1 CAIO FÁBIO TEIXEIRA CORREIA O CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA Monografia apresentada ao Programa de Educação Tutorial do curso de Bacharelado em Física diurno, com finalidade de cumprir uma das obrigações anuais perante o programa. Universidade Federal da Paraíba Tutor: Prof. Dr. Pedro Luiz Christiano JOÃO PESSOA, 2007. 2 RESUMO: O campo magnético do planeta Terra é um dos diversos fatores fundamentais para a manutenção da vida, pois é essencial para o equilíbrio dos ciclos atmosféricos e geológicos, protegendo direta e indiretamente os seres vivos. Talvez nosso lar não fosse capaz de sustentar a vida sem ele. Neste trabalho, de aspecto inteiramente informativo, será abordado como é um campo magnético, de que forma ele é gerado no planeta, seu equilíbrio, a maneira como interage com os ventos e as tempestades solares e será mostrado, nos apêndices, um pouco sobre os campos magnéticos dos outros planetas, a título de comparação. As tempestades e o Vento Solar influenciam e interagem fortemente com o campo magnético de nosso planeta, formando anéis de partículas, ondas de choque, distorção no seu formato, auroras, entre outros fenômenos. Analisando rochas vulcânicas, potes de barro e medições dos navegadores desde o séc. XVI, os especialistas têm fortes evidências de que um dos processos naturais que nele ocorrem é o fenômeno da inversão de polos, e que isto pode estar começando a ocorrer, deixando o planeta desprotegido por centenas de anos. Palavras-chave: Eletromagnetismo, Vento solar, Magnetosfera, Aurora, Inversão de campo. 3 AGRADECIMENTOS Tenho a agradecer, primeiramente, às pessoas mais próximas de mim, como meu pai, por não medir esforços em me dar as condições para que eu possa estudar confortavelmente. Minha namorada, Marina, por sempre conseguir me descansar das horas pesquisando ou escrevendo essa monografia, pela disposição em ajudar, através de algumas dicas e por ser a única a ter paciência de me ouvir explicar sobre o que estou escrevendo. E, claro, a todos integrantes (de agora e do passado) do Programa de Educação Tutorial, por manterem essa oportunidade de que realizemos várias atividades que visam nossa formação completa como cientistas e cidadãos. Seria injusto não mencionar aqui o tutor do grupo, Prof. Pedro, pela disposição, crença e dedicação ao programa, que são também incentivos para a realização e dedicação de forma satisfatória a este trabalho. 4 SUMÁRIO: 1. 2. 3. 4. OS ÍMÃS E OS CAMPOS MAGNÉTICOS . A ORIGEM DO CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA VENTO SOLAR E EJEÇÕES DE MASSA CORONAL ESTRUTURA E INTERAÇÃO COM O VENTO SOLAR 4.1 4.2 4.3 4.4 5. A Magnetosfera . . Cinturões de Radiação de Van Allen Tempestades Magnéticas . As auroras . . . . . . . . . . . . . . EQUILÍBRIO DO CAMPO DE ORIGEM INTERNA 5.1 5.2 5.3 Potes de barro e o histórico de quatro séculos Paleomagnetismo e inversões de campo O processo e consequências . . REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05 08 10 12 . . . . . . . . . . . . . . . . 12 13 15 16 . . . . 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 19 20 . . . . . . 22 . . . . 24 25 . . . . . . . . . . 25 27 28 29 30 APÊNDICE A - TABELAS DE ALGUMAS UNIDADES ÚTEIS . . APÊNDICE B - UM RESUMO SOBRE OS CAMPOS DE OUTROS ASTROS A.1 A.2 A.3 A.4 A.5 O sol . Mercúrio. Vênus . Marte . Planetas gasosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1 OS ÍMÃS E OS CAMPOS MAGNÉTICOS Antes de apresentar sobre o campo magnético da Terra, se faz necessário explicar os campos magnéticos em geral, ímãs e fenômenos capazes de gerar campos magnéticos. As propriedades magnéticas das substâncias se devem a uma das propriedades quânticas dos elétrons, seu spin (palavra em inglês que significa girar em torno de si mesmo). O conceito de spin surgiu da necessidade de se explicar os resultados inesperados obtidos na experiência de Stern-Gerlach na década de 1920. Nessa experiência, um feixe colimado de átomos de prata, oriundos de um forno a alta temperatura, atravessava uma região com campo magnético altamente não-homogêneo. Tal experimento era destinado a medir a distribuição dos momentos magnéticos, devidos principalmente aos elétrons. Como os átomos, na temperatura em que estavam emergindo do forno, estavam no seu estado fundamental, deveriam sofrer desvios nulos na presença do campo magnético não-homogêneo, ou seja, esperava-se que o feixe espalhasse de forma aleatória, durante seu tempo de vôo. No entanto, o resultado obtido foram duas manchas de depósito de prata sobre o alvo, indicando que o feixe se dividira em dois durante o percurso. Isso indicou que o momento angular total de cada átomo de prata não era nulo. Dessa forma, além do momento angular orbital dos elétrons, estes possuíam então um outro momento angular, intrínseco, uma propriedade quântica da matéria, que foi chamado de “spin” e só admite duas configurações, como é comum dizer: para cima ou para baixo. Como o elétron tem carga, desse momento angular intrínseco deriva-se um momento magnético, se comportando como uma minúscula agulha magnética, tendendo a se alinhar na direção do campo magnético a que está submetido. Na maioria dos átomos, o spin total é nulo, pois os elétrons ocupam os orbitais satisfazendo o princípio da exclusão de Linus Pauling, ora com o spin de um elétron num sentido, ora no outro. Entretanto, para certos elementos, devido à sua forma, o spin total é diferente de zero, fazendo com que o átomo tenha um momento magnético temporário ou permanente. Este é o caso dos elementos do grupo de transição do ferro, como níquel, manganês, ferro e cobalto, e vários elementos de terra raros, como európio, gadolínio, entre outros, e algumas ligas formadas por esses elementos. Em geral, diz-se que campos magnéticos são gerados quando ‘partículas’ com cargas elétricas estão em movimento (ao mencionar partículas, estarei sempre me referindo aos corpos com tamanho da ordem de um átomo, de partículas atômicas). Assim, ao passar corrente elétrica através de um fio, se formará um campo magnético nas suas proximidades. Os campos magnéticos também podem ser gerados quando ocorre variação de um campo elétrico e vice-versa. O magnetismo está intimamente conectado com a eletricidade, por isso, hoje em dia, se fala em eletromagnetismo, dado que são fenômenos físicos interligados. Por exemplo, ao colocarmos partículas carregadas (íons) para movimentar-se em um campo magnético qualquer , elas provavelmente sofrerão a ação de uma força e irá se mover de uma forma que depende de sua carga ser positiva ou negativa; se a partícula for neutra, como um nêutron, ou um corpo sem carga elétrica, esse não sofrerá nenhuma influência desse campo. Um hidrogênio neutro não sofreria influência resultante de um campo magnético, mas este pode ser tão intenso, que a força magnética pode sobrepujar a elétrica que há entre um próton e um elétron e separá-los. 6 Os ímãs são conhecidos desde a antiguidade. Os primeiros relatos de experiências com a magnetita, o ímã natural, são atribuídos aos gregos e datam de 800 a.C. Seu nome vem do fato de ele ser muito comum na cidade da Magnésia, origem de quase todo o mineral para aquelas regiões. Mas sua primeira utilidade foi como bússola, inventada pelos chineses, que descobriram que uma agulha magnetizada sempre apontava aproximadamente para a direção Norte. As bússolas foram importantes aliadas para os navegadores do início da era moderna, já que era um instrumento necessário para saberem com boa precisão em que direção estavam indo. Elas eram cruciais quando não era possível se orientar pelos astros. Esse minério, cujo nome científico é magnetita, é um óxido de ferro, formado, aproximadamente, por 31,0% de FeO, e 69,0% de Fe2O3. Possui a forma hexaoctaédrica (duas pirâmides opostas pelas bases) e é encontrado comumente em rochas magmáticas, rochas metamórficas, em meteoritos e até diluída em areia de praia. Sua forma estrutural faz com que o spin total da molécula não seja igual a zero, esse efeito se combina com as outras moléculas do mineral, gerando um campo magnético ao seu redor. Ímãs também podem ser gerados artificialmente a partir da eletricidade, são os chamados eletroímãs, que podem ser construídos ao passar corrente elétrica através de um solenóide enrolado numa barra de ferro, aço, níquel ou cobalto. Por dentro do solenóide forma-se um campo magnético, e o metal toma as características desse campo, transformando-se num ímã temporário. Ao desligar a corrente, o metal perde sua propriedade magnética. Materiais diferentes reagem diferentemente ao magnetismo. Existem os que são repelidos pelos ímãs, são os materiais diamagnéticos. Um campo magnético faz com que o movimento dos seus elétrons se altere, gerando um outro campo magnético que se alinha em direção oposta ao externo, causando a repulsão. Os paramagnéticos são os materiais que são atraídos pelos imãs. Mas sem a influência do campo, o material mantém os spins de seus elétrons orientados aleatoriamente. Os efeitos magnéticos desses são muito pequenos. O que os diferencia dos materiais ferromagnéticos, que são os elementos do grupo de transição do ferro e sofrem forte atração para onde o campo magnético é mais intenso. É importante lembrar que os campos magnéticos possuem pólos opostos, denominados Norte e Sul que vêm sempre acompanhados um do outro. Até hoje não foram encontrados monopólos magnéticos, apesar de terem sido previstos por algumas teorias. Para se observar facilmente a forma de um campo magnético, basta colocar pó de ferro nas proximidades de um ímã, que as partículas se alinharão com as linhas de campo. E, através de uma convenção, ficou definido que essas linhas de campo têm um determinado sentido e que esse sentido é que as linhas ‘saem’ do norte e ‘entram’ no sul. E o campo é mais intenso quanto maior for a concentração de linhas numa região do espaço. Figura 1: Campo magnético de um ímã Crédito: Caio Fábio T. Correia Corpos com propriedades magnéticas interagem entre si, dando origem a forças de atração ou repulsão. Ao aproximar pólos ‘opostos’, temos uma atração e ao aproximar pólos semelhantes, ocorre uma repulsão. A origem dos termos Norte e Sul para os pólos se deve ao fato de que, como a Terra possui um campo magnético em seu exterior, os 7 ímãs na superfície estão imersos nesse campo e tendem a se alinhar com ele, quando podem ter movimento livre, e daí veio a origem da bússola. A ponta que aponta (aproximadamente) para o Norte acabou recebendo o nome de pólo norte e o pólo sul do ímã ficou a parte que apontava para o sul geográfico. Acontece que com o entendimento do magnetismo e a definição das linhas de campo, para definir o campo magnético terrestre, o pólo sul magnético deveria ficar na direção do pólo Norte geográfico e viceversa, o que gera uma pequena confusão de entendimento. 8 2 A ORIGEM DO CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA O planeta Terra possui um campo magnético ao seu redor e o formato desse campo é como se dentro dele houvesse uma grande barra magnética, onde o norte magnético estaria próximo ao pólo sul geográfico e o sul magnético, próximo ao Norte geográfico. Porém, seria estranho algum geólogo ou físico afirmar que existe essa grande barra magnética em seu núcleo, mesmo que ninguém possa ir lá ver diretamente. Para explicar, também se faz necessário conhecer um pouco da geologia de nosso planeta, é preciso saber como ele é por dentro. Figura 2: Esquema do campo magnético terrestre. Crédito: Caio Fábio T. Correia. A Terra tem um formato aproximado de uma esfera com raio médio de 6.378 km. Contando a partir do centro, o núcleo interno chega a ter 1.228 km de raio, o núcleo externo começa onde termina o interno e vai distando-se do centro do Planeta até 3.488 km, ou seja, mais de 54% do diâmetro da Terra é preenchido pelo Núcleo e 32% de sua massa se encontra lá. Entre o núcleo externo e o manto existe uma camada de transição com uma espessura de 190 km e o manto se estende de 3.678 km até 6.338 km de raio, chegando a conter mais de 67% da massa do planeta inteiro. E finalmente sobram, em média, 40 km de espessura para a crosta terrestre. Figura 3: Estrutura da Terra. Crédito: Enciclopédia do Espaço e do Universo, DK Multimedia Esses dados foram obtidos indiretamente, através de estudos de como as ondas sísmicas são alteradas quando passam através dessas estruturas, mas isso não será abordado aqui. A Terra não é tão sólida quanto parece, a maior parte do planeta possui uma consistência de fluido. O núcleo é composto por 80% de ferro e 19% de níquel. O núcleo interno é essencialmente rígido, já o externo possui uma consistência de semifluido e é um bom condutor de eletricidade, nele ocorrem movimentos convectivos, pois existe uma constante troca de calor entre o núcleo e o manto. As temperaturas no centro do núcleo podem chegar aos 7.500 Kelvins, mais quente que a superfície do Sol. Já o manto é mais rico em silício, oxigênio e magnésio. Vamos nos concentrar no entendimento do núcleo da Terra. Enquanto a Terra gira, o globo metálico que forma o núcleo gira 2º por ano mais rápido que a superfície da Terra.. Essa volta extra do núcleo em relação ao resto do planeta pode ajudar a explicar como a Terra gera seu campo magnético. Ainda, o centro deste dipolo magnético está deslocado 527 km do centro geográfico da Terra, na direção do Pacífico e tem uma inclinação de 11,3° em relação ao eixo rotacional de Terra. Mas a chave mesmo, segundo os cientistas são os movimentos convectivos e a condutividade elétrica do 9 núcleo externo. Como a terra gira em um sentido, e o núcleo interno também, porém mais rápido, a convecção e rotação do núcleo externo se dá nesse mesmo sentido. Criando assim, um padrão de rotação do ferro líquido que nele se encontra. Se esse modelo estiver correto, poderá explicar qualitativamente com certa simplicidade, como o campo magnético do planeta é gerado. Então, estando o modelo correto, poderia funcionar em laboratório e isso foi experimentado na Universidade de Maryland, sob supervisão do Prof. Dan Lathrop. A equipe usou o metal sódio, um forte condutor e com temperatura de fusão próxima à de ebulição da água, à pressão atmosférica, o que o torna mais fácil de ser manuseado. Eles usaram 110 kg de sódio líquido dentro de uma esfera de metal e colocaram-na para girar como a Terra e fizeram medidas do campo magnético gerado por ela própria, tentando assim, criar um dínamo auto-sustentável. Porém é preciso que primeiro seja induzida uma corrente elétrica dentro do núcleo de sódio. Sendo necessário apenas um campo magnético externo. Eles não têm certeza do que pode ter gerado o campo magnético da Terra, embora o campo magnético do Sol possa ter induzido tal fenômeno. Se a teoria do dínamo eletromagnético estiver certa, então o campo gerado pelo núcleo de Sódio deveria ser mais forte que o campo iniciado pelo ímã, que é o que ocorre na realidade, entre o campo da Terra e o gerado pelo Sol em suas proximidades, mas até agora isso não foi registrado por eles. O experimento mostrou, pelo menos, quão crucial é o metal líquido para o surgimento de um campo magnético no interior do planeta. Apesar das proporções astronômicas, o campo magnético gerado pelo planeta tem, em média, uma intensidade de 0,5 oersted na superfície, 20 vezes mais fraco que um ímã de geladeira. 10 3 VENTO SOLAR E EJEÇÕES DE MASSA CORONAL Antes de saber como se comporta o campo magnético fora da Terra, é preciso antes entender como o Sol influencia o Campo Magnético da Terra, através dos ventos solares e das ejeções de massa coronal. O vento solar é um fluxo de partículas eletricamente carregadas, formado principalmente por prótons, elétrons e alguns núcleos de hélio a uma velocidade aproximada de 600 km/s e com uma densidade média de 1,5 prótons por centímetro cúbico. Este fluxo tem origem na Coroa Solar. E à medida que deixa o Sol, leva consigo a polaridade do campo magnético de onde partiu, arrastando as linhas de campo para o espaço, formando o Campo Magnético Interplanetário (CMI), que nas proximidades do planeta Terra tem uma intensidade 10.000 vezes menor que o campo magnético da própria Terra, na superfície. A coroa solar é distinguida em três estruturas principais: A coroa interna que chega a 1,3 RS (raios solares) a partir da cromosfera; Coroa intermediária que vai de 1,3 a 2,5 RS e a Coroa externa de 2,5 a 24 RS. Normalmente, são as coroas internas e intermediárias que são possíveis de se ver a olho nu durante os eclipses totais do Sol. Figura 4: Estruturas do Sol. Crédito: Centro de Divulgação Científica e Cultura, USP. Paradoxalmente, a temperatura dos gases da atmosfera solar aumenta à medida vão se distanciando de sua superfície de 5.800 °C para alcançar 1 a 2 milhões de graus Celsius na Coroa. Como a temperatura está associada à velocidade das partículas, a essa temperatura, a gravidade do Sol não é capaz de conter esse gás, que escapa em todas as direções, dando origem ao vento solar. Físicos solares acreditam que os responsáveis pelo aquecimento da coroa são ondas, instabilidades, turbulência e a energia liberada na reconexão de linhas de força do campo magnético do Sol. Mas os processos que se desenrolam na Coroa Solar não são bem conhecidos, pois nenhuma sonda chegou mais perto do Sol que a Hélios, na década de 70, que mantém o atual recorde de 60 RS de distância à superfície deste (interior à órbita de Mercúrio, mas bem longe da coroa solar), onde ocorre a aceleração do vento solar. Figura 5: Coroa solar em julho de 1991. Crédito: Marshall Space Flight Center, NASA No entanto, existe um projeto de sonda, chamado Solar, que poderá ser lançado em 2014, com objetivo de estudar as origens e diferenças no vento solar em diferentes distâncias e fases do ciclo magnético de 11 anos do Sol (Ver apêndices). Esta sonda deverá ter uma órbita que varia da distância de Júpiter ao Sol, até 3 RS de distância da fotosfera solar, que chamamos de superfície do Sol. 11 Segundo David P. Stern (2003), quando o plasma se move dentro de um campo magnético, o que acontece depende da força relativa entre ambos, se o campo magnético for forte, então ele domina o que acontece com o plasma, mas quando o campo é fraco, então o plasma arrasta o campo magnético consigo. E é esta interação que acontece entre o vento solar e o campo magnético gerado pelo Sol. Este campo magnético deformado recebe o nome de Campo Magnético Interplanetário (CMI). Dada a rotação do Sol, de 27 dias para um volta completa, ele gira 13° por dia. Então um ponto de sua superfície emana partículas em diferentes direções a cada dia. Mas existe uma lei física que influencia no que ocorre aí: “Se dois ou mais íons iniciam em uma mesma linha de campo, elas irão sempre compartilhar essa mesma linha de campo”. Isso faz com que o CMI se atrase a grandes distâncias, ao tentar acompanhar a rotação do Sol. A figura 7 ilustra essa interação, Onde as linhas de campo magnético são vermelhas, as linhas pretas, são as direções que o vento solar segue e os números indicam a posição de partículas do vento solar emanando de um único ponto de sua superfície ao longo dos dias, iniciando a contagem no momento em que a primeira partícula saiu de um determinado ponto, indicado pelo número 1, na figura seis. Figura 6: O Campo Magnético Interplanetário. Crédito: Educational Web Sites on Astronomy, Physics, Spaceflight and the Earth's Magnetism Além do vento solar, o Sol é origem de um evento ainda mais dramático, são as Ejeções de Massa Coronal, que estão diretamente ligadas às manchas solares (Ver apêndices) e, como sugere o nome, são emissões de bastante matéria, com elevadíssimas energias, em relação à média do que é emitido pelo vento solar, vindas da Coroa Solar. E, segundo Kepler de Sousa, em Astronomia e Astrofísica, SP - 2004, elas são constituídas de bilhões de toneladas de matéria em forma de bolha e aquecidas pelo campo magnético do Sol, a origem dessa ejeção ocorre em alguns minutos e tem uma energia equivalente a milhares de bombas atômicas. Ao lado, uma foto bastante usada para ilustrar uma ejeção desse tipo, tirada na região do infravermelho do espectro eletromagnético. Esse tipo de evento, quando atinge a Terra, gera grandes e graves consequências, sendo, portanto, importante mencionar. Figura 7: Ejeção de Massa Coronal. Crédito: Astrnomia e Astrofísica 12 4 A INTERAÇÃO COM O VENTO SOLAR O vento solar é, em sua grande parte, forçado a desviar da Terra, pelo Campo magnético, que também fica distorcido. Para se ter uma idéia, na direção do Sol, o campo da Terra se estende, em média, a 10 RT (raios terrestres); no lado oposto ao Sol, a cauda magnética fica em média a 30 RT, mas pode chegar até 200 RT. Dessa forma, a Lua (que varia de 56 a 62 RT da superfície) pode ficar imersa momentaneamente no campo magnético da Terra. 4.1 A Magnetosfera A magnetosfera é a região que sofre a influência do campo magnético da Terra e é comumente divida em três regiões básicas: A Magnetosfera Interna, a Camada de Plasma, e os Lóbulos da Cauda. A magnetosfera interna se estende da atmosfera superior a 8 RT (Raios Terrestres) no lado noturno, englobando os dois cinturões de radiação, mas não incluindo as regiões sobre os polos. E têm uma corrente elétrica associada, chamada de Corrente do anel. Possui densidade típica de 1 íon/cm3. Figura 8 – A Magnetosfera da Terra Crédito: Enciclopédia do Espaço e do Universo, DK Multimedia A camada de plasma existe numa região onde o campo magnético é fraco, fica centrada no equador da cauda magnética, é uma grossa camada de plasma com espessura de 3 a 7 RT, com densidade de 0,3 a 0,5 íons/cm3 e a energia típica dos íons é de 2 a 5 keV. É bastante dinâmica, com esses valores variando grandemente. Esse plasma que flui tem sua própria corrente elétrica associada, chamada de Corrente Cauda. Essa corrente que atravessa a cauda magnética pode ser vista como a origem dos lóbulos da cauda. Figura 9 – As correntes da camada de plasma Crédito: Educational Web Sites on Astronomy, Physics, Spaceflight and the Earth's Magnetism Os lóbulos da cauda se estendem ao longo da cauda magnética da Terra, no lado noturno, limitada pela camada de plasma, com linhas de campo relativamente suaves até que convirgam para os polos. A densidade de plasma nessa região é bastante baixa, da ordem de 10-2 íons/cm³. O campo magnético nessa região é relativamente forte, armazenando apreciável energia magnética, que os estudiosos acreditam ser a fonte das sub-tempestades magnéticas. Separando a magnetosfera do Campo Magnético Interplanetário, existe uma terceira corrente elétrica, chamada de Corrente da Magnetopausa. Atente para o fato de que devem existir mais correntes elétricas nesse sistema, pois para haver correntes elétricas estáveis, esses circuitos por onde passam correntes devem ser fechados. Mas esses detalhes não são de suma importância para o entendimento da dinâmica geral do campo magnético da Terra e, por isso, não serão discutidos aqui. 13 4.2 Cinturões de Van Allen A Terra tem dois cinturões de radiação. O termo “Cinturão de Radiação” é aplicado geralmente à parte mais energética da população do plasma preso ao campo magnético, íons com mais que 1 MeV de energia, aproximadamente. Na figura 8, o cinturão interno, que pode variar sua distância de 700 a 10.000 km (0,1 a 1,5 RT) de altitude, está grifado de verde e o externo, que pode variar de 13.000 a 65.000 km (2 a 10 RT) de altitude, está grifado de cinza. Note que a distância de cada cinturão de radiação varia enormemente de acordo com a latitude sobre a qual estão as partículas presas a eles. Figura 10 –Cinturões de radiação e eixos rotacionais e magnéticos Crédito: Wixipedia As fontes de partículas dos cinturões de radiação são o Sol e a galáxia, esses íons estão sendo desviados ou orbitando o planeta, não pelo campo gravitacional, mas pelo seu campo magnético, que cria órbitas bem diferentes das originadas por campos gravitacionais. As partículas carregadas que ficam presas à Terra seguem as linhas de campo magnético, ao mesmo tempo em que circulam tais linhas centenas de vezes por segundo, resultando numa trajetória helicoidal, além de um terceiro movimento de translação ao redor da Terra em determinado sentido. Na figura 8 está indicado os sentidos das rotações dos elétrons (Oeste – Leste) e íons positivos (Leste – Oeste). Figura 11 – Órbitas magnéticas Crédito: Educational Web Sites on Astronomy, Physics, Spaceflight and the Earth's Magnetism Esses movimentos dessas partículas carregadas eletricamente geram correntes elétricas, que por sua vez, geram outro campo magnético que intensifica ligeiramente o campo magnético, pelas medições na superfície. Os lugares onde essas correntes fluem ficam nas linhas de campo nos cinturões de radiação, na magnetosfera interna, são os já mencionados anéis de Corrente. “Em típicas linhas de campo, unidas à Terra em ambas as extremidades, tal movimento conduziria logo as partículas à atmosfera, aonde colidiriam e perderiam sua energia. Entretanto, uma característica adicional desse movimento orbital geralmente impede que isto aconteça: o movimento da partícula retarda à medida que ela se move para as regiões onde o campo magnético é forte, chegando até a parar e inverter. É como se as partículas fossem repelidas de tais regiões, um contraste interessante com o ferro, que é atraído para onde o campo magnético é forte.” (STERN, 2003). O nome dado aos cinturões de radiação foi uma homenagem ao cientista espacial James Van Allen, que liderou a equipe da Universidade de Iowa responsável pelo desenho e construção do primeiro satélite americano lançado com sucesso, o Explorer 1, lançado em 31 de Janeiro de 1958, pela NASA, e que fez as primeiras detecções da radiação espacial. Suas detecções foram um pouco confusas, por conta do alto índice de radiação, mas que mais tarde foram esclarecidas pelo Explorer 3 (O lançamento do Explorer 2 falhou), comprovando a existência do cinturão interno de radiação. 14 O Cinturão Interno também foi descoberto independentemente em 1958 pelos estadunidenses S. Fred Singer (U. de Maryland), Paul Kellogg (U. de Minnesota) e o russo S.N. Vernov (USSR) e confirmado em 1959, através de experimentos com foguetes levando filmes fotográficos especiais para detecção de partículas energéticas. O Cinturão Interno de Radiação é um subproduto da radiação cósmica da galáxia (prótons e elétrons, principalmente, que bombardeiam a Terra de todas as direções). Embora a quantidade de energia recebida através desses raios cósmicos seja comparável à energia que recebemos das estrelas distantes, o cinturão acumula partículas durante anos, proporcionando uma população permanente de partículas carregadas. Quando estes raios cósmicos vêm em direção à Terra, sua velocidade é tão alta que o campo magnético não consegue contê-los, mas quando atingem a atmosfera, se chocam com núcleos de gases atmosféricos e dão origem a várias partículas, que são absorvidas na atmosfera, no chão, ou tomam rumo para longe da Terra. Dentre estas partículas que podem surgir das colisões está o nêutron, que não interage com campos magnéticos, mas que, quando não está num átomo, decai, em média, em 10 minutos, num próton, um elétron e um neutrino. Este novo próton livre que vai na direção do espaço, dependendo da energia que possui, pode ser preso pelo campo magnético. A figura 9 esquematiza esta que é a teoria mais aceita acerca da reposição de partículas no cinturão interno de Van Allen. Figura 12 – Origem do cinturão interno Crédito: Educational Web Sites on Astronomy, Physics, Spaceflight and the Earth's Magnetism O Cinturão Interno de Radiação ocupa uma região compacta sobre o equador, tem uma baixa densidade, mas suas partículas têm elevada energia, da escala de 10 a 100 meV, que podem penetrar e danificar naves ou apresentar perigo para astronautas, em exposição prolongada. O Cinturão Externo de Van Allen foi descoberto pelas sondas espaciais Pioneer 3 e 4, lançadas, respectivamente, em dezembro de 1958 e março de 1959. A Pioneer 3 não alcançou seu objetivo em comum com a sonda nº. 4, que era de alcançar a Lua, devido uma falha e alcançou 102.320 km de altitude, retornando à Terra para queimar na atmosfera. Mas ambas detectaram esse segundo cinturão de radiação. A Pioneer 4, após passar pela Lua ficou orbitando diretamente o Sol. Provavelmente, seus elétrons (com típica energia de 50 keV) vêm do vento solar e estavam na longa cauda magnética da Terra, com suas linhas esticadas no lado noturno da magnetosfera e foram capturados no momento em que ocorreu uma tempestade magnética. Note que os dois cinturões de radiação requerem situações bem específicas para serem alimentados por novas partículas, mas que estes eventos ocorrem com certa freqüência, impedindo um déficit de partículas em grande quantidade ou a longos prazos. 15 4.3 Tempestades Magnéticas O termo Tempestade Magnética (TM) diz respeito a perturbações no campo magnético global da Terra e foi cunhado pelo naturalista Alexander Von Humboldt (1769-1859). As tempestades magnéticas podem ser detectadas através da medição do campo magnético na superfície, através de magnetogramas (cujos dados podem ser encontrados facilmente na internet). A assinatura típica de uma TM é um campo magnético com sentido sul, que enfraquece o campo norte observado próximo ao equador da Terra, sugerindo que sua origem é a corrente de anel que circula a Terra. Durante essas TM, o cinturão externo de radiação fica muito mais intenso, sendo reforçado por prótons vindos da cauda magnética e uma pequena porcentagem de íons de oxigênio vindos da atmosfera superior. Na monitoração do campo magnético, os observadores introduziram um “índice Dst” (D de distúrbio e “st” para “storm”, que significa tempestade) que dá uma idéia da intensidade da corrente do anel. Dessa forma, se definiu uma tempestade magnética como qualquer intervalo de tempo onde o Índice Dst for menor que -20 nT. Figura 13 – Índice Dst previsto e observado Crédito: British Antarctic Survey A figura 13 é um gráfico do índice Dst em função do tempo e retrata como se comportou tal índice durante os dias 03 a 09 de março de 2007. A linha azul indica o índice previsto a partir do dia 03 e a linha preta, o índice observado. Um dos usos dessa previsão é a predição de futuros riscos para satélites ou para lançamento de astronautas. As TM surgem repentinamente, quando ocorre um choque com uma ejeção de massa coronal, injetando muitos íons e elétrons energéticos nos anéis de corrente. Mas também podem surgir de uma série de intensas sub-tempestades magnéticas, que acontecem a todo o momento, sem precisar de muito estímulo externo. Durante tempos de CMI sul, que se relacionam com o ciclo magnético do Sol (ver apêndices), a cauda magnética fica beirando a instabilidade. No entanto, um choque forte que vem com um CMI norte pode agitar a magnetosfera, mas dificilmente ao ponto de criar uma tempestade. 16 4.4 As Auroras “Ali, a pelo menos 100 km da superfície, elétrons chocam-se com átomos de oxigênio e nitrogênio das moléculas da alta atmosfera, dando-lhes uma energia extra que, absorvida, provoca um estado excitado: os elétrons saltam para níveis mais energéticos e, como não podem manter-se nesse estado por muito tempo, retornam aos seus níveis de origem devolvendo a energia extra na forma de um fóton - ou um pulso de luz. Trilhões de átomos e moléculas no estado excitado produzirão a luz da aurora.” (COSTA, 2001) Essa é uma descrição de uma típica aurora. Mas as origens delas estão fortemente ligadas às Tempestades Magnéticas, pois estas aumentam drasticamente a quantidade de íons e elétrons energéticos na magnetosfera, que na região acima dos polos não tem força suficiente para repeli-los de volta para o cinturão de radiação. Então ocorre o choque dessas partículas com as da atmosfera, dispersando energia e ficando por ali mesmo. Figura 14 – Escala atmosférica com altitude das Auroras. Crédito: Caio Fábio T. Correia. As regiões onde tipicamente ocorrem as auroras são denominadas de Oval das Auroras, ou Annulus, elas ficam situadas próximos aos pólos geográficos da Terra. Se forem auroras no hemisfério norte, elas são chamadas de Auroras Boreais ou Luzes do Norte; Se as auroras são no hemisfério Sul, elas recebem o nome de Auroras Austrais. Mas podem ocorrer tempestades magnéticas suficientemente fortes, caso a Terra seja atingida em cheio por uma Ejeção de Massa Coronal forte e com CMI sul. Tornando possível a observação de auroras mesmo nas proximidades do equador, devido às energias das muitas partículas que podem atravessar incólumes o campo magnético da Terra ou gerar anéis de corrente extras que levem tais partículas a se chocar com a atmosfera nessas baixas latitudes. Ao lado, uma composição de imagens da Terra e uma aurora boreal vista do espaço, capturada pelo satélite IMAGE em 11 de setembro de 2005. Figura 15 – Aurora austral vista do espaço. Crédito: Earth Observatory, NASA 17 5 EQUILÍBRIO DO CAMPO DE ORIGEM INTERNA Não é possível ter certeza do que pode gerar o campo magnético da Terra, embora os experimentos e a observação indiquem que é primordial que haja um núcleo metálico fundido em rotação. Mas não é somente isso, é preciso procurar saber se o campo realmente se comportou de forma estável durante sua existência. Os mais antigos registros magnéticos na Terra têm 2 bilhões de anos, tornando essa, a idade mínima do campo magnético. Esse campo durou tanto tempo porque, devido sua enorme reserva de átomos radiativos, nosso planeta teve disponível bastante energia provida pelos átomos radiativos, que impediram o núcleo e manto de resfriarem, quando estes estavam se formando. Atualmente, o núcleo da Terra resfria lentamente a uma taxa de 100º para cada bilhão de anos. Eventualmente, o ferro irá se fundir, mas os cientistas calculam que levará bilhões de anos, ainda. 5.1 Potes de barro e o histórico de quatro séculos Graças à construção de potes de Barro, temos à disposição um registro quase contínuo de como o campo magnético se comportou, em termos de intensidade, nos últimos 12 mil anos. A Argila, matéria-prima dos potes de barro, contém metais magnéticos que se alinham com o campo magnético exterior. Após chegar a forma desejada, eles são torrados. O que ocorre é que a altas temperaturas, o magnetismo perde força, fazendo com que todo registro magnético anterior seja eliminado. Mas durante o resfriamento dos potes, antes destes endurecerem por completo, os metais interiores captam o magnetismo exterior naquele momento, indicando a intensidade do campo magnético terrestre no momento em que foi produzido. O professor de geofísica, John Shaw, da Universidade de Liverpool estudou 3.243 desses potes de barro, vindos da Europa e da Ásia, juntamente com uma equipe e conseguiu os seguintes resultados: Mudanças suaves na intensidade do campo magnético da Terra ocorreram durante esses 12 mil anos, um suave aclive, então uma rápida queda à medida que chegamos aos dias atuais. A velocidade da mudança é maior nos últimos três séculos: o campo enfraqueceu 10% e a velocidade de declínio está aumentando. Para se ter uma idéia, se o campo continuar a decrescer à mesma taxa que se encontra atualmente, ele deverá desaparecer em alguns poucos séculos. Atualmente, Existem evidências claras de anomalias magnéticas na Terra, e essas anomalias estão crescendo, como a que chamamos da "Anomalia do Atlântico Sul", onde o campo é 30% mais fraco. As cores mais avermelhadas representam campos mais intensos que as partes esbranquiçadas na figura 16. Figura 16: Intensidade total do campo magnético em 1990. Crédito: USGS, National Geomagnetism Program Indo mais a fundo, pode-se ter um registro não somente de como sua intensidade variou nos últimos 400 anos, mas também sua direção em vários lugares diferentes da Terra. Isto, graças aos navegadores, que precisavam anotar as direções do campo magnético, sob o risco de se perderem no mar durante uma tempestade ou sob o mau tempo, quando não era possível determinar as coordenadas através de medições astronômicas, dando origem a um grande catálogo de observações magnéticas. 18 Dois grandes grupos de pesquisadores compilaram essas observações para fazer um modelo da evolução do campo magnético em função do tempo. O modelo ufm2 criado por Bloxham & Jackson em 1992 e o grupo mais recente, formado por Andrew Jackson, Art R. T. Jonkers e Matthew R. Walker, que criou o modelo chamado gufm1, em 2.000. Este último simula o comportamento do campo magnético da Terra dos anos de 1590 a 1990. O modelo se baseia em 365.694 observações (com 26.893 dados rejeitados) colhidas na Grã Bretanha, França, Nova Zelândia, Dinamarca, Espanha. Os aspectos dos dados usados da compilação, bem como a metodologia aplicada ao uso dos dados, as fontes, mensurações e correções de erros são descritos em um artigo do ano 2.000 para a Phil. Trans. R. Soc. London, chamado “Four centuries of geomagnetic secular variation from historical records” (Quatro séculos de variação geomagnética secular a partir de registros históricos, traduzindo para o português). Foi feito todo um estudo dos erros de observação da posição geográfica, através dos métodos usados pela obtenção de dados em função da época e uma série de considerações das propriedades físicas do planeta. E usados vários teoremas na área de eletromagnetismo para haver dados suficientes para a geração desse modelo, que é o maior e de maior resolução disponível atualmente. Abaixo, os mapas para o campo magnético dos anos de: (a) 1590, (b) 1690, (c) 1790, (d) 1890 e (e) 1990. As cores azuis representam fluxo entrando no núcleo, e vermelho, fluxo saindo. Embaixo das figuras, pode ser vista a escala das intensidades. Figura 17: Evolução do campo magnético através dos séculos. Crédito: Andrew Jackson, Art R. T. Jonkers e Matthew R. Walker 19 5.2 Paleomagnetismo e inversões de campo “Paleontologia é uma ciência que interage com a biologia e a geologia. É o estudo dos fósseis, ou seja, restos de seres vivos ou vestígios de vida de organismos que existiram durante a história da vida na Terra, e que se encontram preservados no registro geológico, ou seja, rochas, sedimentos, gelo ou âmbar.” (Contribuidores da Wikipédia, 2007). Com o advento da Paleontologia, foi criado o paleomagnetismo, que estuda as variações do campo magnético ao longo das eras da Terra. Os cientistas que trabalham nessa área descobriram que ocorreram várias inversões de polaridades no campo magnético. As evidências de inversão podem ser encontradas nas camadas criadas pelos fluxos de lava em vulcões ativos ao longo das eras e em afloramentos de lava, entre placas continentais que se afastam, nos fundos dos oceanos, por exemplo, a “falha” que há no Oceano Atlântico. A figura ao lado representa tais afloramentos nos oceanos. Na situação “a”, o campo magnético está com polaridade normal e se afastando. Entre “a” e “b” o campo reverteu e voltou sua polaridade, o que ocorre novamente na situação “c”. Figura 18: Afloramentos de lava nos oceanos. Crédito: USGS, National Geomagnetism Program Segundo as estimativas, em média nos últimos milhões de anos, o campo tem invertido de polaridade a cada 200.000 anos, com algumas variações. Mas o planeta se encontra com a polaridade atual por cerca de 780.000 anos, uma flutuação grande na média, embora os estudiosos não possam garantir se as inversões de campo têm de ter um ritmo definido ou apresentar comportamento caótico. Esse gráfico ao lado representa as polaridades do campo magnético ao longo dos milhões de anos, mostrando as eras geológicas. Períodos em cor marrom representam períodos com polaridade igual à atual, e na cor azul, períodos com polaridade oposta. Vemos que durante o período Quartenário, que vai de 140 a 65 milhões de anos atrás, (até onde se sabe) o campo magnético passou um gigantesco período com a mesma polaridade, quase 40 milhões de anos. No período Terciário, as inversões foram se tornando cada vez mais frequentes e em períodos cada vez mais regulares, continuando esse ritmo no período quartenário, que é a era em que estamos vivendo. Dessa forma, inversões de campo magnético parecem ser mais uma realidade a qual precisamos entender melhor, que uma hipótese fictícia. Figura 19: Linha do tempo das inversões de campo. Crédito: WGBH/NOVA 20 5.3 O processo e consequências Uma boa maneira de descobrir como se comporta o campo magnético da Terra durante uma inversão de campo, é registrando as direções e intensidades do campo magnético ao longo do processo. E foi isso que aconteceu nas Montanhas Steens, no Oregon a 16 milhões de anos, quase que continuamente, registrando todo um processo de inversão. O registro magnético gerado elas erupções de lava têm uma vantagem com relação aos potes de Barro, pois nas erupções, a lava que solidifica, permanece na mesma direção relativa aos polos, podendo nos indicar, além da intensidade, a direção do campo magnético resultante naquele lugar. Cada linha das montanhas delineia um derramamento diferente de lava, com mais de 910 m de altura em linhas sobrepostas. Quem estudou essas montanhas foi o geólogo Rob Coe (Universidade da Califórnia, Santa Cruz) e sua equipe. Pegando dezenas de amostras, ele e seus colegas fizeram um detalhado registro da inversão magnética. Eles encontraram que o campo decresceu cerca de 80 a 90%. O campo inicialmente apontava para o Sul, mas à medida que enfraquecia, o campo mudava de posição vacilante. Após 300 anos, ele deu uma volta de 180º e o campo passou a recuperar sua força, não durando muito tempo e voltou a se inverter, diminuído a intensidade novamente. Mais uma vez, o campo magnético pareceu sumir por 3.000 anos. Voltando depois com sua dança até se estabilizar no pólo inverso ao inicial, apontando para o Norte. Além das evidências colhidas por Rob Coe, outro interessado na área, o físico Gary Glatzmaier resolver estudar o fenômeno através da simulação. Ele pôs todos os fatos essenciais que os cientistas aprenderam sobre o núcleo fundido da Terra num modelo de computador; dúzias de equações descrevendo os tamanhos, temperatura, viscosidade e etc. E deixou o modelo rodando para ver como o campo poderia se comportar por milhares de anos de tempo simulado. O que duraria 6 meses nos mais rápidos computadores do mundo (da época). Ele estava usando supercomputadores da NASA e da National Science Foundation e verificava se os computadores não estavam com problemas todos os dias, durante 4 anos. E após um período, quando ele foi analisar os detalhes do campo magnético, inesperadamente ele viu que este tinha invertido a polarização. E viu que depois de certo tempo, o campo tinha se invertido novamente e espontaneamente. E à medida que o experimento continuava o campo se invertia a cada, aproximadamente, 100 mil anos de tempo simulado e sempre recomeçava da mesma maneira. Gary pôde ver porque inversões são precedidas pelo enfraquecimento do campo. Na simulação, durante o processo de inversão, começam a surgir ilhas de Norte no Sul e vice-versa. São as anomalias magnéticas, regiões do núcleo, onde o campo flui no sentido inverso das regiões circundantes. À medida que as anomalias crescem, começam a cancelar o resto do campo, tornando-o fraco e mais propenso a inverter. Então o campo vai ficando cada vez mais complicado até que se estabiliza após a inversão. Figura 20: Simulação de uma inversão de campo. Crédito: WGBH/NOVA 21 A figura 20 representa momentos da simulação separadas por 3 mil anos. Vermelho representa linhas saindo, e azul entrando na superfície da Terra. A principal preocupação é que durante esse processo, o planeta inteiro ficará apenas com um débil campo, que não fornecerá nenhuma proteção contra a radiação vinda do Sol e da galáxia. Segundo as estimativas dos estudiosos no assunto, o nível de radiação ao nível do solo deverá dobrar, aumentando as mortes por câncer em 15 pessoas por milhão, resultando num total de mais de 100.000 mortes por ano a mais, não sendo, de certa forma, catastrófico. Mas nenhum de nós estará vivo para observar tal fenômeno e provavelmente a civilização terá meios para amenizar tais efeitos negativos. Com o acesso direto do vento solar à atmosfera, esta se tornará mais eletrizada, fazendo com que se expanda e acelere a queda dos satélites de baixa altitude. Auroras deverão ser comuns em todas as latitudes do planeta, devido à multiplicidade de polos e da fraca intensidade destes, proporcionando-nos, talvez, um belo espetáculo. Além disso, o pouco tempo (em termos astronômicos) de exposição da atmosfera à erosão do vento solar não trará perdas significativas desse envoltório de gás do planeta. 22 REFERÊNCIAS JACKSON, A.; JONKERS, A. R. T. ; WALKER, M. R. Four centuries of geomagnetic secular variation from historical records, Phil. Trans. R. Soc. London, p. 957-990, 2000. YANG, S. H.; ODAH; and J. SHAW. Variations in the geomagnetic dipole moment over the last 12,000 years, Geophysical Journal International, vol. 140, n. 1, jan. 2000. JUNIOR, Odim Mendes; DOMINGUESY, Margarete Oliveira. Introdução à Eletrodinâmica Atmosférica, Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 24, no. 1, 2002. FILHO, Kepler de Souza Oliveira; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Astronomia e Astrofísica. São Paulo, SP: Livraria da Física, 2004. MCCOMAS, David J. Projeto de uma sonda para o Sol. Astronomy Brasil, Pinheiros, v. 1 n. 8, p. 37, dez. 2006. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física Vol. 4. Rio de Janeiro, RJ: LTC Editora, 2003. WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Paleontologia&oldid=4980526>. Acesso em 16 mar. 2007. 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Disponível em < http://online.unitconverterpro.com/conversion-tables/convert-alpha/factors.php> Acesso em 18 mar. 2007 24 APÊNDICE A TABELAS DE ALGUMAS UNIDADES ÚTEIS UNIDADES INTERNACIONAIS DO ELETROMAGNETISMO GRANDEZA NOME DA UNIDADE SÍMBOLO Intensidade do campo magnético Ampère por metro A/m Fluxo magnético Weber Wb V.s Densidade de fluxo magnético Tesla T Wb/m2 OUTRAS UNIDADES Energia Elétron-volt eV FATORES DE CONVERSÃO INTENSIDADE DO CAMPO MAGNÉTICO 1 A/m = 0,012568444 Oersted 1 Oersted = 79.57747151 A/m DENSIDADE DE FLUXO MAGNÉTICO 1 Tesla = 104 Gauss 1 Gauss = 1 linha/cm2 FLUXO MAGNÉTICO 1 Weber = 108 Maxuell 25 APÊNDICE B UM RESUMO SOBRE OS CAMPOS DE OUTROS ASTROS A.1 O Sol O campo magnético gerado pelo Sol foi detectado pela primeira vez por George Ellery Hale (1868-1938), através de um espectrógrafo de alta dispersão. Ele descobriu que as linhas de absorção espectrais do Sol, nas proximidades das manchas solares eram duplas e até mesmo triplas. Essas linhas de absorção no espectro do Sol existem porque os átomos de um gás incandescente, fonte de luz, absorvem determinados comprimentos de ondas, através de seus elétrons. E quando estes estão sujeitos a um forte campo magnético, geram essas linhas duplas e triplas. Nesse caso, a fonte emissora era uma mancha solar. Hale pôde calcular que o campo nessa região chega a 5000 Gauss e ainda conseguiu provar que o campo magnético geral, originado pelo Sol é da ordem de 1 a 2 Gauss. O direcionamento desse campo magnético está dirigido de norte para sul, no Sol. Porém, nas regiões onde se encontram os campos magnéticos intensos (1000 Gauss), estes estão dispostos, no sentido leste-oeste. O estado de plasma, em que se encontra a matéria Solar, oferece pouca resistência à corrente elétrica o que faz com que toda a estrela se comporte como uma forte bobina elétrica. Com isso, a rotação diferenciada acaba deformando essas linhas de campo, que sofrem um processo de condensação, até cada grupo assumir a forma espiralada. Daí, formam-se espirais ao longo de todos os meridianos e todas no sentido leste-oeste (sentido de rotação). A concentração dessas linhas, por unidades de área aumenta, o que equivale a uma maior intensidade dos campos magnéticos em relação à situação inicial, e como a rotação não é uniforme, cada espiral pode ser esticada até formar um laço. Em certos momentos os laços se rompem e afloram na superfície. Nesse momento temos a formação das manchas solares. Essa descrição, no entanto, é bastante simples, com relação à complexidade desses processos, que geram laços e manchas solares, com uma enorme imprevisibilidade e complexidade. Figura 21: mancha solar em UV Extremo Crédito: SolarCISM Como a intensidade dos campos magnéticos nessas regiões é muito forte, algumas partículas do plasma da superfície do Sol que seriam emanadas em forma de vento solar ficam aprisionadas nas linhas de campo dessas manchas, tornando fácil de visualizar tais linhas de campo, como acima, na figura 21. Na metade do século XIX, os estudiosos já sabiam da existência de um ciclo de máximos e mínimos das quantidades de manchas solares que dura cerca de 11 anos. Em 1914, George Hale Anunciou que essas manchas estavam diretamente ligadas ao magnetismo solar, através da alternância de polaridade do Sol, ou seja, o Sol passa pouco mais de 11 anos com suas linhas de campo numa direção. Sendo assim, o ciclo completo do Sol, deve ser de 22 anos, o tempo para que ele volte a ficar num mesmo estado de evolução de seu campo. 26 Depois que ocorre uma inversão de campo, o Sol tem um estado bem estável e uniforme, mas devido à convecção em seu interior e sua rotação diferenciada, a velocidade com que o gás gira no equador do Sol é maior. E, como é constatado, as linhas de força do campo magnético se comportam como se estivessem ligadas às partículas que o compõem e acompanham o fluxo de matéria, se distorcendo cada vez mais, principalmente nos meridianos, a uma latitude de aproximadamente 30°. Nessas latitudes, essa distorção ocorre principalmente na forma de laços, onde a intensidade do campo é bastante intensa, o que pode afetar a densidade do gás naquela região, dentro do Sol e estas começam a expulsar os gases solares do seu interior, não deixando essa parte do gás voltar. Alguma parte é expelida de sua superfície, na forma de arcos, criando as chamadas erupções solares e a que fica na superfície encontra dificuldades geradas pelo intenso campo magnético para continuar seu movimento convectivo, o que faz com que essas áreas fiquem com uma temperatura menor que a do resto da superfície solar, cerca de 4000° C. A superfície do Sol, normalmente se mantém a cerca de 5800 a 6000° C. Figura 22: Evolução das linhas de campo na superfície solar Crédito: Revista Ciência hoje À medida que os anos se passam, as linhas de campo vão ficando cada vez mais intricadas, resultando na aparição de várias manchas, que começam a surgir também cada vez mais perto do equador solar. Tornando o campo magnético cada vez mais fraco, possibilitando a inversão de pólos, onze anos após o fim da inversão anterior, e durante o máximo de atividade, o campo magnético está aproximadamente perpendicular ao eixo de rotação solar. No entanto, todo esse processo é demasiado complicado e ainda não existe uma teoria magneto-hidro-dinâmica suficientemente elaborada para explicar todos esses processos. 27 3.2 Mercúrio O planeta mais próximo do Sol tem cerca de um terço do diâmetro da Terra e gira vagarosamente, demorando 58,6 dias terrestres para dar uma volta em seu próprio eixo. Hoje em dia, ainda se sabe muito pouco a respeito desse planeta, pois foi visitado apenas três vezes por uma mesma sonda, a Mariner 10 em 1974 e 1975, até que seja estudado novamente pela sonda MESSENGER a partir de 2008, e que deverá ficar em órbita do pequeno planeta a partir de 2011, para que este seja estudado mais detalhadamente. Os melhores dados físicos disponíveis desse planeta vêm da Mariner 10, como sua massa e densidade, pois os grandes telescópios, podem tirar poucas informações dele, já que Mercúrio nunca aparece muito distante do Sol, só sendo possível observá-lo, da superfície terrestre, próximo ao horizonte, com a atmosfera causando grandes distorções; em órbita da Terra, o Hubble tem instrumentos delicados demais para apontar numa direção próxima ao Sol, ou mesmo da Terra. Superficialmente, Mercúrio pode facilmente lembrar a Lua, devido ao grande número de crateras e falta atividade geológica visível em sua superfície. Mas em compensação, ele é muito denso, com média de 5,43 g/cm3 , perdendo apenas para e Terra em todo o Sistema Solar, que tem 5,51 g/cm3 . Levando em conta seu tamanho, isso implica que ele deve ter um núcleo que compreende maior parte de seu volume. Estimase que o núcleo de ferro varia entre os 1800 e os 1900 km de raio. A camada exterior de sílica (análoga ao manto e crosta da Terra) tem apenas entre 500 e 600 km de espessura. Pelo menos uma parte do núcleo deve estar derretido, já que o Planeta apresenta uma pequena atividade magnética. A não ser que as rochas tenham se magnetizado fortemente. Figura 23: Estrutura interna estimada de Mercúrio Crédito: Enciclopédia do Espaço e do Universo, DK Multimedia Essa atividade magnética, como foi detectada pela Mariner, indica que o planeta apresenta um campo magnético com uma intensidade de cerca de 1% (220 nT) do campo terrestre. Como a atividade solar, nas proximidades da órbita de Mercúrio é bem mais intensa, o campo magnético deste sofre uma intensa distorção pelo vento solar. A Mariner 10 detectou uma onda de choque, onde o campo magnético se encontra com o vento solar. Com a intensidade do campo magnético medido pela Mariner 10 e a do vento solar por volta da distância em que Mercúrio se encontra do Sol, os pesquisadores da NASA fizeram uma ilustração de como deve se comportar tal campo magnético, se as intensidades medidas forem as apresentadas pelo planeta usualmente. Figura 24: Distorção do campo Magnético de Mercúrio Crédito: Windows to the Universe, UCAR 28 3.3 Vênus O planeta irmão da Terra possui diâmetro de quase 95% do diâmetro de nosso planeta, as proporções de elementos químicos também são semelhantes. Este se encontra a uma distância de aprox. 72% da distância média da Terra ao Sol. Mas as semelhanças param por aí, A rotação de Vênus é lentíssima, dura 243 dias terrestres e ainda por cima se dá no sentido contrário ao da translação. Dadas tais semelhanças físicas, os astrofísicos têm algumas evidências de interação gravitacional para achar que o planeta apresente núcleo e manto semelhantes às estruturas terrestres, além de fotografias que evidenciam atividade vulcânica. Mas não foi detectado um campo magnético intrínseco no planeta, ou seja, um campo magnético global, apenas algumas perturbações detectadas pelas sondas que o visitaram. Ao todo foram 25 sondas que o visitaram, sendo sete sondas norte-americanas e 18 russas. A Mariner 10, que também visitou este planeta, detectou um campo com intensidade cerca de 0,05% do que o que encontramos aqui. O campo magnético gerado pelo Sol se sobrepõe ao deste planeta, o que faz com que este fique sem resistência ao vento solar. As partículas do vento solar, em sua maioria prótons, elétrons e alguns núcleos de Hélio a altas velocidades atingem diretamente a atmosfera superior de Vênus, desta forma as partículas da atmosfera adquirem velocidades superiores à da velocidade de escape do planeta e rapidamente tomam a direção do vento solar que é para o exterior do Sistema solar. Aqui está explicado rapidamente uma das graves conseqüências de um planeta não ter um campo magnético no ambiente do sistema solar. Ao lado, uma ilustração divulgada pela ESA de como devem se comportar as partículas da alta atmosfera Venusiana. Figura 25: Ação do vento solar na atmosfera Venusiana Crédito: ESA, European Space Agency 29 3.4 Marte O Planeta Vermelho se encontra mais distante do Sol que a Terra e possui cerca metade do diâmetro deste, e uma rotação de aproximadamente 24h 42min. É o planeta mais visado para receber sondas, no total foram 40 tentativas e 18 sucessos, começando com os russos em 1960, mas o primeiro sucesso só veio em 1964, com a sonda americana Mariner 4. Usando dados da Mars Global Surveyor, tem-se um cenário em que o planeta deve ter um núcleo de 1.700 km de raio, um manto rochoso derretido uma crosta que varia de 35 a 80 km de espessura, sua baixa densidade indica que seu núcleo deve possuir uma maior concentração de enxofre no núcleo. Entretanto, pela mesma sonda, não foi detectado nenhum campo intrínseco ao planeta, apenas algumas áreas onde há magnetismo. Figura 26: Estrutura interna de Marte Crédito: Enciclopédia do Espaço e do Universo, DK Multimedia Figura 27: Mapa geomagnético de Marte Crédito: NASA / JPL Fazendo datação da superfície pelo número de crateras, é possível dizer que as bacias Hellas e Argyre, formadas por impacto de um gigantesco corpo têm idades de, no mínimo, 4 bilhões de anos. Vendo o mapa, podemos ver que essa região não está magnetizada, o que indica que quando esta cratera se formou, o planeta já não possuía um campo magnético global. 30 3.5 Os planetas gasosos Os planetas gasosos Júpiter e Saturno têm praticamente a mesma composição química do Sol e da nebulosa que deu origem ao nosso sistema solar; já Urano e Netuno têm menos H e He. Pelas medidas atmosféricas da sonda Galileo, em Júpiter, este é composto de 86% de Hidrogênio, 14% de Hélio e 0,2% de outros elementos. Assim como o Sol, eles não têm superfícies sólidas, apenas sua massa vai ficando mais densa e quente, à medida que se encontra mais perto do seu centro. Júpiter foi visitado pelas sondas Pioneer 10, em 1973; e mais tarde pela Pioneer 11, pela Voyager 1, 2 e pela Ulisses. A sonda Galileu orbitou Júpiter durante 8 anos, terminando em Setembro de 2003. Usando os dados gravitacionais e químicos, os astrofísicos deduzem que este planeta possui um núcleo rochoso, com massa de 10 a 15 vezes a massa total da Terra. A maior parte da massa desse planeta deve se encontrar no Manto Interno, onde o hidrogênio está sob pressão superior a 4 milhões de bars e se encontra num estado metálico, onde prótons e elétrons estão ionizados. Figura 28: Estrutura interna de Júpiter Crédito: Enciclopédia do Espaço e do Universo, DK Multimedia No manto exterior, o hidrogênio se encontra em estado líquido, se tornando um bom condutor elétrico e , devido aos movimentos diferenciados da rápida rotação do planeta, sendo a fonte do campo magnético de Júpiter. Em saturno, ocorre situação similar. Urano (como Netuno) é em muitas maneiras similares aos núcleos de Júpiter e Saturno, sem o invólucro líquido de hidrogênio metálico. Parece que Urano não tem um núcleo rochoso como Júpiter e Saturno, mas sim um material mais ou menos distribuído uniformemente. O campo magnético de Júpiter só é menos intenso que o do Sol. A cauda de seu campo se estende além da órbita de Saturno, devido à distorção causada pelo vento solar. Os campos destes não serão abordados com detalhes aqui, pois não têm muita semelhança em sua origem com os campos gerados pelos planetas telúricos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte.).