Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha Barros R.S. Data: Julho de 2009 Azurém 4800-085 Guimarães ∗ Tel. 253 510 200 ∗ Fax 253 510 217 ∗ E-mail [email protected] Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - I/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha Reabilitação das construções Barros R.S., Orientador: Oliveira D.V. Escola de Engenharia – Universidade do Minho Data: Julho de 2009 "A natureza é exactamente simples, se conseguirmos encará-la de modo apropriado. Essa crença tem me auxiliado, durante toda a minha vida, a não perder as esperanças, quando surgem grandes dificuldades de investigação" Albert Einstein Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - II/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi desenvolvido no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, durante a unidade curricular de Reabilitação das construções, no âmbito do curso doutoral em engenharia civil. A orientação foi realizada pelo Prof. Daniel V. Oliveira, ao qual agradeço todos os conhecimentos transmitidos, dedicação e empenho sempre demonstrado durante a realização do trabalho. Aos meus pais, agradeço o apoio incondicional e o amor. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - III/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil SUMÁRIO As construções em xisto representam um legado cultural, arquitectónico e histórico muito importante em Portugal e na Europa, que urge preservar. A presença de construções em alvenaria de xisto nas regiões do Minho, Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, prende-se com a predominância do xisto existente no solo. Em Portugal continental são diversos os tipos de xistos existentes, variando o tipo ao longo do território, assim como varia a estrutura xistosa e os minerais constituintes. A erosão do xisto é um dos danos mais gravosos registado neste tipo de construção popular, tendo como origem factores físicos e químicos resultantes de fenómenos de cristalização de sais e ciclos de gelo/degelo, aliados aos microclimas característicos das regiões de implantação dos edifícios. O restauro das zonas afectas pela erosão é praticamente impossível, dada a forma como o dano se expressa e a não existência de reboco. A eliminação deste dano passa por evitar a percolação da água nas paredes e pelo consolidamento dos elementos pétreos através da eliminação dos espaços vazios. Palavras-chave: Erosão, Xisto, Danos, Alvenaria. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - IV/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil ÍNDICE I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 II. GEOLOGIA ................................................................................................................. 5 II.1. ROCHAS METAMÓRFICAS .............................................................................................................................. 7 II.2. XISTO ..................................................................................................................................................... 14 II.3. A APLICABILIDADE DO XISTO EM PORTUGAL .................................................................................................... 17 III. LEVANTAMENTO E PRINCIPAIS DANOS ................................................... 21 III.1. ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS ....................................................................................................................... 24 III.1.2. Ensaios de ciclo gelo/degelo ....................................................................................................... 25 III.1.3. Ensaios de sais ............................................................................................................................ 28 III.1.4. Ensaios de compressão ............................................................................................................... 29 III.1.5. Ensaios de determinação de dureza ........................................................................................... 30 III.1.6. Determinação da absorção da água por capilaridade ................................................................ 32 III.1.7. Determinação da absorção da água à pressão atmosférica....................................................... 32 III.1.8. Esclerómetro de Schmidt............................................................................................................. 33 III.2. ENSAIOS DESTRUTIVOS .............................................................................................................................. 34 III.2.1. Microscopia electrónica .............................................................................................................. 34 III.2.2. Absorção atómica ....................................................................................................................... 35 III.2.3. Cromatografia iónica .................................................................................................................. 36 III.2.4. Tensão de carga de ponta ........................................................................................................... 36 IV. V. ALTERAÇÃO E ALTERABILIDADE DAS ROCHAS ................................... 40 EROSÃO DO XISTO ................................................................................................ 44 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - V/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil V.1. PATOLOGIA ............................................................................................................................................. 44 V.2. FENÓMENO ............................................................................................................................................. 46 V.3. SOLUÇÕES PARA A REABILITAÇÃO E RESTAURO ................................................................................................ 49 VI. CONCLUSÕES...................................................................................................... 52 VII. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 54 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - VI/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil ÍNDECE DE FIGURAS Figura 1 – Diferentes aldeias do xisto em Portugal. .............................................................. 2 Figura 2 – Construções em xisto no mundo. ......................................................................... 3 Figura 3 – Unidades estruturais da Península Ibérica: 1.Bacias Cenoantropozóicas; 2. Cadeias Mesocenozóicas; 2. Cadeias Alpinas; 4. Maciço Hispérico. (Aires-Barros, 2001). ............................................................................................................................. 5 Figura 4 – As grandes unidades litoestratigráficas de Portugal continental (Marques et. al., 2006). ............................................................................................................................. 6 Figura 5 – Metamorfismo com a criação de superfícies achatadas com linhagem perpendicular às principais tensões de compressão (Blyth e Freitas, 1984). .............. 10 Figura 6 – Xistosidade: (a) Orientação paralela regular; (b) Orientação paralela prismática (Blyth e Freitas, 1984). ................................................................................................ 10 Figura 7 – Principais rochas metamórficas. (a) Mármore; (b) Gnaisse; (c) Granulito; (d) Quartezito; (e) Eclogito; (f) Xisto; (g) Serpentino; (h) Anfibolito; (i) Corneana; (j) Milonito. ................................................................................................................. 13 Figura 8 - Xisto originário de: (a) Minho, (b) Trás-os-Montes, (b) Beiras. ........................ 14 Figura 9 – Diferentes tipos de xistos: (a) Micaxisto; (b) Xisto mosqueado; (c) Filito; (d) Xisto verde; (e) Xisto cloritico; (f) Xisto actinolitico; (g) Ardósia. ............................ 15 Figura 10 - Mapa litológico de Portugal continental, alterado de Rochas de Portugal. ...... 17 Figura 11 - Construções em xisto: (a) Capela; (b) Pontes (Pereira, 2006); (c) Muro. ........ 19 Figura 12 – Esclerómetro de Schmidt (Barros e Guerra, 2007). ......................................... 33 Figura 13 - Ensaio de carga pontual (Mark e Rusnak, 1999). ............................................. 37 Figura 14 – Factor de Correcção (alterado de ISRM, 1985). .............................................. 38 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - VII/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Figura 15 – Requerimento de forma: (a) teste diametral; (b) teste axial; (c) teste sobre elemento regular; (d) teste sobre elemento irregular (alterado de ISRM, 1985). ........ 39 Figura 16 - Erosão do xisto numa habitação na zona de Arganil. ....................................... 44 Figura 17 – Erosão de xisto em habitações de Trás-os-Montes. ......................................... 46 Figura 18 – Distribuição, numa parede, da migração ascensional, por capilaridade, das soluções salinas mais comuns das águas subterrâneas (Aires-Barros, 2001). ............. 49 Figura 19 – Erosão do xisto expresso com o desaparecimento das camadas externas dos elementos pétreo. ......................................................................................................... 51 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - VIII/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil INDICE DE TABELAS Tabela 1 – Classificação das rochas metamórficas (Blyth e Freitas, 1984). ....................... 12 Tabela 2 – Adaptação da escala para classificação visual apresentada na norma NP EN 12371:2006. ......................................................................................................................... 27 Tabela 3 – Escala de Mohs e de dureza absoluta. ............................................................... 31 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - IX/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil I. INTRODUÇÃO O presente trabalho aborda a caracterização do xisto utilizado nas construções de alvenaria existentes no território nacional, com maior realce na análise dos danos destes elementos pétreos, principalmente a erosão do xisto. Este trabalho foi elaborado no âmbito da disciplina de Reabilitação das construções, no curso doutoral de engenharia civil e faz parte da primeira fase de um estudo mais aprofundado das construções de alvenaria de xisto. A pedra natural é um dos principais materiais de construção à disposição do Homem. Desde a antiguidade que o Homem constrói os seus abrigos em pedra natural, material que permitia, à semelhança das grutas, uma boa protecção contra intempéries. As pedras naturais eram aplicadas na construção tal e qual como eram extraídas do solo ou previamente cortadas e trabalhadas, originado estruturas sólidas e compactas. Segundo Boeri (2000), a arquitectura dos povos antigos fez largo uso deste material, erigindo grandes obras que, graças às propriedades de dureza do material, encontram-se em bom estado nos dias de hoje. O uso deste material na construção tem estado reservado a obras importantes, edificadas para durar no tempo, tal como os edifícios religiosos e monumentais. Foram inúmeros os impérios espalhados pelo mundo que recorreram à pedra natural para implantação e dispersão do seu povo, encontrando-se ainda hoje variadíssimas estruturas em perfeitas condições representando provas do valor e capacidade da pedra natural. No entanto, apesar das excelentes características da pedra natural e dos diversos monumentos Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 1/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil e obras de arte, este material não é particularmente elitista, pois sempre permitiu a elaboração de boas construções de alvenaria de pedra com recurso a materiais locais, existentes no próprio solo de implantação do edifício, criando, através de metodologias construtivas tradicionais, construções económicas e com boa durabilidade. Dentro do vasto património construtivo tradicional português, encontram-se as construções tradicionais em alvenaria de xisto, estas encontram-se espalhadas por diversas regiões de Norte a Sul do país, variando as tipologias das construções, as metodologias construtivas e até o próprio material xisto, que dependendo da zona de onde é extraído pode ter propriedades e características diferentes, como se pode observar na figura 1. Figura 1 – Diferentes aldeias do xisto em Portugal. Para além de Portugal, as construções tradicionais em xisto podem ser igualmente encontradas em diversos países do mundo, como se observa na figura 2, nomeadamente na Itália, França, Grécia, Bélgica, Turquia, Albânia, Irlanda, EUA, Macedónia, Estónia, Nova Zelândia, etc., sempre em regiões onde esta rocha metamórfica existe no solo. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 2/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Portugal Albânia Bélgica França Itália Grécia Espanha Nova Zelândia Irlanda Figura 2 – Construções em xisto no mundo. Por todo o mundo são registadas diferentes aplicações do xisto (muros, poços, habitações, castelos, fortalezas, igrejas, muralhas, câmaras funerárias, etc.) e variadas metodologias de construção. A construção tradicional de xisto foi ao longo dos tempos executada através da utilização de materiais existentes na região, sendo desta forma considerada uma construção verdadeiramente sustentável, tal como nos dias de hoje se pretende implementar na construção. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 3/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Os trabalhos de construção de edifícios em xisto foram desde sempre efectuados por trabalhadores locais que foram transmitindo, dos mais velhos para os mais novos, os conhecimentos das técnicas de execução tradicionais destes edifícios. Assim, com o presente estudo pretende-se inicialmente caracterizar o património geológico nacional, com particular relevo para as rochas metamórficas e a sua origem. A caracterização estrutural do xisto e dos diversos tipos de xistos nas regiões analisadas colmata a análise das construções de alvenaria de xisto. Numa segunda parte do trabalho são apresentados os principais ensaios a realizar no levantamento e inspecção dos xistos utilizados nas construções. Assim como, se apresentam os principais mecanismos de alteração e alterabilidade das rochas. Na última parte do trabalho apresenta-se o dano mais gravoso detectado nas construções analisadas. É caracterizada a erosão do xisto, ou seja, a origem do dano e o mecanismo interno da transformação destes elementos pétreos. Por fim, são apresentadas as possíveis soluções para a prevenção e recuperação das estruturas afectadas por este tipo de dano. Acredita-se que no final do trabalho que se apresenta poder-se-á obter uma boa percepção do xisto como material de construção. Julga-se, ainda, ser possível compreender o fenómeno da erosão do xisto, assim como, as metodologias indicadas para a sua prevenção e recuperação da estrutura. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 4/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil II. GEOLOGIA A península Ibérica é constituída por um soco cristalino dominado por Maciço Hespérico, também conhecido por Meseta Ibérica ou Maciço Antigo (figura 3). Portugal continental faz parte da maior unidade morfoestrutural da Península Ibérica, o Maciço Antigo, que, de Espanha, entra largamente no nosso país, onde ocupa todo o Minho e Trás-os-Montes e a maior parte das Beiras e do Alentejo, formando um conjunto de troços aplanados. Figura 3 – Unidades estruturais da Península Ibérica: 1.Bacias Cenoantropozóicas; 2. Cadeias Mesocenozóicas; 2. Cadeias Alpinas; 4. Maciço Hispérico. (Aires-Barros, 2001). Do ponto de vista geológico, o território de Portugal continental divide-se nas seguintes unidades: o Maciço Antigo, as Orlas marginais cenomesozóicas ocidental e meridional e as Bacias inferiores dos rios Tejo e Sado (Figura 4). No Maciço Antigo, também conhecido por Meseta, predominam as rochas ígneas e metamórficas, enquanto que, nas restantes unidades predominam as sedimentares. Estas grandes unidades têm correspondência nos Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 5/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil tipos de materiais de construção que aí se encontram disponíveis, pelo que o património construído mostra um zonamento regional que reflecte fortemente este enquadramento litoestratigráfico (Marques et. al., 2006). Figura 4 – As grandes unidades litoestratigráficas de Portugal continental (Marques et. al., 2006). São cerca de sete décimos do território continental constituídos por um conjunto de rochas pré-câmbricas e paleozóicas, com predomínio de xistos, granitos e quartzitos, enrugados ou deslocados por vários ciclos orogénicos (Brito, 2008). Na sua maioria, o território nacional é dominado pelos granitos, existindo também um grande prevalência de solos constituídos por xistos nas suas diversas formas. De facto, pelo Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 6/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil património edificado antigo denota-se o vasto recurso a estes dois tipos de rochas para a edificação. Em particular, os xistos, existem em todo o norte do país, Beiras e grande parte do Alentejo. Marques et. al. (2006) refere que, as rochas mais antigas de Portugal formam grupos litológicos muito heterogéneos, profundamente transformados devido aos sucessivos agentes tectónicos e erosivos que os afectaram; são de idade pré-câmbrica, quer seja designada por série negra, como alguns gnaisses, quartzitos e vulcanitos do Nordeste Alentejano, ou complexo xisto-grauváquico com grandes extensões de xisto na Beira e no leste do Douro. O restante território nacional é dominado pelas rochas sedimentares que se estendem por três zonas; a orla ocidental, a orla meridional e as bacias terciárias do Tejo e do Sado, tal como se pode observar na figura 3. II.1. Rochas metamórficas Tal como o nome indica, as rochas metamórficas tem origem na alteração de rochas préexistentes através de acções derivadas de altas temperaturas e/ou pressões. Montgomery (2008) refere que, a temperatura requerida para a formação de rochas metamórficas não é tão alta como a temperatura do magma, de facto, alterações significativas podem ocorrer nas rochas a temperaturas bem abaixo das temperaturas necessária para derreter. O metamorfismo causa alterações na textura, na estrutura e em certas situações até nos minerais constituintes das rochas, modificando as suas propriedades físicas. As modificações podem melhorar algumas propriedades mecânicas, como também podem diminuir a resistência da rocha (Johnson e De Graff, 1988). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 7/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Por sua vez, Marques et. al. (2006), menciona que o metamorfismo engloba as numerosas transformações, mineralógicas, químicas e estruturais sofridas pelas rochas sólidas ao serem submetidas às condições físico-químicas existentes nas profundidades abaixo da diagénese. Os minerais deixam de ser estáveis e desaparecem originando a formação de outras fases minerais estáveis nas novas condições. As transformações originadas pelas substituições de minerais e texturas podem acontecer de forma conjunta ou separada, mas, em qualquer caso, são sempre função do tipo e da intensidade do metamorfismo sofrido e da litologia da rocha envolvida no processo. O calor e a pressão normalmente faz com que os minerais recristalizem, sendo que, os minerais originais podem formar grandes cristais com ligações muito fortes entre eles ou, pelo contrário, podem desaparecer por completo e surgirem novos minerais dadas as novas temperaturas e pressões. A pressão pode originar a deformação das rochas, compressões, tracções ou flexões, sempre durante o estado sólido da rocha (Montgomery, 2008). De facto, a ocorrência das transformações mineralógicas e estruturais com a rocha no estado sólido, é uma das principais características do metamorfismo. Outra característica importante do metamorfismo é a de que as rochas a ele submetidas continuam a manter basicamente a sua composição química inicial, independentemente de se tratar de rochas ígneas ou sedimentares. Exceptuando pequenas entradas ou saídas de água e de anidrido carbónico, a composição química média permanece inalterada (Marques et al, 2006). O metamorfismo é distinguido em três classes diferentes, dependendo das reacções exercidas pela temperatura e pressão. Estas classes são identificadas por; térmico ou de contacto, dependem principalmente da temperatura; burial ou de aprofundamento, que dependem das tensões exercidas; e regional que depende da pressão e da temperatura. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 8/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil O metamorfismo de contacto ou térmico, origina-se na faixa de contacto entre as rochas e a intrusão magmática quente. Este tipo de metamorfismo origina, fundamentalmente, recristalizações químicas nas rochas penetradas, como resposta ao aumento importante da temperatura, provocado pela intrusão, e à presença de fluidos, quimicamente activos nos poros e desprendidos pelo magma. Porque se trata de um processo fundamentalmente térmico, as deformações mecânicas não são importantes e as modificações texturais que surgem são originadas exclusivamente pela recristalização (Marques et al, 2006). O metamorfismo burial ou de aprofundamento, origina-se em bacias sedimentares profundas, quando rochas sedimentares, após a diagénese, atingem cerca de 10 km de profundidade e temperaturas de 300° C. Envolve fundamentalmente recristalizações químicas e a tensão tende a ser vertical, levando a que a foliação presente seja paralela à estratificação. Representa a primeira etapa do metamorfismo, logo após a diagénese e passa gradualmente ao metamorfismo regional à medida que a temperatura e pressão aumentam (Marques et al, 2006). Relativamente ao metamorfismo regional, este resulta das tensões e do calor que as rochas estão sujeitas na formação de montanhas ou pelos movimentos das placas tectónicas (Montgomery, 2008). Segundo Marques et al. (2006), este metamorfismo origina os tipos e rochas metamórficas mais comuns (filitos, xistos, gnaisses e ardósias) e afecta regiões extensas e espessuras de rochas da ordem dos quilómetros. Como já foi referido, a subida da temperatura e as tensões resultantes da pressão resultam em recristalização, e tal como refere Blyth e Freitas (1984), em muitas situações originam a formação de novos minerais, sendo que, muitos deles crescem com o seu comprimento e superfícies achatadas na direcção perpendicular às maiores tensões de compressão (figura 5). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 9/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Figura 5 – Metamorfismo com a criação de superfícies achatadas com linhagem perpendicular às principais tensões de compressão (Blyth e Freitas, 1984). As altas temperaturas e as pressões que aumentam com a profundidade originam grandes deformações na crosta terrestre, sendo que, neste tipo de metamorfismo é comum resultarem rochas com textura mais achatada ou menos achatadas, conhecidas por xistosidade (figura 6) ou foliação. Figura 6 – Xistosidade: (a) Orientação paralela regular; (b) Orientação paralela prismática (Blyth e Freitas, 1984). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 10/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Segundo Bell (2007), a maioria das rochas metamórficas que sofreram deformações possuem uma orientação preferencial. A orientação preferencial pode ser exibida em estratificações lineares ou planas que permitem uma divisão mais fácil das rochas num sentido do que no outro. A forma cristalina de um mineral metamórfico determina a forma como se desenvolveu, tendo em conta, a velocidade da sua transformação perante as pressões e temperaturas. A fábrica de uma rocha metamórfica está relacionada com o arranjo dos minerais constituintes e com a textura dos seus elementos nas três dimensões. Esta característica das rochas metamórficas varia com o tipo de metamorfismo e é um dos principais factores na classificação deste tipo de rochas. A textura das rochas metamórficas pode ser distinguida em seis tipos diferentes; de textura foliada, originada por pressões podendo ser de clivagem ou de xistosidade dependendo respectivamente da menor ou maior foliação, de textura gnáissica, quando os planos de mineralização são de difícil identificação, mesmo sendo diferentes entre si a identificação só se torna possível através da orientação paralela dos minerais mais escuros; a textura xistosa, quando a foliação é fina em rochas holocristalinas de grão médio; a textura pseudofírica, quando existem cristais de grande dimensão; a textura granoblástica, tradicional do gnaisses, com a existência de cristais de quartzo ou feldspato equidistantes; e a textura lepidoblástica, caracterizada pela existência de mica e clorite dispostos em lâminas ou sub-paralelamente (Marques et al., 2006). A classificação das rochas metamórficas baseia-se fundamentalmente na presença ou ausência de foliação. Blyth e Freitas (1984) referem que, as rochas metamórficas mais comuns são classificadas segundo bases que descrevem a anisotropia criada pela foliação (Tabela 1). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 11/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Tabela 1 – Classificação das rochas metamórficas,, adaptação de Blyth e Freitas (1984). Por sua vez, Marques et al. (2006) diz que que a natureza premetamórfica só é utilizada na nomenclatura das rochas metamórficas quando, a partir da composição da rocha metamórfica, é possível deduzir a sua composição original, sendo que, na classificação utilizam-se se os prefixos; “Orto”, quando a rocha original é de origem Ignea; “Para”, quando a rocha original é de origem sedimentar; sedimenta e “Meta” quando a rocha não anulou completamente as características da rocha original. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 12/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Das principais rochas metamórficas aplicadas na construção encontram-se encontram os mármores, quartzitos, gnaisses,, granulitos, eclogitos, serpentinitos, anfibolitos, filonitos, filonito corneanas, milonitos, e todos os xistos, micaxistos e ardósia (figura 7). (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j) Figura 7 – Principais rochas metamórficas. (a) Mármore; (b) Gnaisse; Gnaisse (c) Granulito; (d) Quartzito; (e) Eclogito; Eclogito (f) Xisto; (g) Serpentino; (h) Anfibolito; Anfibolito (i) Corneana; (j) Milonito. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 13/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil II.2. Xisto O xisto é uma rocha metamórfica que tem uma estrutura xistosa de forma irregular ou plana, na qual são visíveis a olho nu as suas camadas minerais, ver figura 8. Os xistos distinguem-se das outras rochas metamórficas pelo tamanho dos seus cristais minerais e, comparativamente à ardósia, a sua estrutura é mais enrugada e irregular. Estas rochas quebram-se facilmente pelos seus planos de xistosidade como as ardósias ao longo da sua linhagem. (c) (a) (b) Figura 8 - Xisto originário de: (a) Minho, (b) Trás-os-Montes, (b) Beiras. Dependendo das características intrínsecas dos xistos, estes adquirem diferentes nomenclaturas, podendo ser designados por, xistos mosqueados, micaxistos, filitos, xistos verdes, xistos azuis, xistos cloríticos, xistos actinolíticos, xistos glaucofânicos ou xistos esteatíticos (Figura 9). As ardósias apesar de possuírem uma estrutura mais regular também podem ser consideradas como um tipo de xisto. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 14/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) Figura 9 – Diferentes tipos de xistos: (a) Micaxisto; (b) Xisto mosqueado; (c) Filito; (d) Xisto verde; (e) Xisto cloritico; (f) Xisto actinolitico; (g) Ardósia. Os xistos mosqueados, em termos estruturação aproximam-se muito das rochas corneanas, tendo no entanto menor grau de recristalização. Os Micaxistos possuem grande xistosidade, sendo que, os minerais micáceos com presença abundante dão origem à denominação. A substituição de minerais micáceos por clorite, actinolite, glaucófano ou talco originas respectivamente os xistos clorídricos, xistos actinolíticos, xistos glaucofânicos e xistos esteatíticos. Os xistos verdes são muito semelhantes aos filitos, ambos possuem uma estrutura muito foliada no entanto distinguem-se pela sua cor, enquanto os xistos verdes, devido a presença de clorite possuem uma tonalidade verde, os filitos são característicos pelo seu brilho proporcionado pela existência de clorites na sua estrutura. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 15/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Os xistos azuis, tal como os xistos verdes, resultam de rochas basálticas e apresentam estrutura foliada, no entanto possuem tonalidade azul devida ao glaucófano. As ardósias possuem cor negra e estrutura laminar achatada com os seus minerais bastante organizados. A existência de pirite na sua constituição é uma das suas principais características e a razão para sua baixa qualidade. Resulta de metamorfismo regional de rochas originais argilosas. O metamorfismo regional, tipo de metamorfismo que origina os xistos, está relacionado com a pressão litostática que acontece em locais de formação de montanhas, como se pode observar através da distribuição das rochas em Portugal continental na figura 10. A acção da pressão diminui a granulação das rochas fragmentando os seus cristais, transformando a rocha num elemento plano. O aumento da temperatura leva a um desenvolvimento maior da granulação (recristalização). Relacionado com o metamorfismo regional e através dos aspectos mencionados anteriormente surgem dois grupos principais de rochas metamórficas; rochas nas quais, a deformação predomina sobre a recristalização, que são rochas de granulação muito fina a fina e de estrutura muito plana (exemplo a ardósia utilizada em coberturas); rochas nas quais a recristalização predomina sobre a deformação, que são rochas de granulação média a grossa e com estrutura menos plana ou mais irregular (exemplo os xistos utilizados nas construções tradicionais objecto deste estudo). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 16/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Areias Argilas, arenitos, conglomerados Calcários, margas, arenitos Granitos Xistos, mármores, quartezitos Gneisses, micaxistos, xistos metamórficos Figura 10 - Mapa litológico de Portugal continental, alterado de Rochas de Portugal. De acordo com o mapa litológico apresentado e tendo em consideração que este trabalho de investigação se encontra na sua fase inicial, o foco dos levantamentos efectuados foi centrado na regiões do Minho, Trás-os-Montes e Beiras. II.3. A aplicabilidade do xisto em Portugal Em Portugal, os xistos foram aplicados como elementos construtivos em património edificado maioritariamente rústico, em aldeias históricas e em castelos onde se encontram na forma de blocos, como elementos estruturais em panos de muralhas, por vezes misturados com blocos de granitos. Para serem obtidos bons resultados da aplicação nas construções, as pedras devem satisfazer diversos requisitos directamente relacionados com a utilização prevista da construção. As propriedades das pedras derivam das características físico-químicas dos Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 17/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil materiais de que são constituídas e das características geométricas da sua estrutura. Entre as principais propriedades encontra-se a resistência à compressão, a resistência aos agentes atmosféricos e capacidade de ser trabalhada. Pode-se ainda considerar a permeabilidade, a capacidade térmica e a durabilidade como características a ter em conta dependendo da localização e utilização do edificado. Segundo Boeri (2000), as pedras naturais encontram-se presentes na natureza com as mesmas características que possuem quando são utilizadas na construção. Tratando-se de materiais naturais, o processo de tratamento não pode ser considerado como um ciclo produtivo no sentido próprio, mas compreende as fases necessárias à extracção e à transformação do material, ou seja, a localização, escavação, subdivisão e acabamento. No caso particular do xisto a localização era uma das principais razões para a elaboração da construção ser realizada em xisto, ou seja, não existia a necessidade de procurar a localização da pedra em locais específicos e após extracção transportar para o local de implantação, pois estas construções populares eram efectuadas com as pedras naturais existentes no solo do local de implantação ou em zonas muito próximas desse local. A escavação era efectuada, como foi referido, no local de implantação ou numa zona muito próxima, sem qualquer tipo de equipamento especial em solos naturais. A subdivisão era efectuada no local, e dependendo da zona do país e das respectivas características do xisto, principalmente dureza e estratificação da estrutura interna, permitia a dispensa de equipamento especial para o seu corte, pois normalmente, apenas com recurso às mãos, é possível a subdivisão destas pedras. Tradicionalmente, o xisto extraía-se de pedreiras em lascas, sem qualquer tipo de tratamento ou acabamento, e sobrepunham-se regularmente os elementos aproveitando as Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 18/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil suas boas características xistosas e as suas irregularidades geométricas aliadas ao ligante ou não, construindo-se as casas de habitação e demais dependências utilitárias, assim como muros de vedação, calçadas, moinhos, azenhas, lagares e pontes (ver exemplos na figura 11). Nas casas de habitação, o xisto era empregue na construção das paredes, dos pavimentos térreos, das escadas e, em algumas situações, até das coberturas, (Cardoso, 2006). (a) (b) (c) Figura 11 - Construções em xisto: (a) Capela; (b) Pontes (Pereira, 2006); (c) Muro. A par do xisto, a madeira era utilizada como material complementar na construção das paredes. Esta era usada para as varandas e sobrados, assim como para os lintéis das portas e janelas das casas mais humildes. Já as casas pertencentes a proprietários com mais recursos exibiam, muitas vezes, blocos de granito nos lintéis, em vez da madeira. Esta particularidade deve-se à dificuldade de extracção de blocos de xisto com dimensões e resistência adequadas para aplicações em vãos (Cardoso, 2006). A atitude construtiva tradicional pode hoje ser definida como sustentabilidade arquitectónica com o recurso a materiais locais, à economia energética relacionada com aquisição e gestão controlada da radiação solar, à ventilação, à luz, ao clima, ao solo e à relação com o ambiente vegetal (Tubi, 2006). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 19/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Esta metodologia construtiva tradicional cresceu relacionando-se directamente com os vários factores tais como, factores económicos, ambientais e sociais, modelando-se e adaptando-se aos diferentes meios ao longo do tempo originando as diversas tipologias, hoje em dia registadas no território nacional. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 20/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil III. LEVANTAMENTO E PRINCIPAIS DANOS A possibilidade de intervir com sucesso numa construção afectada por problemas de degradação, a nível estrutural ou dos materiais, pressupõe a preventiva formulação de um perfeito diagnóstico das causas de degradação, diagnóstico que se deve basear sobre um pontual, aprofundado e preciso conhecimento do objecto edificado (Grillo, 2002) O levantamento das tipologias arquitectónicas das construções em xisto existentes no território nacional e o levantamento dos respectivos danos mais comuns permite adquirir dados suficientes para um perfeito estudo das estruturas em xisto. O levantamento e diagnóstico aplicado às construções antigas è um trabalho deveras complexo, pois trata-se de construções normalmente elaboradas sem qualquer tipo de projecto e sem qualquer tipo de regulamentação construtiva. Grillo (2002) refere que, o conhecimento dos danos e degradação de uma construção em geral ou da insuficiente segurança da estrutura é uma operação deveras complexa, seja pela dificuldade de determinar as causas correctamente ou pela sobreposição e interacção de vários fenómenos. Por sua vez, Baruchello (2004) refere que, as imposições de procedimentos de cálculo e de verificações cada vez mais complexas devido à difusão das técnicas de cálculo automático, requer um conhecimento mais aprofundado dos parâmetros em jogo e das características físicas e mecânicas dos vários elementos resistentes. Desta forma, na realização de qualquer intervenção sobre a construção torna-se cada vez mais importante de análise e diagnóstico relativamente à fase de execução. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 21/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Antes de se tomar uma decisão em relação a qualquer tipo de reparação a efectuar na estrutura, é sempre necessário ter um perfeito conhecimento das solicitações ou modificações das acções originais, sendo que estas podem ser de naturezas diversas e, com isso, provocar diferentes alterações, tanto na estrutura como nos materiais (Barros, 2005). A carência do aprofundamento na fase de diagnóstico já por diversas vezes conduziu a execução de intervenções insuficientes que posteriormente requereram reforços estáticos bastantes mais complexos do que seria possível de executar na intervenção, caso esta tivesse sido bem fundamentada (Baruchello, 2004). Assim, normalmente aquando da execução de um levantamento deve-se iniciar com a inspecção preliminar, feita de uma forma qualitativa, recorrendo à observação visual ou á utilização de equipamento simples na determinação das patologias existentes. Numa segunda fase, efectua-se a inspecção detalhada, caracterizada por uma inspecção quantitativa, na qual são realizados ensaios e medições, de forma a ser obtida uma avaliação das características dos materiais constituintes da estrutura e das propriedades mecânicas da própria estrutura (Barros, 2005). A preparação prévia do levantamento é um factor essencial para o sucesso do estudo, desta forma, no presente estudo, tendo em conta que se trata de um tipo de construção muito específico, tanto em termos construtivos, como em termos de materiais usados, sendo neste caso particular, necessária uma análise da geologia e geografia do território nacional. Este estudo prévio, permite conhecer as zonas do território nacional onde o solo é constituído por xisto e, saber que, as construções tradicionais em xisto são elaboradas com os materiais existentes localmente, obtidos nas zonas onde se encontram implementadas construções tradicionais em xisto. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 22/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Assim, neste trabalho foi delimitada a zona de estudo às regiões do Minho, Trás-osMontes, Beiras e Alentejo, sendo que, nesta primeira fase a análise limitou-se às regiões do Minho, Trás-os-Montes e Beiras deixando as construções do Alentejo para uma segunda fase. Sabendo que, o principal passo para o sucesso na reabilitação é a execução de um perfeito diagnóstico da construção e com o intuito de obter uma boa caracterização arquitectónica e patológica das construções, foi necessário a elaboração de uma ficha de levantamento especifica para construções em alvenaria de xisto. Não desprezando a importância de diversos requisitos no conhecimento obtido pela análise visual da estrutura, tais como; o conhecimento do território e condições de implantação, a avaliação do estado de degradação e segurança e a geometria da construção. A presente ficha de levantamento foi elaborada com o intuito de abranger vários aspectos específicos, tais como, arquitectura, estrutura geral, estrutura das paredes e danos existentes. Após a recolha de dados qualitativos e a respectiva análise, torna-se necessário o aprofundamento do conhecimento das estruturas das paredes de alvenaria de xisto e para tal será necessário iniciar a segunda fase da inspecção onde serão recolhidos dados quantitativos através da execução de ensaios não destrutivos e destrutivos, in-situ e em laboratório. Os resultados obtidos dos ensaios realizados deverão permitir quantificar os valores característicos das propriedades dos materiais (Barros, 2005). As propriedades dos materiais (particularmente as resistências), que são os parâmetros básicos para qualquer cálculo, podem ser reduzidas através das degradações devidas á acção química, física ou biológica. Embora as degradações possam manifestar-se à superfície, sendo assim Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 23/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil imediatamente visíveis através de uma inspecção superficial (eflorescências, porosidade elevada, etc.), existem também processos de degradação que só podem ser detectados através de ensaios mais sofisticados (ataque de térmitas na madeira, etc.) (ICOMOS, 2004). As cargas permanentes (pesos próprios, etc.) deverão, em princípio, ser obtidas a partir do levantamento da geometria e da constituição da construção. Elementos de informação já existentes (desenhos, etc.) que poderão também ser úteis, mas deverão ser usados com reservas (Santos cit. in Barros et al., 2004). Como refere o ICOMOS (2004), as acções são definidas como qualquer agente (forças, deformações, etc.) que produza tensões e deformações na estrutura e qualquer fenómeno (químico, biológico, etc.) que afecte os materiais, normalmente reduzindo a sua resistência. As acções originais, que ocorrem desde o início da construção até á sua conclusão (por exemplo, o peso próprio), podem ser modificadas durante a sua vida e é frequente que estas mudanças produzam danos e degradações. III.1. Ensaios não destrutivos As construções em alvenaria de xisto são construções muito particulares devido às características únicas do material usado na sua elaboração. A escassez de documentação relacionada com as estruturas de xisto e com o próprio material, torna essencial a elaboração de ensaios aos diferentes xistos usados na construção em Portugal, por forma, a se obter um perfeito conhecimento das propriedades do material. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 24/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Como refere Gambino (2004), os ensaios não destrutivos apresentam enormes vantagens de não provocarem danos nem alterações à construção, mas contudo, podem facilmente levar a conclusões erradas quando os resultados não são interpretados de forma correcta e não são correlacionados com a validação certa do comportamento da estrutura ou do material, dedutível de provas laboratoriais. III.1.2. Ensaios de ciclo gelo/degelo Considerando que grande parte dos edifícios analisados encontram-se localizados na zona de Trás-os-Montes e na zona das Beiras, e tendo em conta que, nestas zonas existe uma grande variação térmica entre as estações de inverno e verão, podendo ser obtidas temperaturas negativas de inverno e temperaturas bastante altas no verão, na ordem dos 35ºC e 40ºC. Torna-se importante a análise dos efeitos da variação da temperatura no xisto, e a compreensão do funcionamento da estrutura xistosa perante tal fenómeno. Assim, segundo a norma NP EN 12371:2006, correspondente aos métodos de ensaio para a pedra natural na determinação da resistência ao gelo, a avaliação dos ciclos gelo/degelo pode ser efectuada através de dois ensaios, o ensaio tecnológico e o ensaio de identificação. Tendo e consideração as características próprias do xisto, e o tipo de conclusões que se pretende obter, considera-se o ensaio de identificação mais adequado a este estudo. No ensaio de identificação a resistência ao gelo do xisto é determinada através de um ensaio constituído por ciclos de gelo ao ar e degelo em água, sendo que, os ciclos gelo/degelo devem prosseguir até que os provetes em análise sejam classificados como degradados, até um máximo de 240 ciclos. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 25/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil O critério de classificação como deteriorado deve seguir o estipulado pela norma NP EN 12371:2006, ou seja, o ensaio prossegue até que dois ou mais provetes sejam classificados como deteriorados, segundo qualquer dos critérios seguintes: - A inspecção visual atinja a classificação 3; - O decréscimo no volume aparente atinja 1%; - O decréscimo no módulo de elasticidade dinâmico atinja 30%. Para a inspecção visual deve-se ter em consideração a seguinte tabela: Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 26/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Tabela 2 – Adaptação da escala para classificação visual apresentada na norma NP EN 12371:2006. Classificação Avaliação visual da rocha 0 Provete intacto Danos muito pequenos (pequeno arredondamento dos 1 cantos e arestas) que não comprometem a integridade do provete Uma ou várias fissuras (≤ 0,1 mm de largura) ou 2 desprendimento de pequenos fragmentos (≤ 10 mm2 por fragmento) Uma ou várias fissuras, orifícios ou desprendimento de 3 fragmentos superiores aos definidos para a classificação “2”, ou alteração do material contido em veios 4 Provete partido em dois ou com grandes fissuras 5 Provete partido em vários pedaços As perdas de material aquando a deterioração do xisto são calculadas através da determinação da variação do volume aparente através de duas variáveis; a massa aparente do provete (Mho) e a massa do provete saturado (Mso). Estas variáveis são Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 27/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil registadas ao longo de n ciclos, sendo que, o volume aparente inicial é expresso através de: bo = (so − ho) E o volume aparente após n ciclos determina-se através da seguinte fórmula: bn = (sn − hn) A variação do volume aparente após n ciclos, em percentagem determina-se da seguinte forma: ∆Vb = (s0 − h0) − (sn − hn) × 100 (s0 − h0) Quando se atinge um volume aparente de 1% do volume aparente origina, segundo a norma NP EN 12371:2006, considera-se o provete como deteriorado. III.1.3. Ensaios de sais A existência de sais nas paredes das construções de alvenaria de pedra natural é um fenómeno normal, sendo a sua ocorrência originária da presença de iões solúveis provenientes da atmosfera, de metabolismo orgânico, dos solos, de outros materiais, etc. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 28/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Este fenómeno pode ser bastante relevante para o caso do xisto, tendo em conta a forma como se desenvolve e as propriedades e características da estrutura xistosa bastante favorável para a percolação ou circulação. Deve-se, no entanto, analisar os resultados do ensaio de sais em conjunto com o ensaio de ciclo de gelo/degelo, anteriormente apresentado, pois os dois fenómenos encontram-se interligados, e a análise do conjunto dos resultados permite uma avaliação mais rigorosa do funcionamento do xisto. Assim, segundo a norma NP EN 12370:2001, correspondente aos métodos de ensaio para a pedra natural na determinação da resistência à cristalização de sais, pode-se efectuar a avaliação da resistência relativa aos danos causados pela cristalização de sais em xistos. Este ensaio consiste na execução de 15 ciclos nos quais os provetes de xisto são imersos numa solução de sulfato de sódio e posteriormente secos e arrefecidos até atingir a temperatura ambiente. Tal como no ensaio de ciclo gelo/degelo, o ensaio de sais deve ser elaborado até a obtenção da rotura do provete, sendo registado o número de ciclos necessários para induzir a rotura. III.1.4. Ensaios de compressão O ensaio de compressão permite a obtenção da resistência mecânica dos diferentes xistos utilizados na construção no território nacional, factor preponderante para a compreensão do funcionamento mecânico das estruturas de alvenaria de xisto, assim como, no esclarecimento da reacção dos vários xistos quando sujeitos a esforços mecânicos. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 29/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Segundo a norma NP EN 1926:2006, o ensaio de resistência à compressão uniaxial permite avaliar o desempenho de provetes colocados entre dois pratos paralelos e sujeitos a uma carga. Devido à textura irregular dos xistos, os elementos a serem testados devem ser cuidadosamente preparados para que as faces que estão em contacto com as plataformas da máquina sofram uma carga perfeitamente distribuída. No final do ensaio de compressão, tendo em conta a força de rotura obtida na máquina de compressão (F) e a área dos provetes ensaiados (A), obtêm-se a resistência dos xistos em MPa (Rc) através da seguinte fórmula: Rc = III.1.5. Ensaios de determinação de dureza Em conjunto com o efeito dos sais e os ciclos de gelo/degelo o vento pode ser um factor agravante na degradação por erosão do xisto, tal factor está directamente relacionado com a dureza dos materiais. Desta forma, e considerando a grande diversidade de xistos existentes, é pertinente a determinação da dureza dos xistos das regiões em análise. Esta avaliação possibilita a compreensão da dureza do xisto relativamente a outros tipos de rochas aplicadas na construção, assim como, a comparação de dureza entre os diversos xistos. Para a avaliação da dureza dos xistos efectua-se um ensaio padrão no qual se compara a sua dureza com a dureza de outras rochas já catalogadas. Para tal, deve-se usar a escala de Mohs, na qual se encontram catalogadas 10 rochas em ordem crescente de resistência (Tabela 3), sendo o talco o menos resistente e o diamante o mais resistente. Na execução Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 30/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil do ensaio deve-se efectuar um risco nos minerais da tabela, iniciando pelo mais duro até que um dos minerais se deixe riscar, quando isto se suceder deve-se verificar se o mineral de dureza superior ao riscado risca o xisto. Caso isto ocorra, então o xisto em análise tem uma dureza entre os minerais analisados. Tabela 3 – Escala de Mohs e de dureza absoluta. Dureza (Escala Dureza (Escala Mineral de Mohs) Absoluta) 1 Talco 0,03 2 Gesso 1,25 3 Calcite 4,5 4 Fluorite 5,0 5 Apatite 6,5 6 Feldespato 37 7 Quartzo 120 8 Topásio 175 9 Corindo 1000 10 Diamante 140000 Tendo em consideração a escala de dureza absoluta e a sua correspondência com a escala de Mohs, torna-se possível quantificar a dureza do xisto. Da mesma forma, que se determina a dureza do xisto comparativamente com outros minerais, será possível determinar a dureza dos diferentes xistos, através da determinação dos xistos que se deixam riscar e os que tem mais capacidade de riscar. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 31/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil III.1.6. Determinação da absorção da água por capilaridade O ensaio a efectuar para a determinação da absorção de água por capilaridade, consiste no controlo da absorção de água na base do provete e respectiva ascensão por capilaridade durante intervalos controlados de tempo. Para a execução deste ensaios são colocados provetes num recipiente com água, de forma a que, os provetes fiquem em contacto com a água até uma altura aproximadamente de 0,3 cm. O coeficiente de absorção de água por capilaridade (A), é determinado tendo em consideração o acréscimo de massa de água (m) e o tempo (t). = √ III.1.7. Determinação da absorção da água à pressão atmosférica. A determinação da absorção da água à pressão atmosférica é um ensaio simples executado de acordo com a norma NP EN 13755:2005, no qual são necessários pelo menos 6 provetes que, após serem colocados a peso constante, são sujeitos a três fases de imersão em água corrente, respectivamente; na primeira fase até metade da altura dos provetes, na segunda fase até três quartos da altura dos provetes, e na última fase até 2,5 cm acima da altura dos provetes. De acordo com a maioria das rochas portuguesas, a massa constante de saturação dos provetes é obtida após de aproximadamente 72 horas de imersão, no entanto, considerando as propriedades características dos xistos deve-se ter particular atenção, e efectuar várias pesagens até que seja atingida uma variação de 0,1% entre duas pesagens sucessivas. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 32/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil III.1.8. Esclerómetro de Schmidt O ensaio com o esclerómetro de Schmidt Schmid (figura 12)) é utilizado normalmente para determinar a resistência à compressão do betão, podendo, no entanto, o mesmo mes ensaio ser aplicado na determinação da resistência à compressão à superfície dos elementos pétreos. Figura 12 – Esclerómetro de Schmidt (Barros e Guerra, 2007). Este ensaio passa pela medição do recuo do batente do esclerómetro quando este é accionado por uma mola após a compressão do esclerómetro na superfície do elemento pétreo. O índice de recuo permite avaliar a dureza superficial da rocha ou determinar regiões superficiais degradadas. A rapidez e a forma prática como se efectua o ensaio são as principais principais vantagens. No entanto, deve-se se ter em atenção que os resultados obtidos são referentes à superfície do elemento a analisar e não a toda a estrutura, situação que pode provocar erros de medição, caso a superfície esteja demasiado degradada. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 33/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil III.2. Ensaios destrutivos Segundo Tubi (2006), as metodologias de ensaio destrutivas não são normalmente aplicadas às construções de alvenaria de pedra, a não ser para a determinação da resistência dos elementos de pedra. Sendo, em qualquer caso, de utilização estritamente como último recurso, quando os resultados da inspecção visual e dos ensaios não destrutivos for insuficiente para uma perfeita análise da estrutura. III.2.1. Microscopia electrónica Hoje em dia existem variadas metodologias para a execução de ensaios de microscopia electrónica, sendo que, na sua maioria é necessária a extracção de amostras o que torna este tipo de ensaio num ensaio destrutivo. No entanto existem metodologias de ensaio microscópico que permitem efectuar o ensaio in-situ, como é o caso da microscopia electrónica com varrimento ou das microanálises por raio x. Os ensaios de microscopia electrónica tornam-se essenciais quando é reconhecida a necessidade de conhecer os elementos pétreos da estrutura a um nível inferior ao observável a olho nu ou por microscopia óptica, permitindo uma análise precisa e rigorosa tanto qualitativa como quantitativa dos elementos. O ensaio de microscopia electrónica de varrimento, é em tudo semelhante ao ensaio tradicional de microscopia óptica, pelo menos em termos de metodologia de execução. Quanto ao que concerne à capacidade de análise, a microscopia electrónica de varrimento, para além da precisão da análise, permite uma obtenção de dados mais detalhada e rigorosa, pois permite a obtenção de fotos e o arquivamento de dados em sistema informático. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 34/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Hoje em dia uma associação muito comum na aplicação destes equipamentos na análise de construções de alvenaria de pedra, é a conexão do microscópio electrónico de varrimento com a microscopia de raio x que permite uma análise química dos materiais mais profunda e precisa. Outro ensaio que permite uma análise bastante profunda no estudo dos iões existentes nos elementos nas pedras naturais, principalmente em construções afectadas pela meteorização das rochas, é a análise de massa por microscópio laser. III.2.2. Absorção atómica A absorção atómica torna-se um ensaio destrutivo devido à necessidade de extracção de amostras para análise, no entanto tem bastantes vantagens como, a precisão de resultados, a facilidade e a velocidade de execução. È um ensaio que permite obter quantitativamente os elementos químicos presentes na amostra pétrea. Aires-Barros (2001) refere que, a espectrofotometria de absorção atómica baseia-se no princípio da absorção de radiação de comprimentos de onda característicos dos diferentes átomos convenientemente excitados, quando estes átomos são atravessados pela sua radiação característica. Como sucede nos métodos espectrais, a absorção atómica usa o comprimento de onde característico a que se dá a absorção para cada elemento químico e permite a avaliação qualitativa dos elementos presentes na amostra, e a amplitude da absorção em condições experimentais fixas permite a avaliação quantitativa. Por esta técnica obtém-se um valor de absorção característico para cada elemento que pode ser correlacionado, após conveniente calibração, com a quantidade de átomos de cada constituinte químico. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 35/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil III.2.3. Cromatografia iónica Tal como no caso dos ensaios de absorção atómica, a cromatografia iónica só é considerada como ensaio destrutivo devido à necessidade de extracção de amostras, situação que ocorre no caso particular de construções de alvenaria de xisto. A cromatografia iónica permite a determinação, tanto qualitativa como quantitativa dos agentes poluentes existentes nos elementos pétreos, tanto na forma salina como ácida. A cromatografia iónica é preferencialmente usada na determinação de aniões tais como os dos cloretos, nitratos, fosfatos e sulfatos. (Aires-Barros, 2001). III.2.4. Tensão de carga de ponta O ensaio de tensão de carga de Ponta, consiste na determinação da resistência de um provete a uma carga pontual uniaxial exercida por duas ponteiras metálicas de forma cónica sobre o provete. Este tipo de ensaio é bastante vantajoso comparativamente a outros ensaios de compressão dado que, para a sua execução não existe necessidade de preparação prévia do provete, assim como, devido ao tipo de equipamento necessário para a prova (figura 13), é possível a sua execução tanto in situ como em laboratório. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 36/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Figura 13 - Ensaio de carga pontual (Mark e Rusnak, 1999). O ISRM (International Society for Rock Mechanics), publicou em 1985 a metodologia para a determinação da tenção de carga de ponta, onde refere que, com este ensaio, para além da determinação da tensão uniaxial e da resistência à compressão é possível também obter a classificação de diferentes materiais pétreos. De uma forma geral, este tipo de ensaio é efectuado em provetes cilíndricos de rochas, dai a metodologia sugerida pelo ISRM apresentar uma fórmula de cálculo do índice genérica para provetes de 50 mm de diâmetro. Is(50) = P D2 Onde o Is é o índice de carga de ponta, o D o diâmetro e o P a carga exercida sobre o provete. No entanto, para casos diferentes do genérico, existem metodologias que possibilitam a aplicação deste ensaio a provetes de diferentes diâmetros ou mesmo de diferentes formas. No primeiro caso deverá ser usada a seguinte formula: Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 37/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Is(50) = F × Is &' ),,( Onde o F é um coeficiente de correcção que pode ser obtido através de = % () * , onde por sua vez o De é o diâmetro equivalente. O ISRM refere, que o coeficiente de correcção também pode ser obtido através do gráfico apresentado na n a figura 14: 14 Figura 14 – Factor de Correcção (alterado de ISRM, 1985). No caso de diâmetro muito próximos de 50 mm, o factor de correcção poderá ser obtido com uma margem de erro mínima através da seguinte fórmula: = !"#$50 Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 38/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Em situações em seja impossível a obtenção de provetes cilíndricos, como no caso do xisto, será necessária a determinação do diâmetro equivalente através da comparação de uma secção do provete testado com uma secção de um provete cilíndrico, tal como se apresenta na figura 15. Figura 15 – Requerimento de forma: (a) teste diametral; (b) teste axial; (c) teste sobre elemento regular; (d) teste sobre elemento irregular (alterado de ISRM, 1985). Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 39/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil IV. ALTERAÇÃO E ALTERABILIDADE DAS ROCHAS A alteração das rochas está relacionada com as modificações causadas pelos agentes externos, podendo-se considerar o estado de um elemento pétreo como degradado quando as alterações físicas ou químicas sofridas originam um elemento diferente do inicial. De uma forma geral, a transformação das rochas que levam à degradação é o processo natural de adaptação ao meio ambiente. Aires-Barros (2001) define que, a alteração é um processo de transformação dos minerais das rochas em que a entropia do sistema aumenta com o estabelecimento da desordem sobre a ordem nas fases desse sistema pela destruição das redes cristalinas dos minerais e a movimentação dos seus iões constituintes que se deslocam para novas posições em estruturas mais abertas. Por sua vez, Carvalho (1996), refere que a alteração das rochas usada como sinónimo de meteorização diz respeito às modificações causadas nestas pelos agentes externos, sobretudo os relacionados com as condições de humidade e de temperatura ambientais. Basicamente, durante o processo de degradação, os minerais primários das rochas tendem a adaptar-se ao novo ambiente, surgindo novos minerais, designados por secundários. Assim sendo, as principais acções químicas podem ser definidas pela redução, hidrólise, oxidação e dissolução. Por outro lado, as acções físicas podem ser definidas por expansão térmica, a expansão por ciclos gelo/degelo, a expansão por descompressão, as acções mecânicas da água e vento, ou as acções mecânicas orgânicas ou biológicas. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 40/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil É claro que, para a perfeita compreensão do processo de degradação de uma rocha é necessário considerar outros factores capazes de influenciar o processo, tais como, o tipo de rochas, as características da mesma ou o ambiente com o qual interage. De uma forma geral, a alteração das rochas pode ser originada de acções denominadas por secundárias, pela alteração meteórica ou pela alteração devida a parâmetros termohigrométricos. Sendo que, as alterações secundárias ocorrem na primeira fase de alteração das rochas, tendo como principais repercutores as acções físico-químicas, originadas pelo meio ambiente. Estas acções vão originar o primeiro estado deterioração, ou seja, basicamente vão provocar a primeira alteração da rocha, expondo a sua estrutura mineral ao ambiente. O principal agente actuador sobre os elementos pétreo provocador de alterações secundárias é a água alterada pelos agentes existentes na atmosfera, tais como, o oxigénio ou dióxido de carbono. Estes elementos, através da água, vão reagir com os minerais dos elementos pétreos suscitando a alteração secundária. As alterações meteóricas, tal como referido anteriormente, definem a obtenção de um novo estado de equilíbrio com o ambiente. Estas alterações surgem através da origem de novos minerais e, por sua vez, de uma nova estrutura mineralógica da rocha original que tinha sido perdida no momento em que a rocha foi expostas aos agentes físico-químicos do meio ambiente, ou seja às alterações secundárias. O factor tempo é crucial na meteorização, dado que, estas alterações ocorrem a uma velocidade de tal modo imperceptível, que a sua detecção e posterior análise, só é efectuada na fase final do fenómeno. De facto, pode-se concluir que a alteração meteórica Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 41/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil é uma nova metamorfose que a rocha original sofre num dado período de tempo originando uma nova estrutura geológica. Associado ao factor tempo, aparecem outros factores como o vento, a temperatura, a pressão atmosférica ou a humidade. Factores que influenciam directamente a velocidade de ocorrência da alteração meteórica das rochas. Assim, estes factores, que influenciam o período temporal, interagem com a estrutura durante o período de vida desta e podem ser denominados por parâmetros termohigrométricos, também eles causadores de alterações nos elementos pétreos. A compreensão dos parâmetros termo-higrométricos existentes numa dada localização de uma construção pode ajudar na compreensão das alterações dos elementos pétreos, dado que, é fácil a caracterização do microclima local. Conclui-se então que a alteração e alterabilidade das rochas dá-se devido a fenómenos físicos, químicos e biológicos, que individualmente ou combinados entre si suscitam reacções que culminam em danos cientificamente denominados por decaimento. Tal com refere Aires-Barros (2001), a distinção entre os diversos tipos de decaimento é normalmente bastante difícil, pois, os fenómenos de índole química têm efeitos físicos, uma transformação física desencadeia reacções químicas e as biológicas repercutem-se em modificações físicas e químicas. No caso particular das estruturas de alvenaria de xisto a análise destes fenómenos é bastante importante, não só pela estrutura geológica do xisto, mas também pelas técnicas construtivas aplicadas na elaboração destas construções. De facto, a maioria das construções tradicionais em xisto existentes no território nacional não possuem qualquer Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 42/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil tipo de reboco, que permitiria uma maior protecção aos mecanismos e agentes de decaimento, assim como, a estrutura das paredes devido aos espaços abertos e ao tipo de ligante tradicionalmente aplicado, encontra-se sujeita à proliferação dos agentes biológicos. Tal situação, aliada à estrutura mineralógica do xisto, e à localização geográfica deste tipo de edifícios em Portugal leva a que surjam danos característicos destas construções, tais como, a erosão do xisto. Dano resulta da acção conjunta dos agentes de decaimento físicos e químicos e será alvo de análise aprofundada no capítulo IV. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 43/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil V. EROSÃO DO XISTO V.1. Patologia Na sua maioria as construções em xisto não possuem reboco, nem qualquer tipo de revestimento, permanecendo a estrutura de alvenaria de xisto exposta ao ambiente durante todo o período de vida útil da construção. Esta exposição ao ambiente é uma das principais causas para o aparecimento de vários danos não estruturais relacionados com a deterioração do material, que com o passar do tempo podem até originar danos estruturais ou, pelo menos, criar uma maior susceptibilidade para a ocorrência dos mesmos. Um dos danos mais gravosos existente em estruturas tradicionais em xisto é a erosão da pedra. A erosão do xisto apresenta-se habitualmente nos pisos térreos dos edifícios, normalmente nas paredes exteriores dos compartimentos onde se encontravam animais. Este dano tem origem química relacionada com os digestos dos animais aliada a diferença de temperatura existente entre o interior e o exterior da construção (figura 16). Figura 16 - Erosão do xisto numa habitação na zona de Arganil. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 44/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Os ciclos gelo/degelo, comuns em zonas de grande variação de temperatura, tais como, as regiões de Trás-os-Montes e Beiras, onde foi possível observar este tipo de dano, associados a cristalização de sais, criam alterações na estrutura xistosa das pedras de xisto. Segundo Aires- Barros (2001), no processo de cristalização de sais em meios porosos, os sais acumulam-se nas paredes dos edifícios devido à presença de iões solúveis provenientes da alteração das rochas, solos e outros materiais usados nos monumentos. Também podem provir da atmosfera mais ou menos contaminada como podem resultar de metabolismo orgânico. Estes iões podem ser transportados em soluções aquosas diluídas e penetrar no interior dos materiais e circular ou percolar através de poros, fissuras, fracturas, etc. Assim, tendo em consideração a estrutura xistosa aliada a pequenas fracturas das rochas este material natural é um meio susceptível de propagação de sais resultante de metabolismos orgânicos. Aires-Barros (2001), refere ainda que estes depósitos salinos não são estáveis, transformando-se com o tempo em função da temperatura e humidade do ar. Sendo assim, o microclima condiciona a actividade dos sais solúveis que se concentram e acumulam sempre que a água se evapora. Também se cristalizam quando a humidade relativa da atmosfera envolvente diminui. Alguns sais dissolvem-se e cristalizam periodicamente conforme as oscilações da humidade e temperatura do ar. Estes fenómenos de cristalização por vezes mesmo cíclica contribuem para a alteração das rochas devido às pressões geradas por cristalização e exercidas sobre as paredes dos poros e canalículos das rochas. Este fenómeno apresenta-se normalmente no piso térreo em zonas da fachada mais expostas aos raios solares e caracteriza-se pela erosão e deformação das pedras de xistos criando um formato arredondado e alveolar dos elementos constituintes da parede da Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 45/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil fachada, tal como de apresenta na figura 17. È interessante observar que este tipo de dano não foi detectado em nenhuma construção da Região do Minho, o que comprova a influência da variação de temperatura na ocorrência deste fenómeno. Figura 17 – Erosão de xisto em habitações de Trás-os-Montes. V.2. Fenómeno O fenómeno da erosão do xisto define-se como um mecanismo de decaimento originado por acções físicas e químicas aliadas à dureza do xisto e ao microclima típico das regiões de Trás-os-Montes e Beiras, característico de grandes variações térmicas. Desta forma, este dano surge durante um período largo de tempo onde os elementos pétreos são sujeitos a ciclos de gelo/degelo, assim como à cristalização de sais. Alguns fenómenos físicos como a acção do vento são particularmente danosos quando agem transportando numa direcção constante partículas abrasivas contra materiais de escassa dureza e pouco compactos, e o efeito da variação da temperatura, que provoca Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 46/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil dilatações e contracções repetidamente com a criação de descontinuidades nos extractos superficiais, induzindo patologias lentamente mas de forma constante (Boeri, 2000). De facto, os edifícios em xisto, tendo em conta a metodologia construtiva aplicada, na sua maioria com a estrutura de xisto à vista, encontram-se sujeitos às acções adversas do vento, que devido à estrutura mineral dos xistos, caracterizada por fraca dureza, é particularmente gravosa. A fraca dureza do xisto facilita as alterações secundárias e torna este tipo de construção mais susceptível ao fenómeno de gelo/degelo, assim como, ao fenómeno de cristalização de sais, originando patologias como a erosão do xisto. È certo que, como já foi referido anteriormente, este dano surge nos pisos térreos normalmente nas paredes dos compartimentos onde se encontravam os animais, localização particularmente sujeita a acções de natureza química ou biológica. Desta forma, os agentes químicos, devido ao seu elevado poder destrutivo agravam os fenómenos físicos. Segundo Boeri (2000), os ciclos gelo/degelo provocam a transformação em gelo da água presente nos espaços vazios dos materiais, com o aumento do volume e desagregação da estrutura circunstante. Ao diminuir a temperatura, o gelo transforma-se de novo em água, provocando nos materiais, em medida proporcional à sua porosidade, o desfazer da estrutura mineral apresentada pelo fendilhar ou dissolver da camada externa. È interessante registar que a água pura quando congelada aumenta o seu volume até aproximadamente nove por cento. Devendo-se no entanto ter em consideração que, de uma Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 47/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil forma geral, no interior dos elementos pétreos das paredes de alvenaria não se encontra água pura, mas uma solução de sais diluídos em água. Um fenómeno físico muito semelhante ao gelo/degelo, produz-se pela recristalização de sais dissolvidos em água que ocorre na proximidade da superfície do material pétreo. A água, responsável pela percolação e transporte pode ter origem diversa daquela directamente meteórica, provendo do terreno por capilaridade, abrindo caminho às acções de natureza química (Boeri, 2000). Por sua vez, Aires-Barros (2001) diz que os depósitos salinos não são estáveis e que se transformam com o tempo em função da temperatura e humidade do ar, considerando desta forma que, o microclima condiciona a actividade dos sais solúveis que se concentram e acumulam sempre que a água se evapora e cristalizam quando a humidade relativa da atmosfera envolvente diminui. De facto, pode-se considerar a existência de um ponto de equilíbrio da humidade relativa com a solução saturada, situação ideal para que não sucedam, nem expansões nem contracções internas nas rochas. È facilmente compreensível que a cristalização dos sais dá-se quando a humidade relativa se encontra inferior à humidade relativa em equilíbrio com a solução saturada. Deve-se no entanto ter em consideração que existem outros factores que influenciam a cristalização de sais e que são importantes para uma boa compreensão da ocorrência deste fenómeno em paredes de alvenaria de pedra. Um dos principais factores é a existência de soluções de sais constituídas por diferentes combinações de sais, combinações estas que normalmente fazem diminuir o ponto de equilíbrio da humidade relativa com a solução saturada, tornando mais susceptível a cristalização. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 48/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Outro factor importante é a distribuição da solução salina nas paredes de alvenaria. Esta distribuição sucede através da migração por capilaridade e está dependente da solubilidade dos sais na solução (Figura 18), sendo os sais mais solúveis migram até as zonas mais elevadas das paredes Figura 18 – Distribuição, numa parede, da migração ascensional, por capilaridade, das soluções salinas mais comuns das águas subterrâneas (Aires-Barros, 2001). V.3. Soluções para a reabilitação e restauro Apresentado o dano, a forma como se apresenta nas estruturas e a origem deste fenómeno interno causador da erosão do xisto, é necessário apresentar soluções para a prevenção e recuperação destas estruturas, valorizando sempre as metodologias pouco intrusivas, de forma a manter a integridade natural destas construções populares, e salvaguardar o seu valor patrimonial e cultural. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 49/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil Sendo certo que a melhor metodologia para evitar a erosão nas paredes é a prevenção através da eliminação da ocorrência dos fenómenos como a cristalização de sais e os ciclos de gelo/degelo. Para tal, ter-se-á que efectuar o consolidamento dos elementos pétreos através da introdução de uma solução no interior destes elementos que permita tapar os poros, evitando assim a percolação da água nas paredes, e eliminando o principal caminho para os fenómenos de cristalização de sais e gelo/degelo. Esta solução poderá ter origem orgânica ou inorgânica, no entanto as metodologias mais aconselhadas no caso de inorgânicas passam pela utilização de polímeros acrílicos, resinas epoxidicas ou outros polímeros orgânicos sintéticos. No caso de metodologias orgânicas será necessário conhecer bem o tipo de sais existentes na estrutura para que se possa determinar o melhor composto base do consolidante a utilizar, pois é deveras importante compreender a o tipo de reacção química e a sua resultante. A maioria das construções em xisto tem a estrutura sem qualquer tipo reboco ou protecção o que torna a reparação mais difícil e mais exigente, pois todo o trabalho que se realize nas zonas danificadas terá que ficar exposto, caso contrario alterar-se-ia o aspecto original da construção. Na aplicação das metodologias de consolidação indicadas não são utilizados métodos intrusivos. Na verdade, as soluções são aplicadas através da passagem de uma esponja embebida na solução sobre a zona danificada durante um período de tempo previamente estipulado. Deve-se, no entanto, ter em atenção que, nos casos em que exista a necessidade de efectuar uma limpeza sobre a zona danificada, nunca se utilize metodologias que tenham recurso à água. Sendo a limpeza com microjacto de precisão e a limpeza a laser as metodologias Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 50/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil mais indicadas para estes casos específicos, pois não recorrem água e tem um grau elevado de precisão e fiabilidade. Tendo em conta a forma como este tipo de dano se expressa nas construções (figura 19), torna-se praticamente impossível restaurar as características estruturais e estéticas originais, dado que as camadas externas dos elementos pétreos desaparecem completamente. Assim sendo, as intervenções sobre este dano, passam pelo tratamento da estrutura mantendo o seu estado actual e evitando o agravamento do dano. Figura 19 – Erosão do xisto expresso com o desaparecimento das camadas externas dos elementos pétreo. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 51/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil VI. CONCLUSÕES As construções em alvenaria de xisto, tendo em consideração a sua metodologia construtiva, efectuada com recurso a elementos de xisto extraídos do próprio local de implantação da construção e aplicados em lascas sem qualquer tipo de tratamento, podem ser consideradas como construções verdadeiramente sustentáveis. A presença de construções em alvenaria de xisto nas regiões do Minho, Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, prende-se com a predominância do xisto existente no solo. De facto, grande parte do solo do território nacional é constituído por granitos, quartzitos e xistos, muito devido, ao maciço antigo, que ocupa cerca de três décimos do território nacional. Os xistos são rochas metamórficas, com origem no metamorfismo regional, características pelos seus minerais e a sua textura plana ou irregular. Em Portugal continental são diversos os tipos de xistos existentes, variando o tipo ao longo do território, assim como variam as características destes elementos pétreos. A localização geográfica deste tipo de construção, aliada à estrutura mineralógica do xisto e tendo em conta também a não existência de rebocos nas paredes das construções mais populares, faz com que seja natural o aparecimento de danos nos elementos pétreos. A erosão do xisto é um dos danos mais característicos deste tipo de construção, tendo por origem factores de decaimento físicos e químicos, que por sua vez resultam de fenómenos de cristalização de sais e ciclos gelo/degelo agravados pelo meio ambiente característico do local de implantação da construção. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 52/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil De facto, a detecção deste dano apenas nas zonas de Trás-os-Montes e Beiras, comprova a influência dos microclimas no agravamento da erosão do xisto, tendo em conta que, as grandes amplitudes térmicas registadas nessas regiões aceleram os fenómenos de cristalização de sais, quando as temperaturas são altas, e os fenómenos de gelo/degelo, quando as temperaturas são baixas. Certo é que, ambos os fenómenos levam a que se dê a expansão e compressão da estrutura mineralógica do xisto, e que a acção de ambos no mesmo momento temporal sobre o mesmo objecto origina resultados bastante mais gravosos. A solução para a eliminação deste dano passa pelo consolidação dos elementos pétreos através da introdução de uma solução no interior destes elementos que permita tapar os poros, evitando assim a percolação da água nas paredes. Esta solução poderá ter origem orgânica ou inorgânica, sendo que será sempre muito importante, na escolha da metodologia, um perfeito conhecimento do tipo de sais existentes na estrutura. Tendo em conta, que na sua maioria, estas construções não possuem reboco, e considerando a forma como este tipo de dano se expressa, o restauro das zonas danificadas torna-se praticamente impossível. Sendo, a eliminação da acção danosa e a protecção da estrutura, as únicas formas de salvaguardar o valor patrimonial e cultural das construções em xisto. Caracterização do xisto – análise da erosão da rocha - 53/56 Azurém – 4800-058 Guimarães ∗ Tel. (+351) 253 510 200 ∗ Fax (+351) 253 510 217 Univ ersida de do M inho Departamento de Engenharia Civil VII. BIBLIOGRAFIA Aires-Barros, L., (2001) As rochas dos monumentos portugueses tipologias e patologias, IPPAR, Lisboa. Associação dos arquitectos portugueses, (1980) Arquitectura popular em Portugal. APP, Lisboa. Barros, R. 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