Relato de caso Case report A utilização do ácido hialurônico para ganho vertical de papila em área estética The use of hyaluronic acid for vertical papilas formation in the esthetic zone Thallita Pereira Queiroz1 Rafael Scaf de Molon2 Eloá Rodrigues Luvizuto3 Daniela Oliveira Marques4 Walter Betoni Júnior5 Rogerio Margonar1 Resumo Defeitos mucogengivais em decorrência do avanço da doença periodontal resultam em perda óssea alveolar e consequente migração apical da papila interdental, levando à formação de triângulos negros que comprometem a estética do paciente. O tratamento de defeitos mucogengivais e peri-implantares vem sendo amplamente estudado no sentido de otimizar os resultados clínicos alcançados e são considerados um grande desafio na prática clínica. Assim, o presente estudo buscou avaliar a eficácia clínica de um novo método para eliminar ou reduzir pequenos defeitos de papila, utilizando-se o gel de ácido hialurônico (AH). A utilização de gel de AH, comercialmente disponível, foi utilizado em dois casos clínicos como um método possível de formação de papila entre implantes, e em áreas de pôntico de prótese fixa sobre implantes em regiões estéticas da maxila. Os pacientes incluídos neste estudo apresentavam-se com pelo menos um defeito de papila na região anterior. Antes do tratamento, fotografias da condição inicial dos pacientes foram obtidas. O procedimento clínico para aplicação do gel de AH (0,2 mL) foi realizado com anestesia tópica, após profilaxia, utilizando-se um dispositivo apropriado, 2-3 mm apical à borda coronária da papila envolvida. Reavaliações periódicas a cada 3 semanas foram conduzidas, e a aplicação do gel de AH foi repetida por três vezes. Os pacientes foram acompanhados durante um período de seis meses após a aplicação do gel e fotografias foram obtidas para comparação dos resultados alcançados. Os resultados mostraram satisfatório aumento do volume tecidual nos dois casos tratados, os quais resultaram em um maior preenchimento tecidual e consequente melhora das condições estéticas dos pacientes. Em conclusão, os resultados do presente estudo são encorajadores, evidenciando que pequenos defeitos de papila interdentária entre pônticos e entre implantes podem ser solucionados por meio da aplicação clínica do gel de AH, resultando em satisfatório ganho tecidual com baixa morbidade ao paciente. Descritores: Doença periodontal, ácido hialurônico, recessão gengival. Abstract Mucogingival defects as a consequence of the advancement of periodontal disease result in bone loss and subsequent apical migration of the interdental papilla, leading to the formation of black triangles that compromise the patient aesthetics. The treatment of mucogingival and peri-implant defects is considered a major challenge in clinical practice and has been widely studied in order to optimize clinical results. Thus, the present study sought to evaluate the clinical effectiveness of a new method to eliminate or reduce small papillary defects, us- Prof. Dr. do Departamento de Ciências da Saúde – UNIARA, Curso de Pós-graduação em Implantodontia. Departamento de Diagnóstico e Cirurgia – FOAr/UNESP. Profª. Dra. do Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada – FO/UNESP. 4 Me. em Ciências Odontológicas, Área de Implantodontia – UNIARA. 5 Prof. Dr. da Disciplina de Cirurgia e TBMF – UNIC e UNIVAG. 1 2 3 E-mail do autor: [email protected] Recebido para publicação: 02/03/2016 Aprovado para publicação: 07/03/2016 Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. 183 ing the hyaluronic acid gel (HA). The HA gel, commercially available, was used in two cases as a possible method for the formation of papilla between implants and in pontics region of implant-supported prostheses in the anterior maxillary region. The patients included in this study had at least one papillary defect in the anterior region. Before treatment, photographs of the initial condition of all patients were obtained. The clinical procedure for the application of the HA gel (0.2 mL) was performed under topic anesthesia, after dental prophylaxis, using an appropriate device, 2-3 mm apical to the coronal tip of the involved papilla. Patients were seen every 3 weeks, and the application of the HA gel was repeated three times. Patients were followed for a period of six months after the HA gel application and photographs were taken for results comparison. Satisfactory increased tissue volume was observed in all cases, which resulted in greater tissue filling and consequent improvement of aesthetic conditions. In conclusion, the results of the present study are encouraging, showing that small defects of interdental papilla between implants and prosthetic pontic can be solved through clinical application of HA gel resulting in satisfactory tissue gain with low morbidity to the patient. Descriptors: Periodontal disease, hyaluronic acid, gingival recession. Relato de caso / Case report Introdução 184 O principal objetivo da terapia periodontal é eliminar a inflamação e, subsequentemente, levar à regeneração dos tecidos periodontais de proteção e sustentação, especialmente em casos de defeitos estéticos de papila e de defeitos ósseos destruídos pelo avanço da doença. Reconstrução da papila interdental, especialmente em áreas estéticas nos pacientes que apresentam linha alta do sorriso, está entre os tratamentos periodontais mais difíceis de serem alcançados. A perda da papila interdentária tem sido descrita na literatura após algumas intervenções periodontais cirúrgicas, especialmente nos casos em que é realizada a elevação de um retalho mucoperiosteal associado a um procedimento cirúrgico, e quando perda óssea interdental está presente.3,9,13,16,35,38Em tais condições, a manutenção e a reconstrução da papila interdentáriana região anterior estão entre as maiores expectativas dos pacientes periodontais e são consideradas grandes desafios na prática clínica.3Estudos prévios foram realizados para determinar se a distância a partir da base da área de contato até a crista óssea correlaciona com a presença ou ausência da papila interproximal.37 Os resultados revelaram que quando a medição a partir do ponto de contato até a crista óssea foi de 3-5 mm, a papila estava presente em quase 100% dos casos. Quando a distância era de até 6 mm, a papila estava presente em 56% dos casos, e quando a distância era de 7 mm ou mais, a papila estava praticamente ausente.37 Inúmeras modalidades de tratamento têm sido propostas para a reconstrução da papila interdental, tais como: (1) enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, (2) matriz dérmica acelular, (3) retalhos cirúrgicos, e (4) regeneração tecidual guiada.3,23 No entanto, todos estes procedimentos são ainda pouco previsíveis para reconstrução da papila interdental, exigem alta precisão cirúrgica, e o risco de complicações e a morbidade para o paciente estão entre as principais desvantagens Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. relacionadas com estas abordagens e que dificultam a aceitação do paciente. Assim, no intuito de aumentar a previsibilidade dos resultados alcançados e diminuir a morbidade do paciente, uma técnica minimamente invasiva tanto para o tratamento da doença periodontal crônica como para a reconstrução da papila interdental tem sido descrito recentemente na literatura.2,10,11,20,25 Esta técnica não invasiva utiliza-se o gel de ácido hialurônico (AH), podendo ser utilizado com êxito para a reconstrução de pequenos defeitos na papila interdentária em áreas estéticas. AH é uma glicosaminoglicana de alto peso molecular, que está presente em vários fluidos do corpo, tais como fluido sinovial, soro, saliva, e fluido crevicular gengival. AH é o maior componente da matriz extracelular mineralizada e dos tecidos não mineralizados, incluindo o periodonto.22,31 AH além de ser um componente essencial da matriz do ligamento periodontal e desempenhar papeis importantes na adesão, migração e diferenciação celular, estimula também a proliferação, migração e angiogênese atuando na reepitetlização e proliferação de queratinócitos basais, se mostrando um agente promissor para o aumento volumétrico na região interdental.16,30,32,33 Em particular, AH esta presente em grandes quantidades nos tecidos moles periodontais (gengiva e ligamento periodontal) comparados com os tecidos duros (osso alveolar e cemento).6-8,24 O termo “ácido hialurônico” resume ambas as formas que a molécula pode ter, isto é, aquela de um ácido (ácido hialurônico) ou de um sal (por exemplo, hialuronato de sódio ou de potássio). A maioria das células do corpo humano, tais como fibroblastos, condrócitos, e osteoblastos, produzem AH na membrana celular e o secretam diretamente. As principais características do AH são sua viscoelasticidade e higroscopicidade (por exemplo, 1 g de AH pode ligar-se a 6 L de água).36 Tais características são Figura 1 – Defeito mucogengival na região anterior da maxila evidenciado pela presença de um triângulo negro em consequência da migração apical da margem gengival. Figura 2 – Após anestesia tópica, o gel de AH foi aplicado com agulha 30G ½ na região apical da papila interdental entre os incisivos centrais superiores. Relato de casos Caso 1 Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. Queiroz TP, Molon RS, Luvizuto ER, Marques DO, Betoni Jr W, Margonar R. Paciente do gênero feminino, leucoderma, 50 anos de idade, procurou tratamento na clínica de Mestrado em Implantodontia do Centro Universitário de Araraquara - UNIARA, para finalização protética definitiva dos implantes já instalados na região anterior da maxila e das coroas provisórias sobre os dentes naturais na região do 21 ao 23. Entretanto, verificou-se presença de um defeito mucogengival entre os implantes (região do 11 e 12 e entre implante e dente natural, 11 e 21). A principal queixa do paciente estava relacionada com a presença de um “espaço escuro entre os dentes da frente”, relacionada ao triângulo negro presente entre os incisivos centrais superiores e entre o elementos 21 (dente natural) e 11 (implante dentário), os quais prejudicavam a estética da reabilitação protética (Figura 1). A história médica do paciente não revelou qualquer comprometimento sistêmico que poderia alterar a cicatrização e o pós-operatório, bem como ausência de hábitos e vícios como cigarros e drogas. No exame clínico, foi constatado uma profundidade de sondagem acima de 5 mm, sem sangramento à sondagem, com presença de uma faixa de tecido queratinizado espesso e com os implantes sem mobilidade. No exame radiográfico, a presença de dois implantes foi observada, bem como perda óssea vertical na região ao redor dos implantes e dos dentes. Baseado nos achados clínicos e radiográficos, foi proposto ao paciente uma abordagem minimamente invasiva para o preenchimento do espaço da papila interdental por meio da aplicação clínica do gel de AH, previamente ao tratamento reabilitador definitivo. Consentimento escrito foi obtido junto ao paciente, antes do procedimento, autorizando o tratamento proposto. Inicialmente foi realizado fotografia para registro das condições iniciais do paciente, seguido por profilaxia no intuito de remover a placa bacteriana presente na região. Após limpeza da região envolvida, anestesia tópica local foi realizada próxima à região que receberia o gel de AH. Em seguida, o gel de AH, comercialmente disponível, foi aplicado 2 a 3 mm apical à ponta da papila (Figura 2), com um volume de AH em torno de 0,2 mL, seguindo o protocolo descrito inicialmente por Becker e colaboradores em 201010 e Sadat Mansouri e colaboradores em 2013.32 O paciente foi acompanhado a cada 3 semanas após o procedimento inicial e esta sequência de aplicação do gel de AH foi realizada por 3 vezes, com intervalo de 3 semanas entre cada aplicação (Figura 3). Após a aplicação do gel de AH o paciente foi acompanhado durante 6 meses, fase na qual outra fotografia foi realizada para comparação de resultados (Figura 4). O resultado do presente caso demonstrou satisfatória condição clínica gengival, no qual houve um preenchimento tecidual evidente na área envolvida, diminuindo a presença de espaço negro entre os incisivos centrais e com ausência de morbidade clínica para o paciente. importantes para a resiliência tecidual, hidrodinâmica e manutenção do volume tecidual da pele.5,17AH possui também atividade anti-inflamatória,27 bacteriostática,14 fungistática,26 antiedema,17 osteoindutiva,34 e pró-angiogênica19 o que resulta na promoção da cicatrização tecidual em uma grande variedade de tecidos.15 O AH tem sido, portanto, utilizado como um agente anti-inflamatório em várias condições inflamatórias em ortopedia, oftalmologia, dermatologia, e mais recentemente, na odontologia.1,4,28,29 Em particular, o AH tem sido defendido como monoterapia ou como auxiliar para o tratamento periodontal não-cirúrgico e cirúrgico para reduzir a inflamação e promover a cicatrização de feridas.11 Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da aplicação clínica do gel de AH para a formação de papila e preenchimento tecidual em área de pôntico e entre implantes em dois casos clínicos. 185 Figura 3 – Pós-operatório de 6 semanas após a terceira aplicação do gel de AH. a b Figura 4 (a-b) – a) Fotografia inicial e b) fotografia final, após 6 meses da primeira aplicação, evidenciando ganho vertical da papila entre os implantes (região 11 e 12) e entre o implante 11 e o dente 21). Relato de caso / Case report Caso 2 186 Paciente do gênero feminino, leucoderma, 52 anos de idade, procurou tratamento na clínica de Pós-graduação do Mestrado em Ciências Odontológicas, Área de Implantodontia, no Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, visando a correção de um defeito estético mucogengival na região do canino superior esquerdo (que tratava-se de um pôntico) após procedimento restaurador com prótese fixa sobre implantes. A paciente queixava-se da presença de um buraco negro entre o incisivo lateral e o canino esquerdo o qual prejudicava a estética da reabilitação protética (Figura 5). Após anamnese e exame radiográfico, tendo em vista que a prótese implantossuportada da paciente encontrava-se adequada e que a queixa da mesma restringia-se à presença do espaço negro na região da papila entre os elementos 22 e 23, o tratamento proposto foi a aplicação do gel de AH nessa área para tentativa de ganho vertical da papila. Antes do início do tratamento, a paciente foi educada e motivada com ênfase na manutenção de uma higiene bucal apropriada. Fotografia inicial foi realizada Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. afim de comparação de resultado ao final do tratamento. Após instruções de higiene oral, profilaxia foi realizada para eliminação de placa bacteriana. O mesmo procedimento para aplicação do gel de AH foi realizado seguindo os mesmos protocolos previamente descritos na literatura.10,32 Imediatamente após o procedimento, a paciente foi recomendada a descontinuar a limpeza com escova dental na região para evitar traumatizar a área ao redor da aplicação de AH. A paciente foi instruída a limpar a área com clorexidina 0,2%, diariamente durante a primeira semana. 3 semanas após o procedimento, a paciente foi instruída a escovar os dentes delicadamente com uma escova macia. A paciente foi acompanhada durante 6 meses e fotografia clínica foi obtida e comparada com a fotografia inicial da paciente (Figura 6).O resultado obtido no presente caso demonstrou aumento e manutenção do volume tecidual na região onde foi realizado a aplicação do gel de AH, evidenciando melhoria estética da região, com total ausência de morbidade ao paciente. a b Figuras 5 (a-b) – Aspecto clínico inicial da paciente que apresentava-se com uma prótese fixa sobre implantes e um defeito mucogengival entre o incisivo lateral e o canino esquerdo na região superior. a b Figura 6 (a-b) – a) Aspecto clínico inicial e b) fotografia final no qual o aumento tecidual na região interproximal pode ser observado após 6 meses da última aplicação do gel de AH. Discussão Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. Queiroz TP, Molon RS, Luvizuto ER, Marques DO, Betoni Jr W, Margonar R. O presente estudo avaliou o efeito da aplicação do gel de AH para aumento tecidual da papila interdentária (entre implantes e entre implante e dente) e preenchimento tecidual em áreas de pônticos de prótese fixa. Os pacientes envolvidos neste estudo foram acompanhados por um período de 6 meses após a primeira aplicação do AH. Os parâmetros clínicos de aumento tecidual foram avaliados por meio de fotografias obtidas antes e após o tratamento com AH. Os resultados fornecem evidência de que o uso do AH pode ser considerado um tratamento seguro e eficaz para ganho de papila interdentária em regiões que apresentem pequenos defeitos papilares, sem risco de complicações pós-operatórias devido ao índice quase nulo de morbidade associado com o procedimento. Ensaios clínicos controlados, randomizados, com uma amostra maior de pacientes, e com um período de acompanhamento maior deverão ser realizados para confirmar esses achados preliminares e fornecerem base para futuros tratamentos intervencionais para ganho de tecido e preenchimento papilar. Na Odontologia, produtos profissionais com base de AH foram introduzidos recentemente. Uma linha de geis profissionais com 0,2% de AH de alto peso molecular já está disponível comercialmente. A literatura internacional relata resultados confirmando que as propriedades do AH, que são contemplados em outros campos da medicina, são também aplicáveis ao tratamento de doenças orais: principalmente a sua capacidade para conter o sangramento, reduzir inchaço, facilitar a cicatrização dos tecidos danificados, e mais recentemente para reconstrução da papila interdental.10,32 Em uma busca recente na literatura apenas dois trabalhos foram encontrados avaliando o efeito do gel de AH na reconstrução da papila interdental. Em um destes estudos,32 11 pacientes que apresentavam perda de papila interdental ou defeitos em uma ou várias áreas na região anterior da maxila (21 defeitos papilares no total), foram submetidos a aplicações de 0,2 mL de gel de AH nas áreas correspondentes. O mesmo procedimento foi repetido após 21 e 90 dias em todas as áreas correspondentes. Os dados foram extraídos, fotografias foram obtidas e as alterações no espaço interdental foram registradas e analisadas cautelosamente utilizando-se um software de imagem (ImageJ®), após 21 dias e 3 e 6 meses de pós-operatório. A aplicação de gel de AH para a reconstrução da papila interdental foi bem-sucedida após um período de seis meses, demonstrando melhoria de 50% ou mais na reconstrução da papila interdentária. Portanto, este estudo demonstrou que o AH foi benéfico na reconstrução papilar e pode ser utilizado como uma técnica não-invasiva para o preenchimento tecidual na área interproximal na prática clínica. Esses achados corroboram com os resultados obtidos nos dois casos clínicos apresentados neste estudo, no qual aumento tecidual na região da papila foi observado após a aplicação do gel de AH. Estudos avaliando o efeito de AH na reconstrução 187 Relato de caso / Case report 188 da papila interdentária foram realizados por Becker et al.(2010)10. Onze pacientes, sete mulheres e quatro homens, com uma idade média de 55,8 anos (variando de 25 a 75 anos) com 14 locais tratados foram incluídos neste estudo piloto. Os pacientes tinham no mínimo uma deficiência papilar na zona estética da maxila. Antes do tratamento fotografias foram obtidas a uma proporção de 1:1 utilizando um programa disponível comercialmente. AH foi injetado em um volume de 0,2 mL, após anestesia local, 2-3 mm apical à porção coronal das papilas envolvidas, mesmo protocolo utilizado no presente estudo. Os pacientes foram acompanhados de três em três semanas e o tratamento foi repetido por três vezes. Os pacientes foram acompanhados durante 6 até 25 meses após a aplicação inicial do gel de AH. Um programa de computador mensurou as alterações (em pixels) entre o início e o final do tratamento. Os resultados em cada sítio foram avaliados individualmente. Três locais de implantes e um local adjacente ao dente teve melhoria de 100% entre os períodos de tratamento avaliados. Sete locais melhoraram de 94 para 97%, três locais melhoraram de 76 para 88%, e um sítio adjacente a um implante tinha 57% de melhoria. Os autores concluíram que este estudo piloto forneceu evidências de que as pequenas deficiências papilares entre implantes e dentes podem ser melhoradas por injeção de gel de AH à 0,2%. As melhorias foram mantidas durante um intervalo de 6 a 25 meses. Além da aplicação do gel de AH para reconstrução da papila interdentária, Cantore et al. (2010)12 em um estudo recente avaliaram a eficácia do AH como coadjuvante de um enxerto ósseo autógeno obtido à partir da região intraoral para o tratamento de defeitos intraósseos sem a utilização de membrana. Foi realizado um experimento clínico controlado em 10 pacientes com defeito periodontal (5 homens e 5 mulheres, com idade média de 42 anos) e com defeitos intraósseos com profundidade média de 8,3 mm. Cada enxerto foi caracterizado por 0,5 cc de osso autógeno e dois feixes de fibras de AH. 24 meses após a cirurgia, reavaliações clínicas e radiográficas mostraram preenchimento satisfatório do defeito. Os resultados demonstraram que as fibras de AH esterificadas permitiram a recriação de um microambiente ideal para a regeneração dos tecidos, melhorando o processo de cicatrização e reparo. Assim, este estudo demonstrou potencial mecanismo para a regeneração tecidual podendo explicar em parte o potencial benefício do gel de AH. Estas propriedades fazem com que o AH seja eficiente na terapia regenerativa periodontal como coadjuvante. Contrário ao uso de solução salina ou do próprio sangue do paciente, a matriz de AH forma um gel quase que instantaneamente, e assim facilita a sua aplicação junto aos defeitos. A matriz de AH apresenta-se altamente versátil porque forma, em temperatura ambiente, um gel biocompatível e biodegradável que pode ser facilmente adaptado e/ou ajustado ao defeito periodontal. O manuseio dos tecidos moles não Full Dent. Sci. 2016; 7(27):183-189. é difícil de alcançar e uma alta taxa de cicatrização tem sido observada após o tratamento com AH.12 Fawzy El-Sayed et al.21(2012) em um estudo randomizado controlado, avaliaram o efeito da aplicação local de 0.8% de gel de hialuronato em conjunto com a cirurgia periodontal. Após terapia periodontal não-cirúrgica inicial e reavaliação, os defeitos foram aleatoriamente designados para serem tratados com cirurgia de retalho de Widman modificado em conjunto com aplicação de 0.8% de gel de AH (teste) ou placebo (controle). Os autores demonstraram diferenças estatisticamente significativas no nível clínico de inserção e diminuição da recessão gengival no grupo teste que recebeu AH. Entretanto, resultados não significativos foram encontrados em relação à profundidade de sondagem, sangramento à sondagem e índices de placa. O AH também tem sido utilizado como carreador para aplicação de fatores de crescimento nos defeitos periodontais intraósseos. Nesse contexto, um estudo foi conduzido no intuito de avaliar se o fator de crescimento de fibroblastos tipo 2 recombinante humano (rhFGF-2) associado ao AH como carreador, aplicado em defeitos periodontais intraósseos, aumentaria os parâmetros clínicos de regeneração da inserção periodontal. Para isso, trinta pacientes adultos foram avaliados. Dois defeitos intraósseos em cada paciente foram alocados aleatoriamente para cada um dos métodos de tratamento empregados. O grupo controle (n = 30) foi tratado por debridamento aberto, com preservação das bordas da papila, enquanto que o grupo teste (n = 30) também recebeu uma aplicação tópica de rhFGF-2/ HA no defeito intraósseo. Os parâmetros avaliados, no início e após um ano foram: profundidade de sondagem, recessão gengival, nível de inserção periodontal e sondagem do nível ósseo. Os autores concluíram que a aplicação de rhFGF-2 / AH melhorou significativamente os parâmetros clínicos periodontais de cicatrização de feridas um ano após o tratamento, apresentando-se maiores reduções de profundidade de sondagem, e aumento nos níveis de inserção clínica.18Por outro lado, de acordo com um estudo recente, Hunt et al.25(2001) sugerem que o uso apenas de AH possui um efeito muito limitado, senão nulo, com relação a efeitos regenerativos em tecidos periodontais gengivais ou ósseos. Conclusão Concluiu-se segundo os limites deste trabalho que o uso de AH para a formação de papila na região interimplantes, bem como para aumento de volume tecidual na região de pônticos constitui-se uma técnica promissora, de prognóstico favorável, não invasiva e segura que pode ser utilizada de forma criteriosa pelo cirurgião-dentista com intuito de favorecer a estética em casos em que a diminuição do volume tecidual compromete diretamente os resultados estéticos reabilitadores. Ensaios clínicos controlados, randomizados, com uma amostra maior de pacientes e com um período de acompanhamento maior deverão ser realizados para confirmar esses achados preliminares e fornecerem base para futuros tratamentos intervencionais para ganho de tecido e preenchimento papilar utilizando-se o gel de AH. Referências Como citar este artigo: Queiroz TP, Molon RS, Luvizuto ER, Marques DO, Betoni Jr W, Margonar R. A utilização do ácido hialurônico para ganho vertical de papila em área estética. 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