A economia criativa no ambiente do turismo: um estudo de caso na Serra Gaúcha Alex Eckert UCS - Universidade de Caxias do Sul Marlei Salete Mecca UCS - Universidade de Caxias do Sul Tauana Macedo de Paula UCS - Universidade de Caxias do Sul Roberto Biasio UCS - Universidade de Caxias do Sul Resumo Diante da possibilidade de produção e exportação da cultura, surge um novo tipo de economia, denominado Economia Criativa, que se baseia na elaboração de bens e serviços que valorizam os aspectos intangíveis da cultura e a criatividade de seus produtores. Dessa forma, este artigo aborda a Economia Criativa relacionada com o Turismo através da comercialização de souvenirs. Para isso, foi realizado um estudo de caso em uma loja de souvenirs localizada em um dos principais atrativos turísticos da Serra Gaúcha, o Passeio de Trem Maria Fumaça – estação de Bento Gonçalves/RS. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada com a responsável pela loja, na qual foi possível identificar a contribuição significativa da Economia Criativa através dos produtos comercializados no atrativo turístico pesquisado. Foi possível identificar que os recursos advindos da Economia Criativa retornam a comunidade local, pois são feitos por ela em micro ou pequenas empresas, expondo a cultura da região e a criatividade de seu povo. Palavras-chave: Economia Criativa.Turismo. Souvenir. 1 Introdução Devido ao anseio pelo crescimento econômico, característico da era da globalização, principalmente nos países em desenvolvimento, surge uma nova forma de economia, muitas vezes concebida de maneira informal, chamada Economia Criativa. Essa tem como ideias principais a elaboração de bens e serviços através da inserção de elementos culturais e do crescimento da comunidade local através da qualificação e da geração de emprego (REIS, 2008a). Muitos países europeus são conhecidos por terem a Economia Criativa como um dos propulsores de seus PIBs (Produto Interno Bruto), como exemplo destaca-se o Reino Unido, no qual a Economia Criativa é responsável por 8% da renda nacional e 5% da força de trabalho.No entanto, alguns países em desenvolvimento também estão se destacando nesse tipo de economia que valoriza a intangibilidade. Nesse cenário destaca-se a China que teve 4% de seu PIB, em 2004, representado pela Economia Criativa. Assim, os países emergentes tem uma opção mais viável de desenvolvimento, pois a Economia Criativa prioriza a criatividade e não o capital (REIS, 2008a). A contribuição da Economia Criativa está em enfatizar que os bens produzidos com base na criatividade não devem ser analisados com base apenas no capital monetário. Devem ser pensados em termos de coesão social e confiança na sociedade, enquanto capital social, acumulado historicamente e fortalecido pela identidade cultural (COSTA, 2006, p.9). Segundo Reis (2008a) a Economia Criativa é um dos setores que mais cresce mundialmente, inclusive nas exportações, conforme figura 1. Nos anos 2000 esse tipo de economia superou os serviços tradicionais e as indústrias de manufatura, e a estimativa, na época, era que crescesse ainda mais. Figura 1. Estrutura de exportação das indústrias criativas por grupos econômicos em 2005 (todos os produtos criativos). Fonte: Reis (2008a, p. 68). Percebe-se, então, que a Economia Criativa pode contribuir com diversos setores, inclusive no turismo que está em crescimento no Brasil. Esse desenvolvimento do setor turístico brasileiro pode estar relacionado com a realização de grandes eventos no país, como a Copa do Mundo de Futebol 2014 FIFA e os Jogos Olímpicos em 2016. No turismo, caracterizado por ser um setor baseado na intangibilidade e nas experiências 1, a Economia Criativa encontra espaço para consolidação, pois sua essência é a elaboração de produtos/serviços genuínos (advindos da criatividade do produtor), que transmitam alguma característica de quem as produz. Com isso, pode-se estabelecer uma ligação direta entre esse novo tipo de economia e o turismo que proporciona experiências para o turista através do contato do mesmo com a cultura do Outro. Nessa ótica, pode ser destacada, no turismo, a produção e a comercialização de souvenirs como participantes da Economia Criativa, pois são elementos elaborados pelas comunidades locais que representam a cultura de um povo. “O consumo de souvenires é uma das formas mais difundidas de troca cultural e aproximação com a cultura desconhecida” (REIS, 2008b, p. 2). Desta forma, este artigo tem como objetivo identificar a contribuição da Economia Criativa através da produção e comercialização de souvenirs em uma das estações do atrativo turístico Maria Fumaça, localizada na cidade de Bento Gonçalves/RS. Os resultados deste estudo de caso foram obtidos através de uma entrevista semiestruturada realizada com a responsável pela loja de souvenirs. Assim, a estrutura do artigo apresenta-se da seguinte maneira: primeiramente, será feita uma contextualização sobre Economia Criativa e sua relação com o turismo através do souvenirs; na sequência será apresentado o local onde a pesquisa foi aplicada; posteriormente será efetuada a análise dos dados, seguidos pelas considerações finais e pelas referências utilizadas. 2 Economia Criativa A Economia Criativa surge como uma nova alternativa para driblar as crises globais renitentes que afetam tanto países desenvolvidos como em desenvolvimento. Esse novo tipo de negócio valoriza a cultura e seus aspectos intangíveis – saberes e fazeres – e a criatividade que origina todo o processo de produção. Utiliza a tecnologia como um meio impulsionador para a produção e acessibilidade de produtos e/ou serviços. Trabalha através de um modelo de redes onde há uma cooperação entre gestores públicos, privados e sociedade civil e tem como princípio a sustentabilidade que almeja uma inclusão socioeconômica (REIS, 2008a). Dessa forma, a economia criativa tem como ideia principal promover diferentes setores produtivos que possuem como denominador comum a capacidade de gerar inovação a partir de um saber local, agregar valor simbólico a bens e serviços, além de gerar e explorar direitos de propriedade intelectual” (MARCHI, 2014, p. 194, tradução nossa). A origem desse tipo de economia teve início na Austrália em 1994 quando o país implantou o projeto Creative Nation que gerou o termo indústrias criativas (que originou, mais tarde, o termo Economia Criativa). Esse baseava-sena importância do trabalho criativo gerador de subsídios econômicos para a nação e a inserção das tecnologias como contribuinte ao setor cultural. Todavia, a consolidação dessa atividade deu-se no Reino Unido em 1997. Nessa oportunidade foram caracterizadas, pelo governo, atividades que fossem as mais competitivas para o país, nas quais foram destacadas as indústrias criativas como forma de renovação para o governo atual (REIS, 2008a). Essas foram caracterizadas pelo governo 1 Segundo o Ministério do Turismo, a atividade turística pode ser definida como um “conjunto de relações e fenômenos produzidos pelo deslocamento e permanência de pessoas fora do lugar de domicílio, desde que tais deslocamentos e permanência não estejam motivados por uma atividade lucrativa” (http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefato). Uma de suas características principais é a intangibilidade, na qual não é possível fornecer uma amostra do serviço turístico para o turista (RUSCHMANN, 1990). Assim, o turista só concretiza o consumo através das experiências vivenciadas na destinação turística. como “aquelas indústrias que se originaram da criatividade, da habilidade e de talento individuais e que possuem um potencial para a geração de riqueza e de empregos, por meio da criação e da exploração da propriedade intelectual” (REIS, 2008a, p. 235). No Brasil, as atividades relacionadas à Economia Criativa estão sendo objeto de atenção do Ministério da Cultura (Minc). Dentro do Minc foi criada a Secretaria da Economia Criativa através do decreto 7743 de 1º de junho de 2012, cuja missão é conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros (BRASIL, 2012, p. 39). Diante disso, conforme apresentado na figura 2, a Secretaria da Economia Criativa trabalha com alguns princípios norteadores para a consolidação da Economia Criativa brasileira: Figura 2. A Economia Criativa brasileira e seus princípios norteadores Fonte: Brasil (2012, p. 33). Os princípios norteadores da Economia Criativa compreendem: Diversidade cultural: trata-se da valorização, proteção e divulgação das diversidades culturais existentes no país garantindo a sua originalidade; Sustentabilidade:versa sobre a preocupação em constituir atividades que não impactem negativamente o meio ambiente (como o uso indiscriminado de recursos naturais) e com a proliferação de uma cultura de consumo de baixo valor agregado. Garantindo, assim, uma sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental; Inovação: é a capacidade de escolher as melhores oportunidades, de empreender e de enfrentar riscos. Aperfeiçoando o que já está feito e/ou criando algo novo; Inclusão Social: estabelecer estratégias de desenvolvimento para a população, priorizando os que estão em situação vulnerável através da qualificação e formação profissional e da geração de emprego e renda. Como a origem do termo Economia Criativa vem de países anglo-saxões existe uma disparidade entre terminologias originadas nesses países perante seus significados no Brasil. Nesses países é utilizado o termo creative industries que traduzido para o português resulta em “indústrias criativas”. O significado de indústrias na língua inglesa remete a setor, ou seja, “um conjunto de empresas que realizam uma atividade produtiva comum” (BRASIL, 2012, p. 21). Já as indústrias no Brasil significam atividades fabris massificadas por isso a Secretaria da Economia Criativa trabalha com a terminologia “setores criativos”. Assim, “os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social” (BRASIL, 2012, p. 23). Dessa forma, o Ministério da Cultura (MinC) definiu os setores criativos que são contemplados com as políticas públicas do ministério2, conforme figura 3. Figura 3. Escopo dos Setores Criativos – Ministério da Cultura (2011) Fonte: Brasil (2012, p. 31). Apesar de todas as iniciativas mostradas anteriormente sobre a Economia Criativa, seu histórico e suas características, ainda não há um consenso a respeito do seu conceito. O que se tem consolidado é a sua relação com a criatividade e o talento humano, a geração de emprego e renda e o uso das tecnologias criando, assim, um crescimento socioeconômico, cultural e intelectual (REIS, 2008a). Desta forma, é visível a relação da economia criativa com o turismo, no caso deste estudo, mais especificadamente com os souvenirs. Eles são um exemplo concreto dessa atividade, pois são elaborados a partir da criatividade do autóctone para transmitir, ao turista, 2 A UNESCO já havia definido, em 1986, algumas categorias culturais e seus respectivos setores e atividades a fim de contribuir com pesquisas sobre Economia Criativa. Contudo, o Minc percebeu a necessidade de ampliar o escopo desses setores devido à realidade cultural brasileira (PERTILE, 2014). aspectos da cultura local, além de ser uma fonte de qualificação, emprego e renda para a comunidade local. 3 A relação do souvenir com a Economia Criativa A produção de souvenirs mantem técnicas artesanais, proporciona postos de trabalho na distribuição e venda dos mesmos, [...], e contribui com a formação de uma imagem no exterior, que tenta ser competitiva em um mundo globalizado, já que é a prova tangível da viagem do turista. Nessa produção se funde o local, materiais, habilidades, valores e gostos [...] (ESCALONA, 2006, p. 403, tradução nossa). A partir dessa citação é possível perceber a relação estreita do souvenir com a Economia Criativa. Pois, a Economia Criativa gera elementos tangíveis carregados de significados que não são palpáveis, mas sim, subjetivos. Valoriza os modos de produção de uma determinada cultura. E, é capaz de criar empregos para a comunidade local (REIS, 2008a). Dessa forma, os elementos tangíveis, citados a cima, podem ser caracterizados como souvenirs 3, pois eles são a representação simbólica de determinados locais (MARTINEZ; SCHIRIGATTI; SILVA, 2012). Tornando-se “signo e/ou símbolo” de um povo (MACHADO; SIQUEIRA, 2008, p. 5).Esses objetos, geralmente, possuem um tamanho pequeno com o intuito de facilitar o seu transporte, assim, tornam-se pequenas relíquias que remetem ao local visitado (MARTINEZ; SCHIRIGATTI; SILVA, 2012). O souvenir aparece no turismo através do ato de consumo, característico do ser humano. Assim, há uma relação simbólica entre o turista e as localidades pelas quais viaja. Todavia, essa relação de consumo também gera emprego e renda para a comunidade local (MACHADO; SIQUEIRA, 2008). Os souvenirs são elaborados através de redes de produção locais que são compostas por produtores individuais, que trabalham de forma independente, ou em cooperativas que produzem obras de arte como representações de suas culturas, estimulando o crescimento econômico para suas famílias, comunidades ou nações (HEALY, 1994 apud SWANSON; TIMOTHY, 2012, p. 493, tradução nossa). Nessa relação de venda e consumo do souvenir visualiza-se a ligação com a Economia Criativa, na qual são estimulados vários setores produtivos que trabalham com o saber local, agregando valor simbólico a bens e serviços (MARCHI, 2014,). O consumo no turismo (com destaque para elementos produzidos através da criatividade dos autóctones) também se torna uma maneira do turista ter um “reconhecimento de si mesmo e da própria cultura” (REIS, 2008b, p. 1), pois o possibilita entrar em contato com outros costumes, com o estranho. Com isso, o consumo passa a ser analisado, também, sob o viés cultural. “No mundo todo, as lojas de souvenires estão repletas de visitantes ávidos por encontrar, num objeto, a síntese de tudo oque estão vivendo, o exótico e o maravilhoso, enfim, a alma do lugar” (REIS, 2008b, p.2). Outro aspecto a ser destacado é a ótica social da produção do souvenir. Em comunidades carentes, geralmente, os produtores retratam em seus objetos as facetas mais agradáveis de sua localidade, desconstruindo estigmas negativos relacionados com mesma. Como exemplo tem-se os souvenirs da Rocinha (localidade periférica do Rio de Janeiro) que 3 Palavra de origem francesa que significa lembrança e recordação (MACHADO; SIQUEIRA, 2008). Sua origem vem do latim, subvenire, que significa “vir em auxílio” (RUBIO, 2006, tradução nossa). Alguns autores utilizam a verão da palavra em português: suvenir. No entanto, neste trabalho optou-se pela versão francesa por ser a mais difundida internacionalmente. retratam desenhos coloridos e alegres como as rodas de samba, o futebol, a capoeira e a praia. A violência do local, noticiada pelos meios de comunicação em massa, não é foco da maioria dos produtores de souvenirs (NUNES, 2010). Assim, os souvenirs são responsáveis por transmitir ao turista outra imagem do local, valorizando sua cultura e seus agentes criativos. 4 Caracterização da pesquisa A presente pesquisa tem como objetivo principal a identificação da contribuição da Economia Criativa através da produção e comercialização de souvenirs em uma das estações do atrativo turístico Maria Fumaça, localizada na cidade de Bento Gonçalves/RS. Foi escolhida a loja dessa estação por ser mais representativa na questão de quantidade e variedade de produtos característicos da região. Através da distinção dos produtos que compõe esse comércio foi possível analisar as características da Economia Criativa. A escolha desse local justifica-se pelo fato do passeio no trem Maria Fumaça ser um dos principais atrativos da serra gaúcha, trazendo muitos turistas durante todo o ano. Esse passeio acontece desde 1993 percorrendo, em aproximadamente duas horas, 23 km do trecho Bento Gonçalves – Garibaldi – Carlos Barbosa e vice-versa. A locomotiva utilizada é do século IX composto por seis carros, que tem como energia principal de funcionamento o vapor produzido através do aquecimento da água por meio da utilização do carvão mineral ou da lenha, conforme figura 4(DEBENETTI, 2006). Figura 4. Trem Maria Fumaça Fonte: Giordani Turismo (s/d). Na Maria Fumaça o turista tem a oportunidade de conhecer a cultura italiana através das animações culturais e da degustação de produtos típicos da região como o vinho e o queijo. As apresentações culturais são realizadas dentro do trem e as degustações nas estações de Bento Gonçalves e Garibaldi (DEBENETTI, 2006). 5 Metodologia A presente pesquisa se enquadra no modelo descritivo, que segundo Diehl e Tatim(2004, p. 54) tem como finalidade principal a “descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Para Michel (2005), esse método é capaz de analisar, com maior exatidão, acontecimentos em seu caráter e em suas particularidades e, também, observar suas relações e intervenções no todo. Quanto aos procedimentos de pesquisa, o estudo se enquadra no método denominado levantamento, que tem como base o questionamento de um grupo de indivíduos, os quais se pretende conhecer (GIL, 2007).Segundo Mascarenhas (2012) esse método propicia o contato direto com os sujeitos que estamos estudando. Com isso, é possível compreender melhor o comportamento dos mesmos. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é caracterizada como qualitativa. Esse tipo de pesquisa não se evidencia numericamente, no entanto, se consolida empiricamente através de diagnósticos detalhados e consistentes (MICHEL, 2005). A pesquisa qualitativa tem como finalidade descrever a complexidade de determinado problema, e a interação de certas variáveis, compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de dado grupo e, possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (DIEHL; TATIM, 2004, p. 52). A técnica de pesquisa utilizada para caracterizar a Economia Criativa neste estudo de caso foi a entrevista semiestruturada. Nessa técnica há um diálogo entre os sujeitos interessados com a finalidade de se obter informações sobre determinado assunto. O modelo semiestruturado possibilita ao pesquisador liberdade para conduzir a entrevista para qualquer caminho possibilitando explorar com maior amplitude um assunto especifico (DIEHL; TATIM, 2004). 6 Análise e discussão dos dados Foi possível observar na loja de souvenirs, da estação do atrativo turístico Maria Fumaça, em Bento Gonçalves/RS, várias características da Economia Criativa presente nos produtos disponíveis. Primeiramente foi constatado que 30% da comercialização total da loja são de produtos com características da Economia Criativa, ou seja, feitos pela comunidade local, em micro ou pequenas empresas, que expõe a cultura da região e a criatividade de seu povo. Essa porcentagem pode ser considerada alta perante o número de souvenirs fabricados através da industrialização em massa. E, muitas vezes feitos em outras cidades e/ou países o que descaracteriza as singularidades da região. Sobre isso Freire-Medeiros e Castro (2007, p. 51) mostram o que acontece com os souvenirs do Rio de Janeiro: “os souvenires do Rio vendidos nessas lojas são, na maioria das vezes, “falsos cariocas”, originários de Minas Gerais e de outras localidades mais longínquas”. Outro fato relevante é que a maioria dos produtores que fornecem souvenir para a loja trabalham de forma individual. No entanto, existem também, em menor número, fornecedores que estão organizados na forma de cooperativas. Diante disso, pode-se constatar que esses trabalhadores criativos estão inseridos no mercado de trabalho adquirindo uma renda (principal ou complementar) para o seu sustento. Reis (2008a) comenta que a Economia Criativa pode ser a chave para a geração de emprego e renda em uma comunidade, promovendo dessa forma a inclusão social. Em se tratando da quantidade de fornecedores, foi possível dividi-los, conforme figura 5, segundo alguns tipos de souvenir sugeridos por Gordon (1986 apudHORODYSKI; MANOSSO; GÂNDARA, 2014) classificados da seguinte maneira: Produtos alimentícios; Vestuário; Artesanato (fins utilitários); Produtos com marca (apresentam a marca da destinação turística); Réplicas e ícones (representação dos principais atrativos da destinação turística). Figura 5. Divisão dos fornecedores de souvenir a partir do modelo de Gordon (1986). 9% Artesanato 13% 43% Vestuário Produtos alimentícios 13% Réplicas e ícones Produtos com marca 22% Fonte: elaboração própria. Através do gráfico é possível visualizar que a maior quantidade de fornecedores está relacionada aos bens classificados como artesanato (43%), no qual é possível destacar produtos como as cuias para a elaboração do chimarrão, os porta-chaves, as xícaras, os portacanetas, as bolsas de dressa4 os porta-garrafas de vinho, entre outros. O segundo grupo de fornecedores, em quantidade (22%), localizam-se na área do vestuário que compreende as roupas feitas de tricô e crochê como sapatos para bebê, boinas e blusas. A parte de alimentos que está representada pelos doces em compota, pelas balas, pelos amendoins caramelizados, pelos biscoitos pão de mel no formato da Maria Fumaça e as réplicas e ícones que envolvem as miniaturas do trem Maria Fumaça e a do Santo Antônio (padroeiro da cidade de Bento Gonçalves) estão em terceiro lugar na quantidade de fornecedores (13%). Os produtos com marca representados pelos imãs de geladeira e chaveiros são fornecidos por dois produtores locais (9%). A partir dessa classificação é possível perceber a gama de souvenirs que podem ser elaborados para transmitir a cultura local ao turista através do modelo de Economia Criativa. A representação da cultura local pode ser visualizada em diversos itens da loja de souvenirs, alguns podem ser destacados como, as réplicas do trem Maria Fumaça, representando o próprio atrativo turístico; os produtos feitos no formato de pipas de vinho, remetendo a cultura da produção de vinho, característica da Serra Gaúcha; a cuia para o chimarrão, reproduzindo a bebida típica do Rio Grande do Sul; entre outros produtos. A utilização da cultura local é uma característica fundamental na comercialização dos souvenirs, pois “os objetos adquiridos nas lojas de souvenires atuam ainda na ressignificação de 4 Na cultura italiana, dressa significa trança feita com palha de trigo. expectativas e imaginários anteriores à viagem, na medida em que proporcionam o contato com elementos sintetizadores da cultura local, atribuindo-lhe concretude” (REIS, 2008b, p. 6). Esse aspecto também é importante na Economia Criativa porque além de ser fator de “valorização simbólica, [a cultura local passa] a integrar sistemas econômicos e como tal, gerar empregos, novos empreendimentos e produção diversificada.” (PERTILE, 2014, p. 37). Já o souvenir considerado o “carro chefe” da comercialização da loja, ou seja, o mais procurado pelos turistas, é o imã de geladeira. Esse produto tem o formato do trem Maria Fumaça em uma espessura pequena, o que facilita o seu transporte. Sua funcionalidade pode ser de um item decorativo. A partir da identificação dos souvenirs que são comercializados nesse atrativo turístico foi possível fazer uma relação com os princípios norteadores da Economia Criativa brasileira, elaborados pela Secretaria da Economia Criativa, conforme figura 6. Figura 6. Relação dos princípios norteadores da Economia Criativa brasileira com os souvenirs presentes no atrativo turístico Maria Fumaça – estação Bento Gonçalves/RS. Fonte: elaboração própria baseada em Brasil, (2012). Nessa relação tem-se a diversidade cultural presente na maioria dos produtos da loja de souvenirs, seja nas réplicas de símbolos da destinação turística ou nas receitas e modo de preparo dos produtos alimentícios. A sustentabilidade é representada em alguns objetos que utilizam matéria prima e modos de elaboração que não irão agredir o meio ambiente como as bolsas dedressa, objeto feito através de técnicas manuais. A inovação está presente na criatividade dos tipos de souvenir e na ação da comunidade local de querer empreender colocando seu produto a venda. A inclusão social pode ser observada na geração de emprego e renda que a fabricação desses produtos proporciona. 7 Considerações finais A pesquisa conseguiu cumprir com o seu objetivo, pois identificou a contribuição da Economia Criativa através da comercialização de souvenirs no atrativo turístico Maria Fumaça, em Bento Gonçalves. No exemplo trazido neste estudo ficou evidente a relação do Turismo com a Economia Criativa, uma vez que para tangibilizar as experiências vividas nas atividades turísticas podem-se utilizar elementos que solidifiquem as características principais dos destinos turísticos como os souvenirs que “[...] são o que o viajante traz consigo ― representam materialmente o vínculo entre o lugar visitado e o lar para o qual se retorna” (FREIREMEDEIROS; CASTRO, 2007, p. 35). Diante disso, foi constatado no trabalho que os souvenirs são elaborados por pessoas da comunidade local, que agregam além da sua criatividade individual, aspectos da cultua local com isso gerando emprego e renda e se caracterizando como Economia Criativa. Pode ser observado que há um vasto caminho, na pesquisa, a ser percorrido no âmbito da Economia Criativa e do Turismo, pois existem poucos trabalhos na área. Uma possibilidade de estudo é investigar a contribuição da Economia Criativa para a renda familiar através da elaboração do souvenir. Uma das limitações do presente estudo é a aplicação da pesquisa em apenas uma organização. Para atingir resultados mais consistentes, o ideal seria ter um número maior de entrevistados. Referências BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014. Brasília: Ministério da Cultura, 2012. COSTA, Aline de Caldas. Rumo à Economia Criativa: Artesanato e Turismo em Itabuna. Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL– IV SeminTUR, 2006, Caxias do Sul. Anais eletrônicos... Caxias do Sul, p. 83-90, 2006. DEBENETTI, Valdete Elza Spindler. Passeio de Trem Maria Fumaça: os diferentes olhares. 2006. 149 f. Dissertação (Mestrado em Turismo). Programa de Pós Graduação em Turismo. Universidade de Caxias do Sul – UCS, 2006. 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