Transtornos de humor Saiba quais são os tipos, seus sintomas e tratamentos TEXTO JÉSSICA PIRAZZA/COLABORADORA ENTREVISTAS GIOVANE ROCHA DESIGN JOSEMARA NASCIMENTO H iperatividade, redução do tempo de sono, fala rápida, irritação, pensamentos acelerados, agressividade e variações bruscas na autoestima são alguns dos sintomas relacionados aos transtornos de humor, que podem se apresentar de diversas formas, como a bipolaridade e a depressão, por exemplo. Mais de 20% da população em algum momento da vida é acometida por este tipo de transtorno. Em dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estimou-se que cerca de 322 milhões de pessoas do mundo sofrem de depressão em algum nível e 4% da população mundial possui episódios de transtorno de humor bipolar. Também conhecidas como transtornos afetivos, essas enfermidades consistem na alteração do ânimo, energia e do jeito de sentir, pensar e se comportar perante situações. As crises podem ter frequência, intensidade e durações variáveis, sendo únicas ou recorrentes. Depressão Quando o negativismo e a tristeza atingem níveis que impedem a pessoa de conviver e lidar com o mundo externo, estamos diante de uma séria doença que, diferentemente do que o senso comum pode pensar, não se trata de uma frescura ou algo do tipo. “A depressão é a doença mental de maior incidência no mundo e pode ser tão grave que pode levar a morte por suicídio”, Bipolaridade O Transtorno Bipolar do Humor é um transtorno mental caracterizado por uma alternância do humor. O distúrbio se manifesta com fases que alternam entre euforia de grande intensidade — denominada fase maníaca — e episódios de humor rebaixado, triste, melancólico — constituindo a fase depressiva. “Na fase maníaca, é comum que os pacientes apresentem sintomas como a dificuldade para controlar o temperamento, ingestão de bebida em excesso, hiperatividade e gastos exagerados”, explica a professora de psicologia Renata Paes. Já na fase depressiva, segundo a especialista, a pessoa fica extremamente desanimada, incapaz de se concentrar, sente-se inútil e pode ter alterações em hábitos diários como a alimentação e sono. A interação com as pessoas ao redor normalmente é prejudicada, podendo ocorrer, dessa forma, um afastamento social. “A bipolaridade pode se desenvolver em qualquer fase da vida, mas, geralmente, é na adolescência, justamente por ser originada de dois fatores: vulnerabilidade genética e fatores do ambiente”, explica Renata. O transtorno, segundo o DSM - IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), pode ser classificado em quatro diferentes tipos — Transtorno Bipolar tipo 1, Transtorno Bipolar tipo 2, Transtorno bipolar não especificado ou misto e Transtorno Ciclotímico, quando o portador apresenta diferentes características e sintomas. A avaliação deve ser feita por um profissional para que se tenha o diagnóstico correto. Apesar de não ter cura, o distúrbio pode ser controlado. Num geral, são usados medicamentos aliados a sessões de psicoterapia. “As medicações visam estabilizar o humor da pessoa, enquanto a psicoterapia ajuda a buscar novas formas de interação com o mundo, ampliar o autoconhecimento, ajudando na prevenção e condução mais adequada de futuras crises”, explica o professor de psicologia Alex Machado. Transtorno de Personalidade Limítrofe Também conhecida como borderline e Transtorno de Instabilidade Emocional, a disfunção se configura como um transtorno de personalidade a ser observada ao longo da vida, não apenas a partir de uma crise. O indivíduo se caracteriza por relações sociais conflituosas, com reações abruptas e grande sensação de vazio, podendo apresentar dificuldades para controlar suas reações diante de situações adversas, chegando a ser violento consigo e com as demais pessoas. Segundo a psiquiatra Julieta Guevara, “é um transtorno que envolve a maneira de como a pessoa reage” — tanto em relação a determinados acontecimentos quanto a pessoas. O humor instável, geralmente acompanhado de aborrecimento crônico, é comum em casos de borderline. Além disso, “a alternância entre a idealização e a desvalorização nos relacionamentos pode ser recorrente”, aponta Julieta. Apesar de parecer próximo da bipolaridade, o transtorno se difere. “Nos casos de borderline, podem-se visualizar alterações do humor, mas as características mostram-se em continuidade ao longo do tempo e não em oscilações, como na bipolaridade”, explica Renata Paes. O tratamento é possível e eficaz para que o paciente tenha uma vida produtiva. Por ser um transtorno de personalidade e não uma doença que se instala após determinado tempo de vida, o acompanhamento dos casos de borderline é complexo, geralmente exigindo acompanhamento psicológico e psiquiátrico. A indicação do tratamento farmacológico é comum e os maiores avanços estão na psicoterapia. A terapia comportamental dialética, técnica que utiliza conceitos e estratégias da Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), tem sido considerada uma das mais adequadas e promissoras na intervenção do transtorno. Com os tratamentos e acompanhamentos corretos, o paciente se beneficia ao treinar habilidades como assertividade, solução de problemas, manejo da raiva e do estresse. “De forma geral, também se busca conduzir, junto com a pessoa, uma forma mais saudável de interação com as pessoas ao redor, ampliando seu nível de autoconhecimento e autocontrole”, acrescenta Alex. Imagem: Shutterstock Images salienta a psiquiatra Maria Cristina de Stefano. O transtorno é democrático, podendo acometer homens e mulheres de diferentes idades, desde a infância até a velhice. O que pode variar são os sintomas e características, informações que ajudam a classificar a enfermidade como leve, moderada ou grave. A pessoa com depressão geralmente percebe que seus sentimentos diferem de uma tristeza sentida. Nos casos mais graves, o desânimo toma conta e o indivíduo perde o interesse por tudo, podendo se isolar da família e amigos, imaginando que estes estarão melhores sem sua presença. “A desesperança fica constante e transborda por todas as coisas que antes lhe davam prazer, alegria e satisfação”, explica Maria Cristina. A pessoa se sente incapaz de desenvolver ligações com outras pessoas, coisas e acontecimentos, perdendo, dessa forma, o significado da própria vida. O não tratamento da depressão pode desencadear diversas doenças clínicas e outros transtornos mentais. O acompanhamento de um psiquiatra associado ao tratamento medicamentoso pode ajudar de forma adequada na recuperação da pessoa doente. Segundo Maria Cristina, “hoje existem vários tratamentos medicamentosos, psicoterapêuticos e mudanças de hábitos para que levam a pessoa ao controle dos sintomas, melhor equilíbrio emocional e, dessa forma, maior qualidade de vida psíquica”. CONSULTORIAS Alex Machado, professor de psicologia da Faculdade Pitágoras de Linhares, em Araçá (ES); Julieta Guevara, psiquiatra; Renata Alves Paes, professora de psicologia da Universidade Anhanguera, em Niterói (RJ). Segredos da Mente - TRANSTORNOS DA MENTE | 13