revista estudos v 41 n 3 2014.indd - Portal de Revistas Eletrônicas

Propaganda
COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA:
ESTUDO DE PREVALÊNCIA
DO LC/PUC GOIÁS*
SUYARA VELOSO E LEMOS, TAYNÁ LIMA CARVALHO, JULIANA
BOAVENTURA AVELAR, KATIA KARINA VEROLLI OLIVEIRA MOURA
Resumo: o Papilomavírus Humano é causador de uma doença sexualmente
transmissível, podendo ser assintomática e até levar ao câncer de colo uterino. Neste estudo foram analisados 850 laudos de exames de citologia oncótica do Laboratório de Análises Clínicas. Foi observada uma prevalência
de sugestividade ao vírus HPV de 1,32% entre 12 e 40 anos, e um pico de
0,24%, entre 52 e 62 anos. Os micro-organismos patogênicos encontrados
foram Gardnerella/ Mobiluncus, o mais prevalente, com 24,17%, seguido de
Candida sp. com 6,01%.
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Palavras-chave: HPV. Prevalência. Idade. Co-infecções.
O
Papilomavírus Humano (HPV) é um vírus que causa uma doença sexualmente transmissível (DST) na mulher e no homem (BURCHELL
et al., 2006 p. 52–61). É caracterizado quando um ou mais tipos infectam pele e mucosas, em que inicia o seu ciclo de infecção na penetração
do epitélio da cérvice uterina. O vírus HPV se desenvolve após um período
subclínico, que pode variar de meses a anos, as manifestações clínicas podem
se desenvolver ou não após este período, variando de lesões vegetantes (verrugas), até o câncer cervical (BURD, 2003 p. 1-17). Podendo também, ser
eliminado do organismo espontaneamente (INSTITUTO DO HPV).
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que muitas
pessoas se infectam com o HPV nos primeiros dois ou três anos de vida sexual
ativa. Dois terços das pessoas que tiveram contato sexual com um parceiro
infectado desenvolverão uma infecção pelo HPV (INSTITUTO DO HPV).
Durante a década de 70 e 80, o médico alemão Harald Zur Hausen em
seus estudos concluiu a associação de células cancerosas e um vírus oncogênico, podendo apresentar um DNA viral em seu genoma. E assim descobriu o Papilomavírus Humano 16, e também o 18, os quais eram constatados
539
540
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
em 70% das biopsias feitas em pacientes com câncer de colo uterino (DÜRST et al.,
1983 p. 3812-3815; ZUR HAUSEN, 2000 p. 690-8), com este estudo, Zur Hausen
foi um dos ganhadores do Premio Nobel de Medicina em 2008 (HAUSEN; BARRÉSINOUSSI, 2008, p. 26).
A infecção pelo vírus HPV é muito comum. Estimativas do Instituto Nacional
de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) indicam que 291 milhões de mulheres
no mundo portam o vírus, a qual a maior prevalência desta infecção é pelos subtipos
16 e 18 ou ambos (BURD, 2003 p. 1-17; SANJOSÉ et al., 2007 p. 453-459). No
entanto, com este alto índice de infecção pelo HPV, a incidência anual de câncer de
colo do útero é de aproximadamente 500 mil novos casos (INCA; WORLD HEALTH
ORGANIZATION). Sendo assim, o câncer de colo uterino é o terceiro mais comum,
sendo superado pelo câncer de pele não melanoma e câncer de mama (INCA, 2003,
p. 49-205; 2009).
Os adultos jovens sexualmente ativos, principalmente no início da vida sexual são os mais expostos ao risco de adquirir o HPV (BURK et al., 1996 p. 333-41;
IWAMURA; SOARES-VIEIRA; MUÑOZ, 2004, p. 383-388). A prevalência de infecção neste grupo é de 3-4 vezes maior do que em mulheres de 35 a 55 anos, e uma
tendência de declínio da curva, em faixas etárias mais velhas (BURCHELL et. al.,
2006 p. 52-61; SELLORS et al., 2003, p.168-74). O risco cumulativo de infecção cai
de 43% em mulheres entre 15-19 anos de idade para 12%, em mulheres de 45 anos de
idade. Um segundo pico na taxa foi registrado em mulheres com 45 anos e também
com 65 anos de idade (LAZCANO-PONCE et al., 2001, p. 412-20; SCHLECHT et
al., 2001, p. 3106-14).
A classificação atual dos tipos de HPV’s baseia-se na comparação de sequencias
de nucleotídeos do gene L1 dos diversos HPV’s (CAMARA et al., 2001, p.149-158).
Existem mais de 200 tipos do vírus, sendo os de denominação 16 e 18 os principais tipos
oncogênicos e 6 e 11 os prevalentes em verrugas genitais, os chamados de condilomas
acuminados (MUÑOZ et al., 2006, p.1-10; TROTTIER; FRANCO, 2006, p.S1-15).
Por ser assintomática e contagiosa, a transmissão do HPV, ocorre facilmente
através do contato direto com a pele infectada (INSTITUTO DO HPV). E também
ocorre transmissão vertical, onde a mãe passa para o feto durante a gravidez e/ou o
parto (SOCIEDADE DE GINECOLOGIA E OBSTETRICIA; 2012, p. 19).
O exame citológico de Papanicolau visa a detecção e o diagnóstico precoce de
diversas infecções, além de fazer análise da população assintomática, aparentemente
saudável, para que seja encaminhado para melhor investigação. Este método diagnóstico tem sido a forma recomendada pela OMS por ter sensibilidade e especificidade comprovada, além do seu custo-benefício também muito destacado (WORLD
HEALTH ORGANIZATION).
O Papanicolaou, também chamado de esfregaço cervicovaginal e colpocitologia
oncótica cervical, é o exame ginecológico mais utilizado na detecção de sugestividade do HPV, é um procedimento seguro, sem incomodo pra paciente, e muito rápido.
O Papanicolau detecta alterações celulares que o HPV pode gerar e um posterior câncer, contudo não faz diagnóstico da presença do vírus, e sim das alterações que o mesmo pode causar (INSTITUTO DO HPV).
O Ministério da Saúde passou a utilizar a vacina quadrivalente, no ano de 2014,
que protege contra os tipos 6,11,16 e 18, a qual é recomendada pela Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), sendo os tipos 16 e 18, sendo estes responsáveis
pela maioria dos casos de câncer de colo do útero no mundo todo. Portanto, em março de 2014, iniciou-se a primeira etapa da campanha de vacinação contra o HPV no
SUS, onde a população alvo é de meninas de 11 a 13 anos no esquema vacinal de 3
doses (INCA; 2014).
O objetivo deste estudo foi estudar a prevalência dos resultados sugestivos ao
HPV, e prevalência dos demais patógenos encontrados nos exames e prevalência de
co-infecções das pacientes realizadas no período de janeiro a julho de 2012 no Laboratório Clínico (LC) do Departamento de Biomedicina da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC Goiás).
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
MATERIAL E MÉTODO
Foram coletados dados de Colpocitologia Oncótica de Papanicolau (Pap) no
banco de dados do Laboratório Clínico (LC) do departamento de Biomedicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Foram incluídas todas as pacientes no período de 29/12/2011 a 17/07/2012, totalizando 850 pacientes.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da PUC Goiás com o protocolo nº 165.718. As lâminas do estudo foram confeccionadas com a metodologia de
Papanicolaou modificada, que visa à identificação de mulheres com alterações celulares pré-malignas (NAKAGAWA et al., 2010, p. 307-11). O Laboratório Clínico
do Departamento de Biomedicina oferece atendimento ao Sistema Único de Saúde
(SUS), aos pacientes de Goiânia e região metropolitana, os quais os dados colpocitopatológicos são armazenados no Sistema de Informação do Câncer do Colo do
Útero (SISCOLO).
O SISCOLO é um sistema informatizado desenvolvido pelo Ministério da
Saúde e implantado em todo Brasil em 1999, com a finalidade de identificar e
acompanhar mulheres com lesões uterinas e câncer de colo do útero. Para confecção do laudo, segundo o SISCOLO, padroniza-se com os dados pessoais da paciente, adequação da amostra, tipo de epitélio, alterações celulares benignas reativas ou
reparativas, microbiologia e atipias em células escamosas. Incluindo, a critério do
examinador citologista, observações à propedêutica na qual beneficiará a paciente
(INCA, 2010).
Os dados coletados foram digitados, analisados, e agrupados em planilha do Excel. Foi padronizada uma variável de intervalos de idade, de cinco em cinco anos, e de
dez em dez anos. A idade mínima foi de 12 anos, e máxima de 83 anos. Sendo assim
estabelecidos: 12 a 17; 18 a 23; 24 a 29; 30 a 40; 41 a 51; 52 a 62; e 63 a 83. Após a
coleta de dados, foi feita uma análise estatística descritiva dos mesmos.
Dentre as 850 pacientes incluídas, foram selecionadas 826 pacientes. Os critérios de exclusão foram: leitura prejudicada/ amostra insatisfatória 0,23% (2/850), código cadastrado sem nenhuma informação 2,23% (19/850), código cadastrado contendo
apenas a idade da paciente no laudo 0,35% (3/850).
541
O Laboratório Clínico da Biomedicina da PUC Goiás declarou que, dessas pacientes cadastradas sem resultados nos laudos, são por falta de material, ou material
inadequado para realização do Papanicolau, ou erro na digitação.
RESULTADOS
Foram analisadas laudos de 826 pacientes de Colpocitologia Oncótica de Papanicolau, sendo 1,56% (13/826) casos sugestivos para o HPV. A média de idade das
pacientes foi de 53,5 anos, com a idade mínima de 12 anos e máxima de 83 anos.
Quando foi analisada as idades em faixas etárias: 4,11% (34) pacientes de 12 a
17 anos; 11,62% (96) pacientes de 18 a 23 anos; 15,25% (126) pacientes de 24 a 29
anos; 26,87% (222) pacientes de 30 a 40 anos; 21,91% (181) pacientes de 41 a 51 anos;
14,28% (118) pacientes de 52 a 62 anos; 5,93% (49) pacientes de 63 a 83 anos.
Foram analisadas a relação entre a idade das pacientes a sugestividade da infecção pelo HPV, onde foi verificado que a faixa etária mais prevalente foi entre 12 a 40
anos 1,32% (11/826) ocorrendo um segundo pico de prevalência na faixa etária de 52
a 62 anos 0,24% (2/826), como pode ser observado na tabela 1.
Tabela 1: Relação da Idade das Pacientes, com Laudos Contendo Alterações Celulares
Sugestivos ao Papilomavírus Humano (HPV)
Sugestivos HPV
Sem sugestão
Total
N
(%)
N
(%)
N
12│─│17
3
0,36%
31
3,75%
34
18│─│23
4
0,48%
92
11,13%
96
24│─│29
3
0,36%
123
14,89%
126
30│─│40
1
0,12%
221
26,75%
222
41│─│51
0
0,00%
181
21,91%
181
52│─│62
2
0,24%
116
14,04%
118
63│─│83
0
0,00%
49
5,93%
49
Total
13
1,56%
813
98,44%
826
Legenda: (%) – porcentagem / N – número absoluto.
542
Dentro das faixas etárias propostas, foram encontradas as seguintes porcentagens de casos sugestivos ao HPV: entre 12 a 17 anos 0,36% (3/826); entre 18 a 23 anos
de 0,48% (4/826); entre 24 a 29 anos de 0,36% (3/826); entre 30 a 40 anos de 0,12%
(1/826); entre 41 a 51 anos 0,00% (0/826); entre 52 a 62 anos prevalência de 0,24%
(2/826); e por fim entre 63 a 83 anos 0,00% casos sugestivos ao HPV (0/826).
Não houve acesso aos hábitos de vida sexual da paciente, como o uso de tabaco
ou bebidas alcoólicas, e resultados sorológicos. Portanto não foi possível relacionar
quaisquer co-fatores ou infecções subsequentes causadas pela presença do HPV.
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Idade
Foi também analisado a prevalência de vaginoses e vulvovaginites nas 826 pacientes. Porém não foi relatado nenhum paciente com associação de sugestividade ao
vírus HPV e microrganismos patológicos.
Destas pacientes, 31,70% (257/826) apresentavam micro-organismos causadores
de infecções e 68,28% (569/826) continham microbiota normal. Dentre a microbiologia vaginal normal, foram relatados bacilos, cocos e lactobacilos. Dos micro-organismos que causam infecções vaginais, foi relatado a presença de Bacilos Supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/ Mobiluncus), Candida sp. e Trichomonas
vaginalis , tabela 2.
Quanto às idades analisadas, seguindo o mesmo parâmetro da tabela anterior,
a prevalência de foi de 30 a 40 anos com 8,35% (69/826), seguido de 18 a 23, com
4,96% (41/826). Esse fato pode ser explicado pela maior quantidade de pacientes serem do intervalo de 30 a 40 anos (26,87%).
TABELA 2 – Análise da Relação da Idade com Micro-organismos de Flora Normal e
Microrganismos Patológicos
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Idade
12│─│17
18│─│23
24│─│29
30│─│40
41│─│51
52│─│62
63│─│83
Total
Normais (Bacilos, Cocos
e Lactobacilos)
N
15
55
86
153
131
85
39
564
Patológicos (Bacilos
Supracitoplasmáticos
(sugestivos a Gardnerella/
Mobiluncus), Candida sp., e
Trichomonas vaginalis)
(%)
1,81%
6,65%
10,41%
18,52%
16,15%
10,29%
4,72%
68,28%
N
19
41
40
69
50
33
10
262
(%)
2,30%
4,96%
4,84%
8,35%
6,05%
3,99%
1,21%
31,70%
Total
N
34
96
126
222
181
118
49
826
Legenda: (%) – porcentagem / N – número absoluto.
Na tabela 2, observa-se que 68,28% (564/826) das pacientes apresentaram flora
normal. Das 826 pacientes, 31,70% foi detectado presença de micro-organismos que
causam infecções vaginais, onde se agruparam todos os microrganismos patológicos,
e distribuídos nos padrões de intervalo de idade estabelecidos. Portanto, de micro-organismos patogênicos foram observados os seguintes resultados: 12 a 17 anos 2,30%
(19/826); 18 a 23 anos 4,96% (41/826); 24 a 29 anos 4,84% (40/826); 30 a 40 anos
8,35% (69/826); 41 a 51 anos 6,05% (50/826); 52 a 62 anos 3,99% (33/826); e 63 a 83
anos 1,21% (10/826).
Na tabela 3 foram relacionados os tipos de micro-organismos patológicos prevalentes nessas pacientes, segundo o intervalo das idades.
543
Tabela 3: Relação entre Idade e Micro-organismos Patogênicos na Análise do Material
Colpocitológico
Idade
BSGM
Csp.
TV
Total
N
(%)
N
(%)
N
(%)
N
12│─│17
9
1,08%
9
1,08%
0
0,00%
18
18│─│23
29
3,51%
9
1,08%
1
0,12%
39
24│─│29
33
3,99%
6
0,72%
0
0,00%
39
30│─│40
52
6,29%
13
1,57%
0
0,00%
65
41│─│51
40
4,84%
8
0,96%
1
0,12%
49
52│─│62
28
3,38%
4
0,48%
1
0,12%
33
63│─│83
9
1,08%
1
0,12%
0
0,00%
10
Total
200
24,17%
50
6,01%
3
0,36%
253
Para os achados de cada patógeno, foi analisada nas faixas etárias antes estabelecidas: de 12 a 17 anos 1,08% de BSGM (9/826); 1,08% de Csp. (9/826) e 0,00% de
TV (0/826). De 18 a 24 anos, foi encontrado a presença de 3,51% de BSGM (29/826),
1,08% de Csp. (9/826) e 0,12% de caso de TV (1/826). Entre 24 e 29 anos, 3,99% de
BSGM (33/826), 0,72% de Csp. (6/826) e 0,00% de TV (0/826). Na faixa etária de 30
a 40 anos, 6,29% de BSGM (52/826), 1,57% de Csp. (13/826) e 0,00% de TV (0/826).
Entre 41 e 51 anos, 4,84% de BSGM (40/826), 0,96% casos de Csp. (8/826) e 0,12%
de TV (1/826). De 52 a 62 anos, presença 3,38% de BSGM (28/826), 0,48% casos de
Csp. (4/826) e 0,12% de TV (1/826). E entre 63 e 83 anos, 1,08% casos de BSGM
(9/826), 0,12% de Csp. (1/826) e 0,00% de TV (0/826).
A prevalência de micro-organismos patológicos constatada nessas pacientes foi
de 24,17% de BSGM (2050/826), 6,01% de Csp. (50/826) e 0,36% TV (3/826), totalizando 30,62% (253/826) pacientes com presença dessas patologias.
Na tabela 2 foram observados, 31,70% de microbiologia patológica, já na tabela
3, 30,62% de microbiologia patogênica, esta discrepância dos valores é explicada por
1,08% (9/826) pacientes apresentarem mais de um patógeno em sua flora. Para analisar esses casos, foi composta a tabela 4.
544
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Legenda: BSGM:Bacilos Supracitoplasmático sugestivo de Gardnerella/Mobiluncus / Csp.:
Candida sp. / TV: Trichomonas vaginalis / (%) – porcentagem / N – número absoluto
Tabela 4: Relação da Idade com Múltiplas Infecções
Idade
BSGM + Csp.
BSGM + TV
TV + Csp.
Total
N
(%)
N
(%)
N
(%)
N
12│─│17
1
0,12%
0
0,00%
0
0,00%
1
18│─│23
2
0,24%
0
0,00%
0
0,00%
2
24│─│29
1
0,12%
0
0,00%
0
0,00%
1
30│─│40
2
0,24%
2
0,24%
0
0,00%
4
41│─│51
1
0,12%
0
0,00%
0
0,00%
1
52│─│62
0
0,00%
0
0,00%
0
0,00%
0
63│─│83
0
0,00%
0
0,00%
0
0,00%
0
TOTAL
7
0,84%
2
0,24%
0
0,00%
9
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Legenda: BSGM: Bacilos Supracitoplasmático sugestivo de Gardnerella/ Mobiluncus /Csp.:
Candida sp. /TV: Trichomonas vaginalis / (%) – porcentagem / N – número absoluto.
Na tabela 4, foram analisadas as co-infecções encontradas nas 826 pacientes.
Na análise das pacientes de 12 a 17 anos houve co-infecção de 0,12% de BSGM e
Csp. (1/826); de 18 a 23 anos 0,24% houve associação de BSGM e Csp. (2/826); entre
24 e 29 anos 0,12% de BSGM e Csp. (1/826); de 30 a 40 anos 0,24% (2/826) de co
infecção entre BSGM e Csp., assim como a associação de BSGM e TV; entre 41 e 51
anos 0,12% de BSGM e Csp (1/826); na faixa de 52 e 62 anos e de 63 83 anos não se
observou nenhum caso de co-infecções, 0,00% (0/826).
Portanto, 0,84% de BSGM e Csp. (7/826), BSGM e TV 0,24% (2/826) e 0,00%
caso de TV e Csp (0/826). Então, 1,08% dos casos anteriores descritos são explicados
pelo fato de serem associações entre as infecções.
DISCUSSÃO
Segundo o INCA (2013), o câncer do colo do útero é o terceiro câncer mais frequente na população feminina. Informam ainda que para 2014 estimam 15.590 novos
casos de câncer de colo do útero (INCA; 2013). A OMS (2007) em nota afirma que os
tipos oncogênicos do HPV (HPV-16 e HPV-18) são responsáveis por aproximadamente 70% dos cânceres do colo uterino (INSTITUTO DO HPV).
No presente estudo foi observada uma prevalência de sugestividade ao vírus HPV
de 1,6%. Na cidade de Ubiratã no estado do Paraná, foi realizado um estudo retrospectivo no período de 2010 a 2011(SILVA; RIBAS-SILVA, 2013, p. 69-76), onde se estudou
a prevalência de infecção pelo HPV com prontuários de mulheres submetidas ao SUS.
Nesta análise foi verificada uma prevalência de infecção de 2,2%. Também Cavenaghi
545
546
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
et al. (2013), relata a prevalência de 2,4% do vírus HPV em mucosa oral/orofaríngea do
sexo feminino e masculino em diferentes idades (CAVENAGHI et al., 2013, p. 599-602).
Entretanto um trabalho realizado em mulheres de população urbana de Belém no
estado do Pará, no período de 2008 a 2010, onde se constatou a prevalência da infecção causada pelo vírus HPV de 14,6. O artigo justifica esta maior prevalência na zona
urbana pelo inicio da vida sexual, quantidade de parceiros, uso de anticoncepcionais,
entre outros (PINTO; FUZII; QUARESMA, 2011 p. 769-778).
De acordo com MUÑOZ et al. (2004) a frequência da infecção pelo HPV tem
se tornado mais significativa em mulheres jovens, logo no início da vida sexual e de
acordo com o número variado de número de parceiros, ocorrendo uma queda com o
avanço da idade, e um pico em alguma fase da velhice. Este dado é compatível com o
presente estudo, onde, das mulheres que apresentaram sugestividade com o vírus HPV,
possuem faixa etária menor que 30 anos. Portanto, a prevalência de infecção pelo vírus
é constante em mulheres jovens. Também no nosso estudo, detectamos um pico na
faixa etária maior que 50 anos (MUÑOZ et al., 2004, p. 2077-87).
Também Pitta et. al. (2010), analisaram 120 amostras de mulheres, com média
de 33,1 anos, atendidas no ambulatório de Patologia Cervical do Centro de Atenção
Integral à Saúde da Mulher da Universidade Federal de Campinas. Foi coletado raspado da cérvice vaginal, e a partir deste, realizou extração de DNA. Foi encontrada a
prevalência de 67,5% positivas para HPV, isto se justifica pela metodologia utilizada,
o qual é um método mais preciso e específico para detecção viral (PITTA et al., 2010,
p. 315-20).
Estudo realizado em Patos de Minas – MG, foram examinadas 2837 laminas,
0,8% apresentaram modificações celulares características da infecção pelo vírus HPV,
sendo prevalente nas idades de 21 a 30 anos, com 0,3%. Não houve alterações características nas faixas etárias acima de 50 anos (QUEIROZ; CANO; ZAIA, 2007, p.
151-157).
Nosso estudo detectou uma prevalência de Bacilos Supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/ Mobiluncus) com 24,8%, 6,8% para Candida sp. e 0,4% para
Trichomonas vaginalis. Segundo mostra a pesquisa realizada no Município de Canoas
no rio Grande do Sul, os resultados foram compatíveis aos vistos neste estudo, onde a
prevalência de microbiologia patológica foi de 11,8% apresentaram Bacilos Supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/ Mobiluncus), 5,7% com Candida sp. e 1,2%
de Trichomonas vaginalis (ARAÚJO, 2009).
Também no estudo realizado por Bonfanti e Gonçalves (2010) analisou-se 1344
laudos, 38,24% apresentaram Gardnerella vaginalis, 33,75% Candida sp., 5,92%
Trichomonas vaginalis. Este se assemelha aos valores encontrados em nosso estudo
(BONFANTI; GONÇALVES, 2010, p. 37-46).
Segundo pesquisa de Leite et al. de 321 resultados citopatológicos analisados,
na cidade de Patos na Paraíba, encontrou uma prevalência de 22,4% para Candida sp.,
19,6% para Gardnerella vaginalis, 11,5% para Trichomonas vaginalis e 7,2% para
Mobiluncus sp., o que discorda deste estudo (LEITE et al., 2011, p. 86-96).
Em nosso estudo, foram constatados associações de Bacilos Supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/ Mobiluncus sp.) com Candida sp e Trichomonas
vaginalis. O medicamento indicado para tratamento de Gardnerella e Trichomonas, o
Metronidazol, há diversas reações adversas, entre elas a proliferação de Candida sp.
(MEDICINANET, 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi observada em nosso estudo, uma prevalência de sugestividade ao vírus HPV
de 1,32% entre 12 e 40 anos, e um pico de 0,24%, entre 52 e 62 anos. Diante os laudos
analisados, os micro-organismos patogênicos encontrados foram Gardnerella/ Mobiluncus, Candida sp., e Trichomonas vaginalis, sendo Bacilos Supracitoplasmáticos
(sugestivos a Gardnerella/Mobiluncus) o mais prevalente, com 24,17%, seguido de
Candida sp. com 6,01%. Dentre as 826 pacientes, 1,08% apresentaram co-infecção,
sendo mais prevalente a associação entre Bacilos Supracitoplasmáticos (sugestivos a
Gardnerella/Mobiluncus) e Candida sp. com 0,84%, seguido da associação de entre
Bacilos sugestivos a Gardnerella/Mobiluncus e Trichomanas vaginalis, com 0,24%.
PAP SMEAR: STUDY OF PREVALENCE LC-PUC GOIÁS
Abstract: the Human Papillomavirus causes sexually transmitted disease, which may
be asymptomatic and even lead to cervical cancer. In this study, 850 cytologic smear
reports were analyzed at the Clinical Laboratory. Suggestiveness in the prevalence of
HPV 1.32% between 12 and 40 years old, and a peak of 0.24% between 52 and 62
years old has been observed. Pathogenic micro-organisms were found Gardnerella /
Mobiluncus, the most prevalent, with 24.17%, followed by Candida sp. with 6.01%.
Keywords: HPV. Prevalence. Age. Co-infections.
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
Referencias
ARAÚJO, P. B. Controle do câncer do colo do útero: uma análise de dois anos de
coleta do exame citopatológico em uma Unidade de Saúde da Família, 2009.
BONFANTI, G.; GONÇALVES, T. DE L. Prevalência de Gardnerella Vaginalis, Candida Spp. e Trichomonas Vaginalis em Exames Citopatológicos de Gestantes Atendidas no Hospital Universitário de Santa Maria-RS. Revista Saúde, Santa Maria (RS), p.
37­-46, 2010.
BURCHELL, N. A. et al. Epidemiology and transmission dynamics of genital HPV
infection. Vaccine, p. 52-61, 2006.
BURD, M. E. Human Papillomavirus and Cervical Cancer. Clin.Micribiol, p. 1-17,
2003.
BURK, R. D. et al. Declining Prevalence of Cervicovaginal Human Papillomavirus Infection With Age Is Independent of Other Risk Factors. Sexually Transmitted Diseases,
p. 333-41, 1996.
CAMARA, G. N. et al. Os Papilomavírus Humanos HPV: Histórico, Morfologia e
547
Ciclo Biológico. Universitas Ciências da Saúde, p. 149-158, 2001.
CAVENAGHI, V. B. et al. Determinação da prevalência de HPV em amostras de mucosa oral/orofaríngea em um distrito rural de São Paulo. Braz. j. otorhinolaryngol, p.
599-602, 2013.
Copy RIGHT 2013, MedicinaNET . Disponível em: <http://www.medicinanet.com.
br/m/bula/3368/metronidazol.htm>. Acesso em: 13 maio 2014.
DÜRST, M. et al. A papillomavirus DNA from a cervical carcinoma and its prevalence
in cancer biopsy samples from different geographic regions. Proc Natl Acad Sci U S
A, p. 3812-3815, 1983.
HAUSEN, H. ZUR; BARRÉ-SINOUSSI, F. The discoveries of human papilloma viruses that cause cervical cancer and of human immunodeficiency virus. The Nobel
Foundation, p. 26, 2008.
INCA, I. N. DE C. FATORES DE RISCO.
INCA, I. N. DE C. Prevenção e Controle de Câncer. Rev Bras Cancerol, p. 49-205,
2003.
INCA, I. N. DE C. Estimativas 2010: incidência de câncer no Brasil. Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro, 2009.
INCA, I. N. DE C. Vacina contra o HPV começa a ser aplicada na Rede Pública em
março.
INCA, I. N. DE C. Estimativas 2014. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/sintese-de-resultados-comentarios.asp>. Acesso em: 13 Maio 2014.
INCA, I. N. DE C. Câncer Do Colo Do Útero; 2010. Disponível em: <http://www2.
inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancercoloutero/site/home/siscolo>. Acesso em: 13
maio 2014.
INSTITUTO DO HPV. Guia do HPV.
IWAMURA, E. S. M.; SOARES-VIEIRA, J. A.; MUÑOZ, D. R. Human Identification and Analysis of DNA in Bones. Revista do Hospital das Clínicas Faculdade de
Medicina de São Paulo, p. 383-388, 2004.
LEITE, M. C. A. et al. Prevalência dos agentes etiológicos das vulvovaginites através
de resultados de exames citopatológicos: um estudo na Unidade de Saúde da Família
em Patos - PB. NewsLab, p. 86-96, 2011.
MUÑOZ, N. et al. Incidence, duration, and determinants of cervical human papillomavirus infection in a cohort of Colombian women with normal cytological results. The
Journal of infectious diseases, p. 2077-87, dez. 2004.
MUÑOZ, N. et al. Chapter 1: HPV in the etiology of human cancer. Vaccine, p. 1-10,
2006.
NAKAGAWA, J. T.; SCHIRMER, J.; BARBIERI, M. Vírus HPV e câncer de colo de
útero. Revista Brasileira de Enfermagem, p. 307-11, 2010.
PINTO, D.; FUZII, H.; QUARESMA, J. Prevalência de infecção genital pelo HPV em
populações urbana e rural da Amazônia Oriental Brasileira. Cad. Saúde Pública, Rio
de Janeiro, p. 769-778, 2011.
548
PITTA, D. R. et al. Prevalência dos HPV 16, 18, 45 e 31 em mulheres com lesão cervical. Rev Bras Ginecol Obstet., p. 315-20, 2010.
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
LAZCANO-PONCE, E. et al. Epidemiology of HPV infection among Mexican women with normal cervical cytology. Int J Cancer, p. 412-20, 2001.
QUEIROZ, A. M. A.; CANO, M. A. T.; ZAIA, J. E. O papiloma vírus humano (HPV)
em mulheres atendidas pelo SUS na cidade de Patos de Minas - MG. Revista Brasileira de Análises Clínicas, p.151-157, 2007.
SANJOSÉ, S. de, et al. Worldwide prevalence and genotype distribution of cervical
human papillomavirus DNA in women with normal cytology: a meta-analysis. The
Lancet infectious diseases, p. 453-459, 2007.
SCHLECHT, N. F. et al. Persistent human papillomavirus infection as a predictor of
cervical intraepithelial neoplasia. JAMA, p. 3106-14, 2001.
SELLORS, J. W. et al. Incidence, clearance and predictors of human papillomavirus
infection in women. JAMC, p. 168-74, 2003.
SILVA, D. de P. da; RIBAS-SILVA, R. C. Prevalência de Mulheres Infectadas pelo
Papilomavírus Humano em Ubiratã-Paraná. SaBios: Rev. Saúde e Bio, p. 69-76, 2013.
SOCIEDADES, F. B. DAS; DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Papilomavírus
Humano (HPV): Diagnóstico e Tratamento. Projeto Diretrizes, p. 19, 2012.
TROTTIER, H.; FRANCO, E. L. The epidemiology of genital human papillomavirus
infection. Vaccine, p. S1–15, mar. 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cancer Control.Knowledge into ation.WHO
guide for efectivepogrammes.
estudos, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 539-549, jul./set. 2014.
ZUR HAUSEN, H. Papillomaviruses causing cancer: evasion from host-cell control
in early events in carcinogenesis. Journal of the National Cancer Institute, p. 690-8,
maio 2000.
*Recebido em 15.06.2014 Aprovado em: 25.06.2014
SUYARA VELOSO E LEMOS, TAYNÁ LIMA CARVALHO
Acadêmicas de Biomedicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
E-mail: [email protected]; [email protected].
JULIANA BOAVENTURA AVELAR
Doutora, Biomédica, Professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC
Goiás). E-mail: [email protected]
KATIA KARINA VEROLLI OLIVEIRA MOURA
Doutora, Biomédica, Professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC
Goiás). E-mail: [email protected].
549
Download