AMIGOS, ALEGRAI-VOS COMIGO! Georgino Rocha Jesus põe este

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AMIGOS, ALEGRAI-VOS COMIGO!
Georgino Rocha
Jesus põe este alegre convite na boca de um pastor e de uma dona de casa ao contar
duas histórias de misericórdia. Aproveita o facto de publicanos e pecadores se
aproximarem dele e de os fariseus e escribas estarem a murmurar. Os discípulos
acompanham a cena e não intervêm. O eco do que Jesus fazia e ensinava divulgavase velozmente. E as multidões acorriam a ouvi-lo, a vê-lo, a tocar-lhe, sendo possível.
Não é difícil desvendar algumas razões para esta desejada aproximação: satisfazer
os anseios da coração, confirmar a validade da notícia recebida, confiar nalguma
mercê a receber. O certo é que deixavam o ram-ram da vida, venciam acomodações,
expunham-se a privações e a outros riscos. Abrem caminho a que nos perguntemos:
E nós por que andamos com Jesus, que buscamos, que disposição alimentamos?
O grupo dos “homens religiosos”, tinha outras intenções. Incomodado com o
proceder de Jesus e seus ensinamentos a respeito de Deus e das suas preferências,
tentam apanhá-lo em flagrante e, assim, poderem acusá-lo de algo grave que desse
origem a um processo de condenação. Ouvem para murmurar, não para
compreender, acompanham para vigiar, não para acolher nem apreciar; observam
para acusar, não para anunciar a verdade. “Este homem acolhe os pecadores e come
com eles”, afirmam sem rodeios, convictos. E ninguém os contradiz, pois estava à
vista de todos. Também aqui o grupo dos fariseus nos oferece um espelho de tantas
outras pessoas que sabem observar, opinar, insinuar, “fofocar”. E por aí se ficam.
Como os treinadores de bancada ou de sofá. Religião vazia de sentido, ritos e
devoções que “emitem” uma imagem desfocada do rosto de Deus.
A paixão de Jesus, em tudo o que diz e faz, é mostrar a novidade de Deus, o seu rosto
de bondade, o seu agir de misericórdia, a sua alegria de comunhão, sobretudo após
um desencontro ou desvio daqueles que muito ama. Lucas, excelente narrador do
que averiguou diligentemente, descreve num estilo sóbrio e elegante, as referidas
parábolas do pastor e da dona de casa, além de outras. De todas estas, ergue-se como
monumento maior a do Pai bondoso e dos seus filhos: o pródigo e o obstinado. Hoje,
centramos a reflexão dominical, nas duas primeiras, pois a terceira é mais
conhecida, comentada e valorada.
A alegria do pastor ao ver o seu rebanho todo e a satisfação da dona de casa ao
conservar as moedas juntas é profundamente alterada. Abre-se uma ferida: a parte
que abandona o conjunto, o vazio gerado que fica a descoberto, o gosto amargo que
atormenta o coração atento e solícito. Ferida que só terá cura quando se refizer a
união e se estabelecer a relação. Por isso, cada um a seu modo, não se poupa a
esforços nem teme correr riscos; não olha a lonjuras nem a demoras; porfia sempre
até que alcança. Que paciência inquieta! Que persistência diligente! E o pastor
regressa com a ovelha perdida acarinhada aos ombros. E a dona de casa, exultante,
mostra às amigas e vizinhas a moeda encontrada. E, como se fosse em coro, Jesus
põe na sua boca o mesmo convite entusiasta e jubiloso: “Alegrai-vos comigo, porque
encontrei”.
A alegria é fruto do encontro de Jesus com cada um de nós. Ele procura-nos sempre.
Mesmo quando disfrutamos de uma liberdade efémera. E percorremos caminhos
ínvios na vida. Procura-nos, sobretudo, quando nos sentimos mais “perdidos”, sem
horizontes nem sentido, “encurralados” no egoísmo e saturados de experiências “ao
minuto”. O encontro com Jesus provoca a partilha jubilosa, fruto da novidade
surgida, da dignidade recuperada.
Evocando Santa Teresa de Calcutá, transcrevo um breve trecho do seu discurso na
sede das Nações Unidas, em 1985, discurso em que refere que um casal se dirigiu à
casa das Missionárias da Caridade para lhe oferecer uma significativa quantia:
«Perguntei-lhes: “Onde é que conseguiram tanto dinheiro?”. Responderam:
“Casámo-nos há dois dias. Antes do casamento, decidimos que não compraríamos
vestes de casamento, que não teríamos festa e que lhe daríamos esse dinheiro”. E eu
sei, continua a Madre Teresa, o que significa no nosso país [Índia], numa família
hindu, não ter vestes de casamento, não ter festa de casamento. Então perguntei-lhes
outra vez: “Mas porquê? Porque é que fizeram isso?”. E eles responderam:
«Amamo-nos tanto um ao outro que quisemos partilhar a alegria do amor com as
pessoas que a Madre Teresa serve”. Como é que experimentamos a alegria de amar?
Como é que o experimentamos? Dando até que doa. (…) Doeu a Jesus amar-nos,
porque Ele morreu na cruz, para nos ensinar como amar. E esta é a maneira que
nós temos também de amar: até que doa».
As histórias contadas por Jesus apontam um horizonte rasgado: Há festa no Céu,
sempre que se vive a alegria da misericórdia na terra. O próprio Deus envolve-se no
reencontro dos irmãos desavindos, na re~utilização dos bens para todos, na
comunhão celebrada com amigos e vizinhos. Que maravilha e beleza nos transmite
Jesus a respeito do nosso Deus.
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