ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS NO CRESCIMENTO INICIAL DE CLONES DE EUCALIPTO TRATADOS COM PACLOBUTRAZOL Saad Miranda Silva dos Santos (1); Marcos Vinicius Santana Leite (2); Silvana Naomi Matsumoto (3); Danusia Valeria Porto Cunha (4); Ricardo de Andrade Silva (5) (1) Mestrando em Ciências Florestais, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]; (2)Mestrando em Ciências Florestais, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]; (3) Professora, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]; (4)Mestranda em Ciências Florestais, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected];; (5) Mestrando em Agronomia, UESB/Universidade estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]. RESUMO O eucalipto em regiões de condições ambientais limitantes sofre alterações abruptas em seu mecanismo morfofisiológico. Modular o ritmo de crescimento na fase inicial é uma alternativa para um melhor estabelecimento dessa cultura. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar os impactos da aplicação de diferentes concentrações de paclobutrazol (PBZ) em dois híbridos de eucalipto na fase de crescimento inicial. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, utilizando os híbridos AEC 1528 (hibrido de E. urophylla x E. grandis) e AEC 144 (hibrido espontâneo de E. urophylla), submetidos a concentrações do PBZ de 0, 50, 100, 150 e 200 ppm do ingrediente ativo, aplicados no solo. O delineamento experimental definido foi o de blocos inteiramente casualizados em esquema fatorial 5x2. As mudas foram plantadas em vasos de 20 litros, contendo uma planta por vaso, sendo considerada como unidade experimental. A avaliações dos parâmetros morfológicos ocorreram aos 90 dias após aplicação do PBZ. A aplicação de PBZ via solo inibe o desenvolvimento e crescimento de clones de eucalipto para todas as concentrações estudadas. Houve a redução da altura, diâmetro do colo, número de brotos laterais e da relação altura/diâmetro (H/D) para as doses estudadas se comparadas à testemunha. Esta redução da relação H/D ocorreu principalmente pela maior inibição que o PBZ promoveu na altura, sendo favorável para regiões de déficit hídrico. Palavras-chave: reguladores de crescimento; inibidor de giberelina; Eucalipto. INTRODUÇÃO O eucalipto assume no setor florestal brasileiro uma relevante importância em relação às outras espécies (MORAES et al., 2012). No ano de 2012, a área ocupada por plantios florestais no Brasil ultrapassava 6 milhões de hectares, onde 76,6% correspondem às áreas de plantios de Eucalyptus (ABRAF, 2013). Com o avanço das fronteiras de florestas plantadas, regiões com características ambientais menos favorecidas, têm sido exploradas com plantios de espécies de rápido crescimento, como o eucalipto, para atender a demanda por produção de madeira, principalmente destinada para fins energéticos. Em regiões semiáridas, mesmo com a prática da irrigação inicial, devido á elevada evapotranspiração, a manutenção hídrica da planta não consegue ser otimizada pois, a capacidade de absorção de água pelas raízes e a condutividade hidráulica dos solos são insuficientes para compensar as perdas por transpiração da parte aérea da planta (MONTEIRO, 2009). A restrição da disponibilidade de água é um fator que modula a plasticidade fenotípica da planta, resultando em alterações morfofisiológicas como a senescência foliar, redução de acúmulo de massa, elevação da resistência estomática e redução da capacidade fotossintética (CAVATTE, 2011). Embora estas alterações atenuem o status hídrico da planta, quando estas ocorrem na fase inicial de crescimento promovendo a redução do vigor, o potencial produtivo da madeira é restringido de modo irreversível. Uma das formas de interferir nesta interação de plasticidade fenotípica seria por meio do manejo de reguladores vegetais. Dentre os vários reguladores de crescimento disponíveis no mercado, pode-se destacar o Paclobutrazol (PBZ), que atua principalmente na redução da taxa de crescimento e na elevação da resistência das plantas às doenças de natureza fúngica e tolerância ao estresse hídrico (CHANEY, 2004). O modo de ação do PBZ, ocorre pela inibição em uma das etapas da síntese de giberelina. Esta inibição tem como consequência a alteração dos níveis de ácido abscísico, citocinina, etileno (FLETCHER et al., 2000) e auxina (DAVIS & CURRY, 1991). Outro efeito promovido pelo PBZ é a restrição do crescimento da parte aérea das plantas (PARDOS et al., 2005), resultando em menor evapotranspiração. Esta redução da superfície de transpiração da parte aérea e o aumento da superfície de absorção de água no solo, favorecem a condição hídrica da planta. As alterações promovidas pelo PBZ dependem da espécie e variedade, do estágio de desenvolvimento das plantas, bem como das concentrações e modo de aplicação do inibidor (SILVA & FARIA JÚNIOR, 2011). Com isso, este estudo foi desenvolvido com o objetivo avaliar o efeito das diferentes concentrações de PBZ nas alterações morfológicas de dois clones de eucalipto na fase inicial de crescimento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, campus de Vitória da Conquista. O município localiza-se na região Sudoeste do estado da Bahia, Brasil, na microrregião do Planalto da Conquista entre às coordenadas 14°51'58'' de latitude Sul, e 40°50'22'' de longitude oeste. A altitude média é de 923 m, com uma área de 3.356,886 km² e precipitação anual de 733,9 mm (IBGE, 2014). Foram utilizadas mudas com 90 dias de idade de dois clones de híbridos comercialmente conhecidos como AEC 1528 (Eucalyptus urophylla x Eucalyptus grandis) e AEC 144 (híbrido espontâneo de E. urophylla). Estas foram plantas em vasos de 20 litros contendo solo e matéria orgânica na proporção 3:1, respectivamente. O experimento foi conduzido em delineamento experimental em blocos casualizados (DBC), com cinco blocos, em esquema fatorial 5 x 2, constituído de cinco concentrações de PBZ (0, 50, 100, 150 e 200 ppm) e dois clones híbridos (clones AEC 1528 e AEC 144). A unidade experimental foi constituída por um vaso contendo uma planta. A aplicação do PBZ foi feita via solo, sendo aplicado um volume de 500 mL por planta, 15 dias após o transplantio das mudas. As avaliações morfológicas foram realizadas 90 dias após a aplicação do PBZ. Foram determinadas a altura da planta (da base do caule até o ápice da planta), diâmetro do caule (com paquímetro digital modelo DC-6, 3 cm acima do solo) e número de brotos laterais. A relação entre altura e diâmetro (H/D) foi determinado pela razão entre as variáveis, cujos valores se expressam sem unidade. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), para as médias do fator qualitativo foi aplicado o teste de Tukey 5% de probabilidade e as médias do fator quantitativo foi aplicado a regressão polinomial, foram definidos considerando os valores do coeficiente de determinação (R 2 ≥ 50%), utilizando-se o programa SAEG, v. 9.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da análise dos dados levantados, pode ser verificado que ocorreu efeito entre as diferentes concentrações testadas de PBZ para as características morfológicas avaliadas. Quando foi analisado o efeito dos clones e a interação entre concentrações do regulador e clones não se observa diferenças para essas características (Tabela 1). Tabela 1- Resumo da análise de variância de dois clones de eucalipto (C) submetidos a concentrações de PBZ (D) para as características de altura (ALT), diâmetro de caule (DC), número de brotos laterais (NBL), relação altura/diâmetro (H/D), avaliadas aos 90 dias após aplicação do regulador. CV GL D C DXC Bloco Resíduo C V (%) 4 1 4 4 36 ALT 2540,3** 53,0ns 61,9 ns 130,2 ns 52,3 14,5 Quadrados Médios DC NBL 6,434** 39,52** 2,509 ns 0,98 ns ns 0,547 6,08 ns 3,214* 37,47** 1,088 6,9811 9,9 20,7 H/D 11,46303** 0,000051 ns 0,505204 ns 1,107761 ns 0,425199 13,9 Onde: FV = Fonte de Variação; GL= Grau de Liberdade; ns = não significativo pelo teste F; * = significativo a 5% pelo teste F; ** = significativo a 1 %, pelo teste F. Para ambos os clones estudados, as relações entre concentrações de PBZ e altura (ALT), diâmetro do colo (DC), número de brotos laterais (NBL) e relação altura/diâmetro do colo (H/D) foi estabelecido o modelo polinomial de segunda ordem, caracterizado por decréscimos até as concentrações de 140, 160, 116 e 180 ppm, respectivamente, seguido de elevação de valores até a concentração máxima (Figura 1a, b, c, d). Deve ser salientado, que para todos os parâmetros analisados, a testemunha se manteve superior às plantas tratadas com PBZ. Os percentuais de reduções foram de 51,67%, 21,62%, 25,24% e 49,18% para ALT, DC, NBL e H/D, respectivamente (Figura 1a, b, c, d). Como se observa, a ALT é o principal parâmetro inibido pelo PBZ, e isso pode ser associado à inibição de alongamento do caule (PARDOS et al., 2005). De acordo com Chaney (2005) a altura das plantas pode ser reduzida em até 60% quando se aplica 100 mL por planta de PBZ. A efetividade da inibição do crescimento em altura de plantas, usando este mesmo inibidor, também foi observada por Moraes et al. (2012) em Eucalyptus grandis. A ação efetiva do inibidor para esse parâmetro está relacionada a inibição da biossíntese da GA 1 (giberelina biologicamente ativa), responsável diretamente pelo crescimento do caule (TAIZ & ZEIGER, 2013). Em estudo realizado com mudas de Eucalyptus nitens submetidas à aplicação de PBZ, cloreto de Chlormequat e Prohexadiona-Ca, a eficácia relativa dos diferentes inibidores na redução de altura foi relacionada com a diminuição de 83% dos níveis de GA 1 e GA 20 nos tecidos apicais em todas as concentrações utilizadas (WILLIAMS et al., 1999). Dentre as características morfológicas estudadas, o DC foi a que apresentou menor porcentagem de inibição (21,62%) em relação à testemunha. A menor efetividade do inibidor para DC foi relacionada à ausência de biossíntese de giberelinas no câmbio vascular (LEOPOLD & KRIEDEMANN, 1975) e pela menor expressividade do crescimento secundário do câmbio na fase de crescimento. Foi observada também a redução do DC, promovida pela aplicação de PBZ, em Pinus nigra e Betula papyfera (CHORBADJIAN et al., 2011), Eucalyptus camaldulensis e E. tereticornis (VARGHESE et al., 2008) e no estágio inicial de crescimento de Eucalyptus grandis (MORAES et al., 2014). Figura 1- Características morfológicas ALT (a), DC (b), NBL (c), H/D (d), dos clones de eucalipto AEC 1528 e AEC 144, submetidos a concentrações de PBZ aos 90 dias após transplantio. A redução do número de brotos laterais (NBL) das plantas tratadas com o PBZ em relação à testemunha, pode ser explicado devido ao PBZ promover a redução dos teores de carboidratos totais nas folhas, principalmente pela diminuição da sacarose. Embora seja classificado como um carboidrato metabólico, a sacarose foi diretamente relacionada à formação de brotos. Desta forma a redução de sacarose promovida pelo PBZ resultou em redução no número de brotações laterais em citros para todas as concentrações testadas em relação à testemunha (VU & YELENOSKI, 1992; OKUDA et al., 1996). Foi observado que a inibição máxima ocorreu na concentração estimada de 180 ppm com uma redução de 49,18% em relação a testemunha para a relação H/D, e com isso foi alcançado um valor de 3,13 para esta relação (Figura 1d). Esta redução é atribuída principalmente pela maior eficiência do PBZ na inibição da ALT. A redução da relação H/D promovida pelo PBZ é favorável em ambientes com baixos índices pluviométricos, pois quanto menores os valores mais robusta serão as plantas (GROSSNICKLE, 2012), podendo aumentar consequentemente taxa de sobrevivência em campo (VILLARSALVADOR et al., 2009). Entretanto, o valor verificado neste trabalho foi inferior ao intervalo ideal de 5,4 a 8,1 proposto por Trigueiro & Guerrini (2003) para Eucalyptus. CONCLUSÕES A aplicação de PBZ via solo inibe o desenvolvimento e crescimento de clones de eucalipto. Houve a redução em altura, diâmetro do colo, número de brotos laterais e para a relação Altura/Diâmetro para os dois clones estudados com aplicação do PBZ se comparados a testemunha. Com uma menor relação H/D as plantas tratadas com PBZ houve um aumento na robustez das mesmas, o que é favorável para regiões com déficits hídricos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAF – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTAS. ANUÁRIO ESTATÍSTICO 2013: ano base 2012. Brasília, DF: ABRAF, 2013. Disponível em:<www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acesso em: 10 ago. 2015. CAVATTE, P. C. Variações morfofisiológicas na aclimatação e reaclimatação à disponibilidade de luz e de água. Universidade Federal de Viçosa, 100 p. 2011. CHANEY, W. R. 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