Acupuntura, gestação e parto sob o ponto de vista da Medicina Chinesa Na concepção taoísta, a mulher ocupa a posição Yin e interage com todas as coisas orgânicas, ambientais, filosóficas, de forma Yin. O ciclo ovulatório segue as mutações do Chi em acordo com as oscilações do organismo feminino para um estado mais Yin ainda, no período fértil, na ovulação. O Yin nascente aparece em um útero impróprio para a concepção, um ambiente onde predomina o Yang, a descamação, o movimento para fora, a menstruação, data onde os estrógenos estão em sua menor concentração no sangue e os caracteres femininos estão menos privilegiados. Mas este é um velho Yang e ao seu lado cresce um jovem e forte Yin. No organismo passa a aparecer o hormônio estimulador dos folículos ovarianos, um novo ciclo começa e em mais algum tempo o óvulo estará perto de ser liberado para a trompa, caminhando para o Yin quase maduro. Passaram-se doze dias e estamos entrando no período fértil da mulher, onde o seu organismo atingirá o apogeu do Yin, tempo propício para receber a carga fortemente Yang do momento da fecundação. A fecundação é o movimento de criação de um novo ser, um novo movimento, fusão completa de duas partículas, uma Yin e a outra Yang, formando um novo Tao. O óvulo é liberado pelo ovário e segue seu caminho pela trompa, é a hora em que se atinge o Yin supremo, cai da trompa para um endométrio crescido pelo incremento sanguíneo, situação própria para crescer a vida. Mas o óvulo não foi fecundado e começa a aparecer no organismo sinais de um novo movimento, de envelhecimento, quando o óvulo já perdeu a possibilidade de ser fecundado e caminha, como o folículo ovariano e o endométrio para a degeneração. É o surgimento do Yang nascente, estamos indo pelo vigésimo dia do ciclo e daqui o útero caminha para a descamação e tudo caminha com participação mais visível do Yang. O ciclo todo dura vinte e oito dias, mas pode mudar completamente caso o óvulo seja fecundado. Quando isto ocorre, o estado de maior yinização da ovulação perdura por todo o período gestacional, vindo a transformar-se somente próximo ao parto. A gestação, ao contrário da concepção é um movimento fortemente Yin, que corresponde a todo o tempo de desenvolvimento fetal. Este aspecto não terá interesse apenas filosófico se observarmos que esta maior permanência em um estado mais Yin acarreta em mudanças orgânicas importantes. Os órgãos (zang), com natureza Yin, estarão em momento de plenitude e sendo exigidos ao máximo, como é o caso de pulmão, rins, fígado, baço, pâncreas, sistema cardio-vascular e glândulas endócrinas. Por outro lado, as vísceras (fu), com natureza Yang, estarão com suas funções esvaziadas, difíceis, como nos exemplos de dificuldades digestivas, vômitos, crise de vesícula e constipação intestinal, que no préparto se transforma em diarréia com a súbita yanguização. Vejamos mais detalhadamente as conseqüências de nove meses em um estado de maior yinização : No Rim o excesso pode levar à deflagração de distúrbios psiquiátricos ou neurológicos. Assim, será freqüente o surgimento de crises epiléticas e arritmias afins, como também psicoses diversas ou simplesmente medo ou insegurança. Os sistemas cardio-vascular e hematopoiético, também submetidos à plenitude, podem atingir o excesso que se manifestará como hipertensão, edemas ou emotividade. Sob o mesmo excesso todas as glândulas endócrinas estarão em grande movimento, produzindo uma nova ordem metabólica onde, com a perda da harmonia poderemos ver por exemplo o surgimento de um diabetes. O Fígado estará extremamente ocupado com a função de fornecer todos os componentes químicos das transformações que irão acontecer por toda a gestação. Apesar de ser um órgão que agüenta bem as sobrecargas de serviço, poderemos ver sinais de sua sobrecarga nas alterações do sono e do humor. A ligação materno-fetal A questão é simples: partindo-se do princípio de que o corpo possui uma rede de canais por onde circula o Chi e que esta matriz primordial se comunica com o feto tanto quanto outros sistemas, por qual caminho se faz esta comunicação ? Por dentro do útero, através de sua parede posterior passa um feixe composto por quatro meridianos: Du Mai - Mar dos Yang Ren Mai - Mar dos Yin Tchong Mai - Vaso nutridor (mar de sangue e de energia) M.P. do Rim - Depositário do Chi Ancestral Ou seja, preenchendo todos os requisitos necessários , fornecendo a polaridade Yang, a polaridade Yin, a nutrição necessária ao desenvolvimento e a parcela ancestral que transmite uma parcela do seu Chi para o descendente. O conhecimento do padrão de desarmonia e da ligação materno-fetal nos dá mais subsídios para estabelecer propostas terapêuticas e pontos a serem evitados no período gestacional e nos faz ver que, ao cortarmos o cordão umbilical estamos determinando, além das alterações hemodinâmicas, o restabelecimento da circulação energética materna. Para o feto, a energia Yong, que provinha da mãe passará a vir do céu e da terra, porque o desprendemos da fonte desta energia, onde o aleitamento e a respiração passam a ter um significado mais amplo. O crescimento do embrião, desde a fecundação até o feto à termo, respeita a concepção taoísta de movimento circulatório que determina que todos os movimentos do universo passam por três fases: Absorção, Inter-relação e Expulsão. Toda a filogenia relacionada ao desenvolvimento fetal também respeita os movimentos circulatórios e a analogia com os cinco movimentos. Nos importa entender que um ciclo chegou ao fim, que o feto deve estar com seus sistemas completos para que possa realizar as funções primárias, básicas à vida extra-uterina. Quando o feto preenche este requisito, é hora de nascer. Temos dois seres humanos fluindo por um sistema ligado por pontes, trocando o essencial. A o feto, foi transmitida na fecundação o Chi ancestral de duas outras vidas. A energia Yong foi absorvida do metabolismo materno através dos sistemas vascular e energético, o que propiciou também as trocas e o crescimento da energia Oé. O corpo da mulher percebe a chegada próxima do parto, o Yin continua em declínio e o Yang nascente se fortalece. O declínio é de todo o estado mais feminino, acarretando o fim da gestação. Tudo no organismo conspira para o parto. O Parto A primeira questão é: o que determina exatamente o momento de deflagração do trabalho de parto ? Na visão reducionista de nossa fisiologia, apesar do grande avanço na compreensão dos mecanismos hormonais e neuro-hormonais, ainda não foi possível detectar a resposta para esta questão. É necessário recordar que, sob um ponto de vista mais amplo e generalista, o organismo como um todo vem em um processo de yanguização que se apresenta como causa e conseqüência de um ritmo cíclico de determinação ancestral, que se encontra em um momento de resolução. Não é de agora que vários hormônios relacionados às funções reprodutivas estão sofrendo alterações, assim como não são de agora as contrações uterinas. São movimentos que vieram em um crescimento gradativo, assim como o desenvolvimento fetal e a progressão cíclica do Chi, que alcançam agora as condições determinantes da deflagração do trabalho de parto (TP). Como hormônios envolvidos temos vários, com destaque para: progesterona, estrógenos, catecolaminas e ocitocina.; Outros fatores determinantes citados por Ganong, Houssay e Guyton são: • • o papel da inervação o papel do feto Quanto à inervação, é cada vez mais evidente que não possui relação direta com a deflagração do TP, uma vez que úteros previamente desnervados (Rein, 1880), (Goltz 1874), são capazes de iniciar e levar à cabo o TP. O feto pode ser considerado como um dos fatores ativos na deflagração do TP. Yang em um meio em yanguização, grande em um continente cada vez menor, com necessidades nutricionais maiores que a possibilidade de oferta materna, é hora de começar o mergulho para o exterior, com movimentos que excitam os marca-passos uterinos. Visto sob o ponto de vista integralista, todo o organismo materno trabalha em conjunto para a expulsão do feto, instalando-se assim o TP. Caso este movimento prossiga dentro da normalidade fisiológica, caberá ao médico assistente apenas uma atitude expectante, ou ainda, em acordo com as possibilidades de uma terapêutica também fisiológica, a estimulação de pontos que contribuam com a diminuição dos processos álgicos envolvidos, sedação ou relaxamento das estruturas uterinas ou do canal vaginal, permitindo à mãe uma participação mais tranqüila no processamento do parto. Neste momento, teremos muitas situações onde o que se apresenta não é ainda o patológico, mas pequenos desvios da condição fisiológica que, quando mal interpretados e mal tratados, acabam freqüentemente nas mesas de cirurgia. É o caso do motor uterino incompetente da grande multípara, é o caso dos inúmeros edemas de colo determinados por utilização imprópria de ocitócicos, a amniorexis precoce, os espasmos do canal do parto, entre outros. Nestas situações o acupuntor tem um arsenal terapêutico bastante vasto e de grande eficácia, que ajudarão a conduzir a parturiente a um parto normal. A literatura à respeito é vasta e as contribuições relacionadas nos últimos vinte anos são inúmeras. Quanto às situações patológicas, nosso pensamento deverá se dirigir para o método mais eficiente. Nunca iremos tentar a realização de um parto normal em uma paciente com desproporção céfalo-pélvica flagrante, implantações baixas da placenta ou outras condições que indiquem outras formas de resolução terapêutica. Mesmo assim, a acupuntura poderá ser útil nestes momentos, seja para produzir uma sedação, para proteger o feto ou até para realizar uma analgesia para um procedimento cirúrgico, embora as indicações de analgesia por acupuntura tenham diminuído muito em função dos avanços na área da anestesiologia, com a adição de fármacos mais seguros e com menos efeitos colaterais. Aspectos da terapêutica acupuntural na gestação e parto • • • • • • Distúrbios do desenvolvimento se relacionam com o Yin do Rim. O ponto 6BP (San Inn Tsiao) é obrigatório em todos os tratamentos relacionados à esfera gineco-obstétrica por sua condição de reunião dos canais Yin da parte inferior do corpo. Alguns pontos e alguns vasos curiosos (ou meridianos distintos) são de uso restrito durante a gestação, são aqueles que podem desarmonizar a condição Yin da gestante, produzir contratilidade ou aumento da contratilidade uterina ou relaxamento do colo. Por exemplo: 3ID, 62B, 60B, 4IG... Temos um ponto sobre a face plantar do segundo dedo do pé, bilateralmente, sobre a articulação metatarso-falangeana , que é indicada na expulsão do feto morto retido e não deve, em hipótese alguma, ser utilizado em uma gestação normal, pois produz bradicardia fetal grave. Sua denominação: Tou Inn ou Pi Tui. É muito conhecido e de resultados surpreendentes o uso de moxa em 67B com intuito de “virar” o feto nas apresentações pélvico-podactilas que perduram até próximo ao momento do parto. A seguir temos o esquema dos canais que passam pelo útero e fazem a comunicação materno-fetal.