A IMPORTÂNCIA DA SEMENTE NA AGRICULTURA Melissa Walter1 A relação entre homem e a natureza sofreu profunda modificação, quando este percebeu a possibilidade da semente multiplicar a planta que lhe deu origem. O comportamento nômade inicial, deslocando-se atrás da caça, pode ser alterado pelo próprio homem, fixando-se em local desejada, cultivando seus alimentos e formando as primeiras comunidades. Portanto, a constatação da relação semente-planta-sementes teve um papel fundamental no desenvolvimento da agricultura e história da civilização. As sementes representam um meio de sobrevivência das espécies vegetais, visto que resistem a condições adversas que seriam fatais a essas espécies e, mesmo após a extinção das plantas que lhes deram origem, elas podem se desenvolver e originar novas plantas. Elas são o principal veículo de reprodução das plantas através do tempo e no espaço, e a forma de distribuir os melhoramentos genéticos às sucessivas gerações. Além disso, também apresentam importância econômica como alimento (correspondem a 60-70% dos alimentos consumidos mundialmente) e são transformadas pela agroindústria em uma variedade de produtos. Pela definição botânica, semente é o óvulo desenvolvido após a fecundação, que contém embrião, reservas nutritivas e tegumento. A Legislação Brasileira (Lei nº 10711, de 5 de agosto de 2003) apresenta um conceito mais amplo, definindo semente como o material de reprodução vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de semeadura. Nos últimos anos, o Brasil, país essencialmente agrícola, definiu-se pelo aumento da produção e da produtividade agrícola, para elevar a produção de grãos a um patamar superior a 100 milhões de toneladas. Através de dados obtidos entre os anos de 1990 e 2003, observase que a produção de grãos cresceu 131%, embora o crescimento da área cultivada no País tenha sido de apenas 16,1%, graças ao aumento de 85,5% na produtividade, que, em termos médios, para as grandes culturas, passou de 1.500 para 2.800 kg/ha. Estes resultados estão diretamente relacionados à utilização de sementes de qualidade, com capacidade de produção, pureza genética, alta qualidade fisiológica e boa sanidade, parâmetros esses que contribuem significativamente para que altos níveis de produtividade sejam alcançados. 1 Farmacêutica ,Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, E-mail: [email protected] A relação entre utilização de sementes e produtividade é exemplificada na Figura 1 abaixo, que apresenta a produtividade e a taxa de utilização de sementes de soja. Com o aumento na taxa de utilização de sementes de 50% para 90%, observa-se um aumento de 28% na produtividade, que passa de 2.500 para 3.200 kg/ha. Produtividade (kg/ha) 3500 3000 2500 2000 1500 1000 0 20 40 60 80 100 Taxa de utilização de sementes (%) Figura 1. Relação entre produtividade e taxa de utilização de sementes de soja, nos estados brasileiros com a menor e a maior médias estaduais (Abrasem, 2005). Apesar dos benefícios produzidos pelo uso de sementes, tem-se observado uma redução na utilização de sementes certificadas nos últimos anos, as quais têm sido substituídas por sementes próprias ou piratas, sem qualidade comprovada, devido ao menor custo destas. No Rio Grande do Sul, em 1998 o uso de sementes certificadas de soja era de 65%, caindo para 3% em 2004. Efeito semelhante é observado para o arroz e para o trigo, cuja taxa de utilização decaiu de 60% para 33% e 92% para 40%, respectivamente. Contudo, deve-se ressaltar que o maior custo da semente certificada acaba sendo compensado pela redução nos gastos com insumos e pela maior produtividade da lavoura. Desta forma, percebe-se a importância da semente, desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, onde a solução para alimentar a crescente população mundial passa pelo aumento na produção de grãos, proporcionado pela utilização de sementes de alta qualidade.