BIOLOGIA Cláudio Góes Efeitos da altitude sobre a produção de eritrócitos. Transporte de oxigênio no sangue pela hemoglobina Quando o oxigênio difunde dos pulmões para o sangue, uma pequena proporção fica em solução nos líquidos do plasma e dos glóbulos vermelhos, mas, quantidade de oxigênio sessenta vezes maior combina imediatamente com a hemoglobina dos glóbulos vermelhos, e é transportado, sob essa forma combinada, para os capilares dos tecidos. Na verdade, sem a hemoglobina, a quantidade de oxigênio que poderia ser transportada seria apenas uma pequena fração do que seria necessária para manter a vida. Quando o sangue passa pelos capilares dos tecidos, o oxigênio se separa da hemoglobina e difunde para as células. Dessa forma, a hemoglobina atua como um carreador de oxigênio aumentando a quantidade de oxigênio que pode ser transportada desde os pulmões até os tecidos até cerca de 60 vezes mais do que poderia ser transportado apenas em solução. Curva de dissociação Oxigênio-Hemoglobina Essa curva é estabelecida a partir da porcentagem de hemoglobina que está combinada ao oxigênio, para determinada pressão de oxigênio (PO2). O sangue aerado que deixa os pulmões tem, usualmente, pressão do oxigênio da ordem de 100 mmHg. Fazendo referência à curva, é visto que, nessa pressão, aproximadamente 97% da hemoglobina estão combinados com o oxigênio. Assim, cerca de 27% da hemoglobina perdem seu oxigênio para as células teciduais, nas condições normais. Então, ao retornar para os pulmões, combina-se com novo oxigênio, e o transporta, mais uma vez, para as células dos tecidos. Quando o sangue é oxigenado até o nível arterial normal de 97% de saturação, cerca de 19 ml de oxigênio estarão fixados à hemoglobina. Então, conforme o sangue perde oxigênio para os tecidos e a saturação da hemoglobina cai a 70%, a quantidade de oxigênio que permanece fixada ao sangue ainda é da ordem de 14 ml para cada 100 ml de sangue. Por conseguinte, cada 100 ml de sangue que passam pelos tecidos, normalmente, libertam cerca de 5 ml de oxigênio para as células. Durante o exercício intenso, essa liberação pode aumentar até 15 a 18 ml para cada 100 ml de sangue que passa pelos tecidos. 1 Numa pessoa normal aproximadamente um quarto da hemoglobina é usado no transporte do oxigênio para os tecidos, nas condições normais. Quando os tecidos sofrem de extrema necessidade, a PO2 nesses tecidos cai a valores muito baixos, permitindo que o oxigênio difunda do sangue capilar com maior rapidez que a usual. Como resultado, a saturação da hemoglobina no sangue capilar pode cair a 10 a 20%, em lugar dos 70% normais. Portanto, sem qualquer aumento da quantidade de fluxo sanguíneo, a quantidade de oxigênio pode ser aumentada por mais três vezes. Se também for lembrado que o débito cardíaco pode aumentar de até cinco a sete vezes nos períodos de estresse então fica claro que a quantidade de oxigênio que pode ser transportada para os tecidos pode ser aumentada de até 15 a 20 vezes a normal, parte desse aumento correspondendo à queda do percentual de saturação da hemoglobina e parte ainda maior pelo aumento do débito cardíaco. Efeitos da altitude Alterações na Pressão Atmosférica e PO2 em diferentes altitudes Altitude (m) Pressão Atmosférica (mmHg) PO2 (mmHg) Zero (nível do mar) 760 159,2 1.000 674 141,2 2.000 596 124,9 3.000 526 110,2 4.000 462 96,9 9.000 231 48,4 1. A curto prazo: Hiperventilação (taquipnéia) estimulada pela baixa PO2 e que atua no sentido de diminuir o percentual de saturação da hemoglobina; Maior eliminação de CO2 que baixa a PCO2 e aumenta o pH provocando a alcalose respiratória, acompanhada por tonturas, vertigens e náuseas. 2. A médio prazo: Excreção de HCO3 - pela urina para baixar o pH até o normal; Perda de H2O que provoca desidratação e diminui o volume plasmático; Hemoconcentração - aproximação das hemácias para facilitar o transporte de O2 por um processo difusional. 3. A longo prazo: Secreção de eritropoietina pelo rim estimulando a medula óssea a fazer eritropoiese (reposição dos eritrócitos) por meio de fatores de indução hematopoiética. Aumento de volume sanguíneo - recuperação da capacidade de transporte de O2 como medida adaptativa, considerando que o sangue se encontra agora com mais hemácias em relação ao observado quando se está ao nível do mar. 2 Tempo de adaptação: Até 2.100 m - 2 semanas; para cada 600 m a mais, deve-se aumentar em mais uma semana. Exercício e altitude Perda de performance: Até 1.500 m - não há perda significativa; a cada 1.000m a mais - perda de 10% do VO2 máx. Aclimatização: Após a aclimatização há o aumento do volume sanguíneo e do número de hemácias aumentando a capacidade de transporte de O2. Entretanto, a massa muscular e o peso corporal diminuem devido à desidratação e supressão do apetite que provocam o catabolismo protéico. Pela menor oferta de oxigênio, diminui também a capacidade oxidativa. 3