99 Arq. Apadec. 4(2): ju1.dez.• 2000 o modelo de Van der Graaf esta pronto. No da esfera. No nosso modelo, uma regua carregada por atrito vai fazer 0 papel da correia. Ela e introduzida par urn dos orificios retangulares e sai pelo outro. Ver figura 5 Van der Graaf real, as cargas sao produzidas pelo atrito de uma correia e sao transportadas para dentro da esfera. La sao recolhidas por poder das pontas e distribuidas, em seguida, por toda a superficie , i U f' \ FigS o born bril dentro da esfera vai recolher as cargas do poder das pontas e manda-las para a superficie externa da bola. ASTRONOMIA COMETAS: OS MAIS ERRANTES ASTROS DO CEU Marcos Cesar Danhoni Neves' INTRODUC;AO Durante seculos os cometas tern atraido a aten~ao do ser humane na eterna busca de sua natureza e de sua fantasmag6rica viagem aos mais reconditos lugares do sistema solar. Arist6teles, 0 sabio grego de Estagira, ha cerca de 2.500 anos, acreditava que esses corpos partilhavam da natureza terrestre, inserindo-se em mais uma das manifesta~6es fisicas da fenomenologia atrnosferica. Ate Galileu Galilei, em sua obra II Saggiarore (0 Ensaiador), acreditou na natureza sublunar desses corpos celestes. Seu antecessor dinamarques e mestre de Johannes Kepler, 0 astronomo Tycho Brahe (1546-1601), acreditava, por sua vez, que os cometas tinham origem supralunar, isto e, estavam muito acima da 6rbita da Lua. Sua cren~a se baseava no fato de que 0 cometa que ele havia observado nao apresentava paralaxe perceptivel mensurada pelos seus instrumentos (suas observa~s eram feitas a olho nu com 0 aUJulio de grandes quadrantes), considerados os mais precisos de sua • epoca. Foi Edmund Halley (1656-1742), usando as leis de Newton para a gravita~ao e examinando as 6rbitas de varios cometas, quem descobriu uma periodicidade para urn deles: 76 anos. Previu, entao, a reapari~ao deste para 0 ana de 1758. Pena que nao viveu para ve-lo. Sua previsao estava correta e, gra~as a isso, esse cometa foi batizado com o nome de seus descobridor: Halley! Os cometas sao corpos que possuem 6rbitas extremamente excentricas: elfpticas (6rbitas fechadas), parab6licas au hiperb6licas (6rbitas abertas). o ser humane ja observou mais de mil cometas, sendo identificados, ate a presente data cerca de 700 deles (ver figuras 1 e 2). Suas apari~6es, freqiientemente, foram associados a eventos tragicos: guerras, epidemias, fome, deposi~ao de soberanos, etc. Mas isso nada tern a vercom a natureza dos cometas. Eles nao portam mal agouro, a menos, 6bvio, que caiam sobre nossas cabe~as! 'Oepartamentode Fisica, UEM, Av. Colombo, 5790, Maringa-PR. 87020-900, [email protected], www.dfi.uem.br/-macedane Arq. Apadec. 4(2): jul.dez.• 2000 100 Figura I - Cometa West Figura 2 - Cometa GiallO o COMETA HALLEY E OS DEMAIS Em 1910,0 cometa Halley reapareceu no ceu. A coincidencia levou esse astro a aparecer quatro anos antes da I Guerra Mundial. Sua apari<;:ao causou furor porque nunca, em tempos conhecidos, urn cometa havia chegado tao perto do planeta e de uma forma tao espetacu!ar. De fato, esse cometa possui urn nucleo relativamente grande, cerca de 10 kIn, uma coma (envolt6rio de gases: CH, NH 3 , NH, C" OH, etc.) de cerca de uma centena de milhar de qui16metros, e uma grande cauda que pode chegar a muitos milh6es de qui16metros, quando se aproxima do Sol. 0 tamanho aparente de sua cauda, ocupava cerca de 90 0 do ceu, 0 que chegou a envolver a Terra. Como essa possui cianeto (gas altamente t6x.ico), muitos acharam que nosso planeta seria sufocado por uma "nuvern venenosa". Foram vendidas milhares e milhares de mascaras anti-gas (que, quatro anos depois seriam utilizadas nas trincheiras dos campos de batalha) e muitas pessoas suicidaram-se (como acon- teceu recentemente nos EUA quando da apari<;:ao do cometa Hale-Bopp - onde mais de dez pessoas se mataram para "encontrar uma nave na cauda do cometa"). No entanto, a concentra<;:ao do cianeto era tao debil que nada de mais grave aconteceu. Em 1986, 0 Halley reapareceu, mas estava muito mais distante que aquela apari<;:ao de 1910, e sua visibilidade foi bastante prejudicada. Devemos relembrar que dois anos antes da primeira apari~ao do Halley no seculo XX, urn evento extraordinario havia ocorrido na regiao de Tunguska (ver figura 3), nas desertas e gelidas florestas da Siberia. Urn b61ido, a enorrne velocidade, atravessou 0 ceu sibilando numa longa trajet6ria e explodiu sobre a superffcie. A devasta~ao foi enorme. 0 rufdo foi ensurdecedor, e 0 incendio que se seguiu matou milliares de arvores e anirnais. A zona de destrui~ao, seria lembrada mais tarde como semelhante ade uma explosao nuclear (que tamb6m ocorre na atmosfera e nao no solo). Arq. Apadec, 4(2): jul.dez., 2000 102 , , MARTE, JUPITER E TERRA: HISTORIAS DE COMETAS ... as cametas sao as sobras da "fabrica plane- "Nemesis" seria uma estrela companheira do Sol, taria" que formou todos os planetas do sistema que, a cada longo perfodo de dezenas de milh5es solar. Acredita-se que estejam dispostos na assim de anos, perturbaria a nuvem cometana e lan~aria chamada "nuvem de Oort", localizada ha cerca de em dire~ao ao sistema solar milhares e milhares de cern milh5es de unidades astron6micas (I U.A. = cometas que, invariavelmente, bombarderiam as I SO milh5es de quiI6metros), distribuida atmosferas e superficies planetarias. Essa cren~a esfericamente em torno do sistema solar. Os co- surgiu devido ao fato de que muitos paleont61ogos metas escapariam dessa nuvem quando perturba- encontraram urn padrao de extin~ao que vai alem dos pelo complicado jogo gravitacional do sol e daquela encontrada para os dinossauros: e urn padrao de extin~5es em massa com uma periodicide suas estrelas mais pr6ximas. Existe, inclusive, uma teoria, a "Nemesis", que dade relativamentedefinida. A FIgura 7 mostra uma tenta explicar a extin~ao dos grandes repteis devi- representa~ao artistica de como teria sido 0 imdo a urn gigantesco impacto meteoritico ou pacto cometario responsavel pel a extin~ao dos cometario no golfo do Mexico (figura 6). A dinossauros. Figura 6 - Provavel area de impacto do meteorito/cometa que se abateu sobre 0 CretaceolTerciario Figura 7 - Representar;ao artfstica do impacto meteorftico/cometario Recentemente, em 1996, vimos 0 que urn impacto cometario pode causar sobre urn planeta. Jupiter foi atingido em cheio pelo cometa Schoemaker-Levy ((ou, simplesmente, SL9). Os estragos foram maiores porque esse cometa ("domestico", com uma orbita intema ao sistemajoviano) partiu-se em vanos peda~os, transformando-se .... numa especie de comboio ambulante. A serie de fotografias presentes na figura 8 mostra os pontos de impacto sobre a atmosfera de Jupiter. As nuvens do planeta foram "Iiquidificadas" numa area tao extensa como a propria Terra! Se fOssemos nos a vitima, muito pouco teria restado de vida sobre 0 planeta! Arq. Apadec. 4(2): jul.dez., 2000 101 Figura 3 - A taiga siberiana devastada Cientistas acreditam que a hipOtese mais provavel e a de que a choque tenha sido causado pela nucleo de urn pequeno cometa que explodiu no ar, uma vez que nao ha cratera de impacto, como aquela deixada em tempos pre-hist6ricos por urn meteoro no deserto do Novo Mexico-EVA (ver figura4), e, muito menos, material s6lido de origem extra-terrestre. Figura 4 - A cratera do Novo Mexico a entanto, os cometas sao considerados hoje como as possfveis disseminadores de compostos orgarucos, minerais e agua nos planetas que circundam suas respectivas estrelas. De fato, por ter 6rbita extremamente excentricas, urn cometa pode, ao longo de milhares de anos, rer sua 6rbita gravitacional tao perturbada que ele acaba se chocando com luas, planetas e estrelas. Como sao feitos praticamente de uma "bola de gelo suja", muitos cientistas che- gam a afirmar que toda a agua da Terra "choveu" dos reus em impactos sucessivos e rotineiros na longa hist6ria da formac;:ao planetaria do sistema solar (ver as crateras de impacto de uma das luas de JupiterGanymede - figura 5). Recentemente, cogita-se a hip6tese de todD a ouro de nosso planeta ter origem extra-terrestre, fruto de impacto meteorftico eI , . au cometano. Figura 5 - 0 satelite Ganymede de Jupiter Arq. Apadec. 4(2): jul.dez., 2000 Figllra 80 - Representa,Qo artlstica do cometa SL-9 proximo a J"piter Figura 8b - Pontos de impacto (a zona escura sllperior trata-se de IlIIl sateLite). Foto em lIltravioleta. As letras representam coda IlIn dos jragmentos do cometa. Figllra 8c - Sequencia completa dos impactos (pontos claros) 103 Arq. Apadee, 4(2):jul.dez., 2000 104 Em rela<;ao a impactos, parece ter sido urn meteoro ou pequeno cometa a ter arrancado de Marte fragmentos importantes de sua superffcie que, durante urn periodo impreciso de anos, decadas ou seculos, fizeram vagar pela 6rbita intema do sistema solar estilha<;os de rochas que, posteriormente, vieram a cair sobre a Terra. Alguns desses meteoros foram encontrados na Antartida (figura 9). 0 mais espetacular nessa descoberta foi a descoberta de pequenas estruturas tubulares, cilfndricas, presentes em urn dos meteoros (AHL84001), que podem ser os vestigios de microf6sseis (figura 10). Se a NASA confirmar essa descoberta, urn dos grandes enigmas da Universo estara desfeito: a de que a vida e mais comum do que pensamos e de que nao estamos sozinhos no Cosmos. Figura 9 - Meteorito eneontrado na An/artida Figura lOa - 0 meteorito marciano ALH84001 • A cross sect i on of t he met eorit e (NASA) Figura lOb - Uma se,ao do meteorito (AHL8400l) em microfotografia Arq. Apadec, 4(2): jul.dez., 2000 105 Figura JOe - Microfossil (?) sabre a metearito AHL8400J ERRATA A figura abaixo deve substituir a de numero Zie, que saiu duplieada no artigo "ASTRONOMIA DO FAZER: ALGUNS INSTRUMENTOS UTEIS PARA A COMPREENSAo DOS FENOMENOS DO CEU E DA HISTORIA DA ASTRONOMIA", publieado em Arq. Apadec, 3(2): jul.dez., 1999, na pagina 53. -• • • •t '\ . ~ • ~ ... • • .. I,, i ..• •'