Luiz Carlos Nascimento - Associação Brasileira de Medicina

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BRYOPHYLLUM CALYCINUM
FAMÍLIA: Crassuláceas.
ETIMOLOGIA:Bryo(gr.): brotar; phyllum: folha.
SINONÍMIA: Kalanchoe daigremontiana, K. pinnata, fortuna, corona, Cotyledon
calycina, K. cíyculata, K. rhizophilla, Crassouvia flori- pendula, coirama, língua-depirarucu, folha de piraru-cu, diabinho, pirarucu, saião, são- raimundo, folha-dacosta, folha de fortuna, fortuna, roda da fortuna.
Antes da descrição propriamente dita da planta, abordaremos algumas
curiosidades existentes na literatura, como em Plantas úteis do Gabão (A.
Rapondo-Walker e R. Sillans), país onde a planta era cultivada pelos nativos
para uso medicinal e fetiche. Os eshira aplicam suas folhas sobre as feridas; os
bekele usam-na contra resfriados em crianças. As folhas amassadas entram na
composição de uma pomada à base de gordura de plantas, usada em fricções
em dores reumatismais. Sendo a planta de fácil reprodução, os nativos
concluíram ser um fetiche para tornar férteis as terras por eles cultivadas.
O Dicionário brasileiro de plantas medicinais (Meira Penna) cita-a como planta
africana aclimatada no Brasil, notável por sua multiplicação através do ângulo de
crenagem das folhas; com propriedades refrigerantes e vulnerárias. Ligada a
crendices: Glauco, filho de Minos e Pasiphae, quando muito criança caiu em um
vaso cheio de mel; estava já morto, quando o adivinho Poiydo o achou e chamou
à vida por meio de uma planta que uma serpente lhe indicou (Bryophyllum ou
'planta mágica de Glaucus').
Na Flora brasiliense ela é citada como originária da África meridional, porém
muito difundida no Brasil; emite plantinhas enraizadas nas margens das folhas
caídas. CONSTITUINTES: Contém ácido málico e ácido cítrico, e é usada como
refrescante e vulnerária. Multiplica-se por enraizamento de fragmentos do caule
e das folhas, que emitem um número variável de brotos adventícios. Gosta de
sombra dos arvoredos ou detritos vegetais em decomposição e umidade.
No Dicionário das plantas úteis do Brasil, ela é descrita como planta sublenhosa perene, carnosa e glabra, com até 1,5 m de altura e caules
obscuramente 4 angulosos, sendo o mais velho de cor clara e os demais
avermelhados com máculas brancas; folhas variáveis decussadas (cruzadas em
relação às do nó anterior), sendo que as inferiores são mais simples ou às vezes
imparipenadas, chegando a 30 cm de comprimento, e as superiores podem ser
3-5-7 foliadas, com pecíolo longo, folíolos oblongos, ovados ou elípticos,
obtusos, crenados, sendo o terminal muitíssimo mais comprido que os laterais;
flores hermafroditas, tubulosas, pêndulas, monopetalas, verde pálido ou amarelo
avermelhadas, dispostas em panículos de 10-40cms; cálice intumescido, de 0335mm, 4-dentado, glabro; corola mais comprida que o cálice ou um pouco
menor, lobos lanceolados ou estrito ovados, agudos e 8 estames inseridos sobre
o tubo da corola, dispostos em duas séries; frutos carpelos escamosos que se
tornam folículos polispermos, inclusos em invólucro papiráceo. Vegeta
perfeitamente à sombra e suporta longo tempo a falta de água, sendo
reconhecida como uma das planta mais persistentes, pois, suas folhas cortadas,
ou mesmo fragmentadas, abandonadas sobre o solo ou pregadas nas paredes
das habitações, brotam facilmente pelos ângulos das crenas ou pelas nervuras,
logo surgindo novos brotos adventícios que são exemplo de multiplicação
vivípara. Esta vitalidade leva a crendices e superstições coma a que a maior ou
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menor vitalidade da folha corresponda à maior ou menor felicidade da pessoa
que a tenha colhido.
Em Plantas úteis da África Portuguesa (Conde de Ficalho), é citada como
cultivada pelos feiticeiros que lhe atribuem virtudes especiais e influência
sobrenatural; é conhecida como rituta ria nvula (nuvem de chuva), e teria a
faculdade de produzir ou determinar a queda pluvial.
No informe tramiil (Caribe, 1986), é tida como diurética e analgésica (Haiti e
Colômbia), anti-séptica urinária (Barbados), anti-venérea (Barbados e Bahamas),
sedativa, anti-espasmódica e febrífuga (Antilhas), expectorante(Bahamas e
Jamaica), vulnerária (Jamaica e Colômbia), utilizada em afecções oculares (o
suco da folha, em Trinidad).
Em O cultivo de plantas Medicinais na Amazônia (Álvaro Augusto Mousslen
Pantoja Pimentel) diz-se que contém, além dos ácidos málico e cítrico, o ácido
isocítrico. O suco das folhas é usado como vulnerário, bactericida, refrescante na
inflamação dos olhos e no glaucoma. As folhas podem ser mastigadas em casos
de tosse e dor de garganta e ser esfregadas em inflamações, contusões e
hematomas; usadas como emplastro em erisipela e queimaduras, e ainda como
'lambedor'(compressa feita com o suco ou com a própria folha passada no calor).
Na África, as Crassuláceas nos apresentam uma série de curiosidades, quais
sejam: ao sul do Sotho, a planta é fumada para aliviar cefaléia; sua loção é
utilizada como feitiço contra pesadelos a respeito dos antepassados. Ao se usar
essa loção, é essencial que o corpo do paciente seja banhado por uma pessoa
mais velha, e não por ele próprio. A loção é adicionada ao banho para torná-lo
refrescante.
Os zulus usam a folha da Crassula vaginata macerada em água quente para
aliviar contusões, e comem as raízes próximas ao solo em época de falta de
alimentos. Em Tanganica amassam a Kalanchoe hirta em água e a aspergem
para proteger as tribos de visitas noturnas de espíritos do mal. Na África Central,
a fricção das folhas de Kalanchoe lancinata é usada para aliviar prurido.
Entre os zulus, as cinzas das folhas e flores da Kalanchoe são esfregadas
em duas ou três escarificações nas cristas supra-orbitárias dos jovens que
cortejam com a intenção de fascinar qualquer jovem mulher a quem a atenção
seja dirigida. Os chaga usam folhas de Kalanchoe como galactagogo para o
gado.
A descrição da Kalanchoe daigremontiàna encontrada na Flora Enciclopedia
Salvat de Jardinería (tomo 10) informa-a como planta procedente da região sul
ocidental de Madagascar, sendo rústica e resistente, com talo simples e ereto,
castanho pardo, com 0,5 a 1 m de altura. O limbo foliar é triangular alongado e
mede 1 5- 20 cm de comprimento por 2-3 cm de largura. Na época fria
aparecem, na base foliar, protuberâncias com forma de copo. O pecíolo mede
até 5 cm. As folhas são carnosas, dispostas em cruz com o par contíguo em
altura, sendo salpicadas por pontos castanho-avermelhados e possuindo
margens festonadas, nas quais se produzem brotos adventícios que se enraízam
facilmente. Na época fria a inflorescência nasce no extremo do talo,
compreendendo pares de ramos opostos com numerosas flores violetaacinzentado, cujo pedúnculo mede 5-11 mm de comprimento e cujo cálice é
campanuláceo e a corola mede 16-19 mm de comprimento. A floração se dá em
plantas medindo 30-45 cm de altura. No frio ela requer mais calor do que a maior
parte das suculentas. Estando o solo e o ambiente secos, resiste a temperaturas
mais baixas. Bastante tolerante à qualidade do solo, aceita bem a água. Para se
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obter maior colorido da planta, deve-se diminuir o aporte de água a partir de
meados do calor. Ela é muito adequada para entreter crianças, pela facilidade
com que seus brotos adventícios são replantados. As Crassuláceas constituem a
terceira família do reino vegetal em número de espécies. As inflorescências
assemelham-se a falsos guarda chuvas e têm o dobro do número de estames do
que de pétalas nas flores.
O Bryophyllum não tem matéria médica disponível; portanto, não podemos
fazer uma analogia entre sua atuação como medicamento homeopático e como
medicamento antroposófico, de modo que abordaremos suas qualidades como
medicamento antroposófico já tendo abordado suas qualidades fitoterápicas.
Sendo uma planta essencialmente constituída por folhas e muito vital, ela é
indicada em histeria, caso em que absorve as forças anímicas exuberantes e as
conduz ao corpo etérico. Foi recomendada por Rudolf Steiner em conferência de
1923, na qual ele relaciona plantas aos metais, enfatizando que os metais
vegetabilizados estão mais aptos a absorver as forças cósmicas durante o
processo de cultivação das plantas, tendo, portanto, uma atuação mais eficaz
como medicamento nas doenças em que são indicados.
Possuindo uma intensa vitalidade, demonstrada pela brotação de uma nova
planta em cada um dos recortes de suas folhas, o Bryophyllum é indicado para
atrair o corpo astral ao local, a fim de dominar o processo etérico estranho. Desta
maneira o corpo astral é forçado a uma intervenção mais intensa, que por si só o
organismo não seria capaz de realizar. Obtém-se também, ao mesmo tempo,
melhor enquadramento do corpo etérico na região metabólica, especialmente na
esfera genital (esfera de ação da prata); por esta razão, o Bryophyllurn ou o
Bryophyllum D2 Argento culturn podem ser empregados como soníferos. Em
resumo, possuindo forças etéricas intensas que podem ser introduzidas no
organismo através de injeções de Bryophyllum D2 Argento cultum ou diluições de
Bryophyllurn, folia TM ou D1, D2, D3, D30 ou trit. 50%, e sendo forças etéricas
estranhas ao organismo, obrigam as forças etéricas humanas a um intenso
trabalho; ao ocupar-se desta tarefa elas ficam retidas no pólo inferior do
organismo e, deste modo, são impedidas de fluir em excesso para o pólo
neurosensorial. Recomendam-se aplicações nas pernas. Na histeria, em que o
paciente se torna alterado a ponto de responder de maneira imediata e
desarmônica aos estímulos do meio ambiente e aos fatos em redor, não há urna
integração coerente de sua astralidade em sua vida; como o Bryophyllum supera a
intensa vitalidade desvinculada do elemento astral, pode harmonizar o astral do
paciente que está em desarmonia com o resto do organismo. O Bryophyllum tem a
capacidade de absorver as forças anímicas exuberantes e conduzi-Ias ao etérico.
As Crassuláceas contrapõem sua suculência (vital) a uma astralidade nelas
inserida, de forma que se tornam plantas indicadas nos distúrbios nervosos ou
somatizações decorrentes de stress e ansiedade. As 500 espécies de
Crassuláceas (crassus = grosso, cheio, largo) têm a parte verde “inchada” de
líquidos e mucilagem, signatura que indica grande vitalidade. Espécies como o
Bryophyllum (fortuna) e o Sedurn (saião) possuem flores exuberantes, em
cachos, o que indica um toque de astralidade. Rudolf Steiner indicou o
Bryophyllum (4 espécies) como planta capaz de conter o processo histérico, ou
seja, uma exuberância de vitalidade metabólica que invade as esferas mental e
emocional, perturbando a racionalidade e a centralidade da pessoa. A planta
estimularia um certo tonus do corpo astral sobre a vitalidade histérica, uma vez
que a própria planta faz isto (quando sua grande vitalidade é contida em
processos de forma e de floração astrais). Sendo tão vital, ela pode ser indicada
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como revitalizante para crianças ou adultos desgastados, estafados. Steiner
associou-a à prata em todas as indicações, reforçando a “Lua”. É um
medicamento que pode ser associado a outros “sedativos”, com bons resultados.
O Bryopbyllum, ao contrário de outras plantas com enorme vitalidade em seus
brotos vegetativos, apresenta essa intensa força vital permeando toda a planta,
em especial as folhas, que possuem característica de broto e podem reproduzir
muitos brotos, revelando-nos um processo de vitalidade e reprodução
intimamente relacionado à prata. Apesar de muito vital e suculenta, a folha é
muito elaborada e refinada, mostrando-nos um processo luminoso configurativo
capaz de conter a proliferação excessiva, manifesta na exuberante produção
floral. O etérico potente não cria obstáculos a um desenvolvimento floral intenso.
Goethe desenvolveu a idéia de planta primordial por meio do pensar vivo,
observando o Bryophyllum, em Palermo; observando sua aparência sensível, êle
leu diretamente uma lei arquetípica e fundamental de todo ser vivo, ou seja o
Todo do organismo está presente e ativo em cada uma de suas partes. O
princípio espiritual da “Planta Primordial” existe em cada uma de suas
manifestações no tempo e no espaço. As forças etéricas desta planta de folhas
gordurosas, sendo acumuladas em sua suculência, permitem às crenaduras
destas folhas ovais agudas produzir um grande número de pequenas plantas
munidas de raízes minúsculas, que caem, se enraízam a seguir e asseguram
uma extensa multiplicação desta erva tropical. O que as outras plantas
concentram na flor e fruto, mas recusando nas folhas, a força de multiplicação, é
aqui distribuída no conjunto da planta. Como uma gota que se espalha em
centenas de gotículas ao cair, do mesmo modo, a unidade desta planta explode
em inúmeros descendentes, em um determinado ritmo determinado pelas
estações. Apesar disto o crescimento das folhas se completa até as flores, que se
formam nas extremidades sob forma de um cacho de corolas bem diferenciados,
amarelo avermelhados, como longos tubos. Não tem odor, caem de um talo e são
envelopadas por longas sépalas pouco aderentes. Como as outras Crassuláceas,
o corpo etérico potente e condensado não opõe obstáculo a um processo floral
bem desenvolvido; a esfera astral pode atuar neste caso. Há necessidade de
muito calor e luz, o que existe nos locais aonde esta planta se desenvolve.
Congela em temperaturas abaixo de +5º. Em razão de sua vitalidade é
empregada como vulnerária e medicinal. Rudolf Steiner a indicou em estados
patológicos onde o organismo inferior não repele suficientemente os processos do
mundo exterior, que exerce, em relação ao organismo superior , atuações muito
fortes, desordenadas; nesta região(superior), o corpo etérico torna-se soberano,
proliferante, enquanto que as forças organizadoras do corpo astral ficam bastante
fracas. É uma forma arquetípica de doença que Rudolf Steiner chamou de
“histeria”. A forma mórbida polar, “neurastenia”, implica uma predominância
patológica de traços unilaterais do organismo superior. O sono sadio exige uma
colaboração harmoniosa do corpo etérico com o corpo astral(que se desliga, no
sono, do organismo superior, portador da consciência, mas une-se ao organismo
inferior, que, no que concerne à consciência, está sempre mergulhado em
profundo sono), o Bryophyllum tem certa importância como soporífero, devido a
insônia ter como origem o estado descrito acima.
As indicações terapêuticas do Bryophyllum são para excitação, insônia, histeria,
hiperemese gravídica, inquietude e excitação após experiências traumáticas ou
chocantes, pavor noturno, debilidade do metabolismo construtivo, início de terapia
com prata, após choques anímicos, agitação, sonambulismo, enurese noturna,
ameaça de aborto, retardo em crianças, neuroses.
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Na publicação Hebammenforum (Weleda) de outubro dê 1998, o doutor E.
Daub-Amend faz uma correlação entre as distonias psicossociais e o modo como
estas são encaradas pelas gestantes de uma maneira peculiar e individual,
podendo levar a quadros de trabalho de parto prematuro, com suas
intercorrências mais freqüentes - abortamento, amniorrexe espontânea, infecção
intra-parto - enfim, à prematuridade com suas conseqüências desagradáveis em
relação ao prognóstico da gestação. O Bryophyllum está indicado na prevenção
destas causas primárias de inadaptabilidade da gestante por fragilidade pessoal
face a distonias psicossociais; em sintomas neurovegetativos em obstetrícia como taquicardia, suores, agitação psicomotora, espasticidade, recuperação de
histeria e, atualmente, nas pacientes com perfil “obstipado”, caracterizado por
impressão de um espasmo interno atual ou por não conseguir soltar-se (medo
interior).
No primeiro trimestre, é indicado em caso de aumento do tonus uterino
(contrações subjetivas) em mulheres astênicas, delgadas, como fortificante do
corpo etérico; também é útil em mulheres inquietas e temerosas, medrosas, que
se intranqüilizam com qualquer mudança, como por exemplo a aparência do
corpo na gravidez. No segundo semestre, é indicado em mulheres com perfil
“obstipado”. A partir da 26º-28º semanas, é indicado em contrações anormais
(trituração a 50%, associado ao magnésio e repouso), e também no
esvaecimento precoce do colo uterino.
BIBLIOGRAFIA
Além de algumas obras citadas no texto, vide:
BOTT, VICTOR. Medicina Antroposófica vol 1. São Paulo: Associação Beneficente
Tobias, 1981.
Flora Enciclopedia Salvat de Ia jardineria vol X.
Hebammenforum (Weleda), out. 1998.
HUSEMANN, F. Wolff, O. A imagem do homem corno base da arte médica, vol
II São Paulo, Associação Beneficente Tobias, 1984.
Pio Correa, M(Dicionário das plantas úteis do Brasil, Min Agricultura, 1984) Vol II
pg 343.
Pelikan, Wilhelm(L’Homme et les plantes medicinales, Triades, Paris, 1986) Vol II
pg 54.
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