Trabalho 508 TENDÊNCIA TEMPORAL DA COBERTURA VACINAL CONTRA HEPATITE B NO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO E MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: ANÁLISE COMPARADA INTRODUÇÃO: As coberturas vacinais são indicadores que têm sido utilizados com aplicações variadas em saúde pública por representarem uma avaliação do acesso à atenção básica em saúde. A vacina contra o vírus da hepatite B foi desenvolvida na década de 60 e aperfeiçoada na década de 80 para garantir que não houvesse transmissão do vírus aos indivíduos vacinado, através da tecnologia DNA-recombinante, sendo incorporada ao Programa Nacional de Imunizações no calendário básico de vacinação da criança em 19981. Idealmente, deve ser a primeira vacina administrada ao recém-nascido, com a intenção de interromper a transmissão vertical do vírus da hepatite B. Em mães sabidamente portadoras do vírus da hepatite B, deve estar associada à administração da imunoglobulina contra hepatite B. Sua eficácia é elevada mesmo em bebês prematuros, variando entre 90 e 99%, quando administrada nas primeiras 12 horas de vida, ainda na maternidade2. No entanto, vacina tão importante tem sido alvo de críticas quanto ao seu alcance à população, pois entre as coberturas básicas do primeiro ano de vida, vem apresentando divergências entre as terceiras doses aplicadas aos seis meses. OBJETIVO: Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo analisar a tendência da cobertura vacinal com a vacina contra hepatite B, desagregada para a Capital Fluminense, Estado do Rio de Janeiro e Brasil, no período de num período de 11 anos. MÉTODOS: Como metodologia, foram calculadas as taxas cobertura vacinal para vacina contra hepatite B para o Município do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro e Brasil no período de 1999 a 2009. Para fazer as análises foram obtidos dados de cobertura vacinal através do DATASUS, gerados a partir do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-API). Inicialmente, foram feitos diagramas de dispersão entre as taxas de mortalidade e os anos de estudo, para se visualizar o tipo de relacionamento entre eles. A seguir, foi iniciado o processo de modelagem, considerando as taxas de mortalidade como variável dependente (Y) e os anos de estudo como variável independente (X). Para o estudo da tendência, optou-se por estimar modelos de regressão. Para se evitar a colinearidade entre os termos da equação de regressão, utilizou-se a variável centralizada. O primeiro modelo a ser testado foi o de regressão linear simples (Y = β 0 + β 1X) e, posteriormente, foram testados os modelos de ordem maior: segundo grau ou parabólico (Y = β 0 + β 1X + β 2X2), terceiro grau (Y = β + 1X + 0 β β 2X2 + β 3X3) e exponencial (Y = eβ +0 β 1X). Considerou-se como melhor modelo, aquele que apresentou maior coeficiente de determinação (R 2). Quando dois modelos foram semelhantes, do ponto de vista estatístico, para a mesma localidade, optou-se pelo modelo mais simples, ou seja, de menor ordem. RESULTADOS: Como resultado, o estudo descreve que entre 1995 e 1998 (este último tendo sido o ano de implantação da vacina) a análise da cobertura não deve ser considerada, pois neste período a vacina encontrava-se disponível apenas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), para indivíduos que atendiam a determinados critérios. No período analisado, a partir de 1999, houve variações discretas, notando-se em todos os âmbitos uma tendência ao crescimento com o passar dos anos. No município do Rio de Janeiro encontram-se as estimativas mais baixas, comparadas às estimativas para o Estado do Rio de Janeiro, que se comportam do mesmo modo em relação ao País, onde as coberturas globais são as mais elevadas. A tendência ao crescimento pode ser verificada através das equações propostas, que mostram que entre 41 e 60% do aumento das coberturas pode ser explicado pela variação dos anos (MRJ y = 1,2351x + 78,398 R2 = 0,6013, p-valor 0,006; ERJ y = 0,9034x + 85,543 R 2 = 0,4167, p-valor 0,03; Brasil y = 0,9505x + 88,941 R2 = 0,5589, p-valor 0,01). Nota-se que em 2005, ano em que aumentou a produção nacional da vacina através de transferência de tecnologia ao Instituto Butantã, houve um incremento importante na cobertura vacinal avaliada. Atualmente o Brasil é auto-suficiente na produção de vacinas contra hepatite B. DISCUSSÃO: Para discutir esses resultados, deve-se considerar que a incorporação da vacina contra hepatite B no calendário básico de vacinação é um grande avanço. 2147 Trabalho 508 Não só acena com a possibilidade de prevenir uma doença com casos agudos e portadores crônicos, mas também com a redução da incidência de câncer hepático associado à infecção viral 2. No entanto, quase 15 anos após sua introdução na rotina, as coberturas com a 3ª dose da vacina em menores de 1 ano ainda estão aquém do desejado índice de 95%. Excluindo-se os problemas relacionados ao denominador do cálculo de cobertura (nascidos vivos obtidos através do Sistema de Informações de Nascidos Vivos – SINASC), algumas considerações devem ser levadas em conta 3. A baixa adesão das maternidades em oferecer a vacina nas primeiras doze horas, além de aumentar o risco de transmissão vertical do vírus da hepatite B, resulta em administração da vacina em datas que não coincidem, no sexto mês de vida, com as demais vacinas ofertadas. Isto faz com que os responsáveis não retornem à unidade para uma única vacinação posterior aos seis meses e esta 3ª dose é recuperada apenas aos 12 meses de vida, quando a criança recebe a 1ª dose da vacina tríplice viral. Para todas as vacinas, é preciso apontar as falhas no registro das doses aplicadas. Outros estudos que correlacionaram o número de primeiras doses de vacinas BCG e hepatite B ou de terceiras doses de vacina contra poliomielite, tetravalente e hepatite B mostram divergências que só podem ser explicadas por erros de registro, pois a mesma criança não pode receber 2 ou 3 vacinas simultâneas em datas diferentes 4. Parece redundante, mas freqüentemente estudos sobre coberturas vacinais questionam a qualidade dos dados registrados, pois quanto maior for a limitação da equipe da sala de vacinas e do operador local do SI-API em registrá-los, pior será a informação produzida, resultando em coberturas incompreensíveis. Questões de desabastecimento da vacina no País também podem ser apontadas como motivo logo após a introdução de qualquer vacina, mas é fundamental que se esgotem os questionamentos sobre o registro de dados de doses aplicadas antes que qualquer outra hipótese possa ser levantada5. Sendo asssim, a cobertura vacinal com a vacina contra hepatite B encontra-se em crescimento, porém ainda insuficiente com relação à meta administrativa pactuada nos três âmbitos em que foi analisada: capital fluminense, Estado do Rio de Janeiro e Brasil. Estas coberturas podem, supostamente, estar subestimadas. No entanto, parece mais razoável aceitar que a informação a seu respeito sofra influência da captação dos dados e das perdas de oportunidades em vacinação, como a administração da vacina em até 12 horas em maternidades. Estes aspectos talvez expliquem melhor o comportamento das coberturas, principalmente ao se comparar com vacinas que teoricamente deveriam ser administradas simultaneamente. Em determinados períodos, os acréscimos foram decorrentes de melhor estrutura logística, fundamental para o bom funcionamento do programa de imunização em qualquer instância. CONCLUSÃO: Espera-se que com a introdução das vacinas contra o meningococo C e contra o penumococo 10-valente essa cobertura volte a subir, pois a 3ª dose da vacina contra hepatite B foi mantida aos 6 meses de vida e a vacina contra o pneumococo foi determinada para ser administrada aos 7 meses no calendário fluminense, paulista, paraense e em algumas outras unidades da federação, o que certamente gerará mais uma oportunidade de recuperação da cobertura vacinal. IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Como contribuição para a enfermagem, a hepatite B é uma doença que requer envolvimento dos profissionais de enfermagem desde a sua prevenção até a reabilitação, quando esta se faz possível. Não há dúvidas que as medidas relacionadas à sua prevenção são as que geram maior impacto na carga de doenças e conseqüentemente aos serviços de saúde, além dos ônus pessoal e sócio-econômico. A vacina contra hepatite B é ama alternativa segura, eficaz e custoefetiva para o controle da doença, até que ela seja reduzida em níveis de eliminação. Não sendo a única medida disponível para prevenção, as atividades de enfermagem do escopo da atenção primária, envolvendo especialmente educação em saúde, minimização de comportamentos de risco e redução de danos devem ser abordadas junto aos grupos de vulneráveis numa tentativa de assegurar que todas as medidas disponíveis estejam ao alcance dos indivíduos através do trabalho do enfermeiro. Descritores: vacinação; hepatite B; análise de tendência. Área temática: Políticas e práticas em Saúde e Enfermagem Referências bibliográficas: 2148 Trabalho 508 1. REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE. Indicadores básicos de saúde no Brasil: conceitos e aplicações Rede Interagencial de Informações para a Saúde - Ripsa – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2002. 299 p. 2. FERREIRA, C. T.; SILVEIRA, T. R. Prevenção das hepatites virais através de imunização. J Pediatr (Rio J). 2006; 82(3,supl):s55-s66. 3. TEIXEIRA M. A. S.; MOTA, E. L. A. Denominadores para o cálculo de coberturas vacinais: um estudo das bases de dados para estimar a população menor de um ano de idade. Epidemiol. Serv. Saúde. 2010;19(3):187-203 4. AYRES, A. R. G.; RIBEIRO, T. S. T.; VALENTE, J. G.. Coberturas vacinais contra hepatite B e com tetravalente no estado do Rio de Janeiro de 2002 a 2006. In: II Seminário de pesquisa do IMS: engajamento discente e busca por fomento, 2007, Rio de Janeiro. Série Estudos em Saúde Coletiva - II Seminário de pesquisa do IMS: engajamento discente e busca por fomento. Rio de Janeiro : IMS/UERJ, 2007. p. 1-188. 5. DUARTE, C. D. et al. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo exploratório. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2002. 123 p. 2149