aborto por herpesvírus bovino tipo 1: relato de caso

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ABORTO POR HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 1: RELATO DE CASO
ALBARELLO, Morgana Centenaro1; MARTINS, Angela2; SILVA,
Vanusa Israel3, BORGES, Luiz Felipe Kruel4.
Palavras Chave: Aborto. Herpes Vírus. Bovinos.
Introdução
Os herpes vírus estão amplamente disseminados na natureza e apresentam uma grande
variedade de hospedeiros como insetos, répteis, anfíbios, aves e mamíferos, incluindo o
homem e animais domésticos e selvagens. Praticamente todos os animais explorados
economicamente apresentam pelo menos uma entidade clinica determinada pelo HV
(ALFIERI et. al., 1998 apud WYLER et. al., 1990).
Os gêneros de HV caracterizam-se por determinarem infecções agudas e rápida
destruição celular. Assim, são produzidas lesões necróticas na pele e nas mucosas dos tratos
respiratório e genital, determinando a formação sequencial de vesículas, pústulas, úlceras e
erosões. A infecção determinada pelo BHV-1 afeta principalmente os tratos respiratório e
genital dos bovinos e pode ser subdividida em duas entidades clínicas denominadas
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e Vulvovaginite/ Balanopostite Pustular Infecciosa
(IPV/IPB) respectivamente na fêmea e no macho (TAKIUCHI et al., 2001 apud GIBBS &
RWEYEMANN, 1977).
As infecções sistêmicas são mais frequentes em animais jovens, desprovidos de
imunidade passiva, e comprometem principalmente os sistemas respiratório e digestivo
(ALFIERI et. al., 1998 apud GIBBS & RWEYEMANN, 1977). Em fêmeas gestantes a
viremia pode acarretar na transferência transplacentária do vírus, desencadeando uma série de
distúrbios reprodutivos caracterizados por mortalidade embrionária (precoce ou tardia),
aborto, natimorto e infertilidade (ALFIERI et. al., 1998).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de surto por Herpesvirus Bovino Tipo 1.
1
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz
[email protected].
2
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz
[email protected].
3
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz
[email protected].
4
Professor, Mestre do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz
[email protected].
Alta;
e-mail:
Alta;
e-mail:
Alta;
e-mail:
Alta; e-mail:
Material e métodos
Foi diagnosticado na propriedade Monte Alegre, localizada no município de
Maçambará, região da fronteira do Estado do Rio Grande do Sul á 588 km da capital, uma
viremia de HVB-1, cuja suspeita surgiu a partir de lesões pustulares na mucosa vaginal de
vacas prenhas e não prenhas da propriedade. Essa propriedade possui 1750 vacas e novilhas
em reprodução, todas submetidas à inseminação artificial no período de dezembro 2012 janeiro de 2013 e repasse com touros, sendo esses um total de nove animais da Raça Braford
adquiridos no ano de 2012 e submetidos a exame andrológico, não sendo identificada a
presença de nenhuma alteração. A estação de monta da fazenda teve duração de três meses.
As vacas encontravam-se em campo nativo de média qualidade em uma lotação de 1
animal/ha e constituíam um rebanho heterogêneo com presença de várias raças e categorias,
com escore corporal médio 2-3. Esses animais eram oriundos de diferentes locais, sem
histórico de vacinação e depois de ingressadas na propriedade e iniciada a estação reprodutiva
não foi realizada vacinação contra nenhuma enfermidade de cunho reprodutivo, nem sequer
inspeção do estado clínico das vacas.
Foram visualizados três abortos na propriedade e lesões pustulares na mucosa vaginal
na maioria das vacas. O diagnóstico das lesões deu-se no mês de julho de 2013, no terço final
da gestação.
O Médico Veterinário responsável pela assistência na fazenda realizou no dia 16 de
julho de 2013 o exame clínico e coletou sangue proveniente da Veia Coccígea de 12 animais.
Esse sangue foi acondicionado em tubos contendo EDTA e em uma caixa isotérmica com
gelo, após foi encaminhado para o laboratório da UFSM para pesquisa de herpes vírus bovino.
A partir do exame de Soro neutralização (SN), realizado no Laboratório de Virologia
da Universidade Federal de Santa Maria,
Resultados e discussões
O teste de soro-neutralização é utilizado para detectar anticorpos que possuem
capacidade de neutralizar a infectividade do vírus (anticorpos neutralizantes). Esta prova
apresenta uma sensibilidade de 89.2% e especificidade próxima a 100%. No Brasil a maioria
dos estudos para detecção do BHV-1 utiliza a soroneutralização como teste sorológico padrão
(FERREIRA, 2009). Os resultados obtidos a partir desse exame laboratorial estão ilustrados
na Tabela 1.
Tabela 1: Número da amostra com seu respectivo resultado para IBR e valor da titulação.
AMOSTRA
01
12
06
02
RESULTADO
Negativa
Negativa
Positiva
Positiva
TITULAÇÃO
----128
4
03
04
05
07
08
Positiva
Positiva
Positiva
Positiva
Positiva
64
2
120
150
64
Para a detecção das amostras positivas para rinotraqueíte infecciosa bovina utilizou-se
a técnica de soroneutralização viral, conforme recomendação da Organização Internacional de
Epizootias (OIE). Se considera positivo toda neutralização que produz um título igual ou
superior a 1 (seguindo a convenção da diluição inicial) (CARON, 2001).
Dentre os herpesvírus de bovinos, destacam-se os vírus pertencentes á subfamília
Alphaherpesvirinae. O herpes vírus bovino tipo 1 (BoHV-1) é um alfaherpesvirus e pertence
ao gênero Varicellovirus. Esse vírus tem sido associado com diversas manifestações clinicas
em bovinos, que incluem a Rinotraqueite Infecciosa (IBR), vulvovaginite pustular/
balanopostite pustular infecciosa (IPV / IPB), abortos e infecção generalizada em neonatos.
As infecções podem ser transmitidas pelo contato direto e indireto entre animais,
porque o vírus é disseminado através de secreções respiratórias, oculares e genitais, sendo
excretado em grandes quantidades por animais durante a infecção aguda (FLORES, 2007).
É provável que exista atualmente, no Brasil, uma parcela muito pequena de rebanhos
livres do BoHV- 1. Estima-se que o nível médio da prevalência da infecção nos rebanhos
situe-se entre 30 a 70%. Os principais fatores que vem contribuindo para a difusão desses
microrganismos são a introdução dos rebanhos de animais oriundos de leilões ou de
importações, sem exigências sanitárias necessárias para prevenir a infecção, a crescente
utilização de confinamentos para engorda de animais, a não obrigatoriedade de controle
virológico do sêmen comercializado no País e, principalmente, a falta de informação dos
criadores, das autoridades e veterinários sobre essas viroses (PIRES, 2010).
Desse modo, suspeita-se que a transmissão da doença nessa propriedade tenha
ocorrido por meio da introdução de fêmeas de diferentes origens e sem dados sanitários.
Os animais latentemente infectados são fontes potencias de infecção para outros
animais. As causas dos episódios de reativação são parcialmente desconhecidas, mas alguns
fatores desencadeantes são notórios, como o estresse e aplicação de drogas
imunossupressoras, como corticosteroides. O vírus pode, ainda, estar no sêmen de touros
infectados, podendo ser disseminado tanto por monta natural como por inseminação artificial
(FLORES, 2007).
Acredita-se que as condições pobres do campo provocando restrições alimentares,
tenham desencadeado um quadro de estresse nos animais, e assim desenvolvendo as
manifestações clinicas do vírus, que se encontrava em latência.
A maioria das infecções genitais por herpesvírus em bovinos estão associadas com
amostras do BoHV-1 subtipo 2b. A IPV aguda se desenvolve após a infecção do trato genital
da fêmea durante a cobertura ou inseminação artificial. Pode, ainda, ocorrer por contato da
mucosa com secreções contaminadas com o vírus. Após um curto período de incubação (1 a 3
dias), a vulva se apresenta hiperêmica, edemaciada e com vesículas distribuídas na mucosa
(FLORES, 2007). Esses sinais clínicos foram observados na maioria das fêmeas do rebanho.
As vesículas evoluem para pústulas, que podem coalescer e formar úlceras. O
abortamento é consequência da infecção por via respiratória em vacas soronegativas. Ele
ocorre comumente entre o quarto e o oitavo mês de gestação. Através da viremia, o agente
infeccioso consegue ultrapassar a barreira materno-fetal e produzir infecção letal no feto
(PIRES, 2010). Na propriedade o aborto (Figura 4) ocorreu no terço final da gestação,
condizendo com essa informação do autor.
Considerações Finais
Concluímos que é fundamental a cautela no momento de ingresso de novos animais no
rebanho, visando evitar a introdução de doenças infecto contagiosas, como a IBR, nos animais
já existentes no local. Alem disso, é imprescindível que haja um calendário de vacinação
adequado e que se realize exame andrológico minucioso nos machos da propriedade de forma
a prevenir a transmissão via venérea da doença. Outra questão relevante é amenizar o estresse
a que os animais são submetidos, pois como já relatado, este promove a reativação de
infecções latentes.
Referências
ALFIERI, A; ALFIERI, A; MÉDICI, K. Consequências da infecção pelo herpesvírus
bovino tipo 1sobre o sistema reprodutivo de bovinos. Semina: Ci. Agrárias, Londrina, v.
19, n. 1, p. 86-93, mar.98.
CARON, L. Intercorrência entre diarréia viral bovina (bvdv), rinotraqueíte infecciosa
bovina (ibr/ipv) e leptospirose dos bovinos em vacas leiteiras descartadas. Dissertação do
Curso de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2001.
FERREIRA, R. Prevalência da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) em touros
bubalinos em propriedades localizadas no Amapá e Ilha de Marajó (PA). Dissertação
(mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento
Rural, Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Belém, 2009.
FLORES, E. F. Virologia veterinária. Editora de Santa Maria, Santa Maria, 2007; pag. 450451.
PIRES, A. V. Bovinocultura de Corte. Piracicaba: FEALQ, 2010; vol. II; pag. 1084-1085.
TAKIUCHI, E; ALFIERI, A; ALFIERI, A. Herpesvírus bovino tipo 1: Tópicos sobre a
infecção e métodos de diagnóstico. Semina: Ci. Agrárias, Londrina, v. 22, n.2, p. 203-209,
jul./dez. 2001.
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