Projeto de Circuito Integrado de Referência de Tensão em

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PROJETO DE CIRCUITO INTEGRADO DE REFERÊNCIA DE
TENSÃO EM TECNOLOGIA 0, 35 µm CMOS
Allan Bides de Andrade
Projeto de Graduação apresentado ao Curso
de Engenharia Eletrônica e de Computação da
Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro.
Orientadores: Antonio Petraglia
Carlos Fernando Teodósio Soares
Rio de Janeiro
Dezembro de 2013
PROJETO DE CIRCUITO INTEGRADO DE REFERÊNCIA DE
TENSÃO EM TECNOLOGIA 0, 35 µm CMOS
Allan Bides de Andrade
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO
CURSO DE ENGENHARIA ELETRÔNICA E DE COMPUTAÇÃO DA ESCOLA
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU
DE ENGENHEIRO ELETRÔNICO E DE COMPUTAÇÃO.
Examinado por:
Prof. Antonio Petraglia, Ph.D.
Prof. Carlos Fernando Teodósio Soares, D.Sc.
Prof. Fernando Antônio Pinto Barúqui, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO DE 2013
Andrade, Allan Bides de
Projeto de Circuito Integrado de Referência de Tensão em
Tecnologia 0, 35 µm CMOS/Allan Bides de Andrade. Rio de
Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2013
XVI, 95 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Antonio Petraglia
Carlos Fernando Teodósio Soares
Projeto de Graduação - UFRJ/ Escola Politécnica COPPE/
Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação, 2013.
Referências Bibliográficas p. 79-81
1. Referência de Bandgap. 2. Tensão de Referência. 3.
Circuitos Integrados Analógicos. I. Petraglia, Antonio et al.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,
Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação. III. Título.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido tantas oportunidades e, de alguma forma, ter
conduzido-me até este momento, permitindo a realização deste trabalho e conclusão do
curso de Engenharia Eletrônica e de Computação.
Aos meus pais, Edson e Ilma, por sempre me incentivarem nos estudos, pelo carinho,
compreensão e por fornecer toda a estrutura material e imaterial para a conclusão de mais
esta etapa em minha vida.
Ao meu irmão Renan, por suas brincadeiras e companheirismo de todo dia.
A Luisa Luz Marçal, pelo carinho, companheirismo, cumplicidade, ajuda e compreensão, não só durante a realização deste trabalho, mas sempre, proporcionando dias mais
felizes e completos em minha vida.
Aos meus orientadores, Antonio Petraglia e Carlos Fernando Teodósio Soares, pelos ensinamentos, paciência e boa vontade em todos os momentos que envolveram este
trabalho e o curso de graduação, estando sempre dispostos à ajudar e compartilhar seus
conhecimentos com grande alegria.
A todos os professores do Departamento de Engenharia Eletrônica pelos cursos ministrados, em especial aos professores Barúqui, Joarez e Eduardo Barros por sempre me
receberem com paciência e ânimo para sanar dúvidas. Gostaria de agradecer também ao
professor Casé por seu excelente trabalho como coordenador do curso.
A todos meus amigos de curso pelo companheirismo durante toda a graduação e a
todos os colegas do Laboratório de Processamento Analógico e Digital de Sinais por terem
compartilhado suas experiências de trabalho e pela companhia durante estes últimos anos
de graduação.
iv
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como
parte dos Requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletrônico
e de Computação.
PROJETO DE CIRCUITO INTEGRADO DE REFERÊNCIA DE
TENSÃO EM TECNOLOGIA 0, 35 µm CMOS
Allan Bides de Andrade
Dezembro/2013
Orientadores: Antonio Petraglia
Carlos Fernando Teodósio Soares
Curso: Engenharia Eletrônica e de Computação
Circuitos de referência de tensão são de grande importância em microeletrônica,
pois têm a função de fornecer uma tensão insensível às variações de sua tensão de
alimentação e temperatura a outros blocos do mesmo circuito integrado, como conversores analógico-digital e digital-analógico, e reguladores de tensão. Por serem
analógicos, os circuitos de referência de tensão são afetados por variações do processo de fabricação e principalmente por descasamentos entre seus dispositivos. A
imprecisão intrínseca resultante pode ser reduzida através do aumento das áreas dos
dispositivos, mas esta é uma abordagem que pode ser custosa se realizada indiscriminadamente, dado o elevado preço da área. Este trabalho visa projetar um circuito
conhecido como referência de bandgap, que tenha baixa sensibilidade às variações
de temperatura e de sua tensão de alimentação. A precisão especificada é garantida
através do dimensionamento das áreas dos dispositivos, definidas por um processo
de otimização com o objetivo de reduzir a área total do circuito integrado.
Palavras-chave: Bandgap, Referência de Tensão, Circuito Integrado, CMOS.
v
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment
of the requirements for the degree of Engineer.
INTEGRATED VOLTAGE REFERENCE CIRCUIT DESIGN IN A
0.35 µm CMOS TECHNOLOGY
Allan Bides de Andrade
December/2013
Advisors: Antonio Petraglia
Carlos Fernando Teodósio Soares
Course: Electronic and Computation Engineering
Voltage reference circuits are of great importance in microelectronics, because they
are responsible for providing a voltage that is insensitive to supply voltage and temperature variations to other blocks of the same integrated circuit, such as analogto-digital converters, digital-to-analog converters and voltage regulators. Analog,
the voltage reference circuits are affected by manufacturing process variations and
mainly device mismatches. The resulting intrinsic imprecision can be reduced by
increasing device area, but this approach can be costly if performed indiscriminately, given the large price of silicon area. This work aims at the design of a circuit
known as bandgap reference, which has low sensitivity to temperature and supply
voltage variations. The specified precision is guaranteed by the dimensioning of
device areas, which are determined by an optimization process with the purpose of
reducing the area of the whole circuit.
Keywords: Bandgap, Voltage Reference, Integrated Circuit, CMOS.
vi
S UMÁRIO
I
Introdução
I.1 Tema . . .
I.2 Delimitação
I.3 Justificativa
I.4 Objetivo . .
I.5 Metodologia
I.6 Descrição .
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II Referência de Bandgap
II.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.2 Ideia Principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.2.1 Componente de Tensão CTAT . . . . . . . . . . . . . .
II.2.2 Componente de Tensão PTAT . . . . . . . . . . . . . .
II.2.3 A Tensão de Referência de Bandgap . . . . . . . . . . .
II.3 Implementação e Baixa Dependência da Tensão de Alimentação
II.3.1 Topologia I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.3.2 Topologia II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.3.3 Problema do Start-up . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.4 Figuras de Mérito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.4.1 TC - Coeficiente de Temperatura . . . . . . . . . . . . .
II.4.2 Regulação de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.4.3 PSRR - Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação . . .
III Projeto do Circuito de Referência de Bandgap
III.1 Etapas do Projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.2 Especificações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.3 Projeto Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.3.1 Transistores Bipolares . . . . . . . . . . .
III.3.2 Efeitos não ideais em transistores bipolares
III.3.3 Resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.3.4 Espelho de Corrente . . . . . . . . . . . .
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III.3.5 Amplificador Operacional de Transcondutância
III.3.6 Circuito de Start-up . . . . . . . . . . . . . . .
III.4 Circuito Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.5 Área dos Dispositivos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.5.1 Visão Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.5.2 Variações de Processo . . . . . . . . . . . . .
III.5.3 Descasamento do BJT . . . . . . . . . . . . .
III.5.4 Descasamento no Espelho de corrente M1 - M2
III.5.5 Descasamento entre R1 e R2 . . . . . . . . . .
III.5.6 Descasamento no OTA . . . . . . . . . . . . .
III.5.7 Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.6 Circuito para Calibração . . . . . . . . . . . . . . . .
III.6.1 Rede Resistiva . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.6.2 Chaves analógicas . . . . . . . . . . . . . . .
IV Layout
IV.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . .
IV.2 Layout do Circuito sem Calibração .
IV.2.1 Transitores Bipolares . . . .
IV.2.2 Resistores . . . . . . . . . .
IV.2.3 Par Diferencial . . . . . . .
IV.2.4 Espelhos de Corrente PMOS
IV.2.5 Espelho de Corrente NMOS
IV.2.6 Start-up . . . . . . . . . . .
IV.3 Layout do Circuito com Calibração .
IV.3.1 Resistores de Calibração . .
IV.3.2 Chaves . . . . . . . . . . .
V
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Simulações
V.1 Resultados a Serem Apresentados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.2 Amplificador Operacional de Transcondutância (OTA) . . . . . . . . . .
V.2.1 Circuito Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.2.2 Circuito Obtido Após o Dimensionamento das Áreas dos Dispositivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.3 Circuito Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.3.1 Comportamento em relação à Temperatura . . . . . . . . . . . .
V.3.2 Regime Transitório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.3.3 Comportamento em função da Tensão de Alimentação . . . . . .
V.3.4 Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação (PSRR) . . . . . . . .
V.3.5 Simulação de Monte Carlo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
viii
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V.4 Circuito sem calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.4.1 Comportamento em relação à Temperatura . . . . . .
V.4.2 Regime Transitório . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.4.3 Comportamento em função da Tensão de Alimentação
V.4.4 Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação (PSRR) . .
V.4.5 Simulação de Monte Carlo . . . . . . . . . . . . . . .
V.5 Circuito com calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.5.1 Comportamento em relação à Temperatura . . . . . .
V.5.2 Regime Transitório . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.5.3 Comportamento em função da Tensão de Alimentação
V.5.4 Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação (PSRR) . .
V.5.5 Simulação de Monte Carlo . . . . . . . . . . . . . . .
V.5.6 Teste do Mecanismo de Calibração . . . . . . . . . .
V.6 Comparações Com Outros Projetos . . . . . . . . . . . . . . .
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VI Conclusões
VI.1 Conclusões Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
VI.2 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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79
79
Referências Bibliográficas
82
A Extração de parâmetros do transistor bipolar (BJT) e dos resistores
A.1 Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2 Transistor Bipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2.1 A função β (T ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2.2 A resistência de base rb . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2.3 Os parâmetros VG0 e η . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.3 Curva do Resistor em função da temperatura . . . . . . . . . . . .
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B Propagação de Erros e Incertezas aplicada à Microeletrônica
B.1 Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.2 Fórmula Geral para Propagação de Incertezas . . . . . . . . .
B.3 As Equações de Pelgrom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.4 Propagação de Incertezas Aplicada a Transistores MOS . . . .
B.4.1 Espelho de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.4.2 Par Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.5 Propagação de Incertezas Aplicada a Resistores . . . . . . . .
B.6 Aplicação ao Circuito de Referência de bandgap deste trabalho
B.6.1 Descasamento do Espelho de Corrente M1 − M2 . . .
B.6.2 Descasamento entre R1 e R2 e Imprecisão de R1 . . . .
ix
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B.6.3
Efeito do Amplificador Operacional de Transcondutância (OTA) .
x
95
L ISTA DE F IGURAS
II.1 Esquema básico de como é obtida a tensão de referência. . . . . . . . . .
II.2 Forma de obter uma tensão CTAT. (a) Utilizando Transistor NPN. (b)
Utilizando Transistor PNP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.3 Gráfico de Veb em função da temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.4 Forma de obter uma tensão PTAT. (a) Utilizando apenas dois transistores.
(b) Utilizando n transistores em paralelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II.5 Gráfico de ∆Veb em função da temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . .
II.6 Gráfico da tensão de referência em função da temperatura. . . . . . . . .
II.7 Topologia 1 - Primeiro circuito capaz de gerar a referência de bandgap. .
II.8 Circuito didático de um espelho de corrente auto-polarizado. . . . . . . .
II.9 Topologia 2 - Segundo circuito capaz de gerar a referência de bandgap. .
II.10 Gráfico mostrando os dois pontos de operação do circuito da Fig. II.9. . .
II.11 Circuito de start-up. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6
6
8
9
10
11
12
12
14
16
16
III.1 Partes do Projeto e suas etapas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.2 Dimensionamento da razão W /L. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.3 Fabricação de transistores bipolares (BJTs) PNP e NPN [1]. (a) Transistor
PNP Vertical. (b) Transistor NPN Vertical. . . . . . . . . . . . . . . . .
III.4 Layout dos transistores bipolares [2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.5 Transistores bipolares incluindo imperfeições. . . . . . . . . . . . . . . .
III.6 Amplificador operacional de transcondutância. . . . . . . . . . . . . . .
III.7 Circuito start-up empregado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.8 Circuito de bandgap com rede resistiva para calibração. . . . . . . . . . .
III.9 Rede resistiva utilizada para calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
20
22
IV.1 Layout do circuito sem calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.2 Layout dos transistores bipolares Q1 e Q2 · · · Qn+1 . (a) Esquema. (b)
Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.3 Layout dos Resistores R1 , R2 e R3 . (a) Esquema. (b) Implementação. . . .
IV.4 Layout do par diferencial composto pelos transistores M8 e M9. (a) Esquema. (b) Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
44
xi
22
23
24
29
32
39
40
44
45
46
IV.5 Layout dos transistores dos espelhos de corrente PMOS M1, M2, M3, M4
e M5. (a) Esquema. (b) Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.6 Layout dos transistores M6 e M7, responsáveis pela polarização do OTA.
(a) Esquema. (b) Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.7 Layout dos transistores M10, M11, M12, M13 e M14, pertencentes ao
circuito de start-up. (a) Esquema. (b) Implementação. . . . . . . . . . .
IV.8 Layout do circuito com calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.9 Layout dos resistores Rb0 , Rb1 e Rb2 , pertencentes ao esquema de calibração. (a) Esquema. (b) Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV.10 Layout das chaves analógicas M15, M16, M17 e M18. (a) Esquema. (b)
Implementação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.1 Circuitos empregados para obtenção da resposta em frequência e outras
características. (a) Caso sem carga. (b) Caso com carga. . . . . . . . . . .
V.2 Circuitos empregados para obtenção da tensão de offset de entrada. (a)
Caso sem carga. (b) Caso com carga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.3 Resposta em frequência do OTA do circuito preliminar. . . . . . . . . . .
V.4 Resposta em frequência do OTA obtido após otimização das áreas dos
componentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.5 Comportamento do circuito preliminar em função da temperatura. (a)
Tensão de referência em função da temperatura. (b) Erro entre o valor da
tensão de referência do circuito esquemático e a tensão calculada. . . . .
V.6 Análise da tensão de referência no circuito preliminar em função do tempo.
(a) Circuito de start-up não empregado. (b) Circuito de start-up empregado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.7 Tensão de referência produzida pelo circuito preliminar em função da tensão de alimentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.8 Taxa de rejeição da fonte de alimentação (PSRR) para o circuito preliminar.
V.9 Análise de Monte Carlo para o circuito preliminar. (a) Histograma do
valor da tensão de referência na temperatura de 27◦C. (b) Histograma do
coeficiente de temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.10 Comportamento do circuito sem calibração em função da temperatura.
(a) Tensão de referência em função da temperatura. (b) Diferença entre o
valor da tensão de referência do circuito esquemático e a tensão calculada.
(c) Diferença entre o valor da tensão de referência do circuito esquemático
e a tensão de referência do circuito extraído. . . . . . . . . . . . . . . . .
V.11 Análise da tensão de referência em função do tempo no circuito sem calibração. (a) Sem circuito de start-up. (b) Com circuito de start-up. . . . .
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48
48
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50
50
52
53
53
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56
57
58
58
59
61
62
V.12 Tensão de referência em função da tensão de alimentação no cicuito sem
calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.13 Taxa de rejeição da fonte de alimentação (PSRR) para o circuito sem calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.14 Histogramas da tensão de referência a 27◦C obtidos por simulação de
Monte Carlo com 500 iterações para o circuito sem calibração. (a) Circuito esquemático. (b) Circuito extraído. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.15 Histogramas do coeficiente de temperatura obtidos por simulação de Monte
Carlo com 500 iterações para o circuito sem calibração. (a) Circuito esquemático. (b) Circuito extraído. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.16 Comportamento do circuito com calibração em função da temperatura.
(a) Tensão de referência em função da temperatura. (b) Diferença entre a
tensão de referência do circuito esquemático e do circuito extraído. . . . .
V.17 Análise da Tensão de referência em função do tempo para o circuito com
calibração. (a) Circuito de start-up não empregado. (b) Circuito de startup empregado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.18 Tensão de referência em função da tensão de alimentação para o circuito
com calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.19 Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação (PSRR). . . . . . . . . . . . .
V.20 Histogramas da tensão de referência a 27◦C obtida de 500 iterações da
simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração. (a) Resultado
para o circuito do esquemático. (b) Resultado para o circuito extraído. . .
V.21 Histogramas do coeficiente de temperatura obtidos de uma simulação de
Monte Carlo com 500 iterações para o circuito com calibração. (a) Resultado para o circuito do esquemático. (b) Resultado para o circuito extraído.
V.22 Esquema básico do circuito utilizado no teste do mecanismo de calibração.
V.23 Circuito digital do contador decrescente com enable e preset. . . . . . . .
V.24 Dois cruzamentos pela tensão de limiar devido aos efeitos capacitivos. . .
V.25 Circuito empregado no teste do mecanismo de calibração. . . . . . . . . .
V.26 Teste dos resistores de calibração no circuito esquemático com calibração.
V.27 Sinais para o circuito de teste: clock, preset, S1 e S2. . . . . . . . . . . .
V.28 Gráfico ilustrando a redução progressiva do espalhamento da tensão de
referência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.29 Histogramas da tensão de referência na temperatura de 27◦C obtida por
simulação de Monte Carlo com 500 iterações visando a avaliação da redução de imprecisão. (a) Circuito esquemático. (b) Circuito extraído. . . .
V.30 Histogramas do coeficiente de temperatura obtida por simulação de Monte
Carlo com 500 iterações visando saber a influência da calibração neste parâmetro. (a) Circuito do esquemático. (b) Circuito extraído. . . . . . . . .
xiii
63
63
64
65
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67
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71
72
73
73
74
74
75
76
76
A.1 Esquema para obter a corrente de coletor IC a partir da corrente de emissor
IE especificada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.2 Esquema para extração da Curva β (T ). . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A.3 Esquema para extração da Curva ∆Veb Vs. IE . . . . . . . . . . . . . . . .
A.4 Esquema para extração de R(T ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.1 Transistores como espelhos de corrente. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.2 Par Diferencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
B.3 Circuito do projeto incluindo a tensão de offset de entrada do OTA e representação das correntes I1 e I2 descasadas. . . . . . . . . . . . . . . .
B.4 Amplificador Operacional de Transcondutância. . . . . . . . . . . . . . .
xiv
84
84
85
87
91
92
94
96
L ISTA DE TABELAS
III.1 Valores dos resistores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.2 Razões W /L dos transistores do OTA e do espelho de corrente do circuito
de bandgap. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.3 Dimensões dos Transistores do circuito start-up. . . . . . . . . . . . . . .
III.4 Tabelas contendo as dimensões Preliminares dos componentes para o circuito bandgap sem calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b)
Dimensões dos resistores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.5 Tabelas contendo as dimensões finais dos componentes para o circuito
bandgap sem calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b) Dimensões dos resistores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.6 Valores dos resistores para calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.7 Dimensões das chaves NMOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III.8 Tabelas contendo as dimensões finais dos componentes para o circuito
bandgap com calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b) Dimensões dos resistores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.1 Tabela contendo as principais características do OTA empregado no circuito preliminar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.2 Tabela contendo as principais características do OTA empregado nos circuitos sem e com calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.3 Tabela com algumas características do circuito de tensão de referência
preliminar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.4 PSRR do circuito preliminar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.5 Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito preliminar. . . .
V.6 Tabela com algumas características do circuito sem calibração. . . . . . .
V.7 PSRR do circuito sem calibracão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.8 Simulações de Monte Carlo para o circuito sem calibração. . . . . . . . .
V.9 Características do circuito de tensão de referência com calibração. . . . .
V.10 PSRR do circuito com calibração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V.11 Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração. .
xv
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32
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59
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V.12 Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração,
onde foi a operação de calibração foi realizada. . . . . . . . . . . . . . .
V.13 Tabela Comparativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
xvi
76
77
C APÍTULO I
I NTRODUÇÃO
I.1 - T EMA
O tema deste trabalho é o projeto de um circuito de referência de tensão de bandgap,
capaz de fornecer uma tensão pouco dependente da temperatura e da fonte de alimentação
empregada.
Por se tratar de uma referência, o esperado é que esta tensão seja precisa apesar das
variações de processo e descasamentos causados durante a fabricação do circuito integrado. Portanto, o foco deste trabalho é o projeto do circuito a partir da especificação de
uma incerteza máxima a ser obtida em um conjunto de circuitos fabricados.
I.2 - D ELIMITAÇÃO
Os objetivos principais do trabalho são o estudo e o projeto de uma referência de
tensão de bandgap, utilizando o processo de fabricação 0, 35 µm CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor). Essas referências são úteis em circuitos integrados
para fornecer uma tensão robusta às variações de temperatura e da fonte de alimentação a outros módulos, tais como LDO’s (Low Drop Out Regulator) e conversores A/D
(Analógico/Digital) e D/A (Digital/Analógico).
I.3 - J USTIFICATIVA
Em microeletrônica existem diversos circuitos de grande importância, tanto para sistemas analógicos quanto para digitais, que são dependentes de uma referência de tensão.
C APÍTULO I
I NTRODUÇÃO
2
Esta dependência é um fator limitante nos requerimentos de precisão destes circuitos. No
caso de um conversor D/A, por exemplo, a saída analógica correspondente a um bit é
proporcional à tensão de referência [3]. Consequentemente, a incerteza da referência é
transmitida à tensão convertida, limitando a precisão do conversor. Assim, uma vez que
os blocos mencionados possuem seus requerimentos de precisão diretamente limitados
pela referência, um requisito essencial é o projeto de uma referência precisa, que não sofra grandes variações devido ao descasamento dos componentes utilizados, gradientes do
processo de fabricação, variações da tensão de alimentação e da temperatura.
Um circuito de referência de bandgap é capaz de fornecer uma tensão estável em relação à temperatura, com variações limitadas em cerca de 50 ppm/◦C [4]. Adicionalmente,
ela deve ser robusta a variações de sua tensão de alimentação. Para atingir tal desempenho, o circuito possui uma estrutura auto-polarizada (self-biased) [5], pouco dependente
de sua alimentação, e gera sua referência adicionando dois termos cujas variações com a
temperatura tendem a se anular por possuírem coeficientes de temperatura opostos (um
positivo e outro negativo).
Os requisitos de baixa sensibilidade em relação ao descasamento e a variações do processo de fabricação são objetivos determinantes no desempenho de circuitos analógicos
integrados em geral e, portanto, necessitam de tratamento especial na etapa de dimensionamento dos seus componentes e na posterior confecção do layout. Algumas correções
podem também ser realizadas após a fabricação, pela inclusão, durante a etapa de projeto,
de circuitos específicos de calibração ou trimming (ajuste).
Devido à grande importância da classe dos circuitos de referência e das qualidades
mencionadas da referência de bandgap, decidiu-se pesquisar e realizar o projeto e desenvolvimento deste, focando principalmente no dimensionamento dos componentes e no
procedimento de calibração do circuito.
I.4 - O BJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é projetar o circuito de referência de tensão chamado
referência de bandgap, realizando duas versões distintas: (1) bandgap 1: uma referência
com uma incerteza nominal (medida na temperatura de 27 ◦C) especificada em 1% (3σ )
do valor da referência; (2) bandgap 2: será o bandgap 1 adicionado de uma rede resistiva
de calibração, visando reduzir a imprecisão de 1% para 0.25% (3σ ) do valor nominal
da referência em 27 ◦C. Desta forma, têm-se como objetivos específicos: (1) estudar
e pesquisar sobre a referência de bandgap, escolhendo uma topologia específica a ser
desenvolvida; (2) dimensionar os componentes a serem utilizados; (3) projetar a rede
resistiva de calibração; (4) realizar o desenho das máscaras (layout) para que o sistema
C APÍTULO I
I NTRODUÇÃO
3
possa ser fabricado em um circuito integrado CMOS.
I.5 - M ETODOLOGIA
Primeiramente foi realizada uma extensa pesquisa sobre o tema, estudando livros e
artigos. Em paralelo, fazia-se um treinamento no uso das ferramentas presentes no software Cadence, que foram utilizadas como auxílio no projeto, na simulação do circuito e
na confecção das máscaras de layout.
Em seguida foi escolhida a topologia a ser empregada na referência de bandgap e,
posteriormente, foram produzidas diversas versões, buscando um aperfeiçoamento do circuito e culminando em uma versão preliminar testada por meio de simulações.
A partir da versão preliminar contendo as razões dos transistores MOS, o valor dos
resistores e o número de transistores bipolares definidos, realizou-se um estudo complementar para o dimensionamento da área de cada dispositivo. Este estudo procurou
modelar a relação entre a incerteza do valor da tensão produzida pela referência e a área
ocupada pelos seus componentes. Com essa finalidade foram empregadas as equações de
Pelgrom para se estimar o descasamento de dispositivos integrados [6, 7, 8] e a fórmula
geral de propagação de incertezas [7, 8, 9]. Com um modelo desenvolvido foi possível
utilizar um método de otimização, de forma a atender à especificação de uma incerteza
máxima (3σ ) e, simultaneamente, minimizar a área total do circuito integrado. Após
esta etapa, o projeto foi validado através de simulações, chegando a um projeto final do
circuito, que foi denominado como bandgap 1 (sem calibração).
Tendo cumprido o primeiro objetivo geral do trabalho, a rede resistiva de calibração
para o circuito bandgap 2 foi dimensionada e teve seu funcionamento verificado com as
ferramentas do software Cadence. Após esta fase iniciou-se a etapa final do projeto, que
consistiu do desenvolvimento das máscaras dos circuitos para um processo de fabricação
CMOS 0, 35 µm. As máscaras realizadas tiveram seu circuito extraído e simulado, onde
os efeitos parasitas presentes foram reduzidos, quando possível, de forma a garantir o
devido funcionamento do circuito.
I.6 - D ESCRIÇÃO
No Capítulo II será mostrada a ideia do circuito de tensão de referência de bandgap,
assim como a teoria envolvida, sendo apresentadas duas topologias de implementação.
Serão ainda definidos alguns parâmetros de avaliação de desempenho.
No Capítulo III são descritos todos os passos envolvidos no projeto dos circuitos de
C APÍTULO I
I NTRODUÇÃO
4
bandgap sem e com calibração para a topologia escolhida.
No Capítulo IV são apresentadas as máscaras de layout dos circuitos desenvolvidos,
assim como as máscaras de cada um de seus blocos individualmente.
No Capítulo V serão apresentados os resultados de simulação dos circuitos esquemático e extraído dos circuitos desenvolvidos.
No Capítulo VI encontram-se as conclusões obtidas e ainda trabalhos a serem realizados posteriormente.
No Apêndice A são apresentados os métodos de extração dos parâmetros dos transistores bipolares e resistores para utilização nos cálculos do projeto.
No Apêndice B encontra-se o método de propagação de incertezas aplicado ao projeto
do circuito implementado neste trabalho.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
II.1 - I NTRODUÇÃO
O circuito de referência de bandgap foi proposto em 1971 por Robert J. Widlar [10],
que o utilizou como referência em seu circuito regulador de tensão, substituindo a tradicional referência com compensação de temperatura a diodo zener. Desde então muito
foi pesquisado e desenvolvido buscando o aperfeiçoamento do circuito, que utilizava a
tecnologia de fabricação bipolar. Com o advento da tecnologia de fabricação CMOS, novas pesquisas se iniciaram, visando superar as limitações impostas pelo novo processo.
Ainda hoje esta referência é objeto de pesquisa e apresenta vários desafios a projetistas
de circuitos integrados.
II.2 - I DEIA P RINCIPAL
A ideia principal do circuito de referência de bandgap é obter uma tensão quase independente das variações de temperatura. Isto é feito através da soma ponderada de duas
tensões que possuam comportamentos opostos em função da temperatura, como pode ser
visto na Fig. II.1.
Uma tensão que aumente com a elevação da temperatura (possua derivada positiva) é
conhecida como PTAT (Proportional To Absolute Temperature), enquanto outra que reduza com a elevação da temperatura (possua derivada negativa) é conhecida como CTAT
(Complementary To Absolute Temperature) [5]. Desta forma, é possível escrever algebricamente a ideia apresentada como
Vre f = cPTAT VPTAT + cCTAT VCTAT .
(II.1)
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
6
VCTAT
cCTAT
T
T0
Vref
Somador
T0
VPTAT
T
cPTAT
T
T0
Figura II.1: Esquema básico de como é obtida a tensão de referência.
Na Fig. II.1, cPTAT e cCTAT são constantes a serem escolhidas de forma que a variação
da tensão de referência seja nula, dada uma variação da temperatura (derivada zero), como
expresso na Eq. (II.2). Como, em geral, as tensões a serem utilizadas não exibem um
comportamento linear com a temperatura, impõe-se esta condição em uma temperatura
específica T0 , ou seja,
∂Vre f ∂VPTAT ∂VCTAT = cPTAT
+ cCTAT
= 0.
∂ T T =T0
∂ T T =T0
∂ T T =T0
(II.2)
Apresentada esta ideia, é possível seguir no desenvolvimento do assunto, apresentando os componentes PTAT e CTAT utilizados em uma referência de bandgap.
II.2.1 - C OMPONENTE DE T ENSÃO CTAT
O componente de tensão CTAT (Complementary To Absolute Temperature) utilizado
na referência de bandgap é a tensão de junção Vbe ou Veb de um transistor bipolar, polarizado por uma corrente bem caracterizada, como ilustrado na Fig. II.2.
VDD
VDD
IC
IC
(a)
+
+
Vbe
Veb
-
-
(b)
Figura II.2: Forma de obter uma tensão CTAT. (a) Utilizando Transistor NPN. (b) Utilizando Transistor PNP.
Embora se possa utilizar tanto transistores NPN como PNP, o uso do último é preferido por questões que serão detalhadas no Capítulo II. As equações para os dois tipos
de transistores são as mesmas, bastando trocar Vbe por Veb para utilizar o transistor PNP.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
7
Desta forma, daqui em diante se empregarão transistores PNP nos cálculos e figuras.
Assume-se, também, que os transistores apresentados são ideais, tal que o valor de β é
tão elevado que é possível considerar IC = IE .
Tendo o conhecimento do componente CTAT, Veb , é importante ter uma equação que
expresse seu comportamento em relação à temperatura. A equação básica do transistor
bipolar pode ser escrita como
IC = IS e
Veb
vt
,
(II.3)
onde IC é a corrente de coletor do transistor, IS é sua corrente de saturação, Veb é a sua
tensão de junção emissor-base e vt é a tensão térmica do transistor bipolar. Apesar desta
fórmula ser útil, ela oculta a dependência da corrente com a temperatura. Para mostrá-la,
é necessário conhecer vt e IS . A equação de vt é
vt =
kT
,
q
(II.4)
onde k = 1, 38062 · 10−23 J/K [11] é a constante de Boltzmann, q = 1, 60219 · 10−19 C
[11] é a carga do elétron e T é a temperatura expressa em Kelvin (K).
A equação correspondente à corrente de saturação IS é mais complicada, mas é possivel escrevê-la de forma simplificada como [12]
IS = C T η e −
VG0
vt
,
(II.5)
onde C é uma constante independente da temperatura, T a temperatura dada em Kelvin,
η = 4 − n, com n sendo uma constante dependente do processo e VG0 é a tensão de bandgap do silício, extrapolada em torno de 0 K.
Na realidade, a tensão de bandgap do silício é dependente da temperatura e a aparição
de VG0 em IS surge de uma aproximação. No entanto, a discussão destes detalhes foge ao
escopo deste trabalho, podendo ser encontrada em [12].
Conhecendo vt e IS é possível, então, expressar a dependência de IC com a temperatura
por
IC (T ) = C T η e
(Veb (T )−VG0 ) q
kT
.
(II.6)
Da Eq. (II.6) é possível obter a tensão de junção Veb em função da temperatura
kT
IC (T )
Veb (T ) = VG0 +
ln
.
q
CT η
(II.7)
Embora a Eq. (II.7) já expresse a dependência da tensão de junção emissor-base com a
temperatura, uma forma mais interessante é obtida pelo cálculo de Veb (T )Tre f −Veb (Tre f )T
utilizando a Eq. II.7, onde Tre f é uma temperatura de referência em que o valor de tensão
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
8
Veb (Tre f ) é conhecida. O resultado é escrito como [12]
T
IC (T )
T
+VG0 1 −
+ vt ln
− η vt ln
.
Tre f
IC (Tre f )
Tre f
(II.8)
δ
Existe ainda uma forma particular bastante útil, o caso em que IC (T ) = a T :
T
Veb (T ) = Veb (Tre f )
Tre f
T
Veb (T ) = Veb (Tre f )
Tre f
T
kT
T
+VG0 1 −
− (η − δ )
ln
.
Tre f
q
Tre f
(II.9)
Na Eq. (II.9) é possível notar o comportamento CTAT de Veb (T ), pois Veb (Tre f ) < VG0 ,
de forma que um aumento em T faz com que o termo T /Tre f eleve mais a parte negativa VG0 que a positiva Veb , fazendo com que a função Veb (T ) diminua com a temperatura. Outro detalhe importante é que esta dependência é não linear devido ao termo
(η − δ ) vt ln T /Tre f .
A Fig. II.3 mostra o gráfico de Veb (T ) em função da temperatura, para valores de
Veb (Tre f ) = 0, 66 V , VG0 = 1, 16 V , η = 3 e δ = 0.
0,85
0,80
0,75
Veb (V)
0,70
0,65
0,60
0,55
0,50
0,45
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
Temperatura (ºC)
80
95
110
125
Figura II.3: Gráfico de Veb em função da temperatura.
II.2.2 - C OMPONENTE DE T ENSÃO PTAT
O componente de tensão PTAT pode ser obtido polarizando dois transistores bipolares
com densidades de corrente diferentes e subtraindo suas tensões de junção, como pode
ser visto nos desenhos da Fig. II.4. Na Fig. II.4 (b), o transistor Q1 é polarizado com uma
corrente IC . Para obter uma densidade de corrente diferente são utilizados n transistores
em paralelo idênticos a Q1 , também polarizados por uma corrente total IC . Desta forma,
IC se divide entre os n transistores e por cada um, flui uma corrente IC /n.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
VDD
9
VDD
IC/n
+
Q1
ΔVeb
-
+
IC
+
Veb1
Veb2
-
-
Q2
(a)
VDD
VDD
IC
ΔVeb
-
+
IC
IC/n
Q1
.......
Q2
Qn
Qn+1
n Transistores
(b)
Figura II.4: Forma de obter uma tensão PTAT. (a) Utilizando apenas dois transistores. (b)
Utilizando n transistores em paralelo.
Para escrever a equação referente a esta componente de tensão, é necessário obter Veb
a partir da Eq. (II.3):
IC
Veb = vt ln
IS
.
(II.10)
De posse da Eq. (II.10), basta subtrair as duas tensões de junção, lembrando das considerações discutidas anteriormente, ou seja,
Veb1
Veb2
IC
= vt ln
I
S IC
= vt ln
n IS
∆Veb = Veb1 −Veb2 = vt ln (n) =
kT
ln (n) .
q
(II.11)
Assim, é possível ver que ∆Veb varia linearmente com a temperatura com um coeficiente dado por qk ln (n). Outra característica muito interessante é o fato de este resultado
ser independente da corrente de coletor ou corrente de saturação do transistor bipolar. A
Fig. II.5 mostra o gráfico de ∆Veb em função da temperatura para n = 24.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
10
120
∆Veb = ln(24) vt (mV)
110
100
90
80
70
60
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
Temperatura (ºC)
80
95
110
125
Figura II.5: Gráfico de ∆Veb em função da temperatura.
II.2.3 - A T ENSÃO DE R EFERÊNCIA DE Bandgap
Com os componentes PTAT e CTAT caracterizados, podemos, então, encontrar a expressão teórica para a tensão de referência de bandgap. Como o coeficiente de temperatura de Veb é da ordem de −1, 5 mV /◦C, cuja magnitude é maior que a do coeficiente de
temperatura de ∆Veb , da ordem de (0, 087 mV /◦C), sempre se escolhe a constante CCTAT
igual a um, assim
Vre f = Veb + cPTAT ln(n) vt ,
(II.12)
onde a única variável a ser dimensionada é a constante cPTAT , o que é feito a partir da Eq.
(II.2). Desta forma, o valor desta constante é encontrado pela equação
cPTAT
∂Veb ∂ vt =−
.
ln(n)
∂ T T =T0
∂ T T =T0
(II.13)
A derivada de vt é simples, expressa por
∂ vt
k
= .
∂T
q
(II.14)
A derivada de Veb é obtida através da Eq. (II.9) e dada por:
∂Veb Veb (Tre f ) −VG0
(η − δ )
T
=
− vt
1 + ln
.
∂T
Tre f
T
Tre f
(II.15)
Logo, utilizando as relações acima, encontra-se o valor necessário para cPTAT :
cPTAT
T0
1
T0
=
(η − δ ) 1 + ln
− Veb (Tre f ) −VG0
.
ln(n)
Tre f
Tre f
(II.16)
A Eq. (II.16), quando substituída na Eq. (II.12) de Vre f , permite encontrar a expressão
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
Vre f
kT
= VG0 + (η − δ )
q
11
T
.
1 − ln
T0
(II.17)
A Eq. (II.17) depende apenas de constantes do processo e, além disto, permite explicar a
origem do termo referência de bandgap. Note que no limite em que T tende a 0K, a tensão
de referência tende para VG0 , que é nada mais do que a tensão de bandgap extrapolada em
torno de zero Kelvin.
Na Fig. II.6 é mostrado o gráfico da tensão de referência para VG0 = 1, 16 V , η = 3 e
δ = 1.
1,2150
1,2145
Vref (V)
1,2140
1,2135
1,2130
1,2125
1,2120
−40 −25 −10
5
20
35
50
65
Temperatura (ºC)
80
95
110
125
Figura II.6: Gráfico da tensão de referência em função da temperatura.
II.3 - I MPLEMENTAÇÃO E BAIXA
D EPENDÊNCIA DA T ENSÃO DE
A LIMENTAÇÃO
Após a discussão da teoria básica sobre a referência de bandgap e como obter seus
componentes PTAT e CTAT, resta encontrar um circuito capaz de implementar a soma
destes componentes e obter, de fato, a tensão de referência.
Dentre as dificuldades da implementação do circuito estão: polarizar os transistores de
uma forma independente da tensão de alimentação (VDD ), como ilustrado na Fig. II.4 (b),
e extrair a tensão ∆Veb deste esquema, multiplicando-a por uma constante.
A seguir são mostradas duas topologias que resolvem os problemas mencionados e,
desta forma, implementam a referência de tensão de bandgap.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
12
II.3.1 - T OPOLOGIA I
O circuito da figura abaixo mostra a primeira topologia. O circuito pode ser dividido
em duas partes: um gerador de corrente PTAT, responsável por polarizar os transistores
e extrair o compontente ∆Veb e o ramo responsável pela soma dos componentes PTAT e
CTAT.
VDD
VDD
M4
VDD
M3
M5
Vref
M1
IR1
M2
X
+
ΔVeb
Y
R2
IR1
IR1
R1
+
Q1 Veb
1
+
Veb2 Q2
-
+
....... Qn+1
Veb3 Q3
-
-
n Transistores
Figura II.7: Topologia 1 - Primeiro circuito capaz de gerar a referência de bandgap.
O gerador de corrente PTAT garante a baixa sensibilidade da tensão de alimentação ao
utilizar a estrutura formada por M1, M2, M3, M4, todos possuindo as mesmas dimensões.
Para análise desta estrutura, considere a figura abaixo:
VDD
M4
VDD
M3
I
I
M1
M2
Figura II.8: Circuito didático de um espelho de corrente auto-polarizado.
A estrutura acima é constituida de dois espelhos de corrente, onde um deles copia a
corrente no transistor M1 para o transistor M2 e o outro copia a corrente no transistor M3
para o transistor M4. No entanto, a corrente em M3 é a mesma que em M2, que foi copiada
de M1, assim a corrente em M4 será indiretamente uma cópia de sua própria corrente, já
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
13
que as correntes em M1 e M4 devem ser iguais. Isto significa que existe uma dependência
mútua entre as correntes nos dois ramos e, portanto, diz-se que o circuito se autopolariza
[5]. É esta característica que garante a baixa sensibilidade da tensão de alimentação VDD
quando esta estrutura é inserida no gerador de corrente PTAT. Isto porque a existência e
valor das correntes estão condicionadas a elas próprias. Outra característica importante
a ser notada é que as tensões nos nós X e Y no circuito da Fig. II.7 serão iguais, devido
às dimensões iguais dos transistores (relação 1:1 entre eles) e, consequentemente, suas
tensões VGS serem iguais.
A característica discutida anteriormente garante a baixa dependência da tensão de
alimentação, mas permite a existência de qualquer nível de corrente, uma vez que as correntes nos ramos são iguais. A corrente quiescente do circuito será fixada pelo esquema
composto pelo resitor R1 e os transistores bipolares Q1 e Q2 · · · Qn+1 . Como as correntes
nos dois ramos são iguais, é possível notar que a polarização mostrada na Fig. II.4 (b)
está implementada e que, desta forma, é possível extrair uma tensão PTAT do esquema.
Como as tensões nos nós X e Y são iguais, conclui-se que a tensão sobre o resistor R1 será
VR1 = Veb1 −Veb2 = k T ln(n)/q e sua corrente será dada por
IR1 =
k T ln(n)
.
q R1
(II.18)
Então, esta corrente fixa a corrente dos espelhos e possui um comportamento PTAT,
admitindo que R1 não varie com a temperatura . Desta forma, a componente de tensão
PTAT é transformada em uma corrente. Esta é, então, copiada para o bloco que realizará
a soma dos componentes. Assim, a tensão de referência será a tensão sobre o transistor
bipolar Q3 , CTAT, somada à tensão sobre o resistor R3 , PTAT devido à corrente IR1 . Logo,
a tensão de referência será dada por
Vre f = Veb3 +
kT
R2
ln(n) ,
R1
q
(II.19)
onde R2 /R1 pode ser escolhido para satisfazer à Eq. (II.16) e, consequentemente, à Eq.
(II.2).
II.3.2 - T OPOLOGIA II
Outra topologia, que emprega um amplificador operacional e é utilizada neste projeto
está ilustrada na Fig. II.9.
Neste circuito, as funções de gerar uma corrente PTAT e somar os componentes a se
compensarem não estão separadas em blocos como no circuito anterior. No entanto, a
ideia é basicamente a mesma. Os transistores M1 e M2 possuem as mesmas dimensões
e, assim, as correntes nos dois ramos são iguais e, portanto, os transistores bipolares Q1 e
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
VDD
14
VDD
S
M1
M2
Vref
R3
R2
IR1
IR1
X
Y
+
ΔVeb
R1
+
Q1 Veb
1
+
Veb2 Q2
-
....... Qn+1
-
n Transistores
Figura II.9: Topologia 2 - Segundo circuito capaz de gerar a referência de bandgap.
Q2 · · · Qn+1 estão polarizados para formar uma tensão PTAT. O amplificador operacional
possui uma alta impedância de entrada, de forma que não há fuga de corrente para suas
entradas, e um ganho alto o suficiente para garantir que as tensões nos nós X e Y sejam
iguais, o que, como na Topologia 1, fará com que a tensão sobre o resistor R1 seja VR1 =
Veb1 − Veb2 = k T ln(n)/q e sua corrente dada pela Eq. (II.18), na qual IR1 possuirá um
comportamento PTAT. O amplificador operacional permite que a tensão de referência
seja extraida diretamente do ramo à direita. Desta forma, ela será a soma da tensão sobre
os transistores bipolares Q2 · · · Qn+1 , com comportamento CTAT, com a tensão sobre os
resistores R2 e R1 , com comportamento PTAT, sendo dada por
kT
R2
+ 1 ln(n) .
= Veb2 +
R1
q
Vre f
(II.20)
Ainda restam algumas observações importantes a respeito desta topologia. O amplificador operacional possui duas funções principais, uma é garantir que as tensões nos
nós X e Y sejam iguais e a outra é regular a tensão nos gates dos transistores M1 e M2,
de tal forma que compense uma variação da tensão de alimentação VDD . Isto pode ser
visto, por exemplo, supondo inicialmente que a tensão de alimentação aumente. Com sua
elevação, a magnitude da tensão VGS (tensão entre gate e source) dos transistores MOS
elevam-se, e conseqüentemente a corrente no circuito se eleva, aumentando a tensão sobre
os resistores e transistores bipolares e, assim, também a tensão de referência. No entanto,
considerando que as variações de tensão dos transistores bipolares são muito pequenas
(aumentam com ln(IC )) em relação à variação da tensão sobre o resistor R1 , a tensão do
nó Y do amplificador operacional aumentará mais que a do nó X e a tensão na saída do
amplificador também se elevará, de forma que o valor absoluto da tensão VGS dos transistores MOS será reduzida, diminuindo a corrente no circuito e, conseqüentemente, a
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
15
tensão de referência, voltando à situação inicial.
Para garantir o funcionamento do circuito, a realimentação do amplificador precisa ser
negativa, sendo necessário posicionar corretamente os terminais + e − do amplificador
operacional. O raciocínio é semelhante ao anterior, onde agora uma variação da saída do
amplificador não pode modificar o funcionamento do circuito. Admitindo VDD constante,
uma redução da tensão na saída do amplificador, por algum motivo, fará com que a corrente no circuito aumente, o que elevará mais a tensão no nó Y do que no nó X. Desta
forma, a escolha da posição dos terminais deve ser feita para compensar o efeito inicial na
saída, ou seja, elevar a tensão de saída de forma a reduzir a corrente do circuito. Assim,
os terminais + e − devem ser posicionados como na Fig. II.9, pois, assim, o ganho será
positivo, aumentando a tensão de saída. Note, que se a posição fosse escolhida invertida,
o ganho seria negativo, reduzindo a tensão de saída e elevando ainda mais a corrente no
circuito, tornando-o instável.
Outra observação se refere ao uso do resistor R3 , cuja função é compensar os efeitos
de modulação de canal [5] nos transistores MOS. Sem R3 , as tensões de dreno de M1 e
M2 irão diferir, tornando as suas correntes diferentes. Assim, R3 deverá ser escolhido
igual a R2 , para que as tensões de dreno dos transistores fiquem iguais, garantindo que as
correntes nos dois ramos sejam iguais.
II.3.3 - P ROBLEMA DO S TART- UP
As duas topologias de circuito apresentadas possuem um problema intrínseco, conhecido como problema do start-up. Este problema consiste na possível operação do circuito
em um estado de baixa corrente, onde diz-se que o circuito está desligado, pois, ao ligar-se
a fonte de alimentação, o circuito continua sem fornecer a tensão de referência [5, 13].
Para entender melhor o problema vamos considerar o circuito da Fig. II.9. O circuito
é projetado para um ponto de operação específico. No entanto, existe ainda o estado desligado do circuito. Então, para encontrar este ponto desligado, vamos chamar a corrente
fluindo pelo transitor M2 de IM2 e a por M1 de IM1 . O espelho de corrente garante que
IM1 = IM2 .
(II.21)
Das Eqs. (II.11) e (II.18) obtém-se
IM1
ln n
IM2
,
IM2 = vt
R1
de onde segue a relação
(II.22)
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
16
IM2 R1 IM2 /vt
e
.
(II.23)
n
Assim, as soluçôes para as correntes devem satisfazer às Eqs. (II.21) e (II.23), como
podem ser vistas graficamente através da intersecção entre as duas curvas na Fig. II.10,
que fornece duas soluções: uma igual a zero e outra diferente.
IM1 =
7,0
6,0
IM1 [µA]
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0
0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
IM2 [µA]
Figura II.10: Gráfico mostrando os dois pontos de operação do circuito da Fig. II.9.
O circuito é projetado para que a corrente seja diferente de zero, mas é possível que
ao ligar-se o circuito ele permaneça no estado zero, ou seja, possuindo corrente e tensão
de referência com valores iguais a zero. Isto ocorre se todos os componentes forem ideais e casados. Na presença de não idealidades, como descasamentos e tensão de offset
do amplificador operacional, estes terão seus erros adicionados às equações mostradas,
mudando o ponto de operação de corrente zero para um outro de baixíssima corrente.
Assim, é necessário garantir a operação desejada do circuito, o que é feito através
de um circuito de start-up, cuja função é detectar o estado desligado e injetar a corrente
necessária no circuito até que ele passe para o estado ligado. É preciso ainda que o
circuito de start-up deixe de funcionar uma vez alcançado o estado ligado para não alterar
o comportamento projetado para o circuito. Uma forma de implementar este circuito pode
ser vista na Fig. II.11 e é a mesma empregada neste projeto.
S
Vref
M3
Figura II.11: Circuito de start-up.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
17
O inversor lógico é utilizado para verificar se o circuito está num estado desligado.
Estando desligado, a tensão de referência possui um valor baixo, próximo de zero Volts.
Assim um nível lógico baixo está na entrada da porta inversora e um nível lógico alto
aparece em sua saída, o que faz o transistor M3 funcionar como uma chave ligando o
potencial de GND ao nó S do circuito na Fig. II.9, obrigando os transistores M1 e M2 a
conduzirem, o que eleva a tensão de referência. Quando o circuito chega a seu ponto de
operação projetado (ligado), a entrada do inversor lógico reconhecerá a tensão de referência como um nível lógico alto, de forma que, em sua saída, o nível lógico será baixo e o
transistor M3 estará cortado, desconectando o bloco de start-up do circuito e garantindo
seu funcionamento devido.
II.4 - F IGURAS DE M ÉRITO
Com a teoria básica e os circuitos de referência de bandgap apresentados, é necessário
definir critérios de avaliação e comparação de circuitos de referência de tensão distintos.
Abaixo são apresentados os principais parâmetros de avaliação [1].
II.4.1 - TC - C OEFICIENTE DE T EMPERATURA
O coeficiente de temperatura, TC (Temperature Coefficient), mede quanto varia a tensão de referência dada uma variação de temperatura. Seu cálculo é feito em todo o intervalo de temperatura desejada, obtendo a taxa de variação da tensão de referência com
a temperatura e normalizando este resultado pela tensão de referência nominal, cujo valor é aquele avaliado na temperatura de trabalho. Assim, este parâmetro é definido em
ppm/◦C, por [13]
TC =
1
Vre fnom
Vre fmax −Vre fmin
·
Tmax − Tmin
· 10−6 ppm/◦C,
(II.24)
onde Tmax e Tmin são, respectivamente, as temperaturas máxima e mínima do intervalo
considerado, Vre fmax e Vre fmin são, respectivamente, a máxima e a mínima tensões de referência neste intervalo e Vre fnom é o valor de tensão nominal na temperatura de trabalho,
geralmente 27◦C.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
18
II.4.2 - R EGULAÇÃO DE LINHA
A regulação de linha [1] mede a sensibilidade da tensão de referência em relação à
sua tensão de alimentação e é definida como
LNR =
Vre f (VDDmax ) −Vre f (VDDmin ) ∆Vre f
=
µV /V,
VDDmax −VDDmin
∆VDD
(II.25)
onde VDDmax e VDDmin são, respectivamente, as tensões máxima e mínima da alimentação
a serem consideradas, e Vre f (VDDmax ) e Vre f (VDDmin ) são respectivamente os valores da
tensão de referência quando a tensão de alimentação é a máxima e a mínima definidas
anteriormente.
Esta definição não é muito utilizada. A mais encontrada na literatura é a PSRR (Power
Supply Rejection Rate) DC (Direct Current), definida a seguir.
II.4.3 - PSRR - TAXA DE R EJEIÇÃO DA F ONTE DE
A LIMENTAÇÃO
A Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação, PSRR pode ser dividida em duas categorias: medida de rejeição DC e medida de rejeição AC (Alternate Current). É importante
notar que rejeição é diferente de sensibilidade, sendo seu oposto. Assim, a tensão de referência vai ser tão menos sensível quanto maior sua taxa de rejeição.
II.4.3.1 - R EJEIÇÃO DC
A medida de rejeição DC fornece uma medida de quão robusta é a tensão de referência
às variações da sua tensão de alimentação, ou seja, mede o quanto a tensão de referência
irá rejeitar uma redução ou aumento de sua tensão de alimentação. Assim, ela é definida,
em dB, por
∆VDD
PSRR(DC) = 20log
∆Vre f
dB,
(II.26)
onde ∆VDD e ∆VREF são definidos como para a regulação de linha, mostrada anteriormente.
C APÍTULO II
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
19
II.4.3.2 - R EJEIÇÃO AC
Diferente da medida de rejeição DC, a AC mede quanto a tensão de referência é capaz
de não ser influenciada por sinais de interferências provenientes do meio externo ou de
outros circuitos no mesmo chip. Desta forma, ela é uma medida dada em função da
frequência e mostrada através de um gráfico da função [1]
VDD ( f )
PSRR( f ) = 20log
Vre f ( f )
dB.
(II.27)
II.4.3.3 - I MPRECISÃO I NICIAL
A imprecisão inicial de um circuito de tensão de referência é um parâmeto estatístico
que leva em consideração o erro provindo das não idealidades da fabricação do circuito
integrado, como variação dos parâmetros de processo, descasamento entre os componentes do circuito e gradientes de processo. Assim, ela é definida através do desvio padrão
da tensão de referência , σVre f , que é obtido por simulações através da análise de Monte
Carlo e, após a fabricação, pelo cálculo da distribuição estatística dos valores de tensão
obtidos dos vários chips medidos. Desta forma, a imprecisão é dada por [14]
Imprecisão =
3σVre f
× 100%.
Vre fmédia
(II.28)
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE
R EFERÊNCIA DE BANDGAP
III.1 - E TAPAS DO P ROJETO
O projeto pode ser dividido em duas partes, como indicado na Fig. III.1: (i) o projeto do circuito de referência de bandgap sem nenhum tipo de circuito para calibração e
(ii) o projeto do circuito de referência de bandgap com calibração, que consiste apenas
no projeto de uma rede resistiva de calibração para reduzir a imprecisão do circuito de
referência.
Parte I - Circuito sem Calibração
Projeto Inicial
Área dos
Dispositivos
Layout
Simulações
Parte II - Circuito com Calibração
Projeto da Rede Resistiva
para Calibração
Layout
Simulações
Figura III.1: Partes do Projeto e suas etapas.
Neste capítulo serão apresentados o projeto inicial, que dimensiona os dispositivos
sem considerar suas áreas, o projeto das áreas destes dispositivos e o projeto da rede resistiva para calibração. As etapas de Layout e Simulação serão apresentadas nos capítulos
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
21
posteriores.
III.2 - E SPECIFICAÇÕES
Foram tomadas como especificações para a polarização uma tensão de alimentação de
3, 3V , nominal do processo, e uma corrente de polarização para os transistores bipolares
de 4µA a 27◦C, de forma a reduzir a potência dissipada.
No domínio da temperatura a faixa a ser considerada será de −40◦C à 125◦C (faixa militar) e a temperatura cuja derivada é zero será a localizada no centro desta faixa (42.5◦C).
As imprecisões iniciais requeridas serão de 1% e 0, 25%, para o circuito sem calibração e para o circuito com calibração, respectivamente.
Tanto a faixa de temperatura como as imprecisões iniciais foram escolhidas de acordo
com o que é comumente encontrado em artigos científicos, como se pode verificar, por
exemplo, na tabela comparativa encontrada em [15].
III.3 - P ROJETO I NICIAL
Nesta seção é apresentado o projeto das razões, W /L (Largura de canal/comprimento
de canal), dos transistores MOS, o número n de transistores bipolares e o valor dos resistores para o circuito da Topologia 2, Fig. II.9, apresentada no Capítulo II.
A razão dos transistores MOS foi obtida através de simulações, uma vez que o simulador utiliza modelos mais avançados se comparados ao modelo de Shichman e Hodges
(SPICE nível 1) [16], que geralmente é utilizado para realizar os cálculos. O método
empregado pode ser visualizado na Fig. III.2, onde os terminais gate (G), dreno (D),
source (S) e substrato (B) do transistor PMOS ou NMOS são polarizados por fontes de
tensão. Primeiramente, estas fontes têm seus valores escolhidos para satisfazer às condições de operação do dispositivo no circuito, a tensão VDS , entre dreno e source, a tensão
VGS = Vod + vth , entre gate e source, onde Vod é a tensão de overdrive requerida [5], e a
tensão VBS , entre substrato e gate. Em seguida, o valor de L é fixado e uma varredura de
W é realizada, tendo seu valor escolhido no ponto onde a corrente de dreno é a requerida
pelo projeto. Desta forma, um valor W /L bem acurado pode ser obtido.
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
22
VD
VB
D
B
G
S
VG
VS
Figura III.2: Dimensionamento da razão W /L.
III.3.1 - T RANSISTORES B IPOLARES
III.3.1.1 - T RANSISTOR B IPOLAR PNP
Transistores Bipolares NPN geralmente são preferidos em projetos, pois possuem valores de β maiores que transistores PNP [1]. Entretanto, no processo de fabricação CMOS
com substrato tipo P é comum se encontrar apenas transistores PNP, pois a realização
do transistor NPN exige um maior número de camadas e, assim de máscaras, elevando o
custo do projeto. Assim, não são todos os processos que possuem transistores NPN, sendo
mais comum encontrarem-se trabalhos empregando transistores PNP, como é o caso deste
projeto. Na figura abaixo podem ser vistos transistores NPN e PNP verticais.
Emissor
Base
Coletor
P+
N+
P+
Poço N
Substrato Tipo P
(a)
Emissor
Base
Coletor
N+
P+
N+
P
Poço N
Substrato Tipo P
(b)
Figura III.3: Fabricação de transistores bipolares (BJTs) PNP e NPN [1]. (a) Transistor
PNP Vertical. (b) Transistor NPN Vertical.
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
23
Os desenhos na Fig. III.3 ilustram transistores do tipo vertical, onde é importante
chamar a atenção para o fato de que o BJT PNP possui seu terminal coletor preso ao nível
de tensão mais baixo do circuito, uma vez que este terminal corresponde ao substrato do
chip.
Além dos transistores verticais, existem também transistores de realização lateral, cujos valores de β são bem mais elevados. No entanto, transistores laterais são dispositivos
mais pobres, apresentando características mais afastadas das ideais se comparados aos
transistores verticais. Assim, o uso do tipo vertical é preferido, tendo sido, portanto, o
empregado neste projeto.
III.3.1.2 - N ÚMERO DE T RANSISTORES
O número de transistores, n, discutido no Capítulo II deve ser dimensionado tendo
em vista o layout do circuito. Para reduzir o efeito dos gradientes de processo existentes
no wafer, os transistores Q1 Q2 · · · Qn+1 devem estar organizados em centroide comum
[2, 17], onde Q1 estará no centro, como pode ser visto na Fig. III.4, para n = 8.
Q2
Q3
Q4
Q5
Q1
Q6
Q7
Q8
Q9
Figura III.4: Layout dos transistores bipolares [2].
Esta característica impõe a restrição
n = i2 − 1 , para i = 3, 4, 5 · · ·
(III.1)
Além desta relação, deve-se também levar em consideração a não idealidade do amplificador operacional (AMP-OP) empregado. No Capítulo II não foi considerado que ele
possui uma tensão de offset de entrada, sendo que este efeito é um dos maiores responsáveis por erros no circuito de referência. Isto pode ser observado se uma fonte de tensão,
vos , for colocada em uma das entradas do AMP-OP, de forma a representar a tensão de
offset, e equacionar o resultado na saída:
Vre f
R2
= Veb2 +
+ 1 (vt ln(n) + vos ) .
R1
(III.2)
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
24
Assim, é possível notar que o offset é multiplicado pela razão dos resistores R2 e R1
mais um. Logo, para uma razão de 6 e um offset de 5mV , por exemplo, na saída haverá um
erro de 70mV . Este erro é relativamente grande e refere-se apenas ao valor nominal, pois
é introduzido também um coeficiente de temperatura que prejudicará a independência do
circuito em relação à temperatura. Levando este fato em consideração, deve-se procurar
elevar o termo ln(n), pois isto implica em uma redução da razão de resistores necessária
no projeto e, consequentemente, no erro imposto pelo offset na saída.
Como a diferença entre os possíveis valores de n é muito grande, e cada transistor
bipolar ocupa uma área considerável, por uma questão de compromisso, escolheu-se:
n = 24.
(III.3)
III.3.2 - E FEITOS NÃO IDEAIS EM TRANSISTORES
BIPOLARES
Todo o desenvolvimento realizado no Capítulo I, que culminou nas Eqs. (II.9), (II.11)
e (II.17), leva em consideração BJTs ideais, que não apresentam resistência de base, possuem um ganho de corrente β elevado, independente da temperatura e da polarização do
transistor. No entanto, todos estes efeitos estão presentes no caso real e a maior parte
deles não pode ser desprezada.
Como, na Seção III.3.3, serão dimensionados os valores dos resistores R1 , R2 e R3 de
forma a obter uma primeira aproximação de seus valores finais, é necessário conhecer o
comportamento, ao menos aproximado, do transistor bipolar. Assim, torna-se interessante
abordar os principais efeitos não-ideais presentes.
Os principais efeitos podem ser visualizados na Fig. III.5, para o transistor Q1 e para
o conjunto de n transistores Q2 · · · Qn+1 , que são tratados como um único transistor equivalente QN , que possui uma resistência de base n vezes menor que a de Q1 [18].
IE
IB
rb
+
Q1 V
eb1
IC=β1(T)IB
IE
IB
rb/n
+
QN V
eb2
IC=β2(T)IB
Figura III.5: Transistores bipolares incluindo imperfeições.
Dentre os efeitos mostrados, os que possuem maior influência são a resistência de
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
25
base, o valor de β finito (para o processo empregado neste projeto β está em torno de 6),
e suas variações com a temperatura. A variação de β em função de sua corrente de coletor
é muito pequena se comparada com sua variação com a temperatura e, portanto, pode ser
desprezada. Desta forma, alterando a Eq. (II.8), Veb1 e Veb2 são dadas por:
T
T
+VG0 1 −
− η vt ln
Tre f
Tre f


1
1+

β (Tre f ) 
IE (T )
 + rb (T ) IE (T ) ,
+ vt ln 
+ vt ln

1 
IE (Tre f )
β (T ) + 1
1+
β (T )
T
Veb1 (T ) =Veb1 (Tre f )
Tre f
T
T
+VG0 1 −
− η vt ln
Tre f
Tre f


1
1+

β (Tre f ) 
IE (T )
 + rb (T ) IE (T ) .
+ vt ln 
+ vt ln

1 
IE (Tre f )
n β (T ) + 1
1+
β (T )
T
Veb2 (T ) =Veb2 (Tre f )
Tre f
(III.4)
(III.5)
Subtraindo as Eqs. (III.4) e (III.5), obtém-se
∆Veb (T ) =
T
Tre f
rb (T ) IE (T )
1
1−
,
Veb1 (Tre f ) −Veb2 (Tre f ) +
β (T ) + 1
n
(III.6)
onde, é interessante notar que o primeiro termo de ∆Veb (T ) é idealmente igual a vt ln(n).
Desta forma, para realizar o projeto é necessário extrair os parâmetros Veb1 , Veb2 , VG0 , η,
rb (T ) e ainda a equação de β (T ) para o processo utilizado. O método de extração destes
parâmetros é apresentado no Apêndice A.
III.3.3 - R ESISTORES
O tipo de resistor escolhido para o projeto foi o poly de alta resistividade (Hres), pois
com ele é possível realizar grandes valores de resistências com menor emprego de área,
comparado aos outros tipos de resistores disponíveis no processo de fabricação CMOS
adotado.
Como mencionado anteriormente, no dimensionamento dos resistores é necessário
considerar as não idealidades dos transistores bipolares. Adicionalmente, também é preciso considerar as características dos resistores, já que eles também variam com a temperatura e, no caso do Hres, com a tensão sobre seus terminais. Assim, um bom modelo
C APÍTULO III
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26
para a resistência é
R(T ) = R r0 ( 1 + r1 (T − 273) + r2 (T − 273)2 ),
(III.7)
onde R é a resistência realizada, r1 e r2 são os coeficientes de temperatura de primeira e
segunda ordens, respectivamente, e r0 é a única constante de polarização a ser considerada, pois as outras podem ser desprezadas sem prejudicar os resultados.
O método de extração dos parâmetros r0 , r1 e r2 é descrito no Apêndice A.
III.3.3.1 - R ESISTOR R1
O valor do resistor R1 pode ser obtido de forma semelhante à que produziu a Eq.
(II.18), combinando a equação IR1 (T ) = IE (T ) = ∆Veb /R1 (T ) com a Eq. (III.6), fornecendo
IE (T ) =
T
Tre f
Veb1 (Tre f ) −Veb2 (Tre f )
rb (T )
1−
R1 (T )
R1 (T )
1
,
1
1
1−
β (T ) + 1
n
(III.8)
onde R1 (T ) é da ordem de dezenas de kilo-ohms e rb geralmente é da ordem de dezenas
a centenas de ohms, de forma que o segundo termo da Eq. (III.8) é bem próximo de 1,
o que torna o efeito da resistência de base irrelevante. Assim, o valor de R1 (T ) pode ser
aproximado por
R1 (T ) =
T
Tre f
Veb1 (Tre f ) −Veb2 (Tre f )
IE (T )
.
(III.9)
Portanto, no projeto desenvolvido neste trabalho, para uma temperatura de 27◦C, uma
corrente especificada IE (27 + 273K) = 4 µA e utilizando os parâmetros extraídos para o
resistor e os transistores bipolares, obtemos
R1 = 20, 41 kΩ ≈ 20, 4 kΩ.
(III.10)
III.3.3.2 - R ESISTORES R2 E R3
Como discutido no Capítulo I, o resistor R3 deve ser igual ao resistor R2 para que
as correntes nos dois ramos do circuito sejam efetivamente as mesmas. Desta forma,
é necessário dimensionar apenas o resistor R2 , utilizando as Eqs. (II.2) e (II.20), para
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27
encontrar a razão R2 /R1 na condição em que a derivada de Vre f seja nula na temperatura
de 42.5◦C, ou seja,
∂Veb2 R2
∂
T
= −1 −
.
∂ ∆Veb R1
∂ T T =42.5+273K
(III.11)
Para resolver a equação acima é preciso levar em consideração o efeito da variação do
resistor R1 com a temperatura, o que é feito substituindo a Eq. (III.8) nas Eqs. (III.4) e
(III.5), que se tornam:
T
T
+VG0 1 −
− (η − 1) vt ln
Tre f
Tre f


rb (Tre f )
1
1−
1−

R1 (Tre f )
(β
(T
)
+
1)
R
(T
)
n 
1
re
f
re
f

+ vt ln
+ vt ln 


1
rb (T )
R1 (T )
1−
1−
(β (T ) + 1) R1 (T )
n


1
1+

β (Tre f ) 
 + rb (T ) IE (T ) ,
+ vt ln 
(III.12)

1 
β (T ) + 1
1+
β (T )
T
Veb1 (T ) =Veb1 (Tre f )
Tre f
T
T
+VG0 1 −
− (η − 1) vt ln
Tre f
Tre f


rb (Tre f )
1
1−
1−

(β
(T
)
+
1)
R
(T
)
n 
R1 (Tre f )
1
re
f
re
f

+ vt ln
+ vt ln 


rb (T )
1
R1 (T )
1−
1−
(β (T ) + 1) R1 (T )
n


1
1+

β (Tre f ) 
 + rb (T ) IE (T ) .
+ vt ln 
(III.13)

1 
n β (T ) + 1
1+
β (T )
T
Veb2 (T ) =Veb2 (Tre f )
Tre f
É interessante notar nas expressões apresentadas acima, que a tensão de junção é igual
ao seu valor ideal, dado pela Eq. (II.9), somado a termos referentes às variações de β e R1
com a temperatura, além de termos referentes à resistência da base.
A expressão de ∆Veb é dada pela diferença entre as Eqs. (III.12) e (III.13) e, portanto,
independe de β (T ) e R1 (T ), como indicado em
∆Veb (T ) =
T
Tre f
IE (T )
1
Veb1 (Tre f ) −Veb2 (Tre f ) + rb (T )
1−
.
β (T ) + 1
n
(III.14)
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28
Assim, substituindo nas Eqs. (III.12), (III.13) e (III.14) os valores extraídos dos parâmetros do transistor bipolar, de β (T ), dos resistores, e ainda o valor calculado para R1 ,
foi possível calcular a razão RR12 através da Eq. (III.11), utilizando a função diff do software Matlab para computar a derivada simbólica das equações apresentadas, chegando à
solução
R2
= 6, 756 ≈ 6, 75.
R1
(III.15)
R3 = R2 = 137, 7 kΩ.
(III.16)
Consequentemente, obtém -se
Os valores encontrados para os resistores R1 , R2 e R3 são mostrados na Tabela III.1.
Tabela III.1: Valores dos resistores.
Resistor R (kΩ)
R1
20,4
R2 , R3
137,7
III.3.4 - E SPELHO DE C ORRENTE
O espelho de corrente na Fig. II.9, formado pelos transistores M1 e M2, foi dimensionado para operar na região de inversão forte e possuir uma tensão de overdrive vod de
300 mV , permitindo que o circuito de tensão de referência funcione com uma tensão de
alimentação mínima em torno de 1.5 V .
Desta forma, utilizando o método descrito na Seção III.3, a razão W /L foi dimensionada pelo valor
W1,2
= 2.
L1,2
(III.17)
C APÍTULO III
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29
III.3.5 - A MPLIFICADOR O PERACIONAL DE
T RANSCONDUTÂNCIA
III.3.5.1 - T OPOLOGIA U TILIZADA
Foi escolhido para o amplificador no circuito da Fig. II.9 utilizar um amplificador
operacional de transcondutância (OTA), já que sua saída estará apenas em gates de transistores MOS que possuem intrinsecamente uma resistência muito elevada. A topologia
empregada pode ser vista junto de seu esquema de alimentação na Fig. III.6, onde VS é a
tensão no nó S do circuito apresentado na Fig. II.9.
VDD
VDD
VDD
Vpolarização = VS
M4
M3
M5
Vout = VS
Input -
M6
Z
M8
M9
Input +
M7
Figura III.6: Amplificador operacional de transcondutância.
O OTA escolhido é simples, possuindo um único estágio, pois, desta forma, dispensase o uso de compensação e apenas dois pares de transistores devem estar casados [2], o
que facilita o projeto, uma vez que descasamento resulta em offset.
Para reduzir o consumo de potência do circuito de referência e elevar o ganho do
amplificador, optou-se por utilizar o par diferencial, composto pelos transistores M8 e M9,
operando na região de inversão fraca, enquanto os demais transistores foram polarizados
em inversão forte. Assim, o par diferencial e os demais transistores, com exceção de M7,
foram polarizados com uma corrente de 200 nA, correspondendo à 1/20 da corrente IR1 .
Conhecendo estas características foi possível projetar as razões W /L destes dispositivos como descrito nas seções seguintes.
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30
III.3.5.2 - C ARGA ATIVA E E SPELHOS DE P OLARIZAÇÃO
Pela Fig. III.6 pode-se perceber que a polarização do OTA é fornecida pelo circuito
de bandgap, pois VS é a tensão no nó S na Fig. II.9. Desta forma, como a corrente no
transistor M3 é 1/20 vezes a corrente IR1 , então M3 pôde ser facilmente dimensionado
multiplicando a razão encontrada para os espelhos de corrente por este valor. Assim,
1 W1,2
W3
=
= 0, 1,
L3
20 L1,2
(III.18)
onde chama-se a atenção para o fato de M3 estar polarizado em inversão forte.
Os transistores M6 e M7 possuem uma relação 1 : 2, de forma que o transistor M7
está polarizado com uma corrente de 400 nA e em altas temperaturas deve permanecer na
região de saturação com uma tensão VDS de 100 mV , para garantir que M8 e M9 permaneçam em inversão fraca na condicão de temperatura máxima (125◦C), onde a tensão de
Veb é a mínima. Desta forma, empregando o método da Seção III.3 para a temperatura de
125◦C, ID = 400 nA e vod = 100 mV , a razão W /L para M7 obtida é
W7
= 1, 5
L7
(III.19)
Como a relação entre M6 e M7 é de 1 : 2, então
W6 1 W7
=
= 0, 75
L6
2 L7
(III.20)
Na condição de equilíbrio, a tensão no nó Z e VS devem ser idênticas para impedir
que seja criada na entrada do amplificador uma tensão de offset sistemática. Isto pode ser
feito se for estabelecida uma relação entre os transistores do espelho de corrente M1,2 e
os transistores M4,5 . Assim, a razão para os transistores M4 e M5 foram obtidas por
W4,5
1 W1,2
=
= 0, 1,
L4,5
20 L1,2
(III.21)
onde nota-se que M4 e M5 não estão em inversão fraca.
III.3.5.3 - PAR D IFERENCIAL
Uma vez que o par diferencial operará em inversão fraca, para garantir que o amplificador tenha o funcionamento desejado para toda a faixa de temperatura, o par diferencial
deve ser projetado na temperatura máxima (125◦C), quando a tensão Veb do transistor bipolar é a mínima e, portanto, representa o pior caso. Desta forma, utilizando o método
descrito na Seção III.3, a razão encontrada foi
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
W8,9
= 11.
L8,9
31
(III.22)
As razões W /L dos transistores do OTA são apresentdas na Tabela III.2.
Tabela III.2: Razões W /L dos transistores do OTA e do espelho de corrente do circuito
de bandgap.
Transistor
W /L
M1, M2
2
M3, M4, M5
0,1
M6
0,75
M7
1,5
M8, M9
11
III.3.6 - C IRCUITO DE S TART- UP
O circuito de start-up foi realizado como apresentado na Seção II.3.3, onde apenas a
porta lógica inversora foi implementada de uma forma pouco usual, como pode ser observado no circuito da Fig. III.7. A dificuldade de utilização do circuito inversor tradicional
reside no fato de que a diferença entre a tensão de alimentação VDD e a tensão de referência Vre f é maior que o vth de um transistor PMOS, o que dificulta o desacoplamento do
circuito start-up do circuito de bandgap. Para eliminar este problema, foi realizado um
emplilhamento de transistores, de forma a reduzir a tensão no terminal source de M12.
Para definir o número de transistores foi utilizada a expressão:
ntransistores ≥
VDD −Vre f
.
|vth p |
(III.23)
Assim, para VDD = 3, 3V , Vre f ≈ 1, 2V e |vth p | ≈ 0, 7V , obtém-se
ntransistores = 3.
(III.24)
Esta parte do circuito foi desenvolvida independentemente do restante do circuito, já
que não influencia a imprecisão da tensão de referência. Assim, os transistores MOS M10,
M11, M12 e M13 foram escolhidos próximos às dimensões mínimas, enquanto M14 foi
dimensionado com um comprimento de canal L alto se comparado à sua largura de canal
W , aumentando sua capacitância de gate, para que o dreno de corrente não seja súbito, o
que provocaria elevados sobrepassos na tensão de referência. Os valores das dimensões
destes transistores se encontram na Tabela III.3.
C APÍTULO III
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32
VDD
M10
M11
M12
Vref
S
M14
M13
Figura III.7: Circuito start-up empregado.
Tabela III.3: Dimensões dos Transistores do circuito start-up.
Transistor
W (µm) L (µm)
M10, M11, M12
0,8
0,35
M13
0,4
0,35
M14
0,4
11
III.4 - C IRCUITO P RELIMINAR
Com o projeto funcional (razões W /L e valores dos resistores) do circuito realizado,
um primeiro teste pode ser feito. Para isto utilizou-se um circuito preliminar, cujas dimensões encontram-se na Tabela III.4.
Tabela III.4: Tabelas contendo as dimensões Preliminares dos componentes para o circuito bandgap sem calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b) Dimensões dos
resistores.
Transistor
M1, M2
M3, M4, M5
M6
M7
M8, M9
M10, M11, M12
M13
M14
W (µm) L (µm)
26
13
1,3
13
3,75
5
7,5
5
11
1
0,8
0,35
0,4
0,35
0,4
11
(a)
C APÍTULO III
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Resistor
R1
R2 , R3
W (µm) L (µm)
10
166,6
10
1124,55
33
R (kΩ)
20,4
137,7
(b)
III.5 - Á REA DOS D ISPOSITIVOS
III.5.1 - V ISÃO G ERAL
Como discutido anteriormente, este projeto visa atender à especificação de 1% para a
imprecisão da tensão de referência nominal. Esta imprecisão tem origem em três fontes:
variações sistemáticas, variações de processo e variações aleatórias [19].
As variações sistemáticas são inerentes ao processo de fabricação, como os chamados
gradientes de processo e outros efeitos que fazem com que as dimensões dos dispositivos
implementadas em silício difiram das especificadas pelas máscaras de layout, como o
efeito de overetching. Não há modelo analítico para este tipo de imprecisão. Portanto, não
pode ser prevista por simulação, mas pode ser minimizada durante a fase de confecção
do layout do circuito, realizando-o cuidadosamente e aplicando técnicas como centróide
comum, interdigitação e dispositivos dummy [17].
As variações de processo referem-se às variações dos parâmetros dos componentes
devido à impossibilidade de manter as condições, como temperatura e níveis de concentração constantes durante todo o processo de produção em larga escala [19]. A imprecisão
devido a esta variação é modelada estatisticamente e pode ser prevista através da análise
de Monte Carlo ou ainda por uma análise de piores casos.
As variações aleatórias ocorrem ainda que não existam as outras duas variações, uma
vez que não é possível garantir que dois dispositivos tenham exatamente as mesmas características, tal como número e localização de dopantes, por exemplo [19]. Assim, estas
variações são aleatórias, comumente referidas como descasamentos (mismatches), e modeladas por distribuições estatísticas, o que permite a utilização da análise de Monte Carlo
para prever a imprecisão de determinada variável do circuito.
As três fontes de imprecisão são importantes, mas as variações sistemáticas só podem
ser minimizadas durante a fase de layout e as variações de processo apenas são previstas
com o auxílio do simulador. No entanto, as variações aleatórias, ou seja, o descasamento
entre os componentes, são as mais relevantes e existem equações que as relacionam às
áreas dos dispositivos. Estas equações foram introduzidas por Pelgrom [6], e possuem a
forma [19]
2
σ∆P
A2P
+ SP2 D2 ,
=
WL
(III.25)
C APÍTULO III
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34
onde ∆P é a variação de um parâmetro P de dois dispositivos que possuem as mesmas
dimensões nominais, representando seu descasamento, AP é o termo referente ao descasamento do parâmetro P, W L é a área do canal do dispositivo, D é a distância entre
os dispositivos e SP é o termo correspondente à distância entre os dispositivos. Assim,
pode-se observar que, quanto mais próximos estiverem os componentes e maior forem
suas áreas, maior será o casamento entre eles. No entanto, para distâncias menores que
1mm, o efeito da distância é de pouca influência, de forma que o produto SP2 D2 pode ser
desprezado na maioria dos casos.
Ignorando o componente referente à distância, a imprecisão dos parâmetros pode ser
controlada inteiramente pela área do dispositivo. Assim, o procedimento para cumprir a
especificação de 1% para a imprecisão da tensão de referência do circuito de bandgap
consiste em elevar a área de seus dispositivos. Porém, um aumento de área sem uma
análise bem definida da influência de cada componente do circuito neste erro certamente
levará ao desperdício de um recurso caro como o é a área de silício. Foi realizado, então,
um dimensionamento da área dos dispositivos através de um método de otimização.
2
2
.
+ σdescasamento
σV2re f = σ processo
(III.26)
Para esta finalidade, foi desenvolvida a relação que expressa a incerteza da tensão
de referência, pela Eq. (III.26), considerando tanto o descasamento entre os dispositivos,
quanto as variações de processo, cujo efeito é praticamente independente da área, podendo
assim ser obtido por uma simulação de Monte Carlo.
Diferentemente do termo referente ao processo, o termo referente ao descasamento é
mensurado através das equações de Pelgrom,
2
σ∆v
th
2
σ∆β
β
A2vth
=
WL
=
A2β
WL
(III.27)
(III.28)
2
σ∆R
A2
= R
(III.29)
R
WL
aplicadas às varias partes do circuito. Assim, o que precisa ser avaliado são os principais
descasamentos do circuito da Fig. II.9, que foram identificados como:
1. Descasamento dos transistores bipolares (σBip );
2. Descasamento do espelho de corrente composto por M1 e M2 (σEsp );
3. Descasamento entre os resistores R1 e R2 e imprecisão de R1 (σRes );
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
35
4. Descasamento dos transistores do OTA (σOTA ), caracterizados como um offset de
entrada (σo f f set )
Desta forma, a Eq. (III.26), considerando que todos estes erros sejam descorrelacionados, assume a forma
2
2
2
2
2
σV2re f = σ processo
+ σBip
+ σEsp
+ σRes
+ σOTA
(III.30)
Assim, só é preciso conhecer as expressões de imprecisão da Eq. (III.30) e a equação
de custo (área), dada por
Áreatotal = ÁreaEsp + ÁreaRes + ÁreaOTA
(III.31)
onde a área dos transistores bipolares foi ignorada, pois depende somente da área definida
pelo fabricante do processo, que não pode ser modificada, e do número de transistores n,
que já foi definido no projeto. As Eqs. (III.30) e (III.31) constituem, então, as funções a
serem utilizadas na minimização da área utilizada pelo circuito.
A obtenção das equações para as imprecisões das diversas partes do circuito consiste
na obtenção da relação entre o descasamento e a tensão de referência e aplicação da lei de
propagação de incertezas [8, 9]. A obtenção destas relações encontram-se no Apêndice
B. O método de obtenção do componente referente às variações de processo e a técnica
de otimização empregada são apresentados abaixo.
III.5.2 - VARIAÇÕES DE P ROCESSO
O componente da Eq. (III.30) referente às variações de processo não depende da área
do circuito e, portanto, pôde ser obtida através de uma simulação de Monte Carlo do
circuito preliminar, considerando apenas o processo, consistindo do desvio padrão ao
quadrado da tensão de referência.
III.5.3 - D ESCASAMENTO DO BJT
Como mencionado, a contribuição dos transistores bipolares para a área é fixa e, portanto, sua referida imprecisão também. Desta forma, um procedimento semelhante ao de
obtenção das variações de processo foi realizado, mas agora realizando uma análise de
Monte Carlo considerando o descasamento apenas dos transistores bipolares.
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
36
III.5.4 - D ESCASAMENTO NO E SPELHO DE CORRENTE
M1 - M2
O termo correspondente ao descasamento entre os transistores M1 e M2 do espelho
de corrente é dado pela equação

2
σEsp
=
1
1
(2ϑ 2 − 2ϑ vt + vt2 ) A2β +
2 Área1,2
!2 
gm1,2
,
Av
ID1,2 th
(III.32)
onde
ϑ = vt
R2
+1 .
R1
(III.33)
Aβ é um parâmetro do processo fornecido pelo fabricante e gm1,2 e ID1,2 são, respectivamente, a transcondutância e a corrente de dreno dos transistores M1 e M2, que são obtidas
a partir da simulação do circuito preliminar para garantir maior acurácia.
III.5.5 - D ESCASAMENTO ENTRE R1
E
R2
A contribuição dos resistores R1 e R2 é dada pela expressão
2
σRes
=
vt2 A2R
[1 + r ln(n)(2 + ln(n)(1 + r))] ,
2 ÁreaR1
(III.34)
onde AR é um parâmetro do processo fornecido pelo fabricante, r é a razão R2 /R1 e ÁreaR1
é a área do resistor R1 . Como R2 é um múltiplo de R1 , uma vez obtida a área do resistor
R1 , a área de R2 também será conhecida.
III.5.6 - D ESCASAMENTO NO OTA
A contribuição do amplificador empregado é resultado de sua tensão de offset de entrada, que existirá devido ao descasamento das cargas ativas M4 e M5, e também do par
diferencial M8, M9. Ela é dada pela expressão
2
σOTA
onde
2
1
R2
+
σO2 f f set ,
= 1+
R1 ln(n)
(III.35)
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
σo2f f set
ID8,9 2
1
2
A
=
Avth +
gm8,9 β
Área8,9

ID8,9
1
A2 +
+
β
gm
Área4,5 8,9
!2 
gm4,5

Av
ID4,5 th
37
(III.36)
é a variância da tensão de offset na entrada do OTA, Área4,5 e Área8,9 são, respectivamente, a área da carga ativa e a área do par diferencial, Avth e Aβ são parâmetros do
processo, ID4,5 e ID8,9 , são as correntes de dreno da carga ativa e do par diferencial, respectivamente, e gm4,5 e gm8,9 são suas respectivas transcondutâncias.
III.5.7 - OTIMIZAÇÃO
Com todas as equações correspondentes às imprecisões e relacionadas com as áreas
apresentadas, é possível enunciar o procedimento de otimização como
Min. f (Área) = ÁreaTotal
W4,5 /L4,5
= 2+3
Área1,2 + (1 + r) x ÁreaR + 2 Área8,9
W1,2 /L1,2
(III.37)
Sujeito a
h(Área) =
C
B
A
2
2
+
+
= (σV2re f − σProcesso
− σBip
)
Área1,2 ÁreaR Área8,9
= ((0, 01 · 1, 215)2 − (3, 06m)2 − (0, 21m)2 )
(III.38)
onde Área refere-se ao conjunto de áreas domínio das funções f (·) e h(·), e A, B e C são
constantes obtidas das Eqs. (III.32), (III.34) e (III.35), respectivamente. O termo Área4,5
foi incorporado à constante A, uma vez que para se obter um bom casamento entre os
transistores M1, M2, M3, M4 e M5 foi determinado que seus comprimentos de canal L
seriam iguais e, desta forma, foi estabelecida uma relação entre as áreas Área1,2 , Área3 e
Área4,5 .
Este problema de otimização com restrição pôde ser resolvido pelo método de multiplicadores de Lagrange [20] e o auxílio do software Matlab para a realização dos cálculos.
O método dos multiplicadores de Lagrange consiste em fazer
∇ f (Área) = λ ∇h(Área),
(III.39)
onde λ é o multiplicador de Lagrange, um escalar, e ∇ é o operador gradiente formado
pelo vetor das derivadas parcias da função,
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
∂ f (x, y, z)
∇=
∂x
∂ f (x, y, z)
∂y
∂ f (x, y, z)
∂z
38
T
,
(III.40)
onde T denota o operador de transposição. Para a função f (Área) por exemplo:
"
∂ f (Área)
∇ f (Área) =
∂ Área1,2
∂ f (Área)
∂ ÁreaR
∂ f (Área)
∂ Área8,9
#T
.
(III.41)
Desta forma, é possível encontrar cada variável da área em função do multiplicador
λ . Substituindo cada resultado na Eq. (III.37) é possível, então, encontrar o valor do
multiplicador que minimiza a função ÁreaTotal e, desta forma, encontrar os valores de
Área1,2 , ÁreaR e Área8,9 .
Aplicando este método, encontram-se as dimensões necessárias. As dimensões para
os dispositivos do circuito bandgap sem calibração estão apresentadas na Tabela III.5.
Tabela III.5: Tabelas contendo as dimensões finais dos componentes para o circuito bandgap sem calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b) Dimensões dos resistores.
Transistor
M1, M2
M3, M4, M5
M6
M7
M8, M9
M10, M11, M12
M13
M14
W (µm) L (µm)
104
52
5,2
52
3,75
5
7,5
5
187
17
0,8
0,35
0,4
0,35
0,4
11
(a)
Resistor
R1
R2 , R3
W (µm) L (µm) R (kΩ)
5,4
88,4
20,4
5,4
596,7
137,7
(b)
Os transistores M6 e M7 não participaram do processo de otimização, pois o descasamento entre eles não possui uma contribuição significante de imprecisão para a referência,
uma vez que é alterada apenas a polarização comum dos transistores pertencentes ao par
diferencial e à carga ativa. As dimensões mostradas na Tabela III.5 (a) foram determinadas de forma a minimizar o efeito de modulação de canal, obtidas através de simulações
elevando o comprimento de canal L e mantendo a razão W /L constante até que a corrente
copiada estivesse próxima de seu valor ideal, o que não ocorria para baixos valores de L.
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
39
III.6 - C IRCUITO PARA C ALIBRAÇÃO
O circuito de calibração é na verdade constituído de um resistor variável incluido em
série com o resistor R2 , como pode ser visto na Fig. III.8.
VDD
VDD
S
M1
M2
Vref
RTrim
R3
R2b
IR1
IR1
X
Y
+
ΔVeb
R1
+
Q1 Veb
1
-
+
Veb2 Q2
....... Qn+1
-
n Transistores
Figura III.8: Circuito de bandgap com rede resistiva para calibração.
III.6.1 - R EDE R ESISTIVA
A rede resistiva inserida pode elevar a tensão de referência através de um aumento da
sua resistência e pode reduzí-la por uma diminuição da resistência. Esta redução é realizada por um curto-circuito em uma parte do resistor R2 . Além disto, esta rede resistiva
tambem influenciará na temperatura em que a derivada da tensão de referência é zero,
uma vez que R2 influencia no ganho de ajuste desta temperatura. Assim, sua implementação é feita através de resistores, cujos valores são ponderados binariamente, em paralelo
com chaves analógicas que permitem desconsiderá-los do circuito. O esquema desta rede
resistiva pode ser visto na Fig. III.9.
O número de resistores a serem empregados é dimensionado pelo número de bits
necessários para reduzir uma imprecisão inicial σinicial para uma imprecisão final σ f inal .
Isto pode ser feito através da equação [21, 22]:
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
Rb0
M15
Bit 0
Rb1 = 2.Rb0
M16
Bit 1
Rb2 = 4.Rb0
M17
Bit 2
Rb3
M18
Bit 3
40
RTrim
Figura III.9: Rede resistiva utilizada para calibração.
σinicial
bits ≥ log2 ζ
+1 ,
σ f inal
(III.42)
onde bits refere-se ao número mínimo de bits necessários e ζ é uma constante maior ou
igual a 1, que eleva o número de bits para garantir a especificação. Para σinicial = 1%,
σ f inal = 0, 25% e ζ = 2, obtém-se
bits ≥ 3, 2.
(III.43)
bits = 4.
(III.44)
E o valor escolhido foi
Com o número de bits definido, é possível escolher o valor do menor resistor a ser
utilizado que formará os outros através de
Rmin =
Vre f (27◦C) σ f inal
= 759, 4 Ω ≈ 750 Ω
IE
(III.45)
Portanto, Rb0 será igual a Rmin e Rb1 e Rb2 seguirão a relação apresentada na Fig. III.9.
O resistor Rb3 deve estar entre um resistor de valor máximo devido à especificação de
incerteza inicial e a soma dos resistores Rb0 , Rb1 , Rb2 , ou seja,
Vre f (27◦C) σinicial
≤ Rb3 ≤ Rb0 (1 + 2 + 4)
IE
3 kΩ ≤ Rb3 ≤ 5, 25 kΩ.
(III.46)
(III.47)
O valor de Rb3 foi escolhido levando em consideração o layout dos resistores R1 , R2 e R3 ,
o que resultou em
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
Rb3 = 5, 1 kΩ.
41
(III.48)
Os valores dos resistores encontram-se na Tabela III.6.
Tabela III.6: Valores dos resistores para calibração.
Resistor R (kΩ)
Rb0
0,75
Rb1
1,5
Rb2
3,0
Rb3
5,1
R2b
132,6
III.6.2 - C HAVES ANALÓGICAS
Foram empregados transistores NMOS como chaves. Quando elas se encontram em
curto-circuito suas resistências não são nulas como idealmente se gostaria, e efeitos ainda
piores correspondem às suas não-linearidades e coeficientes com a temperatura, capazes
de prejudicar o desempenho do circuito. Por isto, ao invés de utilizar dimensões mínimas
para estas chaves, como usualmente é feito, procurou-se reduzir a resistência destes dispositivos quando cada um deles estivesse em curto-circuito, para que seu efeito no valor
da tensão de referência fosse desprezível ( σ f inal ) e seu efeito no TC da mesma seja de
no máximo 1ppm/◦C em relação ao que seria um curto-circuito ideal. Esta análise foi
realizada com o auxílio do simulador, fixando o comprimento de canal L no valor minimo
e variando a largura do canal W de forma a obter a largura ideal. Os resultados de W
obtidos para as diferentes chaves foram muito próximos e por isto se optou por utilizar o
mesmo valor para todas.
Tabela III.7: Dimensões das chaves NMOS.
Transistor
W (µm) L (µm)
M15, M16, M17, M18
60,9
0,35
As dimensões finais para os dispositivos do circuito de bandgap com calibração encontramse na Tabela III.8.
C APÍTULO III
P ROJETO DO C IRCUITO DE R EFERÊNCIA DE BANDGAP
42
Tabela III.8: Tabelas contendo as dimensões finais dos componentes para o circuito bandgap com calibração. (a) Dimensões dos transistores MOS. (b) Dimensões dos resistores.
Transistor
M1, M2
M3, M4, M5
M6
M7
M8, M9
M10, M11, M12
M13
M14
M15, M16, M17, M18
W (µm)
104
5,2
3,75
7,5
187
0,8
0,4
0,4
60,9
L (µm)
52
52
5
5
17
0,35
0,35
11
0,35
(a)
Resistor
R1
R2b
R3
Rb0
Rb1
Rb2
Rb3
W (µm) L (µm)
5,4
88,4
5,4
574,6
5,4
596,7
5,4
5,4
5,4
13
5,4
22,1
R (kΩ)
20,4
132,6
137,7
0,75
1,5
3,0
5,1
(b)
Na Tabela III.8 as larguras L dos resistores Rb0 e Rb1 não são informadas, pois eles
são formados a partir de resistores Rb2 em paralelo.
C APÍTULO IV
L AYOUT
IV.1 - I NTRODUÇÃO
Na fase de layout é realizado o desenho das máscaras do circuito que serão utilizadas
durante o processo de fabricação. Esta fase é importante, pois nela pode-se reduzir os
efeitos dos erros sistemáticos, discutidos no Capítulo III, através da utilização de técnicas
como centroide comum, cross-quad e uso de elementos dummy [17].
Nas seções seguintes são apresentadas a realização dos circuitos com e sem calibração
e a confecção de cada parte do circuito, aplicando as técnicas mencionadas anteriormente.
IV.2 - L AYOUT DO C IRCUITO SEM
C ALIBRAÇÃO
O layout completo do circuito sem calibração pode ser visto na Fig. IV.1, onde é especificado o que cada parte representa. Os blocos S T e N apresentados são, respectivamente,
o circuito start-up e os transistores NMOS M6 e M7, constituintes do espelho de corrente
de polarização do OTA.
Devido à necessidade dos espelhos de corrente PMOS estarem casados, inclusive as
cargas ativas M4 e M5 pertencentes ao OTA, todos eles foram organizados em um único
bloco. Desta forma, o OTA não encontra-se todo em uma área específica, mas dividido
pelo CI (Circuito Integrado), como se pode notar na Fig. IV.1.
Nas próximas seções encontram-se mais detalhes a respeito da realização de cada
bloco.
A área final para este circuito sem calibração foi de aproximadamente 0, 0953 mm2 ,
C APÍTULO IV
L AYOUT
44
tendo 330, 65 µm de comprimento e 288, 30 µm de largura.
ST
N
TRANSISTORES
BIPOLARES
ESPELHOS
DE
CORRENTE
PMOS
RESISTORES
PAR
DIFERENCIAL
Figura IV.1: Layout do circuito sem calibração.
IV.2.1 - T RANSITORES B IPOLARES
Para reduzir os efeitos de gradiente de processo, os transistores bipolares foram organizados em centroide comum, onde o transistor Q1 está localizado no centro e os outros
n transistores encontram-se ao seu redor. O esquema empregado pode ser visto na Fig.
IV.2 (a), enquanto sua implementação pode ser vista na Fig. IV.2 (b).
Q2
Q3
Q4
Q5
Q6
Q7
Q8
Q9
Q10
Q11
Q12
Q13
Q1
Q14
Q15
Q16
Q17
Q18
Q19
Q20
Q21
Q22
Q23
Q24
Q25
(a)
(b)
Figura IV.2: Layout dos transistores bipolares Q1 e Q2 · · · Qn+1 . (a) Esquema. (b) Implementação.
C APÍTULO IV
L AYOUT
45
IV.2.2 - R ESISTORES
Os resistores R1 , R2 e R3 devem estar bem casados, para isto, os três foram divididos
em função de um resistor unitário R = 5, 1 kΩ, onde R2 = R3 = 27R e R1 = 4R. Desta
forma, as técnicas de interdigitação e centróide comum puderam ser utilizadas para reduzir os efeitos negativos dos gradientes de processo. Infelizmente, devido ao número ímpar
de resistores unitários de R2 e R3 , o layout não obteve a simetria perfeita. O resultado é
apresentado na Fig. IV.3 (a).
Outro ponto chave refere-se às bordas de cada resistor. Para que dois dispositivos
estejam bem casados, eles devem enxergar as mesmas fronteiras de forma a uniformizar o etching de suas bordas durante a fabricação, assim, aos resistores das extremidades
superior, inferior e das laterais devem ser anexados resistores dummies, que possuem a
finalidade de proporcionar que os resistores mais externos enxerguem as mesmas bordas
que os mais internos. Desta forma, anexou-se ao redor dos resistores R1 , R2 e R3 dispositivos dummies, como se pode observar na Fig. IV.3 (a), onde estes são referenciados como
D.
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
R3
R2
R3
R3
R2
R3
D
D
D
R2
R2
R3
R2
R20
R3
R2
R2
D
D
R3
R2
R1
R3
R3
R1
R2
R3
D
D
R2
R3
R3
R2
R2
R3
R3
R2
D
D
R2
R3
R3
R2
R2
R3
R3
R2
D
D
D
R2
R1
R3
R3
R1
R2
R3
D
D
R2
R2
R3
R2
R2
R3
R2
D
D
D
D
R3
R2
R3
R3
R2
R3
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
(a)
(b)
Figura IV.3: Layout dos Resistores R1 , R2 e R3 . (a) Esquema. (b) Implementação.
C APÍTULO IV
L AYOUT
46
IV.2.3 - PAR D IFERENCIAL
Assim como para os resistores, no layout do par diferencial do OTA foram empregadas
as técnicas de interdigitação e centróide comum para minimizar os efeitos dos gradientes
de processo. Para isto, cada transistor do par foi dividido em 10 transistores de largura de
canal 18, 7 µm, implementados por 5 transistores divididos em 4 gates, como se pode ver
na Fig. IV.4 (a). Não foram empregados dispositivos dummies, devido à grande área ocupada por cada transistor do par. O esquema utilizado para o layout e sua implementação
encontram-se, respectivamente, nas Figs. IV.4 (a) e IV.4 (b).
M8
M9
M9
M8
M9
M8
M8
M9
M8
M9
M9
M8
M9
M8
M8
M9
M8
M9
M9
M8
(a)
(b)
Figura IV.4: Layout do par diferencial composto pelos transistores M8 e M9. (a) Esquema. (b) Implementação.
IV.2.4 - E SPELHOS DE C ORRENTE PMOS
Como mencionado anteriormente, os transistores M1 e M2, pertencentes ao espelho
de corrente principal do circuito de bandgap, o transistor M3 da polarização do OTA e os
transistores M4 e M5 pertencentes à carga ativa do OTA devem estar bem casados. Desta
forma, eles foram divididos em transistores unitários com 2, 6 µm de largura de canal e
52 µm de comprimento de canal, o que possibilitou aplicar as técnicas de interdigitação e
centroide comum, como se pode observar no esquema da Fig. IV.5 (a).
Os transistores M3, M4 e M5, por terem um menor número de transistores unitários
e pela necessidade de estarem bem casados entre si, foram posicionados no centro do
esquema, onde para os transistores M4 e M5 foi empregada a técnica de cross-quad.
C APÍTULO IV
L AYOUT
47
Para que todos os transistores enxergassem as mesmas fronteiras foram empregados
transistores dummies na parte superior e inferior do esquema, indicados por D na Fig.
IV.5 (a). Além disto, entre todos os transistores foram desenhadas linhas de VDD para
polarização do substrato, pois a distância entre o primeiro e último transistor supera a
distância máxima recomendada para evitar o latch-up [17].
D
D
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M4
M5
M3
M3
M5
M4
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
M2
M2
M1
M1
D
D
(a)
(b)
Figura IV.5: Layout dos transistores dos espelhos de corrente PMOS M1, M2, M3, M4 e
M5. (a) Esquema. (b) Implementação.
C APÍTULO IV
L AYOUT
48
IV.2.5 - E SPELHO DE C ORRENTE NMOS
Ao espelho de corrente NMOS, constituído pelos transistores M6 e M7 que polarizam
o OTA, foi empregada a técnica de interdigitação. Para que isto fosse possível, o transistor
M7 foi dividido em dois transistores contendo a mesma largura de canal do transistor M6.
O esquema de como o layout foi realizado pode ser observado na Fig. IV.6 (a), enquanto
sua implementação pode ser vista na Fig. IV.6 (b).
M7
M6
M7
(a)
(b)
Figura IV.6: Layout dos transistores M6 e M7, responsáveis pela polarização do OTA. (a)
Esquema. (b) Implementação.
IV.2.6 - S TART- UP
Para os transistores M10, M11, M12, M13 e M14, pertencentes ao circuito de start-up,
não houve nenhum cuidado específico, uma vez que não é um circuito que exige que seus
componentes estejam casados. A única observação a ser feita é que os transistores M10,
M11 e M12 foram implementados como três transistores em série.
O esquema do layout deste circuito, juntamente com sua implementação, pode ser
visto na Fig. IV.7.
M14
M10 M11 M12
(a)
M13
(b)
Figura IV.7: Layout dos transistores M10, M11, M12, M13 e M14, pertencentes ao circuito de start-up. (a) Esquema. (b) Implementação.
C APÍTULO IV
L AYOUT
49
IV.3 - L AYOUT DO C IRCUITO COM
C ALIBRAÇÃO
O layout do circuito com calibração completo pode ser visto na Fig. IV.8, onde a
única diferença em relação ao layout do circuito sem calibração está no emprego das
chaves analógicas e dos resistores referentes à calibração. Outro ponto a ser mencionado
é que um dos resistores do bloco de resistores, referenciado como C na figura, passa a
fazer parte do circuito de calibração, tendo uma das chaves ligada a ele.
O layout dos resistores de calibração e as chaves empregadas encontram-se nas seções
a seguir.
O circuito final com calibração ocupa uma área em silício de aproximadamente 0, 097 mm2 ,
tendo 330, 65 µm de comprimento e 293, 3 µm de largura.
CHAVES
ST
N CALIBRAÇÃO
ESPELHOS
DE
CORRENTE
PMOS
C
TRANSISTORES
BIPOLARES
RESISTORES
PAR
DIFERENCIAL
Figura IV.8: Layout do circuito com calibração
IV.3.1 - R ESISTORES DE C ALIBRAÇÃO
Os resistores de calibração foram divididos em resistores unitários de mesmo valor
que Rb2 . Assim, Rb1 é composto por dois resistores unitários em paralelo, enquanto Rb0 é
composto por quatro.
Foi utilizada a técnica de interdigitação e centroide comum, como se pode observar
na Fig. IV.9 (a), assim como empregaram-se também resistores dummies ao redor da rede
resistiva. A implementação do esquema do layout pode ser vista na Fig. IV.9 (b).
C APÍTULO IV
D
D
D Rb0
D
D
D
L AYOUT
D
D
Rb1 Rb0
Rb2
D
D
D
D
D
Rb0 Rb1
D
D
D
50
D
Rb0 D
D
D
(a)
(b)
Figura IV.9: Layout dos resistores Rb0 , Rb1 e Rb2 , pertencentes ao esquema de calibração.
(a) Esquema. (b) Implementação.
IV.3.2 - C HAVES
Cada chave analógica empregada, M15, M16, M17 e M18, foi implementada por
21 transistores empilhados. O esquema de layout e sua implementação encontram-se,
respectivamente, nas Figs. IV.10 (a) e IV.10 (b).
M15
M18
M16
M17
(a)
(b)
Figura IV.10: Layout das chaves analógicas M15, M16, M17 e M18. (a) Esquema. (b)
Implementação.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
V.1 - R ESULTADOS A S EREM A PRESENTADOS
Os resultados apresentados neste capítulo foram divididos em quatro partes:
1. Características do OTA empregado;
2. Circuito preliminar;
3. Circuito sem calibração;
4. Circuito com calibração.
A Seção V.2 mostra os resultados para o OTA empregado nos circuitos sem calibração
e com calibração e para o OTA preliminar, obtido antes da etapa de otimização da área
utilizada pelo circuito. Devido ao fato deste bloco não possuir um layout isolado no circuito de bandgap, não foram realizadas simulações de circuito extraído do layout. Foram
apenas feitas simulações através do circuito esquemático.
A Seção V.3 expõe os resultados do circuito preliminar sem calibração, obtido antes
de definir a área efetiva dos dispositivos para garantir a precisão especificada, de forma
a verificar a real necessidade do emprego de um procedimento de otimização. São apresentados os resultados das simulações do circuito esquemático preliminar, empregando as
dimensões dos dispositivos encontradas na Tabela III.4.
Na Seção V.4 são apresentados os resultados do cicuito final sem calibração. Assim,
são comparados os resultados dos circuitos esquemático e extraído, podendo-se observar
o efeito dos componentes parasitas oriundos da etapa de layout.
Na Seção V.5 encontram-se os resultados obtidos com o circuito com calibração, onde
também são comparados resultados do esquemático e do circuito extraído, verificando seu
funcionamento.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
52
V.2 - A MPLIFICADOR O PERACIONAL DE
T RANSCONDUTÂNCIA (OTA)
Esta seção apresenta a resposta em frequência e principais características obtidas para
os OTAs do circuito preliminar e dos circuitos sem e com calibração, nas condições sem
carga na saída e com carga efetiva, que é aquela inserida pelo circuito de bandgap.
Para acessar a resposta em frequência, o ganho, a margem de fase e o produto ganhobanda, foram empregados os circuitos da Fig. V.1, onde VMC é a tensão de modo comum,
fixada em 650 mV , ou seja, em torno da tensão sobre o transistor bipolar Q1 .
VDD
M1
VDD
VDD
M1
M2
IE
IE
VDD
M2
IE
Balun
IE
Balun
VDD
VDD
Vd
Vd
MP
VMC
MP
VMC
IE
(a)
IE
(b)
Figura V.1: Circuitos empregados para obtenção da resposta em frequência e outras características. (a) Caso sem carga. (b) Caso com carga.
Na Fig. V.1 o pino extra corresponde à polarização do circuito e o bloco conectado
à saída do amplificador na Fig. V.1 (b) é equivalente à carga inserida pelo circuito de
bandgap. Também foi obtida a tensão de offset de entrada e seu desvio padrão. O esquema
utilizado para encontrá-los nas condições sem carga e com carga encontram-se na Fig.
V.2, onde a polarização foi omitida do desenho. Empregando estes dois circuitos, foram
obtidos os resultados apresentados nas Seções V.2.1 e V.2.2.
V.2.1 - C IRCUITO P RELIMINAR
O OTA empregado no circuito preliminar, sua polarização e sua carga possuem as
dimensões de transistores encontradas na Tabela III.4. Sua resposta em frequência pode
ser vista na Fig. V.3, onde a linha contínua refere-se ao caso sem carga e a linha tracejada
ao caso do circuito com carga na saída.
É possível notar pelo diagrama de ganho, que o polo dominante do circuito sofre um
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
53
VDD
VDD
M1
M2
IE
VMC
IE
VMC
(a)
(b)
Figura V.2: Circuitos empregados para obtenção da tensão de offset de entrada. (a) Caso
sem carga. (b) Caso com carga.
Ganho (dB)
100
Sem Carga
Com Carga
50
0
−50
−100 1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
0
Sem Carga
Com Carga
Fase (graus)
−20
−40
−60
−80
−100
−120 1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
Frequência (Hz)
Figura V.3: Resposta em frequência do OTA do circuito preliminar.
deslocamento para baixas frequências, modificando também o diagrama de fase. Esta
modificação se deve ao fato da carga capacitiva dos transistores M1 e M2 somarem-se
à impedância capacitiva de saída do amplificador, responsável pelo polo dominante do
sistema.
Na Tabela V.1 encontram-se as demais características do circuito, onde apenas o produto ganho-banda sofre grandes modificações devido ao deslocamento do polo. Os parâmetros ganho DC, vo f f set e 3σ (vo f f set ) por serem características DC não são afetados
por cargas capacitivas, desta forma, permanecem inalterados. É importante notar que o
offset de entrada e o valor de 3σvo f f set são muito elevados. No entanto, apenas o efeito
de seu desvio padrão será de grande prejuízo para o circuito de bandgap, uma vez que
este é proveniente dos descasamentos ocorridos no amplificador e o offset sistemático será
bastante reduzido pela realimentação. Isso ocorre devido à polarização e ao ganho DC do
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
54
OTA, cuja polarização foi otimizada para o emprego no circuito de bandgap através da
relação imposta entre os transistores do espelho de corrente formado por M1 e M2 e, os
transistores da carga ativa M3 e M4.
Tabela V.1: Tabela contendo as principais características do OTA empregado no circuito
preliminar.
Parâmetros
Sem Carga Com Carga
Ganho DC
53, 18 dB
53, 18 dB
Ganho-Banda
45, 48 MHz
149 kHz
◦
Margem de Fase
81, 83
86, 46◦
vo f f set
3, 65 mV
3, 65 mV
3σ (vo f f set )
9, 42 mV
9, 42 mV
V.2.2 - C IRCUITO O BTIDO A PÓS O
D IMENSIONAMENTO DAS Á REAS DOS
D ISPOSITIVOS
Nesta seção são apresentados os resultados para o OTA utilizado nos circuitos sem e
com calibração, cujas dimensões foram obtidas após a otimização da área a ser empregada
no circuito de bandgap. As dimensões empregadas podem ser consultadas na Tabela III.5.
A resposta em frequência deste OTA encontra-se na Fig. V.4, onde as curvas tracejadas
referem-se à condição com carga na saída e as de linha contínua à condição sem carga na
saída do OTA.
Assim como para o OTA do circuito preliminar, o polo dominante na condição sem
carga sofre um deslocamento para baixas frequências na condição com carga, pelos mesmos motivos já apresentados. A diferença reside nas frequências destes polos, que são
mais baixas devido às maiores dimensões dos transistores e, consequentemente, maiores capacitâncias. As demais características do OTA encontram-se na Tabela V.2, onde
é possível observar que a maior diferença entre o OTA com carga e sem carga ocorre no
valor do produto ganho-banda, de forma semelhante ao ocorrido para o OTA do circuito
preliminar.
Em comparação ao OTA do circuito preliminar, o ganho deste mostrou-se mais elevado, devido ao maior comprimento de canal dos transistores da carga ativa. A tensão
de offset de entrada foi reduzida devido tanto ao aumento de ganho, quanto à elevação
do comprimento de canal dos transistores, que reduz o efeito de modulação do canal. O
desvio padrão do offset também foi drasticamente reduzido, como já esperado, devido ao
aumento da área de seus dispositivos, e consequêntemente à redução do descasamento.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
55
Ganho (dB)
100
Sem Carga
Com Carga
50
0
−50
−100 1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
Fase (graus)
0
Sem Carga
Com Carga
−50
−100
−150
−200 1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
Frequência (Hz)
Figura V.4: Resposta em frequência do OTA obtido após otimização das áreas dos componentes.
Por último, o produto ganho-banda é bem menor, o que pode ser explicado pela maior
carga capacitiva e efeito capacitivo dos transistores do OTA, se comparado ao OTA do
circuito preliminar.
Tabela V.2: Tabela contendo as principais características do OTA empregado nos circuitos
sem e com calibração.
Parâmetros
Sem Carga Com Carga
Ganho DC
64, 9 dB
64, 9 dB
Ganho-Banda
9, 324MHz 23, 45 kHz
Margem de Fase
79, 1◦
86, 15◦
vo f f set
0, 808mV
0, 807 mV
3σ (vo f f set )
0, 843 mV
0, 843 mV
V.3 - C IRCUITO P RELIMINAR
Esta seção apresenta os resultados referentes ao circuito preliminar, cujas dimensões
dos dispositivos encontram-se na Tabela III.4. Estes resultados mostram o funcionamento
efetivo do circuito e sua grande imprecisão intrínseca.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
56
V.3.1 - C OMPORTAMENTO EM RELAÇÃO À
T EMPERATURA
A primeira simulação realizada foi para obter o comportamento da tensão de referência em função da temperatura. Isto é facilmente realizado através de uma varredura DC
da temperatura. O resultado pode ser visto na Fig. V.5 (a), onde a curva contínua referese à simulação e a tracejada ao cálculo teórico, utilizando as expressões apresentadas no
Capítulo III.
A Fig. V.5 (b) apresenta o erro entre a curva do circuito preliminar e a calculada, e
revela o bom modelamento realizado pelas equações dos transistores bipolares mostradas
no Capítulo III quando comparadas aos resultados do simulador. A maior diferença ocorre
em altas temperaturas com um erro máximo de 0, 19 mV . Da Fig. V.5 (a) é possível extrair
o valor da tensão de referência na temperatura de 27◦C, a temperatura em que a derivada
da referência em relação à temperatura é zero (T0 ) e o coeficiente de temperatura (TC),
dado pela Eq. (II.24). Os resultados são apresentados na Tabela V.3.
1,2160
0,20
Vpreliminar− VCalculado (mV)
Tensão de Referência (V)
1,2150
1,2140
1,2130
1,2120
0,15
0,10
0,05
1,2110
Calculado
Simulado
1,2100
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
Temperatura (ºC)
(a)
80
95
110
125
0
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
80
95
110
125
Temperatura (ºC)
(b)
Figura V.5: Comportamento do circuito preliminar em função da temperatura. (a) Tensão
de referência em função da temperatura. (b) Erro entre o valor da tensão de referência do
circuito esquemático e a tensão calculada.
Tabela V.3: Tabela com algumas características do circuito de tensão de referência preliminar.
Parâmetros
Calculado Simulado
◦
Vre f @27 C (V ) 1, 215041 1, 215060
T0 (◦C)
40, 70
41, 76
TC (ppm/◦C)
24, 67
24, 46
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
57
V.3.2 - R EGIME T RANSITÓRIO
Foram realizadas simulações em regime transitório, visando verificar o comportamento da referência de tensão ao iniciar-se o circuito. O método de teste consistiu em
utilizar a tensão de alimentação como um degrau de tensão com a opção do simulador
que suaviza a curva. A simulação foi realizada sem utilizar o circuito de start-up, cujo
resultado encontra-se na Fig. V.6 (a), verificando que o circuito permanece no estado inicial, como discutido no Capítulo II. Posteriormente, realizou-se o teste com o circuito de
start-up, cujo resultado foi o esperado, ou seja, o circuito vai para o estado ligado sem
apresentar um grande overshoot, como pode ser visto na Fig. V.6 (b).
1,25
1,00
Tensão de Referência (V)
Tensão de Referência (mV)
40
30
20
10
0,75
0,50
0,25
0
0
30
60
90
120
150
180
210
240
Tempo (µs)
(a)
270
300
0
0
25
50
75
100 125 150 175 200 225 250 275 300
Tempo (µs)
(b)
Figura V.6: Análise da tensão de referência no circuito preliminar em função do tempo.
(a) Circuito de start-up não empregado. (b) Circuito de start-up empregado.
V.3.3 - C OMPORTAMENTO EM FUNÇÃO DA T ENSÃO DE
A LIMENTAÇÃO
A simulação seguinte visa verificar a sensibilidade da referência de tensão em relação
à sua tensão de alimentação, como indicado na Fig. V.7. Foi realizada uma simulação em
regime transitório paramétrica, variando a tensão de alimentação do circuito. A tensão de
referência foi avaliada em t = 1, 5 ms, onde o circuito já estaria ligado, e o resultado é
apresentado na Fig. V.7.
Na Fig. V.7 é possível notar a grande rejeição em relação à tensão de alimentação
alcançada pelo circuito. É interessante observar também que a alimentação nominal do
circuito é de 3, 3 V . No entanto, para uma tensão em torno de 1, 4V o circuito já é capaz
de fornecer uma tensão de referência próxima ao valor nominal.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
58
1,25
Tensão de Referência (V)
1,00
0,75
0,50
0,25
0
1.2
1.5
1.8
2.1
2.4
V
DD
2.7
3
3.3
3.6
(V)
Figura V.7: Tensão de referência produzida pelo circuito preliminar em função da tensão
de alimentação.
V.3.4 - TAXA DE R EJEIÇÃO DA F ONTE DE
A LIMENTAÇÃO (PSRR)
Para avaliar o PSRR, foi empregada uma varredura AC da fonte de tensão de alimentação e plotada a curva dada pela Eq. (II.27), cujo resultado pode ser visto na Fig. V.8.
Deste gráfico também pode ser estimado o PSRR DC, apresentado na Tabela V.4 juntamente com os resultados obtidos por simulações de Monte Carlo com 500 iterações.
Adicionalmente, foi avaliado o PSRR em 60 Hz e 120 Hz, pois ao utilizar-se uma fonte
de alimentação ligada à rede elétrica brasileira uma destas frequências será a que mais
contaminará o circuito de bandgap, dependendo da retificação empregada na fonte de
alimentação.
120
100
PSRR (dB)
80
60
40
20
0 0
10
1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
9
10
Frequência (Hz)
Figura V.8: Taxa de rejeição da fonte de alimentação (PSRR) para o circuito preliminar.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
59
Tabela V.4: PSRR do circuito preliminar.
Monte Carlo
Parâmetro
Nominal
Média
3σ
PSRR DC (dB)
100, 2
98, 32 28, 56
PSRR@60 Hz (dB)
99, 35
96, 32 18, 62
PSRR@120 Hz (dB)
97, 52
94, 56 13, 86
V.3.5 - S IMULAÇÃO DE M ONTE C ARLO
Para verificar a robustez do valor da tensão de referência fornecida pelo circuito, através da medida de sua imprecisão, foram realizadas 500 iterações da simulação de Monte
Carlo, que resultaram nas distribuições estatísticas da tensão de referência e de seu coeficiente de temperatura, como se pode observar nos histogramas da Fig. V.9. Os resultados
para a média e o valor de 3σ destes parâmetros podem ser visualizados na Tabela V.5.
Histograma
120
50
45
100
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
40
35
30
25
20
15
10
80
60
40
20
5
0
1.14
1.16
1.18
1.2
1.22
1.24
Tensão de Referência (V)
(a)
1.26
1.28
1.3
0
20
25
30
35
40
45
Coeficiente de Temperatura (ppm/ ° C)
(b)
Figura V.9: Análise de Monte Carlo para o circuito preliminar. (a) Histograma do valor da tensão de referência na temperatura de 27◦C. (b) Histograma do coeficiente de
temperatura.
Tabela V.5: Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito preliminar.
Parâmetros
Média
3σ
Porcentagem
◦
Vre f @27 C
1, 21519V 72, 52 mV
5, 97%
◦
TC (ppm/ C)
29
12, 71
43, 82%
Observando a Tabela V.5, pode-se notar que o circuito preliminar possui uma imprecisão em torno de 6%, aproximadamente seis vezes maior que a requerida pelo projeto.
Comparando as Tabelas III.4 notamos que os resistores empregados no circuito preliminar
possuem cerca de quatro vezes a área daqueles empregados no circuito do projeto final.
Isto mostra que os resistores não são os elementos que mais contribuem para o erro, e que
se as dimensões forem escolhidas aleatoriamente, como no caso destas escolhidas para os
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
60
resistores, será grande a probabilidade de desperdício de área em silício, o que indica a
necessidade de uma forma de otimização para escolha das áreas dos dispositivos.
V.4 - C IRCUITO SEM CALIBRAÇÃO
Serão apresentados nesta seção os resultados obtidos através de simulações do circuito
esquemático e extraído do circuito projetado sem calibração (bandgap 1), cujas dimensões
dos componentes encontram-se na Tabela III.5.
V.4.1 - C OMPORTAMENTO EM RELAÇÃO À
T EMPERATURA
As curvas de tensão de referência em função da temperatura para o circuito esquemático e o circuito extraído do layout são mostradas na Fig. V.10 (a), juntamente com a curva
fornecida pelos cálculos realizados a partir das expressões desenvolvidas no Capítulo III
para os transistores bipolares. A Fig. V.10 (b) indica que a diferença entre o resultado da
simulação do circuito esquemático e o do modelo utilizado para os cálculos, aumenta com
a temperatura, com um valor máximo de aproximadamente 0, 35 mV . Na Fig. V.10 (c) é
mostrada a diferença entre a tensão de referência obtida do circuito extraído e a fornecida
pela simulação do circuito esquemático. A diferença, da ordem de µV , bem pequena é
atribuída a componentes parasitas modelados no circuito extraído.
1,2160
Tensão de Referência (V)
1,2150
1,2140
1,2130
1,2120
1,2110
1,2100
−40
Calculado
Esquemático
Extraído
−25
−10
5
20
35
50
65
Temperatura (ºC)
(a)
80
95
110
125
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
50
VExtraído − VEsquemático ( µV)
VEsquemático − VCalculado (mV)
0,4
0,3
0,2
0,1
0
−40
61
−25
−10
5
20
35
50
65
80
95
110
125
Temperatura (ºC)
(b)
30
10
−10
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
80
95
110
125
Temperatura (ºC)
(c)
Figura V.10: Comportamento do circuito sem calibração em função da temperatura. (a)
Tensão de referência em função da temperatura. (b) Diferença entre o valor da tensão de
referência do circuito esquemático e a tensão calculada. (c) Diferença entre o valor da
tensão de referência do circuito esquemático e a tensão de referência do circuito extraído.
Das curvas apresentadas na Fig. V.10 (a) podem ser obtidas as informações de valor
nominal da tensão de referência (Vre f ), temperatura central (T0 ) e coeficiente de temperatura (TC). Os valores desses parâmetros encontram-se na Tabela V.6.
Tabela V.6: Tabela com algumas características do circuito sem calibração.
Parâmetros
Calculado Esquemático Extraído
◦
Vre f @27 C (V ) 1, 215041
1, 215082
1, 215085
◦
T0 ( C)
40, 70
42, 05
42, 13
◦
TC (ppm/ C)
24, 67
24, 52
24, 61
Comparando as Tabelas V.3 e V.6 nota-se que a tensão de referência no circuito sem
calibração afasta-se mais do valor calculado do que a tensão de referência no circuito preliminar, que não possui otimização de área. Isto se deve ao fato do offset sistemático ser
negativo, assim, com a redução de seu módulo há um aumento na tensão de referência.
Também é importante lembrar que os valores calculados foram obtidos de modelos aproximados com base em simulações, que não são tão acurados quanto as mesmas, o que
faz aparentar que o efeito do offset é maior no circuito sem calibração do que no circuito
preliminar.
V.4.2 - R EGIME T RANSITÓRIO
O comportamento da tensão de referência em função do tempo, quando a fonte de
alimentação é ligada, foi examinado utilizando o método empregado para o circuito preliminar na Seção V.3.2.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
62
Primeiro foi avaliado o circuito sem a utilização do módulo de start-up. O resultado
obtido para o circuito esquemático é apresentado na Fig. V.11 (a). Pode-se observar que o
circuito permanece em um estado desligado, comprovando a necessidade de um circuito
de start-up. O resultado para o circuito extraído não é mostrado, devido à dificuldade de
retirar o circuito de start-up do layout.
Na Fig. V.11 (b) é apresentado o comportamento da tensão de referência em função do
tempo, para os circuitos esquemático e extraído, quando utilizado o circuito de start-up.
É possível observar que ambas convergem para o valor desejado. As diferenças entre as
duas curvas são causadas pelos componentes parasitas do circuito extraído.
1,25
1,00
Tensão de Referência (V)
Tensão de Referência (mV)
80
60
40
20
0,75
0,50
0,25
Esquemático
Extraído
0
0
30
60
90
120
150
180
Tempo ( µs)
210
240
270
(a)
300
0
0
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
Tempo (µs)
(b)
Figura V.11: Análise da tensão de referência em função do tempo no circuito sem calibração. (a) Sem circuito de start-up. (b) Com circuito de start-up.
V.4.3 - C OMPORTAMENTO EM FUNÇÃO DA T ENSÃO DE
A LIMENTAÇÃO
Empregando o método descrito na Seção V.3.3, a curva da tensão de referência em
função da tensão de alimentação utilizada no circuito pode ser avaliada. O resultado é
mostrado na Fig. V.12 para os circuitos esquemático e extraído, onde é possível observar
para ambos a elevada rejeição às variações da tensão de alimentação empregada, assim
como a capacidade do circuito fornecer a tensão de referência nominal para uma alimentação tão baixa quanto VDD = 1, 5 V .
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
63
Tensão de Referência (V)
1,25
1,20
1,15
1,10
Esquemático
Extraído
1,05
1.2
1.5
1.8
2.1
2.4
2.7
3
3.3
3.6
VDD (V)
Figura V.12: Tensão de referência em função da tensão de alimentação no cicuito sem
calibração.
V.4.4 - TAXA DE R EJEIÇÃO DA F ONTE DE
A LIMENTAÇÃO (PSRR)
O gráfico da taxa de rejeição da fonte de alimentação em função da frequência é
obtido realizando uma varredura AC da fonte de alimentação e avaliando a Eq. (II.27).
Os resultados encontrados para os circuitos esquemático e extraído encontram-se na Fig.
V.13, onde as diferenças nas curvas são atribuídas à presença de dispositivos parasitas
presentes no circuito extraído.
120
Esquemático
Extraído
100
PSRR (dB)
80
60
40
20
0 0
10
1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
9
10
Frequência (Hz)
Figura V.13: Taxa de rejeição da fonte de alimentação (PSRR) para o circuito sem calibração.
Da Fig. V.13 também podem ser avaliados os valores de PSRR em DC, 60 Hz e 120
Hz para os circuitos esquemático e extraído sem calibração, apresentados na Tabela V.7
juntamente com resultados obtidos por simulação de Monte Carlo com 500 iterações.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
64
Tabela V.7: PSRR do circuito sem calibracão.
Monte Carlo
Circuito
Parâmetro
Nominal
Média
3σ
Esquemático
111
100, 01 29, 43
PSRR DC (dB)
Extraído
111, 1
100, 57 29, 46
Esquemático
95, 24
92, 58
9, 12
PSRR@60Hz (dB)
Extraído
106
98, 22 18, 62
Esquemático
89, 3
88, 26
5, 08
PSRR@120Hz (dB)
Extraído
101, 1
96, 26 14, 27
V.4.5 - S IMULAÇÃO DE M ONTE C ARLO
60
60
50
50
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
Assim como para o circuito preliminar, foram realizadas 500 iterações da simulação
de Monte Carlo com o objetivo de medir a distribuição estatística da tensão de referência
fornecida pelo circuito e do seu coeficiente de temperatura. Seus histogramas podem ser
vistos nas Figs. V.14 e V.15 para os circuitos esquemático e extraído, respectivamente.
Os valores médios e de 3σ avaliados são apresentados na Tabela V.8, onde observa-se
que os resultados para os circuitos esquemático e extraído são basicamente os mesmos.
Estes valores também permitem notar a melhoria significativa da precisão da tensão de
referência em relação ao valor obtido para o circuito preliminar, apresentado na Tabela
V.5. Além disto, o resultado obtido é bem próximo do erro de 1% especificado, o que
comprova a eficácia do método de projeto proposto, que utiliza as equações de Pelgrom e
o procedimento de otimização da área total do circuito.
40
30
20
10
0
1.2
40
30
20
10
1.205
1.21
1.215
1.22
Tensão de Referência (V)
(a)
1.225
1.23
0
1.2
1.205
1.21
1.215
1.22
1.225
1.23
Tensão de Referência (V)
(b)
Figura V.14: Histogramas da tensão de referência a 27◦C obtidos por simulação de Monte
Carlo com 500 iterações para o circuito sem calibração. (a) Circuito esquemático. (b)
Circuito extraído.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
140
120
120
100
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
65
100
80
60
40
80
60
40
20
20
0
20
25
30
35
40
20
25
30
Coeficiente de Temperatura [ppm/ ° C]
(a)
35
0
20
25
30
35
40
45
Coeficiente de Temperatura [ppm/ ° C]
(b)
Figura V.15: Histogramas do coeficiente de temperatura obtidos por simulação de Monte
Carlo com 500 iterações para o circuito sem calibração. (a) Circuito esquemático. (b)
Circuito extraído.
Tabela V.8: Simulações de Monte Carlo para o circuito sem calibração.
Circuito
Parâmetros
Média
3σ
Porcentagem
◦
Vre f @27 C
1, 21515 V 12, 49 mV
1, 03%
Esquemático
◦
TC (ppm/ C)
28, 02
9, 44
33, 67%
◦
Vre f @27 C
1, 21520 V 12, 50 mV
1, 03%
Extraído
TC (ppm/◦C)
28, 06
9, 76
34, 80%
V.5 - C IRCUITO COM CALIBRAÇÃO
Nesta seção são apresentados os resultados obtidos para o circuito com calibração
(bandgap 2). As primeiras simulações mostradas utilizam a combinação binária das chaves 0111, onde os resistores Rb0 , Rb1 e Rb2 , mostrados na Fig. III.9, encontram-se em
curto circuito devido à utilização das chaves. Assim, esta é a combinação binária equivalente ao circuito sem calibração e as simulações fornecidas apresentarão o efeito causado
pelas chaves no circuito.
As simulações restantes visam testar o funcionamento do mecanismo de calibração e,
para isto, serão utilizadas simulações de Monte Carlo.
V.5.1 - C OMPORTAMENTO EM RELAÇÃO À
T EMPERATURA
Para obter a curva da tensão de referência em função da temperatatura foi realizada
uma simulação de varredura DC. Os resultados obtidos para os circuitos esquemático e
extraído são apresentados na Fig. V.16 (a).
S IMULAÇÕES
1,2160
130
1,2150
110
VExtraído − VEsquemático ( µV)
Tensão de Referência (V)
C APÍTULO V
1,2140
1,2130
1,2120
1,2110
66
90
70
50
30
Esquemático
Extraído
1,2100
−40
−25
−10
5
20
35
50
65
80
95
110
125
10
−40
Temperatura (ºC)
(a)
−25
−10
5
20
35
50
65
80
95
110
125
Temperatura (ºC)
(b)
Figura V.16: Comportamento do circuito com calibração em função da temperatura. (a)
Tensão de referência em função da temperatura. (b) Diferença entre a tensão de referência
do circuito esquemático e do circuito extraído.
Na Fig. V.16 (b) é apresentada a diferença entre a tensão de referência produzida pelo
circuito extraído e pelo circuito esquemático. A diferença, bem pequena, entre os dois
casos é causada pelos componentes parasitas do circuito extraído.
Na Tabela V.9 encontram-se os parâmetros obtidos a partir das curvas da Fig. V.16 (a),
onde se pode observar diferenças muito pequenas entre os dois circuitos. No entanto,
se estes resultados forem comparados aos do circuito sem calibração da Tabela V.6 notaremos uma diferença de ≈ 0, 5 mV na tensão de referência nominal, ≈ 3◦C em T0 e
≈ 2 ppm/◦C para o coeficiente de temperatura. A causa principal dessas diferenças é a
presença das três chaves NMOS, que possuem uma resistência em curto-circuito diferente
de zero e variante com a temperatura.
Tabela V.9: Características do circuito de tensão de referência com calibração.
Parâmetros
Esquemático Extraído
◦
Vre f @27 C (V )
1, 215595
1, 215635
◦
T0 ( C)
45, 26
45, 56
TC (ppm/◦C)
26, 05
26, 23
V.5.2 - R EGIME T RANSITÓRIO
Na Fig. V.17 são mostrados os resultados das simulações transitórias. Primeiro foi
testado o circuito esquemático sem o circuito de start-up, e verificou-se a permanência
do circuito em seu estado desligado, como pode ser visto na Fig. V.17 (a). Em seguida,
foram feitas simulações para os circuitos esquemático e extraído, com o circuito de startup, e como esperado, o circuito converge para o valor desejado da tensão de referência,
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
67
como indicado na Fig. V.17 (b). Como mencionado, devido à dificuldade em simular o
comportamento do circuito extraído sem o circuito de start-up, apenas o resultado para o
circuito esquemático é apresentado.
1,25
1,00
Tensão de Referência (V)
Tensão de Referência (mV)
80
60
40
20
0,75
0,50
0,25
Esquemático
Extraído
0
0
30
60
90
120
150
180
Tempo ( µs)
210
240
270
0
0
300
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
Tempo (µs)
(a)
(b)
Figura V.17: Análise da Tensão de referência em função do tempo para o circuito com
calibração. (a) Circuito de start-up não empregado. (b) Circuito de start-up empregado.
V.5.3 - C OMPORTAMENTO EM FUNÇÃO DA T ENSÃO DE
A LIMENTAÇÃO
O método empregado para obter o gráfico da tensão de referência em função de sua
tensão de alimentação é o mesmo apresentado na Seção V.3.3, e o resultado obtido deste
procedimento para os circuitos esquemático e extraído com calibração encontra-se na Fig.
V.18.
Tensão de Referência (V)
1,25
1,20
1,15
1,10
Esquemático
Extraído
1,05
1.2
1.5
1.8
2.1
2.4
2.7
3
3.3
3.6
VDD (V)
Figura V.18: Tensão de referência em função da tensão de alimentação para o circuito
com calibração.
Na Fig. V.18 é possível notar que a tensão de alimentação mínima capaz de permitir
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
68
que o circuito forneça uma tensão muito próxima do valor nominal é aproximadamente
1, 4 V para os dois circuitos e, notadamente, ambos os circuitos possuem uma grande
rejeição às variações da tensão de alimentação, assim como os circuitos preliminar e sem
calibração.
V.5.4 - TAXA DE R EJEIÇÃO DA F ONTE DE
A LIMENTAÇÃO (PSRR)
As curvas da taxa de rejeição da fonte de alimentação para os circuitos esquemático
e extraído com calibração são apresentadas na Fig. V.19. Elas foram obtidas realizando
uma simulação de varredura AC e avaliando a Eq. (II.27).
Na Fig. V.19, a diferença entre as duas curvas é causada pela presença das capacitâncias parasitas existentes no circuito extraído. Existe ainda uma diferença entre este
resultado e o encontrado para o circuito sem calibração. No circuito sem calibração, a
taxa de rejeição tende em altas frequências para 0 dB (ver Fig. V.13), enquanto no circuito
com calibração essa taxa tende para 20 dB. Essa diferença ocorre devido à existência de
uma elevada capacitância inserida pelas chaves analógicas no ramo de saída, que produz
o efeito de deslocamento do zero para uma frequência mais baixa.
120
Esquemático
Extraído
100
PSRR (dB)
80
60
40
20
0 0
10
1
10
2
10
3
10
4
10
5
10
6
10
7
10
8
10
9
10
Frequência (Hz)
Figura V.19: Taxa de Rejeição da Fonte de Alimentação (PSRR).
A partir da Fig. V.19 é possível ainda obter os valores de PSRR em DC, 60 Hz e 120
Hz para os circuitos. Estes parâmetros podem ser vistos na Tabela V.10 juntamente com
os resultados obtidos por simulação de Monte Carlo com 500 iterações.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
69
Tabela V.10: PSRR do circuito com calibração.
Monte Carlo
Circuito
Parâmetro
Nominal
Média
3σ
Esquemático
110, 9
99, 59 29, 58
PSRR DC (dB)
Extraído
111
99, 20 27, 39
Esquemático
95, 22
92, 42 9, 13
PSRR@60Hz (dB)
Extraído
105, 9
97, 40 18, 83
Esquemático
89, 29
88, 15 5, 16
PSRR@120Hz (dB)
Extraído
101
95, 70 14, 97
V.5.5 - S IMULAÇÃO DE M ONTE C ARLO
60
60
50
50
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
Os histogramas obtidos com 500 iterações da simulação de Monte Carlo para os circuitos esquemático e extraído com calibração encontram-se nas Figs. V.20 e V.21, correspondendo, respectivamente, à distribuição estatística da tensão de referência nominal e
ao seu coeficiente de temperatura. Os resultados dos valores médios e 3σ das grandezas
avaliadas encontram-se na Tabela V.11, onde é possível observar que não existem grandes
diferenças entre os circuitos esquemático e extraído, pois ambos permanecem com uma
incerteza em torno de 1%. Os resultados estão de acordo com os apresentados na Tabela V.8, para o circuito sem calibração, onde a única mudança notável refere-se ao valor
médio da tensão de referência devido à presença das chaves analógicas.
40
30
20
10
0
1.2
40
30
20
10
1.205
1.21
1.215
1.22
Tensão de Referência (V)
(a)
1.225
1.23
0
1.2
1.205
1.21
1.215
1.22
1.225
1.23
Tensão de Referência (V)
(b)
Figura V.20: Histogramas da tensão de referência a 27◦C obtida de 500 iterações da
simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração. (a) Resultado para o circuito
do esquemático. (b) Resultado para o circuito extraído.
S IMULAÇÕES
140
140
120
120
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
C APÍTULO V
100
80
60
40
20
0
20
70
100
80
60
40
20
25
30
35
40
45
Coeficiente de Temperatura (ppm/ ° C)
(a)
0
20
25
30
35
40
45
Coeficiente de Temperatura (ppm/ ° C)
(b)
Figura V.21: Histogramas do coeficiente de temperatura obtidos de uma simulação de
Monte Carlo com 500 iterações para o circuito com calibração. (a) Resultado para o
circuito do esquemático. (b) Resultado para o circuito extraído.
Tabela V.11: Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração.
Circuito
Parâmetros
Média
3σ
Porcentagem
◦
Vre f @27 C
1, 21562 V 12, 59 mV
1, 04%
Esquemático
◦
TC (ppm/ C)
28, 60
11, 62
40, 63 %
Vre f @27◦C
1, 21582 V 12, 25 mV
1, 008%
Extraído
◦
TC (ppm/ C)
28, 43
11, 05
38, 86%
V.5.6 - T ESTE DO M ECANISMO DE C ALIBRAÇÃO
Os resultados obtidos até aqui não levam em consideração o funcionamento da rede
resistiva de calibração. Esta seção aborda o teste deste dispositivo, de forma a verificar sua efetividade em realizar a redução da imprecisão da tensão de referência para
0, 25%Vre fnominal . O teste consiste em avaliar a imprecisão do circuito de bandgap através
de simulações de Monte Carlo, e verificar se o circuito de calibração é capaz de produzir
em todos os casos (iterações) a tensão de referência na nova faixa de precisão especificada. Para isto, é necessário testar todas as combinações binárias das chaves analógicas e
verificar, dentre estas, aquela cujo valor de tensão associado encontra-se ou mais se aproxima da faixa desejada. Para realizar isto, é necessário a utilização de um circuito auxiliar
de teste, abordado na seção a seguir.
V.5.6.1 - C IRCUITO DE T ESTE
O teste dos códigos binários e as comparações entre os valores de tensão resultantes
devem ser feitos por um circuito auxiliar, que aproveita a organização dos códigos binários
de calibração para que não seja necessário o teste de todas as combinações possíveis. Os
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
71
Bit 0
Bit 1
Bit 2
Bit 3
Preset
Clock
VDD
códigos estão organizados em ordem decrescente, de forma que o menor valor da tensão
de referência está associado ao código binário 1111, para qual todas as chaves analógicas
estão em curto-circuito, e a maior tensão de referência está associada ao código 0000, em
que todas as chaves encontram-se em circuito aberto. Supondo uma simulação no domínio
do tempo, se o circuito de bandgap for inicializado com o menor valor da tensão de
referência (1111) e, à medida que o tempo passar, esta tensão for gradativamente elevada
(código decresça), para algum código binário a tensão de referência cruzará o valor de
tensão limiar Vre fmin , correspondente a 99, 875% Vre fnominal , devido à constante ζ presente
na Eq. (III.42). Neste momento, o circuito de teste deve fixar o código binário, pois este
é aquele capaz de levar a tensão de referência para a faixa requerida. Portanto, o circuito
de teste consiste basicamente de um contador decrescente, um comparador e uma tensão
de limiar para comparação, como mostrado na Fig. V.22.
Bit3 Bit2 Bit1 Bit0
Clock
Contador
Decrescente
Preset
Preset
Enable
Vref min= 1,21356 V
Comparador
Vref
Figura V.22: Esquema básico do circuito utilizado no teste do mecanismo de calibração.
Como pode ser visto na Fig. V.22, é necessária a utilização de um sinal de preset, de
forma a garantir que o primeiro código a ser testado seja efetivamente 1111. É necessário
também um sinal com forma de onda quadrada, denominado clock na Fig. V.23, que ditará
o intervalo de tempo entre os testes de dois códigos binários consecutivos, de forma que
a cada transição de subida o contador decresce sua contagem para alterar os resistores de
calibração. Este intervalo de tempo deve ser suficiente para que a tensão atinja o regime
permanente. Com esse objetivo foi empregado um período de 100 µs.
As transições de código só ocorrerão enquanto a tensão de referência de bandgap Vre f
for menor do que a tensão de limiar Vre fmin , pois esta situação faz com que a saída do
comparador esteja com um nível lógico alto, mantendo o contador habilitado. Quando
a tensão Vre f se torna igual ou superior à Vre fmin , a saída do comparador vai para um
nível lógico baixo, fixando o último código testado e desabilitando a contagem. Este
último código é o que ajusta Vre f , de forma que o circuito de calibração é efetivo se este
valor estiver dentro da nova faixa de imprecisão especificada para todas as iterações da
simulação de Monte Carlo e o valor de 3σ da distribuição estatística obtida estiver abaixo
da imprecisão requerida.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
72
D1
Bit0
Bit0
Bit1
Q1
Q0
Bit2
Bit1
Bit0
Q2
Q1
Q2
Q0
Bit2
Bit3
Bit1
Bit3
Bit0
Bit3
Q3
Q2
Q1
Q0
D0
D2
D3
O contador síncrono mostrado na Fig. V.23 foi projetado a partir da tabela verdade do
contador decrescente e empregando o mapa de Karnaugh [23].
Preset
D3
PRESET
D
Q Bit3
Q3
Q
D2
PRESET
D
Q Bit2
Q2
Q
D1
PRESET
D
Q Bit1
Q1
Q
D0
PRESET
D
Q Bit0
Q0
Q
Clock
Enable
Figura V.23: Circuito digital do contador decrescente com enable e preset.
É importante observar que a função enable é implementada por uma função lógica
AND entre os sinais enable e clock, para que o contador seja desabilitado se o sinal de
enable for mantido em nível lógico baixo. Este esquema apresenta um problema quando
utilizado em conjunto com o comparador, pois os efeitos capacitivos do circuito de bandgap podem fazer com que após o chaveamento dos resistores de calibração a tensão de
referência aumente subitamente e decresça rapidamente, como mostrado na Fig. V.24,
passando duas vezes pela tensão de limiar. Assim, o contador será desabilitado erroneamente após a primeira passagem pelo limiar, e na segunda passagem ele será reabilitado
fazendo com que a contagem prossiga sem que a tensão de referência associada ao código
anterior tenha sido testada de fato. Este detalhe é capaz de provocar saltos na contagem
e erros no procedimento de teste. Portanto, foi adicionado ao esquema da Fig. V.22 um
flip-flop tipo D após o comparador, responsável por manter o contador habilitado durante
todo o período de teste de um código (100 µs).
O circuito completo empregado no teste é apresentado na Fig. V.25, onde pode ser
visto o flip-flop tipo D e o comparador, que foi implementado por uma fonte de tensão
controlada por tensão, com elevado ganho e saída limitada entre 0 V e VDD . Também
foram adicionados ao esquema duas fontes de tensão de forma de onda quadrada, denominadas S1 e S2. A fonte S1 é utilizada como sinal de clock do flip-flop D e é igual ao sinal
de clock do contador atrasado em um período, pois neste período os dois se encontram sob
a ação da função preset. Esta fonte foi utilizada desta forma, mas se poderia em seu lugar
empregar o mesmo sinal de clock do contador. A fonte S2 tem a finalidade de desabilitar
o flip-flop tipo D após dado um tempo suficientemente grande (24 bits × 100 µs) para
encontrar a combinação binária correta. Isto é necessário, pois deseja-se saber também
o comportamento do circuito calibrado em função da temperatura e, como é necessário
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
73
Tensão de Referência(V)
1,31000
1,21356
1,20000
0,38
0,39
0,40
0,41
0,42
Tempo (ms)
Figura V.24: Dois cruzamentos pela tensão de limiar devido aos efeitos capacitivos.
Preset
Clock
VDD
Bit 0
Contador
Decrescente
Enable
Preset
Preset
Preset
A = 106
VC
Bit 1
Bit3 Bit2 Bit1 Bit0
Clock
Vref min= 1,21356 V
Bit 2
Bit 3
inicialmente realizar o ajuste da tensão de referência, esta informação deve ser obtida pela
simulação transitória, após este ajuste, através de uma opção do simulador que permite a
mudança da temperatura de simulação a partir de determinado tempo informado. Como
esta mudança de temperatura terá um efeito transitório na tensão de referência, o que faria o circuito de teste voltar a realizar a contagem para a procura pelo melhor código, o
contador precisa ser desabilitado. Assim, após o período de tempo de 16 × 100 µs, o
flip-flop tipo D é desabilitado de forma a não permitir que o contador volte a realizar a
contagem.
PRESET
D
A.VC
Q
Vref
S1
Q
S2
Figura V.25: Circuito empregado no teste do mecanismo de calibração.
O circuito de teste da Fig. V.25 pôde ser avaliado no circuito extraído, onde o valor final da tensão de referência Vre f convergiu para o valor nominal apresentado na Tabela V.9.
O gráfico mostrando o ajuste é apresentado na Fig. V.26. Neste teste foram empregados
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
74
os sinais indicados na Fig. V.27 para o controle do circuito de teste.
1,25
Tensão de Referência(V)
1,23
1,00
1,21
1,19
1,17
0,75
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6
0,50
0,25
0
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
Tempo (ms)
S1 (V)
Preset (V)
Clock (V)
Figura V.26: Teste dos resistores de calibração no circuito esquemático com calibração.
4,0
3,3
0
−0,7
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
0
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
0
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
0
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
4,0
3,3
0
−0,7
4,0
3,3
0
−0,7
S2 (V)
0
4,0
3,3
0
−0,7
Tempo (ms)
Figura V.27: Sinais para o circuito de teste: clock, preset, S1 e S2.
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
75
V.5.6.2 - R ESULTADOS DA S IMULAÇÃO DE M ONTE C ARLO
Com a metodologia de avaliação do circuito de calibração apresentada, nesta seção
são descritos os resultados do teste realizado através da simulação de Monte Carlo. Na
Fig. V.28 é mostrado o resultado no domínio do tempo de 20 iterações de Monte Carlo,
de forma que se pode observar a redução progressiva do espalhamento das curvas obtidas, o que indica a redução da imprecisão. Foram plotadas apenas 20 curvas devido ao
elevado número de pontos nesta simulação, o que dificulta a obtenção de mais curvas no
simulador.
1,25
Tensão de Referência(V)
1,23
1,00
1,21
1,19
1,17
0,75
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6
0,50
0,25
0
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
Tempo (ms)
Figura V.28: Gráfico ilustrando a redução progressiva do espalhamento da tensão de referência.
Após observar o comportamento do circuito, resta saber se a redução da imprecisão
por ele fornecida é capaz de cumprir a especificação do projeto. Para isto, foram realizadas 500 iterações da simulação de Monte Carlo. Os histogramas obtidos para a tensão de
referência e seu coeficiente de temperatura são apresentados, respectivamente, nas Figs.
V.29 e V.30, para os circuitos esquemático e extraído.
S IMULAÇÕES
40
40
35
35
30
30
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
C APÍTULO V
25
20
15
10
5
76
25
20
15
10
5
0
1.212
1.213
1.214
1.215
1.216
1.217
0
1.212
1.218
1.213
Tensão de Referência (V)
1.214
1.215
1.216
1.217
1.218
Tensão de Referência (V)
(a)
(b)
140
140
120
120
Número de Ocorrências
Número de Ocorrências
Figura V.29: Histogramas da tensão de referência na temperatura de 27◦C obtida por simulação de Monte Carlo com 500 iterações visando a avaliação da redução de imprecisão.
(a) Circuito esquemático. (b) Circuito extraído.
100
80
60
40
20
0
20
100
80
60
40
20
25
30
35
40
Coeficiente de Temperatura (ppm/ ° C)
(a)
45
0
20
25
30
35
40
45
Coeficiente de Temperatura (ppm/ ° C)
(b)
Figura V.30: Histogramas do coeficiente de temperatura obtida por simulação de Monte
Carlo com 500 iterações visando saber a influência da calibração neste parâmetro. (a)
Circuito do esquemático. (b) Circuito extraído.
Os resultados extraídos do histograma encontram-se na Tabela V.12, onde se pode
observar que o objetivo da rede resistiva é alcançado, reduzindo a imprecisão para menos
de 0, 25%. O único efeito colateral é um pequeno aumento da imprecisão do coeficiente
de temperatura em relação à do circuito sem calibração, cujos resultados se encontram na
Tabela V.8.
Tabela V.12: Resultados da simulação de Monte Carlo para o circuito com calibração,
onde foi a operação de calibração foi realizada.
Circuito
Parâmetros
Média
3σ
Porcentagem
◦
Vre f @27 C
1, 21502 V 2, 48 mV
0, 204%
Esquemático
TC (ppm/◦C)
27, 71
9, 09
32, 80 %
Vre f @27◦C
1, 21499 V 2, 54 mV
0, 209%
Extraído
TC (ppm/◦C)
27, 76
10, 26
36, 96%
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
77
V.6 - C OMPARAÇÕES C OM O UTROS
P ROJETOS
Na Tabela V.13 são apresentadas diversas características dos circuitos bandgap 1 (sem
calibração) e bandgap 2 (com calibração). Durante o desenvolvimento deste trabalho, vários artigos científicos divulgados na literatura foram consultados, alguns dos quais são
listados em Referências Bibliográficas. Dentre estes destacamos [15] e [24] por apresentarem excelentes resultados. Adicionalmente, [24] utiliza um processo de fabricação
semelhante ao utilizado no trabalho aqui proposto. Os dados referentes aos circuitos
bandgap 1 e bandgap 2 na Tabela V.13 encontram-se nas Tabelas V.7 e V.8 para o circuito sem calibração e, nas Tabelas V.10, V.11 e V.12 para o circuito com calibração.
Foram utilizados os valores obtidos para o circuito extraído de ambos, de forma a realizar
uma melhor comparação entre os trabalhos apresentados na Tabela V.13, uma vez que os
resultados de [15] e [24] foram obtidos a partir de testes em bancada.
Os dados na Tabela V.13 referentes aos dois artigos da literatura foram obtidos de
[15]. É importante mencionar que nesta referência é utilizado um critério de avaliação da
imprecisão da tensão de referência diferente do empregado nos projetos aqui realizados.
O critério é referido como o método da "caixa" e considera toda a faixa de temperatura de
trabalho para realizar o cálculo da imprecisão, não apenas o valor nominal na temperatura
de 27◦C.
Tabela V.13: Tabela Comparativa.
Este Trabalho
Bandgap 1
Bandgap 2
Tecnologia CMOS
0, 35 µm
0, 35 µm
Fonte de Alimentação (V )
3, 3
3, 3
2
Área (mm )
0, 0953
0, 097
b
Tensão de Referência (V )
1, 2152
1, 2150b
Não calibrado
1, 03%
1, 01%
Calibrado
0, 21%
Imprecisão
No de Amostras
a
◦
F.T.A. ( C)
27
27
◦
Faixa de Temperatura ( C)
−40 a 125
◦
b
TC (ppm/ C)
28, 06
27, 76b
c
PSRR (dB)
> 71, 11 @DC > 71, 8c @DC
Consumo de Corrente (µA)
8, 56
8, 56
Parâmetro
[15]
[24]
0, 16 µm
1, 8 ± 10%
0, 12
1, 0875
0, 75%
0, 15%
61
−40 a 125
0, 35 µm
1, 4
1, 2
0, 858
N.A.
0, 91%
11d
−20 a 120
−20 a 120
12, 4e
68@100Hz
116
5 − 12
74@DC
55
de temperatura avaliada no cálculo da imprecisão. b Valor médio. c Valor de pior
caso (3σ ). d Calibração utilizada em apenas uma temperatura. e Calibração utilizada em
duas temperaturas.
a Faixa
C APÍTULO V
S IMULAÇÕES
78
A observação da Tabela V.13 permite concluir que a imprecisão das referências desenvolvidas neste projeto é semelhante à dos trabalhos citados, mas requer uma área em
silício menor. Ainda que a área utilizada em [15] seja próxima às dos circuitos propostos,
o processo de fabricação empregado permite projetos com comprimento de canal mínimo
50% menor. O consumo de corrente dos circuitos propostos neste projeto é considerávelmente menor, o que leva a um menor consumo de potência mesmo com a tensão de
alimentação de 3, 3 V . Conforme visto nos resultados apresentados nas Figs. V.12 e V.18,
é possível reduzir a alimentação de 3, 3 V para um valor mais baixo, próximo de 1, 5 V .
Para reduzir o valor do coeficiente de temperatura, em [24] é utilizado um processo
de calibração em duas temperaturas, e em [15], é empregada uma técnica de chopper
no amplificador e um esquema para compensação dos termos não lineares da tensão de
referência em função da temperatura.
Uma vantagem do circuito aqui proposto é a reduzida complexidade do circuito, que
é resultante do modelamento adequado ao projeto de fontes de referência, desenvolvimento criterioso das equações de projeto e elaboração de um procedimento eficiente de
otimização.
C APÍTULO VI
C ONCLUSÕES
VI.1 - C ONCLUSÕES G ERAIS
O objetivo deste trabalho foi realizar o projeto de dois circuitos de referência de bandgap, um sem calibração e outro com calibração, de forma a satisfazer principalmente às
especificações de imprecisão fixadas.
O objetivo foi cumprido com êxito. O projeto preliminar foi realizado através de
extração dos principais parâmetros dos dispositivos empregados, e produziu resultados
satisfatórios em relação aos fornecidos pelo simulador. O projeto final foi alcançado através do modelamento dos principais descasamentos ocorridos nos circuitos e de uma etapa
de otimização, que determinou a área de cada componente. Após o desenvolvimento do
layout, simulações de Monte Carlo foram realizadas. Os resultados relativos às imprecisões da tensão de referência ficaram bem próximos dos previstos, o que comprova a
eficácia do método de projeto empregado. Os circuitos desenvolvidos neste trabalho possuem desempenhos semelhantes aos de outros trabalhos publicados na literatura, como
mostrado na Tabela V.13, que também revela o êxito alcançado pelo método de otimização das áreas requeridas pelos circuitos.
VI.2 - T RABALHOS F UTUROS
Os circuitos desenvolvidos neste projeto foram enviados para fabricação. Portanto, a
próxima etapa é a elaboração e montagem do circuito de teste a ser utilizado nas medições
em bancada, o que permitirá verificar o desempenho dos circuitos projetados.
R EFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS
[1] T, C., TAM, W., CMOS Voltage References: An Analytical and Practical Perspective. Wiley, 2013.
[2] MOK, P., LEUNG, K. N., “Design considerations of recent advanced low-voltage
low-temperature-coefficient CMOS bandgap voltage reference”. In: Custom Integrated Circuits Conference, 2004. Proceedings of the IEEE 2004, pp. 635–642,
2004.
[3] BARÚQUI, F. A. P., “Eletrônica IV”. Apostila, DEL/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ –
Brasil.
[4] MILLER, P., MOORE, D., “Precision Voltage References”, Analog Application
Journal, , 1999.
[5] RAZAVI, B., Design of Analog CMOS Integrated Circuits. McGraw-Hill, 2001.
[6] PELGROM, M. J. M., DUINMAIJER, A. C. J., WELBERS, A. P. G., “Matching
properties of MOS transistors”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 24, n. 5,
pp. 1433–1439, 1989.
[7] KINGET, P., “Device mismatch and tradeoffs in the design of analog circuits”, SolidState Circuits, IEEE Journal of, v. 40, n. 6, pp. 1212–1224, 2005.
[8] ZIRGER, A., “Random Offset in CMOS IC Design”. Apresentação de Slides, National Semiconductor, Oct. 2007.
[9] CABRAL, P., “Erros e Incertezas nas Medições”. Apostila, Instituto Eletrotécnico
Português, Instituto Superior de Engenharia do Porto, June 2004.
[10] WIDLAR, R. J., “New Developments in IC Voltage Regulators”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 6, pp. 2–7, Feb. 1971.
[11] REZENDE, S., Materiais e Dispositivos Eletrônicos. Editora Livraria da Física,
2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
81
[12] TSIVIDIS, Y., “Accurate analysis of temperature effects in I/SUB c/V/SUB BE/
characteristics with application to bandgap reference sources”, Solid-State Circuits,
IEEE Journal of, v. 15, n. 6, pp. 1076–1084, 1980.
[13] GRAY, P., HURST, P., LEWIS, S., et al., Analysis and Design of Analog Integrated
Circuits. Wiley, 2001.
[14] GUPTA, V., An accurate, trimless, high PSRR, low-voltage, CMOS bandgap reference IC. M.Sc. dissertation, 2007.
[15] GE, G., ZHANG, C., HOOGZAAD, G., et al., “A Single-Trim CMOS Bandgap
Reference With a 3σ Inaccuracy of 0.15% From −40◦C to 125◦C”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 46, n. 11, pp. 2693–2701, 2011.
[16] SHICHMAN, H., HODGES, D., “Modeling and simulation of insulated-gate fieldeffect transistor switching circuits”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 3, n. 3,
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[17] SAINT, C., SAINT, J., IC Mask Design: Essential Layout Techniques, McGraw-Hill
professional engineering. McGraw-Hill, 2002.
[18] SONG, B.-S., GRAY, P., “A precision curvature-compensated CMOS bandgap reference”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 18, n. 6, pp. 634–643, 1983.
[19] CARUSONE, T., JOHNS, D., MARTIN, K., Analog Integrated Circuit Design, Analog Integrated Circuit Design. Wiley, 2011.
[20] STEWART, J., Cálculo, n. v. 2. Cengage Learning, 2010.
[21] RINCON-MORA, G., Voltage References: From Diodes to Precision High-Order
Bandgap Circuits. Wiley, 2002.
[22] MARTINEZ BRITO, J., BAMPI, S., KLIMACH, H., “A 4-Bits Trimmed CMOS
Bandgap Reference with an Improved Matching Modeling Design”. In: Circuits
and Systems, 2007. ISCAS 2007. IEEE International Symposium on, pp. 1911–1914,
2007.
[23] CAPUANO, F., IDOETA, I., Elementos de eletrônica digital. Livros Erica, 2000.
[24] PERRY, R., LEWIS, S., BROKAW, A., et al., “A 1.4 V Supply CMOS Fractional
Bandgap Reference”, Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 42, n. 10, pp. 2180–
2186, 2007.
[25] WANG, G., CMOS Bandgap References and Temperature Sensors and Their Applications. M.Sc. dissertation, 2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
82
[26] MEIJER, G. C. M., VINGERLING, K., “Measurement of the temperature dependence of the I/SUB C/(V/SUB be/) characteristics of integrated bipolar transistors”,
Solid-State Circuits, IEEE Journal of, v. 15, n. 2, pp. 237–240, 1980.
A PÊNDICE A
E XTRAÇÃO DE PARÂMETROS DO
TRANSISTOR BIPOLAR (BJT) E DOS
RESISTORES
A.1 - D ESCRIÇÃO
Neste apêndice é apresentado o método de obtenção dos parâmetros de transistores
bipolares e resistores, que são necessários para os cálculos do projeto.
Todos os parâmetros foram obtidos através de esquemas de simulação realizados no
software Cadence através do emprego dos modelos do processo utilizado no projeto.
A.2 - T RANSISTOR B IPOLAR
A.2.1 - A FUNÇÃO β (T )
Como o valor de β também é dependente da corrente de coletor do transistor, e o
especificado é, na verdade, a corrente de emissor, para obtenção de um modelo melhor
para uso no projeto primeiro é preciso obter a corrente de coletor correspondente à de
emissor especificada. Para isto, foi utilizado o esquema da Fig. A.1, onde a fonte de
tensão Vx possui um valor arbitrário, a corrente IE tem o valor especificado para o projeto
e a corrente de coletor IC é aquela que deseja-se medir.
Obtida a corrente IC , pode-se, então, utilizar o esquema da Fig. A.2 para obter a curva
de β em função da temperatura.
A PÊNDICE A
84
IE
Vx
Q1
IC
Figura A.1: Esquema para obter a corrente de coletor IC a partir da corrente de emissor IE
especificada.
Veb
Q1
IB
VC
Vx
VC
IC
Figura A.2: Esquema para extração da Curva β (T ).
Onde a corrente IC é a corrente obtida pelo esquema anterior, a fonte de tensão Vx possui
um valor arbitrário e ainda é empregada uma fonte de tensão controlada por tensão de
ganho 1 de forma a garantir que a corrente de coletor seja igual a da fonte de corrente IC
e que a condição de funcionamento do circuito de bandgap, onde a tensão de coletor é
igual a tensão de base, seja satisfeita.
A partir do esquema ilustrado na Fig. A.2 pode ser realizada uma simulação DC variando a temperatura na faixa especificada e, desta maneira, plotar a função β em função
da temperatura, através da razão IICB , onde ambas as correntes estão indicadas na Fig. A.2.
Com a curva obtida, é possível, com o auxílido do software Matlab e sua função cftool,
realizar um ajuste da curva com o seguinte formato quadrático
β (T ) = β0 (1 + b1 (T − 273) + b2 (T − 273)2 ),
(A.1)
onde a temperatura T é dada em Kelvin.
A.2.2 - A RESISTÊNCIA DE BASE rb
A resistência de base rb (T ) pode ser extraída através do método encontrado em [25],
que utiliza a diferença de tensão ∆Veb em função da corrente de emissor IE .
A PÊNDICE A
85
Para obter ∆V eb pode-se empregar o esquema apresentado na Fig. A.3.
IE
ΔVeb (IE)
-
+
IE
Q1
Q2
.......
Qn
Qn+1
n Transistores
Figura A.3: Esquema para extração da Curva ∆Veb Vs. IE .
A função ∆Veb pode ser expressa segundo a Eq. (III.14), que é reescrita na Eq. A.2,
lembrando que seu primeiro termo é idealmente igual a vt ln(n) e que agora será empregada uma fonte de corrente no emissor, que não varia com a temperatura.
kT
IE
1
∆Veb (IE , T ) =
ln(n) + rb (T )
1−
.
q
β (T ) + 1
n
(A.2)
Se na Eq. (A.2), a derivada de ∆Veb em relação à corrente IE for tomada, será obtido
α=
∂ ∆Veb rb (T ) (n − 1)
=
,
∂ IE
n (β (T ) + 1)
(A.3)
que rearranjada fornece
α n (β (T ) + 1)
.
(A.4)
n−1
Logo, se a derivada de ∆Veb em relação à corrente de emissor IE , o número n de transistores e a função β (T ) forem conhecidas, é possível saber o valor da resistência de base rb
em função da temperatura.
Utilizando o esquema da Fig. A.3, a curva de ∆Veb em função de IE pode ser obtida
através de uma varredura DC da fonte de corrente IE . De posse desta curva, e utilizando
o software Matlab, a derivada de ∆Veb para a corrente de emissor empregada no projeto
pode ser obtida. Assim, de posse dela, do conhecimento da curva β (T ) extraída anteriormente e do número de transistores n, é possível, por meio da Eq. (A.4), calcular a curva
de rb (T ). Desta forma, a função rb (T ) pode ser ajustada com o uso da função cftool com
o formato quadrático
rb (T ) =
rb (T ) = rb0 (1 + rb1 (T − 300) + rb2 (T − 300)2 ),
(A.5)
onde rb0 é o valor da resistência de base à temperatura de 27◦C, obtida diretamente da
A PÊNDICE A
86
Eq. (A.4) e rb1 e rb2 são os coeficientes de primeira e segunda ordens de variação com a
temperatura, respectivamente. As constantes a serem ajustadas são rb1 e rb2 .
A.2.3 - O S PARÂMETROS VG0
E
η
A obtenção dos parâmetros VG0 e η é realizada a partir do mesmo esquema utilizado
para extração de β , onde utiliza-se uma fonte de corrente independente da temperatura
IC e afere-se a tensão de junção Veb (T ) através de uma varredura de temperatura. Obtida
esta curva, seus parâmetros podem ser extraídos pelo procedimento a seguir.
A tensão Veb (T ) extraída pode ser escrita na forma
Veb (T ) = VebBip. (T ) +
rb (T ) IC
.
β (T )
(A.6)
Assim, a curva de interesse a ser trabalhada passa a ser a curva
VebBip. = Veb (T ) −
rb (T ) IC
.
β (T )
(A.7)
De posse desta nova curva, pode-se realizar a extração dos parâmetros utilizando o
método descrito em [26], que faz uso da Eq. (II.3) avaliada em três diferentes temperaturas, escolhidas aqui como sendo a temperatura de trabalho Tre f e as temperaturas máxima
Tmax e mínima Tmin da faixa escolhida. Desta forma, os parâmetros VG0 e η são obtidos
resolvendo o sistema composto pelas Eqs. A.8 e A.9:
kTmin Tre f
Tre f
Tre f VebBip. (Tmin ) − Tmin VebBip. (Tre f ) = (Tre f − Tmin )Vg0 + η
ln
, (A.8)
q
Tmin
kTre f Tmax
Tmax
Tmax VebBip. (Tre f )−Tre f VebBip. (Tmax ) = (Tmax −Tre f )Vg0 +η
ln
. (A.9)
q
Tre f
A.3 - C URVA DO R ESISTOR EM FUNÇÃO DA
TEMPERATURA
O procedimento para extração da resistência em função da temperatura utiliza o esquema mostrado na Fig. A.4. Nele polariza-se um resistor do tipo a ser utilizado (poly de
alta resistividade) de 10 kΩ, com uma corrente que possui o mesmo valor da empregada
no circuito de bandgap. Após isto, realiza-se uma varredura na temperatura, obtendo,
A PÊNDICE A
87
assim, a curva da tensão VR sobre o resistor.
IE
VR
R = 10 kΩ
Figura A.4: Esquema para extração de R(T ).
Para conhecer a curva da resistência em função da temperatura basta dividir a tensão
VR obtida pela corrente IE empregada. Após isto, utilizando a função cftool do software
Matlab realiza-se o ajuste da curva para a função quadrática
R(T ) = R r0 ( 1 + r1 (T − 300) + r2 (T − 300)2 ),
(A.10)
onde R é a resistência nominal do resistor, r0 é um coeficiente de ajuste e r1 e r2 são os coeficientes de primeira e segunda ordens de variação com a temperatura, respectivamente.
As constantes a serem ajustadas são r0 , r1 e r2 .
A PÊNDICE B
P ROPAGAÇÃO DE E RROS E
I NCERTEZAS APLICADA À
M ICROELETRÔNICA
B.1 - D ESCRIÇÃO
Este apêndice descreve o método de propagação de erros e incertezas, aplicada a dispositivos microeletrônicos como uma forma de estimar e limitar os efeitos de descasamento, ocorrido entre dispositivos iguais na pastilha de silício.
As bases para esta análise residem nas equações de Pelgrom [6] e na fórmula para
propagação de incertezas [7, 8, 9], ambas discutidas a seguir.
B.2 - F ÓRMULA G ERAL PARA P ROPAGAÇÃO
DE I NCERTEZAS
A fórmula utilizada para propagar erros e incertezas é, na verdade, resultado de uma
aproximação da série de Taylor [9], sendo assim válida para erros pequenos, o que é útil
na aplicação de redução de descasamento entre componentes, onde busca-se reduzir estes
erros.
Para introduzir a ideia, vamos trabalhar com uma função f (x, y), onde as variáveis
independentes x e y possuem uma distribuição estatística, ou seja, uma incerteza σx e σy
associada. Desta forma, a função f (x, y) também terá uma distribuição estatística, uma
vez que é formada de operações envolvendo x e y. A fórmula de propagação de erros
A PÊNDICE B
89
é capaz de expressar a incerteza σ f (x,y) , independentemente das operações existentes na
função.
Para a função de duas variáveis exemplificada, supondo que x e y sejam descorrelacionadas, a fórmula será
σ 2f (x,y) =
!2
2
∂ f (x, y) ∂ f (x, y) · σx +
· σy ,
∂ x x=x
∂ y y=y
(B.1)
onde x e y são os valores médios de x e y, respectivamente.
A Eq. (B.1) pode ser expandida também para um número N de variáveis, que sejam
correlacionadas, pela equação
N
σ 2f (x)
=∑
i=1
2 N−1 N ∂ f (x) ∂ f (x) ∂ f (x) · σxi + ∑ ∑
· σxi · σx j · Rxi x j , (B.2)
∂ xi x=x
∂
x
∂
x
i
j
x=x
i=1 j=i+1
onde Rxi x j é o coeficiente de correlação entre as variáveis xi e x j , x refere-se ao conjunto
de variáveis xi e x corresponde a seus valores médios.
A Eq. (B.2) é conhecida como a lei de propagação de incertezas [9]. No entanto,
costuma-se assumir que as variáveis aleatórias sejam descorrelacionadas, sendo mais interessante considerar a equação
N
σ 2f (x)
=∑
i=1
2
∂ f (x) · σxi .
∂ xi x=x
(B.3)
Pode-se observar que a Eq. (B.3) é a generalização da Eq. (B.1), e esta é a que será
utilizada neste trabalho.
B.3 - A S E QUAÇÕES DE P ELGROM
As equações de Pelgrom [6] são equações que fornecem as incertezas bases para trabalhar com descasamento de dispositivos. Elas expressam descasamento entre transistores
MOS, resistores e capacitores, onde os parâmetros necessários são fornecidos pelo fabricante. Para um parâmetro genérico P, a equação de Pelgrom é dada por
A2P
+ SP2 D2 ,
(B.4)
WL
onde, ∆P é a diferença do parâmetro P de dois dispositivos que possuem as mesmas
dimensões nominais, representando seu descasamento, AP é o termo referente ao descasamento do parâmetro P, fornecido pelo fabricante, W L é a área do canal do dispositivo,
D é a distância entre os dispositivos e SP é o termo correspondente à distância entre os
2
σ∆P
=
A PÊNDICE B
90
dispositivos. Assim, é possível notar que quanto mais próximos os componentes e maior
suas áreas, maior será o casamento entre eles. No entanto, o efeito da distância não é considerado pelo simulador e, para distâncias menores que 1 mm [7], seu efeito é de pouca
influência, de forma que o produto SP2 D2 pode ser desprezado na maioria dos casos.
As equações de Pelgrom que serão consideradas neste trabalho são as equações:
2
σ∆R
A2
= R,
R
WL
(B.5)
A2vth
=
,
WL
(B.6)
2
σ∆v
th
2
σ∆β
β
=
A2β
WL
,
(B.7)
onde, vth é a tensão de limiar (threshold) de um transistor MOS e
W
,
(B.8)
L
com µ igual à mobilidade dos portadores majoritários, Cox igual à capacitância do óxido
por unidade de área, W igual à largura do canal e L igual ao comprimento de canal do
transistor MOS.
β = µCox
B.4 - P ROPAGAÇÃO DE I NCERTEZAS
A PLICADA A T RANSISTORES MOS
Para conhecer o efeito do descasamento entre dois transistores é preciso utilizar uma
expressão que relacione seus principais parâmetros. A expressão utilizada é um modelo
simples, que só considera efeitos de primeira ordem [8, 16] para a corrente de dreno em
um transistor MOS na região de saturação ou inversão forte. Ela é dada pela por
β
(VGS − vth )2 .
(B.9)
2
A Eq. (B.9) relaciona as variáveis de interesse ID , para o uso de espelhos de corrente, e
VGS , no caso de se estar trabalhando com um par diferencial. Desta forma, o descasamento
entre dois transistores iguais é refletido em um erro destes dois componentes, sendo a
fonte de erro proveniente das variáveis dependentes do processo vth e β , que possuem
variâncias dadas pelas Eqs. (B.6) e (B.7), respectivamente.
Desta forma, considerando que vth e β sejam descorrelacionadas a Eq. (B.3) pode ser
ID =
A PÊNDICE B
91
aplicada, obtendo-se a expressão geral:
2
σ∆I
D
σ∆β 2
= (gm σ∆vth ) + ID
+ (gm σ∆VGS )2 .
β
2
(B.10)
onde gm é a transcondutância do transistor. Esta equação pode ser utilizada em dois casos
particulares:
• Transistores como espelhos de corrente;
• Transistores como par diferencial
B.4.1 - E SPELHO DE CORRENTE
Quando os transistores estão numa configuração de espelho de corrente, suas tensões
entre gate e source VGS são iguais, como pode ser visto na Fig. B.1.
I1
I2
VGS
VGS
Figura B.1: Transistores como espelhos de corrente.
Desta forma, o desvio padrão de σ∆VGS é zero e o erro relativo de corrente (ID2 −
ID1 )/ID entre os dois transistores, dado pela Eq. (B.10), torna-se
σ∆ID
ID
2
=
2
gm
σ∆vth
ID
+
σ∆β
β
2
.
(B.11)
+ A2β .
(B.12)
Se as equações de Pelgrom forem aplicadas:
σ∆ID
ID
2
1
=
WL
"
gm
Av
ID th
2
#
Pode ser útil notar o caso específico em que os transistores operam em inversão forte.
Nesta situação, a substituição de gm na Eq. (B.12) considerando Aβ Avth gm/ID [7]
resulta em
σ∆ID
ID
2
2β
=
ID
Avth
L
2
,
(B.13)
onde se pode verificar que a variância da corrente copiada depende apenas do quadrado do
comprimento de canal L ao invés da área. Assim, uma vez realizado o ajuste de imprecisão
por L, cabe à largura de canal W a definição da transcondutância do transistor.
A PÊNDICE B
92
As Eqs. (B.12) e (B.13) são importantes, mas a variância refere-se à diferença ∆ID
entre as correntes de dreno dos dois transistores e, em muitos casos, é necessária a variância do valor absoluto, individual de cada uma delas. Assim, valendo-se do fato de
∆ID = I2 − I1 e, considerando-as descorrelacionadas, obtém-se
σI2D
.
2
σI21 = σI22 =
(B.14)
B.4.2 - PAR D IFERENCIAL
Se os transistores estiverem em uma configuração de par diferencial, como mostrado
na Fig. B.2, desenvolvendo a Eq. (B.10) encontra-se a expressão para a variância de ∆VGS ,
a tensão de offset de entrada, dada pela Eq. (B.15).
I1
I2
Input -
Input +
VGS1
VGS 2
I
Figura B.2: Par Diferencial.
σv2os
2
= σ∆V
GS
2
= σ∆v
+
th
ID σ∆β
gm β
2
+
σ∆ID
gm
2
,
(B.15)
onde σ∆ID é o descasamento de corrente de dreno proveniente de uma carga ativa por
exemplo.
Se as equações de Pelgrom forem utilizadas, a Eq. (B.15) torna-se
2
σv2os = σ∆V
GS
"
2 # 1
I
ID σ∆ID 2
D
2
=
Avth +
A
+
.
WL
gm β
gm ID
(B.16)
As Eqs. (B.12) e (B.16) obtidas são válidas para todas as regiões de operação do
transistor MOS [7], desta forma, elas são muito importantes e podem ser aplicadas a
vários tipos de projetos, tendo sido amplamente utilizadas neste.
Na maioria das tecnologias, desprezar o termo Aβ das expressões consiste em um boa
aproximação [7], uma vez que Aβ Avth gm/ID . No entanto optou-se neste projeto por
considerá-lo, de forma a obter resultados mais acurados.
A PÊNDICE B
93
B.5 - P ROPAGAÇÃO DE I NCERTEZAS
A PLICADA A R ESISTORES
A equação de Pelgrom aplicada aos resistores fornece o descasamento ∆R = R2 − R1 .
No entanto, é mais interessante saber o desvio padrão absoluto de cada um deles. Desta
forma, conhecendo a variância da diferença, é possível obter um equivalente dado por
2
σ∆R
.
(B.17)
2
Outra relação importante é o caso em que se realiza um resistor R1 como a associação
em série de N resistores unitários R. Como a variância de R1 será a soma das variâncias
de R, obtém-se
σR21 = σR22 =
σR21 = N σR2 .
(B.18)
B.6 - A PLICAÇÃO AO C IRCUITO DE
R EFERÊNCIA DE BANDGAP DESTE
TRABALHO
Como descrito no Capítulo III, a imprecisão da tensão de referência é fornecida pela
relação
2
2
2
2
2
σV2re f = σ processo
+ σBip
+ σEsp
+ σRes
+ σOTA
,
2 , σ2 e σ2
onde os termos σEsp
Res
OTA são obtidos através das equações apresentadas nas
seções anteriores deste apêndice e principalmente pela Eq. (B.3). Estes termos referem
-se aos seguintes blocos do circuito, respectivamente:
• Espelho de corrente M1 − M2;
• Resistores R1 e R2 ;
• Amplificador Operacional (OTA)
Nas seções abaixo serão apresentados os cálculos relativos a estas imprecisões, que
resultam nas expressões mostradas na Seção III.5.
O circuito empregado é novamente ilustrado na Fig. B.3, agora acrescentado de algumas variáveis.
A PÊNDICE B
94
VDD
VDD
S
M1
M2
Vref
R3
R2
I1
I2
vos
X
Y
+
ΔVeb
R1
+
Q1 Veb
1
+
....... Qn+1
Veb2 Q2
-
-
n Transistores
Figura B.3: Circuito do projeto incluindo a tensão de offset de entrada do OTA e representação das correntes I1 e I2 descasadas.
B.6.1 - D ESCASAMENTO DO E SPELHO DE C ORRENTE
M1 − M2
O descasamento entre os transistores M1 e M2 resulta em uma diferença nas correntes I1 e I2 apresentadas na Fig. B.3. Isto acaba causando um erro tanto na tensão Veb2 ,
referente ao transistor Q2 , quando na diferença de tensão ∆Veb . Para realizar a análise,
primeiro é necessário encontrar a relação entre estas correntes e a tensão de referência
Vre f , que será
Vre f
1 I2
= vt ln
n IS
R2
I1
+
+ 1 vt ln n
.
R1
I2
(B.19)
Onde, supondo que I1 e I2 são descorrelacionadas, pode-se aplicar a Eq. (B.3), obtendo
σV2re f
2
= σEsp
ϑ
=
σI
I1 1
2
+
vt − ϑ
I2
2
σI2
,
(B.20)
onde, I1 e I2 são os valores médios destas correntes, iguais a ID , e ϑ é dado por
ϑ = vt
Assim, utilizando as Eqs. (B.12) e (B.14):
R2
+1 .
R1
(B.21)
A PÊNDICE B
95

2
σEsp
=
1
1
(2ϑ 2 − 2ϑ vt + vt2 ) A2β +
2 Área1,2
B.6.2 - D ESCASAMENTO ENTRE R1
DE
E
!2 
gm1,2
.
Av
ID1,2 th
R2
(B.22)
E I MPRECISÃO
R1
O descasamento entre os resistores R1 e R2 provocam um erro na tensão de referência,
assim como o erro do valor absoluto de R1 através da alteração da corrente I2 . Para avaliar
o erro provocado, encontra-se a relação entre os resistores e a tensão de referência:
Vre f
vt ln(n) 1
= vt ln
R1 n IS
R2
+ 1 vt ln(n).
+
R1
(B.23)
Supondo os resistores R1 e R2 descorrelacionados, a variância de R2 pode ser expressa
utilizando a Eq. (B.18):
σR22 = r σR21 ,
(B.24)
onde r = R2 /R1 . Assim, a utilização da Eq. (B.3) conduz a
2
=
σV2re f = σRes
vt2 A2R
[1 + r ln(n)(2 + ln(n)(1 + r))] .
2 ÁreaR1
(B.25)
B.6.3 - E FEITO DO A MPLIFICADOR O PERACIONAL DE
T RANSCONDUTÂNCIA (OTA)
Os descasamentos no par diferencial e na carga ativa do OTA, da Fig. B.4, são responsáveis pela geração de um offset de entrada que aparecerá na tensão de referência com um
ganho. Assim, são dois passos a serem seguidos para encontrar o efeito do offset de entrada na tensão de referência: o primeiro é encontrar a expressão para o offset e o segundo
avaliar seu efeito na saída do circuito de referência.
A expressão para a tensão de offset é dada pelo descasamento do par diferencial (M8
e M9) que já leva em consideração o descasamento das cargas ativas (transistores M4
e M5), sendo dada pela Eq. (B.16), onde no terceiro termo é substituida a Eq. (B.12)
correspondente ao descasamento da carga ativa. Desta forma, a equação da tensão ao
A PÊNDICE B
96
VDD
VDD
VDD
Vpolarização = VS
M4
M3
M5
Vout = VS
Z
Input -
M8
Input +
M9
M6
M7
Figura B.4: Amplificador Operacional de Transcondutância.
quadrado de offset é dada por
1
v2os =
Área8,9
A2vth +
ID
A
gm β
2 !
1
+
Área4,5
ID
gm
gm
Av
ID th
2
!!2
+ A2β
.
(B.26)
O que conclui o primeiro passo. Para o segundo passo basta analisar o circuito da Fig.
B.3, encontrando a expressão da tensão de referência:
Vre f
vt ln(n) + vos 1
= vt ln
R1
n IS
R2
+
+ 1 (vt ln(n) + vos ) .
R1
(B.27)
Onde, se for aplicada a Eq. (B.3), resultará na equação final
σV2re f
2
= σOTA
=
R2
1
+1+
R1
ln(n)
2
v2os .
(B.28)
Desta forma, a análise dos descasamentos do circuito é concluida, podendo iniciar-se
a fase de otimização encontrada no Capítulo III.
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