REvisão Infecção pelo papilomavírus humano durante a gravidez: o que há de novo? Human papillomavirus infection during pregnancy: is there anything new? Emilia Moreira Jalil 1 Geraldo Duarte 2 Patrícia Pereira dos Santos Melli 3 Silvana Maria Quintana 4 Palavras-chave Infecções por Papilomavírus Gravidez Doenças sexualmente transmissíveis Keywords Papillomavirus infections Pregnancy Sexually transmitted infections Resumo Sabe-se que a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) apresenta ampla distribuição na população, sendo considerada a doença sexualmente transmissível (DST) mais frequente mundialmente. Sua transmissão ocorre por exposição sexual em cerca de 98% dos casos e seu pico de positividade é observado entre mulheres na idade reprodutiva, principalmente nos primeiros anos de atividade sexual. Taxas de prevalência em gestantes variam de 5,5 a 65%, dependendo do meio semiótico utilizado e da população avaliada. Apesar da possibilidade de as modificações fisiológicas da gravidez interferirem na evolução da infecção pelo HPV, ainda é controverso se a gravidez provocaria maior vulnerabilidade a essa infecção. As condutas diagnóstica e terapêutica perante as formas clínica e subclínica da infecção apresentam diferenças entre gestantes e não gestantes. Uma das complicações mais temidas da transmissão materno-fetal do HPV é a papilomatose da laringe, doença extremamente grave, mas felizmente rara. A positividade para o HPV nos recém-nascidos parece ser transitória. A maioria deles elimina o vírus em curto espaço de tempo. Destaca-se que o pré-natal representa excelente oportunidade de contato entre a mulher e o sistema de saúde, principalmente em populações menos favorecidas, possibilitando o rastreamento de lesões pré-neoplásicas e das doenças sexualmente transmitidas, dentre elas a infecção pelo HPV. Abstract It is know that human papillomavirus (HPV) infection has high distribution within the population, being considered the most frequent sexually transmitted disease (STD) worldwide. Its transmission occurs by sexual exposition in 98% of the cases and its highest positivity occurs in women’s reproductive age, mainly during the first years of sexual activity. Prevalence rates at pregnancy varies from 5,5 to 65%, depending on the technique used and the studied population. Although pregnancy physiological modifications can interfere in HPV infection, there are controversies about pregnancy being a cause of more vulnerability to this infection. The diagnostic and therapeutic approaches to the clinical and subclinical forms of infection during pregnancy are different compared to those followed in non-pregnant women. One of the most feared complications of the maternal-fetal transmission is the respiratory papillomatosis, extremely serious, but fortunately rare. The HPV positivity seems to be transitory in the newborn infants. The majority of them eliminate the virus within a short period of time. It is worthwhile to mention that antenatal follow-up represents an opportunity of contact between the woman and the health system, specially in less assisted populations, making possible the screening of intraepithelial lesions and sexually transmitted diseases, among which is the HPV infection. Doutoranda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) – Ribeirão Preto (SP), Brasil Professor titular da FMRP-USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil Médica assistente do Hospital das Clínicas da FMRP-USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil 4 Professora doutora da FMRP-USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil 1 2 3 Jalil EM, Duarte G, Melli PPS, Quintana SM Introdução A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) apresenta ampla distribuição entre a população, sendo considerada a doença sexualmente transmissível (DST) mais frequente em todo o mundo. Considera-se que 75% da população sexualmente ativa entrem em contato com um ou mais tipos de HPV durante sua vida.1 Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 630 milhões de pessoas estão infectadas pelo HPV, o que representa uma prevalência mundial de 9 a 13%. Apesar de ser transitória na maioria dos casos, a infecção pelo HPV é comum e significativa no grupo de mulheres com vida sexual ativa. Dados da literatura mostram que o pico de positividade para essa infecção ocorre em mulheres na idade reprodutiva, principalmente nos primeiros anos de atividade sexual. O conhecimento das características peculiares dessa infecção durante a gravidez é necessário para uma abordagem adequada, já que muitas vezes o pré-natal consiste em oportunidade única de contato entre a mulher e a rede de assistência à saúde. Este artigo visa a revisar os principais tópicos que envolvem a infecção pelo HPV durante a gravidez à luz dos conhecimentos atuais. Foram revisados trabalhos publicados entre 1991 e 2007. Epidemiologia da infecção pelo HPV durante a gravidez Diversos fatores podem influenciar na prevalência e na incidência da infecção pelo HPV, destacando-se as características da população avaliada e o método diagnóstico utilizado. Considerando-se essas variáveis, as taxas de prevalência em gestantes variam de 5,5 a 65% (Tabela 1), conforme divulgado por Medeiros et al.2 Dados preliminares de um estudo brasileiro multicêntrico, realizado em seis capitais, mostrou prevalência de 33,4% no grupo de gestantes.3 Em estudo realizado recentemente avaliando gestantes adolescentes e utilizando técnicas de Tabela 1 - Prevalência da infecção pelo HPV em gestantes* Estudo Bandyopahyay et al., 2003 Pakarian et al., 1994 Puranen et al., 1997 Smith et al., 2004 Tenti et al., 1999 Tseng et al., 1998 Watts et al.,1998 Xiaoping et al., 1998 Xu et al.,1995 Total *Modificada a partir de Medeiros et al., 2005. 132 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 Prevalência (%) 36,8 65,0 39,0 30,0 5,5 22,5 63,0 35,6 53,3 24,3 biologia molecular para diagnóstico, o DNA-HPV foi detectado em 51,7% das pacientes.4 Segundo dados da literatura, o padrão de redução nas taxas de infecção pelo HPV com o aumento da idade observado em mulheres fora do período gestacional foi constatado também em mulheres grávidas.5 Armbruster-Moraes et al.,6 em estudo que avaliou alterações citológicas escamosas de origem indeterminada (ASCUS), detectaram o material genético do HPV (DNA-HPV) em 48% das amostras. Diversos estudos foram realizados na tentativa de estabelecer se há diferença na prevalência da infecção pelo HPV entre gestantes e não gestantes, porém os resultados são controversos. Enquanto alguns autores relatam aumento na detecção do DNA-HPV durante a gravidez,7,8 outros mostram não haver tal relação.9,10 Recentemente, em um estudo longitudinal, foi observado que não houve diferença na prevalência da infecção em mulheres portadoras do vírus da imunodeficiência humana (HIV) comparando-se as taxas de infecção antes, durante e depois da gravidez.11 Em relação aos efeitos da influência da idade gestacional sobre a infecção pelo HPV, também não há consenso na literatura pertinente. Alguns trabalhos demonstraram aumento proporcional da positividade para o DNA-HPV com a idade gestacional,12 ao passo que outros não detectaram estas diferenças.13 Trabalho realizado com gestantes e não gestantes não encontrou diferença na prevalência entre os dois grupos, porém demonstrou redução significativa da carga viral com a evolução da gravidez.5 Sobre a prevalência da infecção pelos HPVs de alto risco (HRHPVs) separadamente, manteve-se a discrepância nos relatos: houve trabalhos mostrando aumento desses subtipos virais em mulheres grávidas8,13 e outros que não identificaram diferença10,11 ou até mesmo redução dos HR-HPVs durante a gestação.9 Já se sabe que a infecção pelo HIV aumenta a prevalência da infecção pelo HPV e das lesões intraepiteliais (LIE) cervicais. Tal interação pode ser observada também em gestantes. Um estudo tailandês realizado em população de gestantes infectadas pelo HIV identificou infecção pelo HPV em 35,5% das pacientes,14 taxa semelhante à encontrada por Minkoff et al.11 em grande estudo prospectivo. Em população de gestantes infectadas pelo HIV acompanhada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, observou-se que, utilizando a técnica de reação em cadeia da Polimerase (PCR), 77% delas eram positivas para o HPV. O uso regular da terapia antiretroviral (TARV) altamente ativa não foi capaz de induzir a eliminação do HPV nem de alterar a história das LIE cervicais em mulheres não grávidas.15 Infecção pelo papilomavírus humano durante a gravidez: o que há de novo? Hipoteticamente, poder-se-ia deduzir que a TARV utilizada durante a gravidez também não seria capaz de modificar a história natural da infecção pelo HPV em mulheres grávidas infectadas pelo HIV. No entanto, não existem estudos específicos sobre esse tópico. A infecção pelo HPV durante a gravidez As modificações fisiológicas da gravidez, incluindo alterações imunológicas, podem interferir na infecção pelo HPV. A observação clínica mostra aumento das lesões condilomatosas nesse período tanto no número de mulheres acometidas quanto no tamanho e quantidade das lesões.16 As condutas diagnóstica e terapêutica perante as formas clínica e subclínica da infecção durante a gestação apresentam divergências em relação àquela seguida em mulheres não grávidas. Vários aspectos da infecção pelo HPV durante o ciclo gravídico-puerperal permanecem controversos. Sugere-se que há maior suscetibilidade a algumas infecções durante a gravidez. Uma das explicações para esse fato é que as alterações imunes que ocorrem durante a gravidez tendem a manter normal a resposta humoral, enquanto suprimem a imunidade celular, favorecendo principalmente a infecção por patógenos intracelulares. Outro fator sugerido é a participação dos hormônios no aumento da replicação do HPV. Como vários deles estão aumentados durante a gravidez, haveria maior vulnerabilidade à infecção pelo HPV nesse período. Essa hipótese baseia-se na detecção de receptores para esteroides no genoma do vírus. Como relatado anteriormente, não houve comprovação de tais hipóteses em estudos clínicos abordando a influência da gestação na história da infecção pelo HPV e não há consenso na literatura sobre esse tópico. A ocorrência de complicações obstétricas, como abortamento, ruptura prematura de membranas, prematuridade, corioamnionite, parecem decorrer de condições associadas ao HPV e não dele propriamente, sendo essencial o tratamento de outras infecções presentes durante o pré-natal.16 Lesões subclínicas e gravidez O rastreamento para câncer cervical é realizado rotineiramente durante o pré-natal de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde. Alterações citológicas são detectadas em cerca de 5% das gestações, casos em que a paciente deve ser encaminhada para a colposcopia. A realização do exame colposcópico durante a gravidez é dificultada pelas alterações que ocorrem no trato genital inferior (deciduose), que podem confundir profissionais menos experientes com lesões cervicais de alto grau. Entretanto, essa dificuldade não se torna um empecilho ao uso da técnica.17 Segundo dados de Palle et al.,18 o estudo anatomopatológico foi negativo para neoplasia intraepitelial em 34% dos casos com alteração citológica em gestantes, mostrando a importância do tripé diagnóstico mesmo durante a gravidez (citologia, colposcopia e histologia). Apesar do receio existente, a realização de biópsias cervicais já mostrou ser segura durante a gravidez, associada a um risco muito baixo de sangramento genital.17 Além disso, o exame colposcópico não associado à biópsia cervical apresenta um risco significativo de subestimar a severidade da lesão. A abordagem conservadora das LIE cervicais durante a gravidez está baseada em uma grande coorte, realizada ao longo de 15 anos, que concluiu ser adequado assumir conduta expectante perante as LIE em gestantes, postergando o tratamento para o período puerperal.19 O acompanhamento das LIE durante a gravidez é factível porque existe possibilidade de regressão no puerpério associada a risco mínimo de progressão para carcinoma de colo. As taxas de regressão relatadas na literatura variam de 12 a 70%. Portanto, a conduta atual para mulheres grávidas com LIE cervical é expectante, com acompanhamento colpocitológico a cada 8 a 12 semanas.16,20 A biópsia cervical pode e deve ser realizada a fim de se determinar o grau da lesão, podendo ser repetida caso haja suspeita de progressão. Lesões clínicas e gravidez Como referido anteriormente, as lesões HPV-induzidas sofrem influência das alterações fisiológicas da gestação. Acredita-se que a imunomodulação e o aumento da vascularização durante a gestação facilitem o surgimento e exacerbação das lesões condilomatosas.16 Por se tratarem de lesões de alta transmissibilidade, é recomendado realizar o tratamento dessas lesões habitualmente antes da 34ª semana de gestação a fim de permitir a cicatrização adequada do local antes do parto.21 Dentre as possibilidades de controle da infecção pelo HPV, os tratamentos físicos são preferidos durante o período gestacional. Podem ser utilizados eletrocauterização, criocauterização, laser de CO2 e métodos cirúrgicos. O laser de CO2 vem sendo utilizado com sucesso durante a gestação, permitindo inclusive a abordagem de lesões extensas com efeito estético bastante satisfatório e sem complicações obstétricas relacionadas à técnica. Para aqueles que não têm acesso à laserterapia, a destruição das lesões com bisturi de alta frequência é uma boa alternativa.21 A podofilina, podofilotoxina e 5-fluoracil são contraindicados durante a gestação por seus efeitos embriotóxicos.16 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 133 Jalil EM, Duarte G, Melli PPS, Quintana SM O ácido tricloroacético (ATA) não tem sua farmacocinética bem estabelecida, sendo preterido em relação a outras opções. Não existem estudos bem controlados sobre o uso do imiquimod em mulheres grávidas, portanto seu uso também não é recomendado durante a gestação. Infecção latente e gravidez Com o desenvolvimento das técnicas de biologia molecular, foi possível detectar o DNA do HPV mesmo em mulheres assintomáticas. Diversos estudos foram realizados com o objetivo de determinar a relação custo-benefício do uso de técnicas de biologia molecular na detecção do HPV. Atualmente, a Captura Híbrida II, capaz de detectar 13 HPVs de alto risco (HR-HPV), tem sido associada à citologia cervical para rastreamento de lesões pré-malignas em mulheres com mais de 30 anos. O uso de técnicas de biologia molecular teria o mesmo papel em mulheres grávidas ou não para fins clínicos, mas não modificam as condutas preconizadas. Hoje, as técnicas de biologia molecular são utilizadas em protocolos de pesquisa a fim de se determinar com maior acurácia a prevalência da infecção pelo HPV em gestantes e a possibilidade de influência da gestação na positividade para o vírus. Tem sido relatado que a maioria das gestantes com infecção pelo HPV apresenta citologia normal, dado que está de acordo com informações obtidas para a população sexualmente ativa, da qual 10% é positiva para o HPV, mas não apresenta alterações citológicas.1 Ainda não está definida a importância do diagnóstico da infecção latente em gestantes. Aparentemente, são infecções transitórias e sem maior significado para o desenvolvimento de doenças na maioria dos casos.9 O papel dessa forma de infecção para a transmissão vertical, bem como das infecções subclínicas, ainda não está estabelecido, como será exposto a seguir. Tabela 2 - Risco Relativo da Transmissão Materno-fetal do HPV de acordo com o tipo de parto (vaginal versus cesárea)* Estudo RR IC 95% valor de p Bandyopahyay et al., 2003 0,9 0,2-4,3 0,6 Puranen et al., 1997 1,5 0,8-2,6 0,04 Smith et al., 2004 9,3 1,1-73,0 <0,01 Tenti et al., 1999 6,9 0,4-105,0 0,1 Tseng et al., 1998 1,8 0,9-3,5 0,07 Xiaoping et al., 1998 1,5 0,5-3,9 0,3 Xu et al.,1995. 1,6 0,8-3,4 0,6 * Modificada a partir de Medeiros et al., 2005. (1) Risco relativo; (2) Intervalo de confiança 134 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 (1) (2) Transmissão vertical Sabe-se que a complicação mais temida decorrente da transmissão materno-fetal do HPV é a papilomatose de laringe (PL), lesão extremamente grave, mas felizmente rara. Sua incidência é de 2 a 43 casos em 1 milhão de crianças. Ao avaliar mulheres que apresentavam história de condilomatose durante a gestação, Silverberg et al.22 detectaram risco de 6,9 casos em 1.000 nascidos vivos. Esse estudo identificou a presença de condilomatose durante a gestação como o principal fator de risco associado à PL, aumentando o risco cerca de 230 vezes. A duração do trabalho de parto maior do que dez horas foi associada a maior risco de PL, porém de maneira bem menos significativa. Vale destacar que a cesárea não alterou o risco para a PL quando comparada ao parto vaginal. Em meta-análise sobre a transmissão vertical do HPV, foram observadas taxas de infecção mais baixas com a cesariana em relação ao parto vaginal (Tabela 2). Entretanto, a cesárea não foi capaz de proteger o recém-nascido (RN) da contaminação, não sendo recomendada para esta finalidade.2 A via de parto continua dependente das condições obstétricas, sendo indicada a cesárea somente nos casos de grandes condilomas com obstrução do canal de parto ou risco de hemorragia catastrófica. Diversos estudos avaliaram a infecção pelo HPV em RNs nos primeiros dias de vida. As taxas variaram de 1,6 a 73%. Em meta-análise realizada por Medeiros et al.2, o risco relativo de infecção dos RNs de mães positivas para o HPV variou significativamente (Tabela 3). Muitos autores têm questionado se essas altas taxas refletem realmente infecção ou apenas contaminação dos RNs.23 Independentemente dessa questão, a positividade para o HPV nos neonatos parece ser transitória, e a maioria dos RNs elimina o vírus em pouco tempo.24 A detecção do DNA-HPV no líquido amniótico, nas membranas fetais e no material trofoblástico é variável. A confirmação de tais resultados seria útil na determinação das vias de contaminação Tabela 3 - Risco de transmissão materno-fetal do HPV* Estudo Bandyopahyay et al., 2003 Pakarian et al., 1994 Puranen et al., 1997 Smith et al., 2004 Tenti et al., 1999 Tseng et al., 1998 Watts et al.,1998 Xiaoping et al., 1998 Xu et al.,1995 RR(1) 2,5 1,8 8,2 4,6 40,8 42,2 0,3 40,8 12,2 * Modificada a partir de Medeiros et al., 2005. (1) Risco relativo; (2) Intervalo de confiança. IC 95%(2) 0,9-6,7 0,6-5,2 3,7-17,0 1,2-18,4 24,5-6803,0 13,0-132,0 0,08-1,4 2,5-667,0 1,8-81,0 valor de p 0,1 0,3 <0,001 0,01 <0,001 <0,001 0,2 <0,001 <0,001 Infecção pelo papilomavírus humano durante a gravidez: o que há de novo? pelo HPV, sendo identificado se a infecção ocorreria apenas no canal de parto ou também durante a vida intrauterina, seja via ascendente, seja transplacentária. Segundo dados atuais da literatura, o HPV não tem transmissão hematogênica, pois não faz viremia. Além disso, o vírus não é excretado no leite, não sendo possível sua transmissão através da amamentação. Conclusões A gestação apresenta peculiaridades em relação à infecção pelo HPV, refletindo-se nas diferenças no manejo da gestante em comparação à não-gestante. A observação clínica favorece a hipótese de que há aumento na frequência de lesões HPV-induzidas durante a gravidez, o que não é consenso na literatura. O pré-natal representa uma oportunidade de contato entre o sistema de saúde e a mulher, principalmente em populações menos favorecidas. O rastreamento de lesões pré-neoplásicas e das DST é essencial para a quebra no ciclo de disseminação dessas doenças. Mesmo com todos os avanços obtidos, existem lacunas do conhecimento acerca da infecção pelo HPV durante a gravidez que necessitam de esclarecimento como, por exemplo, o papel da infecção latente para a transmissão vertical. Faz-se necessária a realização de mais estudos abordando o tema a fim de esclarecer aspectos ainda controversos dessa infecção no ciclo gravídicopuerperal. Com o emergir de novos conhecimentos, as condutas atualmente estabelecidas podem ser modificadas com vistas a melhorar o bem-estar da mulher durante a gestação e minimizar seus riscos durante e após a gravidez. Leituras suplementares 1. The ALTS Group. 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