Jewish-Christian Relations Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue Klenicki, Leon Panorama das Relações Católicas-Judaicas na América Latina: de 1968 ao Fim do Século Leon Klenicki Relações interreligiosas, e muito especialmente relações católicas-judaicas, foram um recente desenvolvimento na vida da América Latina. Antes da promulgação do documento Nostra Aetate (no qual o n.º 4 trata do relacionamento com o Judaísmo e o povo judaico), do Concílio Vaticano II não havia senão esforços esporádicos em vários países do continente. Os heróicos programas interconfessionais dos Conselhos de Judeus e Cristãos na Argentina, no Brasil, Uruguai e Chile ajudaram preparar uma atmosfera de diálogo. Na Argentina, porém, a liderança católica desaprovava o relacionamento interreligioso. Embora essa mentalidade mudasse em 1965, alguma indiferença no relacionamento entre católicos e não-católicos permanecia. Em agosto de 1968, no tempo em que o Papa Paulo VI visitou a Colômbia, a CELAM (Conferência Episcopal da América Latina), e a Liga Anti-Difamação organizaram o primeiro encontro oficial de católicos e judeus em Bogotá. Sob muitos aspectos, este revolucionário passo para frente inspirou grupos na América Latina a desenvolverem programas interconfessionais. O encontro, atendido por leigos, bispos, padres e rábis, publicou uma declaração que tratava três áreas de ação. Uma das áreas de ação era o serviço comunitário. Recomendava "contato e ação comum por famílias judaicas e cristãs, visando prestar serviços de caráter familiar e social". Uma segunda área enfocava mútuo estudo e intercâmbio cultural. Indicou que "a CELAM e as organizações judaicas correspondentes devem encorajar o estabelecimento recíproco de cursos de estudos e seminários em departamentos teológicos. Roteiros de conferências de peritos católicos e judaicos devem ser promovidos. Estudo da Bíblia por grupos conjuntos de famílias e de estudantes é recomendado, e textos e comentários de interesse mútuo devem ser postos à disposição. Uma lista de endereços de pessoas no trabalho das relações cristãs-judaicas deve ser preparada." A terceira área de ação mencionada é a realidade de preconceito. Indicou que "o encontro propõe preocupar-se com descobrir mútuos preconceitos em escolas, seminários e famílias. Livros de textos, catecismos e livros de oração, bem como dicionários e enciclopédias devem ser revisados, visando qualquer forma de mútuo preconceito." Uma quarta área de ação, "Culto partilhado", recomendou "que conhecimento da liturgia do outro deve ser promovido e o uso de termos no vocabulário de culto definido". O colóquio de Bogotá abriu a possibilidade para outros encontros e a distribuição de publicações. Neste respeito, a CELAM fez o possível para espalhar informação básica sobre os judeus e o Judaísmo através da liderança religiosa e as conferências episcopais locais. Em 1990, desenvolveu Sugestões para a Apresentação de Judeus e Judaísmo no Ensino Católico – um documento pioneiro, paralelo aos esforços da Santa Sé sobre o mesmo assunto. As Sugestões escreveram a história do relacionamento católico-judaico depois de Nostra Aetate, a necessidade de entender o primeiro 1/3 século da era comum, o relacionamento entre Judaísmo Rabínico e primitiva Cristandade, o significado de terra para o povo judaico e a necessidade de superar mal-entendidos no ensino do Novo Testamento e na apresentação do Judaísmo. Refere-se também a temas litúrgicas comuns e à necessidade das duas comunidades de fé de entenderem as expressões litúrgicas da outra. Essas Sugestões foram seguidas por um volume chamado Os Judeus: Um Manual para Relações CatólicasJudaicas. Incluiu alguns dos documentos do Concílio Vaticano II, estudos por cientistas católicos e judaicos e recomendações de como o relacionamento católico-judaico levar a prática no nível do banco da igreja. Num encontro de Bogotá em 1985, foi publicado o documento Dialogar para Servir. Ocupava-se de modo sincero e prático com os problemas frente ao diálogo interconfessional na América Latina, preconceitos cristãos, e desconfiança e receio judaicos referente ao uso e abuso do diálogo para fins ideológicos. O documento enfatizou as específicas recomendações nas áreas de educação, liturgia, ação social, da família e o caminho de tornar conhecido os documentos católicos sobre relações interconfessionais através do sistema educacional de cada diocese. Havia também sessões par estudar o documento do Vaticano. Por exemplo, em 5-6 de setembro de 1990, a Liga Anti-Difamação, o Congresso Judaico Latino-Americano e a CELAM encontraram-se para discutir A Igreja e o Racismo: Para uma Sociedade Mais Fraternal. O colóquio era dedicado ao entendimento histórico e teológico do racismo e ao modo de como esse estava sendo considerado no documento. Havia assuntos tanto históricos como teológicos. Atenção foi tomada ao sério assunto do anti-semitismo tão seriamente manifesto na Argentina naquele tempo. Conferências individuais de bispos prepararam documentos sobre relações católicas-judaicas. O melhor exemplo é o documento da Comissão Nacional para o Diálogo Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que publicou o documento Guia para o Diálogo Católico-Judaico. Em onze capítulos desenvolve uma breve história do relacionamento católico-judaico e do significado do Judaísmo e do povo judaico na teologia cristão. Condena anti-semitismo em todas as suas formas, e critica e recomenda superar o ensino de desdém vis-à-vis judeus e Judaísmo. Esclarece malentendidos teológicos relacionados à percepção de "que Judaísmo é a religião de medo, enquanto Cristandade é a religião da vida", percepção esta que inspirou o ensino de desdém contra o Judaísmo. Enfatiza o significado central do Estado de Israel na vida judaica: "Como o fruto de Sua promessa, Deus deu a antiga terra de Canaã, na qual os judeus viviam através de Abraão e seus descendentes". Finalmente, o parágrafo 11 fala da expectativa escatológica, destacando que "ambos esperam o cumprimento do Reino de Deus; para os cristãos isso já começou com a vinda de Jesus Cristo, enquanto os judeus continuam ainda esperando a vinda do Messíah. Em todo o caso, essa perspectiva escatológica acorda, tanto em judeus como em cristãos, a consciência de que estamos andando numa estrada, semelhante ao povo que veio do Egito, procurando uma terra ‘fluente com leite e mel’ (Ex 3,8)." Nos dias 16 a 18 de setembro de 1997, em Belo Horizonte, Brasil, delegações da Liga AntiDifamação, B’nai B’rith da Argentina, B’nai B’rith do Uruguai e o Congresso Judaico LatinoAmericano participaram num encontro da CELAM para discutir a presente e a futura situação do diálogo. O encontro de Belo Horizonte recomendou implementar projetos específicos: Criar uma guia modelo para igrejas e sinagogas locais, enfocando vida familiar e os diversos problemas que enfrentamos na sociedade de hoje, testemunhando que o caminho ao diálogo interconfessional é amizade e ação solidária; Preparação duma guia de estudos sobre anti-semitismo, racismo e discriminação a ser usada nos níveis educacional e geral; Preparação de material educacional que vá ajudar a comunidade judaica entender o sentido da Cristandade; Preparação de estudos do Novo Testamento que vá ajudar apresentar um entendimento do Judaísmo; 2/3 Promoção de conhecimento mútuo nas nossas respetivas tradições litúrgicas; Explorar a possibilidade de orar juntos. O documento salientou: "Como crentes no Deus da Paz, é o nosso grande desejo que o processo da paz progrida no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, condenamos as ações de violência terrorista, as quais algumas ocorreram na América Latina, e particularmente de modo trágico na Argentina, resultando em morte, pranto e dor. [Procuramos] respeito absoluto para pontos de vista e opiniões religiosas diferentes dentro do pluralismo religioso e no relacionamento com as nossas respetivas comunidades de fé. [Expressamos] nosso apoio aos Conselhos de Cristãos e Judeus na América Latina e também, no nível internacional, ao Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ). [Garantimos] nosso empenho para manter constantes canais de diálogo abertos, a fim de que possamos alcançar metas que vêm da nossa fé em Deus e da nossa tradição abraâmica comum. Finalmente, por causa da eminente visita do Papa João Paulo a Rio de Janeiro, em conexão com o Segundo Encontro Mundial da Vida Familiar, saudamos esse mensageiro de unidade e paz, e oramos por ele pelo sucesso da sua visita pastoral dedicada ao fortalecimento da família, a base fundamental nas nossas comunidades de fé." Diálogo interconfessional, e muito especialmente relações católicas-judaicas, está-se desenvolvendo devagar em alguns países do continente sul-americano. Os B’nai B’rith no Uruguai, Argentina, Brasil e Chile estão promovendo criativos programas. Os B’nai B’rith de Uruguai, por exemplo, desenvolveram um programa de educação sobre Cristandade e Judaísmo. Os estudos preparados pelo Dr. Jacobo Hazan – dezesseis livretes sobre o diálogo interconfessional – inspiraram muitos dos programas no Uruguai, bem como em outras comunidades latino-americanas. Os materiais foram também distribuídos nos Estados Unidos através dos contatos hispânicos de ADL. Na Argentina, os B’nai B’rith organizaram celebrações de Páscoa, bem como a comemoração anual do Holocausto. Para esse fim, a liturgia preparada por Eugene Fisher e Leon Klenicki, que foi traduzida pelo CELAM, serve de texto adaptado à situação local. Na Argentina, a Universidad Austral está fazendo um trabalho pioneiro através de encontros que focalizam assuntos teológicos. Esta é uma contribuição sem par naquele país. Havia encontros para discutir o documento Sobre Fé e Razão do Papa João Paulo II e o pensamento de Emmanuel Levinas sobre diálogo interreligioso. Um colóquio de 1999 discutiu Experiência Histórica: Conta da Alma e Reconciliação, que enfocou a realidade do país depois das ações criminosas da junta dos generais. No Chile, os B’nai B’rith e padres e rábis individuais estão envolvidos em discutir assuntos políticos ou questões teológicas do momento. O grupo comum católico-judaico, que ajudou prisioneiros e famílias de prisioneiros sob a ditadura de Pinochet, é um exemplo do testemunho católico-judaico conjunto para justiça e respeito da pessoa humana. Haverá um futuro para o relacionamento interconfessional, e nomeadamente para o relacionamento católico-judaico na América Latina? Se os pioneiros esforços correntes, preocupando-se com assuntos tanto teológicos como políticos, continuarem de modo sistemático, a resposta será que ‘sim’. Doutro modo, esporádicos encontros interconfessionais são ocasião para chá (ou ‘cafezinho’, trad.) e simpatia, mas não para criativos e efetivos projetos interreligiosos. Rábi Leon Klenicki é Diretor do Department of Interfaith Affairs of the Anti-Defamation League na Cidade de Nova York. Tradução: Pedro von Werden SJ © 2000 O artigo foi publicado primeiro em SIDIC, Vol. XXXIII N.º 2 - 2000-08-16 3/3 Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)