Relato de Caso

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Relato de Caso
Homeopatia Brasileira, 4(1):491-494, 1998
Tratamento Homeopático da Catarata
Homeopathic Treatment of the Cataract
JEFFERSON MELAMED
1
Unitermos: catarata, Cristalinum, tratamento oftalmológico, homeopatia
1
A
I NTRODUÇÃO
A opacificação do cristalino se denomina de
Catarata. Esta apresenta uma grande variação no
grau de densidade e pode ser devida a diversas
causas, mas, usualmente, está associada à idade
acima de 60 anos, caracterizando a catarata senil.
A maioria dos casos é bilateral, embora o índice
de progressão seja raramente igual.A catarata
traumática, a catarata congênita e outros tipos são
menos comuns.
No presente estudo o autor propõe uma
abordagem homeopática para o tratamento da
opacificação do cristalino objetivando oferecer
uma alternativa clínica no controle desta
enfermidade, analisando clinicamente o emprego
do medicamento homeopático “similimum” do
paciente, em três casos clínicos com diagnósticos
de catarata incipiente, e o emprego do
Resumo de Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção do certificado de conclusão do curso de formação de
especialista em homeopatia para médicos do IHB, 1998.
medicamento organoterápico Cristalinum em 30
CH, em dois grupos de pacientes. Um grupo de
20 pacientes com catarata incipiente e com uma
acuidade visual entre 50 e 70% e um outro
grupo de 10 pacientes com catarata madura e
com uma acuidade visual entre 10 e 20%.
A PRESENTAÇÃO
DOS CASOS
1º Caso: B.L., feminino, 47 anos.Trata-se de
uma mulher simpática, meiga, reservada, tímida e
que veio acompanhada de uma amiga.A paciente
já tinha se submetido a uma cirurgia de catarata
no olho direito, que complicou com uma
hemorragia do vítreo, sendo submetida a nova
cirurgia do vítreo com resultado insatisfatório.
Um especialista lhe propôs cirurgia de catarata
no olho esquerdo.
Queixa Principal – Enxaqueca e visão
embaçada para distância e para leitura.
História da Doença Atual – A paciente relata
episódios de cefaléia occipital e sub-orbitária
com agravação pelo calor e após ingestão de
Relato de Caso
alimentos gordurosos. Refere, ainda, vertigem
pela manhã, acompanhado de náuseas, ao
despertar.
História Fisiológica: A doente apresenta
igualmente distúrbios digestivos após ingestão de
alimentos gordurosos com náuseas e vômitos.
Relata ausência de sede. Cólicas que pioram no
período pré-menstrual e as regras não conduzem
a uma melhora.As regras costumam ser tardias,
pouco abundantes, curtas de sangue escuro.
História Patológica Pregressa: Operada de
catarata em olho esquerdo.A paciente apresenta,
ainda, úlceras varicosas que pioram pelo calor.
Exame Físico: À inspeção observou-se
presença de lacrimejamento abundante, não
irritante, com as pálpebras inflamadas, aglutinadas
e a presença de terçol.
Diagnóstico: O exame oftalmológico indicou
catarata incipiente capsular posterior e nuclear
em olho direito.
Tratamento: Pulsatilla 12 CH - cinco gotas via
oral, pela manhã, durante 30 dias.
1° Retorno (após 30 dias): A paciente
retornou, com melhora das crises de cefaléia e
vertigem, com alívio dos distúrbios digestivos e
melhora das dores nas pernas causadas pelas
varizes.
Exame Oftalmológico:
Biomicroscopia - Pálpebras de aspecto normal,
ausência de hiperemia conjuntival ou secreções,
ausência de terçol.
Fundoscopia - Diminuição da turvação vítrea
no olho operado e melhora da acuidade visual
em olho esquerdo (AV=20/30) que lhe permitia
realizar suas tarefas habituais sem dificuldade.
Tratamento: Pulsatilla 30CH - cinco gotas via
oral, pela manhã., durante 30 dias.
2° Retorno (60 dias após): O exame
oftalmológico indicou estabilização do quadro
anterior.A paciente decidiu continuar o
tratamento homeopático e não se submeter a
cirurgia.
2º Caso: S.M., feminino, 65 anos.Trata-se de
uma mulher muito emotiva, que chora ao contar
os males que a afligem.Apresenta-se deprimida
mentalmente por desgostos e contrariedades,
referindo discussões com o marido e
desentendimentos com os filhos. Relata que pode
suportar uma refeição carregada de alimentos
gordurosos, mas uma refeição leve de legumes e
verduras podem determinar transtornos digestivos
e crises de enxaqueca. Ela descreve também, um
grande cortejo de cólicas epigástricas, estados
nauseosos freqüentes, meteorismo e hemorróidas.
As vezes, uma crise de enxaqueca intolerável
pode ceder tão bruscamente que a doente sai
para compras ou a passeio sem transtornos.
Queixa Principal : Perda de visão e enxaqueca.
História da Doença Atual - A paciente se
queixa de cefaléia compressiva ora a direita, ora a
esquerda ocasionadas por preocupações e
desgostos.A sua dor agrava com a ingestão de
bebidas alcóolicas, à luz e com ruídos. Há
melhoras com o uso de compressas mornas. Os
episódios de enxaqueca são agravados com os
odores fortes e a fumaça de cigarro. Refere
episódios de espasmo palpebral e visão de pontos
brilhantes, que se movimentam como moscas.
História Patológica Pregressa: Esta paciente
submeteu-se a uma cirurgia de catarata em olho
direito, há aproximadamente um ano. E, após seis
meses da cirurgia, ocorreu um descolamento de
retina do olho operado.A paciente foi submetida
também a uma cirurgia de descolamento de
retina com aplicação de laser. Um mês após esta
cirurgia, sobreveio o novo descolamento da
retina. Sendo indicado uma segunda cirurgia de
descolamento de retina, foi re-operada mas a
visão permaneceu limitada a percepção luminosa.
Exame Físico: Exame oftalmológico à
Biomicroscopia revelou a presença de catarata
incipiente em olho esquerdo.
Diagnóstico: Catarata incipiente no olho
esquerdo.
Tratamento: Ignatia amara 12 CH - cinco gotas
via oral, pela manhã, durante 30 dias.
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1° Retorno (após 30 dias de tratamento): Não
houve nenhuma crise de enxaqueca neste
período. No exame de Acuidade visual em olho
direito demonstrava apresentar visão de vultos. E,
no olho esquerdo houve melhora na visão,
apresentando 20/25 enquanto que antes do
tratamento era de 20/30.
Tratamento: Ignatia amara 30 CH – cinco gotas
via oral, pela manhã, durante 30 dias.
2° retorno (60 dias após): a paciente
apresentou estabilização do quadro anterior.
3º Caso: Paciente masculino, de 58 anos. É
um empresário, sedentário, que faz numerosas
refeições de negócios e com abuso de bebidas
alcóolicas.Apresenta crises de cefaléias após
transtornos digestivos e constipação. Sua esposa
que o acompanhou à consulta, assinalou que nos
últimos dois anos seu marido tornou-se cada vez
mais irritado, tenso. Notou-se uma melhora dos
transtornos oftálmicos, da cefaléia e dos sintomas
digestivos, bem como dos sinais psíquicos, durante
as férias em uma fazenda quando o paciente pode
caminhar sem preocupações de negócios.
Queixa Principal: Cefaléia e Catarata.
História da Doença Atual: Paciente relata
cefaléia pela manhã, com vertigens, sensação de
peso na região frontal de manhã ao abrir os
olhos, com vertigens e náuseas.As nevralgias suborbitárias surgem todas as manhãs com
lacrimejamento e coriza. Um especialista que o
examinou há dois meses indicou a cirurgia.
Exame Físico: Olhos inflamados e injetados.
Espasmos das pálpebras com sensação de secura
intensa, dores e fotofobia que agravam pela manhã.
Exame oftalmológico à Biomicroscopia
revelou a presença de catarata incipiente em
ambos os olhos.
Exames complementares: Ele trouxe exames de
sangue, radiografias do estômago e vesícula, pois
seus transtornos são antigos. Entretanto, suas
radiografias e os seus exames estão dentro de
parâmetros normais.
Diagnóstico: Catarata incipiente bilateral.
Tratamento: Nux vomica 12 CH - cinco gotas
via oral, pela manhã, durante 30 dias.
1° Retorno (após 30 dias de tratamento): O
paciente retornou relatando grande melhora das
crises de cefaléias, que eram freqüentes e também
dos espasmos palpebrais e das nevralgias
orbitárias, que não o incomodaram mais.
Foi realizado exame de refração e, à
biomicroscopia, o paciente apresentava uma
catarata incipiente, porém a acuidade visual com
correção era de 20/25 e o paciente podia enxergar
bem. Não foi necessário se submeter a cirurgia de
catarata tendo sido prescrito o uso de óculos.
4° Caso: Emprego do Cristalinum 30 CH,
cinco gotas via oral, à noite, por 90 dias a um grupo
de 20 pacientes com idades entre 50 e 70 anos e
com diagnóstico de catarata incipiente. O exame de
fundoscopia nestes pacientes revelou uma acuidade
visual entre 50 e 70% e uma ausência de alterações
de nervo ótico, retina ou vasos arteriovenosos.A
pressão intra-ocular à tonometria de aplanação
neste grupo ficou entre 13 e 20 mmHg.
Após três meses de uso da medicação
organoterápica, 15 dos 20 pacientes, perfazendo
um total de 75 % dos pacientes, com catarata
incipiente apresentaram a acuidade visual
melhorada de 10 a 20%.
Estes pacientes decidiram continuar com o
tratamento homeopático, afastando a possibilidade
de submeterem-se a cirurgia de catarata.
Os cinco pacientes restantes, 25% do total dos
pacientes, não apresentaram modificação da
situação clínica no período observado, sendo
recomendado o tratamento cirúrgico para
resolução do problema.
5° Caso: Emprego do Cristalinum 30 CH,
cinco gotas via oral, à noite, por 30 dias a um
grupo de 10 pacientes com diagnóstico de
catarata madura unilateral com visão de 10 a
20%.Após um mês de uso da medicação a
acuidade visual não sofreu qualquer alteração em
relação a aferida anteriormente.
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D ISCUSSÃO
De modo geral, a diminuição da acuidade visual
é diretamente proporcional à densidade da
catarata. No entanto, algumas pessoas com
catarata clinicamente significativa, quando
examinadas com o oftalmoscópio ou lâmpada de
fenda, lêem suficientemente bem para cumprir
suas atividades normais. Outras apresentam um
decréscimo da acuidade visual desproporcional ao
grau de opacificação do cristalino. Isso deve-se à
distorção da imagem provocada pelo cristalino
parcialmente opaco.
A catarata senil é o tipo mais freqüente e
apresenta uma progressão lenta por um período
de anos. O único sintoma consiste de visão
progressivamente borrada. Paradoxalmente, apesar
da visão para longe ser borrada na catarata
incipiente, a visão para perto apresenta-se um
tanto melhorada. Consequentemente esses
pacientes lêem melhor sem óculos.A miopia
artificial é devida a maior convexidade do
cristalino no estágio incipiente da formação da
catarata.
Não há tratamento clínico na alopatia para a
catarata.A extração cirúrgica do cristalino é
indicada quando a perda visual interfere com as
atividades normais do paciente, o que melhora
definitivamente a acuidade visual em 80% dos
casos. Os restantes ou apresentam danos
retinianos preexistentes ou desenvolvem
complicações pós cirúrgicas sérias, como
glaucoma, descolamento de retina, hemorragia do
vítreo ou infecção, impedindo uma melhora
visual significativa.
O tratamento homeopático com o
medicamento de fundo do paciente apresentou
resultados favoráveis e compatíveis com o
descrito na materia médica, o mesmo valendo
para o organoterápico Cristalinum.
C ONCLUSÃO
Houve circunstancial melhora da visão de
portadores de catarata senil incipiente nos casos
tratados com o “similimum” e nos casos tratados
isoladamente com o organoterápico Cristalinum
30 CH. Porém, os pacientes com catarata madura
unilateral não apresentaram melhora da acuidade
visual, nem modificação do grau de opacificação
cristalineana à biomicroscopia, não havendo
benefícios clínicos no uso do medicamento
organoterápico, para estes pacientes. 1
A BSTRACT
A homeopathic boarding is suggested for the treatment
of the opacity of the crystalline lens.Three clinical cases
were studied with diagnosis of incipient cataract, and
they were treated with homeopathic medicine
“similimum” and two others groups of patients used
the organotherapic medicine Cristalinum 30 CH.
There were circumstantial recovery in the view of
the carriers of incipient old cataract in all of the cases,
while the patients with one-sided mature cataract, did
not have clinical advantages with the homeopathic
treatment
Key-words: Cataract, Cristalinum, Oftalmological
treatment, Homeopath
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1. BOERICKE,W. Matéria Médica Homeopática. 2ª Ed. Rio de
Janeiro, Benjamim B. Fraenkel,1993. p 516.
2. CHARRETTE, G. Matéria Médica Homeopática Explicada.
Rio de Janeiro, Elcid Editora, 1990.
3. POIRIER, L.V. J. Tratado de Matéria Médica Homeopática. 9ª
Ed. Rio de Janeiro, Andrei Editora, 1987.
4. VAUGHAN, D. Oftalmologia Geral . 4ª Ed. São Paulo,
Editora Ateneu,. 1997.
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