também valorizou a ação corporal na concepção de seu método. Ele considerou que o verdadeiro ritmo está presente em todo o ser humano, está implícito em ações como andar, respirar, o pulsar do sistema circulatório e movimentos sutis causados pela emoção ou por pensamentos. O método Willems: É um método ativo de educação musical que tem 3 princípios básicos que são as relações psicológicas estabelecidas entre a música e o ser humano, a não utilização de recursos extra musicais dentro do ensino de música e enfatizava a necessidade do trabalho prático antes do ensino musical propriamente dito (WILLEMS, 1968, p. 16). Ele construiu seu método de trabalho a partir de bases que descobriu no pensamento científico do século XIX e na psicologia, que lhe fornece as bases para a compreensão do ser humano. Fonterrada coloca que Willems compreendia que a música não estaria nos sons, mas entre os sons, que seria como a música está nos intervalos, pois, nos fenômenos sonoros da natureza, estão presentes intervalos de todos os tipos. Os elementos fundamentais da música – ritmo, melodia e harmonia, não existem apenas em função do ser humano, mas são parte intrínseca do universo, onde os diferentes reinos estão harmonicamente conjugados. Essa é a razão que encontra entre a música e o ser humano, e entre música e vida (FONTERRADA, 2005, p. 96). Por esse motivo, Willems não dedica somente a ele o mérito de ter criado um sistema de ensino. O que propõe é uma ordenação construtiva, capaz de presidir a atividade musical criativa em estreita semelhança com a vida e com as leis que regem o universo. A sensibilidade musical procurada por Willems deveria ser buscada na própria música, não como um apelo a um 85 caráter subjetivo mais ligado a valores como o bem e o mal, por exemplo, mas na compreensão da obra artística como plena de qualidades estéticas, o que poderia ser feito em qualquer estágio de desenvolvimento musical do aluno, do iniciante ao avançado. Rocha (1998) fala que Willems enfatizou o desenvolvimento auditivo e psicológico da música, ou seja, a ligação entre os elementos musicais e o ser humano que é o ritmo ligado à motricidade (primitivo), a melodia ligada à afetividade (emoção), a harmonia ligada à inteligência (complexidade), e introdução à leitura musical padrão com representação global dos sons. Os objetivos da Musicalização Infantil, para Willems de acordo com Paz (2000) são fazer com que as crianças amem a música e prepará-las para que realizem com alegria musical, vocal e instrumental, proporcionar a criança, mediante recursos pedagógicos vivos e adequados, o máximo de possibilidades para que aprenda música, ainda que não seja particularmente dotada, e acreditava que o professor deveria ser profundamente humano no trato com os pequenos, e favorecer mediante a música viva, o desenvolvimento integral da criança. A autora ainda ressalta que Willems se preocupava com o início da Educação Musical, com a preparação filosófica, psicológica e pedagógica que o professor necessita ter para poder assentar sua prática em princípios corretos e que “possam, através da música, estimular o desenvolvimento da criança como um todo, integrando-a de forma ativa e prazenteira no seu ambiente social” (PAZ, 2000, p. 250). Ainda nessa linha de pensamento do uso do corpo no ensino musical encontra-se Murray Schafer. Ele é diferente de Dalcroze e Willems, pois tem uma intenção pedagógico-musical do corpo muito mais voltada para a integração dos sentidos e a revivificação dos sensos-receptores no fazer musical. Ele não trabalha o movimento corporal sob uma perspectiva eminentemente rítmica. No livro O Ouvido Pensante, afirma que o movimento corporal na música pode funcionar como uma ferramenta eficaz para se desenvolver uma boa percepção e coordenação motora: A prática de música pode ajudar a criança na coordenação motora dos ritmos do corpo. [...] A música pode também correr, saltar, claudicar, balançar. Pode ser sincronizada com bolas 86 que pulam, com ondas do mar, com galopes de cavalos e com centenas de outros ritmos cíclicos ou regenerativos, tanto da natureza quanto do corpo. Cantar é respirar.[...] Justificar a música fundamentalmente em bases que não sejam de sua importância para a estimulação e coordenação intelectual, muscular e nervosa leva a problemas que só podem ser resolvidos a longo prazo, por meios não musicais (SCHAFER, 1991, p. 295). A citação que se segue demonstra a importância de integrarmos todos sentidos no aprendizado musical: “O corpo todo é um ouvido” (SCHAFER, 1991, p. 333). Ele considera que na atualidade os nossos sensos-receptores estão atrofiados. Podemos vislumbrar esse cenário nas crianças, jovens e adultos, que modernamente levam uma vida sedentária, por estarem intimamente ligados ao mundo tecnológico, como os computadores, internet, vídeo games e automóveis. Cabe aos educadores ativá-los para que tenham melhor consciência corporal. Ao empregar a expressão a unidade primitiva dos sentidos, Schafer (1991) reporta-se à integração de todos os sentidos, diferentemente de uma análise particularizada de cada um deles, que foi necessária para que se processe um estudo setorizado de cada um deles, mas não para o fazer musical. O autor admite que a especialização dos diferentes tipos de percepção aumentou o conhecimento sobre cada um dos cinco sentidos, mas também gerou uma segmentação entre a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato, fato que impede uma visão global dos sentidos do ser humano. Embora Dalcroze, Willems, e Schafer tenham utilizado o corpo de maneira diferenciada no processo de ensino/aprendizagem musical, se evidencia a importância de um trabalho corporal nos processos de sensibilização musical. Ele ajuda o desenvolvimento da percepção rítmica, a coordenação motora, a criatividade e a expressividade. Murray Schafer, inventor do termo, “paisagem sonora” é que trabalha com o ambiente sonoro. Tecnicamente, qualquer porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudos. O termo pode referir-se a ambientes reais ou a construções abstratas, como composições musicais e montagens de fitas, em particular quando consideradas como um ambiente (FUBINI, 1999, p. 208). 87 Schafer encabeçou o projeto Paisagem Sonora Mundial, do qual participavam músicos, cientistas sociais, arquitetos, engenheiros, físicos e profissionais de várias outras áreas. O projeto surgiu naqueles anos 70 com o objetivo de fazer um levantamento das diversas paisagens sonoras através do mundo e da história e desenvolver um projeto acústico para a humanidade. A melhor forma de entender o que quero dizer com projeto acústico é considerar a paisagem sonora mundial como uma imensa composição musical desdobrando-se incessantemente à nossa volta. Somos simultaneamente seu público, seus executantes e seus compositores (FONTERRADA, 2005, p. 50). O trabalho proposto por Schafer (1991) possibilita a exploração do ambiente sonoro no qual está imersa a criança. A proposta de Schaffer é particularmente possível para o Brasil, e não só dirigida para alunos especialmente dotados, mas para toda população, independentemente de talento, faixa etária, ou classe social. Além disso, Schafer preocupa-se em particular com os elementos mais simples, com as observações mais corriqueiras como: ... de quantos modos diferentes pode-se fazer soar uma folha de papel? Ou as cadeiras de uma sala de aula? Como sonorizar uma história de modo a torná-la reconhecível apenas pelos seus sons? Como construir uma estrutura sonora? (SCHAFER, 1991, p. 298). Através da proposta de Schafer é possível conhecer melhor a criança, suas possibilidades e o ambiente que a cerca: e a partir daí, promover o seu desenvolvimento através de suas preferências, tornando então o ensino agradável e estimulante. Embora se trate aqui da concepção dos métodos ativos e isso possa implicar intencionalidade, nem todos foram concebidos como intenção primeira de seu criador, como no caso de Willems e Dalcroze. Guest (apud PAZ, 2000, p. 262) declara, por exemplo que a prioridade de Kodály não foi fazer um método, mas o levantamento e sistematização do folclore húngaro. Sua finalidade era a preservação das tradições. “No método Kodály não é importante que o lá tenha 440 ciclo, mas que ele é o VI grau da escala maior. A música não é feita de notas e sim de sons, 88 formando intervalos” (ÁVILA, 1998, p. 42). A autora ainda coloca que Kodály combinou várias técnicas pré-existentes e desenvolveu-as: Tônica solfa, sílabas rítmicas, cantando com as mãos. Sua filosofia baseia-se em que todas as pessoas capazes de aprender e serem alfabetizadas também são capazes de desenvolver a linguagem musical, e que o cantar é o melhor fundamento para a musicalidade. Para Ávila (1998) Kodály tinha como base para seu método que: Quanto mais cedo se educa a criança musicalmente, mais efetiva será sua educação. As canções folclóricas familiares às crianças constituem a base para o aprendizado, mas somente devem ser usadas no ensino, músicas folclóricas e compostas com alta qualidade e valor artístico. A música deve ser o coração do currículo, o assunto central, usada como base para a educação (ÁVILA, 1998, p. 61). Para Yepes (1968) o método de Kodály tem como objetivos, desenvolver a musicalidade em cada criança, que ela conheça a linguagem musical, sendo capaz de ler, escrever, criar. Através de pesquisas junto ao folclore húngaro, chegou a recolher mais de 3.500 melodias folclóricas, a partir das quais desenvolveu vários estudos na área. Utilizou o folclore húngaro não só em suas composições, mas também em sua obra pedagógica. Ávila (1998) afirma que Kodaly generalizou o ensino musical em seu país, do Jardim de Infância ao Secundário, aplicando o poder educativo do folclore musical. O método Kodály consta de 15 cadernos organizados progressivamente, desde os mais simples e elementares exercícios de entoação, até as mais difíceis partituras a uma, duas e a três vozes. Os princípios metodológicos de Kodály de acordo com Domonkos, (1969) basearam-se em solfejo relativo proposto por Guido D’Arezzo (ano 1000 d.C). O solfejo relativo, não considera a altura fixa das notas, mas sim sua função na estrutura sonora. “Utiliza a manossolfa que é o processo inspirado na “mão guidoneana”, uma estratégia de Guido D’Arezzo para leitura dos intervalos musicais com sinais das mãos para representar as notas musicais” (FONTERRADA, 2005, p. 69). O Objetivo do método de educação musical de Kodály é ensinar o espírito do canto a todas as pessoas, além da alfabetização musical para 89 todos, trazendo a música para o cotidiano, nos lares e nas atividades de lazer, de modo a enriquecer a vida de maneira criativa e humanizada, por meio de música. Para Kodály, proporcionar a alfabetização musical para todos é o primeiro passo em direção a esse ideal. Ainda como princípio metodológico criou o solfejo silábico substituído por número proposto na França por Émile-Josefh Chevé (1804-1864), e os nomes rítmicos, (ti, titi tá) e a eurritmia, que é o ensino da música por meio de movimentos rítmicos, desenvolvido pelo suíço Dalcroze, mas sempre associado à canção. No Brasil, o sistema Kodály é difundido pela Sociedade Kodály do Brasil, em São Paulo, que oferece cursos regulares e de curta duração, e trabalha no sentido de encontrar equivalências às canções húngaras, no folclore brasileiro. Para Kodaly, "O bom educador é aquele que ensina mais do que sabe, e através do ensino, aprende mais do que ensinou" (KODALY, 1974, apud ÁVILA, 1998). 3.5.3 As concepções e contribuições de alguns educadores musicais brasileiros A partir de educadores musicais que se destacaram em alguns países, começam surgir propostas desenvolvidas por educadores musicais brasileiros. Mediante estudos feitos dos métodos ativos criados por estes educadores já citados, começam a se destacar no Brasil no final do século XIX para o século XX alguns em especial. Heitor Villa-Lobos, certamente o precursor desse tipo de iniciativa no Brasil, tentou formalizar e implantar aqui, na década de 30 um trabalho de natureza similar ao dos educadores musicais europeus na área de educação musical. Ele dizia que a receita para educar musicalmente as pessoas era através do canto orfeônico. De acordo com Mariz (1989) Villa-Lobos acreditava ser essencial educar as crianças desde pequenas desenvolvendo o senso estético. O canto orfeônico tal como ele entendia, deveria, na realidade, chamar-se educação social pela música. 90 O canto orfeônico é o elemento educativo destinado a despertar o bom gosto musical, formando elites, concorrendo para o levantamento do nível intelectual do povo e desenvolvendo o interesse pelos efeitos artísticos nacionais. É o melhor fator de educação cívica, moral e artística. O canto orfeônico nas escolas tem como principal finalidade colaborar com os educadores para obter-se a disciplina espontânea dos alunos, despertando, ao mesmo tempo, na mocidade um são interesse pelas artes em geral (VILLA-LOBOS, 1988, p. 65). A música para Villa-Lobos era considerada um elemento básico e insubstituível na formação. A música, através do canto orfeônico, deveria participar da vida cotidiana da escola, onde o ensino de música seria proveitoso para complementar a educação da criança não só para a formação de uma consciência musical, mas também para a motivação do civismo e da disciplina social coletiva. O alvo do canto orfeônico era desenvolver os principais objetivos, que segundo Villa-Lobos era desenvolver em ordem de importância, a disciplina, o civismo e a Educação Artística. Usou como metodologia difundir o Canto Orfeônico no Brasil, o qual tinha a característica de prática com conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho muito variável. Nessa metodologia não era necessário o conhecimento musical ou qualquer treinamento vocal, o que é indispensável para a prática de coral ou outros grupos eruditos. E a autora Paz fala que: O Canto orfeônico consistia no ensino do ritmo, seguido pela entonação das notas, depois a consciência do timbre, por meio da prática dos sons com diferentes vogais e depois a consciência de dinâmica, e acreditava ter como benefícios o desenvolvimento da coordenação motora, o raciocínio lógico, a percepção dos sons, e o gosto pela música (PAZ, 2000, p. 13). Paralelo ao canto orfeônico desenvolvia-se outra importante metodologia musical – a iniciação musical. Essas duas modalidades foram idealizadas por músicos modernistas. De um lado Villa Lobos, com o canto orfeônico e, de outro, as metodologias aplicadas por Antônio de Sá Pereira e Liddy Chiaffarelli Mignone que lideravam a Educação Musical. Os três músicos foram ligados ao movimento modernista. O trabalho desses educadores e musicistas que se preocuparam em sistematizar métodos de ensino, sejam os europeus, como Dalcroze, Willems, e Schafer, sejam brasileiros como Villa-Lobos, encontram eco e tem 91 prosseguimento, modernamente, no trabalho de pessoas como a francesa Nicole Jeandot, de quem tive o privilégio de ser aluna no Bacharelado em Música entre os anos 1986 e 1988. Como professora, era muito responsável; e pontuava suas crenças sobre Educação Musical, o que redundou na obra Explorando o Universo da Música, de 1990. Neste livro ela narra sua trajetória de vida, trabalho e metodologia. Hoje, está com 83 anos, sendo 48 deles vividos no Brasil. No livro Jeandot (1990) apresenta de maneira progressiva, aspectos referentes à definição dos sons e como surgiram bem como o conceito e origem da música, e a relação da mesma com a criança, instrumentos tradicionais e confecção de instrumentos. A autora acredita em uma metodologia que deve-se usar muitos jogos envolvendo música, explorando sons e silêncio, ritmos, movimento, exercícios de percepção, atenção, coordenação motora e memória, interpretação, improvisação e expressão, e temas musicais. Os estudos, livros e pesquisas desenvolvidos pela autora são importantes para a educação musical porque ela considera a música “como uma força capaz de promover a comunicação entre o ser humano e seu ambiente além de auxiliar nos processos de reequilíbrio de crianças desajustadas” (JEANDOT, 1990, p. 9). Há muitos outros músicos pedagogos brasileiros que estão preocupados com a Educação Musical no Brasil e que têm publicado algumas obras que relatam sua preocupação e oferecem seu apoio didático através de livros que trazem grande contribuição para o professor e pesquisador e que tem interesse em trabalhar através da educação musical na escola, dentre os quais inclui-se a educadora e autora Leda Osório Mársico que publicou materiais na área de Educação Musical, dentre os quais: “A Criança e a Música”, e “Introdução à Leitura e à Grafia Musical”; Teca Brito cuja proposta para o trabalho com música na educação infantil vem se desenvolvendo há 20 anos na carreira de educadora musical, tendo realizado pesquisas sobre o assunto, colaborando na elaboração dos Referenciais Curriculares de Iniciação Musical do MEC, e em cujo livro Música na Educação Infantil, nos mostra uma visão desta não como um objeto funcional, mas como elemento importante para a formação do homem, que deixa de ser só entretenimento, e passa a agir como elemento para o aprendizado, estímulo da percepção e desenvolvimento das linguagens. 92 A autora descreve em seu livro “Koellreutter Educador” as questões essenciais à pedagogia musical. Coloca os princípios pedagógicos que orientam a sua postura como educador e que hoje ela segue como discípula que tem sido. E Brito tem como objetivo “divulgar a metodologia usada por Koellreutter, seu pensamento e ação pedagógico-musical, visando ampliar e enriquecer a formação musical, cultural e humanista de nossa gente” (BRITO, 2001, p. 21). Seja especificamente no Brasil, seja no mundo, particularmente Europa, foi nas primeiras décadas do século XX que a pedagogia musical começou a se ocupar de transformações na prática pedagógico-musical, resgatando a vivência perdida em maneiras mecânicas de ensinar. Todos os educadores citados contribuíram na criação de novos métodos de ensino. Tais fatos levam à oportunidade de modificação da transmissão mecânica e impessoal de conhecimentos, para um intercâmbio de experiências através do jogo musical e da prática criativa e prazerosa. Muitas foram as personalidades que decidiram e orientaram a reforma educativa musical, e dentre as mais representativas destacam-se o pedagogo suíço Émilie Jaques Dalcroze, que com suas descobertas abalou as bases tradicionais do ensino e aprendizagem dos ritmos e da música em geral; o compositor alemão Carl Orff, que contribuiu grandemente no campo do ritmo, da criatividade, dos instrumentos didáticos e da integração das diferentes manifestações artísticas e expressivas; Maurice Martenot, compositor francês, inventor do instrumento de ondas que leva seu nome, e que incorpora importantes recursos para o ensino do canto e da iniciação musical, baseados na psicopedagogia infantil e nas técnicas de concentração e relaxamento corporal; o compositor e pedagogo húngaro Zoltán Kodaly, que conseguiu generalizar o ensino da música para crianças em seu país, aplicando a extraordinária vitalidade e o poder educativo do folclore; o filósofo e psicopedagogo musical Edgar Willems, que desenvolveu na Suíça suas bases psicológicas da educação musical, hoje amplamente difundidas. Muito ainda poderia ser dito sobre autores e métodos implementados, neste sentido, no Brasil e no mundo, mas, as informações mais relevantes para a construção dessa dissertação, e que certamente não encerram o tema, estão aí postas. É justamente a partir de todas as informações registradas nos 93 capítulos anteriores, que será apresentada, no próximo capítulo, uma sistematização da metodologia para desenvolver práticas pedagógicas musicais que auxiliem na aprendizagem dos alunos e dos docentes iniciantes, realizando assim uma melhor implantação das aulas de música nas escolas. A metodologia a ser aqui apresentada é fruto de minha experiência, ou vivência de um trabalho de mais de 20 anos, dentro de uma metodologia que desenvolvi a partir de estudos feitos por estes educadores citados anteriormente, e que poderá servir para uma melhor implantação das aulas de música nas escolas. 94 CAPÍTULO IV RELATO DE EXPERIÊNCIA: RESSIGNIFICANDO CONCEITOS E PRÁTICAS PARA O ENSINO DA MÚSICA Neste capítulo será apresentado um relato da experiência desenvolvida e trabalhada por mim durante estes últimos 20 anos na educação musical. A minha formação na faculdade foi Bacharelado em Piano e depois a Licenciatura em Educação Artística com especialização em Música. Trabalhei em algumas escolas particulares nos últimos 20 anos, e em especial com as crianças da Educação Infantil ao Ensino Fundamental I. Logo no início desenvolvia um trabalho de Coral e aulas de música para simplesmente ter música na escola e poder mostrar para os pais e fazer a divulgação do que acontecia durante o ano. A maneira como eram feitas as aulas de música era totalmente diferente da proposta que estava começando a conhecer nos cursos que vinha fazendo. Tudo era baseado em datas comemorativas. Eu era obrigada a ensaiar com todas as turmas músicas que fossem adequadas para os eventos que eram solicitados pelo calendário escolar. As aulas todas eram somente cantar para realizar os eventos. Mas esta ideia começou a me incomodar porque não conseguia ver propósito em aulas de música desta forma. Era muito desgastante ensaiar um coral enorme, sozinha, pois só eu tocava e regia ao mesmo tempo. Aos poucos fazendo mais cursos, comprando materiais sobre a musicalização infantil para escolas e procurando estudar mais sobre como adaptar isto para as escolas, comecei a desenvolver uma forma de trabalho na escola que trabalhava em São Paulo, e as crianças foram gostando muito mais, pois era divertido, com muito material visual e com uma participação maior. Eles podiam tocar flauta doce, participar da bandinha e desenvolver-se mais musicalmente. Esta situação gerou um conflito com a direção e com as outras escolas que eram da mesma rede, porque pedi para a coordenação destas escolas que as aulas de música fossem modificadas. Foi um trabalho de muita 95 perseverança, porque não havia profissionais aptos para realizar este trabalho, e como eu estava cursando a faculdade não poderia atender muitas escolas. Aos poucos consegui convencer a direção da escola que trabalhava para ter este trabalho diferenciado com meus alunos, mesmo ainda não conseguindo me desvencilhar dos eventos e apresentações. Eu tinha que conciliar tudo, mas se tornou um trabalho mais interessante. Trabalhava através de jogos, instrumentos de percussão, rodas e brincadeiras, buscando um desenvolvimento da percepção auditiva, rítmica, expressão corporal e a socialização das crianças, e estimulava-os a experimentar, improvisar e criar. Tudo isto realizado de forma lúdica. Tive muita persistência e me esforcei bastante como defensora das aulas de música na escola, e a partir da década de 1990 começaram a nascer vários projetos diretamente ligados à educação musical com propostas que envolvem música e comunidade. Havia um grupo pequeno de educadores conscientes do valor educativo da música, que discutiam questões relacionadas com arte-educação, fazendo pesquisas e propondo uma metodologia diferente, se destacando na capacidade educativa e formativa do indivíduo. Nesta mesma década começou então a implantação de alguns projetos de utilização da música em sua área de atuação, com uma nova tendência no ensino e que será sentida apenas depois dos anos 1990. Com estas pequenas transformações e realizando um trabalho diferenciado nas classes com os alunos e a mostra de que estava sendo muito proveitoso, fui convidada para voltar para o colégio aonde estudei desde pequena, para trabalhar no Conservatório Musical com aulas de Musicalização Infantil e Piano. Desta forma eu pude ter um trabalho específico com uma sala especial e apropriada para as aulas de musicalização. Um espaço amplo, bem decorado, sem carteiras, com carpete onde todos se sentavam no chão em círculo para fazer as atividades, com muitos instrumentos e materiais diversos. Este trabalho era feito sempre com duas professoras, que tivessem uma integração entre tocar, andar, e fazer as atividades junto com as crianças. Foi uma fase muito boa. Fiz muitos cursos de musicalização com educadores musicais que traziam novidades de métodos e educadores musicais da Europa. Foi quando conheci melhor o método Kodaly, que é o nome de um educador 96 húngaro citado em capítulo anterior, que desenvolveu uma metodologia para ensinar a música para as crianças nas escolas da Hungria. Estes cursos foram realizados nas férias de julho e eram intensivos com toda a metodologia e com a parte prática. Na mesma época destes cursos, nós as professoras de musicalização do Conservatório já pudemos oferecer cursos para os professores de música das escolas que estivessem interessados em aprender esta maneira nova e criativa de ensinar música, porque se percebia que o ensino da música nas escolas brasileiras passou, nos século XX e XXI, por várias denominações e concepções, ocasionadas pelas mudanças nas leis nacionais, deixando os professores sem saber o rumo a tomar. Em 20/12/96, a Lei 9.394-96 fixou novas diretrizes e bases para a Educação Musical. Os novos Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizavam o ensino e a aprendizagem de conteúdos que colaboram para o desenvolvimento integral do ser humano e comentam que a música é “fundamental para a formação de cidadãos”. Enfatizam que a música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época. Os Parâmetros Curriculares Nacionais relatam que “não estão definidas aqui as modalidades artísticas a serem trabalhadas a cada ciclo”, mas é citado que “serão oferecidas condições para que as diversas equipes possam definir em suas escolas os projetos curriculares” (BRASIL. PCN, vol. 6, 1998, p. 55). Com esta nova lei e com os novos PCN os professores de música começaram a entender que precisariam mudar a maneira de trabalhar, mas ainda não sabiam como. Foi quando comecei junto com minhas colegas a atender professores em cursos de verão em duas semanas de janeiro para os que estavam querendo se atualizar e também fazer parte desta mudança. Continuei me especializando mais a cada ano que passava, com cursos e metodologias novas na área de musicalização e estudando as diferenças entre eles e adaptando para a minha realidade na escola e mesmo para o Brasil. Apesar de tudo, ainda era muito difícil as pessoas entenderem como fazer estas modificações para a escola. Em 2002 fiz uma Pós Graduação em Docência do Ensino Superior, com uma monografia relacionada à importância das aulas de música nas escolas. Neste trabalho pude observar algumas escolas da região que moro que diziam ter aulas de música, e detectei que esta prática não acontecia nas mesmas. 97 Eles consideravam “aula de música” cantar com todos os alunos juntos na hora da entrada em fila, e isso quando a escola tinha algum professor que gostava de cantar. Foi daí que surgiu a ideia de fazer uma parceria da Instituição que trabalho com as prefeituras das cidades de Artur Nogueira e Engenheiro Coelho, para que os alunos que faziam a graduação em música pudessem fazer seus estágios nas escolas da prefeitura, e aproveitando seria interessante para as crianças terem este benefício. Foram escolhidas algumas escolas pelas secretarias de educação das cidades aonde seriam desenvolvidas estas aulas. Há cinco anos estou envolvida com este trabalho junto à prefeitura e ele tem sido muito positivo tanto para os alunos da graduação como para as crianças. Atualmente as aulas desenvolvidas nas escolas são de musicalização, flauta doce, violão, coral e fanfarra. Ainda temos um trabalho de alfabetização e música com um grupo da 3ª idade, na cidade de Engenheiro Coelho. Este trabalho tem sido de uma experiência muito rica tanto para mim, que sou a coordenadora dos estágios, como para os alunos do UNASP (Centro Universitário Adventista – Campus Engenheiro Coelho), que estão podendo treinar a cada semana o que lhes confere alguma experiência profissional. Como educadora quero fazer com que estes futuros professores entendam que musicalizar é permitir que a criança seja sensibilizada pela música de forma dinâmica e lúdica. É o despertar musical na educação infantil, dando oportunidade para a criança fazer música e ter prazer em ouvi-la. Procuro destacar que musicalizar é tornar a música acessível a todos. É fazer com que as crianças amem a música, preparando-as para realizar com alegria esta prática musical. É importante construir o conhecimento com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto musical através do estímulo, e assim contribuir para a formação global da criança. Esta é uma das partes do meu trabalho atualmente. Incentivar esse processo de Educação Musical adaptando-o a realidade social, respeitando as fases evolutivas da criança, sendo multidisciplinar, com objetivos claros e precisos, preparando seres humanos capazes de criar, realizar e vivenciar emoções. 98 Como trabalho em um Centro Universitário é sempre preciso estar conectado com as inovações que surgem no meio musical acadêmico. E por causa disto tenho que participar de muitos cursos, fóruns, seminários e congressos como ouvinte e também como participante com apresentações de trabalhos, pôsteres e comunicações. Nos últimos anos tenho participado do Congresso da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical) que acontece em várias cidades do Brasil. Neste congresso, que é o maior da Educação Musical no Brasil, são realizadas mesas redondas com temas atuais que são apresentados e discutidos por educadores musicais que têm se destacado nos últimos dez anos. São feitos também grupos de trabalho para que as pessoas que se inscreveram possam apresentar seus trabalhos e pesquisas, podendo ouvir e sugerir para uma melhora na educação musical. Ainda faz parte da programação deste evento, assistir a recitais, concertos com grupos folclóricos, com crianças, orquestras e bandas, e outros profissionais. Outro evento que é importante participar é a ANPPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música), pois se direciona a trabalhos específicos para as pesquisas feitas em Educação Musical, desenvolvendo a discussão no país sobre a formação musical brasileira em todos os seus níveis. A ANPPOM é comprometida com a prática musical na formação educacional no nível de Ensino Básico, e com o desenvolvimento do pensamento científico sobre Música. Por estar ligada a uma faculdade de música é importante a participação neste evento para poder acompanhar de perto como estão se desenvolvendo as pesquisas nesta área de música. Atualmente realizo meu trabalho no Centro Universitário Adventista (UNASP) na Licenciatura em música com as disciplinas de Prática Pedagógica Musical, Aspectos Teóricos e Práticos da Aprendizagem, Musicalização Infantil e Inclusa e a coordenação dos Estágios Supervisionados nos três últimos semestres do curso. Desenvolvo também um trabalho diferenciado de Musicalização Infantil, com 12 turmas na Escola de Artes no UNASP que vão desde os bebês de seis meses até crianças de 11 anos. Paralelo a isto, no currículo do Colégio UNASP, existe aulas de musicalização desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Parte do trabalho é realizada por alunos do curso de Licenciatura em Música do UNASP, 99 e as mesmas crianças por eles atendidas fazem parte do Coral que dirijo com mais uma professora. É a partir destas experiências que colocarei como desenvolvo esta prática da Educação Musical no contexto escolar, mostrando como sistematizar a metodologia de ensino da educação musical tanto para o curso de Licenciatura em Educação Artística – Música, como para auxiliar a docência musical na sua fase inicial, a partir de uma formação ideal dos professores, tornando a prática mais sequencial e prazerosa, contribuindo assim para uma ressignificação do trabalho musical nas escolas. Esta é parte da minha história de vida pessoal, acadêmica e profissional colocada para contextualizar este estudo. 4.1 A Educação Musical no contexto escolar De acordo com Maruhn, “a educação intelectual deve ser complementada por métodos que levem em conta uma variedade de possibilidades de expressão e exteriorização” (MARUHN apud HENTSCHKE, 2003, p. 117). Nesse sentido, é importante que a educação musical seja incentivada e desenvolvida desde os níveis mais elementares da escolarização de crianças, e sua inclusão no currículo escolar poderia contribuir para a formação geral do cidadão. Existe, no entanto, um número pequeno de pessoas que possuem um conhecimento exato do que vem a ser Educação Musical e qual seu papel na educação formal dos indivíduos, pois ainda existe um preconceito com relação ao que é fazer música, decorrente da ideia de que o acesso ao conhecimento musical estaria restrito aos talentosos e aos economicamente privilegiados, excluindo desta forma muitas pessoas do acesso à aprendizagem musical. No entanto, é possível perceber que da mesma forma que existem pessoas com maior predisposição para a matemática ou outros idiomas, existem pessoas com maior ou menor predisposição para a aprendizagem da música, mas todos são capazes de aprender a se expressar por meio da linguagem musical, não havendo justificativa para crianças e adultos serem excluídos dessa atividade. É importante considerar o potencial educativo do ensino de música para a formação integral do aluno. 100 Hentschke (2003) questiona o papel da Educação Musical na escola fazendo a seguinte pergunta: “por que surgem questões como: a educação musical tem que formar profissionais, e para as outras disciplinas como história ou ciência não fazem estes questionamentos?” A partir disso, a autora coloca algumas razões importantes para justificar a inserção da educação musical no currículo escolar. Entre elas, está proporcionar à criança o desenvolvimento das suas sensibilidades estéticas e artísticas, a imaginação e o potencial criativo. Desenvolver um sentido histórico da herança cultural, o cognitivo, afetivo e psicomotor, e ainda o desenvolvimento da comunicação não-verbal. Devido a estes fatores é necessário inserir a Educação Musical como uma disciplina pertencente ao currículo escolar, e não simplesmente ser uma atividade musical, que está à disposição dos aspectos promocionais das escolas, com o objetivo de preparar um repertório musical para ser apresentado em comemorações cívicas e religiosas, fazendo com que esta aprendizagem musical se tornasse enfadonha e sem significado para as crianças. Esta situação apresentada acima está relacionada ao problema da formação musical dos profissionais, que incorporam a música no cotidiano escolar, mas não possuem um conhecimento adequado acerca do processo de desenvolvimento musical das crianças, aonde podem perceber as diferentes sonorizações ao tocar ou cantar. É importante atentar para esses aspectos de forma que a música esteja presente na escola como um dos elementos formadores do indivíduo. Para que isso aconteça, é importante que o professor seja capaz de observar as necessidades de seus alunos e identificar, dentro de uma programação de atividades musicais, aquelas que realmente poderão suprir as necessidades de formação desses alunos. 4.2 A prática musical a partir de atividades lúdicas e de integração coletiva A música é um elemento importante na rotina diária de uma sala de aula. O contato com ela pode enriquecer a experiência da criança de inúmeras formas. Se o professor tocar ou cantar diversas músicas em diferentes situações durante todo o dia escolar, a criança assimila outras situações de 101 aprendizagem, tais como habilidades sociais e estruturas de linguagem. As crianças são sempre aprendizes por inteiro, elas aprendem um pouco de cada coisa cada vez que têm a oportunidade. Assim como assimilam os sons vindos do processo de aprendizagem da linguagem, elas também aprendem os sons musicais experimentando-os como parte do ambiente onde estão. Ouvir os sons da sala de aula, do pátio, da rua, de casa, das lojas e dos diferentes espaços desses lugares pode ser um exercício importante para tornar o aluno atento a tudo que acontece à sua volta e desenvolver o senso crítico para aquilo que lhe diz respeito ou não. As atividades de tocar, cantar e dançar no início e no fim do dia de trabalho na escola, em situações de relaxamento, em preparação para momentos específicos da rotina de aula ou ainda em jogos interativos no pátio, podem auxiliar o professor a conhecer melhor seus alunos e desvendar o ambiente sonoro no qual seus alunos estão imersos, facilitando a comunicação e a cumplicidade entre professor e alunos, o que é um fator importante para o desenvolvimento da aprendizagem. O professor também pode desenvolver uma pesquisa de sons e diferentes tipos de música, compartilhando as culturas dos alunos e sons que estão a sua volta, motivando uma movimentação enquanto ouvem determinado tipo de música, e o professor poderá aproveitar para fazer o seu aluno se expressar musicalmente por meio dos movimentos corporais. Pode ainda se utilizar dos livros sobre música, levando o aluno a se interessar pelo assunto, como os livros sobre a vida dos compositores, sobre os instrumentos musicais e a cultura musical dos diferentes países, o que pode gerar uma interdisciplinaridade da música com outras disciplinas, tais como a geografia, história, a linguagem, teatro, entre outras. Da mesma forma que os livros, vídeos, CDs e DVDs podem estar na biblioteca da escola disponibilizando um conhecimento musical para o aluno. Outras maneiras para o professor encorajar seu aluno a vivenciar música é cantar junto com os alunos, ouvir e gravar as canções executadas por eles. É possível se movimentar ou andar com a criança enquanto está ouvindo música, ou ainda tocar um instrumento para acompanhar as atividades delas enquanto se movimentam, brincam, escrevem ou desenham. Canções, histórias, jogos e movimentações auxiliam o amadurecimento social, emocional, físico e cognitivo da criança, pois a música também é um meio de 102 fazê-la participar das atividades de grupo, e de incluir crianças com diferentes graus de desenvolvimento, aproveitando no grupo o potencial de cada uma. A partir destas colocações sobre como deve ser a música na escola, vou expor a minha experiência na prática durante estes anos com as crianças nas aulas de musicalização e de coral na educação básica. Para uma melhor fundamentação do trabalho, é importante buscar referências em alguns educadores que desenvolveram métodos para o processo de ensinar crianças e que foram resgatados para o ensino de música infantil. É importante valorizar a natureza do afeto, caráter individual e interesses espontâneos da criança. “As canções devem ser simples e não dramáticas, e seu objetivo é assegurar flexibilidade, sonoridade e igualdade às vozes. Propor ações que não incluam a leitura musical, que só deverá ocorrer anos mais tarde” (FONTERRADA, 2005, p. 51). Buscar uma educação mais voltada à prática e que seja apropriada para crianças de acordo com o seu entendimento. Beyer (1999) coloca: “no que se refere à educação musical, as crianças não teriam que aprender a teoria, mas cantavam um amplo repertório de canções de roda e de jogos musicados” (BEYER, 1999, p. 27). No século passado, educadores musicais como Emile Dalcroze (18651950), Zoltán Kodaly (1882-1967), Edgar Willems (1890-1978) e Carl Orff (1895-1982) buscaram uma experiência musical na qual as crianças pudessem sentir e experimentar a música de forma lúdica e espontânea, por meio do canto, do uso do corpo e da sensibilidade auditiva, tornando a música prazerosa. Como já vimos, musicalizar é permitir que a criança seja sensibilizada pela música de forma dinâmica e lúdica. É o despertar musical na educação infantil, dando oportunidade para a criança fazer música e ter prazer em ouvila. Musicalizar é tornar a música acessível a todos, usando a música elementar que está inserida no movimento e na palavra. É fazer com que as crianças amem a música, preparando-as para realizar com alegria a prática musical. É construir o conhecimento com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto musical através do estímulo, e assim contribuir para a formação global da criança. Esse processo de educação musical deve ser adaptado a realidade social, respeitando as fases evolutivas da criança, sendo multidisciplinar, com 103 objetivos claros e precisos, preparando seres humanos capazes de criar, realizar e vivenciar emoções. A metodologia que desenvolvo nas aulas de música, está alicerçada em cinco pontos que acredito que são essenciais para o desenvolvimento musical da criança: 1) apreciação musical, 2) senso rítmico, 3) melódico, 4) voz e 5) execução instrumental. Muitos destes aspectos se interligam e não podem ser separados, mas apenas para uma sistematização da ideia estarão por tópicos. Na apreciação musical é necessário desenvolver a percepção e discriminação sonora. Procura-se desenvolver a audibilização, que é o conjunto das funções relacionadas à Audição: percepção, discriminação, memória, figura/fundo e análise/síntese. AUDIBILIZAÇÃO Figura 1: Ouvir os sons e relacionar com as figuras Para Mársico (2003) é necessário desenvolver na criança o hábito de ouvir capacitando-a para ouvir com discernimento e propósito, pois a partir disto melhora a sua atenção, imobilidade e concentração. A percepção auditiva refere-se essencialmente à apreensão de sons e esta descoberta de ruídos e sons do seu entorno é uma das atividades que melhor proporciona o desenvolvimento 104 delas. Desde os bebês, ouve-se música pelo puro prazer que produz o som musical (MÁRSICO, 2003, p. 147). Ouvir, escutar, sentir e perceber são os fatores mais importantes para se fazer música, principalmente na fase da sensibilização. No senso rítmico busca-se a base no movimento e na palavra. As rimas são empregadas desde as primeiras aulas, usando gestos, movimentos corporais, instrumentos musicais e diferenciação de altura. ANDAR COM A MÚSICA Figura 2: Andar na pulsação com a música RIMAS NA PULSAÇÃO Figura 3: Eco das rimas com martelinhos sonoros De acordo com Orff apud Mársico (2003, p. 50), o ritmo verbal deve ser o começo para o estímulo musical infantil. O movimento é a condição principal da vida da criança, e este está presente em todo o tempo na música elementar. Para o desenvolvimento da leitura rítmica associa-se o texto das rimas com as 105 figuras grandes e pequenas conforme proposto por Kodaly, apud Ávila (1998). No entanto não se usam as palavras rítmicas (ta e titi) mas buscou-se uma adaptação de palavras para estes ritmos, (vou, vou-e) que facilita a dicção para a língua portuguesa e o movimento da ação. Usa-se os movimentos fundamentais de locomoção baseados em Stokoe apud Mársico (2003, p.59) que são explorados com canções dirigidas e movimentos livres de locomoção. RIMAS: Relacionadas com as palavras rítmicas – vou vou Adolecá lepeti letomá. Réu réu vai pro céu, Vai buscar o meu chapéu, Se for novo traga o cá, Se for velho deixa lá. 106 A galinha do vizinho, Bota ovo amarelinho, Bota um, bota dois, Bota três, bota dez. Tico, tico, no fubá, Tico tico vai voar, Tico vem pra cá, Tico tico vai pra lá. Caracol, caracol, Roda, roda , caracol. 107 Uni duni tê, Salame mínguê , Um sorvete colorê, O escolhido foi você. LEITURA RÍTMICA 108 TRANSFERÊNCIA DOS CARTÕES PARA OS IMÃS 109 Figura 4 e 5: Leitura dos ritmos dos cartões para imãs TRANSFERÊNCIA PARA PALITOS - Relacionar os palitos com o ritmo TRANSFERÊNCIA DOS CARTÕES PARA PALITOS 110 LEITURA DOS RITMOS COM AS PALAVRAS – VOU, VOU E ACRESCENTAR OUTROS RITMOS 111 LEITURA DOS RITMOS COM A FLAUTA Figura 6: Flauta com ritmos O senso melódico é desenvolvido a partir do movimento sonoro e altura do som conforme Willems (1966). São usados movimentos da mão e do corpo, bem como gráficos elaborados pelos alunos e feito pelos professores sendo cantados ou tocados pela flauta de êmbolo. MOVIMENTO DO SOM Figura 7: Andar com o movimento do som Após ampla exploração sonora, trabalha-se com a entonação do intervalo de 3ª menor usando as rimas previamente trabalhadas e com nomes das crianças, frutas, flores, animais, cores e outros. Esses sons podem ser representados com uma criança sentada e outra em pé, colocando a mão na testa e no queixo, degrau de escada, desenhos de gangorra e outros. 112 MOVIMENTO DO SOM COM AS MÃOS - CARTÕES MELÓDICOS Figura 8: Movimento do som com a mão O trabalho com a voz começa com a imitação. As professoras e pais cantam e as crianças balbuciam e progressivamente fazem os gestos e emitem sons silábicos de acordo com a idade. É importante explorar a experimentação vocal por meio de canto espontâneo de sons, imitação dos sons de animais, balbuciar musical, experimentação livre com canções buscando “desenvolver a musicalidade da criança e ajudá-la a cantar com precisão de afinação e ritmo”. (Mársico, 2003, p.84). 113 IMITAÇÃO DOS SONS Figura 9: Repetição da canção de saudação Feres (1989) enfatiza que desde os bebês a execução instrumental é utilizada. Primeiramente de forma exploratória e livre com instrumentos leves e pequenos, com formas e cores atrativas. Gradualmente eles vão conhecendo instrumentos de percussão diferentes e tocando de forma livre com canções e brincadeiras musicais. É importante buscar uma educação mais voltada à prática e que seja apropriada para crianças de acordo com o seu entendimento. Beyer (1999) coloca: “no que se refere à educação musical, as crianças não teriam que aprender a teoria, mas cantavam um amplo repertório de canções de roda e de jogos musicados” (BEYER, 1999, p. 27). Apresento sugestões como ideias de algumas músicas que uso em minhas aulas. É necessário que o professor tenha muitas canções em seu repertório. A primeira é uma canção que trabalha o tônus muscular, onde a criança imita os movimentos da letra, fazendo o corpo rígido no primeiro verso como um boneco de pau e todo flácido, mole no segundo verso. Para iniciar, todos inclinam a cabeça, levam a mão direita nas costas e giram, como se estivessem dando corda. 114 Música: Meu Boneco de Pau - Carmen Rocha A seguir apresentamos uma canção que trabalha o movimento de pernas e pés, direito e esquerdo, giro, bem como a questão afetiva, abraço e abano. Pode ser feito em roda e o professor deve estar atento para que todos comecem com o pé direito, enfatizando a lateralidade. Música: Movimentar o pé – Carmen Rocha A próxima canção relembra as locomotivas de antigamente, que possuíam o pistão. Sempre é interessante explicar para os alunos o movimento do pistão, e como será feito com o braço, alternando direito e esquerdo, para frente e para trás. O início é cantado bem devagar, gradualmente vai ficando mais rápido e no final todos saem correndo. É interessante fazer uma fila indiana, e sempre mudar o condutor, para fazer diferentes trajetos. 115 Música: É o Pistão – Autor desconhecido Geralmente antes de cantar esta canção, gosto de falar um pouquinho do circo e contar uma história de que o palhacinho ficou doente, e que para o circo não fechar, todos precisam fingir que são o palhaço. É interessante deixar que as crianças dêem ideias sobre que outros movimentos podem fazer como dormir, beijar, arrastar o pé e outros. Música: Pula, Pula Palhacinho – Josette Feres A próxima canção é de Carmen Rocha e pode ser usada para ensinar ou revisar conteúdos musicais ou da escola, como por exemplo, formas geométricas, números, tabuada, cores, letras, instrumentos. O professor espalha no chão as figuras de acordo com os conteúdos que deseja ensinar. Por exemplo: Espalha quadrados, triângulos e círculos nas cores vermelha, amarela e azul. Quando chega a parte na música “pode já pegar”, o professor dá a ordem “círculos”, ou “círculos azuis” ou “azul”, e enquanto cantam lá, lá, lá, as crianças pegam as figuras especificadas. 116 Música: Quem viu um igual? – Carmen Rocha Na música do grilo, é interessante imitar um grilo, ou ter um de pelúcia. Apresento na aula um grilo de pilha que se mexe e faz barulho que as crianças apreciam muito. Depois na hora do canto, quando canta o “cri, cri”, as crianças podem usar martelinhos sonoros, clavas ou palmas. É uma forma de introduzir a prática instrumental de forma específica. Para encerrar a aula, é sempre recomendável fazer um relaxamento, e a música da “Joaninha” de Josette feres é muito apropriada para isto. Com os menores, recomenda-se que a professora tenha uma luva imitando uma joaninha e faça massagem nas costas, cabeça e pés das crianças. Música: Joaninha – Josette Feres 117 Para Mársico (2003) é necessário desenvolver na criança o hábito de ouvir capacitando-a para ouvir com discernimento e propósito, pois a partir disto melhora a sua atenção, imobilidade e concentração. A percepção auditiva refere-se essencialmente à apreensão de sons e esta descoberta de ruídos e sons do seu entorno é uma das atividades que melhor proporciona o desenvolvimento delas. Desde os bebês, ouve-se música pelo puro prazer que produz o som musical (MÁRSICO, 2003, p. 147). Ouvir, escutar, sentir e perceber são os fatores mais importantes para se fazer música, principalmente na fase da sensibilização. No senso rítmico busca-se a base no movimento e na palavra. As rimas são empregadas desde as primeiras aulas, usando gestos, movimentos corporais, instrumentos musicais e diferenciação de altura. BRINCADEIRAS MUSICAIS Figura 10 e 11: Canções com movimentação 118 LEITURA DOS CARTÕES COM RITMO E MELODIA – SOL E MI LEITURA MELÓDICA COM MANOSSOLFA Figura 12 e 13: Leitura dos cartões com sol e mi com a manossolfa 119 TRANSFERÊNCIA PARA A PAUTA – DO RITMO E MELODIA Partindo dessas premissas, busca-se trabalhar com a musicalização infantil tendo como objetivos: desenvolver o prazer de ouvir, reproduzir e criar música proporcionando à criança oportunidade de compreender a realidade sonora que a circunda; focalizar o trabalho com rimas, parlendas, canções folclóricas e brincadeiras tradicionais infantis resgatando o repertório tradicional e cultural do Brasil; obter uma consciência sonora e ampliar a percepção auditiva, trabalhando com as qualidades do som como altura, duração, intensidade e timbre; estimular a criança a expressar-se de maneira criativa por meio de elementos sonoros; estimular na criança a autodisciplina para desenvolver a atenção e respeito ao próximo ajudando-os na convivência social. A partir deste trabalho de musicalização infantil, pode-se perceber o desenvolvimento global das crianças no que se refere à compreensão da linguagem musical bem como ao melhor desempenho na aprendizagem de conceitos e melhor socialização. A grande maioria dos alunos que fazem parte destas aulas sistematizadas pode participar de grupos instrumentais como orquestras e bandas. Percebe-se que o ensino musical desde a Educação Infantil favorece o envolvimento nas atividades vocais e instrumentais que são oferecidas pela escola. 120 O ideal é iniciar o ensino da música cedo. Quanto antes o bebê tem contato sistemático com a exploração sonora e a voz cantada, melhor a apreensão da linguagem musical. É de suma importância que haja um equilíbrio entre o ensino musical exploratório e o sistematizado, pois ambos têm suas funções e características que precisam ser trabalhadas com as crianças. Feres (1989) diz que o professor de musicalização infantil precisa usar os vários recursos didáticos e pedagógicos disponíveis, conhecendo materiais e técnicas de ensino e aprendizagem que irão favorecer a percepção e a execução musicais do aluno. Todas as atividades realizadas na aula precisam ser desenvolvidas por meio do lúdico, buscando o prazer e a alegria de fazer música resgatando e preparando as crianças para a cidadania plena. Algumas atividades práticas que são utilizadas dentro da metodologia aplicada nas minhas aulas são desenvolvidas nas brincadeiras em rodas, canções folclóricas, canções com movimentos corporais, faciais e gestuais, enfatizando as partes do corpo. BRINCADEIRAS DE RODA Figura 14: A classe cantando na roda A utilização dos instrumentos da bandinha e de percussão, ouvir e conhecer os timbres dos instrumentos, bem com as famílias de cada um. Schafer (1991) fala da importância de trabalhar com as paisagens sonoras por meio de músicas de vários estilos, e ainda explorar as atividades com manossolfa que facilitam aprender as notas musicais e intervalos. 121 INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO Figura 15: Instrumentos – site da JOG O trabalho de musicalização é enriquecido com o andar nas diferentes pulsações e de diversas formas, bem como desenvolver a partir de materiais confeccionados uma leitura com cartões de rimas e ritmos. É de suma importância utilizar os jogos pedagógicos musicais, para uma melhor compreensão e fixação dos conteúdos aplicados nas aulas, bem como aproveitar para desenvolver a dramatização com histórias sonorizadas com o próprio corpo, instrumentos musicais ou outros objetos sonoros. JOGOS E ATIVIDADES MUSICAIS Figuras 16 e 17 – Jogos do site Menestrel Figura 18 - Jogo do site Menestrel 122 BINGO MUSICAL Figura 19: Jogo Bingo DOMINÓ DAS FIGURAS MUSICAIS Figuras 20 Figuras 16 a 20 dos jogos: Site da Menestrel FAMÍLIA DOS INSTRUMENTOS Os instrumentos podem ser classificados em instrumentos de: sopro, corda, percussão e eletrônicos. 123 Instrumentos de sopro: DE METAL-Trompete, trompa, trombone, tuba, bombardino etc... DE MADEIRA – Flauta transversal, flautim, flauta doce, saxofone, oboé, clarinete, clarone, fagote, saxofone, corn-inglês e outros. Em conjunto com o processo e atividades desenvolvidas nas aulas de musicalização, faz parte do estudo sistemático também a aula de Coral que favorece e estimula as diversas áreas do conhecimento. 4.3 Coral: Projeto Musical: “CUCO” NA ESCOLA Com a experiência de mais de 20 anos em ambiente escolar na área da educação musical, realizei muitos corais nas escolas que trabalhei, e tinham como objetivo principal, sempre ensaiarem para apresentações em datas 124 comemorativas ou eventos realizados pelas instituições. Mas com o passar do tempo e mediante alguns estudos e cursos que participei, pude observar que seria necessária uma mudança para estas aulas. Passei a desenvolver um novo conceito para as aulas de coral, e em complemento às atividades na Educação Musical em parceria com as aulas de musicalização sistematizadas e estruturadas em classe individuais, organizando um trabalho em grupo com todos os alunos de jardim ao 5º ano com duas divisões por faixa etária, que é o Canto Coral. Um grupo é formado pelos alunos de jardim ao 2º ano, e outro grupo para os alunos de 3º ao 5º ano, e temos um projeto especial que chama “CUCO” na Escola com o objetivo de “Educar para incluir através do Canto Coral”. É um projeto desenvolvido na educação musical pelo canto coral integrando os conteúdos musicais ao currículo escolar de forma interdisciplinar, utilizando os temas transversais em uma única intersecção de aprendizagem. O projeto “CUCO na Escola” teve início a partir de um grupo de estudo sobre educação musical pela Musicalização Infantil e Canto Coral do UNASP campus Engenheiro Coelho, criado em Outubro de 2003. Este grupo era composto por alunos de pós-graduação de mestrado em educação, lato-sensu em Educação Musical e Regência, e professores da graduação. As propostas estudadas teoricamente embasavam o “Projeto CUCO (Currículo Coral) na Escola”, sendo colocadas em prática a partir de fevereiro de 2004 utilizando o ensino fundamental I do Colégio UNASP como laboratório. Dentro da proposta curricular, foi feita a seguinte divisão: 1o grupo: educação infantil, 1º e 2º anos e o 2o grupo: 3º, 4º e 5º anos. Para prover um embasamento filosófico e teórico foram trabalhados alguns objetivos para a prática curricular do canto coral e musicalização na escola. Os principais objetivos são: desenvolver currículos de ensino para a prática da musicalização e canto coral na escola; bem como selecionar, organizar, adaptar e elaborar material didático para a prática curricular de musicalização e canto coral na escola; e por fim oferecer subsídio teóricoprático para a formação do docente em Educação Musical, e para os alunos de Licenciatura em Educação Artística - Música; Este currículo inclui aspectos musicais e interdisciplinares, privilegiando a exploração dos temas transversais. Alguns aspectos musicais estudados são: 125 técnica vocal, relaxamento e expressão corporal, leitura musical pela manossolfa, bem como partitura tradicional. Conteúdos dos planejamentos das diversas séries foram selecionados e trabalhados no Canto Coral como proposta interdisciplinar. Esta proposta de trabalho permite a conceitualização teórica, a aplicação prática, a avaliação reflexiva da prática e uma reestruturação das ações pedagógicas. Cada membro do grupo de estudo contribuiu com pesquisa em aspectos específicos do tema geral. Periodicamente o grupo se reunia para analisar as pesquisas individuais e sistematizar a elaboração da práxis. No primeiro semestre de atividade, em 2004 o “Projeto CUCO na Escola” promoveu uma reestruturação do programa coral do Colégio UNASP, que possuía uma atividade de canto coral com alunos de educação infantil ao 5º ano em um único grupo. Mesmo neste curto espaço de tempo, resultados palpáveis puderam ser observados. aspectos de performance musical Uma considerável melhora em vários se fez presente, assim como o desenvolvimento de um ambiente agradável e positivo de ensino e aprendizagem, aonde espontaneamente. a alegria do fazer musical se manifesta Houve uma expansão de repertório, permitindo a exploração de peças apropriadas para cada grupo, como também um aprofundamento na busca de conhecimento musical e cultural. Apesar de sete anos que o projeto foi iniciado, ainda é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, de prazer de ouvir música, da imaginação, memória, concentração, atenção, autodisciplina, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação. As atividades do coral permitem que a criança conheça melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o outro a partir de atividades lúdicas. A partir destas atividades realizadas pode-se observar a contribuição para o desenvolvimento da criança, da seguinte forma: desenvolvimento cognitivo/linguístico, desenvolvimento psicomotor e desenvolvimento sócioafetivo. 126 É importante desenvolver a escuta sensível e ativa nas crianças. Por isso, é fundamental fazer uso das atividades de musicalização e de canto coral, que explorem o universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá desenvolver sua capacidade auditiva, exercitar a atenção, concentração e a capacidade de análise e seleção de sons, sendo as atividades de exploração sonora a partir do ambiente familiar da criança, passando depois para ambientes diferentes. Snyders (1994) comenta que a função mais evidente da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta e suas responsabilidades. Mas ela pode parecer aos alunos como um remédio amargo que eles precisam engolir para assegurar, num futuro bastante indeterminado, uma felicidade bastante incerta. A música pode contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e favorável à aprendizagem, afinal propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente (SNYDERS, 1994, p. 14). Além de contribuir para deixar o ambiente escolar mais alegre, pode ser usada para proporcionar uma atmosfera mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de avaliação, a música também pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas. Mas é importante que seja estudada como matéria em si, como linguagem artística, forma de expressão e um bem cultural. A escola deve ampliar o conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico. “Uma das tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente sócio-cultural de que provenha” (MÁRSICO, 1985, p. 148). As atividades musicais realizadas na escola não visam a formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical, 127 propiciar a abertura de canais sensoriais, que facilitem a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser. Cantar é uma atividade que exige controle e uso total da respiração, proporcionando relaxamento e energização. O canto desenvolve a respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e, portanto, modifica a consciência do emissor. A prática do relaxamento traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e mental. De acordo com Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o controle da mente e o uso da imaginação, dá descanso, ensina a eliminar as tensões e leva à expansão da nossa mente”. 1 - RELAXAMENTO DO CORAL 2 - RESPIRAÇÃO Figuras 21 – 22 – 23 – Arquivo do Colégio UNASP 128 Assim como as atividades de musicalização, a prática do canto também traz benefícios para a aprendizagem, por isso deveria ser mais explorada na escola. Bréscia (2003) afirma que cantar pode ser um excelente companheiro de aprendizagem, contribui com a socialização, na aprendizagem de conceitos e descoberta do mundo. Tanto no ensino das matérias quanto nos recreios, cantar pode ser um veículo de compreensão, memorização ou expressão das emoções. Além disso, o canto também pode ser utilizado como instrumento para pessoas aprenderem a lidar com a agressividade. As atividades relacionadas à música também servem de estímulo para crianças com dificuldades de aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. As atividades de musicalização, por exemplo, servem com estímulo à realização e ao controle de movimentos específicos, contribuem na organização do pensamento, e as atividades em grupo favorecem a cooperação e a comunicação. Além disso, a criança fica envolvida numa atividade cujo objetivo é ela mesma, onde o importante é o fazer, participar, não existe cobrança de rendimento, sua forma de expressão é respeitada, sua ação é valorizada, a através do sentimento de realização ele desenvolve a auto-estima. Nas aulas de coral depois do relaxamento corporal e respiração é feito um aquecimento vocal de forma lúdica com canções simples, histórias dramatizadas e gestos, podendo utilizar também a Manossolfa desenvolvida por Kodaly na Hungria para facilitar o aprendizado das notas e intervalos. São feitos sinais com as mãos com movimentação para cima e para baixo. É um sistema para orientar o solfejo, isto é, determinar a altura dos sons, não por meio das notas na pauta, e sim, por gestos com disposições diversas dos dedos e das mãos. Posições de cada nota com a Manossolfa Figura 24: Arquivo pessoal 129 3 - AQUECIMENTO a) Respiração – fazer o sons de S, abelhinha, mosquito, ambulância, e outros. b) Vocalizes com canções lúdicas com gestos Vocalize: Ruth Costa A Lili: Autor desconhecido 130 Cantar subindo de tom nas vocalizes, podendo usar a manossolfa, e fazer movimentos corporais com palmas e pés. Pode-se ainda utilizar diferentes andamentos (rápido, lento) e a dinâmica (forte, fraco). É importante cantar explorando diferentes maneiras, (triste, alegre, imitando um robô, nenê chorando) e cantar devagar como aquecimento, subindo de tom somente a primeira frase, usando a manossolfa. MANOSSOLFA Figura 24 – Arquivo do Colégio UNASP Após o relaxamento, respiração e aquecimento vocal, é possível continuar a aula começando o aprendizado do repertório. Em primeiro lugar é preciso falar a letra no ritmo e batendo palmas. Em seguida as crianças fecham os olhos e escutam a melodia e letra de cada frase, abrindo os olhos para repetir o que ouviram. Neste processo de repetição dos trechos por frases, as crianças aprendem a música e decoram com mais rapidez. Sadie apud Bréscia (2003, p. 50) afirma que crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o mais falhou. A música é um veículo expressivo para o alívio da tensão emocional, superando dificuldades de fala e de linguagem. A terapia musical foi dada para melhorar a coordenação motora nos casos de paralisia cerebral e distrofia muscular. Também é usada para ensinar o controle da respiração e da dicção nos casos em que existe distúrbio da fala. Se a música pode trazer tantos benefícios para a saúde física e mental, por que a escola não a utiliza mais? Incluí-la no cotidiano escolar certamente trará benefícios tanto para professores quanto para alunos. Os educadores encontram nela mais um recurso, e os alunos se sentirão motivados, se desenvolvendo de forma lúdica e prazerosa. 131 Como foi comentado anteriormente, a música ajuda a equilibrar as energias, desenvolve a criatividade, a memória, a concentração, autodisciplina, socialização, além de contribuir para a higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos (BARRETO e SILVA, 2004). Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento físico, mental, social, emocional e espiritual, a música pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional. Nesse sentido, faz-se necessária a sensibilização dos educadores para despertar a conscientização quanto às possibilidades da música para favorecer o bem-estar e o crescimento das potencialidades dos alunos. Pois ela fala diretamente ao corpo, à mente e às emoções. A presença da música na educação auxilia a percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando-se ainda com habilidades linguísticas e lógico-matemáticas ao desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no mundo. Além disso, a música também vem sendo utilizada como fator de bem estar no trabalho e em diversas atividades terapêuticas, como elemento auxiliar na manutenção e recuperação da saúde. As atividades de música também favorecem a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Pelo seu caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliando na desinibição, contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro, e abrindo espaço para outras aprendizagens (BARRETO e SILVA, 2004). Incluir é possível e desejável por muitas crianças e suas famílias. O importante é a escola não ter medo de começar a buscar ajuda e cooperação para construir uma prática pedagógica e social melhor. Devido a estes fatores que desenvolvo este trabalho inclui também as crianças especiais. Eles participam ativamente de todo o processo da aula, dos ensaios e das apresentações. 132 APRESENTAÇÃO DO CORAL DE JARDIM AO 5º ANO Figura 25 – Arquivo do Colégio UNASP Diante destas colocações de parte da minha experiência coloco de forma geral, breves sugestões para o ensino da música na escola regular. Snyders (1994) afirma que a escola é um mundo feito para acolher a criança e responder à sua necessidade de alegria. Isso nem sempre é evidente e fácil. No entanto, é importante que professores e alunos mantenham vivo o objetivo de conservar a alegria, o interesse, a curiosidade e a cumplicidade em cada um dos momentos da aprendizagem. O ensino da música dispõe de condições exemplares para difundir a alegria cultural, e considerando que a mesma é um fator preponderante no processo de ensino e aprendizagem, alguns fatores podem ser considerados importantes para o sucesso do professor. Vou encerrar este capítulo apresentando alguns itens que considero essenciais: a aula deve ser iniciada com atividades simples e pequenas. Uma pequena canção, uma dança ou atividade rítmica podem auxiliar o professor a organizar a sua sala de aula e tornar o ambiente alegre e propício para outras atividades musicais ou não. Realizar uma atividade que esteja ao alcance da criança pode aumentar a sua 133 auto-estima e ser um fator importante para a construção da confiança em si mesma e na escola. Repetir frequentemente cada atividade e apresentar um conceito de diferentes maneiras e estilos poderá ampliar as chances de compreensão do aluno. O silêncio deve ser valorizado sempre, e o professor deverá usar todos os materiais trazidos para a classe, de forma a não criar expectativas e frustrações para a criança. Ao desenvolver as atividades e jogos, as instruções devem ser repetidas para uma melhor compreensão. O professor deve utilizar de alguns recursos criativos para dinamizar e alegrar mais a aula, como cantar em vez de falar, fazer gestos para se comunicar, e usar dramatizações e expressões faciais, como por exemplo, usar os comandos sonoros para pedir silêncio. A criança aprende melhor quando há alegria envolvida no processo. A utilização de materiais variados de diferentes texturas e coloridos podem ser manipulados. Desta forma facilitam o contato com eles, envolvendo em alguns tipos de sensações. Para um planejamento ser completo, deve ser incluído capacidades específicas de cada um dos alunos, para que sejam encorajadas sua independência e criatividade. O professor deve participar das atividades com os alunos para que se criem vínculos afetivos, lembrando que com esta prática está aprendendo junto com eles. No planejamento deve constar mais atividades que o necessário, para poder ter uma flexibilidade nos conteúdos e preferências dos alunos. Deve fazer parte também a dança, o canto e o instrumento que são elementos que deveriam sempre estar presentes no planejamento do professor. É essencial que o professor sempre busque uma renovação de seu repertório musical, aos métodos e materiais didáticos que têm disponíveis. É importante lembrar que o contato com a música seja sempre renovado por meio de um ensino criativo, dinâmico e atual. Finalmente é importante registrar que as atividades musicais oferecem oportunidades raras de resgate do prazer e da alegria na sala de aula, tanto para o grupo de alunos como para o professor. 134 CONCLUSÃO O ensino da música no Brasil passou por períodos de grande empolgação, que foi interrompido por momentos de silêncio. Na medida em que se aprofunda a reflexão sobre o ensino da música como prática escolar, esses momentos tornam-se esclarecedores para o entendimento da função atribuída à música como disciplina escolar. Nessa trajetória, marcada por transformações culturais, sociais e políticas, o ensino da música refletiu a influência de diversas concepções pedagógicas – das concepções tradicional, progressista e, mais recentemente, da concepção interacionista. Devido os meios científicos e acadêmicos terem o ensino da música reconhecido, não é o que está sendo visto na realidade das escolas atualmente. Em algumas poucas instituições há professor e carga horária específica para música; em outras, só há o ensino da música na educação infantil, mesmo assim como função recreativa. Tem escolas que a aula de música se resume a formar e a ensaiar uma banda ou um coral, porém, tais práticas envolvem apenas alguns alunos, deixando a maioria excluída. Sendo assim, se visamos uma educação musical que atenda a todos os alunos, a constituição de pequenos grupos, como o coral ou a banda, não atenderia ao propósito de uma educação ampla e democrática. Na maioria das vezes o que pode ser observado é que o espaço reservado para a música está incluído no da Educação Artística, disciplina que ainda tem as suas atenções voltadas para as artes plásticas ou cênicas, deixando o professor de Educação Artística, a se tornar polivalente ou com formação abrangente que por conta desta situação, não encontra meios para desenvolver objetivos propriamente musicais. São inúmeros os desafios para serem concretizados os ideais para a educação musical nas escolas brasileiras, mas com a implantação da nova lei é possível estimular as mudanças, buscando e divulgando novas práticas pedagógicas, experiências de sucesso, saberes adquiridos em estudos desenvolvidos no cotidiano escolar. O essencial, é que se façam investimentos na educação brasileira, reconhecendo e valorizando os professores de Educação Musical. 135 Estou convicta de que este trabalho me trouxe novas perspectivas sobre a educação musical nas escolas, e de como deve ser a formação dos professores nesta área. Acredito que sem mudanças nada se faz na vida, no entanto é importante pensar sempre nas possibilidades fascinantes que nos oferece cada recomeço. Por outro lado penso que muitas das atitudes negativas por parte de professores/educadores, se devem não só a falta de formação inicial e contínua, mas também as exigências que se impõe para que a música apareça como meio de divulgação e entretenimento para a escola, e não como educação como um todo. Neste trabalho busco mostrar alguns aspectos sobre os espaços escolares, pois tenho a preocupação de trazer à discussão a preparação dos professores de música para atuarem neste contexto. De acordo com a nova lei o Ensino de Música foi inserido no currículo da Educação Básica como obrigatório, mas faz-se necessário formar um profissional dentro da perspectiva atual de formação de professores. De acordo com estas perspectivas, o professor deve ser um profissional autônomo que reflete criticamente sobre a prática para compreender as características dos processos de ensino aprendizagem em música, levando em consideração o contexto, e deve saber dialogar com a “diversidade de vivências musicais não escolares que a sociedade atual propicia” (ARROYO, 2000, p.78). Deve também ser um intelectual transformador, com compromisso de provocar a formação da consciência dos indivíduos para uma educação musical para todos, de uma maneira mais justa. Acredito que estando dentro do contexto escolar o professor de música poderá atuar nesta perspectiva, no que se refere a abranger um maior número de alunos. Após a apresentação no capítulo 2 da educação musical escolar no Brasil no contexto das legislações e reformas educativas, que mostrou primeiramente a educação no Brasil conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998), e em seguida a história da educação musical e as tendências das práticas pedagógicas, percebe-se que a educação musical está diante de um desafio que, sem dúvida, apresenta-se como primordial para uma prática efetiva e consistente do ensino de música. É preciso promover, de modo mais amplo e democrático, uma educação musical de qualidade para a escola de ensino fundamental. Concepções e práticas musicais adotadas 136 nessas escolas refletem, em sua maioria, o modelo conservador de ensino de música. Ocorre que o pouco investimento na Licenciatura em Música e, consequentemente, a prioridade depositada no Bacharelado, faz com que bacharéis em música, por falta de opções no mercado de trabalho, tendam a optar pelo magistério. Esta prática acaba sendo desastrosa, uma vez que esses profissionais não tiveram uma formação adequada em que tivesse ocorrido a reflexão e a discussão das questões específicas do ensino da música. E estas dificuldades que estão dentro da realidade escolar são por demais desafiadoras e, muitas vezes, desestimulantes. Diante desta situação a tendência, na grande maioria, é de adotar as concepções, modelos e práticas de sua própria formação, longe das prioridades e necessidades da escola e de sua clientela. Nesse contexto, o método tradicional torna-se para o professor seu principal aliado no processo educacional, passando a ensinar conforme aprendeu, priorizando e considerando apenas o seu próprio conhecimento e a sua própria experiência musical, ignorando a música apreciada pelos jovens e suas vivências. Trabalha com conteúdos fragmentados, desatualizados, abstratos, deixando o ensino da música sem propósito e fora do desafio de levar a educação musical de qualidade para a escola. O fato é que se há música como disciplina escolar, pouco tempo é reservado para a sua prática, a não ser como recreação ou como recurso didático, dando suporte para a promoção de festas escolares ou para minimizar as dificuldades no processo de ensino e de aprendizagem. Na maioria das escolas onde há o ensino de música, os professores continuam reduzindo essa disciplina à realização de atividades lúdicas, com aspectos agradáveis, em que o produto final é mais importante do que o processo de aprendizagem que busca, como objetivo, a aquisição de um novo conhecimento. A música como atividade educativa, quando inserida no contexto escolar, encontra ainda, uma série de limitações, tais como carência de material músico-pedagógico, salas inadequadas, tempo disponível reduzido, além de turmas numerosas e heterogêneas. Outro limite que se impõe à educação musical escolar diz respeito à ausência de um método atrativo e realista que, em concordância com o desenvolvimento integral do aluno, lhe 137 possibilite um aprendizado prazeroso, acessível e voltado para o seu crescimento pessoal. São raras as escolas que dispõem de um trabalho musical bem orientado e metodologicamente estruturado, com possibilidades de garantir a sua continuidade. O processo de ensino-aprendizagem requer constante adequação e renovação de atividades e de materiais musicais pedagógicos, conhecimento e disponibilização de recursos metodológicos que possam promover as condições necessárias como forma de assegurar a apreensão do conhecimento musical, o constante interesse do aluno podendo, assim, devolver a alegria musical. Contudo, é preciso dar à educação musical um caráter progressivo, que deve acompanhar a criança ao longo de seu processo de desenvolvimento escolar. É preciso ter consciência e clareza para introduzir o aluno no domínio do conhecimento musical. Desacertos são cometidos no ensino da música em decorrência do desconhecimento da natureza dos elementos fundamentais como o som, o ritmo, a melodia, o ouvido musical, a harmonia e a inspiração no momento do fazer musical. Para isso, é necessário considerar bases novas, mais amplas, que nos possibilitem libertarmo-nos das ideias preconcebidas que com o passar do tempo se incorporaram ao ensino de música. Não é necessário rejeitar os valores tradicionais. O que importa é entender que existe hoje uma diversidade de formas de pensar, de lidar e de gostar de música revelada no cotidiano escolar que devem ser considerados na articulação e no entrelaçamento da construção do conhecimento musical. Entendemos que é preciso romper com os mecanismos que fazem com que a escola simplesmente tome para si a postura de reafirmar a familiaridade musical dada a alguns por seu meio sociocultural. Se atualmente, são raras as escolas que se propõem a realizar um trabalho bem orientado e metodologicamente estruturado para o ensino da música, também é rara a presença do professor especializado para dispor-se a um trabalho dinâmico e de qualidade. Esses parecem ser os maiores obstáculos para a inclusão da música na escola de ensino fundamental do país. Todavia, ainda precisamos fortalecer a prática docente dos profissionais que já atuam no universo das escolas e, nesse sentido, a formação continuada, 138 pensada de forma abrangente, deve ser considerada com uma ação fundamental. É preciso, em nome do resgate da alegria escolar, tomarmos consciência das verdadeiras carências pedagógicas no domínio do ensino musical e projetar um plano estratégico, transparente e inovador, que tenha objetivos claros e bem definidos que possam ser efetivados no cotidiano da vida escolar. Se o verdadeiro objetivo é aproximar o aluno da música, levandoo a gostar de ouvi-la, apreciá-la e compreendê-la, é preciso, com urgência, preencher o vazio musical no cotidiano escolar. Não podemos permitir que a música se cale nas escolas brasileiras. Acredito que este trabalho poderá contribuir para dar continuidade a outros estudos mais específicos sobre a formação dos professores de música e para uma sistematização da metodologia adequada para que as aulas de música sejam vivenciadas na escola com alegria. 139 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. ALEXANDER, Gerda. Eutonia – Um caminho para a percepção corporal. Trad. José Luis Mora Fuentes. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ALMEIDA, Cristiane Maria Galdino. Por uma ecologia da formação de professores de música: diversidade e formação na perspectiva de licenciandos de universidades federais do Rio Grande do Sul. 2009. 189 f. 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