crescimento econômico e produtividade total dos fatores no brasil e

Propaganda
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA
“CRESCIMENTO ECONÔMICO E
PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES
NO BRASIL E NA CHINA, 1960-2008”
CAROLINA BERARDINELLI DE ARAUJO JORGE
ORIENTADOR: MARCELO DE ALBUQUERQUE E MELLO
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2011.
“CRESCIMENTO ECONÔMICO E PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES NO
BRASIL E NA CHINA, 1960-2008”
CAROLINA BERARDINELLI DE ARAUJO JORGE
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em Economia
como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Economia.
Área
de
Concentração:
Economia
Empresarial
ORIENTADOR: MARCELO DE ALBUQUERQUE E MELLO
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2011.
“CRESCIMENTO ECONÔMICO E PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES NO
BRASIL E NA CHINA, 1960-2008”
CAROLINA BERARDINELLI DE ARAUJO JORGE
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em Economia
como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Economia.
Área
de
Concentração:
Economia
Empresarial
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor MARCELO DE ALBUQUERQUE E MELLO(Orientador)
Instituição: Ibmec
_____________________________________________________
Professor ANTONIO FIORÊNCIO
Instituição: Ibmec
_____________________________________________________
Professor ANDRÉ DE MELO MODENESI
Instituição: UFRJ
ZŝŽĚĞ:ĂŶĞŝƌŽ͕ϭϵĚĞĚĞnjĞŵďƌŽĚĞϮϬϭϭ͘
FICHA CATALOGRÁFICA
Prezado aluno (a),
Por favor, envie os dados abaixo assim que estiver com a versão definitiva, ou seja, quando não faltar mais
nenhuma alteração a ser feita para o e-mail [email protected], colocando no assunto:
FICHA CATALOGRÁFICA - MESTRADO.
Enviaremos a ficha catalográfica o mais breve possível para o seu e-mail (se possível em até 72 horas).
Nome completo;
2)
Título e subtítulo (se houver e separados);
3)
Ano da defesa;
4)
Área de concentração:
5)
Assunto principal (contextualizado);
6)
Assuntos secundários;
7)
Palavras-chave, e
8)
Resumo (se possível)
9)
Curso (Mestrado profissionalizante em ...)
KƵ ĞŶǀŝĞ ŽƐ ĂŶĞdžŽƐ ĐŽŶƚĞŶĚŽ Ă ƉĄŐŝŶĂ ĚĞ ƌŽƐƚŽ Ğ Ă ĚŽ ƌĞƐƵŵŽ͕ ĂůĠŵ ĚĂ ĄƌĞĂ ĚĞ ĐŽŶĐĞŶƚƌĂĕĆŽ
DEDICATÓRIA
À minha avó Joli, que estará sempre presente.
À minha mãe Suzana, minha maior incentivadora.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Bernard, pela compreensão e apoio, que me foram indispensáveis.
Aos meus pais, Suzana e Afonso, maiores responsáveis pelas minhas conquistas.
Ao professor Marcelo Mello, pela orientação e pelos conhecimentos transmitidos na
realização deste estudo.
Aos professores André Modenesi e Antônio Fiorêncio, pelas importantes contribuições
para esta dissertação e pelo aprendizado proporcionado em suas aulas.
vi
RESUMO
O objetivo desta dissertação é analisar o crescimento econômico do Brasil e da China,
com foco na produtividade total dos fatores (PTF) no período de 1960 a 2008. Os
resultados apontam para trajetórias diferentes em cada país. A partir do início da década
de 80, enquanto a PTF apresenta aumento acentuado na China, se tornando o principal
determinante para o elevado crescimento econômico do país, no Brasil a PTF apresenta
forte queda, contribuindo para a desaceleração das taxas de crescimento do PIB. Em
linha com estudos recentes, associamos os períodos de baixo crescimento da PTF à
ineficiências na alocação de recursos e destacamos medidas que poderiam reduzir este
problema, como o estabelecimento de ambiente regulatório e código tributário mais
eficientes. Por último, identificamos lições da economia chinesa que poderiam ser
seguidas pela economia brasileira.
Palavras-chave: Produtividade Total dos Fatores (PTF), Contabilidade do Crescimento,
Crescimento Econômico, Brasil, China.
vii
ABSTRACT
The aim of this study is to analyze the economic growth of Brazil and China, focusing
on total factor productivity (TFP) in the period of 1960 to 2008. The results indicate
different
trajectories
in
each
while TFP has increased sharply in
the country's high
economic
country.
China,
growth, in
From
becoming
the beginning
the
main
Brazil TFP has fallen,
of
the 80th,
determinant for
contributing
to
the slowdown in GDP growth rates. In line with recent studies, we associate periods of
low growth of TFP to inefficiencies in resource allocation and we identify measures that
could reduce this problem, such as the establishment of more efficient regulatory
environment and tax code. Finally, we identify lessons of the Chinese economy that
could be followed by the Brazilian economy.
Key Words: Total Factor Productivity (TFP), Growth Accounting, Economic Growth,
Brazil, China.
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF do
Brasil Relativo aos EUA .................................................................................................. 20
Gráfico 2 – Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF da
China 1 Relativo aos EUA................................................................................................ 21
Gráfico 3 – Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF da
China 2 Relativo aos EUA................................................................................................ 22
Gráfico 4 – Anos de Educação ................................................................................................. 39
Gráfico 5 – Qualidade da Educação – Posição no Ranking PISA ........................................... 40
Gráfico 6 – Taxa de Investimento (% do PIB per capita) ........................................................ 45
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Estatísticas Descritivas – Brasil .............................................................................. 11
Tabela 2 – Estatísticas Descritivas – China 1 ........................................................................... 12
Tabela 3 – Estatísticas Descritivas – China 2 ........................................................................... 12
Tabela 4 – Decomposição do Crescimento do Brasil ............................................................... 13
Tabela 5 – Decomposição do Crescimento da China 1 ............................................................ 15
Tabela 6 – Decomposição do Crescimento da China 2 ............................................................ 16
Tabela 7 – Ranking Doing Business ......................................................................................... 43
x
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2
CONTABILIDADE DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO ............... 5
2.1
LITERATURA RELACIONADA ......................................................................................................... 5
2.2
CONTABILIDADE DO CRESCIMENTO........................................................................................... 8
2.2.1
2.2.2
2.2.3
2.2.4
2.3
3
Metodologia ......................................................................................................................................... 8
Base de Dados ...................................................................................................................................... 9
Decomposição do Crescimento do Brasil ........................................................................................... 13
Decomposição do Crescimento da China ........................................................................................... 15
CONTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO ............................................................................. 18
POLÍTICAS ECONÔMICAS NO BRASIL E NA CHINA (1960-2008)................ 23
3.1
BRASIL .................................................................................................................................................. 24
3.1.1
3.1.2
De 1960 a 1980 .................................................................................................................................. 24
De 1981 a 2008 .................................................................................................................................. 27
3.2
CHINA ................................................................................................................................................... 31
3.2.1
3.2.2
4
4.1
De 1960 a 1977 .................................................................................................................................. 31
De 1978 a 2008 .................................................................................................................................. 32
ANÁLISE COMPARATIVA ................................................................................ 38
A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL HUMANO .................................................................................. 38
4.2
O CRESCIMENTO DA PTF E A ELIMINAÇÃO DAS DISTORÇÕES NA ALOCAÇÃO
DE RECURSOS ................................................................................................................................................... 41
4.3
5
LIÇÕES DA ECONOMIA CHINESA ................................................................................................ 44
CONCLUSÃO .................................................................................................... 46
xi
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 48
xii
1
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, com o menor crescimento econômico dos países desenvolvidos, países
emergentes começaram a se tornar os principais motores do crescimento global. E espera-se
que esta tendência será intensificada nos próximos anos.
Diante deste contexto, o objetivo desta dissertação é analisar o crescimento econômico do
Brasil e da China, com foco na produtividade total dos fatores (PTF) no período de 1960 a
2008. Este trabalho tem como contribuições calcular a PTF, utilizando a base de dados Penn
World Table 7.0. Além disso, procuramos identificar os motivos pelos quais, nos últimos
anos, a China tem apresentado elevadas taxas de crescimento econômico, enquanto o Brasil
apresentou desaceleração das taxas de expansão.
Para isso, primeiramente, decompomos a taxa de crescimento do PIB do Brasil e da China,
para determinar as principais fontes de crescimento de cada país. No Brasil, os resultados
mostram que a PTF apresentou forte aumento nas décadas de 60 e 70 e foi o principal
determinante para as elevadas taxas de crescimento econômico do país nesse período.
Entretanto, a partir da década de 80, a PTF apresentou queda acentuada, contribuindo para a
desaceleração das taxas de crescimento do PIB. Nos anos 2000, observamos uma recuperação
da taxa de expansão da PTF, mas esta permanece abaixo da média observada nas décadas de
60 e 70. Na China, os resultados indicam que a PTF alternou anos de retração com anos de
1
crescimento entre 1960 e 1977 e, a partir de 1978, passou a apresentar elevadas e contínuas
taxas de crescimento. Dessa forma, já na década de 70, a PTF se tornou o principal
determinante do crescimento econômico chinês. A partir da década de 80, a contribuição da
PTF para taxa crescimento do PIB se intensificou e passou a representar mais de 50%.
Em seguida, analisamos a evolução da PTF relativa e mostramos que, tanto no Brasil quanto
na China, esta segue a mesma trajetória da renda per capita relativa e da produtividade
relativa do trabalho. No Brasil, nas décadas de 60 e 70, a PTF apresentou convergência em
relação à PTF dos Estados Unidos. Entretanto, a partir da década de 80, passou a apresentar
divergência, tendência que parece estar sendo revertida nos últimos quatro anos analisados
(2005-2008). Na China, por outro lado, observamos um processo gradual de convergência da
PTF chinesa em relação à norte-americana, que se intensificou a partir da década de 90.
Para compreender os motivos pelos quais, a partir da década de 80, houve um declínio da PTF
no Brasil e um aumento acelerado da PTF na China, analisamos as principais políticas
econômicas dos dois países no período de 1960 a 1980. Os resultados estão em linha com os
apresentados em estudos recentes, como Gomes et alli (2003), Veloso et alli (2008), Ferreira
(2011),Song et alli (2011), Hsieh et alli (2009) e Brandt et alli (2008). No Brasil, observamos
que as reformas estruturais do PAEG podem ser vistas como uma melhora da tecnologia e,
por isso, contribuíram para o bom desempenho da PTF no período do milagre econômico
brasileiro. Por outro lado, destacamos que o II PND aumentou a participação de empresas
estatais nos setores de bens de capital e bens intermediários, gerando distorções a locativas
nesses setores. No caso da China, observamos que as medidas do regime comunista, como a
Revolução Cultural, limitaram o crescimento da PTF até 1977. A partir de 1978, mostramos
que as reformas estruturais, como a abertura comercial e a reforma na agricultura, bem como
2
a menor participação das empresas estatais na produção total, permitiram o acentuado
aumento da PTF.
Dessa forma, as evidências sugerem que os períodos de baixo crescimento da PTF estão
associados à ineficiências na alocação de recursos. Por isso, fazemos uma análise comparativa
das taxas de crescimento da PTF entre Brasil e China, com ênfase nas distorções na alocação
de recursos. Analisando o ranking Doing Business 2011, vemos que, na média, a China está
mais bem posicionada que o Brasil na facilidade de fazer negócios, mas que ambos os países
precisam melhorar em relação ao excesso de regulação para a entrada e saída de firmas do
mercado, ao alto nível de tributação e às dificuldades de acesso à crédito. Concluímos que
medidas capazes de reduzir essas ineficiências são fundamentais para um aumento contínuo
da PTF e dessa forma, para um crescimento econômico sustentável no longo prazo.
Por último, atribuímos as elevadas taxas de crescimento da China a três fatores: a adoção de
tecnologias avançadas, com elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D); o
início da liberalização econômica, com o estabelecimento de instituições de mercado a partir
de 1978 e a existência de um capital humano qualificado com capacidade de absorver as
tecnologias avançadas e criar novas tecnologias. Destacamos que alguns destes fatores
poderiam ser seguidos pela economia brasileira, como o aumento dos investimentos em P&D
e a melhora da educação.
A dissertação está dividida da seguinte forma. No capítulo 2, apresentamos a literatura
relacionada, fazemos a decomposição da taxa de crescimento do PIB do Brasil e da China e
analisamos a evolução da PTF dos dois países em relação aos Estados Unidos. No capítulo 3,
mostramos as principais políticas econômicas do Brasil e da China, relacionando-as com as
taxas de crescimento da PTF. No capítulo 4, fazemos uma análise comparativa da qualidade
3
do capital humano nos dois países e das taxas de crescimento da PTF, com ênfase nas
ineficiências na alocação de recursos. Ainda neste capítulo discutimos os principais motivos
para as elevadas taxas de crescimento econômico na China. Finalmente, no capítulo 5,
apresentamos as principais conclusões.
4
2
2.1
CONTABILIDADE DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO
LITERATURA RELACIONADA
Estudos recentes analisam a importância da produtividade total dos fatores (PTF) para
explicar diferenças no nível e nas taxas de crescimento do produto entre países. Ademais,
muitos artigos associam o aumento da PTF à mudanças capazes de promover uma maior
eficiência na alocação de recursos.
Em Hsieh e Klenow (2010), são mostrados os principais resultados de pesquisas realizadas
nos últimos 25 anos em relação ao papel do capital físico, do capital humano e da PTF em
explicar diferenças de renda entre países. De acordo com o estudo, o capital humano
representa de 10% a 30% das diferenças de renda entre países, o capital físico representa em
torno de 20% e a PTF representa de 50% a 70%. O artigo discute ainda porque a PTF varia
entre países, destacando a má alocação de recursos entre empresas como principal
determinante.
Em Caselli (2005), através da contabilidade do desenvolvimento, analisa-se o quanto das
variações de renda entre países pode ser atribuída à diferenças de capital (humano e físico) e o
quanto pode ser atribuída à eficiência na qual o capital é usado na produção (PTF). Segundo o
estudo, as diferenças dos fatores de produção não explicam a maior parte das variações de
renda entre países. Este resultado é consistente com as tentativas de melhorar a medição do
5
capital humano, considerando a qualidade da educação e a saúde da população, além de
tentativas de explicar a composição etária do estoque de capital, da desagregação setorial da
produção e de vários testes de robustez.
Em Klenow e Rodriguez-Clare (1997), são oferecidas novas evidências para o debate da
importância da produtividade, versus o capital físico e humano, para explicar diferenças no
nível e nas taxas de crescimento do produto entre países. O estudo destaca a importância da
produtividade para explicar variações de renda entre países. Ademais, o estudo examina como
o capital humano deve ser medido e como as diferenças de produtividade entre países
dependem de como o capital humano é medido. Os autores procuram determinar como a
adição de experiência e de qualidade do ensino afeta os resultados na produtividade.
Em relação ao Brasil, Veloso et alli (2008) quantificam a importância de possíveis
determinantes do “milagre” econômico brasileiro de 1968-1973. O estudo verifica em que
medida o “milagre” decorreu da situação externa favorável, do desempenho de variáveis de
política econômica no período1968-1973 e das reformas institucionais do Programa de Ação
Econômica do Governo (PAEG). Os resultados indicam que o episódio de aceleração do
crescimento associado ao “milagre” decorreu, em grande medida, do efeito defasado das
reformas associadas ao PAEG.
No estudo de Gomes et alli (2003), uma interpretação possível para o expressivo aumento da
produtividade no período 1967-1976 é que ganhos de produtividade advindos de reformas
institucionais do PAEG tenham elevado a eficiência agregada da economia brasileira. Em
relação à queda significativa da produtividade no período 1976-1992, uma possível
explicação é que em um contexto de vulnerabilidade externa, choques externos transitórios
6
tendem ase transformar em quedas permanentes de produtividade, como os do petróleo na
década de 1970.
Em relação a China, Song et alli (2011) destacam que a realocação de recursos nas empresas
manufatureiras tem sido o fator chave para o aumento da produtividade do país. A realocação
de capital e trabalho de firmas menos produtivas e com maior acesso a crédito para empresas
mais produtivas e com menor acesso à crédito tem permitido o aumento da PTF na China.
Eles argumentam ainda que, quando um país sai de uma situação de grave ineficiência, mas é
bem sucedido em promover a realocação de recursos, esse país terá potencial para crescer
mais rápido por um período de transição prolongado, desde que as empresas eficientes
possuam uma elevada oferta elástica de fatores atraídos das empresas menos produtivas.
Em Brandt et alli (2008), são destacadas duas transformações estruturais importantes na
China: a realocação de trabalho em larga escala do setor agrícola para o setor não agrícola e a
realocação de trabalho e capital de empresas estatais para não estatais no setor não agrícola. O
estudo estima ainda que mais de dois terços do crescimento da PTF nas manufaturas chinesas
estão relacionadas às diferenças de produtividade entre as empresas que entraram e saíram do
mercado no período de 1998-2005.
Em Hsieh e Klenow (2009), estima-se, com o uso de dados microeconômicos, que a
eliminação da ineficiência na alocação de fatores de produção entre firmas na China elevaria a
PTF da indústria manufatureira em 86%-115%.
Sendo assim, de acordo com a literatura relacionada, a PTF é o principal determinante para
explicar diferenças no nível e nas taxas de crescimento do produto entre países e as medidas
7
capazes de reduzir as ineficiências na alocação de recursos são fundamentais para o aumento
da PTF nos países.
2.2
2.2.1
CONTABILIDADE DO CRESCIMENTO
Metodologia
A “contabilidade do crescimento” é um procedimento que tem como objetivo quantificar a
contribuição dos fatores de produção e do progresso tecnológico à taxa de crescimento do
produto de um país. Dessa forma, o modelo neoclássico de crescimento apresenta uma
importante aplicação neste processo, pois a partir dele podemos decompor a taxa de
crescimento da economia e determinar as suas principais fontes de crescimento.
Destacamos que o crescimento econômico pode ser obtido pela acumulação de insumos,
como o capital e o trabalho, e pelo aumento da produtividade total dos fatores (PTF), que
representa a eficiência na qual os insumos são usados na produção.
De acordo com o modelo neoclássico, se o aumento da PTF for o principal determinante do
crescimento econômico do país, este tende a ser sustentável no longo prazo. Nessas
condições, a economia produz mais com o mesmo nível de capital e trabalho. Sendo assim,
medidas que estimulem o aumento da produtividade total dos fatores, como as inovações
tecnológicas, permitem um crescimento equilibrado de longo prazo.
Por outro lado, um crescimento baseado na acumulação de insumos tende a ser limitado. Não
é possível adicionar capital e trabalho na economia indefinidamente, já que estes possuem
rendimentos marginais decrescentes.
8
Vamos decompor o crescimento do produto, assumindo uma função de produção CobbDouglas:
(1)
Onde Y denota o PIB, A é a PTF, K é o montante de capital físico, L é o número de
trabalhadores e o parâmetro Į é a parcela do capital físico no produto total. Tirando os
logaritmos e derivando a função de produção acima em relação ao tempo, obtemos a seguinte
equação:
(2)
A equação 2 indica que o crescimento do produto é igual a taxa de crescimento da
produtividade total dos fatores (PTF) mais uma média ponderada do crescimento do capital e
do trabalho. A função de produção pode ser acrescida do insumo capital humano, como
mostramos no capítulo 4.
A equação 2 nos permite calcular o termo do crescimento da PTF como o “resíduo” da
equação, conhecido como resíduo de Solow:
2.2.2
(3)
Base de Dados
Utilizamos a base de dados da Penn World Table (PWT) 7.0 para o período de 1950 a 2008.
A China possui duas versões disponíveis na PWT 7.0. A primeira versão é uma versão oficial
9
e a segunda é não-oficial, contendo algumas modificações devido às incertezas relacionadas à
divulgação dos dados. De acordo com a Penn World Table, a versão 2 fornece uma visão da
história econômica recente da China mais consistente. 1 Mostramos o resultado das duas
versões ao longo da dissertação.
Seguimos a metodologia usada em Caselli (2005) para construir as séries. Primeiramente,
obtemos
o
número
de
trabalhadores
como onde
RGDPWOK representa o PIB real por trabalhador, POP é a população e RDPCH representa o
PIB real per capita obtido por séries encadeadas. Em seguida, calculamos o produto pela
multiplicação O cálculo do estoque de capital agregado (K) é feito através do método do inventário
perpétuo, descrito pela equação:
!" # ! $!
(4)
Onde į é a taxa de depreciação física do capital, que consideramos constante e igual a 0,06,
! é o estoque de capital agregado em t e $! é o investimento bruto em t. O investimento bruto
é calculado como $! %&& , onde ' representa a participação do
investimento no PIB real per capita e RGDPL representa o PIB real per capita obtido pelo
método de Laspeyres. Estabelecemos ainda um valor inicial ( para o estoque de capital, que
pode ser determinado pela fórmula:
)
*
( +",
(5)
1
Para mais detalhes, ver Penn World Table 7.0.
Os valores estão medidos com base na PPC (Paridade do Poder de Compra). Para mais detalhes, ver Penn
World Table 7.0.
Ϯ
10
Onde $( é o investimento bruto inicial e g é a taxa de crescimento
crescimento média do investimento entre
o primeiro ano disponível da série até 1970.
Uma vez obtidos o produto (Y), o número de trabalhadores
trabalhadores (L) e o estoque de capital
agregado (K), achamos suas taxas de crescimento anuais.
Na tabela
abela 1, mostramos as estatísticas descritivas das taxas de variação das três séries para o
Brasil no período de 1960-2008.
1960 2008. Observamos que o estoque de capital apresentou
apresento a maior
taxa média de crescimento no período analisado (5,1%),
(5,1
seguido pelo produto (4,8%) e
trabalho (3,1%). Como esperado, observamos ainda que
que a taxa de crescimento do produ
produto
apresentou a maior volatilidade, uma vez que este é influenciado pela volatilidade das taxas
de expansão dos fatores de produção (K e L) e da PTF
PTF (ver equação 2). Isso é confirmado
pelo desvio padrão de 4,6%.
Tabela 1 – Estatísticas Descritivas – Brasil
Nas tabelas 2 e 3, observamos as estatísticas descritivas das variações de Y, K e L para as
versões 1 e 2 da China disponíveis na PWT 7.0 para o período de 1960-2008.
1960
Na versão 1, o
estoque de capital apresentou taxa média de crescimento
crescimento de 8,5%, enquanto
enq
o produto e o
trabalho apresentaram taxas média de crescimento de 7,8% e 1,8%, respectivamente. Assim
como no Brasil, a taxa de crescimento do produto apresentou
apresentou a maior volatilidade, com um
desvio padrão de 6,5%.
11
Tabela 2 – Estatísticas Descritivas - China 1
Na versão 2, observamos que o produto apresentou a taxa de crescimento média mais elevada
(6,1%). O estoque de capital e o trabalho, por sua vez, registraram médias de taxa de
crescimento de 5,6% e 1,8%, respectivamente. A taxa de crescimentoo do produto foi a que
apresentou maior volatilidade, com desvio padrão de 6,2%.
Tabela 3 – Estatísticas Descritivas - China 2
Destacamos que, uma vez obtidas as taxas de crescimento
crescimento anuais de Y, K e L, calculamos a
taxa de crescimento da PTF de forma residual a partir da equação 3. A literatura de
crescimento usa em geral - &. ou - &/. Assumimos que - &.
. e - &0.
12
2.2.3
Decomposição do Crescimento do Brasil
Na tabela 4, obtemos a decomposição da taxa de crescimento do PIB, para quantificar as
contribuições do capital, do trabalho e da PTF na evolução do crescimento econômico.
Usamos a equação 2 como base para os cálculos e a contribuição da PTF foi calculada como
resíduo.
Tabela 4: Decomposição do Crescimento do Brasil
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘ϬĞĐĄůĐƵůŽƐĚŽĂƵƚŽƌ
Na década de 60, o Brasil apresentou uma taxa de crescimento média de 7,2%, sendo que a
PTF contribuiu com 3,0 pontos percentuais (p.p.) ou 41,7% do total, seguida pelo trabalho e
capital, que contribuíram com, respectivamente, 2,2 p.p. e 2,0 p.p. Na década de 70, a taxa de
crescimento média aumentou para 9,1% e a PTF continuou sendo o principal determinante do
crescimento econômico, mas com uma participação ligeiramente inferior a da década anterior
(3,6 p.p. ou 39,6% do total). Os insumos, capital e trabalho, por sua vez, contribuíram com,
respectivamente, 3,0 p.p. e 2,5 p.p.
Entretanto, a partir de 1980, é possível observar uma acentuada redução no ritmo de
crescimento do país. Na década de 80, a taxa de crescimento média do PIB caiu para 2,2%. A
PTF apresentou forte queda, sendo responsável por uma contribuição negativa de 1,2 p.p. O
13
capital e o trabalho contribuíram positivamente com 1,2 p.p. e 2,2 p.p., respectivamente. A
partir desta década, o trabalho se tornou o fator com maior participação na taxa de
crescimento do PIB.
Na década de 90, a taxa de crescimento permaneceu baixa, com uma média de 1,7%, ainda
influenciada pela evolução desfavorável da PTF, que apresentou queda de 1,1 p.p. Nesse
período, o trabalho contribuiu com 2,1 p.p, enquanto o capital contribuiu com 0,7 p.p. Nos
anos 2000, observamos sinais de melhora da PTF. A taxa de crescimento média aumentou
para 3,7%, em razão, principalmente da recuperação da PTF (1,4 p.p. ou 37,8% do total).
Entretanto, a taxa de crescimento da PTF ainda permanece abaixo da média observada nas
décadas de 60 e 70. O capital contribuiu com 0,6 p.p. e o trabalho com 1,6 p.p.
Observamos ainda que a produtividade do trabalho apresentou crescimento médio de 4,6%
entre 1960 e 1980 (tabela 4). Entretanto, em linha com a redução da PTF, a produtividade do
trabalho apresentou queda a partir de 1981, registrando um decréscimo médio de 0,5% entre
1981 e 2008.
Sendo assim, concluímos que a PTF foi a principal responsável pelas elevadas taxas de
crescimento econômico alcançadas nas décadas de 60 e 70 no Brasil. Da mesma forma, a sua
forte queda, observada a partir do início da década de 80, foi determinante para a redução do
crescimento econômico. No capítulo 3, analisamos as principais políticas econômicas
brasileiras que possam ter influenciado a mudança da trajetória de crescimento da PTF e a
recente melhora observada nos anos 2000.
14
2.2.4
Decomposição do Crescimento da China
Nas tabelas 5 e 6, decompomos a taxa de crescimento do PIB chinês para as versões1 e 2,
disponíveis na PWT 7.0. A decomposição nos permite quantificar as contribuições dos
insumos (capital e trabalho) e da PTF na evolução do crescimento econômico. Assim como na
decomposição da taxa de crescimento do PIB brasileiro, a equação 2 foi usada como base para
os cálculos e a contribuição da PTF foi determinada de forma residual.
Ressaltamos que ambas as versões apresentam a mesma trajetória de crescimento para as
variáveis analisadas. Entretanto, a primeira versão, com dados oficiais, possui valores maiores
do que a segunda, com dados não oficiais.
Tabela 5: Decomposição do Crescimento da China 1
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘ϬĞĐĄůĐƵůŽƐĚŽĂƵƚŽƌ
De acordo com a versão 1, a China apresentou uma taxa de crescimento média de 2,2% na
década de 60. O capital e o trabalho contribuíram com 1,5 p.p. e 1,3 p.p., respectivamente,
enquanto a PTF contribuiu para a redução da taxa de crescimento em 0,5 p.p. Na década de
70, a taxa de crescimento média aumentou para 7,5%. A PTF se tornou a principal
15
contribuição para o crescimento do país, com uma participação de 3,3 p.p. ou 44,0% do total,
seguida pelo capital (2,4 p.p.) e pelo trabalho (1,8 p.p.).
A partir do início da década de 80, a China passou a apresentar taxas de crescimento mais
elevadas, associadas às reformas institucionais e transformações estruturais que ocorreram no
país a partir de 1978 e que são abordadas com mais detalhes no capítulo 3. Na década de 80, a
taxa de crescimento média foi de 9,0%, sendo que a PTF contribuiu para a metade do
crescimento observado (5,0 p.p). O capital e o trabalho contribuíram com 2,7 p.p e 1,8 p.p.,
respectivamente.
Na década de 90, a taxa de crescimento média atingiu 9,7%. A PTF contribuiu para 5,7 p.p ou
58,8% do total, enquanto o capital e o trabalho foram responsáveis por 3,1 p.p. e 0,9 p.p.,
respectivamente. Nos anos 2000, a taxa de crescimento média do PIB aumentou para 10,6%.
A PTF manteve sua tendência de alta, com 7,0 p.p. ou 66% do total, seguida do capital (3,1
p.p.) e do trabalho (0,5 p.p.).
Tabela 6: Decomposição do Crescimento da China 2
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘ϬĞĐĄůĐƵůŽƐĚŽĂƵƚŽƌ
Já de acordo com a versão 2, na década de 60, a China apresentou uma taxa de crescimento
média de 1,6%. O capital contribuiu com 1,2 p.p., seguido do trabalho com 1,3 p.p. A PTF,
16
por outro lado, contribuiu para a redução da taxa de crescimento em 0,8 p.p. Na década de 70,
a China apresentou aumento na taxa de crescimento, que registrou média de 5,8%. O capital e
o trabalho contribuíram com, respectivamente, 1,4 p.p e 1,8 p.p. A PTF passou a contribuir de
forma positiva e se tornou o principal determinante para o crescimento do país, com uma
participação de 2,6 p.p. ou 44,8% do total.
Na década de 80, a taxa de crescimento média aumentou para 6,3%, sendo que a PTF
contribuiu para 2,7 p.p. ou 42,9% do crescimento observado. O capital e o trabalho
apresentaram cada um, contribuição de 1,8 p.p. Na década de 90, a taxa de crescimento média
passou para 6,9% e a PTF contribuiu para mais da metade do crescimento (4,1 p.p ou 59,4%
do total). O capital e o trabalho foram responsáveis por 1,9 p.p. e 0,9 p.p., respectivamente.
Nos anos 2000, a taxa de crescimento média do PIB atingiu 10,1%. A contribuição da PTF se
elevou para 7,4 p.p. ou 73,3% do total, seguida pelo capital (2,2 p.p.) e pelo trabalho (0,5
p.p.).
Em linha com a evolução da PTF, destacamos ainda que a produtividade do trabalho
apresentou baixo crescimento entre 1960 e 1977, com uma média de expansão de apenas
1,7% de acordo com a versão 1 ou 0,8% de acordo com a versão 2. Entre 1978 e 2008, a taxa
de crescimento média da produtividade do trabalho aumentou para 8,2% na versão 1 ou para
6,1% na versão 2. Ademais entre 2003-2008, essa média atingiu 10,6% ou 10,4% nas versões
1 e 2, respectivamente.
Portanto, no caso da China, observamos que o crescimento contínuo da PTF foi o principal
determinante para as elevadas taxas de crescimento do PIB, intensificadas a partir de 1978.
No capítulo 3, analisamos as principais medidas adotadas pelo governo chinês que possam ter
contribuído para o aumento da PTF.
17
2.3
Contabilidade do Desenvolvimento
A “contabilidade do desenvolvimento” tem como objetivo mensurar a importância dos fatores
de produção e da PTF para explicar as diferenças de renda per capita e produto por
trabalhador entre países. Em linha com Hsieh e Klenow (2010), destacamos que existe um
consenso de que a PTF representa, em média, de 50% a 70% das diferenças de renda entre
países.
Dessa forma, nesta seção, analisamos o desempenho relativo da renda per capita, da
produtividade do trabalho e da PTF e mostramos como elas andam juntas tanto no Brasil
como na China. Para isso, escolhemos os Estados Unidos como a economia de referência, por
ser a economia mais rica e dinâmica do mundo.
Primeiramente, dividimos a equação 1 pela população e obtemos:
121
Onde
121
121
é o PIB per capita, A é a PTF,
121
121
(6)
é a razão capital per capita e
121
é a razão de
emprego. A partir da equação (6), podemos obter o PIB per capita relativo, através da
expressão:
4
7'
565
4
3
789
565
3
Onde '
89
: ;
'
565
: ;
89
565
< =>;
'
565
< =>;
89
565
(7)
% é o PIB per capita do país i (no caso, Brasil ou China) e 121
?@ é o PIB per
121
capita dos Estados Unidos.
18
Em relação a produtividade do trabalho, seguindo Klenow e Rodriguez-Clare (1997),
reescrevemos a equação 1 e obtemos:
=
=>Į
Į
=>Į
3 7
(8)
A equação (8) decompõe a produtividade do trabalho em dois componentes. O primeiro
=
representa o papel da tecnologia, dado pelo termo =>Į e o segundo representa o papel dos
Į
insumos, dado pelo termo
=>Į
37 .
A partir da equação 8 podemos obter a produtividade
relativa do trabalho pela expressão.
4
<
'
4
<
89
'
89
=
=>;
A
:
4
3 7'
:
4
3 789
Į
=>Į
B
(9)
Onde % é a produtividade do trabalho do país i (no caso, Brasil ou China) e ?@ é a
produtividade do trabalho dos Estados Unidos.
No Brasil, destacamos que, entre 1960 e 1980, a renda per capita aumentou de 19% para 32%
em relação aos Estados Unidos. Entretanto, o processo de convergência em relação a renda
per capita norte-americana foi revertido em razão da queda das taxas de crescimento a partir
de 1981. Entre 1981 a 2008, a renda per capita relativa caiu de 29% para 21%.
Da mesma forma, observamos que a produtividade relativa do trabalho aumentou de 22%
para 40% entre 1960 e 1980. Em 1981, essa relação caiu para 36% e em 2008, atingiu 21%,
um valor menor do que o apresentado em 1960.
19
Destacamos ainda que, em 1960, a PTF brasileira representava 35% da PTF norte-americana e
em 1980, atingiu seu auge (53%). Entretanto entre 1981 e 2008, a PTF relativa caiu de 48%
para 35%.
O gráfico1 mostra que o PIB per capita relativo, o PIB por trabalhador relativo e a PTF
relativa seguem a mesma trajetória. Existe um padrão semelhante entre eles. De 1960 a 1980
houve um processo convergência, seguido por uma divergência em relação aos Estados
Unidos a partir de 1981, que está sendo revertida nos últimos anos.
Gráfico 1– Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF do Brasil Relativo aos
EUA
Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do
Trabalho e da PTF do Brasil Relativo aos EUA
Ϭ͕ϲ
Ϭ͕ϱ
Ϭ͕ϰ
Ϭ͕ϯ
Ϭ͕Ϯ
Ϭ͕ϭ
W/ƉĞƌĐĂƉŝƚĂ
WƌŽĚƵƚŝǀŝĚĂĚĞĚŽdƌĂďĂůŚŽ
ϮϬϬϴ
ϮϬϬϱ
ϮϬϬϮ
ϭϵϵϵ
ϭϵϵϲ
ϭϵϵϯ
ϭϵϵϬ
ϭϵϴϳ
ϭϵϴϰ
ϭϵϴϭ
ϭϵϳϴ
ϭϵϳϱ
ϭϵϳϮ
ϭϵϲϵ
ϭϵϲϲ
ϭϵϲϯ
ϭϵϲϬ
Ϭ͕Ϭ
Wd&
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘Ϭ
Na China, de acordo com a versão 1, a renda per capita relativa entre 1960 e 1980
permaneceu praticamente estável, apresentando um ligeiro aumento de 2,3% para 2,5%. Nas
décadas seguintes, o processo de convergência em relação à renda per capita dos Estados
Unidos se acentuou gradativamente. Em 1990, esta relação estava em 4,0%, aumentando para
14,8% em 2008.
20
Gráfico 2– Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF da China 1 Relativo aos
EUA
Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do
Trabalho e da PTF da China 1 Relativo aos EUA
Ϭ͕Ϯϱ
Ϭ͕ϮϬ
Ϭ͕ϭϱ
Ϭ͕ϭϬ
Ϭ͕Ϭϱ
ϭϵϲϬ
ϭϵϲϮ
ϭϵϲϰ
ϭϵϲϲ
ϭϵϲϴ
ϭϵϳϬ
ϭϵϳϮ
ϭϵϳϰ
ϭϵϳϲ
ϭϵϳϴ
ϭϵϴϬ
ϭϵϴϮ
ϭϵϴϰ
ϭϵϴϲ
ϭϵϴϴ
ϭϵϵϬ
ϭϵϵϮ
ϭϵϵϰ
ϭϵϵϲ
ϭϵϵϴ
ϮϬϬϬ
ϮϬϬϮ
ϮϬϬϰ
ϮϬϬϲ
ϮϬϬϴ
Ϭ͕ϬϬ
W/ƉĞƌĂƉŝƚĂ
WƌŽĚƵƚŝǀŝĚĂĚĞĚŽdƌĂďĂůŚŽ
Wd&
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘Ϭ
De acordo com a versão 2, a renda per capita relativa apresentou redução entre 1960 e 1980,
caindo de 5,5% para 4,7%. O processo de convergência em relação à renda per capita dos
Estados Unidos se intensificou nos anos 90 e nos anos 2000. Entre 1990 e 2008, a renda per
capita relativa aumentou de 5,7% para 16,1%.
Assim como a renda per capita, a produtividade relativa do trabalho e a PTF relativa também
aumentaram entre 1960 e 2008. Em relação a produtividade relativa do trabalho, esta passou
de apenas 2% em 1960 para 13% em 2008, de acordo com a versão 1 e de 4,4% para 14% de
acordo com a versão 2. Em relação a PTF relativa, entre 1960 e 2008, a elevação foi de 6%
para 23% de acordo com a versão 1 e de 9% para 24% de acordo com a versão 2.
21
Gráfico 3– Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do Trabalho e da PTF da China 2 Relativo aos
EUA
Evolução do PIB per Capita, da Produtividade do
Trabalho e da PTF da China 2 Relativo aos EUA
Ϭ͕Ϯϱ
Ϭ͕ϮϬ
Ϭ͕ϭϱ
Ϭ͕ϭϬ
Ϭ͕Ϭϱ
ϭϵϲϬ
ϭϵϲϮ
ϭϵϲϰ
ϭϵϲϲ
ϭϵϲϴ
ϭϵϳϬ
ϭϵϳϮ
ϭϵϳϰ
ϭϵϳϲ
ϭϵϳϴ
ϭϵϴϬ
ϭϵϴϮ
ϭϵϴϰ
ϭϵϴϲ
ϭϵϴϴ
ϭϵϵϬ
ϭϵϵϮ
ϭϵϵϰ
ϭϵϵϲ
ϭϵϵϴ
ϮϬϬϬ
ϮϬϬϮ
ϮϬϬϰ
ϮϬϬϲ
ϮϬϬϴ
Ϭ͕ϬϬ
W/ƉĞƌĐĂƉŝƚĂ
WƌŽĚƵƚŝǀŝĚĂĚĞĚŽdƌĂďĂůŚŽ
Wd&
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘Ϭ
Nos gráficos 2 e 3, observamos que, em ambas as versões, existe um processo gradual de
convergência. O elevado crescimento econômico a partir de 1978 permitiu uma trajetória
ascendente da renda per capita relativa. Destacamos que, assim como no Brasil, o PIB per
capita relativo, o PIB por trabalhador relativo e a PTF relativa andam juntos.
Sendo assim, concluímos que enquanto a renda per capita, a produtividade do trabalho e a
PTF da China estão em processo de convergência em relação aos Estados Unidos, no Brasil
elas entraram em um processo de divergência a partir de 1981. Não obstante, observamos que,
em 2008, a renda per capita relativa, a produtividade relativa do trabalho e a PTF relativa do
Brasil ainda eram superiores às da China.
22
3
POLÍTICAS ECONÔMICAS NO BRASIL E NA CHINA (1960-2008)
A evolução da PTF está associada à reformas estruturais na economia. Mais especificamente,
evidências sugerem que mudanças capazes de promover uma maior eficiência na alocação de
fatores de produção entre firmas são fundamentais para o aumento da PTF. Sendo assim,
neste capítulo, analisamos as principais políticas econômicas adotadas pelo Brasil e pela
China, no período de 1960-2008, relacionando-as com as taxas de crescimento da
produtividade total dos fatores.
Em linha com Gomes et alli (2003), Veloso et alli (2008), Bugarin et alli (2002) e Ferreira
(2011), analisamos as reformas estruturais que contribuíram para o aumento da PTF nas
décadas de 60 e 70. Além disso, destacamos medidas econômicas que possam ter causado
distorções na alocação de recursos e contribuído para a queda da PTF a partir de 1981.
Já no caso da China, seguindo Song et alli (2011), Hsieh et alli (2009) e Brandt et alli (2008),
mostramos como as transformações estruturais ocorridas no país a partir de 1978 contribuíram
para a melhora na realocação de recursos entre as firmas e para o aumento da PTF.
23
3.1
BRASIL
Para analisar as principais políticas econômicas brasileiras, dividimos esta seção em duas
fases: de 1960 a 1980 e de 1981 a 2008.
3.1.1
De 1960 a 1980
De 1960 a 1980, a economia brasileira apresentou elevadas taxas de crescimento do PIB,
impulsionadas pelo aumento da PTF, que registrou um crescimento médio de 3,2% no
período.
O início da década de 60 foi marcado pela maturação de importantes projetos de
investimentos públicos e privados no setor industrial e de infraestrutura, como energia e
transportes, relacionados ao governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960). Juscelino
permaneceu no poder até o final de 1960, mas em função dos efeitos defasados associados às
políticas econômicas, os impactos dos planos elaborados em seu mandato puderam ser
observados nos governos sucessores de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964).
O plano desenvolvimentista, conhecido como Plano de Metas, foi responsável pelo aumento
da participação do setor industrial na economia, com o aprofundamento do processo de
substituição de importações. 3 O setor de bens de consumo duráveis, impulsionado pela
produção de automóveis, foi o principal destaque da nova etapa do processo de substituição
de importações. Dessa forma, no mandato de JK, o país passou por importantes modificações
ϯ
De acordo com Giambiagi et alli (2004), o modelo de substituição de importação tinha como características
principais a participação direta do Estado no suprimento de infraestrutura econômica e em alguns setores
considerados prioritários; a elevada proteção à indústria nacional com uso de barreiras tarifárias e não tarifárias;
e a oferta de condições favoráveis de crédito para estimular novos projetos. Na prática, dentre as principais
ineficiências do modelo, estavam uma estrutura de incentivos distorcida em alguns setores da economia, como o
de bens de capital; um viés anti-exportador; e o endividamento do Estado, principalmente, no período do IIPND.
24
estruturais, que contribuíram para o aumento da produtividade da economia brasileira nos
anos seguintes.
Entretanto, o país não tinha capacidade de suprir a demanda por bens de capital, exigidos
pelas indústrias de bens de consumo. De acordo com Giambiagi et alli (2004), a
implementação do Plano de Metas teve a participação do Estado, através do uso de tarifa
aduaneira protecionista e de um sistema cambial que subsidiava a importação de bens de
capital e alguns insumos básicos, como o petróleo.
Já sob o governo militar de Castello Branco (1964-1967), foi lançado um novo plano
econômico, destinado a combater à inflação, que teve grande importância para a economia
brasileira. No Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), foram definidas novas
reformas estruturais (fiscal e financeira), que podem ser vistas como uma melhora
tecnológica, impulsionando o aumento da PTF no país. A reforma financeira teve como
objetivo aprimorar o sistema financeiro brasileiro, aumentando sua eficiência, e fornecer
novos mecanismos de financiamento (de longo prazo) ao processo de industrialização. A
reforma facilitou a expansão de crédito ao consumidor.
De acordo com Veloso et alli (2008), as reformas estruturais realizadas no período do PAEG
possibilitaram o aumento da PTF, contribuindo para as elevadas taxas de crescimento
econômico observada entre os anos 1968-1973. O período ficou conhecido como “milagre
econômico”. Durante os seis anos de “milagre”, a PTF apresentou crescimento médio de
5,7%, acima da média do período.
Destacamos que o crescimento econômico do período era dependente da capacidade da
importação de bens de capital e petróleo, já que estes não eram atendidos pelo parque
25
industrial brasileiro. Diante do primeiro choque de petróleo em 1973, o aumento dos preços
limitou a capacidade de importação do país. O Brasil enfrentava situação de dependência
estrutural, que se agravou com a restrição externa.
No governo Geisel (1974-1979), foi lançado outro plano econômico de destaque para a
economia brasileira. O II PND foi um plano de investimentos públicos e privados
concentrados nos setores considerados os pontos de estrangulamento da economia brasileira,
como os setores de infraestrutura, bens de produção (capital e insumos), energia e exportação.
Dessa forma, o plano contribuiu para mudanças estruturais importantes, como a internalização
dos setores de bens de capital e insumos industriais e a melhora da capacidade exportadora do
país, mas, por outro lado, gerou elevados custos para a economia brasileira, que só
começaram a ser sentidos no final da década de 70 e no início da década de 80.
O plano visava avançar no processo de industrialização por substituição de importação (ISI) e
contribuiu para aumentar a vulnerabilidade externa do país, pois era dependente de fontes de
financiamento externo. Em 1979, com o segundo choque de petróleo, o fluxo de capital dos
países industrializados para os países em desenvolvimento ficou limitado e por apresentar um
modelo de crescimento apoiado pelo endividamento externo, o Brasil estava mais vulnerável a
choques advindos do exterior. Nesse contexto, de acordo com Gomes et alli (2003), existe um
risco maior dos choques externos transitórios se transformarem em quedas de produtividade
permanentes. De fato, após a PTF ter atingido seu auge em 1980, a economia vivenciou o fim
do modelo de crescimento adotado desde 1950 e não conseguiu voltar ao patamar de
produtividade observado em 1980.
26
3.1.2
De 1981 a 2008
A partir de 1981, houve uma forte queda da PTF, contribuindo para a desaceleração das taxas
de crescimento do país. Entre 1981-1992, a PTF apresentou um decréscimo médio de 2,3%.
Em 1993, observamos uma redução do ritmo de queda e a taxa de crescimento médio foi de
0,9% entre 1993-2008. Mais especificamente, a partir de 2004, a PTF voltou a apresentar
taxas de crescimento mais elevadas, com uma média de 2,6% entre 2004-2008. Na média do
período de 1981 a 2008, a PTF teve uma contração de 0,4%.
Na década de 80 não houve planos econômicos voltados para o aprofundamento das
mudanças estruturais na economia brasileira. A atenção principal estava nas elevadas taxas de
inflação e no lançamento de sucessivos planos de estabilização de preços, que só conseguiam
reduzir a inflação temporariamente. Dessa forma, enquanto o foco do país passou a ser as
tentativas de combate à inflação, a indústria nacional passou a não acompanhar os avanços
tecnológicos em expansão nas economias desenvolvidas, contribuindo para a queda da PTF.
Em linha com Veloso (2010), grande parte das dificuldades enfrentadas na década de 80,
considerada como a “década perdida”, pode ser atribuída aos custos relacionados ao II PND.
Além de ter aumentado a vulnerabilidade externa, o plano contribuiu para o aumento da
parcela produzida por empresas estatais nos setores de bens de capital e bens intermediários,
causando distorções a locativas nesses setores, e, consequentemente, para a redução da PTF.
De acordo com Ferreira (2011), parte da redução da PTF também pode estar relacionada à
reserva de informática. A primeira Lei de Informática no Brasil foi estabelecida em 1984,
sendo posteriormente extinta em 1992. O objetivo era estabelecer uma barreira a importação
de produtos relacionados a informática para estimular a indústria nacional voltada para o setor
27
de tecnologia, mas a medida não teve o efeito desejado. Os produtos nacionais eram
considerados de qualidade inferior e mais caros do que a média internacional, limitando o
avanço tecnológico no país. Alguns setores, como o automobilístico, foram prejudicados,
ficando defasados tecnologicamente.
De acordo com Giambiagi et alli (2004), no início da década de 80, o modelo de substituição
de importação vigente desde 1950 começou a dar sinais de esgotamento. No final da década,
medidas pró-mercado ganharam força nas economias em desenvolvimento, como o Brasil,
como solução para alcançar um crescimento sustentável.
Em 1989, surgiu o Consenso de Washington, que consistia numa lista que apresentava uma
série de reformas que os países em desenvolvimento deveriam adotar na área econômica para
entrarem em trajetória de crescimento autossustentado. As propostas tinham como objetivo
garantir disciplina fiscal, promover liberalização comercial e financeira e reduzir fortemente o
papel do Estado na economia. Apesar de um contexto internacional favorável a reformas, a
produtividade do trabalho e a PTF oscilaram entre anos de retração e crescimento ao longo da
década de 90.
Os primeiros anos da década de 90 foram marcados pelo início do processo de abertura
comercial e financeira e de privatização. No governo de Fernando Collor (1990-1992), foram
lançadas medidas como a Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE) e o Plano
Nacional de Desestatização (PND), que tinham como objetivo recuperar o atraso industrial do
Brasil através de políticas de intensificação da abertura econômica e de privatizações.
Entretanto, o ritmo das reformas até 1994 foi moderado em razão, principalmente, dos
problemas enfrentados pelas indústrias nacionais, após anos com baixo nível de investimento,
e das dificuldades para conter os elevados índices de inflação no país.
28
A partir de 1994, com o sucesso do Plano Real para a estabilização dos preços no país, a
economia começou a mostrar sinais de recuperação. As novas oportunidades de
financiamento obtidas com a estabilização da economia contribuíram para a renovação do
parque industrial, com destaque para os bens de capital. Além disso, os benefícios da
competição gerada com a maior abertura comercial foram potencializados, pois os
consumidores se tornaram capazes de comparar preços.
Os anos de governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) deram continuidade às
reformas iniciadas no governo Collor. Os oito anos do governo FHC foram marcados por
importantes mudanças estruturais. Entre elas estão: as privatizações; o saneamento do sistema
financeiro, facilitando a entrada de bancos estrangeiros; a mudança no tratamento do capital
estrangeiro; a reforma parcial da Previdência Social; o fim dos monopólios estatais nos
setores de petróleo e telecomunicações, abrindo caminho para a competição nesses setores; a
renegociação das dívidas estaduais; a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); o
ajuste fiscal a partir de 1999; a criação de agências reguladoras de serviços de utilidade
pública e a introdução do Regime de Metas de Inflação como modelo de política monetária.
Sendo assim, destacamos que, em razão dos efeitos defasados associados às políticas
econômicas, as mudanças estruturais realizadas na década de 90 tornaram a economia
brasileira mais moderna e competitiva, e, dessa forma, podem ter contribuído para o aumento
das taxas de crescimento da PTF nos anos 2000. As medidas incentivaram o setor privado a se
modernizar e se tornar mais eficiente para competir com os produtos importados.
Em linha com Ferreira (2011), destacamos que o recente crescimento da PTF entre 2004-2008
pode estar associado às reformas estruturais realizadas na década de 90 e também às do início
do governo Lula. O governo Lula (2003-2010) deu continuidade à política econômica iniciada
29
no final da década de 90, que combinava câmbio flutuante, austeridade fiscal e regime de
metas de inflação.
Dessa forma, concluímos que, de 1960 a 1980, o Brasil apresentou elevadas taxas de
crescimento econômico e a PTF atingiu valores recordes, com destaque para os anos de
milagre econômico. As reformas estruturais do programa PAEG podem ser vistas como uma
melhora da tecnologia e, por isso, contribuíram para o bom desempenho da PTF no período.
Entretanto a partir de 1981, as taxas de crescimento do país apresentaram desaceleração e a
PTF apresentou forte queda. Destacamos que o II PND, além de aumentar a vulnerabilidade
externa do país, gerou distorções a locativas nos setores de bens de capital e bens
intermediários, contribuindo para a redução da PTF. A partir de 2004, observamos um
aumento das taxas de crescimento econômico, em linha com a melhora da PTF, que pode
estar associado aos efeitos defasados das mudanças estruturais realizadas a partir da década de
90 e que representaram uma ruptura com o modelo desenvolvimentista. Não obstante, vale
destacar que a taxa de crescimento da PTF permanece baixa e inferior à média observada nas
décadas de 60 e 70.
30
3.2
CHINA
Analisamos as políticas econômicas da China em duas partes: de 1960 a 1977 e de 1978 a
2008.
3.2.1
De 1960 a 1977
De 1960 até 1977, observamos que a China apresentou estagnação econômica e a PTF
alternou anos de retração com anos de crescimento. Na média, a PTF apresentou crescimento
de 0,6% de acordo com a versão 1 e de 0,3% de acordo com a versão 2.
A República Popular da China foi liderada por Mao Tsé-Tung desde a sua criação, em 1949,
até 1976, ano da morte do líder chinês. O país era considerado uma economia de
planejamento, na qual as decisões relacionadas à produção eram diretamente controladas pelo
governo. Em 1953, foi lançado o primeiro Plano Quinquenal chinês (1953-1958) que incluía
uma grande reforma agrária e a organização de agricultores em cooperativas.
Em 1958, Mao Tsé-Tung lançou o movimento conhecido como “Grande Salto Adiante”, que
tinha como objetivo inicial promover o desenvolvimento econômico do país. Dentre as
medidas propostas, estava a coletivização da agricultura. O líder organizou os agricultores em
propriedades comunitárias, mas estabeleceu metas de produção incompatíveis com a realidade
da agricultura local. O movimento foi considerado um fracasso econômico, em razão,
principalmente, da redução da produção de alimentos pela falta de incentivos aos produtores.
De acordo com Chow (2007), de 1958 a 1962, mais de 25 milhões de pessoas morreram de
fome.
31
Portanto, o início da década de 60 foi marcado por um período de reajuste após o fracasso do
movimento “Grande Salto Adiante”. Além disso, as medidas impostas pelo governo
comunista, como o fechamento da economia para o mercado externo, limitavam o
crescimento chinês.
Em 1964, foi anunciado o objetivo do governo de atingir “quatro modernizações” no país, nas
áreas da indústria, agricultura, defesa e ciência e tecnologia. Entretanto, esse plano foi adiado
até 1978 devido a Revolução Cultural (1966-1976). Em 1966, na tentativa de recuperar seu
poder político abalado após o movimento “Grande Salto Adiante”, Mao Tsé-Tung iniciou a
Revolução Cultural. Durante a revolução, o poder político foi transferido dos planejadores
econômicos para os integrantes radicais do Partido Comunista. O movimento durou por uma
década e impediu o desenvolvimento da economia chinesa neste período.
Com a morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, o poder político voltou para as mãos de
planejadores econômicos. O período de 1976-78 foi marcado pelo restabelecimento da ordem
política e econômica após a Revolução Cultural.
3.2.2
De 1978 a 2008
A partir de 1978, a China passou a apresentar taxas de expansão mais elevadas e a PTF
passou a crescer de forma contínua. Entre 1978 e 2008, a média de crescimento da PTF
alcançou 5,7% na versão 1 e 4,6% na versão 2. Ademais, entre 2002 e 2008, a taxa de
expansão da PTF aumentou para uma média de 7,5% no caso da versão 1 e de 8,2% no caso
da versão 2.
Em 1978, Deng Xiaoping assumiu o controle do Partido Comunista e foi responsável pelo
início do processo de transição da China de uma “economia de planejamento” em direção a
32
uma “economia socialista de mercado”. Na economia de mercado, são as forças de demanda e
oferta que determinam o nível de produção e os preços dos produtos. Dessa forma, seria o
início de uma mudança em direção a uma produção mais eficiente e competitiva.
No final da década de 70, o contexto era de insatisfação popular com o governo, devido à
Revolução Cultural e ao reconhecimento de que a economia de planejamento não havia sido
bem sucedida. Dessa forma, de acordo com Chow (2007), as mudanças estruturais iniciadas
em 1978 foram resultado tanto do esforço do governo central quanto da vontade da população
para melhorar as instituições econômicas do país. As reformas econômicas foram divididas
em sete áreas principais: agricultura; empresas estatais; preços; sistema bancário; comércio
externo e investimentos; setores não-estatais e infraestrutura institucional. Essas reformas
foram fundamentais para o aumento da produtividade total dos fatores na China.
A reforma da agricultura teve início em 1978, em um contexto de ineficiência do sistema de
propriedades comunitárias. Em setembro de 1979, foi oficialmente adotado um novo regime
chamado de “Sistema de Responsabilidade Familiar”, com as características de uma
agricultura familiar privada em uma economia de mercado. A propriedade das terras ainda era
coletiva, mas o agricultor passou a ter direito de usá-las de forma permanente, podendo ficar
com a produção após pagar uma quantia fixa aos agentes do governo. A medida foi uma
mudança estrutural importante da economia chinesa que contribuiu para o aumento da
produtividade do trabalho no setor agrícola.
Em setembro de 1980, foram estabelecidos os primeiros passos para a reforma das empresas
estatais no Congresso Chinês. O sucesso inicial da reforma foi limitado por uma questão
ideológica, pois o Partido Comunista acreditava que o controle dos principais meios de
produção deveria pertencer ao Estado. Sendo assim, ao contrário do setor agrícola, as
33
empresas estatais não foram privatizadas inicialmente. Em 1984, na tentativa de melhorar o
sistema econômico do país, foram estabelecidas novas medidas que contribuíram para o
avanço da reforma das empresas estatais. Dentre as principais medidas estava o aumento da
autonomia das empresas estatais em decisões como produção e oferta, e a possibilidade de
funcionarem como unidades econômicas com fins lucrativos.
As empresas estatais enfrentavam problemas relacionados à tradição burocrática, além de
tecnologias e equipamentos defasados. Entretanto, apesar de serem consideradas menos
eficientes, as empresas estatais possuíam maior acesso ao mercado de crédito do que as não
estatais, contribuindo para o aumento da ineficiência na alocação de recursos. Segundo Song
et alli (2011), esse problema tem sido reduzido de forma gradual no país e a melhora na
realocação do trabalho e do capital nas empresas chinesas pode ser considerada a principal
razão para o crescente crescimento da produtividade total dos fatores.
A participação das empresas estatais na produção total tem apresentado declínio desde 1980,
reduzindo os efeitos negativos de seu desempenho na economia. Em 1978, as empresas
estatais representavam 77,6% da produção total, enquanto em 1996, essa razão caiu para
28,5%.
Em 1997, foi estabelecido que as empresas estatais deveriam ser reestruturadas, sendo
transformadas em empresas de participação. Apesar disso, o governo ainda mostrou interesse
em manter o controle de algumas grandes indústrias. A reestruturação assumiu diversas
formas.4
ϰ
Para as pequenas e médias empresas, os trabalhadores e gerentes poderiam comprar ações de acordo com seus
salários e os membros da direção seriam escolhidos pelos acionistas. As ações poderiam ser trocadas entre
acionistas, mas não eram abertas ao público. Já para as grandes empresas, a reestruturação poderia ser feita de
várias formas e as ações poderiam ser vendidas para o público.
34
Em relação ao setor não estatal, o seu desenvolvimento passou a ser estimulado a partir de
1978 e, apesar do menor acesso ao crédito, o setor se expandiu rapidamente e apresenta maior
dinamismo do que as empresas estatais.
Destacamos que, para que a reforma das empresas estatais fosse bem sucedida, seria
necessário um sistema de preços mais moderno e eficiente. Dessa forma, em outubro de 1984,
foi realizada a reforma do sistema de preços. O objetivo foi promover a retirada gradual do
controle de preços pelo governo e permitir que estes fossem determinados por forças do
mercado, o que tornaria as decisões de produção das empresas mais eficientes.
Antes da reforma dos preços, o governo fornecia subsídios aos produtores através de baixos
preços de insumos e proteção aos preços dos produtos, e aos consumidores em forma de
baixos preços de comida, roupas e habitação. Dessa forma, a reforma foi feita de forma
gradual, para não prejudicar os consumidores e a produção das empresas estatais. A solução
foi estabelecer um sistema com dois níveis de preços e, aos poucos, os preços administrados
foram sendo mudados para coincidir com os preços de mercado. Nos anos 90, a maioria dos
produtos na China passou a ser vendido a preços de mercado e o sistema não era mais
necessário.
A reforma do sistema bancário também progrediu de forma gradual ao longo dos anos 80 e
início dos anos 90. O estabelecimento de um sistema bancário moderno era considerado
fundamental na transição da economia chinesa em direção a uma economia de mercado. Em
1983, o Banco Popular da China foi transformado em Banco Central e bancos especializados,
como o Banco Comercial e Industrial, o Banco da Agricultura e o Banco da Construção,
ganharam mais autonomia para conceder crédito, apesar de condicionados às decisões do
35
governo. Em 1995, as leis que garantiam maior independência ao Banco Central e que
transformavam bancos especializados em bancos comerciais foram aprovadas no Congresso.
Em 1998, a crise asiática desacelerou temporariamente o ritmo das reformas, mas forneceu
novas experiências para os formuladores de política, como a necessidade de transparência nas
instituições financeiras e supervisão mais eficaz.
Em relação à abertura da economia chinesa ao comércio externo, de acordo com Chow
(2007), a primeira zona econômica chinesa foi criada em 1982. Aos poucos, outras zonas
econômicas foram sendo criadas no país. Os investidores estrangeiros estabeleceram fábricas
e aproveitavam a mão de obra barata e qualificada e os incentivos fiscais.
Além disso, nos anos 2000, a China passou a fazer parte da Organização Mundial do
Comércio (OMC). Os membros da OMC possuem livre acesso aos mercados dos demais
países membros e passam a lidar com a concorrência dos produtos estrangeiros. Dentre as
principais condições aceitas pela China para se tornar membro estavam a redução das tarifas
de importação, a permissão de empresas estrangeiras venderem seus produtos no mercado
doméstico chinês e a abertura dos setores financeiros e de telecomunicações para competição
externa.
A decisão representou um grande passo da economia chinesa em direção a uma economia
mais moderna e competitiva, estimulando o aumento da PTF nos anos 2000. As tarifas de
importação para produtos agrícolas caíram de 31,5% para 14,5%, em 2004, e as tarifas sobre
produtos industriais seriam reduzidas de 35% para 17% no período de cinco anos. A abertura
comercial permitiu o aumento das importações de produtos agrícolas e industriais. Os
produtores chineses foram obrigados a aumentar a competitividade de seus produtos,
36
melhorando a qualidade e reduzindo os preços, para conseguirem competir com produtos
importados.
Por último, destacamos que a reforma econômica foi aliada a uma melhora da infraestrutura
institucional da China. A estrutura do sistema legal foi modernizada, em linha com a
necessidade de lidar com empresas estrangeiras, após a entrada para a OMC, e de garantir a
ordem doméstica. Além disso, o sistema educacional apresentou evolução gradual, com a
reabertura das universidades públicas, após as interrupções causadas pela Revolução Cultural
e com o desenvolvimento de universidades privadas. De 1985 a 1998, o Ministério da
Educação patrocinou programas de cooperação com instituições educacionais estrangeiras
para melhorar educação na China. Atualmente, o país apresenta uma elevada qualidade de
ensino, como mostramos no capítulo 4.
Dessa forma, concluímos que de 1960 até 1977 a China apresentou estagnação econômica e
baixo crescimento da PTF. O período foi marcado por medidas do regime comunista, como a
Revolução Cultural, que limitavam o crescimento do país. A partir de 1978, com o início da
transição para a economia de mercado, o país passou a apresentar taxas de crescimento
elevadas e um acentuado aumento da PTF. As reformas estruturais, como a abertura comercial
e a reforma na agricultura, bem como a menor participação das empresas estatais na produção
total permitiram esse bom desempenho.
37
4
4.1
ANÁLISE COMPARATIVA
A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL HUMANO
Nesta seção, mostramos o modelo de crescimento com a inclusão do capital humano.
Podemos reescrever a função da produção apresentada na equação 1, de modo a acrescentar o
capital humano, da seguinte forma:
C DE F GF
(10)
Onde H é o capital humano. O capital humano pode ser medido como uma função do nível
médio de escolaridade da população ou da força de trabalho. Hall e Jones (1999) medem o
capital humano considerando que H=Lh, onde h é o nível médio de capital humano da
população e L é o número de trabalhadores. Assume-se que H I JK , onde h é uma função
linear e s é a escolaridade, medida como o número médio de anos de escolaridade da
população. A função JL tem coeficiente angular 0,13 para s”4, 0,10 para 4<s”8 e 0,07 para
s>8.
A educação é importante para o crescimento econômico de um país, pois é um componente do
capital humano das pessoas. A existência de um capital humano qualificado com capacidade
de absorver as tecnologias avançadas e criar novas tecnologias é condição fundamental para o
aumento da produtividade do trabalho de um país.
38
Analisamos os dados de escolaridade média da população com idade de 25 anos do banco de
dados de Barro-Lee (2010). Observamos que a partir de 1970, a China passou apresentar uma
média superior ao Brasil em anos de escolaridade. Em 2008, enquanto o Brasil apresentou
uma média de 6,9 anos de educação, a China registrou uma média de 7,3 anos. Nos últimos
anos, a diferença entre os países tem apresentado redução (gráfico 4).
Gráfico 4 - Anos de Educação
Anos de Educação
ϴ
ϳ
ϲ
ϱ
ϰ
ϯ
Ϯ
ϭ
ƌĂƐŝů
ϮϬϭϬ
ϮϬϬϳ
ϮϬϬϰ
ϮϬϬϭ
ϭϵϵϴ
ϭϵϵϱ
ϭϵϵϮ
ϭϵϴϵ
ϭϵϴϲ
ϭϵϴϯ
ϭϵϴϬ
ϭϵϳϳ
ϭϵϳϰ
ϭϵϳϭ
ϭϵϲϴ
ϭϵϲϱ
ϭϵϲϮ
ϭϵϱϵ
ϭϵϱϲ
ϭϵϱϯ
ϭϵϱϬ
Ϭ
ŚŝŶĂ
&ŽŶƚĞ͗ĂƌƌŽͲ>ĞĞ
Entretanto, destacamos que existe uma grande disparidade entre Brasil e China em termos de
qualidade de ensino. De acordo com Programa para Avaliação Internacional de Estudantes
(PISA) de 2009, verificamos que o Brasil apresenta níveis muito inferiores a China em termos
de proficiência. Enquanto Xangai, a maior cidade da China, ocupa o primeiro lugar no
ranking de qualidade de educação para ciências, matemática e leitura, o Brasil ocupa o M.N ,
M/N e M.N lugar, respectivamente (gráfico 5).
39
Gráfico 5 - Qualidade de Educação-Posição no Ranking PISA
Qualidade de Educação - Posição no Ranking PISA
ϱϯ
ƌĂƐŝů
ϱϰ
ϱϯ
Ϯϯ
h
ϯϭ
ϭϳ
ϭ
ŚŝŶĂ
ϭ
ϭ
Ϭ
ϭϬ
ϮϬ
ŝġŶĐŝĂƐ
ϯϬ
ϰϬ
DĂƚĞŵĄƚŝĐĂ
>ĞŝƚƵƌĂ
ϱϬ
ϲϬ
&ŽŶƚĞ͗W/^ϮϬϬϵ
Em linha com Portela (2011), destacamos que o Brasil não investe pouco em educação,
apresentando uma média de gastos como percentual do PIB em linha com países da OCDE,
mas a distribuição dos recursos é ineficiente. A distribuição é mais favorável aos alunos no
final do ciclo de vida escolar. Sendo assim, o Brasil precisa não apenas aumentar a quantidade
de anos de educação, mas, principalmente, melhorar a qualidade do ensino e garantir uma
maior eficiência dos gastos públicos em educação.
A China, por outro lado, tem sido bem sucedida no estabelecimento de um capital humano de
elevada qualidade, o que potencializa o uso das tecnologias avançadas no país. Isso tem
contribuído para as elevadas taxas de crescimento da PTF registradas no país.
40
4.2
O CRESCIMENTO DA PTF E A ELIMINAÇÃO DAS DISTORÇÕES NA
ALOCAÇÃO DE RECURSOS
Nesta seção fazemos uma análise comparativa das taxas de crescimento da PTF no Brasil e na
China. Em seguida, comparamos a facilidade de fazer negócios nos dois países. Os resultados
indicam que, a partir da década de 80, a PTF tem apresentado taxas de crescimento mais
elevadas na China e que este país, na média, apresenta condições mais propícias para a adoção
de tecnologias do que o Brasil.
De 1960 até o final da década de 70, o Brasil apresentou elevadas taxas de crescimento da
PTF, impulsionadas por mudanças estruturais na economia. Destacamos que as reformas do
PAEG contribuíram para este resultado. Na China, esse período foi marcado por medidas
autoritárias do regime comunista. Em razão disso, as décadas de 60 e 70 foram de baixo
crescimento da PTF. Entre 1960 a 1980, a média de crescimento da PTF no Brasil foi de
3,2%, enquanto na China foi de apenas 1,5%, de acordo com a versão 1 (ou 1,0% na versão
2).
Entretanto, a partir do início da década de 80, a situação se inverteu. Enquanto no Brasil a
PTF apresentou forte queda, na China, com o início da transição para a economia de mercado,
a PTF passou a registrar elevadas taxas de crescimento, se tornando o principal determinante
do crescimento econômico do país. Entre 1981 a 2008, em média, a PTF apresentou queda de
0,4% no Brasil e crescimento de 5,6% na China, de acordo com a versão 1 (ou 4,6% na versão
2).
Evidências sugerem que os períodos de baixo crescimento da PTF nos dois países estão
relacionados à distorções na alocação de recursos. No caso da economia brasileira,
destacamos os custos relacionados ao II PND. O plano aumentou a vulnerabilidade externa do
país e contribuiu para a elevação da parcela produzida por empresas estatais nos setores de
41
bens de capital e bens intermediários, causando distorções nesses setores. No caso da China,
observamos que até o final da década de 70, a economia chinesa era uma economia de
planejamento com uma produção pouco eficiente, fornecida, em sua maior parte, por
empresas estatais. A partir da década de 80, a participação das empresas estatais na produção
total do país vem apresentando uma redução gradual, contribuindo para o aumento da PTF.
Corroborando esta ideia, Hsieh e Klenow (2009) estimaram que a eliminação da ineficiência
na alocação de fatores de produção entre firmas na China elevaria a PTF da indústria
manufatureira em 86%-115%. Já no caso do Brasil, segundo Ferraz e Monteiro (2009), a PTF
da indústria manufatureira aumentaria entre 41%-49%. Ressaltamos que os ganhos
relacionados a eficiência dos fatores devem ser ainda maiores, já que os dados disponíveis só
permitem uma estimativa em firmas com 30 ou mais trabalhadores.
Dessa forma, as políticas econômicas capazes de eliminar essas distorções são fundamentais
para o aumento da produtividade total dos fatores nos países. Atualmente, observamos que a
China tem sido mais bem sucedida na redução de barreiras a adoção de tecnologias eficientes
do que o Brasil, como pode ser confirmado pelo ranking Doing Business.
No ranking Doing Business 2011, as economias são classificadas de acordo com sua
facilidade de fazer negócios, em uma escala de 1 a 183. Uma posição elevada no ranking do
índice significa que o país tem um ambiente regulatório mais propício para o início e para a
operação de uma empresa local. Este índice faz uma média de 10 tópicos e é composto por
uma variedade de indicadores, dando peso igual a cada tópico. Destacamos que, enquanto a
China ocupa o OPN lugar na classificação relativa à facilidade de fazer negócios, o Brasil está
em O QN lugar.
A regulação excessiva contribui para a ineficiência na alocação de fatores, reduzindo a PTF.
O excesso de regulação dificulta à entrada de firmas mais produtivas no mercado e à saída de
42
empresas menos produtivas. Os indicadores referentes à abertura e fechamento de empresas
confirmam este problema no Brasil e na China.
Além disso, o alto nível de tributação e a dificuldade de acesso à crédito também são fatores
que geram distorções na alocação de recursos. Observamos que o indicador referente ao
pagamento de impostos mostra o alto custo e a complexidade do sistema tributário brasileiro e
chinês. Em relação ao acesso ao crédito, apesar de um recente progresso, o Brasil se encontra
em uma posição inferior a China.
Tabela 7- Ranking Doing Business
&ŽŶƚĞ͗ŽŝŶŐƵƐŝŶĞƐƐϮϬϭϭ
Sendo assim, as políticas de elevação da PTF nos dois países devem ter como objetivo
principal promover melhorias na alocação de recursos. Em linha com Mello (2010) e Veloso
(2010), isso envolve medidas como o estabelecimento de um ambiente regulatório que facilite
à entrada e saída de empresas do mercado, a definição de um código tributário e uma
43
legislação trabalhista mais eficiente, a realização de maiores investimentos em infraestrutura,
as privatizações e outras mudanças capazes de aumentar a competitividade da economia.
4.3
LIÇÕES DA ECONOMIA CHINESA
Seguindo Chow (2010), atribuímos as elevadas taxas de crescimento econômico da China a
três motivos principais.
O primeiro deles diz respeito à adoção de tecnologias avançadas. A partir de 1978, por estar
na etapa inicial do seu processo de desenvolvimento, a China conseguiu adotar tecnologias de
países desenvolvidos, alcançando um rápido aumento da PTF. Ou seja, o país foi beneficiado
por estar abaixo da fronteira tecnológica.5 Além disso, destacamos que, atualmente, o país
segue com elevados investimentos em pesquisa e tecnologia (P&D), impulsionados pela
instalação de multinacionais em busca de menores custos. Em 2008, os gastos com P&D na
China representaram 1,42% do PIB, enquanto no Brasil, essa razão foi de 1,11%. No gráfico
6, confirmamos a acentuada diferença existente nas taxas de investimento total dos dois
países.
Gráfico 6– Taxa de Investimento (% PIB Per Capita)
Taxa de Investimento (% do PIB per capita)
ϰϱ
ϰϬ
ϯϱ
ϯϬ
Ϯϱ
ϮϬ
ϭϱ
ϭϵϲϬ
ϭϵϲϮ
ϭϵϲϰ
ϭϵϲϲ
ϭϵϲϴ
ϭϵϳϬ
ϭϵϳϮ
ϭϵϳϰ
ϭϵϳϲ
ϭϵϳϴ
ϭϵϴϬ
ϭϵϴϮ
ϭϵϴϰ
ϭϵϴϲ
ϭϵϴϴ
ϭϵϵϬ
ϭϵϵϮ
ϭϵϵϰ
ϭϵϵϲ
ϭϵϵϴ
ϮϬϬϬ
ϮϬϬϮ
ϮϬϬϰ
ϮϬϬϲ
ϮϬϬϴ
ϭϬ
ƌĂƐŝů
ŚŝŶĂ
&ŽŶƚĞ͗WĞŶŶtŽƌůĚdĂďůĞϳ͘Ϭ
ϱ
O modelo neoclássico de crescimento supõe que existe uma fronteira tecnológica que evolui a uma taxa
constante. A fronteira tecnológica é dada pela taxa de crescimento de longo prazo do produto por trabalhador da
economia americana.
44
Ademais, ao analisar as exportações dos dois países, observamos que, enquanto a China
exportou cerca de US$ 370 bilhões em tecnologia em 2008, o Brasil vendeu apenas US$ 11,1
bilhões. De acordo com um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), a China é o país que mais exporta tecnologia de ponta, com destaque para eletrônicos.
O Brasil ficou em 0R lugar em um total de 42 países. Ainda de acordo com o estudo, em
2008, as exportações de alta tecnologia representaram 22,5% das vendas externas totais da
China e apenas 5,4% das vendas brasileiras.
Outro indicador do avanço tecnológico chinês é o número de patentes. Em 2000, os dois
países apresentavam 0,2 patente para cada 10 mil habitantes. Em 2008, a China alcançou 1,1
patente/10 mil habitantes, enquanto o Brasil permaneceu no mesmo patamar de 2000.
O segundo fator diz respeito ao início da liberalização econômica a partir de 1978. O processo
de transição de uma economia de planejamento em direção a uma economia de mercado tem
sido gradual e bem sucedido. As reformas estruturais, como a abertura comercial, têm
contribuído para tornar a economia mais moderna e competitiva. Além disso, o declínio da
participação das empresas estatais na produção total contribui para o aumento da PTF.
O terceiro fator se refere à existência de capital humano qualificado com capacidade de
absorver a tecnologia. De acordo com Programa para Avaliação Internacional de Estudantes
(PISA) de 2009, a China ocupa o primeiro lugar no ranking de proficiência nos exames de
ciências, matemática e leitura. Desse modo, a elevada qualidade da educação chinesa
potencializa o uso das tecnologias avançadas, como pode ser visto no capítulo 4.
45
5
CONCLUSÃO
Portanto, nesta dissertação analisamos o crescimento econômico do Brasil e da China, com
foco na produtividade total dos fatores (PTF) no período de 1960 a 2008.
De acordo com o modelo neoclássico, para determinar se o crescimento econômico de um
país será sustentável no longo prazo, precisamos analisar se este crescimento é determinado
pela produtividade total dos fatores. Através da decomposição do crescimento, observamos
que os resultados apontam para trajetórias diferentes em cada país.
A partir da década de 80, enquanto a PTF apresenta aumento acentuado na China, se tornando
o principal determinante para o elevado crescimento econômico do país, no Brasil a PTF
apresenta forte queda, contribuindo para a desaceleração das taxas de crescimento do PIB.
Analisando as políticas econômicas dos dois países no período de 1960-2008, evidências
sugerem que os períodos de baixo crescimento da PTF estão associados à ineficiências na
alocação de recursos. Em razão disso, medidas capazes de reduzir essas ineficiências e
estimular a competitividade da economia são fundamentais para um aumento contínuo da PTF
e dessa forma, para um crescimento econômico sustentável no longo prazo.
46
Isso envolve medidas como o estabelecimento de um ambiente regulatório que facilite à
entrada e saída de empresas do mercado, a definição de um código tributário e uma legislação
trabalhista mais eficiente, a realização de maiores investimentos em infraestrutura, as
privatizações e outros.
Por último, identificamos lições da economia chinesa que poderiam ser adotadas pela
economia brasileira, de forma a alcançar taxas de crescimento econômico mais elevadas,
como o aumento dos investimentos em P&D e a melhora da qualidade da educação.
47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDT, Loren, HSIEH, Chang-Tai & XIAODONG, Zhu (2008). “Growth and Structural
Transformation in China” In:China’s Great Economic Transformation, ed. Loren Brandt and
Thomas G. Rawski, 683-728. Nova York: Cambridge University Press.
BUGARIN, Mirta, ELLERY Jr., Roberto, GOMES, Victor & TEIXEIRA, Arilton (2002).
“The Brazilian Depression in the 1980s and 1990s” Disponível em:
http://www.econ.pucrio.br/pdf/seminario/mirta_bugarin.pdf
CASELLI, Francesco (2005). “Accounting for Cross-Country Income Differences” In: Centre
for Economic Performance, London School of Economics and Political Science.
CHOW, Gregory (2007).“China’s Economic Transformation” Segunda Edição.
CHOW, Gregory (2010).“Interpreting China’s Economy”
FERREIRA, Pedro, ELLERY Jr.,Roberto & GOMES, Victor (2008). “Produtividade
Agregada Brasileira (1970-2000): Declínio Robusto e Fraca Recuperação” In: Estudos
Econômicos, São Paulo, vol. 38, n. 1, p. 31-53, janeiro-março 2008.
FERREIRA, Pedro (2011). “Produtividade, Poupança e Reformas Institucionais” Disponível
em: www.bcb.gov.br.
GIAMBIAGI, Fabio, VILLELA, André, BARROS DE CASTRO, Lavínia & HERMANN,
Jennifer (2004). “Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004)”
48
GOMES, Victor, LISBOA, Marcos & PESSÔA, Samuel (2002). “Estudo da Evolução da
Produtividade Total dos Fatores para a Economia Brasileira: 1950-2000” Disponível em:
http://vsites.unb.br/face/eco/seminarios/sem0503.pdf
GOMES, Victor, PESSÔA, Samuel & VELOSO, Fernando (2003). “Evolução da
Produtividade Total dos Fatores na Economia Brasileira: Uma Análise Comparativa” In:
Pesquisa e Planejamento Econômico vol.33 n.3 dezembro 2003.
HALL, Robert & JONES, Charles (1999). “Why Do Some Countries Produce So Much More
Output Per Worker Than Others?” In: The Quarterly Journal of Economics vol. 114, n. 1,
fevereiro 1999.
HSIEH, Chang-Tai & KLENOW, Peter J. (2009). “Misallocation and Manufacturing TFP in
China and India” In: The Quarterly Journal of Economics, MIT Press, vol. 124(4), p. 14031448, Novembro.
HSIEH, Chang-Tai & KLENOW, Peter J. (2010). “Development Accounting” In: American
Economic Journal: Macroeconomics 2010, 2:1, 207-223.
KLENOW, Peter & RODRIGUEZ-CLARE, Andres (1997). “The Neoclassical Revival in
Growth Economics: Has it gone too far?” In: NBER Macroeconomics Annual 1997, vol. 12.
MELLO, Marcelo (2010). “Crescimento Econômico na América Latina, 1950-2007”
Manuscrito Faculdade Ibmec-RJ.
PORTELA, André. (2011). “Desafios Institucionais do Brasil: A Qualidade da Educação”
Disponível em: www.bcb.gov.br.
SONG, Zheng, STORESLETTEN, Kjetil & ZILIBOTTI, Fabrizio (2011).“Growing like
China” In: American Economic Review 101 (February 2011): 196-233.
VELOSO, Fernando, VILLELA, André & GIAMBIAGI, Fabio (2008). “Determinantes do
“Milagre” Econômico Brasileiro (1968-1973): Uma Análise Empírica” In: Revista Brasileira
de Economia v.62 n.2 / p. 221-246 abril-junho 2008.
VELOSO, Fernando (2010). “Crescimento Econômico Brasileiro: Análise e Perspectivas XII
Seminário Anual de Metas para a Inflação” Disponível em: www.bcb.gov.br.
49
Download