COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 1 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ UMA VISÃO REICHIANA DOS FATORES PSICOLÓGICOS QUE AFETAM A PELE José Henrique Volpi É durante o período embrionário que a pele se forma. Tal qual o sistema nervoso, a pele é derivada do folheto embrionário denominado ectoderma, que em sua evolução dobra-se sobre si mesmo formando o tubo neural, sendo que a parte externa deste irá formar a pele e a parte interna, o sistema nervoso. Então, o sistema nervoso é uma parte escondida da pele e a pele uma porção exposta do sistema nervoso. A pele é um dos maiores órgãos do corpo humano, correspondendo a 16% de seu peso. Recobre o corpo por inteiro, protegendo-o dos raios do sol, atritos e perda excessiva de água. Constituída por camadas de células em forma de placas (queratinócitos), a pele é marcada por uma rede de sulcos que a dividem em pequenos polígonos, que podem ser vistos a olho nu, como acontece quando olhamos para o dorso das mãos. Essas camadas, em número de três, recebem o nome de epiderme, derme e hipoderme. A epiderme, camada mais externa, é constituída por células epiteliais que produzem o pigmento que dá cor à pele, a melanina, e células de Langerhans, que propiciam a defesa imunológica. É da epiderme que se originam os anexos cutâneos como as unhas, os pêlos, as glândulas sudoríparas e as glândulas sebáceas. A derme se localiza entre a epiderme e a hipoderme e é responsável pela resistência e elasticidade da pele. É nessa camada, constituída por tecido conjuntivo, que encontramos os vasos sangüíneos e linfáticos, nervos e terminações nervosas. A hipoderme é a porção mais profunda da pele e é composta por feixes de tecido conjuntivo e uma reserva de gordura utilizada em eventuais necessidades calóricas. Além de ser uma camada de depósito de calorias, a hipoderme atua como um amortecedor, protegendo o organismo de traumas físicos externos (BEAR, CONNORS & PARADISO, 2002). A pele recebe constantes estímulos provindos do ambiente e identifica as distintas sensações, graças aos diferentes receptores nervosos especializados que estão esparramados pelo corpo todo. Apresenta quatro tipos de receptores: 1) as terminações nervosas livres, localizadas na parte ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 2 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ mais superficial da pele, responsáveis em identificar o toque, a pressão e a dor; 2) os discos de Merkel, que formam 25% dos receptores das mãos, estão localizados logo abaixo da epiderme e detectam a pressão e a vibração; 3) os corpúsculos de Meissner, que são localizados em sua maioria nas pontas dos dedos, identificam o tato conforme o movimento dos dedos sobre uma superfície; o corpúsculo de Vater-Pacini, “especialmente numerosos na região dos dedos onde há as linhas de impressões digitais” (MONTAGU, 1988, p. 24), identificam a pressão. São os mais numerosos e profundos. Portanto, o tato é o sentido mais intimamente associado à pele. Os pelos também apresentam a sua importância na identificação das sensações da pele o que é feito pelo folículo piloso, considerado um quinto tipo de receptor. Todas as informações identificadas pelos receptores nervosos são transmitidas ao cérebro em forma de sinapses. Primeiramente passam pela medula espinhal e seguem para a região somestésica do cérebro onde, basicamente, estimulam os neurônios do giro pós-central, estabelecendo relações com outras áreas. A pele é um órgão sensorial extremamente importante. Do ponto de vista psicológico vem sendo alvo de pesquisas que estão juntando as desordens psicogênicas com as somatogênicas que até pouco tempo eram negligenciadas. Mas, mesmo que as pesquisas psicobiológicas mostrem que “não há, propriamente, dermatoses nas quais o fator psicológico esteja ausente” (PERESTRELLO, 1994, p. 717), o tratamento indicado continua sendo apenas o medicamentoso (RAMSAY & O´REAGAN, 1988). A comunicação entre a mente, o sistema nervoso e a pele é constante e imediata, provocando alterações muito sutis, na maioria das vezes imperceptíveis. Porém, a pele é um órgão que expressa emoções. Fica enrubescida ou pálida quando a pessoa se encontra numa situação embaraçosa ou de vergonha, torna-se sensível quando numa situação de excitação sexual, mostra-se fria na presença de um estresse aversivo, transpira e eriça os pelos quando se depara com estados emocionais de raiva e medo, etc. Sua cor, cheiro, textura, beleza, pode atrair como também pode afastar as pessoas. Portanto, o ser humano reage com a pele, expressando suas mais íntimas dificuldades. ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 3 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ Segundo Navarro (1991): o fato de que a epiderme desenvolve-se embriologicamente do ectoderma, de onde também origina-se o sistema nervoso, autorizanos a afirmar que a pele é o nosso cérebro externo. Na pele está contido o nosso EU; por isso todos os distúrbios crônicos da pele exprimem um mau funcionamento do EU (p. 55). Há certas dermatoses (doenças da pele) que seguramente têm uma ligação muito estreita com estados emocionais. A psoríase é o exemplo mais eloqüente observado com freqüência em pacientes com um alto nível de ansiedade. O vitiligo é outra dermatose sobre a qual o estresse exerce importante influência. Por mais que os pais se sintam surpresos, com certa freqüência, as crianças também são vítimas de certas dermatoses de fundo emocional, em decorrência do estresse. A dermatite atópica, um tipo de alergia que pode aparecer logo aos primeiros meses de vida, é um exemplo. Hoje em dia, não se pode falar de um fator psicológico que possa precipitar, agravar ou perturbar distúrbios na pele. São inúmeros e todos relacionados a diversos fatores como, por exemplo, os traços de caráter, a adaptabilidade, as reações ao estresse, o estilo de vida e muitos outros. Portanto, empregamos o termo fator psicológico no intuito de demonstrar que são vários os fatores que estão relacionados, direta ou indiretamente no aparecimento ou desencadeamento de doenças na pele. A pele também foi alvo de pesquisas de Reich que, ainda que nos anos 30, foi o primeiro cientista capaz a medir a carga bioelétrica da pele durante o ato sexual, verificando as oscilações das cargas da superfície da pele que eram muito maiores do que as curvas elétricas da ação cardíaca. A conclusão foi que toda a superfície do corpo é constituída de uma membrana porosa que apresenta um potencial elétrico onde, em momentos de prazer, a carga se eleva e em momentos de desprazer, diminui. Foi assim, que Reich (1993) também comprovou fisiologicamente a teoria de Freud sobre as zonas erógenas, que são zonas de prazer e pôde afirmar que “o potencial de uma zona erógena não aumenta a menos que uma sensação fluida de prazer seja sentida nessa zona” (1975, p. 306). Cita como exemplo, um mamilo que pode ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 4 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ se tornar eriçado, sem que haja a sensação do prazer e o aumento do potencial. Portanto, o aumento do potencial é sempre acompanhado por uma intensificação da sensação de prazer. Isso demonstra que as neuroses deixam de ser “apenas os resultados de conflitos psíquicos e fixações infantis não resolvidos. Essas fixações e conflitos psíquicos causam perturbações fundamentais na regulagem da energia bioelétrica e, desse modo, se tornam somaticamente ancoradas” (REICH, 1975, pp. 312 e 313). Mas porque é a pele e não outro órgão qualquer que manifesta a doença sofrida por um estresse? Segundo o mapeamento do corpo humano feito por Reich (1995), a pele, juntamente com o sistema nervoso, olhos, ouvido e nariz, faz parte do primeiro segmento de couraça, denominado de segmento ocular. Esse segmento é bloqueado quando a criança passa por um estresse durante a gestação, parto ou primeiros dias de vida, na etapa de sustentação (VOLPI & VOLPI, 2002). Não temos como prever qual órgão que faz parte desse primeiro segmento será afetado, mas tudo indica que se o estresse for num momento precoce do desenvolvimento, irá afetar o sistema nervoso e posteriormente a pele, que pode sentir o resultado de um estresse até mesmo depois do nascimento porque a pele é o primeiro órgão de aprendizagem de um bebê. É através dela que irão se constituir os primeiros registros de aceitação ou rejeição, que já estão em evidência mesmo durante a gestação. O toque é um veículo de comunicação entre a mãe e o bebê que tem início na gestação e se prolonga pelo resto da vida. O toque faz com que a criança se sinta segura, acolhida, aceita. Portanto, a privação do toque pode trazer a sensação de rejeição e por conseqüência, registros na pele que irão se manifestar mais tarde em forma de doenças. Percebe-se também uma tendência de problemas de pele em pessoas com traços masoquista e narcisista, que tiveram mães inadequadas ou hiperprotetoras, pouco estimulantes ou indiferentes, despertando em seus filhos um sentimento de culpa e erotização masoquista no contato (NAVARRO, 1991). Dado o bloqueio no segmento ocular, em decorrência do estresse na etapa de sustentação (estresse primário), qualquer outro estresse que a pessoa venha a sofrer ao longo da vida (estresse secundário), irá trazer à tona a memória ancorada no primeiro segmento de couraça (ocular) e, por ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 5 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ conseqüência, a manifestação de uma forte carga de energia que se impele através da epiderme. O excesso de carga energética, somada ao bloqueio da pele, infla os tecidos, provoca coceiras e assim, ocorre a manifestação de algumas doenças. Junto com a coceira, encontramos um significado psicológico de ansiedade, agitação interna, dificuldade de tocar e ser tocado. Algumas pessoas, quando se deparam com dúvidas em relação a uma decisão, podem se sentir estressadas, agitadas e ansiosas. Isso faz com que a pele fique sensível e reaja com um desconforto, impelindo para fora esse desconforto como um fogo, uma ira interna, uma agressividade, que só é aliviada quando a pele for coçada. Nesse caso, o coçar conforta e acalma a pele “agitada”. Por isso é importante que a pessoa com problemas de pele tome consciência do que lhe arde, lhe irrita e a deixa desconfortável internamente para que possa colocar isso para fora, tornar consciente de forma a confortar e acalmar seu mundo interno agitado. REFERÊNCIAS BEAR, M. F; CONNORS, B. W & PARADISO, M. A. Neurociências. Desvendando o sistema nervoso. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. MONTAGU, A. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Summus, 1988. NAVARRO, F. Somatopsicodinâmica das biopatias. Rio de Janeiro: RelumeDumará, 1991. NAVARRO, F. Caracterologia pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995. PERESTRELLO, D. O fator psicológico nas doenças da pele. In PAIVA, L. M. & SILVA, A. M. P. Medicina psicossomática. 3ª ed. São Paulo: Artes médicas, 1994, pp. 717-731. RAMSAY, B. & O‘REAGAN, M. A suvery of the social and psychological effects of psoriasis. Br J Dermatol, 1988, pp. 118-201 REICH, W. A função do orgasmo. 12ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1975. REICH, W. Experimental investigation of the electrical function of sexuality and anxiety. In Pulse of the Planet, # 4, 1993, pp. 26-43. ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO 6 VOLPI, José Henrique. Uma visão reichiana dos fatores psicológicos que afetam a pele. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2009. ________________________________ VOLPI, J. H. & VOLPI, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional segundo a Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2002. José Henrique Volpi – CRP-08/3685 - Psicólogo, Psicodramatista, e Analista Reichiano. Mestre em Psicologia da Saúde (UMESP) e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR). Diretor do Centro Reichiano, Curitiba/PR. E-mail: [email protected] ____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]