Sois uma Carta de Cristo, redigida por nós! (2 Cor. 3, 3) Introdução: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações” (II Cor.3,2-3) O nome de Paulo aparece como autor de 13 Cartas do Novo Testamento, escritas a diferentes comunidades, ao longo de uns cinquenta anos. Durante as viagens, Paulo mantinha contacto com as comunidades, através de mensageiros e, a partir da segunda viagem, também através de Cartas. Pedia que as suas Cartas fossem lidas nas reuniões da comunidade (I Tes.5,27) e que fossem enviadas às outras comunidades. Escritos de circunstância Paulo não nos deixou tratados teológicos. Deixou-nos Cartas, que são sempre escritos de circunstância, endereçados a comunidades concretas ou a pessoas concretas. Paulo escreveu muitas cartas. Nem todas foram conservadas. Nas cartas aos coríntios, Paulo menciona duas outras cartas que não conhecemos, para a mesma comunidade ( I Cor.5,9; II Cor,2,3-4.9). Na Carta aos Colossenses fala de uma carta escrita à comunidade de Laodiceia, que não foi conservada (Col.4,16). Escrever como quem cava Hoje é fácil escrever. Basta ter uma caneta e uma folha de papel. Naquele tempo era diferente. As pessoas não tinham o costume de escrever, nem as facilidades que hoje temos. Peles e pergaminhos custavam caro e estavam reservados para os livros e documentos oficiais. Para os trabalhos vulgares usavam-se papiros e cada folha custava um dia de trabalho. Não era fácil escrever nestas folhas. Recorria-se a escribas de profissão. Quem queria escrever uma carta, costumava chamar uma pessoa especializada na matéria. Era o que Paulo fazia. Ele mesmo ditava e o amanuense escrevia. Na Carta aos Romanos, o secretário aproveitou um momento de folga, entre duas frases para mandar um abraço: “Eu, Tércio, que escrevi esta carta, saúdo-vos, no Senhor”. Escrever, no tempo de Paulo, era mais duro do que cavar à enxada. As 7101 palavras da Carta aos Romanos deverão ter demorado umas cem horas a escrever. No fim de cada carta Paulo assinava mesmo (cf. II Tes.3,17; Gal.6,11; Col.4,18). Parece que apenas a Carta a Filémon foi escrita inteiramente pelo próprio Paulo, sem a ajuda de um secretário. No fim da Carta aos Gálatas, Paulo pegou na caneta e escreveu com letras grandes: «Vede as grandes letras, com que vos escrevi pela minha própria mão» (Gal.6,11). A assinatura «pela minha própria mão» era uma espécie de marca registada. Distinguia as cartas de Paulo e impedia as falsificações. Às vezes, segundo o costume da época, utilizava os serviços de um secretário amigo, a quem comunicava as ideias que queria transmitir, mas era ele que redigia a epístola. 1 Paulo escreve as Cartas quase sempre na presença de companheiros de missão. Estes aparecem ao lado dele na saudação inicial e nas saudações finais. A Carta aos Gálatas e a Carta aos Efésios não têm saudações. Selar a carta Terminada a Carta, se era breve, dobrava-se a folha e era selada com pez ou cera. Na parte exterior indicava-se a direcção e o nome do destinatário. Se se tratava de uma carta mais longa, o rolo era introduzido num envelope que se selava. Faltava só encontrar um portador, visto que o correio imperial não transportava senão missivas oficiais. É igualmente sabido que as Cartas endereçadas de Paulo surgem quase todas (a excepção é a Carta aos Romanos), depois do contacto pessoal de Paulo com as comunidades ou com as pessoas, a quem a Carta é enviada. É, portanto, inquestionável que as Cartas de Paulo não são tratados teológicos temáticos abstractos, mas teologia “activa” e “interactiva”, que deixam ver Paulo como teólogo, mas sempre também como apaixonado missionário, pastor, pai, apóstolo. Por isso, é absolutamente de evitar dissociar o Paulo, teólogo da sua vida real, das suas comunidades concretas, dos seus caminhos poeirentos. Uma vida tão intensa não pode ser simplesmente anestesiada e dissecada. E é imperioso visitar e revisitar, frequentar, uma e outra vez, com redobrada atenção e amor, a paisagem epistolar Paulina, em ordem a podermos compreender e receber o forte impacto da mensagem cristã vivida e endereçada, que a atravessa. Uso das cartas Muito se tem escrito acerca do conteúdo, da forma e da autoria das Cartas ou Epístolas de Paulo. Comecemos por esclarecer o vocabulário. As Cartas ou Epístolas pertencem ao género literário de um texto destinado a ser lido e/ou publicado, dirigido a uma pessoa individual ou a um grupo. Já encontramos esse género literário estabelecido no séc. IV a.C. Geralmente distingue-se entre Carta e Epístola. A Carta é mais pessoal. E a Epístola mais literária, uma espécie de «ensaio». Quanto à forma e conteúdo, as Cartas ou Epístolas de Paulo hoje incluídas no cânone do Novo Testamento podem ter tido uma origem ligeiramente diferente daquela que conhecemos. Tanto quanto podemos avaliar, são textos dirigidos a comunidades concretas e/ou a pessoas singulares e tratam de problemas específicos ligados à vida dessas mesmas comunidades. Não está posta de lado a possibilidade de todas ou pelo menos algumas delas terem passado por um ou vários processos de redacção final. O seu processo de composição e de difusão poderá ter passado por um período lento em que as diferentes comunidades partilhavam entre si as Cartas recebidas, usando-as até nas suas reuniões de oração comunitária. Os estudiosos indicam o ano 96, provavelmente cerca de 30 anos depois da morte de Paulo, como aquele em que temos a primeira notícia da existência de uma colecção das Cartas de Paulo. Qualquer que tenha sido a forma de circulação ou de redacção final - com atribuição do título dos destinatários tal como hoje os conhecemos o certo é que, já em meados do séc. II da nossa era, elas faziam 2 parte do ritual litúrgico de muitas igrejas particulares; e a partir do séc. IV, passaram a integrar o cânone do Novo Testamento. A pseudo-epigrafia A dificuldade em compreender este processo leva-nos a tocar outra questão relacionada com a autoria das Cartas: a questão da pseudo-epigrafia. Trata-se de um "fenómeno" comum e corrente em muitos textos bíblicos, sobretudo do Antigo Testamento. Dito de um modo simples, entendemos por pseudo-epigrafia a atribuição de um texto a um determinado autor, o qual, embora não o tenha realmente produzido, deu origem a uma comunidade ou a uma escola de pensamento que atribui todo o material produzido ao seu mestre ou guia espiritual. E o caso, por exemplo, da atribuição de quase todos os Salmos ao rei David ou de todo o Pentateuco a Moisés. Segundo os estudiosos, com Paulo deve ter ocorrido um processo semelhante. Era comum ao tempo, que o autor ditasse as linhas fundamentais do texto a ser produzido e que, depois, um secretário ou um pequeno grupo de discípulos se encarregasse de lhe dar a forma final. Não existe unanimidade em afirmar que tivesse sido este o processo de produção das Cartas de Paulo. Mas existe um conjunto de estudos sérios acerca da autoria de cada Carta, que levantam questões pertinentes quanto à autoria pessoal do Apóstolo em relação a algumas delas. Dado que na teologia de Paulo se entra por caminhos concretos e por Cartas endereçadas, convém começar por enumerar as sete Cartas autênticas de Paulo, aquelas que consensualmente se atribuem a Paulo: Cartas autênticas 1 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, Filémon Romanos A primeira Carta aos Tessalonicenses terá sido escrita de Corinto, no ano 50 ou 51 e a última (Romanos) terá sido escrita também de Corinto, talvez no Inverno de 55-56. Cartas editadas 2ª Carta aos Tessalonicenses Efésios Colossenses São hoje consideradas Cartas editadas tardiamente, depois da morte do Apóstolo, pelos seus discípulos. Mais tardias ainda serão as chamadas Cartas Pastorais I Timóteo II Timóteo Tito 3 Existem como que dois Paulos: o conflituoso e o combativo. O primeiro usa facilmente o estilo vivo da diatribe cínico-estóica; o segundo desenrola a teia da sua reflexão interior ou a sua elevação para Deus, como quem desenrola o fio de uma meada, numa frase densa e muito rica, onde os pensamentos se juntam, acumulam e se completam. Paulo tanto usa a diatribe, como cita as escrituras e até uma ou outra palavra de Jesus. Uma questão de estilo Paulo tem um estilo inconfundível e uma forma própria de escrever: 1. Começa sempre com uma referência ao seu nome e à sua autoridade apostólica, uma pequena oração e, muitas vezes, algumas referências a nomes individuais; 2. Segue-se o desenvolvimento do tema da Carta propriamente dito; 3. No final há também sempre uma referência a pessoas concretas, uma saudação particular ou uma bênção. E a partir deste conjunto de características, ligadas a uma linha de pensamento que reflecte uma constante de temas e ideias, que os estudiosos duvidam da autoria pessoal de Paulo em relação a algumas cartas. Um consenso muito amplo, que reúne as mais antigas tradições cristãs e os recentes dados das ciências hermenêuticas e históricas, afirma claramente que as Cartas de Paulo são os primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. Ao todo, treze Cartas. No fim do séc. II, a colecção das treze “Cartas de Paulo” (lista que incluía frequentemente Hebreus) estava feita e era aceite em toda a Igreja como Palavra de Deus (ver 2 Pe 3,1516). Esperar-se-ia que a nossa cultura, que vibra com a arqueologia das origens e o retorno às fontes, nos tivesse impelido para uma apropriação apaixonada e competente desse conjunto de textos fundamentais da identidade crente. Há que reconhecer, porém, que o grande Paulo permanece um autor desconhecido, mal amado e distante, mesmo para a maioria dos cristãos. O uso litúrgico aproxima-nos, evidentemente, dos seus textos, lidos e relidos ao longo do ano. Mas a verdade é que, no contexto litúrgico, lêem-se trechos seleccionados ou sublinham-se frases teológicas, demasiado densas para o desbravar, necessariamente contido, de uma celebração. A reactivação dos escritos de Paulo Para chegar a Paulo é preciso atravessar uma floresta de ideias-feitas e preconceitos. Paulo é, como hoje se diz, um autor com “má imprensa”. É corrente ouvir que ele é um legalista, que perpetuou modelos patriarcais que desvalorizavam as mulheres, que tem uma fobia às questões do corpo e da sexualidade, que é um conservador em termos sociais, etc, etc. Já no séc. XIX, Ernest Renan escrevia num best-seller sobre Jesus: «O verdadeiro cristianismo, aquele que perdurará para sempre, vem dos Evangelhos e não das 13 cartas de Paulo. Paulo é um perigo, um escolho… Paulo é a causa dos principais defeitos da teologia cristã». E essa opinião deixou sementes. Muitas vezes se vê opor-se a linguagem de Jesus, parabólica e aberta, ao discurso teológico e pretensamente estreito de Paulo, num conflito de interpretações superficial e descabido. Mas também se dá um facto paradoxal: multiplicam-se hoje os ensaios e leituras sobre Paulo e as suas Cartas, por parte de importantes nomes do pensamento contemporâneo. Se é verdade que, de Santo Agostinho a Lutero, de Karl Barth ao nosso Teixeira de Pascoaes, na teologia, na filosofia, nas expressões 4 iconográficas ou na literatura, a pessoa e o pensamento de Paulo nunca deixaram de ser referenciais, também é verdade a surpreendente efervescência do panorama actual. O filósofo Alain Badiou publicou, no início dos anos 90, uma reflexão entusiasta sobre a figura de Paulo a que intitulou “São Paulo. A fundação do Universalismo”. A universalidade que Paulo prega não vem do que é já inerente e consubstancial ao indivíduo (a sua pertença a uma família, a una nação, a uma língua… traços que são necessariamente particularistas), mas de um Evento. O que produz a verdade sobre o homem e sobre todos os homens é agora um Evento e uma Proclamação que contrastam com a multiplicidade dos particularismos: a Morte e a Ressurreição de Jesus. A verdadeira universalidade constrói-se no compromisso com esse acontecimento que para Paulo é a chave de toda a história. Em 1998, o filósofo italiano Giorgio Agamben orientou um seminário no Colégio internacional de filosofia, em Paris, onde escolheu comentar a Carta de São Paulo aos Romanos, porque, segundo ele, a hora da plena legibilidade dos escritos de Paulo finalmente chegou. II. BREVE APRESENTAÇÃO DAS CARTAS Há ainda muita discussão, em curso, quanto às datas de composição das Cartas, quanto à autoria e quanto à inclusão de algumas delas no grupo a que pertencem. Só a título de exemplo: alguns autores afirmam que Rom. 16 inicialmente pode ter feito parte de uma Carta dirigida à comunidade de Efeso como uma espécie de carta de apresentação da diaconisa Febe; segundo outros, 1 Cor pode ser o resultado da fusão de duas Cartas separadas e 2 Cor. pode ter nascido de três textos independentes, o mesmo sucedendo com a Carta aos Filipenses ... Como se pode ver por esta pequena amostra, os temas em discussão são ainda muitos e demasiado tecnicistas para o grande público. Por isso, mais do que as discussões quanto ao seu conteúdo, apresentamos um pequeno resumo de cada Carta. Carta Grupo de cartas Data provável Autor Romanos 1 Coríntios 2 Coríntios Gálatas Maiores Maiores Maiores Primeiras Paulo Paulo Paulo Paulo 1 Tessalonicenses 2 Tessalonicenses Primeiras Primeiras 55-59 (56 Corinto) 54-56 (Éfeso) 57 Éfeso) 48-62 (52-53 em Éfeso) 50 (em Corinto) 70 Efésios Filipenses Colossenses Filémon Cativeiro Cativeiro ? Cativeiro Cativeiro? 60 (Roma) 58-63 (54-57 Éfeso) 60 (Roma) (54-55 em Éfeso? Roma) desconhecido Paulo Paulo (?) Paulo 1 Timóteo 2 Timóteo Tito Pastorais Pastorais Pastorais 62 (Roma) – 100 62 (Roma) – 100 62 (Roma) - 100 desconhecido desconhecido desconhecido Paulo desconhecido Cativeiro: ÉFESO, CESAREIA OU ROMA? Todas estas datações são mais que discutíveis. As que apresentamos aqui são as que reúnem maior consenso. A título de exemplo, diremos que alguns autores "empurram as datas da composição das Cartas a Timóteo, Tito e Filémon para os anos 100 e 150: 1 Tessalonicenses; 1 e 2 Coríntios; Gálatas; Filipenses; Filémon; Romanos. Por isso, mais do que as discussões quanto ao seu conteúdo, apresentamos um pequeno resumo de cada Carta. 5 1. Carta aos Romanos: A justificação pela fé Escrita muito possivelmente em Corinto entre os anos 55 e 59 (provavelmente 58). Prepara a viagem de Paulo a Roma, levando "à frente" a sua apresentação pessoal aos cristãos da cidade que ainda não o conheciam. Na primeira parte (cap. 1 a 11), o Apóstolo explica o mistério da justificação através da fé que Cristo conquistou para nós, colocando em pé de igualdade judeus e gentios; e revela, ao mesmo tempo, o mistério da conversão final de Israel a partir dos dados do Antigo Testamento, confirmado por Cristo no Evangelho. A segunda parte trata questões relacionadas com a vida espiritual, acrescentando uma doxologia final e uma referência ao «mistério oculto desde os tempos antigos», do qual falará mais pormenorizadamente nas cartas aos Efésios e aos Colossenses. DIVISÃO E CONTEÚDO Introdução: 1,1-17; I. O Evangelho da Salvação: 1,18-11,36; II. Vida de acordo com o Evangelho: 12,1-15,13; Conclusão: 15,14-16,27. Nota-se, neste elenco, o lugar privilegiado que ocupa a Carta aos Romanos. É a última Carta autêntica de Paulo e a única que escreve a uma comunidade, que ainda não conhece pessoalmente. O que escreve não tem, por isso, tanto a ver com a situação da comunidade cristã de Roma, mas com as preocupações e anseios que Paulo vive nessa altura, depois de dar por terminada a sua missão na parte oriental do Império Romano (cf. Rom. 15, 19 e 23) e antes de partir para Jerusalém, na mais arriscada das suas viagens, a viagem da comunhão das Igrejas em Cristo, a viagem da unidade, a verdadeira viagem da sua vida. A Carta aos Romanos é o último escrito, saído da mão de Paulo, obra madura, amadurecida nas esperanças e nas dores, súmula das suas Cartas anteriores e de todas elas a mais extensa (7101 palavras) e completa, que bem podemos considerar o testamento espiritual do Apóstolo. De facto, Paulo vive, anuncia, ensina e escreve a unidade e a liberdade de todos em Cristo e é por esta realidade que dará a vida. É quase um aforismo dizer-se que a história da teologia cristã se revê na história da interpretação da Carta aos Romanos. Ou que «as grandes horas da história» são as da Carta aos Romanos (P. Althaus). É sabido que Agostinho consumou a sua conversão quando – como ele conta nas Confissões VIII, 12) – motivado pelo canto de uma criança que repetia “toma e lê”, pegou nas Cartas do Apóstolo, abriu à sorte e à sorte leu Rm 13, 13b-14 (…). Nascia assim um dos teólogos mais influentes do Cristianismo. Grande impacto para o Cristianismo e para a civilização ocidental teve outra vez a Carta aos Romanos, quando Lutero começou a proferir sobre ela as suas primeiras lições, na Universidade de Wittenberg, em 1515-1516… A Carta aos Romanos marcou indelevelmente a Igreja primitiva, mas também a Idade Média e a Idade Moderna. E marcará também seguramente todos aqueles que ousarem confrontar-se com ela de forma séria (…). Lagrange, em 1916, disse depois de ler a Carta aos Romanos o resultado foi arrasador. Karl Adams disse que era “uma bomba no recreio dos teólogos». 2. Primeira aos Coríntios: Carismas para a edificação comum Foi escrita durante a Terceira Viagem Apostólica, à volta dos anos 55 a 57. A comunidade de Corinto vivia uma situação complicada motivada por divisões e discórdias às quais era necessário por cobro: uns eram de Apoio, outros de Pedro, outros de Paulo. Além disso, estava marcada por situações de escândalo público, a que era necessário pôr cobro. E a carta mais rica em indicações acerca das dificuldades vividas no seio de uma comunidade concreta inserida num ambiente pagão. 6 DIVISÃO E CONTEÚDO Prólogo: 1,1-9; I. Divisões na igreja de Corinto: 1,10-4,21; II. Escândalos na igreja: 5,1-6,20; III. Resposta a questões concretas: 7,1-11,1; IV.A Assembleia Litúrgica: 11,2-34; V. Os carismas: 12,1-14,40; VI.A ressurreição dos mortos: 15,1-58; Epílogo: 16,1-24. 3. Segunda aos Coríntios: Em defesa do seu ministério Escrita na Macedónia, pouco depois da primeira, durante a viagem que levou Paulo de Efeso a Corinto. Tito, seu colaborador, trouxe-se-lhe as boas notícias de Corinto acerca da transformação em que a comunidade se empenhara a partir das indicações e admoestações da primeira Carta. Contudo, existiam ainda contendas e problemas, que Paulo tenta resolver e sanar antes de visitar a comunidade pessoalmente. Trata-se de uma verdadeira manta de retalhos, com junção de várias cartas. Veja-se por exemplo como II Cor.7,5 é a continuação de II Cor.2,12-13. DIVISÃO E CONTEÚDO Prólogo, que tem uma saudação e uma bênção (1,1-11). I.Paulo faz a apologia do seu comportamento em relação aos coríntios (1,12-7,16). Começando por se defender das acusações de inconstância e de leviandade que lhe fazem (1,12-2,17), sublinha, depois, a grandeza do ministério apostólico (3,1-6,10) e termina com um apelo à confiança afectuosa dos seus destinatários (6,11-7,16). II.Paulo dá instruções relativamente à colecta em favor da igreja de Jerusalém (8,1-9,15). III.Defesa de Paulo, que faz novamente a sua apologia, em tom polémico e cáustico, defendendo a autenticidade do seu ministério contra uma minoria de agitadores que trabalham no seio da comunidade (10,1-13,13). 4. Carta aos Gálatas: A liberdade em Cristo Os habitantes da Galácia foram evangelizados por Paulo durante a Segunda e Terceira Viagem Missionária. Os cristãos vindos do judaísmo tinham começado a exercer ali uma influência negativa. A comunidade vive a tensão que esteve por trás do Concílio de Jerusalém e que pretendia obrigar os cristãos vindos do paganismo a submeter-se aos ritos judaicos. Outra tensão tinha a ver com a "salvação pelas obras", sem qualquer referência à Graça. Mais ainda, os judeo-cristãos procuravam impugnar a autoridade de Paulo, a quem não reconheciam o direito de se intitular apóstolo. Paulo terá escrito a Carta em Efeso, provavelmente entre os anos 48 e 62. A doutrina principal é a seguinte: O cristão salva-se pela fé em Jesus Cristo e não pela Lei de Moisés. DIVISÃO E CONTEÚDO Introdução: 1,1-10; I.Origem divina do Evangelho: 1,11-2,21; II.O Evangelho faz-nos filhos de Deus: 3,1-4,7; III.O Evangelho faz-nos livres: 4,8-5,12; IV.Vida cristã, caminho de liberdade: 5,13-6,10; Conclusão: 6,11-18. 7 5. Carta aos Efésios: A Igreja, Corpo Nesta carta, Paulo trata o grande tema da Redenção e o desafio que se coloca a todos os cristãos na sua tentativa de aprofundamento do mistério e Deus. Éfeso, que mais tarde viria a ser a sede do ministério de São João, foi evangelizada por Paulo durante a sua Terceira Viagem Apostólica, tendo permanecido aqui cerca de 3 anos. A carta foi provavelmente escrita em Roma entre os anos 61 e 63, durante o primeiro cativeiro de Paulo. Esta autoria pessoal paulina tem sido contestada e alguns afirmam que não foi dirigida unicamente à comunidade de Éfeso, mas também, provavelmente, à comunidade de Laodiceia (ver Col. 4,16). DIVISÃO E CONTEÚDO Apresentação: 1,1-2. I. A Igreja e o Evangelho (1,3-3,21): A graça de Deus: 1,3-14; Cristo, Senhor do mundo e da Igreja: 1,15-23; A obra de Cristo: 2,1-22; Lugar de Paulo no plano de Deus: 3,1-21. II. Exortação aos baptizados (4,1-6,20): Viver na unidade: 4,1-16; Instruções várias: 4,17-5,20; Cristo e a Igreja. Consequências: 5,21-6,9; Combater inimigos espirituais: 6,10-20. Saudação final: 6,21-24. 6. Carta aos Filipenses: Alegria no sofrimento A comunidade de Filipos foi uma das que organizou uma colecta a favor de Paulo aquando da sua prisão em Roma. É sem dúvida uma das comunidades mais queridas do Apóstolo, se bem que se não possa falar do seu "amor exclusivo" por nenhuma delas. A Carta é, sobretudo, um agradecimento comovido por aquele gesto de solidariedade. Foi escrita em Roma, à volta do ano 63. DIVISÃO E CONTEÚDO Introdução: 1,1-11; I.Prisão de Paulo: 1,12-26; II.Deveres da comunidade: 1,27-2,18; III.Solicitude pela comunidade: 2,19-3,1; IV.O Apóstolo, modelo da comunidade: 3,2-4,1; Conclusão: 4,2-23. 7. Carta aos Colossenses: Cristo, em primeiro lugar! É mais uma das Cartas do Cativeiro, escrita em Roma à volta do ano 60. Tal como fizera na carta aos Efésios, Paulo toca alguns dos temas centrais do mistério de Cristo, numa tentativa de responder às questões e dúvidas levantadas no seio da comunidade por alguns hereges que se tinham insinuado no seu interior «com aparência de piedade» (ver 2 Tim. 3,5). E de novo a questão da salvação pela Lei, a observância dos ritos judaicos, o gnosticismo, o ascetismo falso, a circuncisão, etc. DIVISÃO E CONTEÚDO Introdução: 1,1-23; I. O Evangelho de Paulo: 1,24-2,5; II. Fidelidade ao Evangelho: 2,6-23; III. Viver segundo o Evangelho: 3,1-4,6; Conclusão: 4,7-18. 8 8. Primeira aos Tessalonicenses: Trabalhos, conflitos e vinda de Jesus! Tessalónica, a actual Salónica, na Grécia, foi contactada por Paulo durante a sua Segunda Viagem Apostólica. Não tendo podido permanecer muito tempo lá por causa da perseguição dos judeus, dirigiu-se à comunidade através desta carta escrita em Corinto no inicio dos anos 50. Os estudiosos pensam que esta é a primeira Carta de Paulo. Os grandes temas são, naturalmente, o da confirmação da fé da comunidade e o da morte iluminada pela Ressurreição de Cristo e pela sua Segunda Vinda. DIVISÃO E CONTEÚDO I. Acção de graças (1,2-3,13), em 3 secções: Saudação inicial (1,1) Acção de graças pelo trabalho dos missionários e pela resposta dos tessalonicenses (1,2-2,16). Missão de Timóteo, cujo êxito suscita reconhecimento a Deus (2,17-3,10). Voto final (3,11-13). II. Prática cristã «no Senhor Jesus Cristo» (4,1-5,24), em 4 secções: Dois aspectos fundamentais da vida cristã: santificação e caridade (4,1-12). Dois aspectos da expectativa escatológica: os mortos antes da parusia e o Dia do Senhor (4,13-5,11). Outros conselhos úteis à vida cristã (5,12-22). Voto final (5,23-24). Saudação final (5,25-28) 9. Segunda aos Tessalonicenses: Trabalhar para comer Também foi escrita em Corinto, pouco depois da Primeira, numa tentativa de responder a questões ligadas a uma falsa interpretação daquela. Uma das preocupações centrais é "fazer voltar ao lugar" todos aqueles que já iam descuidando os seus deveres normais, a partir de uma falsa esperança e interpretação da escatologia, que julgavam estar iminente DIVISÃO E CONTEÚDO Saudação inicial: 1,1-2; I. Deus, conforto na tribulação: 1,3-12; II. A vinda do Senhor: 2,1-3,5; III. Vida desordenada e inactiva: 3,6-15; Saudação final: 3,16-18. 10. Primeira a Timóteo: Recomendações a um jovem bispo Juntamente com São Lucas, Timóteo é um dos companheiros mais queridos de Paulo. Acompanha-o na Segunda Viagem Apostólica e também na prisão em Roma. Uma vez posto em liberdade, acompanhou Paulo à Asia Menor, onde este lhe confiou o cuidado da comunidade de Éfeso. Nesta Carta, Paulo pretende encorajar o Bispo Timóteo nas suas lutas contra as falsas doutrinas que grassavam na sua comunidade, e explicar-lhe algumas questões práticas referentes ao culto, às qualidades necessárias dos ministros e à organização da Igreja. E uma das Cartas mais marcadas por preocupações pastorais. DIVISÃO E CONTEÚDO Saudação inicial e acção de graças: 1,1-20. I.A organização eclesial (2,1-4,16). II.Conselhos a várias classes de pessoas (5,1-6,19). Mas a sequência dos temas é a seguinte: Combater as falsas doutrinas: 1,3-20; Organização do culto: 2,1-15; Qualidades para o episcopado: 3,1-7; 9 Qualidades do diácono: 3,8-13; Hino ao mistério da piedade: 3,14-16; Contra os falsos mestres: 4,1-5; Timóteo como modelo: 4,6-16; Instruções para vários grupos cristãos: 5,1-6,19. Saudação final: 6,20-21. 11. Segunda a Timóteo: Reacender o dom Constitui o que normalmente se designa por testamento espiritual de Paulo. Preso de novo, agora na prisão Mamertina em Roma, o Apóstolo sente que o seu fim está próximo. Assim, ao mesmo tempo que pede a Timóteo para se dirigir quanto antes a Roma, exorta os discípulos à constância na fé, fala-lhes dos perigos da apostasia e previne-os acerca das más influências de alguns falsos apóstolos. Percebe-se uma certa amargura que terá acompanhado os últimos dias do Apóstolo, motivada «por aqueles que buscam o seu próprio interesse»(FI 2,21). E como elas são ainda actuais, estas amarguras de Paulo! Pelo menos, vive a alegria de constatar a fidelidade e verdade da fé de Timóteo, seu discípulo predilecto (FI 2,20). DIVISÃO E CONTEÚDO Saudação e acção de graças (1,1-5), que introduzem o tema central, enquadrado por duas exortações solenes a Timóteo, para que renove a graça do ministério pastoral que lhe foi confiado (1,6-18; 4,1-5). Parte central: é um aprofundamento da missão de Timóteo (2,1-13), contraposta à dos falsos mestres (2,14-26) e exercida num ambiente de indiferença e hostilidade (3,1-17). O testemunho do próprio Paulo, que se sente já no crepúsculo de uma vida inteiramente dedicada ao Evangelho e espera concluí-la na fidelidade à sua missão (4,6-8), constitui exemplo e encorajamento para todos os pastores. Conclusão: tem algumas recomendações e pedidos (4,9-18) e uma saudação final (4,19-22). 12. Carta a Tito: escolher bem os colaboradores Esta carta, cuja data deve ser muito próxima da Primeira a Timóteo, é dirigida a Tito, convertido pela pregação de Paulo, seu companheiro em muitas viagens e responsável pela Igreja de Creta. E mais uma das Cartas Pastorais, na qual Paulo toca as maiores dificuldades da comunidade daquela ilha, marcada por vícios, mentiras e heresias que minavam a sua fidelidade. O Apóstolo dá instruções pastorais concretas a Tito, no sentido de responder a estas dificuldades. DIVISÃO E CONTEÚDO Saudação inicial (1,1-4); Orientações a Tito sobre os critérios de escolha dos responsáveis das comunidades (1,5-9); Aviso contra os falsos mestres (1,10-16); Ensinamentos sobre o modo de comportamento de várias categorias de crentes (2,1-15); Elenco de deveres sociais (3,1-11); Recomendações de carácter pessoal (3,12-14); Saudação final (3,15). 13. Carta a Filémon: um bilhete postal que é um tratado sobre a amizade Mais do que uma carta, é quase um "bilhete-postal", mas, ao mesmo tempo uma jóia de conteúdo escriturístico. Tem apenas 25 versículos. A intenção central é interceder em favor do escravo Onésimo que havia fugido de casa do seu amo Filémon. A fuga tinha-lhe permitido sublimar a escravidão humana, dando-lhe um conteúdo diferente a partir da sua conversão a Cristo, o que o levou a regressar (ver 1 Cor 7,20-24). 10 DIVISÃO E CONTEÚDO Apresentação e saudação: v.1-3; Acção de graças: v.4-7; Corpo da Carta: v.8-22; Saudação final: v.23-25. III. ALGUNS DESAFIOS 1. Ler as Cartas de Paulo: as sete que são com toda a certeza da sua autoria. 2. Criar uma lista de endereços, aos quais enviar, por email, ou sms, diariamente um pensamento paulino, abrangendo as 13 Cartas de São Paulo; 3. Uma “Carta” por mês… (do professor aos alunos, de um amigo a outro amigo; da Escola a outra Escola, de uma Paróquia a outra, de um grupo e outro grupo…) inspirados em II Cor.3,2-3: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações”. 4. Um retiro com a Carta aos Romanos (ou outra); 5. Transcrever algumas passagens das Cartas de São Paulo. Convidar as pessoas a fazê-lo num livro aberto a todos… Deixemos que a nossa vida seja página do evangelho em acção, livro aberto da missão. Deixemos que o nosso testemunho seja a primeira carta de recomendação, a primeira forma de evangelização, o primeiro passo da missão! “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações” (II Cor.3,2-3) 11 TESTE – PROCURA DE MENSAGENS NAS CARTAS DE SÃO PAULO “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações” (II Cor.3,2-3) Coloque a citação no respectivo texto: Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus Rom.13,7 I Cor.13,1 II Cor.4,12 Gal.2,20; 5,1 Ef.5,8,28 Fil.1,21;2,5 Col.3,2-3 I Tes.2,13 II Tes.3,10 I Tim.2,1 II Tim.3,16-17 Tit.2,6-7 Film.1,17-19 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. (…) Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Exorta igualmente os jovens a serem moderados, apresentando-te em tudo a ti próprio como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim! __________________ __________________ __________________ Na verdade, quando ainda estávamos convosco, era isto que vos ordenávamos: se alguém não quer trabalhar também não coma Se, pois, me consideras em comunhão contigo, recebe-o como a mim próprio. E se ele te causou algum prejuízo ou alguma coisa te deve, põe isso na minha conta. Sou eu, Paulo, que o escrevo pela minha própria mão: serei eu a pagar. __________________ __________________ Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. __________________ ________________ É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz! (…) Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa. __________________ __________________ Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. (…) Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus! __________________ __________________ Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida. Damos continuamente graças a Deus, porque, tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente, palavra de Deus! __________________ __________________ (…) 12