Introdução ao Estudo do Antigo Testamento Capítulo 1 O Que é o

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Introdução
ao Estudo do
Antigo
Testamento
Capítulo 1
O Que é o Antigo
Testamento?
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 1
Testamento?
Introdução.
Este Capítulo trata de quatro questões fundamentais que todo estudante do Antigo
Testamento deve responder:
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O Que é a Bíblia?
Como a Bíblia foi escrita?
Como a Bíblia chegou até nós?
Como interpretar a Bíblia?
I. Cânon: o que é a Bíblia?
A princípio, esta pergunta parece simples. Sabemos o que é a Bíblia. É uma coleção de
sessenta e seis livros – trinta e nove no Antigo Testamento e vinte e sete no Novo
Testamento. É o que há de Gênesis até o Apocalipse.
Mas nem sempre houve acordo sobre quais livros compõem a Bíblia. Os livros apócrifos –
aqueles que aparecem nas Bíblias Católicas Romanas – fazem parte da Bíblia? E se
arqueólogos descobrissem uma outra carta escrita por Paulo? Será que essa carta
deveria ser incluída na Bíblia? De que forma os judeus primeiro e cristãos em seguida,
inicialmente, decidiram quais livros deveriam fazer parte da Bíblia? Quando fazemos
perguntas como estas, estamos levantando a questão do Cânon.
A. Definição de Cânon.
A palavra “Cânon” vem do hebraico - qaneh e do grego - kânon. Essas duas palavras,
em seus sentidos originais, significavam uma vara ou medida. Assim como uma vara
podia ser usada como padrão de medida, o Cânon bíblico também era um padrão de
medida para a fé e a prática dos crentes. Isto era assim porque as pessoas podiam
comparar suas vidas àquilo que era requerido pela Bíblia. Além disso, a palavra “cânon”
também podia ter a conotação de um padrão dentro do qual os escritos bíblicos
deveriam encaixar-se.
B. Testes de canonicidade.
Tendo em vista que Deus revelou Sua palavra por meio de pessoas comuns, tornou-se
importante saber quais livros vieram dEle e quais refletiam apenas as opiniões humanas.
Para distinguir um grupo de escritos de outro, vários elementos de teste foram sugeridos,
com alguns destes elementos chegando a alcançar consenso entre os estudiosos. Os
testes de canonicidade concentram-se em três fatores: autor, público e ensinamentos.
Teste 1 – Escrito por um profeta ou pessoa com o dom de profecia.
Para ser parte do cânon, o livro deveria ter sido escrito por um profeta ou uma pessoa
com o dom de profecia. Os autores humanos não poderiam, de forma alguma, saber a
vontade de Deus, se não fosse pela presença do Espírito assistindo-os em seus
entendimentos. Era preciso que a mão do Espírito de Deus estivesse presente no
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 2
Testamento?
processo de redação. Sua presença asseguraria que o produto final fosse a verdade de
Deus e que comunicasse fielmente a mensagem de Deus.
Teste 2 – Escrito para todas as gerações.
Um livro que fosse parte do cânon precisaria ter impacto sobre todas as gerações. A
mensagem de Deus não poderia estar restrita a apenas um público. Se um livro era, a
Palavra de Deus, então deveria ser relevante para todas as pessoas de todas as épocas.
É possível que o autor tivesse escrito o texto para um público específico, como de fato
aconteceu, mas, se era a Palavra de Deus, todos os que lessem esse texto, poderiam
aplicar seus ensinamentos à sua vida de maneira proveitosa.
Teste 3 – Escrito de acordo com revelações anteriores.
Para ser parte do cânon, um livro não poderia contradizer a mensagem de outros
escritos anteriores revelados por Deus. Se, por exemplo, um novo escrito dissesse ser de
Deus, mas estivesse em contradição com os ensinamentos de Gênesis, este não poderia
ser a Palavra de Deus. As verdades de Deus permanecem as mesmas para sempre e
não entrariam em contradição. Novas revelações poderiam trazer informações
adicionais sobre o plano e os propósitos de Deus, mas nunca ir contra revelações
anteriores.
C. A formação do Cânon.
Ao aplicar os princípios acima, os hebreus determinaram, de um modo geral, quais livros
pertenciam e quais livros não pertenciam ao Antigo Testamento. Ainda assim, existia
alguma confusão entre o povo. Em certas ocasiões, os líderes judeus encontraram-se
para tratar deste e de outros assuntos. Uma dessas reuniões parece ter ocorrido na
cidade de Jâmnia no final do primeiro século d.C.
Jâmnia - atualmente chamada de Yavneh - está localizada na costa sudoeste de Israel.
A cidade tornou-se um importante centro de influencia da comunidade judaica depois
que Jerusalém foi destruída pelos romanos no ano 70 d.C.
Os estudiosos discutem o que exatamente aconteceu em Jâmnia, mas concordam que
o concílio não determinou quais livros pertenciam ao Antigo Testamento. Na verdade, o
concílio parece ter confirmado oficialmente os livros que a maioria dos judeus vinha
reconhecendo, como inspirados, há várias gerações. Em outras palavras, o concílio deu
o endosso oficial a certos livros, apenas confirmando o que eles criam ter sido sempre a
verdade revelada por Deus.
Falaremos do cânon do Novo Testamento no estudo “O Que é o Novo Testamento?”
D. Seqüência de livros em hebraico e português.
O Antigo Testamento em hebraico e português contém rigorosamente o mesmo
material. Os livros, porém, aparecem em uma ordem diferente. Não sabemos
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 3
Testamento?
exatamente por que, apesar de existirem diversas teorias. Veja o quadro comparativo
no “Apêndice A”.
A versão hebraica do Antigo Testamento, divide os livros em três grupos, a saber: 1)
Toráh - instrução ou ensino que é composta pelos cinco primeiros livros do Antigo
Testamento, escritos por Moisés; 2) Neviim - os Profetas, composto pelos profetas
Anteriores e pelos Profetas Posteriores e; 3) Ketubiim - os Escritos. A origem da
organização dos livros na Bíblia hebraica não pode ser rastreada com precisão.
Acredita-se que a divisão em três partes, corresponde às três etapas, nas quais os livros
receberam reconhecimento canônico, mas não há evidências diretas acerca disto. Em
português os livros são divididos em cinco grupos: Pentateuco, Livros Históricos, Livros
Poéticos, Profetas Maiores e Profetas Menores. Esta divisão foi originalmente montada,
quando da tradução das Escrituras do Antigo Testamento do hebraico para o grego,
que ficou conhecida como Septuaginta - símbolo = LXX. Jerônimo, por sua vez, ao
traduzir as escrituras para o Latim, adotou esta divisão quando produziu a Vulgata Latina
e, depois disso, a grande maioria das traduções passou a utilizá-la.
E. Capítulos e versículos da Bíblia.
As Bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas divisões foram
feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. Stephen Langton, professor da
Universidade de Paris e mais tarde arcebispo da Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos
em 1227. Robert Stephanus, impressor parisiense, acrescentou a divisão em versículos,
começando em 1551 e terminando em 1555. Felizmente, estudiosos judeus, desde
aquela época, adotaram essa divisão de capítulos e versículos para o Antigo
Testamento no original em hebraico.
II. Inspiração: como a Bíblia foi escrita?
A característica mais importante da Bíblia não é, todavia, sua estrutura e sua forma com
as várias divisões propostas com o passar dos séculos e sim o fato de ter sido inspirada
por Deus. Quando falamos de inspiração, não estamos falando de inspiração poética e
sim de autoridade divina. Mas de que maneira exatamente o Espírito de Deus trabalhou
em conjunto, com os autores, com fim de inspirar os escritos sagrados? Quando fazemos
essa pergunta, levantamos a questão da inspiração. A palavra inspiração aparece
somente duas vezes em toda a Bíblia: 1) Jó 32:8 onde é traduzida por “sopro” e; 2) 2
Timóteo 3:16 onde é traduzida por “inspirada”. Esta última passagem, de fato, afirma
categoricamente que: “Toda Escritura é - theopneustos - inspirada por Deus, e útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça - 2 Timóteo
3:16”. Esse versículo afirma, com todas as letras, que Deus é o Autor de todas as Escrituras
e, por isso, elas são dotadas de autoridade divina para dirigir tanto os pensamentos
quanto para a vida dos crentes. O autor de Hebreus nos diz que Deus falou no passado
muitas vezes e de muitas maneiras pelos profetas – ver Hebreus 1:1. Neste contexto,
outros versículos muito importantes são 2 Pedro 1:20 – 21: “sabendo, primeiramente, isto:
que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca
jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. Neste versículo nos temos a
declaração de que tudo aquilo, que é ensinado pelo Espírito Santo, são palavras
divinamente inspiradas. Paulo reafirma esta verdade ao dizer: “Disto também falamos,
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 4
Testamento?
não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito,
conferindo coisas espirituais com espirituais – 1 Coríntios 2:13”. Esta atitude de conferir
coisas espirituais com espirituais é exatamente o argumento que o apóstolo Pedro usa
para provar que as palavras dos profetas não eram originadas por eles mesmos! – ver 1
Pedro 1:11.
Infelizmente, a Bíblia não descreve exatamente de que forma Deus inspirou os escritores.
Que papel eles tiveram na redação das Escrituras? Até que ponto o Espírito de Deus lhes
deu liberdade para escrever em seu próprio estilo? Aqueles que examinaram as
Escrituras para resolver essas questões, propuseram diversas teorias. Abaixo encontramse três das mais comuns.
A. Teoria do ditado.
A teoria do ditado, como o próprio termo deixa claro, sugere que Deus simplesmente
ditou a Bíblia para escribas humanos. Deus escolheu certos indivíduos e lhes deu
exatamente as palavras que ele queria. Esses escritores escreveram apenas o que Deus
ditou para eles. Essa teoria não aparece em muitos escritos, mas é bastante comum em
certos meios da Cristandade conservadora.
As Escrituras sugerem que, em algumas ocasiões, Deus pode ter comunicado a autores
humanos uma mensagem de maneira precisa, palavra por palavra, - ver Jeremias 26:2;
Apocalipse2:1, 8, 12, 18; 3:1, 7, 14. Outras vezes, Deus permitiu que os escritores
expressassem sua própria personalidade à medida que escreviam – ver Gálatas 1:6; 3:1;
Filipenses 1:3, 4, 8. Ainda assim, o Espírito Santo certificou-Se de que a obra completa
comunicasse acuradamente a intenção de Deus. Assim, a teoria do ditado explica
algumas evidências bíblicas, mas não todas.
B. Teoria da inspiração limitada.
A teoria da inspiração limitada afirma que Deus inspirou os pensamentos dos autores
bíblicos, mas não necessariamente, as palavras que eles escolheram usar. Deus guiou os
escritores à medida que eles escreviam, mas deu-lhes liberdade de expressar os
pensamentos divinos à sua própria maneira. Por causa dessa liberdade, os detalhes
históricos contidos nos escritos podem conter erros. Entretanto, o Espírito Santo protegeu
do erro, as porções doutrinárias das Escrituras, guardando a mensagem divina da
salvação.
A teoria da inspiração limitada reconhece que as Escrituras contêm certas afirmações
que são difíceis de conciliar. Mas, será que admitir que existe a possibilidade, de que
existam “erros”, quanto aos detalhes históricos é a melhor solução? A Bíblia dá grande
ênfase a detalhes históricos. A argumentação de Paulo em Romanos 5:12 - 21, por
exemplo, tem como pré-requisito a crença na figura histórica de Adão. As palavras de
Jesus em Mateus 12:41 deixam subentendido que o livro de Jonas não é simplesmente
uma parábola, mas sim que um profeta real, chamado Jonas, pregou para o povo de
Nínive. Além disso, achados arqueológicos, muitas vezes, já resolveram certos problemas
encontrados nos registros bíblicos. Enquanto esperamos por mais evidências que
esclareçam essas dificuldades, parece melhor, portanto, afirmar que a Bíblia como um
todo, é absolutamente confiável.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 5
Testamento?
C. Teoria da inspiração plenária e verbal.
Como as outras teorias, a teoria da inspiração plenária e verbal afirma que o Espírito
Santo interagiu com os autores humanos a fim de produzir o texto bíblico. As palavras
“verbal” e “plenária” descrevem o significado específico que essa teoria dá à
inspiração.
“Plenária” significa “cheia” ou “completa”. A inspiração plenária afirma que a
inspiração de Deus estende-se por todas as Escrituras, do Gênesis ao Apocalipse. Deus
guiou os autores, tanto quando eles registravam detalhes históricos, como quando nas
ocasiões em que discutiam questões doutrinárias.
“Verbal” refere-se às palavras usadas nas Escrituras. Inspiração verbal significa que a
inspiração de Deus estende-se a cada palavra escolhida pelo autor. Mas não é o
mesmo que a teoria do ditado. Os autores poderiam ter escolhido outras palavras e,
com freqüência, Deus permitiu que eles expressassem sua própria personalidade
enquanto escreviam. Mas o Espírito Santo guiou o processo de modo que o produto final
transmitisse fielmente o significado desejado por Deus.
A inspiração plenária e verbal, portanto, afirma que Deus inspirou toda a Bíblia. Essa
inspiração estendeu-se até às palavras que os autores escolheram, mas Deus também
deu aos autores uma certa liberdade para que escrevesse de acordo com seu estilo e
personalidade. Ao mesmo tempo, Ele orientou o processo de forma que o produto final
refletisse com fidelidade a mensagem divina.
A teoria da inspiração plenária e verbal é a que parece lidar melhor com as evidências
bíblicas. Ela reconhece o elemento humano nas Escrituras e admite que diferentes
autores escreveram de diferentes formas. Mas ela também afirma que o Espírito Santo é,
na verdade, o autor final da Bíblia. O Espírito impulsionou os autores humanos a
comunicarem a mensagem divina de amor e salvação para um mundo que precisava
desesperadamente dela.
A doutrina da inspiração plenária e verbal tem importantes implicações para os cristãos
dos dias de hoje. Em primeiro lugar, significa que a Bíblia é digna de confiança.
Podemos confiar nas suas informações. Ela oferece muitas idéias sobre a história do
povo de Deus e também descreve o plano de Deus, tanto para o mundo, como para
nossas vidas. Ela revela o significado mais elevado da vida e, nos mostra como nos
tornarmos tudo o que Deus quer que sejamos. Podemos confiar em tudo o que ela
afirma.
Em segundo lugar, a inspiração plenária e verbal significa que a Bíblia tem autoridade.
Por ser a Palavra de Deus, ela fala com a autoridade de Deus. Ela nos chama a lê-la,
compreender suas implicações e sujeitarmo-nos a elas. E ela continua sendo a verdade
de Deus, quer escolhamos obedecê-la ou não. A Bíblia coloca diante de nós duas
opções: obedecer a Deus ou nos opormos a Ele. Moisés, o servo de Deus, disse que a
palavra de Deus é a própria vida: “Porque esta palavra não é para vós outros coisa vã;
antes, é a vossa vida; e, por esta mesma palavra, prolongareis os dias na terra à qual,
passando o Jordão, ides para a possuir - Deuteronômio 32:47”. O Senhor Jesus também
disse a mesma coisa: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 6
Testamento?
palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida João 6:63”. Do que você vai
chamá-la?
III. Implicações da Doutrina Bíblica da Inspiração – ver
“Apêndice B” -
“Livros Fontes Mencionados nas Escrituras”.
Há certos fatos que, embora não formalmente apresentados na doutrina da inspiração,
acham-se implícitos. Vamos tratar aqui de três deles: a igualdade entre o Antigo e o
Novo Testamento, a variedade da expressão literária e a inerrância do texto.
A. A inspiração diz respeito igualmente ao Antigo e ao Novo Testamento. A maioria
das passagens citadas acima, a respeito da natureza plena da inspiração, referese diretamente ao Antigo Testamento. Com base em que, então, podem aplicarse - por extensão - ao Novo Testamento? A resposta a essa pergunta é que o Novo
Testamento, à semelhança do Antigo, reivindica a virtude de ser Escritura Sagrada,
de escrito profético, e toda a Escritura e todos os escritos proféticos devem ser
considerados inspirados por Deus.
De acordo com II Timóteo 3:16, toda a Escritura é inspirada. Ainda que a
referência explícita, aqui, refira-se ao Antigo Testamento, é verdade que o Novo
Testamento também deve ser considerado Escritura Sagrada. Pedro, por exemplo,
classifica as cartas de Paulo como parte das “outras Escrituras” do Antigo
Testamento – ver II Pedro 3:16. Em I Timóteo 5:17 - 18, Paulo faz referência a uma
informação contida no evangelho de Lucas – ver Lucas 10:7, referindo-se a ele
como “Escritura”. Tal fato é mais significativo ainda quando consideramos que
nem Lucas, nem Paulo fizeram parte do grupo dos doze apóstolos. Visto que as
cartas de Paulo e os escritos de Lucas - ver Lucas 1:1-4 e Atos 1:1 - foram
classificados como Escritura Sagrada, por implicação direta, o resto do Novo
Testamento, escrito pelos apóstolos, também pode e deve ser considerado
Escritura Sagrada. Em suma: se “toda Escritura é divinamente inspirada” e o Novo
Testamento é considerado Escritura, decorre disto claramente, que o Novo
Testamento é encarado com a mesma autoridade do Antigo. Na verdade, é
exatamente assim que os cristãos, desde o tempo dos apóstolos, têm considerado
o Novo Testamento. Eles o consideravam com a mesma autoridade do Antigo
Testamento.
Além disso, de acordo com II Pedro 1:20-21, todas as mensagens escritas de
natureza profética, foram dadas ou inspiradas por Deus. E, visto que o Novo
Testamento reivindica a natureza de mensagem profética, segue-se que ele
também reclama autoridade igual à dos escritos proféticos do Antigo Testamento.
O apóstolo João, por exemplo, refere-se ao livro do Apocalipse da seguinte forma:
“palavras da profecia deste livro” – ver Apocalipse.22:18. Paulo afirmou que a
igreja estava edificada sobre o alicerce dos apóstolos e profetas - do Antigo e do
Novo Testamento – ver Efésios 2:20 e 3:5. Visto que o Novo Testamento, à
semelhança do Antigo, é um texto dos profetas de Deus, ele possui por essa razão,
a mesma autoridade dos textos inspirados do Antigo Testamento.
B. A inspiração abarca uma variedade de fontes e de gêneros literários. O fato de a
inspiração ser verbal, ou escrita, não exclui o uso de documentos literários e de
gêneros literários diferentes entre si. As Escrituras Sagradas não foram ditadas
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 7
Testamento?
palavra por palavra, no sentido comum que se atribui ao verbo ditar. Na verdade,
há certos trechos menores da Bíblia, como, por exemplo, os Dez Mandamentos,
que Deus outorgou diretamente ao homem – ver Deuteronômio 4:10, mas em
parte alguma está escrito ou fica implícito que a Bíblia é resultante de um ditado
palavra por palavra. Os autores das Sagradas Escrituras eram escritores e
compositores, não meros secretários, amanuenses ou estenógrafos.
Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagradas e que
dão forte apoio a essa afirmativa.
1. Em primeiro lugar, existe uma diferença marcante de vocabulário e de
estilo de um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões
literárias de Isaías com os tons lamurientos de Jeremias. Compare-se a
construção literária de grande complexidade encontrada em Hebreus,
com o estilo simples e direto de João. Distinguimos facilmente a linguagem
técnica de Lucas, o médico amado, da linguagem de Tiago, formada de
imagens pastorais.
2. Em segundo lugar, a Bíblia faz uso de documentos não-bíblicos, como o
livro dos Justos – ver Josué 10:13 e II Samuel 1:18; o livro de Enoque – ver
Judas 14 e até do poeta grego Epimênedes – ver Atos 17:28. Somos
informados de que, muitos dos provérbios de Salomão, haviam sido
editados pelos homens de Ezequias – ver Provérbios 25:1. Lucas reconhece
o uso de muitas fontes escritas sobre a vida de Jesus, na composição de
seu próprio evangelho – ver Lucas 1:1 - 4.
3. Em terceiro lugar, os autores bíblicos empregavam uma grande variedade
de gêneros literários; tal fato, não caracteriza um ditado monótono em
que as palavras são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo
padrão. Grande parte das Escrituras é formada de poesia, como por
exemplo, os livros de Jó, Salmos, Provérbios e Cantares, assim como
extensas porções dos profetas. Os evangelhos contêm muitas parábolas.
Jesus empregou inúmeras figuras de linguagem. Paulo usava alegorias –
ver Gálatas 4 e hipérboles – ver Colossenses 1:23 - ao passo que Tiago
gostava de usar metáforas e símiles.
4. Por fim, a Bíblia usa a linguagem simples, do senso comum, do dia-a-dia,
que salienta a ocorrência de um acontecimento, e não a linguagem de
fundamento científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem
anticientífica ou negadora da ciência, e sim linguagem popular, para
descrever fenômenos científicos. Não é anticientífico afirmar que o sol
permaneceu parado – ver Josué 10:12 – da mesma maneira que não é
anticientífico dizer que o sol nasceu ou subiu – ver Josué 1:15. Este tipo de
linguagem reflete, apenas, o uso de expressões coloquiais para se referir a
estes acontecimentos. Dizer que a rainha de Sabá veio “dos confins da
terra”, ou que as pessoas no Pentecostes, vieram “de todas as nações
debaixo do céu”, não é dizer coisas com exatidão científica, e sim de
modo coloquial. Os autores usaram formas gramaticais comuns de
expressar seu pensamento sobre os assuntos.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 8
Testamento?
Por isso, o que quer que fique implícito na doutrina dos escritos inspirados, os
dados das Escrituras mostram, com clareza, que elas incluem o emprego de
grande variedade de fontes literárias e de estilos de expressão. Nem todas as
mensagens vieram diretamente de Deus, mediante ditado. Tampouco foram
expressas de modo uniforme e literal. É preciso que se entenda a inspiração da
perspectiva histórica e gramatical. A inspiração não pode ser entendida como um
ditado uniforme, ainda que divino, que exclua os recursos, a personalidade e as
variadas formas humanas de expressão.
C. Inspiração pressupõem inerrância. A Bíblia não é só inspirada; é também, por
causa de sua inspiração, inerrante, i.e., não contém erros. Tudo quanto Deus
declara é verdade isenta de erro. Com efeito, as Escrituras afirmam ser a
declaração - aliás, as próprias palavras - de Deus. Nada do que a Bíblia ensina
contém erro, visto que a inerrância é conseqüência lógica da inspiração divina.
Deus não pode mentir – ver Hebreus 6:18; sua Palavra é a verdade – ver João
17:17. Por isso, seja qual for o assunto sobre o qual a Bíblia diga alguma coisa, ela
só dirá a verdade. Não existem erros históricos nem científicos nos ensinos das
Escrituras. Tudo quanto a Bíblia ensina vem de Deus.
Não é possível fugir às implicações da inerrância factual com a declaração de
que a Bíblia nada tem para dizer a respeito de assuntos factuais ou históricos.
Grande parte da Bíblia apresenta-se como história. Bastam as tediosas
genealogias para atestar essa realidade. Alguns dos maiores ensinos da Bíblia,
como a criação, o nascimento virginal de Cristo, a crucificação e a ressurreição
corpórea, claramente pressupõem matérias factuais. Não existem meios de
“espiritualizar” a natureza factual e histórica dessas verdades bíblicas, sem praticar
violência terrível contra a análise honesta do texto, da perspectiva cultural e
gramatical.
A Bíblia não é um compêndio de ciências, mas, quando trata de assuntos
científicos em seu ensino, o faz sem cometer erro. A Bíblia não é um compêndio
de história, mas, sempre que a história secular se cruza com a história sagrada em
suas páginas, a Bíblia faz referência a ela sem cometer erro. Se a Bíblia não fosse
inerrante e não estivesse certa nas questões factuais, empíricas, comprováveis, de
que maneira seria possível confiar nela em questões espirituais, não sujeitas a
testes? Como disse Jesus a Nicodemos: “Se tratando de cousas terrenas, não me
credes, como crereis, se vos falar das celestiais?” – ver João 3:12.
IV. Transmissão Textual: Como a Bíblia chegou até nós?
Graças ao trabalho de inúmeros undivíduos fiéis, ao longo de muitos séculos, nós
podemos ler a Bíblia hoje. Estes indivíduos são tecnicamente chamados de escribas.
Estes homens copiaram, à mão a Palavra de Deus, tomando grande cuidado para
manter a exatidão daquilo que copiavam.
A. O cuidado dos escribas com os textos do Antigo Testamento.
1. Os escribas no mundo antigo.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 9
Testamento?
Os escribas tiveram um papel essencial no mundo antigo. A transmissão fiel de
informações precisas, era um dos aspectos mais importante das sociedades da
Antigüidade. Os reis contavam com os escribas para registrar os editos reais. Oficiais
administrativos precisavam dos escribas para registrar transações importantes. Os erros
podiam ter implicações políticas, econômicas ou de outra natureza de grande
seriedade.
Os escribas da antiguidade, que copiavam os textos bíblicos criam, que estavam
copiando as palavras do próprio Deus. Consequentemente, tomavam grande cuidado
de forma a preservar as cópias que haviam recebido. Um dos mais importantes grupos
de escribas foi o dos Massoretas.
2. Os Massoretas.
Os Massoretas - 500-1000 d.C - trabalharam para preservar os textos do Antigo
Testamento que haviam recebido. Eles queriam assegurar um entendimento correto dos
textos, bem como sua transmissão com fidelidade, para as gerações futuras. Eles foram
chamados de Massoretas por causa da - massora – tradição textual, desenvolvida por
estes homens, e que era um complexo sistema de símbolos que eles haviam
desenvolvido para ajudá-los a alcançar seus objetivos.
Os Massoretas seguiram três passos para garantir a precisão textual.
a. Primeiro desenvolveram um sistema para escrever as vogais, já que as línguas
hebraica e aramaica são línguas consonantais i.e. não possuem vogais e todas as
letras de seus alfabetos são consoantes. Mesmo sendo línguas consonantais, no
entanto, tanto o hebraico como o aramaico possuíam certas consoantes que
soavam como vogais. O que os Massoretas fizeram foi desenvolver um sistema
complexo de vogais - a, e, i, o, u e vogais com sons mais abertos ou mais fechados
- visando preservar, na escrita, as tradições orais que haviam recebido das
gerações anteriores.
b. Em segundo lugar, os Massoretas desenvolveram um sistema de acentuação para
o texto hebraico. Estes acentos ajudavam o leitor a pronunciar o texto
corretamente, mas, além disso, mostravam a relação entre várias palavras e frases
de uma mesma sentença. Desta maneira eles ajudaram a esclarecer diversas
passagens difíceis.
c. Em terceiro lugar, os Massoretas desenvolveram um sistema de anotações
detalhadas do texto. Estas anotações ofereciam um meio pelo qual era possível
verificar a precisão do texto copiado. Nos dias de hoje podemos produzir cópias
de manuscritos idênticas usando em computador ou uma máquina copiadora.
Os Massoretas tinham que fazer tudo à mão.
A palavra hebraica usada para “escriba” significa literalmente “contador”, e isto,
porque os escribas contavam absolutamente tudo no texto. Eles sabiam, por exemplo,
que a – Torah – instrução ou os primeiros cinco livros do Antigo Testamento - continha
400.945 palavras! Eles também nos informam, que o versículo de Levítico 8:8 representa o
exato meio da Torah - instrução. Eles sabiam que a palavra que ficava exatamente no
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 10
Testamento?
meio da Torah – instrução, era a palavra “buscou” em Levítico 10:16. Sabiam também
que a letra que ficava exatamente no meio da Torah – instrução, era uma das letras da
palavra traduzida por “ventre” em Levítico 11:42. Estas informações podem parecer
apenas curiosas, mas para os Massoretas, estas eram informações vitais para a
preservação cuidadosa da Palavra de Deus. Devemos ser gratos a Deus pela
dedicação destes homens, que através dos séculos se empenharam para preservar
incorrupta a Palavra de Deus.
B. A transmissão nas línguas Originais - Hebraico e Aramaico.
A maior parte do texto do Antigo Testamento foi escrita originalmente em hebraico.
Pequenas porções que podem ser encontradas em Gênesis 31:47b; Esdras 4:8 – 6:18; 7:12
– 16; Jeremias 10:11b e Daniel 2:4b – 7:28, foram escritas em aramaico. Tanto o hebraico
quanto o aramaico são línguas semíticas que pertencem à mesma família do acádio,
que era a língua falada pelos Assírios e pelos Babilônios, do amorita, do fenício, do
ugarítico,do amonita, do moabita e do árabe.
Várias cópias em Hebraico, do Antigo Testamento, chegaram até nossos dias. Três destas
cópias são de maior importância para os nossos estudos. Estes são: O Texto Massorético,
o Pentateuco Samaritano, e os Manuscritos do Mar Morto.
1. O texto Massorético.
A expressão “Texto Massorético” – TM - refere-se a um grupo de manuscritos hebraicos
do Antigo Testamento, datados desde os primeiros séculos da Idade Média, e que são
todos concordes entre si. Estes manuscritos possuem um padrão elevado de
uniformidade textual, devido ao trabalho coerente e meticuloso dos escribas judeus do
período medieval, conhecidos como Massoretas, que adotaram um rígido sistema para
preservar, o texto da Bíblia Hebraica, sem corrupções e sem alterações significativas.
Hoje em dia, todas as edições impressas da Bíblia Hebraica, bem como todas as
traduções modernas - incluindo-se ai a nossa versão de Almeida Revista e Atualizada –
ARA - são baseadas no TM. A estrutura consonantal do TM remonta ao período do
Segundo Templo - c. 450 a.C. a 70 d.C. Após a destruição do Templo e da cidade de
Jerusalém, os judeus se reuniram na cidade de Jâmnia para resolver a situação
canônica de certos livros do Antigo Testamento que ainda tinham sua autoridade
disputada. Deste concílio surgiu um texto que foi recebido pelos judeus como
autoritativo. Este concílio, em Jâmnia, aconteceu perto do final do primeiro século e,
desde 100 d.C., todas as comunidade judaicas adotaram-no como a forma textual
definitiva e oficial das Escrituras Sagradas. O texto bíblico do Antigo Testamento, tanto
de judeus quanto de cristãos, baseia-se no TM estabelecido há muitos séculos pelos
escribas na época antiga e, mais tarde, pelos Massoretas, durante o período medieval.
O texto atual da Bíblia Hebraica passou por um processo de definição textual desde os
primeiros séculos do período medieval, quando os Massoretas procuravam padronizar,
uniformizar e transmitir, para as futuras gerações de escribas, um texto que fosse correto
e livre de corrupções textuais. Os manuscritos do TM conhecidos hoje em dia
apresentam um número reduzido de variantes e que são, em sua totalidade,
insignificantes. O texto bíblico preparado pela atividade massorética e que é a base de
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 11
Testamento?
todas as edições modernas da Bíblia, é exatamente o mesmo há mais de 1000 anos,
desde que os primeiros Massoretas que surgiram por volta do século VII.
O tipo textual do TM possui testemunhos antigos que atestam sua antiguidade e seu uso
pelos judeus e pelos primeiros cristãos. Estes testemunhos incluem: os Targumin comentários acerca de passagens bíblicas; a Peshita - tradução das Escrituras para o
Siríaco; as traduções gregas de Áquila, de Símaco e de Teodocião; as recensões1 da LXX
feitas por Luciano e por Orígenes; a Vulgata Latina e os vários manuscritos encontrados
no deserto da Judéia, e que são conhecidos como Manuscritos do Mar Morto,
descobertos a partir de 1947 em Khirbet ou ruínas de Qumran, Wadi Murabba’at, Nahal
Hever e Massada. A tudo isto, somem-se as milhares de citações rabínicas antigas e
medievais, que também refletem o texto do TM.
A partir de 1450 a.D. com o surgimento da imprensa inventada por Johannes
Gutenberg2, o TM vem sendo impresso de forma contínua, tanto por editores cristãos
como por judeus. Todas as primeiras edições críticas da Bíblia Hebraica - edições que
discutem leituras variantes em um mesmo texto - surgidas desde o século XVIII, assim
como as edições de Benjamin Kennicott (1776 - 1780) de Giovanni Bernardo Rossi (1784 1788), e a de Christian David Ginsburg (1908 - 1926), baseiam-se na forma textual
estabelecida e transmitida pelos escribas e Massoretas.
Além das edições mencionadas acima, atualmente, existem outras cinco versões, que
seguem determinados manuscritos Massoréticos pertencentes ao período do auge da
atividade Massorética. Entre estas podemos citar:

Bíblia Hebraica Kittel – símbolo = BHK.

Bíblia Hebraica Stuttgartensia – símbolo = BHS.

Bíblia Hebraica Leningradensia – símbolo = BHL.

Bíblia Hebraica Quinta – símbolo BHQ. Esta versão está sendo editada atualmente
pelas Sociedades Bíblicas Unidas e está prevista, para ser publicada, em 2010.
Esta versão deverá suceder a Bíblia Hebraica Stuttgartensia – BHS.

Bíblia Hebraica do Hebrew University Bible Project – símbolo = HUBP3.
Recensões: 1) Recenseamento e, 2) Cotejamento do texto de uma edição com o respectivo
manuscrito.
2 Johann Gensfleisch Zum Laden Zum Gutemberg artesão alemão nascido no século XIV em Mainz na
Alemanha veio a falecer provavelmente, em 3 de Fevereiro 1468 também em Mainz. Gutemberg foi o
responsável pela invenção da imprensa moderna, mediante a utilização de tipos móveis, esculpidos em
madeira e revestidos de metal e tinta à base de óleo. Sua invenção foi única, e sua técnica não era
conhecida, nem na China nem na Coréia do século XV. Até nos dias de hoje, podemos ver pequenas
gráficas, usando a tecnologia inventada por Gutenberg.
3 Este projeto publicou, até o ano de 2003, somente os livros do profeta Isaías (entre 1975 e 1995) e do
profeta Jeremias (1997). Nestas edições, em seus aparatos críticos, são citadas várias fontes judaicas
antigas e medievais, bem como a LXX, os manuscritos do Mar Morto, outros manuscritos Massoréticos, a
literatura Talmúdica e a literatura rabínica medieval.
1
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 12
Testamento?
As três primeiras Bíblias Hebraicas mencionadas acima, estão todas baseadas no
Códice4 de Leningrado, chamado: B 19a (L). E a última, da lista acima, está baseada no
Códice de Aleppo chamado de “Codice A”.
O Códice de Leningrado B 19ª - designado pela letra L - foi produzido em 1008 a.D.
Estudiosos acreditam que o mesmo tenha sido copiado de um manuscrito produzido por
Aaron ben Moseh ben Asher. Este manuscrito contém todo o Antigo Testamento.
O Códice de Aleppo - designado pela letra A - foi produzido por volta do ano 940 a.D.
Foi originalmente encontrado em Jerusalém e de lá, levado para a cidade do Cairo no
Egito. Do Cairo foi levado para Aleppo, no norte da Síria. É desta cidade que o
manuscrito toma emprestado seu nome. Maimônides5 costumava referir-se a este
código, como o mais fidedigno - digno de fé; merecedor de crédito - de todos os que
ele conhecia. Originalmente, o Codice A, continha o Antigo Testamento inteiro em 380
fólios – folhas escritas na frente e no verso - mas uma turba invadiu a sinagoga sefardita 6
em 1498, e no processo, mais ou menos um terço do manuscrito foi destruído, restando
somente 294 fólios atualmente. Depois da destruição, o manuscrito começa com a
última palavra de Deuteronômio 28:17 – (vu)misheadeteka – tua amassadeira. Este
manuscrito encontra-se, atualmente, na Universidade de Jerusalém sob os cuidados do
Instituto Ben Zvi.
2. O Texto Protomassorético.
O texto consonantal do TM, anterior à época dos Massoretas, é chamado de texto
Protomassorético, não contendo ainda a vocalização, a acentuação e o aparato
Massorético, que foram desenvolvidos somente durante a Idade Média. O texto
Protomassorético é um dos tipos textuais da Bíblia Hebraica utilizados pelos judeus,
durante o período do Segundo Templo - c. 450 a.C. a 70 d.C., ao lado de outras formas
textuais transmitidas naquela mesma época.
O texto Protomassorético, preservado e transmitido pelos escribas judeus na época do
Segundo Templo, foi a base e a origem do TM desenvolvido pelos Massoretas, na época
medieval. Este texto foi provavelmente o preferido pelos fariseus e pelos círculos dos
escribas do Templo em Jerusalém, que o copiaram constantemente através dos séculos.
Alguns estudiosos acreditam que esta forma textual foi a que teve a melhor transmissão
e preservação, pelo foto de ter sido copiada meticulosamente seguindo regras
estabelecidas pelos próprios escribas.
Os outros tipos textuais hebraicos existentes, ao lado do Protomassorético, eram o tipo
que deu origem ao Pentateuco Samaritano e o tipo que deu origem à Septuaginta -
Chamam-se de “Códice” os manuscritos antigos montados em forma de “livros” modernos utilizando
“cadernos” de oito, dez ou doze folhas. A forma alternativa aos códices eram os rolos de papiro ou
mesmo de pergaminho (couro de ovelhas, cabras, veados etc) ou vellum (couro de bois).
5 Moses Maimônides rabino judeu nascido em 30 de Março de 1135 a.D. em Córdoba na Espanha e
falecido em 13 de Dezembro de 1204 no Egito.
6 Do hebraico tardio “sepharadh”, naturais de Sepharadh, provável região da Ásia Menor que
posteriormente os emigrantes asiáticos identificaram com a Península Ibérica. Chamam-se de sefarditas os
judeus descendentes dos primeiros israelitas de Portugal e da Espanha, expulsos, respectivamente, em
1496 e 1492. São também chamados de sefaraditas.
4
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 13
Testamento?
designada pela sigla LXX7 - os quais discordam, em vários detalhes relativos ao texto, à
ortografia e à morfologia, do texto Protomassorético. Os eruditos costumam argumentar
que estes outros tipos textuais são, na verdade, textos vulgarizados, transmitidos sem
muitos critérios e sem obedecer a regras estabelecidas e, por isso, eles possuíam
alterações como se vê no Pentateuco Samaritano e em certos manuscritos de Qumran.
Mas apesar disto, todos eles eram de uso comum entre os judeus e nenhum deles tinha
mais autoridade do que o outro no período pré-cristão.
3. O Pentateuco Samaritano.
O Pentateuco Samaritano, como o próprio nome revela, contém somente os cinco
primeiros livros do Antigo Testamento - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
- e tem sua origem relacionada aos judeus samaritanos. Estes judeus surgiram de
casamentos mistos entre judeus e estrangeiros trazidos pelo imperador da Assíria, após
destruir o reino do norte - reino de Israel em 722 a.C. Era prática, era comum dos
imperadores Assírios, que desterravam parte da população dos territórios ocupados,
transportando-as para outras regiões, igualmente ocupadas. Assim, parte da população
do reino de Israel, foi desterrada para outras terras, enquanto povos de outras regiões,
foram trazidos para Israel. Desta miscigenação entre judeus e estrangeiros surgiu esta
raça mista conhecida como samaritanos.
As cópias manuscritas mais antigas do Pentateuco Samaritano são aproximadamente
do ano 1100 a.D. Os estudiosos acreditam que estes manuscritos refletem, de maneira
apropriada, texto antigos, produzidos originalmente entre 200 e 100 a.C.
Os judeus de Jerusalém viam os samaritanos como mestiços, raça não pura, e que
faziam inúmeras concessões culturais, entre as quais, a mais grave, era a de se casarem
com estrangeiros. Os samaritanos, por sua vez, consideravam que preservavam uma
forma mais antiga e mais pura da fé do que os judeus que haviam retornado da
Babilônia. Aqui, cabe lembrar, as palavras da mulher samaritana a Jesus quando disse:
“Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar
onde se deve adorar – João 4:20”. Em suas palavras podermos notar que havia
diferenças teológicas entre judeus e samaritanos. O Pentateuco Samaritano possui
características que refletem estas diferenças. O texto do Pentateuco Samaritano
oferece um testemunho, muito antigo, de como os samaritanos interpretavam o
Pentateuco. Os samaritanos como que ajustaram o texto do Pentateuco para refletir
suas próprias conveniências e isto, torna este manuscrito uma testemunha mais fraca.
O Pentateuco Samaritano era desconhecido pelo mundo ocidental até 1616, quando
foi descoberto por Pietro della Valle, em Damasco, na Síria. Após a descoberta do texto,
o Pentateuco Samaritano foi incluído na Poliglota8 Parisiense produzida entre 1629 e
1645, bem como na Poliglota Londrina produzida entre 1654 e 1657.
A Septuaginta, comummente identificada pelo símbolo LXX, é a tradução das escrituras hebraicas para
o grego realizada no Egito sob o patrocínio do Ptolomeu II Filadelfo (285–246 a.C.
8 Chama-se de “Poliglota” a publicação de textos, sejam do Antigo Testamento sejam do Novo
Testamento em colunas paralelas como a Poliglota publicada no Brasil pela Sociedade Bíblica do Brasil e
Edições Vida Nova contendo o texto do Antigo Testamento em Hebraico (TM conforme editado na Bíblia
Hebraica Stuttgartensia), Grego (Septuaginta, texto editado por Alfred Ralphs), Português (versão de
Almeida Revista e Atualizada – ARA) e Inglês (texto da The New International Version).
7
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 14
Testamento?
Em 1815, Wilhelm Gesenius considerou o texto impróprio para a crítica textual do
Pentateuco, por conter alterações deliberadas feitas pelos Samaritanos. Outros
estudiosos, entre os quais podemos citar Abraham Geiger e Paul E. Kahle, vieram a
considerar o Pentateuco Samaritano como um testemunho de grande valor para a
crítica bíblica. Começando no final do século XIX e, estendendo-se por todo século XX,
os estudos acerca do Pentateuco Samaritano, esclareceram sua natureza, o seu tipo
textual e a sua relação com o TM - Texto Massorético. Estes estudos constataram cerca
de 6.000 variantes com relação ao texto do TM e cerca de 1900 leituras concordantes
com a LXX - Septuaginta. A maioria das variantes é de ordem ortográfica - grafia correta
e pontuação, lingüística - língua e gramática, fonológica - sistemas sonoros da língua - e
de vocabulário - conjunto de palavras. As diferenças que mais chamaram a atenção
dos estudiosos, todavia, foram as de cunho ideológico, que foram inseridas no texto em
defesa de pontos de vista dos próprios Samaritanos. Entre estas diferenças podemos
citar:

Diferenças relacionadas às cronologias do período patriarcal, no livro de Gênesis,
e da importância de Siquém, quanto ao estatus religioso quando comparada
com Jerusalém,9 – ver Gênesis 12:6 e 33:18 a 34:2. Os samaritanos achavam que a
cidade de Siquém já existia nos dias de Abrão (circa 2100 a.C) conforme Gênesis
12:6. Isto era importante para eles porque a cidade de Siquém ficava bem no
centro da terra de Canaã onde estava localizado o centro do reino de Israel
(após a divisão entre os reinos de Judá e Israel), com sua capital em Samaria. Mas
na realidade esta cidade de Siquém foi assim chamada por causa do filho de um
príncipe Heveu homônimo que existiu nos dias de Jacó (pelo menos 200 anos
depois de Abrão ter passado por lá). Então o que aconteceu? Nós precisamos
entender que quem escreveu o livro de Gênesis foi Moisés por volta do ano 14401400 a. C. Portanto, quando Moisés escreveu o livro de Gênesis aquela localidade
chamava-se Siquém. Assim sendo quando Moisés a chama de Siquém nos dias de
Abrão o faz em sentido de antecipação e não querendo indicar que aquela
localidade já era conhecida por Siquém nos dias de Abrão.

Diferenças com relação a mandamentos adicionais ordenando a construção de
um templo no monte Gerizim como, por exemplo, em Deuteronômio 11:29. Na
grafia Samaritana a expressão monte Gerizim aparece como uma palavra –
hargerizim – montegerizim, enquanto que em hebraico a grafia é – har gerezim –
monte gerezim.
De acordo com os estudos paleográficos, textuais, históricos e, principalmente, dos
Manuscritos de Qumram, o tipo textual do Pentateuco Samaritano pertence ao período
do Segundo Templo e não é anterior ao século II a.C. Este dado, coloca o surgimento do
Pentateuco Samaritano, solidamente, no período da história de Israel, conhecido como
época dos Hasmoneus10.
Jerusalém – Origem do nome é desconhecida. Certamente está relacionada a Salém (Paz) e estudiosos
especulam entre “fundada em paz” ou “cidade da paz”. A primeira parte do nome “Jeru” é obscura e
não possui origem hebraica – ver mais detalhes em “Jerusalém” na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia escrita e editada por R. N. Champlin, publicada pela Editora Hagnos, São Paulo, SP.
10 Hasmoneus, nome pelo qual é conhecida a dinastia judaica que conseguiu uma relativa
independência do jugo grego das dinastias dos Selêucidas centrada na Síria e dos Ptolomeus centrada no
Egito. Esta dinastia teve início (165 a.C) com a rebelião comandada por um sacerdote chamado
9
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 15
Testamento?
4. Os Manuscritos do Mar Morto.
Um jovem pastor beduíno, da tribo de Taamireh, chamado Muhammad adh-Dhib,
descobriu os primeiros manuscritos em uma caverna, na região do Mar Morto em 1947.
Nesta, que foi a primeira descoberta de manuscritos naquela região, foram descobertos
dois rolos do profeta Isaías - como o que é mencionado em Lucas 4:16 – 17 - um
completo e outro fragmentado. Além destes foram encontrados ainda na caverna 1 de
Qumran, dois importantes manuscritos grafados pela própria comunidade, conhecidos
como Gênesis Apokryphon - 1 Q Gen Apo - e o Rolo da Guerra – Milhamâ - 1 Q M. Após
esta descoberta, arqueólogos e historiadores11 exploraram toda aquela região, incluindo
as localidades de Hirbet Qumran, Wadi Murabba’at, Nahal Hever, Massada, Hirbet
Feshkha, Hirbet Mid e Ein Guedi Estas explorações mostraram-se muito produtivas, pois
através delas, foram encontrados inúmeros manuscritos grafados em papiros. Estes
manuscritos, estavam grafados em hebraico, aramaico e também em grego. Todos
estes documentos, grafados em papiros, foram produzidos entre os anos 200 a 100 a.C.,
e nos mesmos, nós podemos encontrar manuscritos de todos os livros do Antigo
Testamento, com exceção, do livro de Ester. Os manuscritos oferecem também, muitas
informações acerca da comunidade de Qumran e discutem as práticas religiosas e as
atividades diárias. Todos estes manuscritos revelam vários tipos textuais da Bíblia
Hebraica existentes no período do Segundo Templo. Neles estão representados o texto
hebraico que deu origem à LXX, o tipo textual hebraico do Pentateuco Samaritano,
assim como o tipo textual do Texto Massorético. Segundo a estimativa de alguns
estudiosos, o total de manuscritos encontrados gira em torno de 823, enquanto outros
fornecem o número de 668 manuscritos. O total de textos bíblicos achados em Qumran
é de aproximadamente 190.
Além dos textos bíblicos, foram encontrados livros apócrifos/deuterocanônicos12 - tais
como os livros do Eclesiástico e Tobias, pseudoepígrafos13 - tais como o Livro dos Jubileus
e o Testamento dos XII Patriarcas - targumim14 do livro de Jó e de Levítico e um grande
número de escritos produzidos pela própria comunidade de Qumran, tais como: o
Apócrifo do Gênesis, a Regra da Comunidade, o Rolo do Templo, a Regra da Guerra, o
Documento de Damasco, Cânticos de Louvor ou Hodayot, os Pesher15 de Habacuque e
de Naum e o Rolo de Cobre, entre outros. Além dos livros, alguns objetos sagrados
judaicos como tefilim ou filactérios e alguns mezuzot ou objetos fixados nos batentes das
portas, também se encontravam no local das descobertas; estes mezuzot, que são
Matatias, seu filho Judas, chamado Macabeus e seus irmãos João, Simão, Eleazar e Jonatan. O fim veio
com a invasão dos Romanos comandados por Pompeu em 64 a.C.
11 Entre estes podemos citar: Eleazar L. Sukenik, Harold H. Rowley, William F. Albright, Roland de Vaux, A.
Supont-Sommer, Yigael Yadin, Nahman Avigad, Josef T. Milik e Geza Vermes.
12 Chama-se de livros apócrifos/deuterocanônicos à coleção de livros que foram acrescentados ao cânon
da Bíblia Católica Romana a partir no Concílio de Trento que visava combater a Reforma Protestante.
13 Chama-se de livros pseudoepigráficos à coleção de livros produzidos por diversos autores que, visando
aumentar a aceitação de seus escritos, atribuíam os mesmos a famosos personagens do passado.
14 Do hebraico – targum , os Targumin eram traduções dos livros do Antigo Testamento, do hebraico para
o aramaico, que iam muito além da versão original. Neles encontramos comentários, ampliações,
alterações, narrativas, interpretações, explicações e tradições rabínicas.
15 Do hebraico – pesher é o termo aplicado aos textos do Mar Morto que contêm explicações ou
comentários a respeito dos textos bíblicos. Os comentários são relacionados a acontecimentos
escatológicos ou referentes ao fim dos tempos.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 16
Testamento?
usados pelos judeus até os nossos dias, continham pequenos trechos bíblicos – como,
por exemplo, Deuteronômio 6:8 - 9. De todas as cavernas, as que forneceram materiais
mais importantes, foram as de número I, IV e IX. Segundo os eruditos, somente na gruta
IV, foram encontrados cerca de 580 manuscritos, vários dos quais em estado muito
fragmentário. Além de textos bíblicos em hebraico, também foram achados textos em
aramaico e manuscritos da LXX em grego nas grutas IV e VII.
Como mencionamos acima, o tipo de texto do TM está representado nos manuscritos de
Qumran e esta representação é a mais significativa de todas, pois cerca de 60% de todo
o material do Antigo Testamento, encontrado em Qumran, concorda com o TM. Assim
temos que o nível de concordância textual destes manuscritos com o TM é muito
grande, o que serve para comprovar a antiguidade do tipo textual ao qual pertence o
texto preservado pelos escribas e mais tarde pelos massoretas durante a Idade Média.
De todos os livros do Antigo Testamento, o Pentateuco apresenta uma maior
homogeneidade em sua transmissão textual.
A comunidade de Qumran, ao que parece tinha mais apreço por determinados livros
bíblicos, por serem provavelmente mais populares, entre os adeptos do grupo. Estes
textos bíblicos são representados por muitas cópias encontradas em Hirbet Qumran
como, por exemplo: Gênesis 16 e 17, Êxodo 13, Deuteronômio 25, Isaías 20 a 24 e o Salmo
34. Até hoje há divergências em torno da identidade da comunidade de Qumran.
Segundo alguns, esse grupo seria identificado com os essênios, um dos vários ramos do
judaísmo no período dos 200 anos que antecederam o advento de Cristo, juntamente
com os fariseus, os saduceus e os zelotes. A identificação da comunidade de Qumran
com os essênios continua em aberto até o presente momento.
5. Os Fragmentos da Guenizá16 do Cairo.
Um grande lote de manuscritos do Antigo Testamento foi encontrado, “oficialmente”,
em 1896, na guenizá da Sinagoga Ben Ezra em Fustat, na parte antiga da cidade do
Cairo, no Egito. Esta sinagoga havia sido, até o ano 882 d.C. uma antiga igreja cristã,
chamada de Igreja de São Miguel. Naquele ano, ela foi vendida para um grupo de
Judeus, que a converteram em seu templo religioso. Em todas as sinagogas judaicas
existe um espaço especialmente separado para guardar todo o material que não esteja
mais em uso pela comunidade. Este material é geralmente composto de cópias dos
livros do Antigo Testamento e de livros litúrgicos e outros materiais usados na liturgia. Este
cuidado era necessário, pela convicção que os Judeus têm, de que todo o material que
contenha o nome inefável de Deus IHVH – o eterno, precisa ser sempre guardado com a
maior reverência. Era também costume, de vez em quando, retirar todo o material da
guenizá e providenciar que o mesmo fosse cuidadosamente enterrado, visando impedir
que o mesmo fosse profanado. No caso específico da guenizá da Sinagoga Ben Ezra no
Cairo, os manuscritos que estavam lá, foram esquecidos e uma parede foi construída
obstruindo o acesso à guenizá. Talvez alguém tenha pensado em retirá-la de lá antes de
a parede ser completamente fechada, talvez foi deixada ali propositadamente
protegida de mãos que pudessem profanar os documentos nela contidos. Nunca
O termo hebraico - guenizá – significa esconderijo, arquivo, tesouro, armário e depósito. Identifica, nas
sinagogas judaicas, o local onde são recolhidos os livros sagrados, os livros litúrgicos e os objetos rituais que
não estão mais em uso.
16
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 17
Testamento?
saberemos o que realmente aconteceu. O fato é que uma quantidade enorme de
documentos ficou escondida atrás daquela parede.
Existem informações precisas de que, por volta de 1860, o esconderijo havia sido
descoberto e os primeiros fragmentos começaram a ser retirados da guenizá e
começaram a circular. Nos dias de hoje, os muitos milhares de manuscritos fragmentários
da guenizá da Sinagoga Ben Ezra, estão espalhados por diversas coleções entre as
cidades de Oxford, Londres, Nova York, São Petersburgo outras. A coleção mais
importante, devido à quantidade de manuscritos e a importância do material que
contém, é a Coleção Taylor-Schechter, pertencente à Biblioteca da Universidade de
Cambridge. Os responsáveis por esta coleção foram o próprio Salomão Schechter e o
Dr. Charles F. Taylor, diretor do St. John’s College, matemático e hebraísta cristão. Outra
grande coleção pode ser encontrada na Biblioteca Bodleian, em Oxford.
Segundo estimativas de estudiosos, a Coleção Taylor-Schechter possui cerca de 140.000
fragmentos de manuscritos, que estão sendo catalogados até ao dia de hoje (Janeiro
de 2006). O número total do material da guenizá, segundo estimativas, gira em torno de
200.000 fragmentos. O estudioso Emanuel Tov informa que dessa quantidade cerca de
10.000 são fragmentos bíblicos, muitos dos quais não foram ainda publicados. Estes
manuscritos apresentam sistemas diversos de notas massoréticas, vocalização e
acentuação e também apresentam uma escrita hebraica cuidadosa enquanto que
outros fragmentos foram escritos de maneira descuidada.
C. A Transmissão do Texto em Outras Línguas.
1. A Septuaginta – LXX.
Um dos maiores testemunhos da transmissão do texto bíblico é a versão grega
conhecida como Septuaginta - Setenta – LXX em algarismos romanos - que foi a primeira
tradução completa do texto bíblico hebraico para outro idioma. A importância dessa
tradução é enorme, pois além de ser um reflexo do judaísmo helenístico, também foi
fonte de inspiração para os escritores do Novo Testamento e para os escritos teológicos
dos chamados Pais da Igreja. Vários conceitos cristãos foram diretamente tomados da
tradução que estamos chamando de Septuaginta - LXX. As comunidades cristãs
espalhadas pelo Império Romano, que não falavam grego ou latim, mas que tinham sua
própria língua nacional, conheceram o texto da Bíblia, através de traduções feitas da
Septuaginta - LXX e isso, basta para demonstrar a sua influência e importância dentro da
história do cristianismo primitivo.
O uso da Septuaginta - LXX pelos judeus, durou até o inicio do segundo século da Era
cristã, quando o judaísmo sentiu a necessidade de novas traduções, feitas a partir do
texto hebraico, mas refletindo os conceitos do judaísmo rabínico de então. Com o
passar do tempo, a LXX tornou-se a Bíblia por excelência da Igreja Cristã e seu impacto
no cristianismo, nos seus primeiros séculos, foi definitivo, pois nessa tradução bíblica, os
cristãos encontraram respaldo para as suas afirmações e para suas doutrinas.
A LXX é considerada, por muitos estudiosos, uma das mais importantes versões da Bíblia
Hebraica e seu texto serviu, e serve até hoje, para estudos, pesquisas e reflexões sobre a
tradição textual existente nos últimos três séculos anteriores à Era cristã. Além disso, o seu
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 18
Testamento?
texto é uma das principais referências para os estudos de crítica textual do texto em
hebraico.
2. Data e Origem da Septuaginta – LXX.
A primeira tradução completa do Antigo Testamento foi para a língua grega. Esta
tradução feita por volta do século III a.C. em Alexandria, no Egito. Ela é importante para
a crítica bíblica, tanto textual como literária, para a antiga exegese, para a terminologia
do Novo Testamento, como também para a tradição histórica do texto bíblico. O nome
dessa versão grega é Setenta - ebdomékonta - setenta. O nome em latim desta
tradução é Septuaginta e em hebraico é – tergum ha-siveim - tradução dos Setenta.
Esse nome, em grego, vem da carta apócrifa conhecida como Carta de Aristéias,
escrita por volta de 130 a.C., e que pretende narrar a origem dessa antiga tradução.
A Carta de Aristéias informa-nos que o rei do Egito, Ptolomeu II Filadelfo – 285 - 247 a.C.,
desejava ter um cópia da – Torah - instrução ou ensino - composta dos 5 primeiros livros
do Antigo Testamento que é também chamada de Pentateuco - traduzida para o
grego. Para essa finalidade, ele enviou uma delegação - incluindo o próprio Aristéias para Jerusalém, requisitando a Eleazar, o sumo sacerdote naqueles dias, uma cópia da –
Torah - instrução ou ensino, e um grupo de sábios para traduzi-la em Alexandria. O
seleto grupo de sábios era composto de 72 judeus versados em hebraico e grego - seis
de cada uma das tribos de Israel. Ao chegar a Alexandria, o grupo se apresentou
perante o rei Ptolomeu e expôs a sua sabedoria e conhecimento e, com isso,
impressionou tanto ao rei como à sua corte. Logo após esses acontecimentos, os
tradutores iniciaram o trabalho na ilha de Faros, defronte a Alexandria. Cada um
trabalhava em uma cela separada com uma cópia da – Torah - instrução ou ensino. A
obra de tradução foi concluída em 72 dias e constatou-se que todas as traduções eram
absolutamente idênticas.
O objetivo do relato da carta de Aristéias era elevar e legitimar, o valor da LXX, perante
os judeus que viviam em Alexandria e na diáspora, e que falavam o grego como língua
do cotidiano. Com o passar do tempo, outros autores, tanto judeus como cristãos,
acrescentaram dados à história de sua origem. Aristóbulo, Fílon de Alexandria, Flávio
Josefo, fontes rabínicas e cristãs, colaboraram para que a imagem e a autoridade da
LXX fossem reconhecidas por aqueles que desejavam conhecer e usar a versão da Bíblia
Hebraica em sua roupagem grega.
Dos vários autores que escreveram sobre a origem da LXX, dois forneceram duas
concepções importantes que seriam seguidas principalmente pelos cristãos. Eles são:
a. Fílon de Alexandria (25 a.C. - 40 d.C) afirmou que a LXX era uma tradução
inspirada.
b. Flávio Josefo (c. 37/38 – 100 d.C), por sua vez, argumentou que essa versão possuía
uma fidelidade literal ao hebraico, portanto, era de boa qualidade.
Os Pais da Igreja normalmente aceitavam as opiniões tanto de Fílon como de Josefo;
entre esses estavam Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Irineu de Lião, Cirilo de
Jerusalém, Ambrósio de Milão, Hipólito de Roma, Agostinho de Hipona, e outros.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 19
Testamento?
Outro dado da carta de Aristéias é que ela só se refere à tradução da – Torah - instrução
ou ensino, não mencionando os outros livros bíblicos. Em sentido lato, a lenda da origem
da LXX foi aplicada também aos demais escritos bíblicos, traduzidos posteriormente, e
sob seu nome, estão englobados todos os livros do cânone hebraico, juntamente com
os livros típicos do cânone grego. Da narrativa da Carta de Aristéias podemos tirar duas
conclusões que se aproximam da verdade:
a. Por volta do século III a.C. apareceu uma tradução grega da – Toráh - instrução
ou ensino.
b. Essa versão foi feita em Alexandria, no Egito.
Os estudiosos, de acordo com as suas pesquisas, acreditam que a tradução da LXX não
foi um único projeto de algum grupo específico, mas sim, um trabalho realizado por
diversos tradutores em épocas distintas, com estilos e métodos diferentes e, além disso,
cada um possuía um conhecimento relativo da língua hebraica. A LXX demorou para ser
concluída e, provavelmente, a – Toráh - instrução ou ensino, apareceu em 250 a.C.;
com os Profetas aparecendo por volta de 75 a.C. e, por último, os Hagiógrafos, que
teriam surgido somente em 90 d.C. Desse modo, a versão apresenta-se muito irregular e
reflete diversas concepções e métodos distintos de tradução17.
O empenho de se traduzir as Escrituras hebraicas para o grego, foi fruto da própria
comunidade judaica de Alexandria, que não falando mais o hebraico no dia-a-dia,
desejava ler e compreender a Bíblia Hebraica em sua língua cotidiana, o grego. Os
motivos da tradução, possivelmente, foram de ordem litúrgica, devocional e para
estudos. Outro motivo foi fazer da Bíblia Hebraica uma obra conhecida pelos não
judeus, para que estes pudessem lê-la e estudá-la – como em Atos 8:26 - 33.
Assim, quando havia a necessidade de se traduzir determinado livro bíblico, um grupo
ou pessoa fazia a versão para a comunidade. Muitos livros foram traduzidos por mais de
um tradutor, como, por exemplo, Isaías, Jeremias, e os Doze Profetas que tiveram dois
tradutores; Ezequiel teve três tradutores, e assim por diante. Em relação ao Pentateuco,
cada um de seus livros foi traduzido por uma única pessoa. Os estudiosos argumentam
que a LXX foi, na verdade, uma coleção de traduções gregas feitas de maneira
independente por várias pessoas e grupos da comunidade judaica do Egito, refletindo o
espírito e as concepções do judaísmo helenístico.
Segundo os estudiosos, a qualidade da tradução da LXX é muito irregular e, além disso,
os tradutores tinham diferentes níveis de conhecimento do hebraico. Os livros foram
traduzidos obedecendo a métodos diversos e técnicas de tradução variadas. Pode-se
analisar alguns tipos de tradução encontradas ao longo dos livros da LXX:
a. O Pentateuco e os livros Históricos são fiéis.
Não há consenso entre os eruditos sobre a data do término e do aparecimento de todos os livros em
grego. Alguns argumentam que todos os livros já estavam traduzidos em torno de 150 a.C., enquanto
outros defendem uma data mais tardia, pelo menos para os livros do bloco do Escritos, que teriam sido
finalmente traduzidos por volta de 90 d.C.
17
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 20
Testamento?
b. Profetas e Salmos são literais.
c. Cantares e Eclesiastes são servis.
d. Os livros de Jó, Provérbios, Daniel e Ester são traduções livres.
À medida que os livros vão se distanciando do Pentateuco, a qualidade vai decaindo.
Em relação à fidelidade à língua grega, os livros também não são homogêneos:
a. Jó e Provérbios são bons.
b. O Pentateuco, Josué e Isaías são versões medíocres.
c. Os outros livros são de qualidade mais inferior ainda.
Isto aconteceu devido ao fato de os tradutores, além de não terem um conhecimento
pleno do hebraico, também não eram competentes na gramática e na composição
gregas.
Em muitas passagens, a LXX, em vez de simplesmente traduzir o texto hebraico, faz uma
interpretação e, assim, nem sempre é fiel à sua fonte hebraica. Várias expressões
hebraicas foram adaptadas a um ambiente judaico helenizado. Alguns exemplos
podem ser dados como ilustração:
Texto Massorético - TM
Mão do Eterno
O Eterno é a rocha de Israel
O manto do Eterno
O rosto do Eterno
O braço do Eterno
Septuaginta - LXX
Poder do Senhor
O Senhor é o auxílio de Israel
A glória do Senhor
A presença do Senhor
A força do Senhor
Outros termos hebraicos, também sofreram interpretação quando foram traduzidos na
LXX. Entre estes encontramos:
Texto Massorético - TM
hessed - bondade
qahal – reunião
mashiah – ungido - Messias
Toráh - instrução ou ensino
malak - mensageiro
IHVH - o Eterno
Septuaginta - LXX
éleos - misericórdia
ekklissia - assembléia
Christos - Cristo
nómos - lei
angelos - anjo
kúrios - Senhor
A Septuaginta – LXX, ao fazer modificações e interpretações de termos hebraicos,
quando os mesmos foram traduzidos para o grego, acabou por fornecer uma
terminologia específica que foi posteriormente usada pelo Novo Testamento e pelos
primeiros cristãos. Das 350 citações do Antigo Testamento feitas pelo Novo Testamento,
300 foram tiradas da Septuaginta – LXX! Durante os três primeiros séculos da Era cristã, a
Septuaginta – LXX foi, por excelência, a Bíblia da Igreja Cristã. Além de interpretar
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 21
Testamento?
determinados vocábulos hebraicos, a Septuaginta – LXX também modificou os títulos
hebraicos de alguns dos livros do Antigo Testamento como, por exemplo, os do
Pentateuco:
Texto Massorético - TM
bereshit – No princípio
shemot - Nomes
Wayyiqra – E chamou
bemidbar – Em um deserto
devarim – palavras ou coisas
Septuaginta - LXX
Gênesis - Gênesis
Êxodos - Êxodo
Leuítikon - Levítico
Arithimói - Números
Deuteronomíon - Deuteronômio
A divisão em dois livros cada de Samuel, Reis e Crônicas foi obra dos tradutores da LXX e
esta divisão foi posteriormente adotada pelos cristãos em suas bíblias. Esta divisão não
existe na Bíblia Hebraica. A divisão dos livros em blocos separados, também difere do
adotado normalmente pela Bíblia Hebraica:
Texto Massorético - TM
Toráh - instrução ou ensino
Neviim - profetas
Ketuviim – escritos
Septuaginta - LXX
Pentáteucos - Pentateuco
Poieteka - poéticos
Profetiká - proféticos
Os vinte e quatro livros da Bíblia Hebraica são ordenados em uma ordem diferente pela
LXX, que classificou-os de acordo com o seu gênero literário e não de acordo com a sua
aceitação no cânone, conforme o costume judaico. Além deste fato, os tradutores ou
compiladores da LXX incluíram vários livros que não tiveram aceitação no cânone
hebraico. Entres estes podemos citar os seguintes livros ou adições aos livros canônicos:
Judith, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruque, 1 Esdras (versão apócrifa do livro canônico de Esdras), Salmos de
Salomão, Odes, Ester em sua versão grega, acréscimos gregos ao livro canônico de
Ester, Epístola de Jeremias, acréscimos gregos ao livro canônico de Daniel contando as
histórias de Suzana e de Bel e o dragão. Alguns destes escritos ou foram compostos
diretamente em grego, tais como 2 Macabeus e Ester, na versão grega, ou tiveram seu
original hebraico perdido, tais como Tobias, 1 Macabeus, Judith e Eclesiástico.
Posteriormente, alguns destes livros foram aceitos no cânone da Bíblia católica romana
de forma definitiva em 1546, e são chamados de deuterocanônicos pelos católicos ou
de apócrifos pelos protestantes e pelos judeus. O termo grego para apócrifo é
apócrifos - diz-se de obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se
provou – e, em hebraico, estes livros são chamados de – hissonim – externos ou heréticos.
3. Os Targuns Aramaicos.
O aramaico tornou-se a língua comum em todo o Oriente Médio e Mesopotâmia, como
fruto da ascensão do império Babilônico. Os judeus - conquistados no século VI a.C. bem como todos os outros povos subjugados pelos babilônios e persas, passaram a usar
o aramaico como o idioma do dia a dia, do comércio e posteriormente, também do
serviço da sinagoga. O aramaico é uma língua pertencente ao ramo semítico norte ocidental e muito próxima do hebraico, que pertence ao mesmo ramo. No segundo livro
do Reis encontramos um curioso incidente que demonstra claramente que o aramaico
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 22
Testamento?
era usado como idioma diplomático, e que era entendido tanto por judeus e assírios –
ver 2 Reis 18:17 – 26. Com o passar do tempo o aramaico adquiriu uma importância
crescente no meio do povo judeu, que passou a utilizá-lo cada vez mais. O aramaico se
tornou a língua, por excelência dos judeus, suplantando o hebraico que se viu reduzido
à língua sagrada da Bíblia Hebraica, dos serviços religiosos das sinagogas, dos estudos e
das discussões rabínicas e era falado no dia a dia quase que exclusivamente na cidade
de Jerusalém.
Nos serviços religiosos nas sinagogas era feita a tradução para o aramaico, após a
leitura hebraica de cada versículo da parashá – capítulo, porção ou seção do
Pentateuco; e, logo após a leitura de cada dois ou três versículos da haftará –
conclusão feita com a leitura de algum dos profetas. Este trabalho era efetuado por um
tradutor profissional chamado de meturgman, que fazia a tradução “ad lib” ou
espontaneamente, e sem o uso de nenhum material escrito.
Os Targuns são uma coleção de escritos baseados no texto do Antigo Testamento. Estes
escritos em aramaico são do início da Era Cristã e algumas partes são até mais antigas.
Os targuns surgiram em uma época em que o povo judeu precisava de uma
interpretação dos ensinamentos do Antigo Testamento em uma linguagem acessível. Em
certas partes os Targuns refletem uma tradução relativamente culta do Antigo
Testamento. Juntamente com a tradução encontramos comentários e histórias que
reforçam o significado do texto. Por este motivo os Targuns não são considerados uma
testemunha fiel do Antigo Testamento, apesar de nos auxiliarem a compreender as
primeiras interpretações judaicas.
V. Hermenêutica: Como devemos interpretar a Bíblia?
Até agora, discutimos o Cânon, a inspiração e a transmissão textual. Examinamos quais
livros constituem o Antigo Testamento, como o Espírito de Deus trabalhou em conjunto
com autores humanos para produzir o Antigo Testamento e como os livros chegaram até
nós.
Mas ainda ficam algumas perguntas importantes: Como devemos interpretar o Antigo
Testamento? Será que vamos sempre entender o texto apenas pela leitura? Ou será que
devemos seguir certas regras da hermenêutica ou interpretação?
Nem todos os intérpretes bíblicos concordam com o significado de cada passagem da
Bíblia. Porém, a maioria admite que a existência de certas diretrizes, nos ajuda a
determinar o significado de cada passagem. Daremos uma visão geral de algumas das
diretrizes mais importantes.
A. O uso do método gramático-histórico – este método busca encontrar o
“sentido mais simples” de uma passagem da Bíblia, aplicando regras básicas
de gramática e sintaxe. Ele procura determinar o que o texto quer dizer
gramaticalmente e o que significa historicamente.
B. Compreenda o contexto – o termo “contexto”, refere-se às palavras e
sentenças que estão ao redor de uma palavra ou afirmação e que ajudam a
compreender o significado das mesmas. Suponhamos que eu lhe diga: “Eu
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 23
Testamento?
cortei um pedaço da manga”. Qual é o significado de manga? Será que eu
estou falando de uma peça de roupa? Será que eu me refiro a uma fruta?
Sem o contexto, é impossível determinar o significado da palavra.
A compreensão do contexto também é importante para uma interpretação correta das
passagens da Bíblia. Os estudantes da Bíblia devem analisar três tipos de contexto: o
contexto imediato, o contexto remoto e o contexto histórico.
1. Contexto imediato - o contexto imediato refere-se às palavras ou frases
nos versículos mais próximos à palavra ou afirmação que se deseja
compreender. Normalmente, é o que mais influencia no significado.
Minha frase ambígua mencionada acima, por exemplo, torna-se clara se
eu acrescentar: “Hoje, quando eu estava consertando uma camisa,
cortei um pedaço da manga”.
2. Contexto remoto – o contexto remoto descreve o material bíblico nos
capítulos ao redor e mais distantes. Ele também pode influenciar o
significado da passagem em questão, porém, normalmente não de uma
forma tão direta quanto o contexto imediato. Algumas vezes, os leitores
consultam outros livros da Bíblia escritos pelo mesmo autor, para observar
como ele usa uma determinada palavra ou frase em outras partes de
seus escritos. Pode-se até mesmo pesquisar uma idéia ao longo de todo o
Antigo Testamento ou de toda a Bíblia.
3. Contexto histórico – o contexto histórico refere-se ao momento da
História em que o autor escreveu determinada passagem da Bíblia.
Teremos uma compreensão melhor do livro de Lamentações, por
exemplo, se soubermos que o autor estava descrevendo a condição de
Jerusalém depois de sua destruição em 587 a.C. Podemos entender
melhor o significado de um salmo de Davi, se soubermos a ocasião em
que ele foi escrito. Assim, o contexto histórico forma o pano de fundo
sobre o qual o autor bíblico compôs seu texto.
C. Determine o tipo de literatura – A bíblia contém vários tipos ou gêneros
diferentes de literatura e o intérprete deve aplicar diferentes princípios, em
cada caso. Por exemplo: uma narrativa histórica relata uma história; é bem
diferente de uma profecia, que chama o povo a confiar em Deus ou descreve
planos futuros de Deus para o mundo. Poesias e parábolas também requerem
consideração especial. Quando não é levado em consideração o tipo de
literatura, pode-se chegar a uma interpretação distorcida da passagem
bíblica.
D. Interprete a linguagem figurativa – Em nossa maneira de falar no dia-a-dia,
usamos com freqüência a linguagem figurativa. Falamos do sol se levantando,
ou de estar morrendo de fome, ou de calçar os sapatos de outra pessoa. Não
queremos dizer nenhuma dessas coisas literalmente; na realidade, essas
“figuras de linguagem” comunicam certas verdades de uma forma simbólica.
A Bíblia contém muita linguagem figurativa. O profeta Isaias a usou quando
escreveu ”... e todas as árvores do campo baterão palmas”. Na verdade, o
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 24
Testamento?
que ele queria dizer era que Deus faria toda a natureza florescer. O salmista
em Salmos 1:1, usou esse tipo de linguagem quando escreveu: “Bemaventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios”. Andar no
conselho dos ímpios significa ouvir o conselho de pessoas ímpias. Podemos
acabar dando interpretações estranhas se não levarmos em consideração o
uso da linguagem figurativa na Bíblia.
E. Deixe que as Escrituras interpretem as Escrituras – Algumas vezes,
encontramos na Bíblia passagens que continuam sendo difíceis de entender,
mesmo depois que aplicamos os princípios da hermenêutica. Talvez a
passagem tenha dois sentidos possíveis ou pareça contradizer outra passagem
da Bíblia.
Como devemos entender, por exemplo, o texto de Tiago 2:24? O versículo diz:
“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. Mas
em Romanos 3:28 diz: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé,
independentemente das obras da lei”. Essas duas passagens entram em
contradição, ou haveria outra explicação? Em tais casos, devemos deixar que
as Escrituras interpretem as Escrituras. Ou seja, devemos encontrar um outro
texto bíblico que apresente ensinamentos claros sobre o assunto em questão e
interpretar a passagem difícil à luz daquela que é a mais clara. Podemos fazer
isso, pois a palavra de Deus não se contradiz.
Aplicando esse principio, descobrimos outras passagens bíblicas que ensinam
claramente que a salvação é obtida pela graça e somente pela fé – entre
estas passagens podemos citar, por exemplo:
Gálatas 3:1-6 – Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante
cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto
de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois
assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na
verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera
milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da
fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça.
Efésios 2:8 – 9 - Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Conseqüentemente, devemos reexaminar as palavras de Tiago em seu
contexto e descobrir se Tiago não quis dizer alguma outra coisa quando usou
a expressão “justificada por obras”. De fato, uma leitura cuidadosa, irá nos
mostrar que Tiago queria dizer que Abraão e Raabe provaram que sua fé era
genuína, ao realizarem boas obras, um conceito que não contradiz os
ensinamentos de Paulo.
F. Descubra a aplicação para a vida moderna – No início deste estudo,
explicamos que um dos testes de canonicidade era que um livro bíblico
precisava ser escrito para todas as gerações. A principio, o autor escreveu
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 25
Testamento?
para um determinado público, mas se a mensagem é verdadeiramente
palavra de Deus, terá aplicação para todas as gerações. A tarefa final do
intérprete, depois de aplicar os princípios corretos da hermenêutica para
determinar o que o texto significava para o seu público inicial, é de determinar
o que o texto significa nos dias de hoje.
Para fazer isso, devemos compreender quais questões de nossa cultura
moderna são paralelas às questões da passagem bíblica estudada. Então, até
o ponto em que há paralelos, podemos aplicar o ensinamento da Bíblia para
a nossa situação atual.
A Bíblia não é simplesmente um livro antigo com uma mensagem para pessoas da
antiguidade. É a Palavra de Deus. Ela falou a Israel e nos fala nos dias de hoje. Nossa
tarefa, como cristãos, é estudar essa mensagem, aplicá-la em nossas vidas e
compartilhá-la com o mundo que precisa desesperadamente ouvi-la.
Apêndice A
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 26
Testamento?
Quadro da Seqüência dos Livros do Antigo Testamento
Nomes Hebraicos
Organização no Hebraico
Organização em Português
No Princípio
Estes são os nomes Torá
E ele chamou
No deserto
Estas são as palavras
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
1 Samuel
2 Samuel
1 Reis
2 Reis
Josué
Juízes
1 Samuel
2 Samuel
1 Reis
2 Reis
Josué
Juízes
Rute
1 Samuel
2 Samuel
1 Reis
2 Reis
1 Crônicas
2 Crônicas
Esdras
Neemias
Ester
Isaías
Jeremias
Ezequiel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Profetas
Anteriores
Profetas
Posteriores
Louvores
Jó
Provérbios
Rute
Cântico dos Cânticos
Os Escritos
O Pregador
Ketubiim
Gemido
Ester
Hagiografía
Daniel
Esdras
*Cinco Rolos
ou
Neemias
Megilloth
1 As palavras do dia
2 As palavras do dia
Isaías
Jeremias
Ezequiel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Salmos
Jó
Provérbios
Rute*
Cântico dos Cânticos*
Eclesiastes*
Lamentações*
Ester*
Daniel
Esdras
Neemias
1 Crônicas
2 Crônicas
Lei
Pentateuco
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Do Princípio
até
1400 a.C.
1400-1380 a.C
1380-1050 a. C.
1200-1150 a. C.
1100-1010 a. C
1010-971 a.C.
Históricos
971-853 a.C
853-560 a.C
1010-971 a.C.
971-539 a.C
539-450 a.C
445-410 a.C
483-474 a.C
Jó
Poéticos
Salmos
Provérbios
e
Cântico dos Cânticos Sabedoria
Eclesiastes
Isaías
Jeremias
Lamentações
Ezequiel
Daniel
Datas
Profetas
Maiores
Profetas
Menores
Nenhum
período
histórico
específico
é coberto
739-530 a.C
627-580 a.C.
586 a.C.
593-570 a.C.
605-530 a.C
760-730 a.C.
500 a.C
760 a.C.
586 a.C.
770 a.C.
740-700 a.C.
650 a.C.
605 a.C.
627 a.C
520 a.C.
520-518 a.C.
470-460 a.C.
Apêndice B
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 27
Testamento?
Livros Fontes Mencionados nas Sagradas
Escrituras
Livro das Guerras do Senhor
Números 21:14
Livro dos Justos
Josué 10:13
Registros da História do Rei Davi
1 Crônicas 27:24
História dos Reis de Israel e de Judá 2 Crônicas 27:7
História dos Reis de Israel
2 Crônicas 33:18
História dos Reis
2 Crônicas 24:27
Crônicas de Samuel, o vidente
1 Crônicas 29:29
Crônicas do profeta Natã
1 Crônicas 29:29
Crônicas de Gade, o vidente
1 Crônicas 29:29
Livro da Profecia de Aías
2 Crônicas 9:29
Livro das Visões de Ido, o vidente
2 Crônicas 9:29
Livro da História de Semaías, o profeta2 Crônicas 12:15
Livro das Crônicas de Jeú filho de Hanani
2 Crônicas 20:34
Livro da Visão do Profeta Isaías
2 Crônicas 32:32
Livro da História de Hozai (videntes) 2 Crônicas 33:19
Profecia de Enoque
Judas 14
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 28
Testamento?
Parte do material contido neste estudo foi adaptado e editado das seguintes obras, que
o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos
acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã,
São Paulo, 2001.
Confort, Philip Wesley (Editor). A Origem da Bíblia. Casa Publicadora das Assembléias de
Deus, Rio de Janeiro, 4ª Edição, 2003.
Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª Edição, 2003.
Geisler, Norman e Nix, William. Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou até nós.
Editora Vida, São Paulo, 2ª Impressão, 1977.
Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan Corporation,
Grand Rapids, 1978.
Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company,
Grand Rapids, Reprinted, 1992.
Enciclopédias
__________The New Encyclopaedia Britannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago,
15th Edition, 1995.
Bíblia – Antigo e Novo Testamento – Capítulo 1 - O que é o Antigo 29
Testamento?
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