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NOBREZA E ARMAS DE FAMÍLIA
André Claeys
No meu estudo acerca dos Flamengos nos Açores entre 1450 e 14801, amiúde são referidas as armas de
família, sem que seja claro quando se trata de armas nobreza, de cavaleiros, de escudeiros ou
simplesmente de famílias prósperas.
Este assunto deve ser esclarecido no último estudo sobre os Flamengos em Portugal e no Brasil.
Listas de nobreza no Condado da Flandres nos séculos XVI e XV
1. Nobreza
Nos finais do século XI e inícios do século XII, a nobreza flamenga constituía indubitavelmente um
grupo económica, social e militarmente dominante. Após 1128, a nobreza rural da Flandres encontravase obscurecida pela dinâmica económica e política das cidades de Bruges, Ghent e Ypres.
Em 1302, após a Batalha das Esporas de Ouro ou de Courtrai, que opôs a Flandres e a França, patrícios e
comerciantes assumiram a ribalta, enfatizando a força autonómica das cidades flamengas e a sua
independência perante a estrutura senhorial feudal.
No século XIV, as cidades emergentes do Condado da Flandres obtiveram sucesso na sua afirmação
contra as grandes cidades flamengas, afirmando a sua jurisdição nas áreas rurais.
Durante a crise do final da Idade Média, surgiu um grupo de nobres que ficou conhecido como
*coleccionadores de territórios senhoriais+. Os membros deste grupo usavam os seus rendimentos para
aumentar o seu património, comprando territórios senhoriais e feudais àqueles nobres que se
encontrassem em dificuldades financeiras. Um senhorio é um território sobre o qual o senhor exerce
com independência a sua autoridade com direito legislativo, de jurisdição e de governo. Por vezes o
senhor era proprietário do senhorio, mas muitas vezes exercia o senhorio por concessão do rei ou de
outro senhor. Os senhorios existiram até à revolução Francesa.
Todos os cavaleiros com direito ao título de *mer+ eram nobres. Mas nem todos os nobres eram
cavaleiros. Nem todos os descendentes de cavaleiros pertenciam à nobreza.
O título de escudeiro era comum entre os jovens nobres de famílias nobres, que não haviam ainda
obtido o título de cavaleiro. Os escudeiros iniciavam-se como pajens. E tornavam-se escudeiros
somente quando aos olhos do senhor tivessem provado, em batalha ou em torneio, possuir as
qualidades próprias de um cavaleiro. Muitos dos membros da baixa nobreza permaneceram escudeiros
ao longo das suas vidas, sem que nunca tivessem chegado a ser cavaleiros. Somente em 1595 a nobreza
foi objeto de estatuto, por legislação real.
A nobre família Van Brugge-Gruthuyse contou com vários cavaleiros entre os seus membros. Na
família Van Aertrycke, de patrícios de Bruges, John Van Aertrycke, senhor de Tillegem, era
mencionado como escudeiro, descendente de uma nobre família.
Os membros da família De Hurtere da região de Wijnendale, que também emigraram para os Açores,
Clays De Hurtere e Louys De Hultre eram referidos como escudeiros.
É interessante fazer uma comparação dos títulos nobiliárquicos medievos com os da Bélgica atual:
1
Vlamingen Op De Azoren Sinds De 15de Eeuw. Veja:
http://www.bparah.azores.gov.pt/html/bparah-arquivo+regional-documentos+genealogicos-aclaeys.html
Príncipe / princesa, duque / duquesa, marquês / marquesa, conde / condessa, visconde / viscondessa,
barão / baronesa, cavaleiro (exclusivo para homens), baronete / dama. A maior parte destes títulos são
herdados pelo descendente primogénito. Atualmente existem ainda cerca de 200 famílias nobilitadas:
e.g. Van Outryve d'Ydewalle. Entre as nobres famílias de baronetes, encontram-se, por exemplo,
Breydel de Groeninghe, Uyttenhove, Claeys Boùùaert e de Smet de Nayer.
2. As armas são um símbolo heráldico
De início o uso de armas era exclusivo dos cavaleiros. No século XIII também já as usavam outros
importantes *civis+, tornando-se o seu uso sinal de prosperidade e prestígio das classes médias. Nos
séculos seguintes, as armas de família tornaram-se mais comuns em todas as classes sociais.
Atualmente, por uma boa quantia de dinheiro, possuir armas de família é dado a qualquer um, cabendo
ao Conselho Flamengo de Heráldica o acompanhamento da sua atribuição.
Conhecemos as armas de família da maior parte dos Flamengos que emigraram para os Açores e de
seus descendentes. Muitos deles provinham de famílias prósperas.
Somente Jacob Van Brugge, Josse Van Aertrycke e Joost, Josine and Boudewijn De Hurtere eram,
seguramente, de ascendência nobre.
Faço esta clarificação especialmente à atenção de um genealogista português que, humilhantemente,
considerou Van Aertrycke B da Terra (Van de Aarde, tal como foi traduzido) como originário de baixa
classe, de souche populaire, ou estrato popular.
Um terceiro notável de Bruges, Martin I Lem, foi um próspero comerciante grossista que permaneceu
quatro décadas em Portugal, a quem o rei concedeu armas em 1464. Vários dos seus descendentes,
portugueses e brasileiros, foram igualmente nobilitados. Especialmente durante as primeiras cinco
gerações, enquanto foram financeiramente fortes e influentes, muitos deles desempenharam funções
muito importantes, em diferentes instituições governamentais.
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