BRYOPHYLLUM CALYCINUM FAMÍLIA: Crassuláceas. ETIMOLOGIA:Bryo(gr.): brotar; phyllum: folha. SINONÍMIA: Kalanchoe daigremontiana, K. pinnata, fortuna, corona, Cotyledon calycina, K. cíyculata, K. rhizophilla, Crassouvia flori- pendula, coirama, língua-depirarucu, folha de piraru-cu, diabinho, pirarucu, saião, são- raimundo, folha-dacosta, folha de fortuna, fortuna, roda da fortuna. Antes da descrição propriamente dita da planta, abordaremos algumas curiosidades existentes na literatura, como em Plantas úteis do Gabão (A. Rapondo-Walker e R. Sillans), país onde a planta era cultivada pelos nativos para uso medicinal e fetiche. Os eshira aplicam suas folhas sobre as feridas; os bekele usam-na contra resfriados em crianças. As folhas amassadas entram na composição de uma pomada à base de gordura de plantas, usada em fricções em dores reumatismais. Sendo a planta de fácil reprodução, os nativos concluíram ser um fetiche para tornar férteis as terras por eles cultivadas. O Dicionário brasileiro de plantas medicinais (Meira Penna) cita-a como planta africana aclimatada no Brasil, notável por sua multiplicação através do ângulo de crenagem das folhas; com propriedades refrigerantes e vulnerárias. Ligada a crendices: Glauco, filho de Minos e Pasiphae, quando muito criança caiu em um vaso cheio de mel; estava já morto, quando o adivinho Poiydo o achou e chamou à vida por meio de uma planta que uma serpente lhe indicou (Bryophyllum ou 'planta mágica de Glaucus'). Na Flora brasiliense ela é citada como originária da África meridional, porém muito difundida no Brasil; emite plantinhas enraizadas nas margens das folhas caídas. CONSTITUINTES: Contém ácido málico e ácido cítrico, e é usada como refrescante e vulnerária. Multiplica-se por enraizamento de fragmentos do caule e das folhas, que emitem um número variável de brotos adventícios. Gosta de sombra dos arvoredos ou detritos vegetais em decomposição e umidade. No Dicionário das plantas úteis do Brasil, ela é descrita como planta sublenhosa perene, carnosa e glabra, com até 1,5 m de altura e caules obscuramente 4 angulosos, sendo o mais velho de cor clara e os demais avermelhados com máculas brancas; folhas variáveis decussadas (cruzadas em relação às do nó anterior), sendo que as inferiores são mais simples ou às vezes imparipenadas, chegando a 30 cm de comprimento, e as superiores podem ser 3-5-7 foliadas, com pecíolo longo, folíolos oblongos, ovados ou elípticos, obtusos, crenados, sendo o terminal muitíssimo mais comprido que os laterais; flores hermafroditas, tubulosas, pêndulas, monopetalas, verde pálido ou amarelo avermelhadas, dispostas em panículos de 10-40cms; cálice intumescido, de 0335mm, 4-dentado, glabro; corola mais comprida que o cálice ou um pouco menor, lobos lanceolados ou estrito ovados, agudos e 8 estames inseridos sobre o tubo da corola, dispostos em duas séries; frutos carpelos escamosos que se tornam folículos polispermos, inclusos em invólucro papiráceo. Vegeta perfeitamente à sombra e suporta longo tempo a falta de água, sendo reconhecida como uma das planta mais persistentes, pois, suas folhas cortadas, ou mesmo fragmentadas, abandonadas sobre o solo ou pregadas nas paredes das habitações, brotam facilmente pelos ângulos das crenas ou pelas nervuras, logo surgindo novos brotos adventícios que são exemplo de multiplicação vivípara. Esta vitalidade leva a crendices e superstições coma a que a maior ou 1 menor vitalidade da folha corresponda à maior ou menor felicidade da pessoa que a tenha colhido. Em Plantas úteis da África Portuguesa (Conde de Ficalho), é citada como cultivada pelos feiticeiros que lhe atribuem virtudes especiais e influência sobrenatural; é conhecida como rituta ria nvula (nuvem de chuva), e teria a faculdade de produzir ou determinar a queda pluvial. No informe tramiil (Caribe, 1986), é tida como diurética e analgésica (Haiti e Colômbia), anti-séptica urinária (Barbados), anti-venérea (Barbados e Bahamas), sedativa, anti-espasmódica e febrífuga (Antilhas), expectorante(Bahamas e Jamaica), vulnerária (Jamaica e Colômbia), utilizada em afecções oculares (o suco da folha, em Trinidad). Em O cultivo de plantas Medicinais na Amazônia (Álvaro Augusto Mousslen Pantoja Pimentel) diz-se que contém, além dos ácidos málico e cítrico, o ácido isocítrico. O suco das folhas é usado como vulnerário, bactericida, refrescante na inflamação dos olhos e no glaucoma. As folhas podem ser mastigadas em casos de tosse e dor de garganta e ser esfregadas em inflamações, contusões e hematomas; usadas como emplastro em erisipela e queimaduras, e ainda como 'lambedor'(compressa feita com o suco ou com a própria folha passada no calor). Na África, as Crassuláceas nos apresentam uma série de curiosidades, quais sejam: ao sul do Sotho, a planta é fumada para aliviar cefaléia; sua loção é utilizada como feitiço contra pesadelos a respeito dos antepassados. Ao se usar essa loção, é essencial que o corpo do paciente seja banhado por uma pessoa mais velha, e não por ele próprio. A loção é adicionada ao banho para torná-lo refrescante. Os zulus usam a folha da Crassula vaginata macerada em água quente para aliviar contusões, e comem as raízes próximas ao solo em época de falta de alimentos. Em Tanganica amassam a Kalanchoe hirta em água e a aspergem para proteger as tribos de visitas noturnas de espíritos do mal. Na África Central, a fricção das folhas de Kalanchoe lancinata é usada para aliviar prurido. Entre os zulus, as cinzas das folhas e flores da Kalanchoe são esfregadas em duas ou três escarificações nas cristas supra-orbitárias dos jovens que cortejam com a intenção de fascinar qualquer jovem mulher a quem a atenção seja dirigida. Os chaga usam folhas de Kalanchoe como galactagogo para o gado. A descrição da Kalanchoe daigremontiàna encontrada na Flora Enciclopedia Salvat de Jardinería (tomo 10) informa-a como planta procedente da região sul ocidental de Madagascar, sendo rústica e resistente, com talo simples e ereto, castanho pardo, com 0,5 a 1 m de altura. O limbo foliar é triangular alongado e mede 1 5- 20 cm de comprimento por 2-3 cm de largura. Na época fria aparecem, na base foliar, protuberâncias com forma de copo. O pecíolo mede até 5 cm. As folhas são carnosas, dispostas em cruz com o par contíguo em altura, sendo salpicadas por pontos castanho-avermelhados e possuindo margens festonadas, nas quais se produzem brotos adventícios que se enraízam facilmente. Na época fria a inflorescência nasce no extremo do talo, compreendendo pares de ramos opostos com numerosas flores violetaacinzentado, cujo pedúnculo mede 5-11 mm de comprimento e cujo cálice é campanuláceo e a corola mede 16-19 mm de comprimento. A floração se dá em plantas medindo 30-45 cm de altura. No frio ela requer mais calor do que a maior parte das suculentas. Estando o solo e o ambiente secos, resiste a temperaturas mais baixas. Bastante tolerante à qualidade do solo, aceita bem a água. Para se 2 obter maior colorido da planta, deve-se diminuir o aporte de água a partir de meados do calor. Ela é muito adequada para entreter crianças, pela facilidade com que seus brotos adventícios são replantados. As Crassuláceas constituem a terceira família do reino vegetal em número de espécies. As inflorescências assemelham-se a falsos guarda chuvas e têm o dobro do número de estames do que de pétalas nas flores. O Bryophyllum não tem matéria médica disponível; portanto, não podemos fazer uma analogia entre sua atuação como medicamento homeopático e como medicamento antroposófico, de modo que abordaremos suas qualidades como medicamento antroposófico já tendo abordado suas qualidades fitoterápicas. Sendo uma planta essencialmente constituída por folhas e muito vital, ela é indicada em histeria, caso em que absorve as forças anímicas exuberantes e as conduz ao corpo etérico. Foi recomendada por Rudolf Steiner em conferência de 1923, na qual ele relaciona plantas aos metais, enfatizando que os metais vegetabilizados estão mais aptos a absorver as forças cósmicas durante o processo de cultivação das plantas, tendo, portanto, uma atuação mais eficaz como medicamento nas doenças em que são indicados. Possuindo uma intensa vitalidade, demonstrada pela brotação de uma nova planta em cada um dos recortes de suas folhas, o Bryophyllum é indicado para atrair o corpo astral ao local, a fim de dominar o processo etérico estranho. Desta maneira o corpo astral é forçado a uma intervenção mais intensa, que por si só o organismo não seria capaz de realizar. Obtém-se também, ao mesmo tempo, melhor enquadramento do corpo etérico na região metabólica, especialmente na esfera genital (esfera de ação da prata); por esta razão, o Bryophyllurn ou o Bryophyllum D2 Argento culturn podem ser empregados como soníferos. Em resumo, possuindo forças etéricas intensas que podem ser introduzidas no organismo através de injeções de Bryophyllum D2 Argento cultum ou diluições de Bryophyllurn, folia TM ou D1, D2, D3, D30 ou trit. 50%, e sendo forças etéricas estranhas ao organismo, obrigam as forças etéricas humanas a um intenso trabalho; ao ocupar-se desta tarefa elas ficam retidas no pólo inferior do organismo e, deste modo, são impedidas de fluir em excesso para o pólo neurosensorial. Recomendam-se aplicações nas pernas. Na histeria, em que o paciente se torna alterado a ponto de responder de maneira imediata e desarmônica aos estímulos do meio ambiente e aos fatos em redor, não há urna integração coerente de sua astralidade em sua vida; como o Bryophyllum supera a intensa vitalidade desvinculada do elemento astral, pode harmonizar o astral do paciente que está em desarmonia com o resto do organismo. O Bryophyllum tem a capacidade de absorver as forças anímicas exuberantes e conduzi-Ias ao etérico. As Crassuláceas contrapõem sua suculência (vital) a uma astralidade nelas inserida, de forma que se tornam plantas indicadas nos distúrbios nervosos ou somatizações decorrentes de stress e ansiedade. As 500 espécies de Crassuláceas (crassus = grosso, cheio, largo) têm a parte verde “inchada” de líquidos e mucilagem, signatura que indica grande vitalidade. Espécies como o Bryophyllum (fortuna) e o Sedurn (saião) possuem flores exuberantes, em cachos, o que indica um toque de astralidade. Rudolf Steiner indicou o Bryophyllum (4 espécies) como planta capaz de conter o processo histérico, ou seja, uma exuberância de vitalidade metabólica que invade as esferas mental e emocional, perturbando a racionalidade e a centralidade da pessoa. A planta estimularia um certo tonus do corpo astral sobre a vitalidade histérica, uma vez que a própria planta faz isto (quando sua grande vitalidade é contida em processos de forma e de floração astrais). Sendo tão vital, ela pode ser indicada 3 como revitalizante para crianças ou adultos desgastados, estafados. Steiner associou-a à prata em todas as indicações, reforçando a “Lua”. É um medicamento que pode ser associado a outros “sedativos”, com bons resultados. O Bryopbyllum, ao contrário de outras plantas com enorme vitalidade em seus brotos vegetativos, apresenta essa intensa força vital permeando toda a planta, em especial as folhas, que possuem característica de broto e podem reproduzir muitos brotos, revelando-nos um processo de vitalidade e reprodução intimamente relacionado à prata. Apesar de muito vital e suculenta, a folha é muito elaborada e refinada, mostrando-nos um processo luminoso configurativo capaz de conter a proliferação excessiva, manifesta na exuberante produção floral. O etérico potente não cria obstáculos a um desenvolvimento floral intenso. Goethe desenvolveu a idéia de planta primordial por meio do pensar vivo, observando o Bryophyllum, em Palermo; observando sua aparência sensível, êle leu diretamente uma lei arquetípica e fundamental de todo ser vivo, ou seja o Todo do organismo está presente e ativo em cada uma de suas partes. O princípio espiritual da “Planta Primordial” existe em cada uma de suas manifestações no tempo e no espaço. As forças etéricas desta planta de folhas gordurosas, sendo acumuladas em sua suculência, permitem às crenaduras destas folhas ovais agudas produzir um grande número de pequenas plantas munidas de raízes minúsculas, que caem, se enraízam a seguir e asseguram uma extensa multiplicação desta erva tropical. O que as outras plantas concentram na flor e fruto, mas recusando nas folhas, a força de multiplicação, é aqui distribuída no conjunto da planta. Como uma gota que se espalha em centenas de gotículas ao cair, do mesmo modo, a unidade desta planta explode em inúmeros descendentes, em um determinado ritmo determinado pelas estações. Apesar disto o crescimento das folhas se completa até as flores, que se formam nas extremidades sob forma de um cacho de corolas bem diferenciados, amarelo avermelhados, como longos tubos. Não tem odor, caem de um talo e são envelopadas por longas sépalas pouco aderentes. Como as outras Crassuláceas, o corpo etérico potente e condensado não opõe obstáculo a um processo floral bem desenvolvido; a esfera astral pode atuar neste caso. Há necessidade de muito calor e luz, o que existe nos locais aonde esta planta se desenvolve. Congela em temperaturas abaixo de +5º. Em razão de sua vitalidade é empregada como vulnerária e medicinal. Rudolf Steiner a indicou em estados patológicos onde o organismo inferior não repele suficientemente os processos do mundo exterior, que exerce, em relação ao organismo superior , atuações muito fortes, desordenadas; nesta região(superior), o corpo etérico torna-se soberano, proliferante, enquanto que as forças organizadoras do corpo astral ficam bastante fracas. É uma forma arquetípica de doença que Rudolf Steiner chamou de “histeria”. A forma mórbida polar, “neurastenia”, implica uma predominância patológica de traços unilaterais do organismo superior. O sono sadio exige uma colaboração harmoniosa do corpo etérico com o corpo astral(que se desliga, no sono, do organismo superior, portador da consciência, mas une-se ao organismo inferior, que, no que concerne à consciência, está sempre mergulhado em profundo sono), o Bryophyllum tem certa importância como soporífero, devido a insônia ter como origem o estado descrito acima. As indicações terapêuticas do Bryophyllum são para excitação, insônia, histeria, hiperemese gravídica, inquietude e excitação após experiências traumáticas ou chocantes, pavor noturno, debilidade do metabolismo construtivo, início de terapia com prata, após choques anímicos, agitação, sonambulismo, enurese noturna, ameaça de aborto, retardo em crianças, neuroses. 4 Na publicação Hebammenforum (Weleda) de outubro dê 1998, o doutor E. Daub-Amend faz uma correlação entre as distonias psicossociais e o modo como estas são encaradas pelas gestantes de uma maneira peculiar e individual, podendo levar a quadros de trabalho de parto prematuro, com suas intercorrências mais freqüentes - abortamento, amniorrexe espontânea, infecção intra-parto - enfim, à prematuridade com suas conseqüências desagradáveis em relação ao prognóstico da gestação. O Bryophyllum está indicado na prevenção destas causas primárias de inadaptabilidade da gestante por fragilidade pessoal face a distonias psicossociais; em sintomas neurovegetativos em obstetrícia como taquicardia, suores, agitação psicomotora, espasticidade, recuperação de histeria e, atualmente, nas pacientes com perfil “obstipado”, caracterizado por impressão de um espasmo interno atual ou por não conseguir soltar-se (medo interior). No primeiro trimestre, é indicado em caso de aumento do tonus uterino (contrações subjetivas) em mulheres astênicas, delgadas, como fortificante do corpo etérico; também é útil em mulheres inquietas e temerosas, medrosas, que se intranqüilizam com qualquer mudança, como por exemplo a aparência do corpo na gravidez. No segundo semestre, é indicado em mulheres com perfil “obstipado”. A partir da 26º-28º semanas, é indicado em contrações anormais (trituração a 50%, associado ao magnésio e repouso), e também no esvaecimento precoce do colo uterino. BIBLIOGRAFIA Além de algumas obras citadas no texto, vide: BOTT, VICTOR. Medicina Antroposófica vol 1. São Paulo: Associação Beneficente Tobias, 1981. Flora Enciclopedia Salvat de Ia jardineria vol X. Hebammenforum (Weleda), out. 1998. HUSEMANN, F. Wolff, O. A imagem do homem corno base da arte médica, vol II São Paulo, Associação Beneficente Tobias, 1984. Pio Correa, M(Dicionário das plantas úteis do Brasil, Min Agricultura, 1984) Vol II pg 343. Pelikan, Wilhelm(L’Homme et les plantes medicinales, Triades, Paris, 1986) Vol II pg 54. 5