INFECÇÕES VÍRICAS EM EQÜINOS NA REGIÃO NORTE E NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL. VIRAL INFECTIONS OF HORSES IN THE NORTH AND NORTHEAST REGION OF RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL. Mateus Pivato1, Jaqueline Nespolo1, Gabriela Rizzotto1, Rafael Zanatta1, Juliana Felipetto Cargnelutti 2, Luiz Carlos Kreutz3*, Resumo Poucos estudos têm sido conduzidos visando estimar a prevalência de doenças infecto contagiosas na população eqüina. No presente trabalho, o objetivo foi estudar a prevalência de anticorpos contra o Herpesvírus Eqüino tipo 1 (EHV-1), vírus da Arterite Viral Eqüina (EAV), vírus da Influenza Eqüina (EIV) e vírus da Varíola Eqüina (EVV) em eqüinos na região norte e noroeste do RS. A região abrangida pelo estudo contém 121 municípios nos quais se encontram registrados 35.862 eqüinos. O número de amostras sanguíneas incluídas no estudo foi calculado utilizando-se o software Epi Info visando um intervalo de confiança de 95%. A presença de anticorpos anti-EIV foi determinado pelo ensaio de inibição da hemaglutinação e a presença de anticorpos anti-EHV-1, EAV, e EVV foi determinado por ensaios de soro vírus neutralização. Dentre as 387 amostras testadas, 373 (96,4%) apresentaram anticorpos para o EIV; 49 (12,6%) apresentaram anticorpos para o EHV-1; 6 (1,5%) apresentaram anticorpos contra o EAV e nenhuma amostra apresentou anticorpos anti-EVV. Embora não tenha sido possível discernir entre anticorpos decorrentes de infecção natural ou vacinação, e considerando-se que as vacinas eqüinas contêm ambos os antígenos, a grande diferença entre a prevalência de anticorpos anti-EIV e anti-EHV-1 sugere que há uma grande circulação do EIA na população estudada; além disso, evidencia a circulação do EAV na região. Palavras-chave: epidemiologia, herpesvirus eqüino, arterite viral eqüina, influenza eqüina Summary Few studies have been carried out aiming to estimate the prevalence of infectious diseases in the horse population. In this study, the main objective was to determine the prevalence of antibodies to Equine Herpesvirus type 1 (EHV-1), Equine Arteritis Virus (EAV), Equine Influenza Virus (EIV) and Equine Variola Virus (EVV) in horses from the north and northeast region of RS. The study included 123 counties in which 35,862 horses are officially registered. The number of serum samples was calculated using EpiInfo 5.0 aiming to estimate viral infections with at least 95% confident interval. Antibodies do EIV were detected by agglutination inhibition assay and antibodies to EHV-1, EAV and EVV were detected by virus serum neutralization assays. Amongst the 387 serum samples testes, 373 samples (96,45%) had antibodies do EIV; 49 samples (12,6%) had antibodies to EHV-1; 6 samples (1,5%) had antibodies do EAV and none had antibodies do EVV. Even thought it was not possible to differentiate vaccine-induced antibodies from antibodies resulting from active infection, but considering that most equine vaccines have EHV-1 and EIV antigens, the large difference between the prevalence of antibodies to both viruses suggest that EIV is widespread in the population included in this study; in addition, this study indicates that EAV is present in the horse population. Key words: epidemiology, equine herpesvirus, equine arteritis virus, equine influenza. _______________________ 1 Acadêmico do curso de medicina veterinária, Universidade de Passo Fundo (UPF). Acadêmica do curso de medicina veterinária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 3 Médico Veterinário, MSc., PhD. Curso de medicina veterinária, Universidade de Passo Fundo. Campus I, Bairro São José. CEP: 99001-970 - Passo Fundo, RS. [email protected] - autor para correspondência. 2 A eqüinocultura é uma importante atividade sócio-econômica e se constitui em um importante segmento do agronegócio. A criação de eqüinos supre a demanda de animais para o trabalho, lazer, cultura, esporte e ecoturismo. Cada uma dessas atividades apresenta peculiaridades ecológicas, sanitárias e epidemiológicas distintas que dificultam o planejamento e estabelecimento de normas sanitárias abrangentes e eficazes para cada um desses sistemas. As doenças que acometem eqüinos, em sua maioria, não são de comunicação obrigatória e representam um importante obstáculo à produtividade eqüina. Entre as principais enfermidades eqüinas destacam-se a Rinopneumonite Eqüina e Influenza Eqüina. A circulação do vírus da EAV tem sido observada em algumas regiões, bem como a detecção do vírus da varíola eqüina. A influenza eqüina é causada pelo vírus da influenza eqüina (EIV), pertencente à família Orthomyxoviridae, gênero influenzavirus A (MURPHY, 1999). A infecção inicia no trato respiratório superior causando sinais respiratórios que variam em severidade e duração de acordo com virulência da amostra viral, manejo, condições ambientais e defesas do hospedeiro. A infecção caracteriza-se por alta morbidade e baixa mortalidade e é uma das principais doenças infecto-contagiosas dos eqüinos. O EIV já foi isolado no RS (VARGAS & WEIBLEN, 1991) e vários estudos sorológicos demonstraram a ampla distribuição desse vírus no Brasil (OLIVEIRA et al., 2005; DIEL et al., 2006). A Arterite Viral é uma doença associada ao trato respiratório, reprodutivo, morte súbita em potros e infecção branda ou subclínica em animais adultos e tem como etiologia um vírus da família Arteriviridae (EAV; MURPHY, 1999). Garanhões infectados tornam-se fonte de infecção e podem excretar o vírus no sêmen por longos períodos (DEL PIERO, 2000). Relatos clínicos e sorológicos indicam que o EVAV está amplamente distribuído em populações eqüinas de todo mundo. O EAV ainda não foi isolado no Brasil, mas a presença do vírus já foi demonstrada por estudos sorológicos no Estado de São Paulo (LARA et al., 2002), Paraná (LARA et al., 2003) e RS (DIEL et al., 2006). O Herpesvírus Eqüino tipo 1 (EHV-1) pertence a família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae (MURPHY et al., 1999). Uma característica importante dos alfaherpesvírus é a habilidade de estabelecer infecções latentes. As infecções com o EHV podem resultar em doença respiratória, doença genital e abortos, doença neonatal fatal e síndromes neurológicas. O impacto econômico da infecção pelos EHV pode ser significativo, principalmente devido à ocorrência de surtos de abortos. O EHV já foi isolado no RS (VARGAS & WEIBLEN, 1991) e estudos epidemiológicos indicam que a infecção encontrase presente em diversas regiões do estado (DIEL, 2006). O vírus da Varíola Eqüina (EVV) foi recentemente isolado no sul do RS. No entanto, não há estudos sobre a possível circulação desse vírus nas demais regiões do estado. No presente estudo, o objetivo foi estimar a prevalência de anticorpos em contra o EHV-1, EIV, EAV e EVV em eqüinos da região norte e noroeste do estado do RS. Para a realização do presente estudo, 387 amostras de soro eqüino pertencentes a um banco de soro, representativos de 123 municípios da região norte e noroeste do estado do RS, nos quais se encontram registrados 35.862 eqüinos, foram aleatoriamente testadas para a presença de anticorpos contra o EHV-1, EIV, EAV e EVV. O número de amostras testadas foi calculado utilizando-se o software EpiInfo 5.0 visando obter um intervalo de confiança de 95% em predizer a soroprevalência das respectivas infecções. A presença de anticorpos antiEIV foi determinada por meio do ensaio de inibição da hemaglutinação (IHA) e a presença de anticorpos contra os demais vírus foi determinada utilizando-se testes de soro vírus neutralização, em células RK-13. Ambos os ensaios foram executados de acordo com protocolos padronizados (DIEL, 2006). Dentre as 387 amostras testadas, 49 (12,6%) apresentaram anticorpos para o EHV-1, as quais se encontram distribuídas em 21 municípios que perfazem 17% do total de 2 municípios analisados. O EHV-1 encontra-se amplamente distribuído na população eqüina do Brasil. A detecção de anticorpos para EHV-1 em 49 (12,6%) animais no presente estudo evidencia a circulação do vírus na região estudada. Estes dados mostram a necessidade de se manter uma rotina de diagnóstico para o vírus HVE, através de exames sorológicos periódicos para detectar animais com infecção latente e evitar uma disseminação maior do vírus. A vacinação também se torna uma prática indicada, principalmente para animais expostos a aglomerações. Anticorpos para o EAV foram detectados em 6 amostras (1,5%) provenientes de 4 (3,2%) municípios da região, a saber: Passo Fundo (3), Marau (1), Campinas do Sul (1) e Erebango (1). Apesar do EAV não ter sido isolado no Brasil, estudos sorológicos evidenciam a circulação em alguns estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (DIEL et al., 2006; LARA et al., 2002, 2003). Em relação a Influenza Eqüina, entre as 387 amostras testadas, 373 (96,4%) apresentaram anticorpos para o EIV e 14 amostras (3,6%) não demonstraram título de Ac; 84 amostras (21,7%) apresentaram título ≤ 10 e 289 (74,7%) tiveram título ≥ 20. Os testes utilizados não distinguem anticorpos vacinais de anticorpos induzidos pela infecção. Apesar da existência de vacinas comerciais contra este agente, sabese informalmente que sua utilização ainda é bastante restrita. A maioria das amostras foi proveniente de animais que rotineiramente circulam entre propriedades e participam de eventos. Pelo fato da influenza eqüina ser uma enfermidade caracterizada por rápida disseminação e alta morbidade, quando introduzida em rebanhos susceptíveis, infere-se que a maioria das amostras com alto título de anticorpos para EIV seja de animais infectados pelo vírus. Devido à alta prevalência do EIV, salienta-se necessidade de utilizar vacinas para prevenir a infecção. A ausência de animais soropositivos ao EVV sugere que o surto observado tenha características epidemiológicas peculiares que impediu a disseminação do vírus para o restante da população. Os resultados obtidos no presente estudo indicam a presença do EHV-1, EAV e EIV na região, evidenciando a necessidade de exames específicos principalmente no que diz respeito a animais utilizados para reprodução, para evitar um aumento na prevalência destas enfermidades. Referência Bibliográficas DEL PIERO, F. Equine viral arteritis. Vet Pathol, v.37, p.287-296, 2000. DIEL, G.D.; ALMEIDA, S.R.; WEIBLEN, R. et al., Estudo soroepidemiológico sobre as principais infecções virais de eqüinos das regiões norte e noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural, v36, n5, p 1467-73, 2006. LARA, M.C.C.S.H.; FERNANDEZ, W.R; TIMONEY, T.J. et al. Prevalência de anticorpos antivírus da arterite dos eqüinos em cavalos criados no estado de São Paulo. Arq Bras Med Vet Zoot, v.54, n.3, p.223-227, 2002. LARA, M.C.C.S.H. FERNANDEZ, W.R; TIMONEY, T.J. et al. Pesquisa de anticorpos contra o vírus da arterite dos eqüinos (VAE) e herpesvírus eqüino tipo 1 (HVE-1) em cavalos criados em Curitiba, PR. Hora Vet, v.23, n.135, p.51-53, 2003. MURPHY, F.A. Veterinary Virology. 3 ed. San Diego : Academic Press, 1999, 629p. OLIVEIRA, G.S.; SCHIAVO, P.S.; MAZUR, C. et al. Prevalência de anticorpos para o vírus da Influenza Eqüina, subtipo H3N8, em eqüídeos apreendidos no Estado do Rio de Janeiro. Ciência Rural, v.35, n.5., p.1213-1215, 2005. VARGAS, A.C.; WEIBLEN, R. Prevalência de anticorpos contra herpesvirus eqüino tipo 1 (HVE-1) em eqüinos de alguns municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Hora Vet, v.10, p.5-8. 1991. 3