O verbo “tratar” Nas provas, sua presença tem gerado variadas questões e isso permite fechar o foco em seus problemas. Interessa para a nossa análise o verbo tratar com o sentido de “discorrer sobre um assunto, versar sobre algo, ter por assunto”, situação em que pode ser usado com objeto indireto introduzido pela preposição “de”: Os estudos tratam do efeito estufa. Na palestra, ele tratava da nova fase econômica brasileira. As suas divagações trataram apenas de coisas impossíveis. A primeira estrutura que merece destaque é a do sujeito indeterminado com o pronome “se”, ou seja, com o índice de indeterminação do sujeito. Nesse caso, sai o sujeito da frase, entra o pronome “se” e o verbo deve ficar no singular: Trata-se do efeito estufa. Tratava-se da nova fase econômica brasileira. Tratou-se apenas de coisas impossíveis. Nas provas dos concursos, atenção total à concordância verbal, pois nessa estrutura de indeterminação do sujeito o verbo tem de ficar no singular, regra nem sempre acatada pelas questões. Confira: (ESAF) Tratam-se de possibilidades. (correto no singular: “Trata-se”) (ESAF) Segundo alguns pensadores modernos, não se tratam de projeções utópicas os empreendimentos culturais e sociais. (correto no singular: “não se trata”) Trataram-se de assuntos pouco usuais. (correto no singular: “Tratou-se”) (VUNESP) Mantêm-se a coerência textual e a correção gramatical ao se substituir “Trata-se de nosso patrimônio lingüístico” por “Tratam-se de nossas línguas e idiomas nacionais”. (errado) (CESPE) “Trata-se de um monumento de erudição, pleno de conhecimento de história”. Ao se substituir “um monumento de erudição, pleno” por “reflexões eruditas, plenas de”, a forma verbal “Trata-se” deve ser flexionada em número. (errado) (CESPE) Outra questão “freguês” nas provas refere-se a uma falha de montagem, em que se usa o índice de indeterminação do sujeito “se”, mas se mantém o sujeito, ou seja, simultaneamente há o sujeito e a indeterminação do sujeito, algo incoerente e errado. Acompanhe algumas questões retiradas de provas, todas elas com falha, pois trazem ao mesmo tempo o sujeito e o índice de indeterminação do sujeito. Para simplificar a análise, sublinho o sujeito e o pronome “se”: (ESAF) Trata-se a reforma de recuperar ou ampliar a receita pública. (ESAF) A questão da guerra fiscal trata-se de um fenômeno. (ESAF) A guerra não se trata de um jogo de soma positiva. Trata-se o interrogatório de uma prática regulamentada, que obedece a procedimento bem definido. (ESAF) (ESAF) Esta revolução trata-se de uma mudança radical de mentalidade. (ESAF) Trata-se a questão de afastar da análise as interferências ideológicas Segundo o texto, ‘biomonitoramento biológico’ trata-se de um método de classificação das águas de rios, córregos e lagos com base na fauna. (CESPE) “Como todo mundo sabe, trata-se de uma história em que pessoas conseguem descobrir uma verdade que coloca em questão a própria soberania do soberano.” O segmento “trata-se de uma história em que pessoas” estaria igualmente correto se assim estivesse escrito: “trata-se a história de pessoas que...”. (errado) (ESAF) Para sanar essas construções com falha, deve-se optar entre usar ou o sujeito ou índice de indeterminação do sujeito. Usar ambos na mesma frase é errado. Forte abraço e até a próxima. João Bolognesi