Aula 8 – Ácidos Nucléicos e Síntese Protéica Os ácidos nucléicos podem aparecer livres na célula ou podem estar associados a proteínas na forma de moléculas de nucleoproteínas. Eles resultam do encadeamento de um grande número de unidades chamadas nucleotídeos. Cada nucleotídeo é formado por uma base nitrogenada, uma pentose e um radical fosfato. Existem 5 tipos de bases nitrogenadas: adenina (A), guanina (G), citosina (C), timina (T) e uracil (U). As duas primeiras são derivadas de uma substância chamada purina e por isso são chamadas de bases púricas; as três últimas derivam da pirimidina, sendo chamadas de pirimídicas. As pentoses podem ser de dois tipos: a ribose e a desoxirribose. A união da base nitrogenada com a pentose forma um composto chamado nucleosídeo. Na região do núcleo, os nucleotídeos se reúnem formando longos filamentos chamados polinucleotídeos, por meio de uma ligação fosfodiéster (fosfato de uma unidade e pentose da unidade vizinha). Existem 2 tipos de ácidos nucléicos: ácido desoxirribonucléico (DNA ou ADN), cujo açúcar é uma desoxirribose e as bases são A, T, C e G; e ácido ribonucléico (RNA ou ARN), cujo açúcar é uma ribose e as bases são A, U, C e G. DNA: A informação genética A diferença entre dois filamentos de DNA ou entre dois setores do mesmo filamento está na sequência em que as bases são arrumadas. O modelo de Watson e Crick acerca da estrutura do DNA sugere uma molécula dupla-hélice. Segundo este modelo, o DNA possui dois filamentos de polinucleotídeos, presos uma ao outro pelas bases nitrogenadas que se defrontam. Os dois filamentos estão torcidos, formando uma hélice dupla. A ligação entre as bases dos dois filamentos é feita por meio de pontes de hidrogênio, e observa-se que T sempre se prende à A por duas pontes de hidrogênio, enquanto C sempre se prende à G por três pontes de hidrogênio. Como decorrência desse emparelhamento, a sequência de bases de um filamento determina a sequência do outro. Ex: Se em um filamento houver a sequência AATCCATGT, no outro a sequência será TTAGGTACA. Assim, os dois filamentos que compõe a molécula são complementares. É na obrigatoriedade do pareamento de bases que está o mecanismo de controle das características e da hereditariedade selecionará entre os nucleotídeos livres os pares complementares desta fita. Durante este encaixe, é obrigatoriamente obedecido o emparelhamento T-A e C-G. Assim, a sequência de bases do filamento antigo determina a sequência de bases do filamento novo, que será igual ao antigo que ocupava aquela posição. Consequentemente, as duas moléculas resultantes serão exatamente iguais. Dizemos que a duplicação do DNA é um processo semiconservativo, pois cada molécula-filha é formada por um filamento antigo, que veio do DNA original, e um filamento novo, recém-fabricado. À medida que o DNA se duplica, os cromossomos também se duplicam, desencadeando a divisão celular. Cada cópia do DNA fica em um dos cromossomos resultantes da duplicação, e esses cromossomos se distribuem entre as células formadas. Deste modo, as célulasfilhas ganham cópias de DNA idênticas ao DNA da célula-mãe, garantindo a transferência do código genético célula à célula. Portanto, a duplicação do DNA é a essência da reprodução e da hereditariedade. O RNA O RNA tem sua molécula formada por um único filamento de polinucleotídeos. A base T não participa da sua constituição. Existem 3 tipos de RNA: RNA-mensageiro ou moldador (RNAm), que leva o código genético do DNA para o citoplasma, onde, segundo o código, determinará a sequência de aminoácidos da proteína; RNA-transportador ou solúvel (RNA-t), que transporta os aminoácidos até o local da síntese de proteína; e RNA-ribossomial (RNA-r), que participa da estrutura dos ribossomos onde ocorre esta síntese. Os três são fabricados no núcleo, tendo como modelo um determinado setor da molécula do DNA. Em seguida, eles migram para o citoplasma. Síntese Protéica Duplicação do DNA A duplicação do DNA é controlada por várias enzimas que promovem o afastamento dos fios, unem os nucleotídeos e corrigem erros de duplicação. A replicação do material genético inicia-se em locais específicos da molécula de DNA chamados de origens de replicação, que possui sequências muito ricas em A e T. Esta processo ocorre então nas duas fitas da molécula, sempre no sentido 5’ → 3’. Nas origens de replicação, a enzima DNA-helicase separa as fitas de DNA por meio da quebra das pontes de hidrogênio existentes entre as bases nitrogenadas. Para funcionarem, estas enzimas recebem a ajuda da DNA-topoisomerase (enzima), que desenrola a cadeia, diminuindo a tensão à medida que as helicases avançam, facilitando assim o seu trabalho. Esta hélice aberta recebe o nome de forquilha de replicação. Com o filamento exposto, há a ação da DNA-polimerase, principal enzima do processo. Esta enzima então fará a leitura das bases nitrogenadas presentes na fita de DNA, chamada de molde, e As características morfológicas de um ser vivo e seu funcionamento dependem dos seus tipos de proteínas, sendo estas controladas pelo DNA em 2 etapas: transcrição e tradução. Transcrição A transcrição compreende a passagem do código genético do DNA para o RNA. Neste processo, apenas um dos filamentos do DNA é usado para a síntese do RNA-m, executada pela enzima RNA-polimerase, que é específica para ligar apenas nucleotídeos de ribose. Durante a síntese, um gene se afasta do seu complemento, expondo suas bases, onde se encaixam os nucleotídeos de RNA. Esse encaixe obedece à obrigatoriedade de ligação entre as bases. Porém, onde houver um A do DNA irá se encaixar um U. Ex: Para uma sequência TACGGACTA do DNA, haverá a sequência AUGCCUGAU no RNA. Assim, o código genético que estava no DNA é transcrito para o RNA. Este RNA, entretanto, não está pronto para ser traduzido. Em sua sequência, existem porções que não-codificam proteínas, denominadas íntrons, e porções codificantes, denominadas éxons. Em eucariotos, o RNA-m pré-codificado precisa ter suas sequências íntrons removidas, e suas porções éxons unidas, formando assim a molécula de RNA-m maduro. Esta então será utilizada para a formação de proteínas. - Os genes estruturais só funcionarão se o gene promotor se ligar à enzima RNA-polimerase, que desencadeará a síntese de RNA-m. O gene promotor estará livre para este trabalho se o gene operador, seu vizinho, estiver livre também. Caso o gene operador esteja bloqueado, este bloqueio atinge o gene promotor, impedindo que ele se ligue à RNA-polimerase e, deste modo, os genes estruturais ficam inativos. - Todo este sistema de bloqueio está na dependência do repressor (proteína), que é produzido pelo gene regulador. Dependendo do tipo de repressor, podemos ter 2 tipos de controle: a indução e a repressão. Indução: O repressor bloqueia o gene operador. Com isso, o gene promotor não se liga à RNA-polimerase e os genes estruturais ficam inativos. Esses genes poderão ser ativados se alguma substância nova, introduzida na célula, modificar o repressor, afetando-lhe a capacidade de bloquear o operador. Com o operador desbloqueado, o promotor se liga à RNA-polimerase e os estruturais passam a sintetizar proteínas. Repressão: O repressor inicialmente não é ativo, e o operador está livre. O promotor se liga à RNA-polimerase e os estruturais estão fabricando proteínas. Esses genes estruturais poderão ser desativados se o repressor for modificado por alguma substância vinda do meio ou produzida pela própria célula. Essa substância torna o repressor ativo e ele passa a bloquear o gene operador. Tradução A tradução compreende o trabalho realizado pelo RNA de organização dos aminoácidos na sequência determinada pelo código genético. É essa sequência de aminoácidos que caracteriza o tipo de proteína (estrutural ou enzimática) que, por sua vez, é responsável por uma característica do organismo. Neste processo, cada grupo de 3 bases consecutivas do RNA-m corresponde a um aminoácido e é chamado de códon. Os códons são os mesmos para todos os seres vivos e, por isso, dizemos que o código genético é universal. O códon só realiza o trabalho de identificação dos aminoácidos com o auxílio do RNA-t. Este RNA-t liga-se aos aminoácidos que estão dissolvidos no citoplasma e transporta essas unidades até o RNA-m. O RNA-t possui forma de trevo e, em uma de suas extremidades, aparecem as bases CCA, e em outra um trio de bases chamado de anticódon, através do qual o RNA-t vai se encaixar nos códons do RNA-m. Para cada um dos 20 tipos de aminoácidos, existe um RNA-t diferente. Esta diferença, que torna cada transportador específico para cada aminoácido, está no anticódon. A tradução da sequência de bases do RNA-m para a proteína é feita nos ribossomos. Os RNA-t, com os respectivos aminoácidos, vão se encaixando nos códons correspondentes do RNA-m. Assim, a sequência de códons do RNA-m determina a sequência de aminoácidos, o que determina o tipo de proteína. À medida que o grupo de ribossomos (polirribossomo ou polissomo) desliza pelo RNA-m, os aminoácidos vão se unindo e formando uma molécula de proteína. Enquanto isso, os RNA-t vão se soltando e ficam livres para o transporte de outros aminoácidos. Interessante notar que o código genético é degenerado, ou seja, há mais de um códon com o mesmo “significado”. Ex: o aminoácido alanina pode ser codificado por qualquer um dos seguintes códons: GCU, GCC, GCA e GCG. Ativação e Inativação Gênica - Existem quatro tipos de genes ao longo da molécula de DNA: o gene estrutural, o regulador, o promotor e o operador. - Os genes estruturais são porções de DNA responsáveis pela síntese de moléculas de RNA-m. Os outros 3 tipos de genes controlam o funcionamento de um determinado grupo de genes estruturais. Mutações: Alterações na sequência de bases nitrogenadas de um segmento do DNA, que podem ser provocadas por radiações, modificando as bases nitrogenadas do DNA, originando o pareamento errôneo nesta molécula ou até mesmo a ruptura de segmentos do DNA. Nem sempre as enzimas encarregadas de fazer a correção dos defeitos da duplicação conseguem corrigi-los. Neste caso, as mudanças na programação genética podem alterar as proteínas fabricadas, modificando consequentemente as características do organismo. Quando a mutação corresponde à troca de uma única base, pode ocorrer a formação de um novo códon que seja responsável pelo mesmo aminoácido. Essas mutações, chamadas silenciosas, não afetam o organismo. Entretanto, quando a mutação adiciona ou retira uma base da sequência, o efeito é mais violento, pois a sequência de códons ficará alterada a partir deste ponto. A proteína será totalmente diferente e incapaz de realizar as mesmas funções. Embora em sua maioria as mutações sejam prejudiciais, pois alteram ao acaso um sistema vivo altamente organizado, são fatores importantes para a evolução das espécies. Exercícios 1) (UFF 2011) “Após o anúncio histórico da criação de vida artificial no laboratório do geneticista Craig Venter o mesmo responsável pela decodificação do genoma humano em 2001, o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu a seus conselheiros especializados em biotecnologia para analisarem as consequências e as implicações da nova técnica.” (O Globo on line, 22/05/2010) A experiência de Venter ainda não explica como a vida começou, mas reforça novamente que, sob determinadas condições, fragmentos químicos são unidos para formar a principal molécula responsável pelo código genético da vida. Para a síntese de uma molécula de DNA em laboratório, a partir de uma fita molde de DNA, além do primer, deve-se utilizar (A) nucleotídeos de Timina, Citosina, Guanina e Adenina; DNA e RNA polimerase. (B) nucleotídeos de Timina, Citosina, Guanina e Uracila; e DNA polimerase. (C) nucleotídeos de Timina, Citosina, Guanina e Adenina; e DNA polimerase. (D) nucleotídeos de Timina, Citosina, Guanina e Uracila; e RNA polimerase. (E) nucleotídeos de Timina, Citosina, Guanina, Uracila e Adenina; e DNA polimerase. 2) (UNIRIO 2008) O filme X-Men 2, lançado em 2003, e dirigido por Bryan Singer, aborda a discriminação sofrida por mutantes. No final do filme é apresentado o texto que se segue: “Mutação: A chave para nossa evolução. Foi como evoluímos de um organismo unicelular para uma espécie dominante do planeta. É um processo lento, normalmente levando milhares de anos. Mas de tantos em tantos milênios a evolução dá um salto adiante.” Considerando o processo evolutivo, não é aceitável afirmar que a mutação (A) pode ser causada por um defeito no mecanismo de duplicação do DNA. (B) de um gene qualquer é um fenômeno raro e de baixa ocorrência. (C) pode ser causada por fatores ambientais, tais como calor, radiações e ação de produtos químicos. (D) não tem efeito evolutivo, quando ocorre em células somáticas. (E) é transmitida às gerações seguintes, quando ocorre em células germinativas. 3) (UERJ 2011) Leia abaixo a descrição do experimento por meio do qual se comprovou que a replicação do DNA é do tipo semiconservativo. Uma cultura de células teve, inicialmente, o seu ciclo de divisão sincronizado, ou seja, todas iniciavam e completavam a síntese de DNA ao mesmo tempo. A cultura foi mantida em um meio nutritivo e, após um ciclo de replicação, as células foram transferidas para um outro meio, onde todas as bases nitrogenadas continham o isótopo do nitrogênio 15N em substituição ao 14N. Nestas condições, estas células foram acompanhadas por três gerações seguidas. O DNA de cada geração foi preparado e separado por centrifugação conforme sua densidade. Observe o gráfico correspondente ao resultado obtido na primeira etapa do experimento, na qual as células se reproduziram em meio normal com 14N: nem sempre é possível obter a sequência de um gene a partir do mRNA. 5) (UFRJ 2007) As sequências de RNA mensageiro a seguir codificam peptídeos com atividades biológicas específicas. Suponha que mutações no DNA tenham causado as seguintes mudanças nas duas moléculas de mRNA (1 e 2): A tabela resumida do código genético mostra alguns códons e seus aminoácidos correspondentes: Em qual das mudanças (1 ou 2) há risco de perda ou de diminuição da atividade biológica? Justifique a sua resposta. 6) (ENEM 2009) A figura seguinte representa um modelo de transmissão da informação genética nos sistemas biológicos. No fim do processo, que inclui a replicação, a transcrição e a tradução, há três formas protéicas diferentes, denominadas a, b e c. Depreende-se do modelo que: (A) a única molécula que participa da produção de proteínas é o RNA. (B) o fluxo de informação genética, nos sistemas biológicos, é unidirecional. (C) As fontes de informação ativas, durante o processo de transcrição, são as proteínas. (D) é possível obter diferentes variantes protéicas a partir de um mesmo produto de transcrição. (E) a molécula de DNA possui forma circular e as demais moléculas possuem forma de fita simples linearizadas. 7) (UFRJ 2005) A soma das porcentagens de guanina e citosina em uma certa molécula de ADN é igual a 58% do total de bases presentes. a) Indique as porcentagens das quatro bases, adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T), nessa molécula. b) Explique por que é impossível prever a proporção de citosina presente no ARN mensageiro codificado por esse trecho de ADN. Observe, agora, os gráficos correspondentes aos resultados obtidos, para cada geração, após a substituição do nitrogênio das bases por 15N: Gabarito Aula 8 1) 2) 3) 4) Os gráficos que correspondem, respectivamente à primeira, à segunda e à terceira gerações são: (A) X, Y, Z (B) Z, Y, X (C) Z, X, Y (D) Y, Z, X 4) (UFRJ 2011) A sequência de DNA de um gene dos procariotos pode ser deduzida a partir da sequência de seu RNA mensageiro (m-RNA). Já no caso dos eucariotos, frequentemente essa técnica não é adequada para determinar a sequência completa dos nucleotídeos do gene. Explique por que, no caso dos eucariotos, 5) 6) 7) C B C Nos eucariotos, logo após a transcrição ocorre, tipicamente, o processo da editoração do RNA, que consiste na eliminação dos íntrons e a junção das extremidades remanescentes (éxons) que comporão o RNAm. A dedução da sequência do gene não é possível porque o caminho inverso produzirá informação incompleta, isto é, sem as sequências dos íntrons. A mudança 2, pois é a única que provoca troca de aminoácidos. Essa troca altera a estrutura do peptídeo, o que pode alterar a sua função. D a – Como C=G e C + G = 58%, temos C = G = 58%/2 = 29%. Da mesma forma, como A = T e A + T = 100% - 58% = 42%, temos A = T = 21%. b – Porque a proporção de bases apresentadas refere-se às duas cadeias da molécula de DNA, não sendo possível determinar a proporção de citosina na cadeia que será transcrita.