Filosofia - UNESP -2015-2014

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Filosofia - UNESP -2015-2014- 2°fase
1. (Unesp 2015) Texto 1
Quanto mais as classes exploradas, o “povo”, sucumbem aos poderes existentes, tanto mais a arte se
distanciará do “povo”. A arte pode preservar a sua verdade, pode tornar consciente a necessidade de
mudança, mas apenas quando obedece à sua própria lei contra a lei da realidade. A arte não pode mudar o
mundo, mas pode contribuir para a mudança da consciência e impulsos dos homens e mulheres que poderiam
mudar o mundo. A renúncia à forma estética é abdicação da responsabilidade. Priva a arte da verdadeira
forma em que pode criar essa outra realidade dentro da realidade estabelecida – o cosmos da esperança. A
obra de arte só pode obter relevância política como obra autônoma. A forma estética é essencial à sua função
social.
MARCUSE, Herbert. A dimensão estética, s/d. Adaptado.
Texto 2
Foi com estranhamento que crítica e público receberam a notícia de que a escritora paulista Patrícia Engel
Secco, com a ajuda de uma equipe, simplificou obras de Machado de Assis e de José de Alencar para facilitar
sua leitura. O projeto que alterou partes do conto O Alienista e do romance A Pata da Gazela recebeu a
aprovação do Ministério da Cultura para captar recursos com a lei de incentivo para imprimir e distribuir,
gratuitamente, 600 000 exemplares. Os livros apresentam substituição de palavras e expressões com registro
simplificado, como, por exemplo, a troca de “prendas” por “qualidades” em O Alienista. “O público-alvo do
projeto é constituído por não leitores, ou leitores novos, jovens e adultos, de todos os níveis de escolaridade
e faixa de renda”, afirmou Patrícia. Autora de mais de 250 títulos, em sua maioria infantis, ela diz que encontra
diariamente pessoas que não leem, mas que poderiam se interessar pelo universo de Machado e Alencar se
tivessem acesso a uma obra facilitada.
KUSUMOTO, Meire. “De Machado de Assis a Shakespeare: quando a adaptação diminui obras clássicas”.
http://veja.abril.com.br, 12.05.2014. Adaptado.
Explique o significado da autonomia da obra de arte para o filósofo Marcuse. Considerando esse conceito de
autonomia, explique o significado estético do projeto literário de facilitação de algumas obras de Machado de
Assis e de José de Alencar.
2. (Unesp 2015) Seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada pela quase totalidade dos
estudiosos como criação própria do gênio dos gregos. Sendo assim, a superioridade dos gregos em relação
aos outros povos nesse ponto específico é de caráter não puramente quantitativo, mas qualitativo, porque o
que eles criaram, instituindo a filosofia, constitui novidade que, em certo sentido, é absoluta. Com efeito, não
é em qualquer cultura que a ciência é possível. Há ideias que tornam estruturalmente impossível o nascimento
e o desenvolvimento de determinadas concepções – e, até mesmo, ideias que interditam toda a ciência em
seu conjunto, pelo menos a ciência como hoje a conhecemos. Pois bem, em função de suas categorias
racionais, foi a filosofia que possibilitou o nascimento da ciência, e, em certo sentido, a gerou. E reconhecer
isso significa também reconhecer aos gregos o mérito de terem dado uma contribuição verdadeiramente
excepcional à história da civilização.
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, vol. 1, 1990. Adaptado.)
Baseando-se no texto, explique por que a definição apresentada de “filosofia” pode ser considerada
eurocêntrica. Explique também que tipo de ideias apresentaria a característica de impedir o desenvolvimento
do conhecimento científico.
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3. (Unesp 2015) Do ponto de vista do Iluminismo, a ilusão deixa de ser uma simples deficiência subjetiva, e
passa a enraizar-se em contextos de dominação, de onde a ilusão deriva e se incumbe de estabilizar. O
preconceito – a opinião falsa, não controlável pela razão e pela experiência – revela seu substrato político. É
no interesse do poder que a razão é capturada pelas perturbações emocionais, abstendo-se do esforço
necessário para libertar-se das paixões perversas, e para romper o véu das aparências, que impedem uma
reflexão emancipatória. Deixando-se arrastar pelas interferências, a razão não pode pensar o sistema social
em sua realidade. Prisioneira do dogmatismo, que nem pode ser submetido ao tribunal da experiência nem
permite a instauração desse tribunal, a razão está entregue, sem defesa, às imposturas da religião e de todos
os outros dogmas legitimadores.
(Sérgio Paulo Rouanet. A razão cativa, 1990. Adaptado.)
Considerando o texto e o título sugestivo do livro de Rouanet, explique as implicações políticas do cativeiro
da razão e defina o que significa a reflexão emancipatória referida pelo autor.
4. (Unesp 2015) A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente
tudo o que fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo o que fazemos serve
para alguma coisa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação estética,
uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As
hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas coisas de que nos
servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a
autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim recusar
também à arte a dimensão em virtude da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da
luta pelo empobrecimento do mundo.
(Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de São Paulo, 13.12.2008. Adaptado.)
De acordo com a análise do autor,
a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a
apreciação estética.
b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético de suas qualidades
intrínsecas.
c) a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado para a avaliação de
sua condição autônoma.
d) o critério mais adequado para a apreciação estética consiste em sua validação pelo gosto médio do público
consumidor.
e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à sua valorização como
produto no mercado.
5. (Unesp 2015) Para o teórico Boaventura de Sousa Santos, o direito se submeteu à racionalidade cognitivoinstrumental da ciência moderna e tornou-se ele próprio científico. Existe a necessidade de repensarmos os
direitos humanos. Boaventura nos instiga a pensar que eles possuem um caráter racional e regulador da vida
humana. Esses direitos não colaboram para eliminar as assimetrias políticas, culturais, sociais e econômicas
existentes, especialmente nos países periféricos. Os direitos humanos, num plano universalista e aberto a
todos, não modificam as estruturas desiguais, mas ratificam a ordenação normativa para comandar uma
sociedade.
(Adriano São João e João Henrique da Silva. “A historicidade dos direitos humanos”. Filosofia, ciência e vida,
dezembro de 2014. Adaptado.)
De acordo com o texto, os direitos humanos são passíveis de crítica, porque
a) desempenham um papel meramente formal de proteção da vida.
b) inexistem padrões universalistas aplicáveis à totalidade da humanidade.
c) são incompatíveis com os valores culturais de nações não ocidentais.
d) sua estrutura normativa carece de racionalidade e de cientificidade.
e) são destituídos de uma visão religiosa e espiritualista de mundo.
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6. (Unesp 2015) IHU On-Line – A medicalização de condutas classificadas como “anormais” se estendeu a
praticamente todos os domínios de nossa existência. A quem interessa a medicalização da vida?
Sandra Caponi – A muitas pessoas. Em primeiro lugar ao saber médico, aos psiquiatras, mas também aos
médicos gerais e especialistas. Interessa muito especialmente aos laboratórios farmacêuticos que, desse
modo, podem vender seus medicamentos e ampliar o mercado de consumidores de psicofármacos de modo
quase indefinido. Porém, esse interesse seria irrelevante se não existisse uma demanda social que aceita e
até solicita que uma ampla variedade de comportamentos cotidianos ingresse no domínio do patológico. Um
exemplo bastante óbvio é a escola. Crianças com problemas de comportamento mais ou menos sérios hoje
recebem rapidamente um diagnóstico psiquiátrico. São medicadas, respondem à medicação e atingem o
objetivo social procurado. Essas crianças que tomam ritalina ou antipsicóticos ficam mais calmas, mais
sossegadas, concentradas e, ao mesmo tempo, mais tristes e isoladas.
www.ihuonline.unisinos.br. Adaptado.
Podemos considerar como uma importante implicação filosófica da medicalização da vida
a) a incorporação do conhecimento científico como meio de valorização da autonomia emocional e intelectual.
b) a institucionalização de procedimentos de análise e de cura psiquiátrica absolutamente objetivos e
eficientes.
c) a proliferação social de conhecimentos e procedimentos médicos que pressupõem a patologização da vida
cotidiana.
d) a contribuição eticamente positiva da psiquiatrização do comportamento infantil e juvenil na esfera
pedagógica.
e) o caráter neutro do progresso científico em relação a condicionamentos materiais e a demandas sociais.
7. (Unesp 2015) A ciência é uma atividade na sua essência antidogmática. Pelo menos deveria sê-lo. A
ciência, em particular a física, parte de uma visão do mundo que é, de acordo com a terminologia utilizada
por Arquimedes, um pedido que se faz. É assim porque pedimos para que se admita, à escala a que
pretendemos descrever os fenômenos, que o mundo assuma uma determinada forma. Os outros pedidos e
postulados têm de se inserir, tão pacificamente quanto possível, nesse pedido fundacional. Mas nunca
perderão o estatuto de pedidos. Transformá-los em dogmas é perturbar a ciência com atitudes que lhe
deveriam ser totalmente estranhas.
(Rui Moreira. “Uma nova visão da natureza”. Le Monde Diplomatique, março de 2015. Adaptado.)
Baseando-se no texto, explique qual deve ser a relação entre ciência e verdades absolutas. Explique também
a diferença entre uma visão de mundo baseada em “pedidos” e uma visão de mundo dogmática.
8. (Unesp 2015) Texto 1
Karl Popper se diferenciou ao introduzir na ciência a ideia de “falibilismo”. Ele disse o seguinte: “O que prova
que uma teoria é científica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada”. Para ele, nenhuma teoria científica
pode ser provada para sempre ou resistir para sempre à falseabilidade. Ele desenvolveu um tipo de teoria de
seleção das teorias científicas, digamos, análoga à teoria darwiniana da seleção: existem teorias que
subsistem, mas, posteriormente, são substituídas por outras que resistem melhor à falseabilidade.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência, 1996. Adaptado.
Texto 2
O paralelismo entre macrocosmos e microcosmos, a simpatia cósmica e a concepção do universo como um
ser vivo são os princípios fundamentais do pensamento hermético, relançado por Marcílio Ficino com a
tradução do Corpus Hermeticum. Com base no pensamento hermético, não há qualquer dúvida sobre a
influência dos acontecimentos celestes sobre os eventos humanos e terrestres. Desse modo, a magia é a
ciência da intervenção sobre as coisas, os homens e os acontecimentos, a fim de dominar, dirigir e transformar
a realidade segundo a nossa vontade.
REALE, Giovanni. História da filosofia, vol. 2, 1990.
Baseando-se no conceito filosófico de empirismo, descreva o significado do emprego da palavra “ciência” nos
dois textos. Explique também o diferente emprego do termo “ciência” em cada um dos textos.
9. (Unesp 2015) Numa decisão para lá de polêmica, o juiz federal Eugênio Rosa de Araújo, da 17.ª Vara
Federal do Rio, indeferiu pedido do Ministério Público para que fossem retirados da rede vídeos tidos como
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ofensivos à umbanda e ao candomblé. No despacho, o magistrado afirmou que esses sistemas de crenças
“não contêm os traços necessários de uma religião” por não terem um texto-base, uma estrutura hierárquica
nem “um Deus a ser venerado”. Para mim, esse é um belo caso de conclusão certa pelas razões erradas.
Creio que o juiz agiu bem ao não censurar os filmes, mas meteu os pés pelas mãos ao justificar a decisão.
Ao contrário do Ministério Público, não penso que religiões devam ser imunes à crítica. Se algum evangélico
julga que o candomblé está associado ao diabo, deve ter a liberdade de dizê-lo. Como não podemos nem
sequer estabelecer se Deus e o demônio existem, o mais lógico é que prevaleça a liberdade de dizer qualquer
coisa.
SCHWARTSMAN, Hélio. “O candomblé e o tinhoso”. Folha de S. Paulo, 20.05.2014. Adaptado.
O núcleo filosófico da argumentação do autor do texto é de natureza
a) liberal.
b) marxista.
c) totalitária.
d) teológica.
e) anarquista.
10. (Unesp 2014) Texto 1
A verdade é esta: a cidade onde os que devem mandar são os menos apressados pela busca do poder é a
mais bem governada e menos sujeita a revoltas, e aquela onde os chefes revelam disposições contrárias está
ela mesma numa situação contrária. Certamente, no Estado bem governado só mandarão os que são
verdadeiramente ricos, não de ouro, mas dessa riqueza de que o homem tem necessidade para ser feliz: uma
vida virtuosa e sábia.
(Platão. A República, 2000. Adaptado.)
Texto 2
Um príncipe prudente não pode e nem deve manter a palavra dada quando isso lhe é nocivo e quando aquilo
que a determinou não mais exista. Fossem os homens todos bons, esse preceito seria mau. Mas, uma vez
que são pérfidos e que não a manteriam a teu respeito, também não te vejas obrigado a cumpri-la para com
eles. Nunca, aos príncipes, faltaram motivos para dissimular quebra da fé jurada.
(Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.)
Comente as diferenças entre os dois textos no que se refere à necessidade de virtudes pessoais para o
governante de um Estado.
11. (Unesp 2014) Texto 1
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao
sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos
homens, tudo é governado por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, a qual só os sacerdotes,
os magos, os iniciados são capazes de interpretar. Os sacerdotes, os rituais religiosos, os oráculos servem
como intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos
encontrados nessas sociedades são, assim, formas de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos
deuses.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)
Texto 2
Ao longo da história, a corrente filosófica do Empirismo foi associada às seguintes características: 1. Negação
de qualquer conhecimento ou princípio inato, que deva ser necessariamente reconhecido como válido, sem
nenhuma confirmação ou verificação. 2. Negação do ‘suprassensível’, entendido como qualquer realidade
não passível de verificação e aferição de qualquer tipo. 3. Ênfase na importância da realidade atual ou
imediatamente presente aos órgãos de verificação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase é
consequência do recurso à evidência sensível.
(Nicola Abbagnano. Dicionário de filosofia, 2007. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados, comente a oposição entre o pensamento mítico e a corrente filosófica do
empirismo.
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12. (Unesp 2014) A China é a segunda maior economia do mundo. Quer garantir a hegemonia no seu quintal,
como fizeram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil. As Filipinas temem por um atol de rochas
desabitado que disputam com a China. O Japão está de plantão por umas ilhotas de pedra e vento, que a
China diz que lhe pertencem. Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que dos Estados Unidos. As
autoridades de Hanói gostam de lembrar que o gigante americano invadiu o México uma vez. O gigante chinês
invadiu o Vietnã dezessete.
(André Petry. O Século do Pacífico. Veja, 24.04.2013. Adaptado.)
A persistência histórica dos conflitos geopolíticos descritos na reportagem pode ser filosoficamente
compreendida pela teoria
a) iluminista, que preconiza a possibilidade de um estado de emancipação racional da humanidade.
b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude com a fortuna como princípios básicos da geopolítica.
c) política de Rousseau, para quem a submissão à vontade geral é condição para experiências de liberdade.
d) teológica de Santo Agostinho, que considera que o processo de iluminação divina afasta os homens do
pecado.
e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a desconfiança como condições básicas da natureza
humana.
13. (Unesp 2014) Governos que se metem na vida dos outros são governos autoritários. Na história temos
dois grandes exemplos: o fascismo e o comunismo. Em nossa época existe uma outra tentação totalitária,
aparentemente mais invisível e, por isso mesmo, talvez, mais perigosa: o "totalitarismo do bem". A saúde
sempre foi um dos substantivos preferidos das almas e dos governos autoritários. Quem estudar os governos
autoritários verá que a "vida cientificamente saudável" sempre foi uma das suas maiores paixões. E, aqui, o
advérbio "cientificamente é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo o desejo de higienização de
toda forma de vício, sujeira, enfim, de humanidade não correta. Nosso maior pecado contemporâneo é não
reconhecer que a humanidade do humano está além do modo "correto" de viver. E vamos pagar caro por isso
porque um mundo só de gente "saudável" é um mundo sem Eros.
(Luiz Felipe Pondé. “Gosto que cada um sente na boca não é da conta do governo”. Folha de S.Paulo,
14.03.2012. Adaptado.)
Na concepção do autor, o totalitarismo
a) é um sistema político exclusivamente relacionado com o fascismo e o comunismo.
b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucionalmente democráticos e liberais.
c) depende necessariamente de controles de natureza policial e repressiva dos comportamentos.
d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de natureza biopolítica sobre a vida.
e) estabelece regras de comportamento subordinadas à autonomia dos indivíduos.
14. (Unesp 2014) A condenação à violência pode ser estendida à ação dos militantes em prol dos direitos
animais que depredaram os laboratórios do Instituto Royal, em São Roque. A nota emocional é difícil de
contornar: 178 cães da raça beagle, usados em testes de medicamentos, foram retirados do local. De um
lado, por mais que seja minimizado e controlado, há o sofrimento dos bichos. Do outro lado, está nosso bem
maior: nas atuais condições, não há como dispensar testes com animais para o desenvolvimento de drogas
e medicamentos que salvarão vidas humanas.
(Direitos animais. Veja, 25.10.2013.)
Sob o ponto de vista filosófico, os valores éticos envolvidos no fato relatado envolvem problemas
essencialmente relacionados
a) à legitimidade do domínio da natureza pelo homem.
b) a diferentes concepções de natureza religiosa.
c) a disputas políticas de natureza partidária.
d) à instituição liberal da propriedade privada.
e) aos interesses econômicos da indústria farmacêutica.
15. (Unesp 2014) Texto 1
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Foi assim que, com Paracelso (1493-1541), nasceu e se impôs a iatroquímica. E os iatroquímicos, em certos
casos, chegaram a alcançar grandes êxitos, muito embora as justificações de suas teorias, vistas com os
olhos da ciência moderna, apareçam-nos hoje bastante fantasiosas. Assim, por exemplo, com base na ideia
de que o ferro é associado ao planeta vermelho Marte e a Marte, deus da guerra coberto de sangue e de
ferro, administraram com sucesso sais de ferro a doentes anêmicos - e hoje conhecemos as razões científicas
desse sucesso.
(Giovanni Reale e Dário Antiseri. História da filosofia, vol. 2, 1991. Adaptado.)
Texto 2
A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias
entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a
natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático,
preciso e objetivo.
(Maria Lúcia de A. Aranha e Maria Helena P. Martins. Temas de filosofia, 1992.)
Baseando-se na descrição do método científico do texto 2, explique por que as fundamentações da
iatroquímica podem ser caracterizadas como fantasiosas.
16. (Unesp 2014) Texto 1
Você quer ter boa saúde e vida longa para você e sua família? Anseia viver num mundo onde a dor, o
sofrimento e a morte serão coisas do passado? Um mundo assim não é apenas um sonho. Pelo contrário,
um novo mundo de justiça logo será realidade, pois esse é o propósito de Deus. Jeová levará a humanidade
à perfeição por meio do sacrifício de resgate de Jesus. Os humanos fiéis viverão como Deus queria: para
sempre e com saúde perfeita.
(A Sentinela, dezembro de 2013. Adaptado.)
Texto 2
Assim, tenho de contradizê-lo quando prossegue argumentando que os homens são completamente
incapazes de passar sem a consolação da ilusão religiosa, que, sem ela, não poderiam suportar as
dificuldades da vida e as crueldades da realidade. Sem a religião, terão de admitir para si mesmos toda a
extensão de seu desamparo e insignificância na maquinaria do universo; não podem mais ser o centro da
criação, o objeto de terno cuidado por parte de uma Providência beneficente. Mas não há dúvida de que o
infantilismo está destinado a ser superado. Os homens não podem permanecer crianças para sempre; têm
de, por fim, sair para a “vida hostil”. Podemos chamar isso de “educação para a realidade”.
(Sigmund Freud. O futuro de uma ilusão, 1974. Adaptado.)
Comente as diferenças entre os dois textos no tocante à religião.
17. (Unesp 2014) "Religião sempre foi um negócio lucrativo." Assim começa uma reportagem da revista
americana Forbes sobre os milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil. A revista
fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista, está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna
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estimada em R$ 2 bilhões, segundo a revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões;
Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões, e Estevan Hernandes Filho e a bispa
Sônia, com R$ 120 milhões juntos. A Forbes também destaca o crescimento dos evangélicos no Brasil – de
15,4% para 22,2% da população na última década –, em detrimento dos católicos. Hoje, os católicos romanos
somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Os evangélicos, por sua vez, já somam 42
milhões, em uma população total de 191 milhões de pessoas.
(Forbes lista os seis líderes milionários evangélicos no Brasil.uol.com.br, 19.01.2013. Adaptado.)
Os fatos descritos na reportagem são compatíveis filosoficamente com uma concepção
a) teológico-protestante, baseada na valorização do sacrifício pessoal e da prosperidade material.
b) kantiana, que preconiza a possibilidade de se atingir a maioridade intelectual.
c) cartesiana, que pressupõe a existência de Deus como condição essencial para o conhecimento racional.
d) dialético-materialista, baseada na necessidade de superação do trabalho alienado.
e) teológico-católica, defensora da caridade e idealizadora de virtudes associadas à pobreza.
18. (Unesp 2014) Tradição de pensamento ético fundada pelos ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill,
o utilitarismo almeja muito simplesmente o bem comum, procurando eficiência: servirá aos propósitos morais
a decisão que diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da sociedade. No caso da situação dos
povos nativos brasileiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão de terra equivalente a 13% do
território nacional, quase o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas a mortalidade infantil entre
a população indígena é o dobro da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos integrantes dependem de
cestas básicas para sobreviver. Este é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos e benefícios viria
a calhar: a felicidade dos índios não é proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar.
(Veja, 25.10.2013. Adaptado.)
A aplicação sugerida da ética utilitarista para a população indígena brasileira é baseada em
a) uma ética de fundamentos universalistas que deprecia fatores conjunturais e históricos.
b) critérios pragmáticos fundamentados em uma relação entre custos e benefícios.
c) princípios de natureza teológica que reconhecem o direito inalienável do respeito à vida humana.
d) uma análise dialética das condições econômicas geradoras de desigualdades sociais.
e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito absoluto às diferenças de natureza étnica.
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Gabarito:
Resposta
da
questão
1:
[Resposta do ponto de vista da disciplina de Português]
Segundo Marcuse, uma obra autônoma é aquela que atende à função de dar origem a uma realidade diferente
àquela estabelecida, cumprindo seu papel social; isso ocorre pois a obra autônoma incentiva e possibilita que
indivíduos, com potencial para tal tarefa, tomem consciência e percebam a necessidade de mudança. Assim,
ao repudiar essa capacidade da obra artística, exime-se da própria responsabilidade social.
Isto posto, percebe-se que o projeto literário de facilitação de obras consagradas, como as citadas por Meire
Kusumoto, afasta-se da linha de pensamento de Marcuse. Ao facilitar os textos, não é originada uma realidade
diferente da estabelecida – ao contrário, a realidade estabelecida é conservada, ratificada. A facilitação do
texto gera uma obra inexpressiva, pois não cumpre sua função política: ela não incentiva os indivíduos a
subverterem a ordem estabelecida, não desperta a consciência da necessidade de mudança, inclusive nos
indivíduos dotados dessa capacidade. A adaptação trata-se, como o próprio título da matéria defende, de
uma diminuição das obras clássicas.
[Resposta do ponto de vista da disciplina de Filosofia]
A teoria estética de Herbert Marcuse baseia-se nos princípios marxistas, realizando, contudo, uma crítica à
visão ortodoxa desta teoria. Segundo a teoria estética marxista a obra de arte é um todo que representa a
visão de mundo de determinadas classes sociais. Desta forma, a obra de arte possui a função política de criar
uma consciência, porém esta criação é direcionada, intencional segundo os marxistas ortodoxos.
Para Marcuse, a obra de arte possui uma função política em si mesmo, ou seja, ela é uma representação de
uma visão de mundo que visa comunicar, abrir possibilidades, não necessariamente direcionar a visão
daqueles que apreciar a obra. Assim, a obra de arte é autônoma por si e não necessita de direcionamento.
Ela rompe com a consciência dominante por meio da experiência individual. Esta experiência é libertadora na
medida em que leva o apreciador a sentir e refletir seu significado, comparando o que lhe foi proporcionado
com sua própria experiência de mundo.
Com relação ao projeto de facilitação de acesso a obras consagradas, de Machado de Assis e José de
Alencar, a estética Marcuseana se posiciona contra, pois isto serve como forma de direcionamento do sentido
político da obra de arte. A facilitação ao acesso não produziria uma experiência individual e libertária para o
apreciador, mas sim uma doutrinação ao modificar a concepção original da obra, impedindo que ela, por si
própria, desempenhasse sua função estética. Em outras palavras, a adaptação da obra literária, através da
justificativa de facilitação de acesso, serviria como instrumental de controle e que pode ser utilizado em favor
de interesses de classes dominantes.
Resposta
da
questão
2:
A filosofia enquanto forma de conhecimento é considerada pela quase totalidade de estudiosos como de
origem grega devido às condições específicas ocorridas na antiguidade que permitiram seu surgimento.
Fatores como: navegações, invenção da moeda, da escrita, das leis e principalmente da “pólis” (cidade),
somados a insatisfação intelectual em relação à forma de como compreendiam o mundo, possibilitaram o
estabelecimento de um modo mais coerente de pensar a realidade. Com o passar do tempo, esta forma de
saber, desenvolveu-se autonomamente, se expandindo por todos os povos que tiveram contato com a cultura
grega. A filosofia pode ser considerada eurocêntrica, pois o continente Europeu foi o lugar que herdou dos
gregos esta forma de saber. Foi principalmente na Europa onde ocorreu o desenvolvimento, expansão e
divulgação da reflexão filosófica e forma sistematizada.
A Filosofia tem como características: o caráter reflexivo, a argumentação racional, a investigação radical, a
sistematização do saber e a análise de conjunto.
O desenvolvimento da filosofia possibilitou por sua vez o desenvolvimento do conhecimento científico. Desta
forma, as ideologias, as doutrinas dogmáticas, mitologias não refletidas e senso comum vão contra as
características do saber filosófico e científico e se constituem como impeditivos para o desenvolvimento do
conhecimento científico.
Resposta
da
questão
3:
O papel das ideologias é dar um sentido legitimador para as contradições sociais, a fim de que pareçam
coerentes e até desejáveis. Assim, as ideologias produzidas pela classe dominante, possuem um papel vital
no condicionamento da razão humana dentro do espaço social. Esta condição imposta à consciência submete
a razão a um domínio, tornando-a impotente e legitimando a dominação de uma classe que lucra, de algum
modo, sobre a outra, criando um cativeiro. Sob tal cativeiro, fica impossível traçar vias para consolidar valores
democráticos, acessíveis a todos, assim como construir uma sociedade menos desigual e mais equitativa.
A reflexão emancipatória é alcançada quando se percebe que as ideologias não coincidem com a realidade.
Para que isto seja possível é necessário deixar de lado os dogmas impostos pela classe dominante,
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transcender os preconceitos e criar uma consciência de si enquanto ser existente na realidade coletiva. Por
meio da emancipação da razão se é possível propor projetos honestos e democráticos para a transformação
social.
Resposta
[B]
da
questão
4:
Não pode ser submetida aos mesmos critérios que regem a razão, diferentemente da autonomia libertária na
qual o uso da razão conduz o indivíduo para um fim. Este fim é intencional e serve para tornar o homem mais
consciente de si e promover sua independência racional, criando assim, condições para agir de forma
direcionada e intencional. Já autonomia estética não possui um fim em si, ela serve como forma de fruição,
ou seja, sua apreciação não direciona a uma elevação, a uma intenção para algo. Desta forma, quando
tornamos a arte racional, desprovemo-la de suas qualidades intrínsecas e a tornamos um instrumento que
não promove uma autonomia por si. Quando se direciona a arte por meio da razão instrumental,
descaracteriza-se sua fruição. Em outras palavras, para que a arte seja preservada, não submeter à arte ao
mercado (razão instrumental), pois se tem aí o empobrecimento de sua capacidade representativa e
expressiva.
Resposta
[A]
da
questão
5:
No texto da questão dois pontos são destacados como referente ao papel dos direitos humanos, sendo eles:
o “caráter racional e regulador da vida humana” e “ratificam a ordenação normativa para comandar a
sociedade”. Estas afirmações encontram respaldo na filosofia política dos contratualistas que estabelece que
os direitos inerentes aos seres humanos, e que não estão sujeitos à discussão, pois surgem devido à
conveniência dos homens que abrem mão de sua liberdade para viverem em sociedade. Assim, surge o
direito natural como polo regulador dos limites que a sociedade organizada não pode ultrapassar na
consolidação de sua estrutura. Contudo, o texto nos coloca que devido ao progresso das ciências atualmente
se descaracterizou sua fundamentação passando estes, a serem tratados como conceito obsoleto que pode
ser questionado livremente sem que haja qualquer empecilho caso se julgue que eles não atendam mais as
concepções vigentes. Portanto, da mesma forma, os direitos humanos não se fazem mais uma garantia
absoluta para a proteção a vida, mas constituem-se como meras referências formais na realidade universal.
Resposta
[C]
da
questão
6:
O desenvolvimento das ciências médicas e sociais possibilitou de um lado o avanço na compreensão
detalhada do funcionamento do corpo/mente e comportamento humano, de outro lado, colaborou para a
classificação e criação de um referencial de normalidade. Por meio deste referencial, classifica-se como
“anormal”, ou “patológico”, tudo o que não se adéqua ao padrão estabelecido, em outras palavras, reduz-se
toda a complexidade da vida humana a um conjunto de fatores normais ou patológicos. Assim, no intuito de
poder corrigir esta “distorção” faz-se uso de medicamentos e procedimentos que atingem objetivos definidos.
No caso, uma maior eficiência e adequação do comportamento escolar. Condiciona-se assim, o
comportamento às necessidades colocadas pela dinâmica social.
Resposta
da
questão
7:
A ciência propõe teorias e hipóteses como forma de se produzir conhecimento a partir do exercício da
observação da realidade empírica e da experimentação. Tal forma de produção de conhecimento não se situa
nas fórmulas prontas e dogmáticas que interpretam o mundo. Arquimedes foi, de fato, um físico e matemático
que desconfiava das verdades dogmáticas e absolutas.
A ciência “pede” que se admita que o mundo assuma uma determinada forma, isso significa que o
conhecimento científico tem um caráter hipotético e dinâmico, diferente da visão dogmática que impõe uma
interpretação inflexível, não baseada em experimentos dos fenômenos. Um pedido na concepção
metodológica da ciência soa como uma “suponhamos”, abrindo assim portas para o levantamento de
hipóteses capazes de se aproximar do mundo real.
Resposta
da
questão
8:
No primeiro texto o emprego da palavra ciência esta no sentido de que o conhecimento, ou seja, as teorias
científicas não são absolutas, elas são temporais e podem ser desmentidas, ou “falseadas”. Segundo Karl
Popper as explicações fornecidas pelas teorias científicas não podem assumir um caráter infalível, com o
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desenrolar do tempo, formas de conhecimento, isto é, teorias mais gerais e mais amplas substituirão as teorias
antigas assim como na teoria darwiniana da evolução das espécies, nas quais espécies mais adaptadas ao
meio superar seus antecessores.
No segundo texto o termo ciência é utilizado como um conhecimento integrado no qual não se pode prever
ou determinar com exatidão seu sentido, separado do todo. O hermetismo propõe uma síntese do universo
que recebe influências da realidade suprassensível, ou seja, a influência do pensamento de Platão, mas
destacadamente de Plotino, marca esta concepção de ideal que não pode ser alcançado plenamente, mas
que pode ser apenas contemplado. O conhecimento da ciência seria então uma compreensão divinizada da
natureza.
Resposta
[A]
da
questão
9:
O conceito de liberdade possui como princípio o ato de se expressar sem nenhuma espécie de
constrangimento, determinação ou direcionamento da ação. Neste sentido, a liberdade de dizer o que se
deseja, direito garantido pela constituição, esta presente na linha argumentativa utilizada pelo autor.
Caracterizando assim uma argumentação liberal.
A resposta “teológica” pode levar a uma confusão, pois o pano de fundo do debate é a questão religiosa,
porém não se esta discutindo este tema na argumentação, mas sim sua natureza.
Resposta
da
questão
10:
No texto 1 Platão desenvolve a tese de que cidade seria melhor administrada pelo “Filósofo Rei”, nesta teoria
desenvolvida no livro “A República” o filósofo é o melhor administrador por ser aquele que possui
conhecimento da “verdade” que se identifica com o Bom, o Bem e o Belo que residem no Mundo das Ideias.
Ele (Filósofo Rei) seria o único capaz de guiar os habitantes da cidade na busca do melhor desenvolvimento
de cada um segundo suas aptidões naturais, ou seja, o bem que reside dentro de cada indivíduo pode ser
alcançado e permitir uma vida feliz a todos. A virtude do governante centra-se na busca da concretização do
bem a todos os habitantes da cidade. Não sendo o filósofo guiado por interesses particulares, ele se torna o
administrador ideal para a cidade. Já no texto 2, Nicolau Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”, desenvolve
uma tese que rompe com lógica estabelecida entre ética e poder. Seu pressuposto de que os homens são
maus, faz com que o príncipe deve buscar manter o poder mediante estratégias que não possuem ligação
com o comportamento virtuoso. Elementos como virtú (entendida como impetuosidade, coragem) e fortuna
(entendida como ventura, oportunidade), somado a um conhecimento da moralidade dos homens, são
recursos que permitem ao governante agir de modo calculado, não objetivando o desenvolvimento de uma
bondade natural nos homens como acredita Platão, mas tendo como foco a condução dos homens rumo a
uma melhor condição de vida que não siga necessariamente o caminho da virtude enquanto retidão moral.
Resposta
da
questão
11:
O texto 1 coloca que a explicação mítica da realidade foi o recurso disponível aos homens daquela época
para poder compreender a realidade que os cercava. Neste período a realidade exterior ao mundo natural
somente poderia ser conhecida por meio de explicações que tivessem a magia, o sobrenatural como base
fundante. Desta forma, somente aqueles que se dedicavam exclusivamente a esta atividade poderiam, ser
aqueles capazes de compreender os desígnios dos deuses. Os sacerdotes representavam os intermediários
entre os dois mundos (humano e divino). Assim, a autoridade de sua palavra era por si só critério suficiente
para estabelecer “verdades” míticas que serviam como forma de explicação para os fenômenos naturais.
No texto 2, diferente da explicação mítica, o empirismo, tendo como principais teóricos: John Locke, Francis
Bacon e David Hume, não recorre à autoridade da mesma maneira que os mitos, para explicar os fenômenos.
Esta corrente de pensamento rejeita que o conhecimento seja inato, descarta, não considera como válido
aquilo que não pode ser aferido, verificado, aquilo que não for evidente. A verdade reside não mais na
autoridade de quem fala, mas na evidência, na constatação, naquilo que pode ser captado pelos sentidos. O
suprassensível é negado, pois não é passível de investigação, verificação.
Resposta
[E]
da
questão
12:
Obviamente, é muito difícil compreender a persistência histórica dos conflitos geopolíticos através dessa
teoria política hobbesiana, pois a grande obra do filósofo britânico não se resume à definição do estado de
natureza do homem, no qual todos estão em guerra contra todos. Além disso, não faz qualquer sentido
confundir tal estado de natureza com a nossa realidade, que ao se chamar geopolítica já impede uma relação
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direta com a suposta condição primária da civilização. Nem nós, nem a Inglaterra de Hobbes representamos
o estado de natureza, pois tal premissa é um postulado da especulação filosófica do autor, e não um fato
constatado. Ora, nós vivemos em uma sociedade global, e não estamos em vivendo no caos absoluto de um
confronto geral de vida ou morte.
Se fôssemos compreender a persistência história dos conflitos geopolíticos através da teoria política
hobbesiana, então deveríamos tomar tais constantes disputas como resultado da incapacidade dos homens
de instituírem um governo global forte o suficiente que obrigasse os cidadãos a honrarem o pacto social.
Resposta
[D]
da
questão
13:
No texto em questão, o autor se refere ao problema da governança confundir ou até atravessar as esferas
pública e privada dominando os cidadãos através de discursos que buscam domesticar e higienizar a ação
humana através do “científico”, ou da “saúde pública”.
“O Estado-Cientista, forma privilegiada da autoridade soberana dos países industrializados,
organiza-se como estrutura total da sociedade. Pretende ser uma síntese entre os três níveis
constitutivos das coletividades: o domínio privado, a atividade econômica e a ordem estatal.
A dominação política penetra a realidade até constituí-la. Fortalecida por seu aparelho
técnico-científico e industrial, ela impõe seu poder, fabricando o tempo e o espaço,
construindo a terra e o céu”. (F. Châtelet. História das ideias políticas. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2009, p. 332)
Para lembrarmos a principal referência do texto citado na questão,
“Em sua maravilhosa descrição de um futuro maníaco por saúde e felicidade, Huxley diagnostica a grande e
insuspeita vítima do novo totalitarismo do bem: a morte da liberdade em nome da felicidade limpinha do
mundo. O governo deveria deixar as pessoas sentirem o gosto que quiserem em suas bocas”. (Luiz Felipe
Pondé, “Gosto que cada um sente na boca não é da conta do governo”. Folha de S. Paulo, 14.03.2012)
Resposta
[A]
da
questão
14:
A questão aborda a discussão da questão ética, mais especificamente da Bioética, relacionando dois pontos
principais: a busca de alternativas para possibilitar uma melhor condição de vida aos humanos e o uso dos
seres e elementos da natureza para a obtenção de um fim proposto. Aristóteles justifica a ética como a prática
da virtude na busca do “Bem Maior”. A realização plena do homem, somente acontece na vida da cidade,
sendo necessário submeter àquilo que é exterior ao homem, neste caso, a natureza, a um domínio, a um fim
para alcançar uma melhor qualidade de vida a todos. Desta maneira, o domínio da natureza tem de enfrentar
situações que geram debates sobre sua validade e viabilidade. Porém deve-se considerar que para aqueles
que, no caso, militam em favor dos direitos dos animais, somente puderam tomar esta atitude, devido ao seu
enquanto seres humanos. Isto só foi possível devido às intervenções realizadas na natureza. Portanto, se
considerarmos o argumento exposto anteriormente aliado à capacidade racional do ser humano, que se revela
pela ação de pensar sua própria existência e mudar aquilo que consideram essencial para sua realização,
encontramos motivos mais que suficientes para justificar o domínio do meio.
Resposta
da
questão
15:
Diferentemente da ciência Moderna, os iatroquímicos ao desenvolverem suas teses recorreram ao uso de
elementos simbólicos para explicar os fenômenos manifestos na natureza. Este recurso se fez mediante a
necessidade de facilitar a compreensão daquilo que poderia ser observado. Contudo tais observações não
fizeram uso de métodos objetivos que garantissem a verificabilidade de suas teses. O rigor proposto pelo
método científico moderno tem como pressuposto a verificação, aferição, comparação. Somente por meio de
uma analise sistemática, que possa ser reproduzida e captada pelos sentidos se é possível estabelecer
propriedades pertencentes ao mundo natural e aos fenômenos que fazem parte desta realidade. O texto 1
ainda prescinde de elementos míticos e fantasiosos do mundo. Já o texto 2, destaca que quanto maior a
precisão do método e sua aplicação maior a possibilidade de estabelecer as relações universais entre os
fenômenos.
Resposta
da
questão
16:
O texto 1 aborda a questão da religião transmitindo tranquilidade ao ser humano ao propor um caminho que
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os conduzirá rumo à satisfação de todas suas necessidades. A condição necessária para isto é a adesão a
Deus, ou seja, a fidelidade a Deus garantirá uma vida feliz para aqueles que resolveram ser submissos a Ele.
No texto 2 o psicanalista Sigmund Freud apresenta uma argumentação que o discurso religioso é um discurso
que se fundamenta nos sentimentos, desejos e ilusões do ser humano. Para Freud o discurso religioso apela
para a infância, à falta de maturidade, falta de autonomia intelectual e afetiva. Neste sentido, as ilusões em
relação ao uma melhor condição de vida repousam sobre uma mística no qual a razão é deixada de lado. O
texto 1 coloca que a satisfação dos desejos serão plenamente atendidos caso nos submetamos a uma
“providência” maior, onde poderemos ter saúde, justiça e uma vida digna sem termos de nos responsabilizar
pelas escolhas que fizermos. Já no texto 2, Freud propõe que o desenvolvimento da maturidade deve ser
fruto de uma “educação para a realidade”, ou seja, uma educação que coloque o homem de posse de si,
sendo racional para a compreensão de sua condições e que seja integralmente responsável pela satisfação
dos seus desejos e aspirações, assumindo as consequências de suas decisões.
Resposta
[A]
da
questão
17:
É tão estranha a classificação de uma teologia-protestante como filosofia que qualquer professor decente se
perguntará após ler essa questão qual o significado do advérbio “filosoficamente” utilizado na escrita do texto.
Como poderia haver compatibilidade filosófica entre duas coisas que não são de modo algum filosofias?
Enfim, afirmemos que considerando os fatos descritos na reportagem nos parece que eles não sejam
compatíveis com nenhuma concepção da tradição filosófica; todavia, que eles sejam vagamente compatíveis
com o calvinismo citado em “concepção teológico-protestante, baseada na valorização do sacrifício pessoal
e da prosperidade material”.
Resposta
[B]
da
questão
18:
[Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia]
Somente a afirmativa [B] está correta. A utilização da concepção utilitarista para criticar a posse de terra por
parte dos índios brasileiros se dá por uma opção ideológica, que simplifica questões subjetivas e históricas
(como a noção de felicidade) em índices estatísticos (como o de mortalidade infantil), de forma a tentar
mensurar os custos e os benefícios de determinado direito social.
[Resposta do ponto de vista da disciplina de Filosofia]
A alternativa [B] é a correta, pois a questão central abordada, esta centrada no utilitarismo. Esta corrente de
pensamento desconsidera, em sua análise, as consequências “menores”, ou em outras palavras a “menor
porção de felicidade” gerada pelas escolhas em comparação com a eficiência daquilo que se propõe. No caso
do problema indígena, a justificativa para rever a questão do assentamento destas populações, tendo como
base a ética utilitarista, verifica-se que esta ética utiliza um comparativo entre a proporção de terras cedidas
aos indígenas, utilizando a agricultura como referencial e a elevação dos casos de mortalidade, havendo
ainda assim, a necessidade de mais intervenção do Estado para garantir condições de vida aos índios. As
demais alternativas não abordam o tema central do utilitarismo que é o aumento felicidade da população em
relação a um menor sofrimento. Desta maneira, pode-se justificar ideologicamente a revisão dos
assentamentos, com base de que isto não esta proporcionando melhoria na qualidade de vida dos índios.
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