região metropolitana e desenvolvimento: embates, desafios

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REGIÃO METROPOLITANA E DESENVOLVIMENTO: EMBATES,
DESAFIOS E INCERTEZAS NA RM DE CAMPINAS-SP
Orlando Moreira Junior1
Resumo: O presente trabalho expõe um debate envolvendo a relação entre criação
institucional de uma região metropolitana e o desenvolvimento, especialmente, econômico e
social. Prioriza-se uma análise geográfica do tema. Nesta, despontam uma série de
questionamentos que envolvem a criação da região metropolitana e os desdobramentos
socioespaciais, que nem sempre são favorecedoras do desenvolvimento regional. O
referencial empírico é a Região Metropolitana de Campinas-SP, na qual são observadas
uma série de aspectos que revelam uma diferenciação espacial entre as municipalidades
que a compõe. Ademais, procura-se contextualizar o conjunto das cidades da região a partir
dos aspectos econômicos atrelados ao processo de urbanização, por meio do qual é
possível verificar a constituição de espaços pautados na competitividade e na diferenciação.
Logo, tem-se uma série de fatores que representam desafios e incertezas na gestão e
planejamento regional que deveriam estar voltados para a promoção da equidade territorial.
Palavras-chave: região, desenvolvimento, metropolização.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é uma reflexão que surge com o desenvolvimento da pesquisa de
Doutoramento, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGCE-UNESP,
cujo título é “As cidades pequenas na Região Metropolitana de Campinas-SP: dinâmica
demográfica, papéis urbanos e (re) produção do espaço”. Diante da análise que vem sendo
realizada até o presente momento emerge a questão voltada ao desenvolvimento regional e
local, uma vez que se trata de uma das regiões mais dinâmicas economicamente do estado
de São Paulo e do Brasil.
A questão do desenvolvimento aparece diante de uma visão de metrópole
enquanto espaço de centralidade em relação ao restante do território, dominando e
articulando áreas de tamanho significativo.
Todavia, o desenvolvimento não ocorre de
1
Doutorando em Geografia pelo IGCE/UNESP. Bolsista CAPES.
Contato: [email protected]
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forma uniforme em todas as municipalidades de uma região metropolitana. Algumas
tenderam a continuar em permanente estado de estagnação.
Diversos
são os problemas
que afetam as regiões metropolitanas.
As
desigualdades e disparidades sociais e espaciais são visíveis aos olhos. É possível
perceber a existência de bairros com infraestrutura impecável e com residências de luxo,
coexistindo a curta distância, com bairros miseráveis, sem infraestrutura sanitária, com
problemas ambientais graves, com serviços públicos (de saúde, educação e segurança)
deficientes. Ademais, os atuais padrões de desenvolvimento tem resultado na degradação
socioambiental que aflige, sobretudo, as classes de menor poder aquisitivo, como a falta de
condições sanitárias mínimas em muitas áreas, destruição de recursos naturais.
Diante deste cenário, é que o presente trabalho procura discutir acerca da relação
entre a criação de regiões metropolitanas e as possibilidades efetivas de desenvolvimento
regional, tendo como referencial empírico a Região Metropolitana de Campinas-SP.
Ressalte-se
que
esta
proposta
está fundamentada
numa
leitura
geográfica
do
desenvolvimento regional e territorial. Desta forma, inicialmente procura-se discorrer sobre o
conceito de região na Geografia, procurando estabelecer suas interações com o
desenvolvimento. Em seguida, é feita uma análise crítica da criação de regiões
metropolitanas no país. Posteriormente, é realizada uma leitura da criação da RM de
Campinas, destacando algumas de suas características socioeconômicas e espaciais. Por
fim, procura-se, tendo por base esta região, discutir as interações entre o chamado
desenvolvimento e algumas questões ligadas aos processos econômicos e socioespaciais.
O CONCEITO DE REGIÃO NA GEOGRAFIA
A Geografia preocupa-se, principalmente, com a distribuição e organização dos
elementos no espaço. O estudo da região na Geografia estabelece a diferenciação de áreas
considerando o aspecto econômico, social, político, administrativo ou as condições naturais.
A concepção de região de Vidal de La Blache foi fundamental para as bases da Geografia
Regional, como destaca Sposito (2004), partindo da descrição dos aspectos físicos até
atingir os aspectos humanos, inicialmente, pela descrição da população e, posteriormente,
das relações econômicas, ou seja, estabelece uma combinação do conjunto de elementos
humanos e naturais.
Benko (1999) contribui com a compreensão histórica da interação entre economia e
espaço que dão suporte na construção daquilo que poderia ser denominado de Ciência
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Regional. Para tanto, se ampara na forte base econômica que fortaleceu o desenvolvimento
das teorias de localização, a partir da hierarquização das regiões, das cidades e de suas
áreas de influência. Esta abordagem, analítica e teórica, por muito tempo exerceu influência
sobre o pensamento geográfico, pois reúne predicativos que permitem sua interpretação: a
localização das atividades econômicas; a organização e estruturação do espaço; as
interações espaciais; e, o desenvolvimento regional.
Espaço, território, região, lugar e paisagem são conceitos-chave na Geografia.
Outrora considerada uma das mais importantes pela Geografia Clássica, o conceito de
região junto com o de paisagem, sofreram um relativo desprezo por parte dos geógrafos por
certo período. Os conceitos de espaço e de território caíram nas graças da Geografia e
dominaram o debate.
No entanto, a palavra região, bem como outros conceitos geográficos, sempre teve
largo uso pelo senso comum. Está presente em matérias jornalísticas, em planos de
governo ou mesmo utilizada no dia a dia para delimitar uma porção da superfície terrestre.
Portanto, cabe aqui uma preocupação geográfica, do ponto de vista científico, para tal
conceito. Este, sempre esteve ligado à diferenciação ou divisão da superfície terrestre. Isto
se estabelecia em função de alguma particularidade ou singularidade de sua realidade física
e/ou humana. Todavia, ela tem assumido novos e diferentes significados.
Convém retomar os ensinamentos de Corrêa (1991), Gomes (1995) e Lencione
(1999) quando clarificam que “região” não é um conceito unívoco e incontestável. Sua
aplicação não é exclusivamente geográfica, apesar de ser na Geografia que se encontram
as bases do desenvolvimento de conceitos e noções relativos à região (LENCIONI, 1999).
Porém, mesmo no âmbito desta ciência, este conceito assume variadas definições pelas
diversas correntes do pensamento geográfico.
Na Geografia Alemã despontou a noção de região natural. Já na Escola Francesa a
região surge como um dado concreto, no qual se desenvolve o conceito de região
geográfica. Esta seria uma extensão territorial onde se entrelaçam elementos humanos e
naturais, visto que, este conjunto de traços característicos grava no espírito do geógrafo a
ideia de região (VIDAL DE LA BLACHE, 1982). Além de levar a uma regionalização do
território francês, de acordo com as regiões geográficas, esta concepção também
influenciou, por exemplo, a primeira regionalização do Brasil.
A Escola Norte-Americana representa um momento de transição metodológica. De
acordo com Gomes (1995), a região é para Hartshorne uma construção intelectual. Esta
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corrente traz a noção de regionalização ao associar o espaço ao caráter idiográfico ou
nomotético da realidade. Dentro desta corrente, Lencione (1999), aponta que a Geografia
pode ser idiográfica quando estuda a relação de fenômenos particulares numa determinada
área e nomotética quando os fenômenos podem ser classificados em categorias,
possibilitando a dedução de leis gerais.
Para a Geografia Quantitativa segue a ideia de uma Geografia mais teórica. Nesta
escola a região é uma classe de área. Pode ser definida, estatisticamente, como um
conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as
existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares (CORRÊA, 1991).
Ou seja, as regiões são identificadas a partir de dados estatísticos. Esta corrente dá
destaque à explicação de padrões espaciais, via teorias de localização e de
desenvolvimento regional.
A Geografia Radical, segundo Gomes (1995), critica a região funcional e a técnica
estatística da corrente Quantitativa. Esta corrente do pensamento geográfico concebe a
região como parte de uma totalidade histórica e, portanto, não harmônica, daí a ênfase no
desenvolvimento desigual e combinado e no subdesenvolvimento (LENCIONE, 1999). A lei
do desenvolvimento desigual e combinado traduz-se, espacialmente, num processo de
regionalização, ou seja, de diferenciação de áreas. Assim, a região tem como característica
essencial a sua inserção na divisão territorial do trabalho e a associação de relações de
produção distintas. Nesta direção, Sposito (2004), embasado por uma Geografia Regional
marxista, afirma que o pensamento geográfico considera a incorporação da variedade local
à dinâmica capitalista, na qual a reestruturação industrial leva a reestruturação regional.
Fica explícito que as várias correntes do pensamento geográfico atribuíram
importância diferenciada para o estudo regional. Estes sempre tiveram carregados de um
arcabouço ideológico e político. O que influenciou a sua concepção, ora como plano de
discurso ora como objeto da prática. Ao mesmo tempo em que é inevitável refletir sobre sua
influência e nas contribuições que mantiveram com as políticas de planejamento e
desenvolvimento pela esfera pública, principalmente.
Afinal, refletir sobre a região envolve considerar os pontos de vista ou aspectos
econômicos, sociais, políticos, naturais, administrativos e a escala. Sendo que este último
sofre, na atualidade, as consequências diretas de um mundo globalizado. A globalização faz
com que se tenha um mosaico tão fragmentado de unidades espaciais que ou a região
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muda de escala ou se dissolve entre áreas descontínuas e redes globalmente articuladas
(HAESBAERT, 1999).
Contudo,
a
globalização
também
representa
um
discurso
de
possível
homogeneização do espaço mundial. Isto remonta para a ideia de que as regiões, neste
contexto, se dissolvem. Assim, na visão descrita por Haesbaert (op. cit.), tem-se uma
contraposição com a velha ideia de região como unidade espacial contínua, não
fragmentada. As questões regionais, conforme o autor, devem ser analisadas, no contexto
atual, a partir dos territórios-rede. Este representaria o papel articulador entre diversas
localidades ou países, visando estratégias de inserção no mercado globalizado.
Vê-se, assim, que a região engloba, simultaneamente, aspectos diversos. As
relações econômicas, políticas e sociais que se manifestam na escala local, são fortemente
influenciadas pelos interesses globais. Por conta disto, a questão da escala, cada vez mais,
é incorporada ao debate urbano e regional. O ordenamento territorial, particularmente nesse
momento de novos arranjos espaciais, voltados à inserção dos espaços à economia
globalizada, sofre influência de fatores associados a transformações multi-escalares.
No Brasil, os estudos regionais adquiriram importância a partir da criação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1937. Desde então, diversos
estudos procuraram discutir tanto o processo de regionalização do país quanto elaborar
estudos e políticas voltados para o crescimento econômico. Em certa medida, a região, em
geral, tendeu a manter uma relação intrínseca ao planejamento. Não por acaso, muitos
associam o insucesso dos planos de desenvolvimento regional, no país, ao descrédito do
próprio conceito de região.
Neste contexto a concepção de desenvolvimento regional é substituída pela ideia
de desenvolvimento territorial. Mas isto não significa que as regiões deixaram de existir.
Pelo contrário, assumiram uma maior complexidade analítica. O comando econômico e os
interesses do capital ditam a direção dos fatores favoráveis à localização das atividades
desempenhadas numa região ou em determinada localidade. O desenvolvimento está
vinculado à noção de modelo na análise e de ordenação do território. Há um impacto
recíproco nos territórios e nos modelos de desenvolvimento, pelos atributos ou carências
dos territórios e pelas estratégias de desenvolvimento implementadas (VITTE, 2007)
Ante estes pressupostos, o presente trabalho visa contribuir na reflexão do
desenvolvimentos local e/ou regional da Região Metropolitana de Campinas, abordando
temas frequentes à Geografia Econômica e à Geografia Regional. Inicialmente, é valido
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destacar que a dinâmica territorial desta região será definida aqui, de acordo com a proposta
de Pires (2006), cuja base advém da escola da regulação. Nesta perspectiva, a dinâmica
territorial pode ser compreendida como um encontro entre as estratégias das empresas com
um potencial local de recursos que revelam ou ativam essas estratégias (PIRES, 2006).
Sem deixar de considerar, é claro, o papel da conformação institucional de uma região.
Sob este olhar o espaço, a região ou o território se apresentam como instrumentos
para pensar a organização da sociedade, suas atividades e relações. No entanto, indiferente
da categoria de análise, deve-se considerar o fato de toda cidade ter sua biografia, o que
dificulta a elaboração de generalizações. No caso de se considerar o estudo sobre as
regiões metropolitanas, esta problemática se intensifica devido q diversidade das formas e
significados que elas assumem no território brasileiro.
AS REGIÕES METROPOLITANAS NO BRASIL: AS DIMENSÕES GEOGRÁFICA,
INSTITUCIONAL E REAL
O estudo das metrópoles foi, no passado, campo de interesse da Geografia
Regional. Isto devido, sobretudo, a sua ordem de grandeza e de influência sobre
determinada área. Posteriormente, os estudos de Geografia Urbana permitiram aprofundar e
identificar os principais paradigmas sobre a cidade e o urbano. Numa perspectiva para além
da relação entre a forma e a função, comumente estabelecida por urbanistas, arquitetos e
engenheiros, a Geografia Urbana se mostra mais preocupada com as relações entre forma
e conteúdo.
Diante disto, cabe aqui refletir sobre a criação desenfreada que vem ocorrendo no
país nos últimos anos. Este aspecto cria, por um lado, embates teóricos e experienciais
acerca de região metropolitana, pois existe na maioria das vezes, um descompasso entre a
concepção geográfica e institucionalizada desta forma urbana e o fato concreto em sua
dimensão espacial. Por outro, recai sobre as incertezas nos objetivos legais da criação de
uma região metropolitana enquanto meio efetivo de promover o desenvolvimento regional.
O processo de metropolização é uma característica marcante da urbanização
brasileira. Em 2010, o país possuía trinte e nove regiões metropolitanas distribuídas por todo
território nacional. porém, estas são complexas e heterogêneas, cujas diversidades se
manifestam em termos de tamanho de área e de população, além da existência de
municipalidades com variadas classes populacionais.
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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região
Metropolitana é uma região estabelecida por legislação estadual e constituída por
agrupamentos de municípios limítrofes (que fazem fronteiras), com o objetivo de integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.
As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei, em 1973, que as definiu
como um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma
cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comum, que deveriam ser
reconhecidos pelo IBGE. Todavia, a Constituição Federal de 1988 delegou aos estados a
competência para criar e institucionalizar regiões metropolitanas:
Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.
(BRASIL, 1988)
Portanto, cada unidade federativa do Brasil tem autonomia para criar suas Regiões
Metropolitanas, sendo a concentração populacional e a conurbação os principais critérios
utilizados. A formação dessas áreas objetiva a realização de políticas públicas destinadas à
melhoria da qualidade dos serviços públicos, englobando todos os municípios da região.
Apesar de uma região metropolitana, no Brasil, ser instituída por lei, deve-se
admitir que enquanto fato concreto do processo de urbanização, uma região metropolitana
não se cria. Os processos e fenômenos que engendram a produção do espaço, por si,
consolidam sua formação. Isto significa que esta não pode ser criada, apenas reconhecida,
enquanto fenômeno geográfico. Sua institucionalização ocorre com a finalidade de integrar a
organização, planejamento e gestão de interesse comum dos municípios.
Num estudo publicado em 2011 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) contribui para a análise desta situação. De acordo com a pesquisa, a mudança na
Constituição de 1988, que atribui a competência de criar regiões metropolitanas aos
estados, colaborou para intensificar o fenômeno de metropolização institucional. Recai-se
num descompasso entre região metropolitano enquanto fenômeno geográfico e como forma
espacial institucionalizada.
Como resultado tem-se situações díspares no país. Existem regiões metropolitanas
compostas tanto por apenas dois municípios (como é o caso de Macapá), quanto por
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regiões com mais de trinta (como são os casos, por exemplo, de São Paulo e Belo
Horizonte). Também cria-se aquelas sem a existência de uma metrópole propriamente dita.
Diversos
apontamentos
gerais
podem
ser
elencados
nesta
análise
de
incongruência entre as dimensões geográfica, institucional e real de uma região
metropolitana. Pode-se acrescentar, ainda, a existência de regiões metropolitanas com
população total inferior a 500 mil de habitantes (Macapá, Sudoeste Maranhense e Lages).
Há, também, casos em que se tem a preponderância de cidades que podem ser
consideradas pequenas na composição de muitas das regiões metropolitanas (Carbonífera,
Vale do Aço e Agreste, por exemplo). Nota-se, então, grandes diferenças na área territorial e
no número de municípios que conformam as regiões metropolitanas.
Toda esta variedade de contextos anuncia que, mesmo havendo uma
institucionalização desenfreada de regiões metropolitanas no país, análises sobre elas
devem recair sobre o seu processo de metropolização. Isto significa apontar que este
cenário complexo, variado e multifacetado de regiões metropolitanas revela uma
incongruência entre uma definição geográfica e uma definição institucional (administrativa)
deste fenômeno urbano no território nacional. Os interesses políticos ou a falsa ideia de que
a criação de uma região metropolitana para gerir determinado território é a melhor saída
para resolver os chamados “problemas urbanos” ainda se sobressai, em detrimento de uma
concepção socioespacial.
A REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
Quando falamos de Campinas é possível remeter o pensamento para diversas
direções. A cidade de Campinas, uma das maiores cidades do Estado de São Paulo e de
grande dinamismo econômico, a qual poder-se-ia atribuir o conceito de tecnopolo definido
por Benko (2002). A Região Administrativa de Campinas, composta por 90 municípios, e
que, nos anos de 1960 e 1970, tornou-se um dos principais eixos de desenvolvimento do
Estado de São Paulo, o que lhe conferiu grande dinamismo populacional. A Região
Metropolitana de Campinas, formada por 19 municípios e que representa uma das áreas
mais dinâmicas economicamente do território nacional.
É interessante observar como Campinas envolve diferentes leituras regionais.
Campinas enquanto Região Metropolitana, Administrativa, de Governo, de áreas de
influência delimitadas pelo IBGE, ou mesmo como metrópole de equilíbrio ou polo de
crescimento. Estas diversas leituras de Campinas ou de suas diferentes regiões tornam-se
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ainda mais complexas ao considerar que existe ao redor da metrópole um conjunto de
cidades de porte médio juntamente com um número significativo de cidades pequenas.
Adiciona-se o fato de que muitas cidades que não faz parte da Região Metropolitana terem,
também, interligações importantes com Campinas.
Portanto, em termos de regionalização, tem seu início nos anos de 1960. Momento
fortemente influenciado pelas políticas territoriais de desenvolvimento. Já a criação da
Região Metropolitana ocorre no ano 2000, pela Lei complementar 870, obedecendo-se o
artigo 153 da Constituição Estadual e a Lei complementar 760/1994. Esta lei explica o
princípio de integração que deve estar presente na organização regional do Estado.
Na proposta de análise deste artigo será considerado os municípios que compõe a
Região Metropolitana de Campinas. Esta representa uma das regiões mais dinâmicas do
cenário econômico brasileiro. Na figura 1 está registrada a espacialização dos municípios
que formam a Região Metropolitana de Campinas., com base nos dados de 2010.
Figura 1: Mapa dos municípios que formam a Região Metropolitana de Campinas,
por classe de tamanho populacional em 2010.
Org. Orlando Moreira Junior, 2013.
Na figura pode-se observar que a Região Metropolitana de Campinas, em 2010,
possuía três municípios com menos de 25 mil habitantes, quatro com população entre 25 e
30 mil habitantes, três com população entre 50 e 75 mil, um na faixa entre 75 e 100 mil e
oito municípios com mais de 100 mil habitantes. Nota-se que nas duas primeiras classes, a
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maioria dos municípios encontra-se localizados na parte norte da metrópole, enquanto que
na porção leste e oeste, com exceção de Monte Mor, estão aqueles com mais de 100 mil.
Uma característica recente é da região é o elevado crescimento da população
urbana nas últimas décadas. A maioria dos municípios apresentou, de acordo com o censo
de 2010, mais de 90% de população urbana, índice maior que a média nacional. Como
consequência do aumento do número de pessoas vivendo nas cidades, ocorre o aumento
da expansão do espaço urbano dos municípios e da Região Metropolitana como um todo.
Um exemplo disto pode ser verificado na figura 2, que apresenta a evolução da mancha
urbana, em parte da região, entre os anos de 1973 e 2005. Apesar de omitir os municípios
de Americana, Santa Bárbara D´Oeste, Cosmópolis, Nova Odessa, Artur Nogueira, Santo
Antônio de Posse, Engenheiro Coelho e Holambra, a figura revela dois momentos diferentes
na composição da mancha urbana metropolitana. Esta figura permite observar o aumento da
urbanização e o crescimento do espaço urbano que dão condições geográficas para compor
um processo de metropolização.
Figura 2: Evolução da mancha urbana na Região Metropolitana de Campinas – 1973
e 2005. / Fonte: Adaptado de Melgaço, 2008.
Dentre os processos físicos que levam à metropolização, a implantação de rodovias
desponta como elemento fundamental, visto que propicia condições para integração entre
as cidades e a intensificação dos fluxos. Na atualidade, a Região de Campinas conta com
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um amplo sistema viário, bastante ramificado. Possui uma série de rodovias que servem de
ligação entre as cidades da área metropolitana. Além disto, apresenta importantes eixos que
dão acesso a outras regiões, fundadas em momentos diferenciados: Rodovia Anhanguera
(1940), Rodovia Dom Pedro (1972), Rodovia dos Bandeirantes (1978), e Rodovia Santos
Dumont (década de 1980).
Em suma, pode-se considerar que a Região Metropolitana de Campinas conta com
uma ampla malha viária que permitiu uma densa ocupação urbana, organizada em torno de
algumas cidades de porte médio e grande principalmente, certamente muito mais integrado
do que outras formas de conurbações e redes de cidades. Se por um lado, a urbanização e
industrialização ocorridas na Região geraram grandes potencialidades e oportunidades em
função da base produtiva, por outro lado, tem-se a proliferação de favelas, violência e
pobreza que denunciam as desigualdades socioespaciais.
O padrão de urbanização da região apresenta tanto áreas interligadas
espacialmente quanto áreas dispersas pelo território, distantes e descontínuas do núcleo
metropolitano. Num primeiro momento a urbanização é marcada pelo forte processo de
verticalização, em especial, na porção mais central e mais densamente urbanizada da
região. Posteriormente, muitas das novas áreas urbanas incorporadas representavam
loteamentos fechados e condomínios horizontais, residenciais e empresariais, localizados,
geralmente, distante dos centros urbanos tradicionais e ancorados no sistema rodoviário e
no transporte individual.
Ademais, a Região Metropolitana de Campinas é marcada, por um lado, pelo forte
dinamismo econômico e, por outro, pelas desigualdades socioespaciais. Mesmo a estrutura
industrial diversificada e de alta tecnologia, bem como os serviços especializados,
característico do dinâmico setor terciário, são marcados por uma forte concentração
espacial, como pode ser verificado na figura 3. Nesta é possível identificar que a localização
tanto das indústrias quanto dos serviços especializados encontram-se altamente
concentrados no núcleo metropolitano e em nos espaços atravessados, especialmente,
pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Nota-se também que aquelas cidades com
populações inferiores a 50 mil habitantes são as que possuem números menores de
indústrias e serviços especializados, como é o caso, por exemplo, de Engenheiro Coelho,
Artur Nogueira, Santo Antônio da Posse, Holambra, Cosmópolis e Monte Mor.
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Figura 3: Localização das indústrias e dos serviços especializados na Região
Metropolitana de Campinas (2002).
Fonte: CAIADO; PIRES, 2006.
O processo de expansão urbana e da organização espacial da população e das
atividades econômicas expressam uma ocupação do espaço metropolitano marcados,
contraditoriamente pelos fenômenos da dispersão e da concentração. Dispersão territorial
da malha urbana e da população e concentração de atividades econômicas, serviços e
infraestruturas em alguns centros urbanos.
As transformações recentes na distribuição de atividades econômicas no
território metropolitano, associadas à nova fase de processo produtivo
mundial, refletem-se na organização espacial e funcional das metrópoles,
redefinindo as relações de concentração e centralidade entre os municípios
que a constituem. (CAIADO; PIRES, 2006, p. 291)
Uma consequência deste processo é a necessidade de deslocamentos pendulares
que são intensos na região. Um número significativo de pessoas circulam em carros
particulares, ônibus, fretados ou vans para se dirigirem até os locais de trabalho, as
universidades; para consumir nos shoppings centers ou nos grandes centros comerciais; ou
para usufruir de serviços especializados diversos.
Deste modo, muitas cidades são, corriqueiramente, intituladas de cidade dormitório,
devido os movimentos pendulares diários. Nestas cidades, ditas de caráter essencialmente
residencial, parcela da população realiza suas atividades, principalmente aquelas
relacionadas ao trabalho, em uma cidade próxima, geralmente de maior importância
econômica. A distância entre localização da população e localização dos empregos são
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fatores que contribuem para a exclusão de parte da população metropolitana (CAIADO;
PIRES, 2006). Segundo estes autores, como meio de amenizar a situação o poder público
adota políticas habitacionais e de regulação urbana, destinadas prioritariamente à população
de baixa renda. Contudo, estes empreendimentos, os conjuntos habitacionais, geralmente,
representam outras formas de contribuir com os processos excludentes, visto que se
localizam as margens das cidades e representam situações urbanas precárias de
urbanidade.
Estas características da forma de expansão, uso, ocupação e organização espacial
da Região Metropolitana de Campinas simbolizam uma complexidade que envolve questões
que atingem o nível metropolitano. O espraiamento das áreas urbanizadas, a concentração
das atividades econômicas, o adensamento de favelas, o aumento do número de bairros
ocupados por população de baixa renda, o aumento do tempo de deslocamentos, dentre
outros aspectos ligados a fortes processos de segregação espacial e exclusão social
representam desafios significativos para se pensar numa gestão metropolitana e na própria
busca do desenvolvimento regional.
METROPOLIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NA RM DE CAMPINAS
A temática do desenvolvimento não é alheia ao debate geográfico. Afinal, o
desenvolvimento regional envolve a construção de um pensamento sobre a organização do
espaço. Esta leitura envolve questões referentes ao desenvolvimento econômico, humano e
ambiental. Em suma, a primeira se insere no paradigma da eficácia cuja medida principal é
o da produtividade; o segundo contempla o paradigma da equidade e tem na distribuição o
principal comedimento; e o último está pautado no paradigma da sustentabilidade e na
medida da preservação. Neste trabalho, o foco é refletir acerca do desenvolvimento
econômico principalmente, apesar de não deixar de considerar as demais dimensões.
Em estudos geográficos, o ato de debruçar o olhar para o desenvolvimento
regional, não raramente, é alvo de críticas, cuja justificativa principal seria a abordagem
economicista que se adota. Existem diversas discussões sobre o que se entende por
desenvolvimento, devido, sobretudo, o seu caráter ideológico. O que vale destacar é que o
desenvolvimento não pode ser visto como sinônimo de crescimento econômico. Este é uma
condição necessária, mas não suficiente para a ocorrência do desenvolvimento, que deve
contemplar também melhorias na qualidade de indicadores sociais. O Brasil, por exemplo,
entre as décadas de 1950 e 1980 teve grande crescimento econômico sem que ocorresse o
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seu pleno desenvolvimento, pois as desigualdades e injustiças sociais permaneceram, bem
como a degradação ambiental se intensificou.
Se, num primeiro momento, o desenvolvimento regional esteve diretamente
associado à industrialização ou o processo de concentração espacial da indústria, a partir do
final do século passado, o modelo de desenvolvimento esteve fortemente inspirado na teoria
do desenvolvimento endógeno que prioriza os agentes locais, tendo forte correlação com o
processo de municipalização das políticas públicas e gestão compartilhada dos municípios
que integram uma mesma região.
Numa análise que engloba uma região metropolitana, refletir sobre o processo de
metropolização, de modo geral, e da metrópole, em particular, envolve a compreensão de
três perspectivas analíticas. De acordo com Klein et al (1999), primeiramente, tem-se a
metrópole como espaço de dominação, focada na questão do Estado e na centralidade de
uma área. A segunda perspectiva procura explicar as hierarquias e a ordem das cidades e
regiões dentro dos estados nacionais – a metrópole de equilíbrio territorial. A última está
associada à teoria do desenvolvimento polarizado, do qual foram lançadas as bases do
economista François Perroux.
A compreensão do desenvolvimentos regional sob o conjunto da região
metropolitana deve ser vista com base no entendimento das diferenciações que ocorrem e
das disparidades territoriais. A existência de centros urbanos de diferentes portes, com
dinâmicas econômicas diferenciadas ou mesmo a existência de especificidades locais
interferem tanto na renda dos habitantes quanto nas variadas funções que cada cidade pode
desempenhar. Por conta destes fatores, cidades com porte populacional semelhante
possuem desempenho econômico bastante diferentes, variações em termos de vigor,
modernização e desenvolvimento técnico das atividades, dependendo de sua localização
geográfica.
A análise a partir da economia política do espaço centra-se tanto no objeto quanto
no processo que o constitui. Neste sentido, o entendimento da produção do espaço é
fundamental para compreender a organização espacial da economia e da urbanização – no
qual o espaço é explicado pelo seu uso – em diferentes momentos históricos. Portanto, o
espaço deve ser concebido enquanto expressão de uma ordem econômica e uma ordem
social que se estabelece. Os procedimentos adotados por essa forma de olhar o espaço
utilizam diversos aspectos que ajudam a entender as dinâmicas espaciais em toda a sua
complexidade. Dentre eles, pode-se destacar: a acumulação de outros tempos; as
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temporalidades; a estruturação urbana e das cidades; as relações de produção; a divisão
territorial e técnica do trabalho; a atuação ora conflituosa ora harmoniosa entre os agentes
econômicos, políticos e sociais; as vantagens comparativas locacionais; as alterações no
regime de regulação que alteram a organização econômica.
Olhar a Região Metropolitana de Campinas sob esta perspectiva analítica permite
analisar geograficamente as mudanças e permanências das funções urbanas e econômicas
que as cidades assumem na composição da rede urbana. Campinas possui aspectos
notadamente tecnopolitanos, utilizando o termo de Benko (2002), contudo, paradoxalmente,
apresenta atributos que a difere da definição do autor. Uma das características desta região
é a estrutura regional desequilibrada – centro-periferia – não integrada de forma uniforme e
com alto grau de concentração. Este quadro revela o processo de seletividade espacial que
se amplia com a globalização que, conforme Benko e Pecqueur (2001), não significa
homogeneização, mas, ao contrário, diferenciação e especialização.
Estas considerações remetem a revisitar diversas discussões no campo econômico.
Além de reportar à ideia das teorias de localização – não somente enquanto modelo –, mas
como meio de compreensão da disposição das diversas atividades em determinado
contexto espacial e temporal, coloca em questão o próprio posicionamento estratégico das
empresas. A importância dos recursos para o território também despontam nesta
apreciação, como pode ser visualizado em Benko e Pecqueur (2001), para os quais os
territórios oferecem recursos específicos, intransferíveis e incomparáveis no mercado.
Poder-se-ia também falar das vantagens comparativas locais – como infraestruturas locais,
externalidades a baixo custo e mão de obra barata –, ou das vantagens competitivas das
empresas (PORTER, 1993).
Nesta perspectiva, a metropolização deve ser percebida como a base de um
reforço territorial do poder econômico. Diante disto, a opção metodológica propicia verificar
os diferentes espaços de uma área metropolitana que possuem variações economicas
distintas, tanto espacialmente quanto em suas temporalidades. Sendo que, estes aspectos
devem ser observados, também, sob a luz da dinâmica demográfica que influencia e é
influenciada pela organização econômica, pela oferta de empregos e pela localização das
empresas, por exemplo.
Vitte (2007) expõe de modo coeso as experiências de políticas de desenvolvimento
econômico local e seus impactos no território. De modo geral, a autora destaca que a
Região Metropolitana de Campinas goza de setores e plantas industriais modernas
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articuladas a grandes e complexas cadeias produtivas, bem como um setor terciário
bastante dinâmico e diversificado. No entanto, seu desenvolvimento local deve ser
observado a partir da sinergia e inovações produzidas entre as instituições, grupos e
indivíduos. A autora cita, no âmbito organizacional, o papel de algumas formas de
cooperação entre instituições, como a Fundação Fórum Campinas (FFC)1, a Companhia de
Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (CIATEC)2 e a Agência
Metropolitana de Campinas (AGEMCAMP)3.
Além destas formas de cooperação institucional, a autora adiciona variadas
estratégias de desenvolvimento local que são implementadas pelas municipalidades.
Destaquem-se os municípios que compõem o Circuito das Águas (Pedreira e Jaguariúna), o
Circuito das Frutas (Valinhos, Vinhedo e Itatiba), o Arranjo Produtivo Local das Flores
(Holambra) e parques temáticos como o Hopi Hari e Wet´n Wild (Vinhedo). Pedreira,
também é conhecida pela sua tradição na produção cerâmica e porcelana, sendo que suas
peças de porcelana representam 50% da produção nacional e cerca de dois terços da
receita municipal.
É válido também delinear uma análise das atividades econômicas e sua distribuição
no conjunto da região. Nesta, pode-se destacar a distribuição do PIB por setor e a
distribuição das atividades na região. A figura 3 mostra o desempenho dos setores na
participação do Produto Interno Bruto (PIB), nos anos de 1970 e 2009.
Figura 4: Participação do PIB por setor nos municípios da RM de Campinas (1970 e 2009).
Fonte: IBGE. / Org.: Orlando Moreira Junior, 2013.
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Observa-se uma diferenciação expressiva na distribuição dos setores por
municipalidade. O primeiro setor perde espaço, mantendo, em 2009, certa relevância para a
economia dos centros urbanos de menor porte, em especial em Holambra e Engenheiro
Coelho, que se emanciparam na década de 1990.
O segundo setor, tido como principal em 1970, perde espaço para o terciário.
Porém, ainda mantém importância considerável para a região como um todo e para as
cidades, em particular. Porém, é válido uma leitura diferenciada deste, afinal enquanto
existem centros onde despontam as indústrias de alta tecnologia (Campinas e Jaguariúna,
por exemplo) ou fortes no setor petroquímico (Paulínia), existem, em contrapartida cidades
em que predominam as indústrias mais simples (Monte Mor, por exemplo).
Já a quantidade de serviços requeridos na região metropolitana é variada e imensa.
Tanto aquela que se destaca para dar suporte a um setor industrial forte, quanto àquelas
que são impulsionadas pela atividade agrícola moderna, nas cidades pequenas. As
possibilidades de serviços especializados ou modernos parecem aumentar com o tamanho
e o nível funcional da cidade, já indicava Santos (2008).
Também é importante discutir as diferentes tipologias dos municípios, tendo por
base nas atividades que desenvolve. Esta indicação é fundamental para compreender,
economicamente, os papéis desempenhados pelas cidades nas no contexto de uma região
metropolitana. Como auxílio para esta apreciação será utilizado o “Atlas da Economia
Paulista” elaborado pela Fundação SEADE (2006), cuja metodologia se baseia na
participação do PIB, sendo que a representação da Região Metropolitana de Campina está
exposta na figura 5.
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Figura 5: Tipologia dos municípios da Região Metropolitana de
Campinas segundo as atividades desempenhadas, em 2006.
Fonte: SEADE, 2006./ Org.: Adaptado por Orlando Moreira Junior, 2013.
O cenário econômico descrito na figura demonstra a função principal que cada
municipalidade assume ante a constituição de uma rede urbana regional. Nota-se uma
variação entre as cidades pequenas. Com base na teoria dos circuitos da economia urbana
apresentada em Santos (2008), o cenário descrito na figura anterior ajuda a explicar as
relações externas da cidade, seja com sua região de influência, seja com outras cidades
(SANTOS, 2008). Nota-se, na região metropolitana, um circuito superior constituído por
instituições financeiras; comércios; indústrias de exportação e modernas; e serviços
especializados. Concomitantemente, há um circuito inferior bem marcante, constituído
essencialmente por fábricas com baixo vigor tecnológico; comércio e serviços nãomodernos; e outras atividades de pequena dimensão e baixa utilização de capital intensivo.
Sabe-se que, hoje, estas características se fazem perceber, de forma diferenciada,
na maioria das cidades brasileiras, porém o que vale aqui é a análise regional. O
desenvolvimento de uma economia urbano-regional, na região metropolitana, cria um
comportamento espacial que reafirma a lógica centro-periferias. Afinal, as cidades locais são
colocadas na periferia socioeconômica e pagam um preço elevado por sua defasagem.
Recria-se, portanto, condições para o aumento da “pobreza” das cidades, seja em suas
características urbanas ou urbanísticas, seja em seus aspectos sociais ou econômicos.
Do ponto de vista social, os indicadores permitem mensurar e avaliar melhor as
estruturas sociais e econômicas das cidades da região. Isto possibilita estabelecer uma
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leitura das desigualdades socioespaciais e da iniquidade territorial. O IDH está entre os
principais indicadores para tal apreciação, pois consiste numa medida comparativa que
engloba as dimensões de longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1, sendo
que quanto mais próximo a 1 melhor é o nível de desenvolvimento humano local, ou seja,
melhor a qualidade de vida da população. A tabela 1 traz os índices para os municípios da
região metropolitana de Campinas no ano de 2000.
Tabela 1: Índice de Desenvolvimento Humano nos municípios da Região Metropolitana de
Campinas, 2000.
Municípios
IDH
Municípios
IDH
Vinhedo
0,857
Campinas
0,811
Paulínia
0,847
Pedreira
0,810
Valinhos
0,842
Sumaré
0,800
Americana
0,840
Cosmópolis
0,799
Indaiatuba
0,829
Artur Nogueira
0,796
Jaguariúna
0,829
Engenheiro Coelho
0,792
Itatiba
0,828
Hortolândia
0,790
Holambra
0,827
Santo Antônio de Posse
0,790
Nova Odessa
0,826
Monte Mor
0,783
Santa Bárbara d’Oeste
0,819
Fonte: PNDU – Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000.
Org.: Orlando Moreira Junior, 2013.
O IDH é um importante indicador quando se procura comparar municípios
considerando sua qualidade de vida. Nota-se, em geral, uma variação expressiva no IDH
entre os municípios de diferentes tamanhos populacionais. Com base nisto, não se pode
estabelecer uma relação direta entre o tamanho populacional com seu índice de
desenvolvimento humano.
O conjunto de situações expostos contribuem para que se chegue a conclusão de
que os processos de expansão urbana e da organização espacial da população e das
atividades econômicas expressam uma ocupação do espaço metropolitano marcado,
contraditoriamente, pela dispersão e pela concentração. Dispersão territorial da malha
urbana e da população, por um lado, e concentração de atividades econômicas, serviços e
infraestruturas em alguns centros urbanos, por outro. Desta forma, a criação institucional de
uma região metropolitana não é sinônimo de desenvolvimento, bem como não é um
propulsor dele.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento é um conceito-chave na discussão de políticas públicas. Este
trabalho teve por objetivo contribuir na reflexão do enfoque do desenvolvimento regional,
tendo uma região metropolitana como cenário tanto das estratégias de desenvolvimento
local em seus municípios, quanto das diferenciações econômico-espaciais que nela se
manifestam.
De modo geral, pode-se concluir que a criação desenfreada de regiões
metropolitanas, no Brasil, em seu caráter institucional não condiz com a formação de um
fenômeno geográfico na maioria dos casos. Motivada por interesses estaduais, a criação de
regiões metropolitanas atrela-se à possibilidade de se ter acesso privilegiado a recursos da
União, em função da compreensão amplamente difundida que associa regiões
metropolitanas ao intenso processo de urbanização (IPEA, 2011). Isto significa, como
aponta a pesquisa, que as regiões metropolitanas são criadas por meio de práticas e
motivações que não tem, necessariamente, relação com o processo de formação
socioespacial; não estão articuladas a políticas ou estratégias de desenvolvimento territorial;
e não estão vinculadas à gestão das funções públicas de interesse comum. Logo, vê-se
mudanças conceituais e de objetivo ao se instituir uma região metropolitana.
No caso de Campinas, isto é perceptível. Apesar de possuir espaços conurbados e
bem integrados, ainda há áreas descontínuas espacialmente e fragmentada social e
economicamente. Isto gera embates na discussão dos objetivos e motivações que levam a
criação das regiões metropolitanas. Também, ampliam os desafios para a gestão do espaço
metropolitano em atender os interesses em comum, gerando uma série de incertezas acerca
do dos benefícios ao desenvolvimento regional que ela pode oferecer. Todavia, fica claro
que a criação das regiões metropolitanas tem sua relevância do ponto de vista polítcoadiministrativo. O reconhecimento destas áreas é um importante meio de fortalecimento
institucional e de regular a organização do espaço.
NOTAS
1
De acordo com Vitte (2007) possui 11 instituições afiliadas: a UNICAMP, PUCCAMP,
Instituto Biológico, Instituto de Zootecnia, Instituto Tecnológico de Alimentos, Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron, Embrapa, Centro de Pesquisa Renato Ascher, Instituto
Agronômico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações e
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Esta Fundação tem por objetivo facilitar a
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troca de experiências entre as instituições de pesquisa da região, fomentar a integração
dessas entidades e tornar melhor sua atuação conjunta. Ademais, tem por pretensão
incentivar a pesquisa e a transferência de tecnologia, a organização dos empreendimentos,
bem como atrair novos investimentos para a região e criar oportunidades para os
municípios.
2
É uma empresa municipal que tem como principais atribuições o planejamento e a
execução da política de ciência e tecnologia, de P&D no Polo de Alta Tecnologia (Cf.
Correio Popular, 29/09/2003). (VITTE, op. cit.)
3
Ainda de acordo com a autora citada anteriormente, esta agência tem finalidade de integrar
a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum na
região. Está ligada as estratégias do governo paulista em promover o desenvolvimento
regional, tendo como objetivos: ampliar formas de cooperação entre as empresas; facilitar o
acesso as informações relativas a modelos gerenciais e a novos produtos e tendências de
mercado; articular melhores condições de financiamento; ampliar o leque e alternativas para
a formação de recursos humanos específicos; facilitar o acesso a novas tecnologias; e
capacitar para a exportação com o máximo valor agregado.
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