0 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ESTRESSE OXIDATIVO E METABOLISMO EM MODELO ANIMAL DE COLITE INDUZIDA POR DEXTRAN SULFATO DE SÓDIO CARLOS ROBERTO DAMIANI CRICIÚMA – SANTA CATARINAC 2006 1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ESTRESSE OXIDATIVO E METABOLISMO EM MODELO ANIMAL DE COLITE INDUZIDA POR DEXTRAN SULFATO DE SÓDIO CARLOS ROBERTO DAMIANI Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Emílio Luiz Streck Co-orientador: Prof. Dr. Felipe Dal Pizzol CRICIÚMA – SANTA CATARINA 2006 2 ESTRESSE OXIDATIVO E METABOLISMO EM MODELO ANIMAL DE COLITE INDUZIDA POR DEXTRAN SULFATO DE SÓDIO Carlos Roberto Damiani Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Emílio Luiz Streck Co-orientador: Prof. Dr. CRICIÚMA – SANTA CATARINA 2006 Felipe Dal Pizzol 3 4 À Tânia, minha amada esposa, que com extrema dedicação e infinita compreensão, soube me incentivar e auxiliar nas horas em que os tentáculos do desânimo pairavam sobre meus ombros. Ao Rafael e Rodrigo, filhos queridos, que souberam entender o significado de um projeto de pesquisa, inclusive com auxílio prático em determinadas ocasiões, e que em momento algum cobraram minha constante ausência, embora fisicamente presente, absorto nos estudos que me encontrava. 5 “Nenhum empreendimento lhe pareceu indigno de seu esforço. Em todos, levou como única tocha seu ideal. Teria preferido morrer de sede a se saciar no manancial da rotina”. “O sábio busca a Verdade por buscá-la e se satisfaz, arrancando à natureza segredos inúteis ou perigosos. O artista também busca a sua, porque a Beleza é uma Verdade animada pela imaginação, mais que pela experiência. O moralista a persegue no Bem, que é uma justa lealdade da conduta para consigo mesmo e para com os outros. Ter um ideal é servir à sua própria Verdade. Sempre” José Ingenieros, in O Homem Medíocre 6 Agradecimentos Ao meu orientador, Prof. Emílio, pela sabedoria, força e beleza dedicados à orientação deste trabalho. Ao meu co-orientador, Prof. Felipe, pela objetividade e tranqüilidade transmitidas durante o curso. Ao César e Cristhopher, bolsistas do Laboratório de Bioquímica Experimental, pela dedicação e competência desprendidas no desenvolvimento deste projeto. Ao Vilson, colega de curso, responsável pelo biotério, e sobretudo amigo de infindáveis horas de estudo e trabalho madrugada a dentro. À Silvana, coordenadora do Curso de Medicina da UNESC, que oportunizou minha entrada no mundo acadêmico. A todos os colegas do Curso de Mestrado em Ciências da Saúde, que com companheirismo e afinidade faziam as horas de aulas teóricas tornarem-se segundos de satisfação. A todos os colegas do Laboratório, que souberam compreender minhas eventuais ausências em virtude de motivos profissionais. À Mônica, secretária do Mestrado em Ciências da Saúde, que com simpatia, zelo e competência, resolvia de imediato todos os problemas à ela dirigidos. A todos os professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. 7 À Universidade do Extremo Sul Catarinense que possibilitou a realização deste projeto de pesquisa. A meus alunos do Curso de Graduação em Medicina, que mesmo sem perceberem, são orientadores. Aos meus preceptores dos idos tempos de Residência Médica, Nilo Cerato e Valério Garcia, que semearam o germe da pesquisa no meu ser. A meus Pais, pela oportunidade de vida, tudo mais é mera conseqüência. À minha esposa, pelo apoio irrestrito em toda atividade que gera enriquecimento da alma. A meus filhos, por todas as horas de felicidade que me proporcionaram na vida. Ao Grande Arquiteto do Universo que tornou tudo isto possível. 8 RESUMO A colite ulcerativa é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal. A sua etiologia ainda é pouco conhecida, mas parece resultar de uma resposta imune e inflamatória exacerbada, com infiltração de leucócitos fagocitários na mucosa intestinal. A produção e liberação de espécies reativas de oxigênio pelos fagócitos desempenham um papel importante na fisiopatologia da colite ulcerativa. O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da N-acetilcisteína e da deferoxamina no tratamento da colite induzida por dextran sulfato de sódio, através da medida de parâmetros de estresse oxidativo, função mitocondrial e avaliação visual micro e macroscópica tecidual em cólon de ratos. Além disso, foi realizada a avaliação da resposta imune e inflamatória, através da contagem de leucócitos. Os resultados demonstraram que o dextran sulfato de sódio aumentou a contagem de leucócitos em 300% em relação ao controle, e que a N- acetilcisteína e a deferoxamina não preveniram esse efeito. No entanto, os animais tratados com dextran sulfato de sódio apresentaram aumento de 80% da atividade do complexo IV da cadeia respiratória e a N-acetilcisteína e a deferoxamina preveniram essa alteração. Além disso, a medida de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico, um marcador de lipoperoxidação, estão aumentadas em 40% no cólon de ratos tratados com dextran sulfato de sódio. Nacetilcisteína e deferoxamina, quando usadas em conjunto, preveniram o efeito. A atividade do complexo II da cadeia respiratória e da succinato desidrogenase, além do dano oxidativo a proteínas, não foram alteradas pelo dextran sulfato de sódio. Especula-se que o uso de N-acetilcisteína e deferoxamina no tratamento da colite possa ser importante. No entanto, mais estudos são necessários para esclarecer esses efeitos. Palavras-chave: Colite ulcerativa. Estresse oxidativo. Antioxidantes. Dextran sulfato de sódio. 9 ABSTRACT Ulcerative colitis is a chronic inflammatory disease of the gastrointestinal tract. Its etiology remains unclear, but it appears to result from a dysregulated immune response, with infiltration of phagocytic leukocytes into the mucosal interstitium. The production and release of reactive oxygen species by immune cells seems to play a crucial role in phisiopathology of colitis. The aim of this work was to evaluate the effects of N-acetylcysteine and deferoxamine in the treatment of colitis induced by dextran sulfate sodium by measuring intestinal parameters of oxidative stress and mitochondrial function, inflammatory response and bowel histopathological alterations. The results show that dextran sulfate sodium increased white blood cells count in 300 percent in relation to the control and that N-acetylcysteine and deferoxamine did not prevent this effect. However, dextran sulfate sodium increased 80 percent of the activity of mitochondrial respiratory chain complex IV in colon of rats and N-acetylcysteine and deferoxamine prevented this alteration. Besides, thiobarbituric acid reactive substances were increased in 40 percent in the colon of dextran sulfate sodium -treated rats. Nacetylcysteine and deferoxamine, when taken together, prevented this effect. Complex II and succinate dehydrogenase were not affected by dextran sulfate sodium, as protein carbonyl content. We speculate that N-acetylcysteine and deferoxamine might be used for treatment of colitis, but further research is necessary to clarify these effects. Key words: Ulcerative colitis. Oxidative stress. Antioxidants. Dextran sulfate sodium 10 LISTA DE ABREVIATURAS 5-ASA – ácido 5-aminosalicílico Acetil-CoA – acetil coenzima A ADP – adenosina difosfato ATP – adenosina trifosfato CAT – catalase DFX – deferoxamina DII – doença inflamatória intestinal DNA – ácido desoxirribonucléico ERN – espécies reativas de nitrogênio ERO – espécies reativas de oxigênio FADH2 – flavina adenina dinucleotídeo GPX – glutationa peroxidase GSH – glutationa reduzida GTP – guanosina trifosfato LPO – lipoperoxidação NAC – N-acetilcisteína NADH – nicotinamida adenina dinucleotídeo NADPH – nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato SDH – succinato desidrogenase SOD – superóxido dismutase 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Cadeia respiratória mitocondrial............................................................ 22 12 SUMÁRIO I INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13 1 - Doença Inflamatória Intestinal ..................................................................... 13 1.1 – Conceitos Fundamentais......................................................................... 13 1.2 – Epidemiologia ........................................................................................... 13 1.3 - Apresentação Clínica................................................................................ 14 1.4 - Diagnóstico Diferencial ............................................................................ 16 1.5 – Fisiopatologia ........................................................................................... 16 1.6 - Tratamento Clínico.................................................................................... 20 2 - METABOLISMO E CADEIA RESPIRATÓRIA ............................................... 23 3 - RADICAIS LIVRES E ESTRESSE OXIDATIVO............................................. 28 3.1 - Radicais Livres .......................................................................................... 28 3.2 - Defesas Antioxidantes.............................................................................. 30 3.3 - Estresse Oxidativo .................................................................................... 32 3.4 - Colite e Estresse Oxidativo ...................................................................... 33 3.5 - N-acetilcisteína .......................................................................................... 35 3.6 – Deferoxamina............................................................................................ 36 4 – OBJETIVOS................................................................................................... 37 4.1 Geral .............................................................................................................. 37 4.2 Especificos ................................................................................................... 37 II RESULTADOS.................................................................................................. 38 1. Artigo: Oxidative stress and metabolism in animal model of colitis induced by dextran sulfate sodium ................................................................................. 38 III DISCUSSÃO .................................................................................................... 60 5 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 60 6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 65 7 PERSPECTIVAS............................................................................................... 66 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 67 13 I – INTRODUÇÃO 1. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL 1.1 Conceitos Fundamentais As doenças inflamatórias intestinais (DII) compreendem um amplo espectro de afecções causadas por inflamação crônica do trato gastrintestinal, podendo ter ou não uma causa ou agente patogênico específico. O termo DII nãoespecífica refere-se àquelas que não possuem uma etiologia conhecida. Incluídas nesta classificação estão a colite ulcerativa, que envolve exclusivamente o cólon e reto e é caracterizada por infiltrado leucocitário na mucosa e ulceração epitelial. Outra forma importante de DII é a doença de Crohn, que pode afetar qualquer segmento do trato digestivo e é caracterizada por um processo inflamatório transmural freqüentemente granulomatoso (Ahn et al.; 2001; Podolski, 1991; Strober, 1998). Acredita-se que a primeira descrição da colite ulcerativa tenha sido feita por Samuel Wilks em 1859 (Corman, 2005). 1.2. Epidemiologia A colite ulcerativa afeta ambos os sexos e ocorre em todas as idades, com um pico de ocorrência entre a segunda e quarta décadas, e um segundo pico de ocorrência na sexta década de vida (Corman, 2005; Mazier, 1995). 14 Até o presente momento, o entendimento da epidemiologia dos pacientes com colite ulcerativa é limitado. Pequeno é o conhecimento sobre a distribuição e menor ainda sobre a natureza da doença. Estudos sobre a colite ulcerativa são difíceis, provavelmente por que casos leves podem ser negligenciados (Gordon, 1992), bem como em locais onde as diarréias infecciosas são muito prevalentes pode ocorrer uma superestimativa da doença. Existe ainda a dificuldade de diferenciar a colite ulcerativa da doença de Crohn, podendo passar anos de evolução até o diagnóstico definitivo (Keighley, 1998). A incidência das DII sofre diferenças geográficas e étnicas, sendo mais comum em brancos e população originária do norte da Europa, e um pouco menos comum na América do Sul, União Soviética e Japão. Assim como o câncer de cólon, indivíduos de baixo risco para a doença, quando emigram para regiões de maior prevalência da doença, passam a apresentar um risco aumentado de desenvolver a doença, sugerindo o envolvimento de fatores ambientais (Corman, 2005). De uma maneira geral, pode-se considerar uma incidência aproximada de 10 casos para 100.000 habitantes para a colite ulcerativa (Seril et al., 2003) e 3 casos para cada 100.000 habitantes para a doença de Crohn (Cotran et al., 2000). 1.3. Apresentação Clínica A colite ulcerativa geralmente apresenta-se pela primeira vez como um ataque agudo ou uma recaída em um paciente com uma história passada de um episódio de diarréia sanguínea. A diarréia na colite ulcerativa usualmente associase com exsudação de soro, secreção de muco e perda de sangue da mucosa 15 inflamada. Perturbações graves da homeostasia hídrica podem ocorrer na colite aguda. As perdas diárias do cólon inflamado variam de 100 a 1500 mL de líquido, 10 a 100 mmol de sódio e 20 a 50 mmol de potássio. Além disso, a terapia esteróide pode aumentar a perda de potássio. A apresentação clínica da doença é composta de ataques intermitentes de sangramento retal, diarréia, eliminação de muco, dor abdominal e perda de peso. A doença tem gravidade e curso clínico variáveis; geralmente os ataques começam na segunda à quarta década de vida, porém qualquer idade pode ser afetada. Em 60 a 70% dos casos há ausência completa dos sintomas entre os ataques, mas a doença recidiva com freqüência variável. Ocasionalmente, são vistos pacientes assintomáticos que possuem alterações à endoscopia colorretal. Os pacientes com DII podem apresentar anemia leve que passa despercebida clinicamente até quadro de dispnéia decorrentes da baixa taxa de hemoglobina. Existem eventualmente manifestações extra-intestinais, tais como: doença hepática (icterícia, colangite, hepatomegalia, coagulopatia), artrite (grandes articulações), lesões oculares (irite, episclerite, ceratite, blefarite, retinite, neurite retrobulbar), manifestações cutâneas (eritema nodoso, piodermite gangrenosa, ulceração aftóide), doença renal (pielonefrite, nefrolitíase) e amiloidose secundária. Não raro, os pacientes portadores de DII são levados à cirurgia de urgência devido a complicações como perfuração intestinal, hemorragia, megacólon tóxico ou eletivamente como alternativa à falha do tratamento clínico ou como prevenção do câncer colorretal. Pacientes portadores de DII têm um risco aumentado de desenvolvimento de câncer colorretal, principalmente na doença de 16 longa duração, comprometimento anatômico extenso e presença de manifestações extra-intestinais (Itzkowitz e Yio, 2004). 1.4. Diagnóstico Diferencial Na condução clínica das DII, além da colite ulcerativa e doença de Crohn, outros diagnósticos diferenciais se impõem, tais como: colite isquêmica, colite infecciosa, colite desfuncionalizante (conseqüência de ostomia prévia), colite actínica, colite eosinofílica e colite de colágeno (Keighley, 1998). 1.5. Fisiopatologia Dentro do processo fisiopatológico da colite ulcerativa, sabe-se que a diarréia sanguinolenta é conseqüência da destruição tecidual resultante da infiltração leucocitária na mucosa colônica e superprodução de mediadores próinflamatórios, como citocinas e metabólitos do ácido araquidônico (Lobos et al., 1987; Pravda, 2005; Sartor, 1991; Volwinker et al., 2004; Yavuz et al., 1999). No entanto, o gatilho inicial neste processo permanece desconhecido. Inúmeros fatores têm sido apontados como desencadeantes das DII, em especial a colite ulcerativa. Fatores microbiológicos envolvidos na gênese da colite ulcerativa, através de estudos virais e bacteriológicos, mostraram algumas diferenças em relação à população normal. No entanto, ainda está pouco claro se esses fatores são causa ou conseqüência da doença. Alterações em número, atividade ou 17 distribuição da microflora colônica também são vistos em pacientes portadores de colite ulcerativa. Estudos genéticos mostraram associação entre colite ulcerativa e antígenos do complexo maior de histocompatibilidade classe II (Pravda, 2005). Embora a colite ulcerativa e a doença de Crohn não serem desordens genéticas clássicas, a ocorrência de DII em membros de uma mesma família que vivem em áreas distantes e a incidência aumentada entre judeus, além da tendência de agregação familiar de casos com espondilite anquilosante na doença de Crohn, sugerem um mecanismo geneticamente mediado na causa destas condições. Vinte e nove por cento daqueles com colite ulcerativa e 35% daqueles com doença de Crohn têm uma história familiar positiva para DII. O primeiro lócus de suscetilibilidade para DII foi encontrado no cromossomo 16 e identificado como IBD1 (Corman, 2005). Estudos imunológicos encontraram a presença de anticorpos anti-células endoteliais e anti-citoplasma neutrofílico em pacientes com colite ulcerativa. Fatores dietéticos, especialmente leite de vaca, têm sido implicados como uma possível causa do desenvolvimento de DII. Estudos recentes têm mostrado um elevado nível de anticorpo anti-proteína do leite em pacientes com colite ulcerativa. No entanto, outros estudos falharam em mostrar qualquer relação. Outros fatores que têm sido investigados incluem aditivos químicos alimentares, ingesta de mercúrio, quantidade inadequada de fibras e excesso de açúcar refinado. Atualmente não existe um consenso sugerindo fatores alimentares como desenvolvedores de um papel na etiologia tanto da colite ulcerativa quanto da doença de Crohn (Corman, 2005). 18 Curiosamente, o fumo tem um papel protetor na colite ulcerativa. Em alguns casos, a remissão completa dos sintomas foi obtida através do uso de goma de mascar com nicotina, e em outros casos houve exacerbação da doença quando os pacientes cessaram o fumo. Inversamente, a doença de Crohn é mais comum em fumantes do que naqueles que nunca fumaram. Da mesma forma existem estudos mostrando que apendicectomia está associada inversamente com o desenvolvimento de colite ulcerativa, sugerindo algum papel na imunidade da mucosa (Corman, 2005; Pravda, 2005). Outros fatores, como o uso de contraceptivos orais sugerindo uma possível base isquêmica, estão em estudo. Fatores psicológicos envolvidos no desencadeamento ou exacerbação da colite ulcerativa apresentam resultados conflitantes, onde alguns estudos mostram uma alta incidência de esquizofrenia em pacientes portadores de colite ulcerativa, e outros estudos não demonstram qualquer relação com a gênese da doença (Corman, 2005). Evidências recentes sugerem que o metabolismo oxidativo anormal pode ter uma significância grande na atividade da DII. Atenção aumentada tem sido dada ao papel dos radicais livres no metabolismo normal e defesa contra doenças. Aparentemente, os metabólitos reativos de oxigênio são produzidos em excesso na DII em atividade (Carrier et al., 2002; Poussios et al., 2003; Reifen et al., 2004; Yavuz et al., 1999). Os efeitos de anti-inflamatórios antioxidantes específicos, como os aminosalicilatos, são compatíveis com a proposição que radicais livres têm um papel importante na patogênese das DII (Pravda, 2005; Seril et al., 2003). 19 Considerando-se que o interior do cólon é um dos locais, ou o local mais contaminado do planeta, é surpreendente imaginar o sistema de defesa que deve possuir, sendo que a função de barreira colônica, separando o lúmem intestinal de suas células estéreis, com muco formado por glicoproteínas, é o principal meio pelo qual a mucosa colônica é preservada do ataque antigênico e, como veremos mais adiante, está diretamente envolvida na etiopatogenia das DII (Pravda, 2005; Seril et al.,2003). Como comentado anteriormente, a sintomatologia clínica da colite ulcerativa é decorrente da infiltração neutrofílica no epitélio colônico. Esta infiltração leucocitária é devido à ruptura da barreira colônica com conseqüente invasão bacteriana e estímulo antigênico. Ocorre liberação de mediadores inflamatórios, como algumas citocinas e metabólitos do ácido araquidônico (Lobos et al., 1987; Sartor, 1991; Vowinkel et al., 2004), bem como liberação de radicais livres de oxigênio, o que poderia levar ao dano oxidativo, realimentando o ciclo patogênico (Fiocchi, 1997; Fiocchi et al., 1994; Grisham e Yamada, 1992). Os metabólitos do ácido araquidônico têm grande influência na função intestinal e na reação inflamatória. O ácido araquidônico é liberado por fosfolipases e metabolizado pela via da cicloxigenase para prostaglandinas e tromboxanos, e também pela via da lipoxigenase, produzindo leucotrienos, que são mediadores do processo inflamatório (Rampton e Hawkey, 1984). Pacientes com DII em atividade apresentam uma resposta exagerada a estímulo externo para produção de prostaglandinas (Riddell, 1985; Rubio et al., 1984). 20 1.6 – Tratamento clínico Até os dias atuais não existe uma terapia clínica definitiva para colite ulcerativa; os fármacos em uso visam produzir e manter estados de remissão da doença, porém sem curá-las. Ao se instituir o tratamento clínico da doença, levamos em consideração a severidade da doença (Corman, 2005). Há muitos anos os fármacos mais utilizados para o tratamento da colite ulcerativa leve e moderada são os aminosalicilatos, em especial a sulfassalazina. Inicialmente acreditava-se que a melhora do quadro era devido ao efeito antibiótico da mesma; hoje se sabe que existe uma atividade farmacológica múltipla (inibição da síntese de prostaglandinas, inibição de enzimas proteolíticas e imunossupressão); é utilizada na dose de 2 a 4 g por dia. Possui como efeitos colaterais: “rash” cutâneo, depressão da medula óssea, náuseas, cefaléia, hemólise em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, anorexia, deficiência de ácido fólico, hepatite, pancreatite, pneumonite, eosinofilia, alveolite fibrosante, colite e anormalidades nos espermatozóides, podendo levar à infertilidade masculina. Esses efeitos podem ser dose-dependentes ou devido à reação idiossincrásica. A fração ativa mais importante da sulfassalazina é o ácido 5-aminosalicílico (5-ASA), sendo efetiva para tratamento e manutenção da remissão (Corman, 2005; Dallegri et al, 1990; Miyachi et al., 1987; Pearson et al., 1996). Na colite ulcerativa moderada à severa, ou nos casos que não respondem aos aminosalicilatos, empregam-se os corticosteróides, geralmente numa dose diária inicial de 20 mg de prednisona. A budenosida é um 21 glicocorticóide que possui menos efeitos colaterais sistêmicos, porém o custo é maior. Para terapia de manutenção não é recomendado o uso dos corticosteróides, que podem ser utilizados também na forma de enemas para a colite distal (colite esquerda). Os efeitos tóxicos dos corticosteróides dependem da dose e duração do tratamento e incluem o mascaramento de abdomem agudo, doenças metabólicas ósseas e retardo no crescimento em crianças (Corman, 2005). Os imunomoduladores (azatioprina, mercaptopurina, ciclosporina) são fármacos aceitos como apropriados para o manejo por longo tempo em pacientes com DII. Seu uso racional é baseado na observação de mecanismos imunes envolvidos na patogênese da doença. O tempo necessário para o medicamento tornar-se efetivo é em torno de três meses, o que os contra-indicam para o tratamento agudo. A ciclosporina é mais potente e tem início de ação mais imediato, porém com mais efeitos colaterais (disfunção renal, neurotoxicidade e infecções oportunistas), sendo reservada para o tratamento da doença severa, refratária e com contra-indicações para tratamento cirúrgico (Corman, 2005). Mais recentemente, o uso de agente anti-fator de necrose tumoral (TNF- ), tem demonstrado efetividade em casos de doença de Crohn em pacientes corticóide-dependente ou pacientes intratáveis, bem como aqueles com fístulas crônicas. O TNF- está associado com injúria tecidual associada à endotoxemia, estimula o crescimento de fibroblastos humanos, ativa neutrófilos e osteoclastos, e é responsável pela indução de interleucina-1 e prostaglandina E2 (Corman, 2005; Wallace, 1992). 22 Outros agentes e medidas utilizadas na condução clínica das DII incluem enema de sucralfato, enema de butirato, probióticos, nicotina, agentes antidiarréicos, medidas dietéticas e psicoterapia (Corman, 2005). 23 2 – METABOLISMO E CADEIA RESPIRATÓRIA Hans Krebs propôs, em 1937, uma série de reações do metabolismo intermediário de carboidratos. Atualmente, o ciclo proposto por Krebs leva o seu nome. Há aproximadamente meio século, Kennedy e Lehninger descobriram que as mitocôndrias contêm as enzimas do ciclo de Krebs e as enzimas de oxidação dos ácidos graxos, além dos complexos respiratórios. Alguns anos depois, Palade e Sjöstrand, através da microscopia eletrônica, mostraram que a mitocôndria apresenta duas membranas, uma externa e uma interna, muito dobrada. Em 1961, Peter Mitchell propôs a teoria quimiosmótica, sugerindo que o transporte de elétrons e a síntese de ATP estão acoplados a um gradiente de prótons na membrana mitocondrial interna. Mitchell sugeriu que bombas de prótons criariam esse gradiente de prótons, que seria a força motriz para a síntese de ATP (Berg et al., 2004). Os seres vivos precisam de energia para realizar várias funções, como, por exemplo, o transporte ativo de íons e moléculas, síntese de macromoléculas e outras biomoléculas a partir de precursores simples e para a contração muscular. A energia necessária para realizar essas funções é proveniente da oxidação de substâncias na respiração celular. O ATP é o principal combustível da célula na maioria dos processos que precisam de energia. A energia é liberada pela hidrólise de ATP e serve para impulsionar uma série de reações (Nelson e Cox, 2000). 24 A glicose é a principal fonte de energia utilizada pela maioria das células e ocupa uma posição central no metabolismo. A glicose é transportada para dentro das células por proteínas transportadoras específicas. Ao entrar na célula, a glicose pode ser metabolizada em diferentes rotas metabólicas. A principal via de degradação da glicose é a glicólise, uma rota que envolve uma seqüência de reações que ocorre no citosol e forma como produto final o piruvato. Uma molécula de glicose gera duas moléculas de piruvato e de ATP. Além disso, a glicose pode participar do ciclo das pentoses, que tem como objetivo formar NADPH, um doador de elétrons de fundamental importância em biossínteses redutoras, e ribose-5-fosfato, precursor na biossíntese de nucleotídeos. Quando a célula está com elevados níveis de ATP, a glicose pode ser armazenada na forma de glicogênio, que pode ser liberado e utilizado rapidamente se a célula necessitar de energia, ou formar triacilglicerol (Berg et al., 2004; Clark et al., 1993; Marks et al., 2005; Nelson e Cox, 2000). Em organismos superiores, o piruvato, formado na glicólise a partir de glicose, pode seguir duas rotas metabólicas distintas. Quando há baixa quantidade de oxigênio, como no trabalho muscular forçado ou na hipóxia, o piruvato pode ser convertido em lactato pela enzima lactato desidrogenase, formando ATP e consumindo NADH. No entanto, só uma pequena quantidade de energia da glicose é liberada pela conversão de piruvato a lactato (Berg et al., 2004; Marks et al., 2005; Nelson e Cox, 2000). Em condições aeróbicas, o piruvato é transportado para dentro da mitocôndria e sofre ação do complexo enzimático da piruvato desidrogenase, que forma acetil coenzima A (acetil-CoA). A acetil-CoA inicia o ciclo de Krebs. É 25 importante salientar que a acetil-CoA pode ser formada também pela oxidação de ácidos graxos e aminoácidos (Berg et al., 2004; Clark et al., 1993; Marks et al., 2005; Nelson e Cox, 2000). O ciclo de Krebs ocorre na matriz mitocondrial e consiste de uma seqüência de reações onde, em cada volta do ciclo, são formadas três moléculas de NADH, uma de FADH2, duas de CO2 e uma de GTP. O NADH e FADH2 produzidos no ciclo de Krebs são carreadores de elétrons e são utilizados na cadeia respiratória para a produção de ATP na fosforilação oxidativa (Marks et al., 1996; Stryer, 1996; Nelson e Cox, 2000). Altos níveis de ATP inibem o ciclo de Krebs por mecanismos complementares em vários locais do ciclo. Um dos pontos de controle é a conversão de piruvato a acetil-CoA pela enzima piruvato desidrogenase, inibida por ATP, acetil-CoA e NADH (Williamson e Cooper, 1980). A cadeia respiratória e a fosforilação oxidativa, assim como o ciclo de Krebs, ocorrem nas mitocôndrias. A cadeia respiratória é formada por uma série de complexos protéicos, onde ocorre a transferência de elétrons doados por NADH e FADH2. A transferência de elétrons pela cadeia respiratória leva ao bombeamento de prótons da matriz para o lado citosólico da membrana mitocondrial interna. O gradiente de prótons é usado para impulsionar a síntese de ATP (Erecinska e Dagani, 1990; Heales et al., 1999; Wallace, 1999; Nelson e Cox, 2000). A cadeia respiratória é composta de quatro complexos (I, II, III e IV) e da ATPsintase (fig.2.1). O complexo I, também chamado de NADH: ubiquinona oxirredutase, realiza a transferência de elétrons do NADH para a ubiquinona, formando ubiquinol. Essa reação faz com que dois prótons sejam bombeados para 26 o espaço intermembrana. O complexo II, também denominado de succinato: ubiquinona oxirredutase, é formado pela enzima succinato desidrogenase (SDH) e três subunidades hidrofóbicas. Esse complexo participa do ciclo de Krebs e transfere elétrons do succinato para a ubiquinona e também forma ubiquinol. O complexo III, ou citocromo c oxirredutase, transfere elétrons do ubiquinol para o citocromo c, reação que serve para o bombeamento de mais quatro prótons. O complexo IV, mais conhecido como citocromo c oxidase, transfere elétrons do citocromo c para o oxigênio e forma água. Nessa etapa os últimos dois prótons são bombeados (Berg et al., 2004; Voet e Voet, 1995; Wallace, 1999). O gradiente eletroquímico formado pelo bombeamento de prótons durante a cadeia respiratória mitocondrial é utilizado como força motriz para a ATPsintase, formar ATP (fosforilação oxidativa). O ATP é transportado para fora da mitocôndria com o concomitante transporte de ADP para dentro da mitocôndria, através de um sistema antiporte (Berg et al., 2004; Heales et al., 1999; Wallace, 1999; Nelson e Cox, 2000; Voet e Voet, 1995). Deficiências no funcionamento normal da cadeia respiratória mitocondrial levam à diminuição da síntese de ATP (Heales et al., 1999). Sabe-se também que o dano causado à mitocôndria leva a uma rápida queda na produção de energia e morte celular (Ankarcrona et al., 1995). 27 Figura 1. Cadeia respiratória mitocondrial (Adaptado de Heales et al., 1999). 28 3 RADICAIS LIVRES E ESTRESSE OXIDATIVO 3.1 Radicais livres Em 1954, Gersham e Gilbert propuseram que alguns efeitos tóxicos do oxigênio poderiam ocorrer pela formação de radicais livres de oxigênio. McCord e Fridovich, em 1968, descreveram a enzima antioxidante superóxido dismutase, uma descoberta muito importante no estudo de radicais livres. A teoria da toxicidade do oxigênio pelo ânion superóxido, desenvolvido por Fridovich, em 1975, sugeria que a formação dessa espécie reativa de oxigênio “in vivo” seria responsável pelos efeitos tóxicos do oxigênio (Halliwell e Gutteridge, 1984; Pryor, 1988). Os radicais livres são definidos como qualquer espécie química capaz de existir de forma independente e que contenha um ou mais elétrons desemparelhados. Por isso, são muito reativos e atacam moléculas, como lipídeos, proteínas e DNA. Dentre os radicais livres, podem-se destacar dois grupos: as espécies reativas de oxigênio (ERO) e as espécies reativas de nitrogênio (ERN). As ERO mais importantes são o ânion superóxido, radical hidroxila, peróxido de hidrogênio, ânion hipoclorito e o oxigênio “singlet”. O óxido nítrico e o peroxinitrito constituem as principais ERN (Halliwell e Gutteridge, 1999). Os radicais livres são gerados em processos de oxidação biológica. A redução do oxigênio à água forma radicais livres, e o ânion superóxido é o primeiro radical livre formado nesse processo. Na cadeia respiratória mitocondrial, 29 5% do oxigênio utilizado não é completamente reduzido à água, e ocorre a formação de ânion superóxido. Essa ERO é muito reativa e é removida rapidamente pela enzima antioxidante superóxido dismutase (SOD), formando peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio forma o radical hidroxil e não existe nenhuma enzima que o remova. Por isso, as enzimas que decompõem o peróxido de hidrogênio, como a catalase (CAT) e a glutationa peroxidase (GPX), são tão importantes (Halliwell e Gutteridge, 1999; Cadenas e Davies, 2000). Os radicais livres são gerados em muitos processos fisiológicos e exercem funções importantes no organismo. Eles participam da fagocitose, processos de sinalização celular e estão envolvidos na síntese e regulação de algumas proteínas, em condições fisiológicas (Ward e Peters, 1995; Halliwell e Gutteridge, 1999). O óxido nítrico desempenha funções importantes no sistema nervoso central, tais como neurotransmissão, plasticidade sináptica e aprendizado e memória. O óxido nítrico também tem função importante no controle da pressão arterial (Heales et al., 1999). Os radicais livres podem provocar reações em cadeia e causar dano a um grande número de moléculas. O ataque de radicais livres a lipídios de membrana é chamado de lipoperoxidação (LPO). Na LPO, um radical livre reage com um lipídio insaturado (as membranas celulares são formadas principalmente por lipídios insaturados e proteínas), provocando uma reação em cadeia (com lipoperóxidos como produtos intermediários) e modificações das propriedades da membrana, como permeabilidade e fluidez, além de causar dano a proteínas transmembrana, como enzimas e receptores. A LPO tem como produto final, entre outros, o malondialdeído, que pode ser quantificado e usado para avaliação desse 30 processo. Os radicais livres também podem atacar proteínas, principalmente nos resíduos de cisteína. As proteínas podem sofrer alterações na sua conformação e perda na sua função. O DNA também pode ser alvo de ataque de radicais livres (Halliwell e Gutteridge, 1999). 3.2 Defesas antioxidantes Os antioxidantes podem ser definidos como substâncias que, em baixas concentrações em relação ao substrato oxidável, retardam ou previnem a oxidação desse substrato. Desse modo, os antioxidantes atuam como protetores da oxidação de biomoléculas por radicais livres e impedem a propagação da reação em cadeia provocada pelos mesmos (Halliwell e Gutteridge, 1999; Fang et al., 2002). As principais defesas enzimáticas antioxidantes são a SOD, CAT e GPX. Além disso, antioxidantes não-enzimáticos, como a glutationa reduzida (GSH), tocoferol (vitamina E) e ácido ascórbico (vitamina C), entre outros, auxiliam no combate às ERO. Os antioxidantes estão amplamente distribuídos nos organismos vivos e constituem um sistema de defesa muito importante em condições aeróbicas (Halliwell e Gutteridge, 1999; Fang et al., 2002). A SOD constitui a primeira linha de defesa enzimática contra a produção intracelular de radicais livre, catalisando a dismutação do ânion superóxido (Hollander et al., 2000). Está presente na matriz mitocondrial (MnSOD), no citosol (CuZn-SOD) e no meio extracelular. Embora o ânion superóxido 31 não seja altamente danoso, pode extrair elétrons de diversos componentes celulares causando reações em cadeia de radicais livres (Halliwell e Gutteridge, 1999). O produto resultante da reação catalisada pela SOD é o peróxido de hidrogênio que deve se retirado do meio o mais rápido possível. A CAT catalisa a degradação do peróxido de hidrogênio. Na reação, uma das moléculas de peróxido de hidrogênio é oxidada a oxigênio molecular e a outra é reduzida à água (Chance et al, 1979). Está localizada, principalmente, no peroxissoma, entretanto, outras organelas como as mitocôndrias podem conter alguma atividade da CAT. A catálise do peróxido de hidrogênio é importante pois, na presença de Fe+2, leva à formação de radical hidroxil (reação de Fenton), altamente reativo e danoso às biomoléculas. A GPX é uma enzima selênio-dependente que catalisa a redução do peróxido de hidrogênio e hidroperóxidos orgânicos para água e álcool, usando a GSH como doadora de elétrons e está localizada tanto no citosol quanto na matriz mitocondrial (Halliwell e Gutteridge, 1999). A GSH é um dos mais abundantes agentes antioxidantes biológicos, atua na conversão de dissulfidas para tióis e serve como um substrato para a GPX e glutationa S-transferase. O nível intracelular de GSH é regulado pelo equilíbrio entre sua utilização e síntese (Halliwell e Gutteridge, 1999). O organismo contém diferentes tocoferóis, mas o mais potente é o tocoferol, também conhecido como vitamina E, e é lipossolúvel. Por isso, o tocoferol está presente - nas membranas celulares, nas mitocôndrias e em lipoproteínas plasmáticas. Assim, ele quebra as reações em cadeia provocadas pelos radicais livres. Os lipoperóxidos atacam preferencialmente o -tocoferol, em 32 vez de outro lipídio de membrana. Com a oxidação, forma-se o radical tocoferoxil, que pode ser regenerado a - -tocoferol pelo ácido ascórbico ou pela GSH (Halliwell e Gutteridge, 1999; Sokol, 1989; Ward e Peters, 1995). O ácido ascórbico, também conhecido como vitamina C, tem como principal função a regeneração do -tocoferol e forma nesse processo a forma oxidada, denominada ácido deidroascórbico (Ward e Peters, 1995). O ácido ascórbico tem excelente ação antioxidante “in vitro” e atua como seqüestrador de vários radicais livres. Além disso, a vitamina C atua como cofator de enzimas envolvidas com a síntese de colágeno. 3.3 Estresse oxidativo Os radicais livres são formados normalmente no metabolismo celular. As defesas antioxidantes, enzimáticas e não-enzimáticas, atuam contra a toxicidade dessas espécies e são responsáveis pela manutenção da homeostase entre a produção e a eliminação de radicais livres. No entanto, em certas condições, pode ocorrer aumento da produção de radicais livres suficiente para ultrapassar a capacidade antioxidante ou uma diminuição das defesas antioxidantes no organismo, favorecendo o que chamamos de estresse oxidativo (Bondy e Le Bel, 1993; Cadenas e Davies, 2000). O estresse oxidativo pode provocar perda de função celular, por causar alterações no metabolismo das células. É importante ressaltar que o estresse oxidativo pode ocorrer em condições fisiológicas (fagocitose) e patológicas. 33 3.4 Colite e estresse oxidativo A colite ulcerativa é uma doença inflamatória crônica, cuja etiologia permanece desconhecida. Vários fatores etiológicos, incluindo genética, imunológicos e ambientais, têm sido implicados (Kirsner and Shorter, 1982; Jewell and Patel, 1985). Recentemente, o estado alterado do mecanismo oxidante/antioxidante no cólon inflamado tem recebido atenção (Cetinkaya et al., 2005). Evidências sugerem que ERO, como o ácido hipocloroso e derivados oxidantes são produzidos em excesso pela mucosa inflamada e podem ser patogênicos na doença inflamatória intestinal (Grisham, 1994; Keshvarzian et al., 1990; Millar et al., 1996). As fontes principais de ERO na mucosa inflamada são neutrófilos e leucócitos fagocitários ativados, capazes de produzir superóxido e uma cascata de várias espécies reativas levando à formação do radical hidroxila e peróxido. Esses produtos causam um distúrbio na estabilidade da membrana celular e morte da célula por peroxidação lipídica nas doenças inflamatórias intestinais (Buffinton and Doe, 1985; Fantone and Ward, 1982; Flohe et al., 1985). Estes produtos intermediários do metabolismo do oxigênio (superóxido, radical hidroxila e peróxido de hidrogênio) são controlados por vários mecanismos celulares de defesa antioxidante enzimáticas e não-enzimáticas (Cetinkaya et al., 2005). Pravda (2005) aponta o peróxido de hidrogênio como o principal responsável pela cascata de eventos que leva à colite ulcerativa, no que ele chama de “Teoria da Indução Radical da Colite Ulcerativa”, onde numa primeira fase, pré-clínica, denominada “indução radical”, os colonócitos são induzidos a 34 gerar um excesso de peróxido de hidrogênio não neutralizado devido ao estresse oxidativo do metabolismo celular. Radical hidroxila e peróxido de hidrogênio têm meia vida curta, o que limita sua atividade destrutiva nas moléculas intracelulares (DNA, enzimas) e estruturas extracelulares adjacentes à célula (membrana basal e junções comunicantes). Citocinas pró-inflamatórias, entretanto, podem ser carreadas a sítios distantes para exercer seus efeitos. Desse modo, a difusão inicial intermitente de peróxido de hidrogênio de células epiteliais compromete a barreira local da mucosa colônica, e causa uma transitória ativação imune resultando em produção de citocina e manifestações extra-intestinais, como artrite, uveíte e manifestações cutâneas (pioderma gangrenoso, eritema nodoso). A continuação do insulto oxidativo na barreira colônica culmina com infiltração neutrofílica, iniciando a segunda fase do processo, onde o paciente apresenta sinais de comprometimento da integridade da mucosa (sangramento). A contínua estimulação de neutrófilos da mucosa pelas bactérias fecais converte a condição em uma auto-estimulação e auto-perpetuação do processo que Pravda chama de “propagação”. O aumento do estresse oxidativo e diminuição das defesas antioxidantes têm sido demonstrados em biópsias de mucosa colônica de pacientes com DII (Lih-Brody et al., 1996). Tem sido sugerido que o desequilíbrio entre mecanismos pró-oxidantes e anti-oxidantes na DII pode ser controlado por tratamento antioxidante. Alguns agentes provaram ser efetivos em condições experimentais, tais como vitamina E, selênio, trimetazidina (Ademoglu et al., 2004; Kuralay et al., 2003; Yoshida et al., 1999) e N-acetilcisteína (NAC) (Cetinkaya et al., 2005). 35 3.5 N-acetilcisteína (NAC) A NAC tem sido utilizada largamente como antioxidante “in vivo” e “in vitro” (Cetinkaya et al. 2005). Ela também é eficiente no tratamento de algumas situações de overdose de alguns fármacos, como paracetamol (Prescott et al., 1979), e como mucolitico (De Flora, 2001). A NAC é doadora de grupos tióis que atua como um precursor da cisteína intracelular, aumentando a produção de glutationa (GSH) (Pinho et al., 2005), quando a demanda de GSH está aumentada, como durante excessivo estresse oxidativo, ou durante certos processos patológicos (Cetinkaya et al., 2005). A maioria dos efeitos benéficos da NAC é sugerida como sendo um resultado de sua habilidade tanto de reduzir cistina extracelular em cisteína, ou ser uma fonte de grupos tióis. Como fonte de grupos tióis, a NAC estimula a síntese de glutationa, aumenta a atividade da glutationa-S-transferase, e atua nos radicais oxidantes reativos (De Vries e De Flora, 1993). A NAC é também um poderoso seqüestrador do ácido hipocloroso. Esse ácido é produzido pela ação da mieloperoxidase no peróxido de hidrogênio na presença de ânions hipoclorosos e está envolvido na reação inflamatória na colite (Cetinkaya, 2005). Estudos têm mostrado que o uso de NAC está associado com prevenção de câncer colorretal associado à colite ulcerativa em associação com a supressão do dano celular nitrosativo, bem como a prevenção de pólipos colorretais (De Flora et al., 1996; De Leon e Roncucci, 1997; Serill et al., 2002). 36 3.6 Deferoxamina (DFX) A deferoxamina (DFX) é empregada rotineiramente para o tratamento de várias doenças hematológicas, com um bom perfil de segurança. É um potente quelante de ferro e tem sido estudado em eventos cardiovasculares (Hurn et al., 1995) e na sépsis (Ritter et al., 2004). Existem evidências que a deferoxamina tem a capacidade de aumentar a capacidade antioxidante da NAC (Ritter et al., 2004). A DFX pode prevenir ou reverter os efeitos da produção de radicais livres, por impedir a geração de radical hidroxila através da reação de Fenton (Vulcano et al., 2000). Embora o uso crônico possa agravar uma possível anemia nos pacientes portadores de colite ulcerativa, onde a suplementação de ferro poderia piorar o quadro clínico, baseados em estudos que demonstram uma aumento da atividade da doença nesta situação (Uritski et al., 2004), possivelmente por aumentar a produção das ERO pela reação de Fenton (Carrier et al., 2002), o uso de DFX por um curto período de tempo poderia ser benéfico ao produzir sinergismo com NAC (Ritter et al., 2004). 37 4 OBJETIVOS 4.1 Geral - Estudar o efeito da NAC e da DFX sobre a colite ulcerativa induzida por dextran sulfato de sódio (DSS) em ratos, através da análise da função mitocondrial envolvida na geração de ERO. 4.2 Específicos - Verificar o efeito do tratamento com NAC e DFX sobre os seguintes parâmetros, em tecido intestinal e sanguíneo de ratos submetidos ao modelo de colite por DSS: – Marcadores inflamatórios – Dano tecidual (Avaliação micro e macroscópica do tecido) – Metabolismo energético mitocondrial – Estresse oxidativo 38 PARTE II - RESULTADOS Oxidative stress and metabolism in animal model of colitis induced by dextran sulfate sodium Carlos R. Damiani, César A. F. Benetton, Cristhopher Stoffel, Katrine C. Bardini, Vilson H. Cardoso, Gabriela Di Giunta, Ricardo A. Pinho, Felipe DalPizzol, Emilio L. Streck Artigo submetido à revista Journal of Gastroenterology and Hepatology 39 Oxidative stress and metabolism in animal model of colitis induced by dextran sulfate sodium 1 1 1 Carlos R. Damiani , César A. F. Benetton , Cristhopher Stoffel , 2 1 1,2 Katrine C. Bardini , Vilson H. Cardoso , Gabriela Di Giunta , 3 2 Ricardo A. Pinho , Felipe Dal-Pizzol , Emilio L. Streck 1 1 Laboratório de Bioquímica Experimental, Universidade do Extremo Sul Catarinense, 88806-000 Criciúma, SC, Brazil; 2 Laboratório de Fisiopatologia Experimental, Universidade do Extremo Sul Catarinense, 88806-000 Criciúma, SC, Brazil; 3 Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício, Universidade do Extremo Sul Catarinense, 88806-000 Criciúma, SC, Brazil Correspondence: Prof. Emilio L. Streck, Laboratório de Bioquímica Experimental, Universidade do Extremo Sul Catarinense, 88806-003, Criciúma, SC, Brazil. Fax: 55 48 3341 2750. E-mail: [email protected] 40 ABSTRACT Ulcerative colitis is a chronic inflammatory disease of the gastrointestinal tract. Its etiology remains unclear, but it appears to result from a dysregulated immune response, with infiltration of phagocytic leukocytes into the mucosal interstitium. The production and release of reactive oxygen species by immune cells seems to play a crucial role in phisiopathology of colitis. The aim of this work was to evaluate the effects of N-acetylcysteine (NAC) and deferoxamine (DFX) in the treatment of colitis induced by dextran sulfate sodium (DSS) by measuring intestinal parameters of oxidative stress and mitochondrial function, inflammatory response and bowel histopathological alterations. The results show that DSS increased white blood cells count and that NAC and DFX did not prevent this effect. However, DSS increased mitochondrial respiratory chain complex IV in colon of rats and NAC and DFX prevented this alteration. Besides, thiobarbituric acid reactive substances were increased in colon of DSS-treated rats. NAC and DFX, when taken together, prevented this effect. Complex II and succinate dehydrogenase were not affected by DSS, as protein carbonyl content. We speculate that NAC and DFX might be used for treatment of colitis, but further research is necessary to clarify these effects. Key words: colitis, oxidative stress, deferoxamine, dextran sulfate sodium. respiratory chain, N-acetylcysteine, 41 INTRODUCTION Inflammatory bowel disease (IBD) consists of a group of illnesses with chronic inflammation of the gastrointestinal tract, which causes life-impairing symptoms, necessitates long-term dependence on powerful drugs and often results in debilitating surgery and even death. However, IBD etiology remains unclear and appears to result from a dysregulated immune response. 1,2 One of the hallmarks of IBD is the infiltration of large numbers of phagocytic 3 leukocytes into the mucosal interstitium. Besides the enhanced inflammatory infiltrate, extensive mucosal injury occurs, resulting in production and release of reactive oxygen species (ROS), such as superoxide and hydrogen peroxide. These species interact in the presence of transition metals such as iron in order to generate the highly reactive and cytotoxic hydroxyl radical. Hydroxyl radical is one of the most potent oxidants produced in biological systems and is capable of oxidizing and peroxidizing a wide variety of biomolecules, such as proteins, carbohydrates, lipids and DNA. In addition to classic ROS, activated neutrophils and monocytes also secrete the hemoprotein myeloperoxidase into the extracellular medium, where it catalyzes the oxidation of chloride ions via hydrogen peroxide to yield the highly reactive oxidizing and chlorinating agent hypochlorous acid. The latter has been shown to degrade gastrointestinal mucin, enhance mucosal permeability, and injure intestinal epithelial cells. 2–6 In addition, it was 42 demonstrated overproduction of ROS in the colon of IBD patients. These evidence suggest that colonic inflammation may produce high levels of oxidants that probably exceed the low antioxidant capacity and lead to epithelial cell 5 disruption. A number of studies have demonstrated the antioxidant role of NAC, including IBD animal models. Thus, NAC supplementation was found to reduce oxidative stress by improving the thiol redox status, to inhibit neutrophil and monocyte chemotaxis and oxidative metabolism and to scavenge superoxide, hydrogen peroxide and hydroxyl radicals. It has been recently shown that NAC 2 attenuates acute colitis induced by intraretal acetic acid administration, and that NAC also prevented ulcerative colitis-associated colorectal cancer induced by 7 dextran sulfate sodium (DSS). On the other hand, isolated administration of NAC 8 could produce pro-oxidant effects. For example, the oxidative metabolism of NAC +3 can generate thiyl free radicals and NAC can reduce Fe ions to participate in the 9 generation of hydroxyl radical via Fenton reaction. We recently demonstrated that the combination of N-acetylcysteine (NAC) plus deferoxamine (DFX), but not their isolated use, is an effective treatment for several inflammatory diseases. 10–12 This is of great importance in IBD, since iron seems to be involved in the oxidative damage during colitis development. We here describe the effects of NAC, DFX or both in the treatment of colitis induced by DSS by measuring intestinal parameters of oxidative stress and 43 mitochondrial function, degree of inflammatory response and bowel histopathological alterations. Methods Animals Male Wistar rats (100–120 g) obtained from Central Animal House of Universidade do Extremo Sul Catarinense were housed individually under standard conditions (12-h light/dark cycles with room temperature of 22–24°C). All studies were performed in accordance with National Institutes of Health guidelines and with the approval of Ethics Committee from Universidade do Extremo Sul Catarinense. DSS-induced colitis After 7 days of acclimation, acute colitis was induced in all rats by including 50 g/L of dextran sulfate sodium (DSS) (MW 8000; Sigma-Aldrich) in drinking water for 5 days. Rats were divided into the following eight groups, each consisting of five rats: normal control group (group I), normal control group treated with NAC 20 mg/kg s.c. (group II), DFX 20 mg/kg s.c. (group III) or both (group IV), DSSinduced colitis group (group V), DSS-induced colitis group treated with NAC 20 mg/kg s.c. (group VI), DFX 20 mg/kg s.c. (group VII) or both (group VIII). NAC was 44 administered twice a day and DFX once a day during the period of induction of 6,10–12 colitis by DSS. Tissue and homogenate preparation On the fifth day of the study, all rats were anesthetized by intraperitoneal administration of sodium pentobarbital (50 mg/kg) and killed by cardiac puncture. Blood was collected and white blood cells (WBC) count obtained with a hemacytometer chamber immediately after the obtaining of the sample. Colon was removed from the colocecal junction to the anal verge. The colon was then opened, rinsed with ice-cold isotonic saline, and the mucosal lesions were examined macroscopically. After that, the colon was cut longitudinally in two pieces for histological evaluation and tissue measurements, respectively. For histological examinations, the colon was fixed in 10% formalin, embedded in paraffin and stained with hematoxylin and eosin. The remaining colon were homogenized (1:10, w/v) in SETH buffer, pH 7.4 (250 mM sucrose, 2 mM EDTA, 10 mM Trizma base, 50 IU/ml heparin). The homogenates were centrifuged at 800 x g for 10 min and o the supernatants kept at −70 C until used for enzyme activity determination. The maximal period between homogenate preparation and enzyme analysis was always less than five days. Protein content was determined by the method described by Lowry and colleagues (1951) using bovine serum albumin as 13 standard. 45 Determination of colonic damage Macroscopic scoring of the colonic damage was performed using the criteria outlined in Table 1. 14 Histological assessment was performed by the 15 criteria outlined in Table 2. Macroscopic and microscopic scoring of tissue 5 samples were performed by an observer unaware of the treatment groups. Respiratory chain enzyme activities The activities of the respiratory chain enzyme complexes succinate: DCIP oxireductase (complex II) and succinate: phenazine oxireductase (soluble succinate dehydrogenase (SDH)) were determined according to the methods of 16 Fischer and colleagues (1985). Complex II (succinate: DCIP oxireductase) activity was measured by following the decrease in absorbance due to the reduction of 2,6-DCIP) at 600 nm with 700 nm as reference wavelength ( = 19.1 −1 −1 mM x cm ). The reaction mixture consisting of 40 mM potassium phosphate, pH 7.4, 16 mM succinate and 8 M DCIP was preincubated with 40–80 g o homogenate protein at 30 C for 20 min. Subsequently, 4 mM sodium azide and 7 M rotenone were added and the reaction was initiated by addition of 40 M DCIP and was monitored for 5 min. The activity of succinate: phenazine oxireductase (soluble SDH) was measured following the decrease in absorbance due to the reduction of 2,6-DCIP at 600 nm with 700 nm as reference wavelength ( = 19.1 −1 mM −1 x cm ) in the presence of phenazine methasulphate (PMS). The reaction mixture consisting of 40 mM potassium phosphate, pH 7.4, 16 mM succinate and 8 46 o M DCIP was preincubated with 40–80 g homogenate protein at 30 C for 20 min. Subsequently, 4 mM sodium azide, 7 M rotenone and 40 microM DCIP were added and the reaction was initiated by addition of 1 mM PMS and was monitored for 5 min. The activity of cytochrome c oxidase). The reaction buffer contained 10 mM potassium phosphate, pH 7.0, 0.6 mM n-dodecyl-d-maltoside, 2–4 g homogenate protein and the reaction was initiated with addition of 0.7 g reduced cytochrome c. The activity of complex IV was measured at 25C for 10 min. 17 (complex IV) was measured by the method of Rustin and colleagues (1994). Complex IV activity was measured by following the decrease in absorbance due to the oxidation of previously reduced cytochrome c at 550 nm with 580 nm as −1 reference wavelength ( = 19.1 mM x cm −1o Oxidative stress parameters The formation of TBARS during an acid-heating reaction was measured as 18 an index of oxidative stress as previously described. Briefly, the samples were mixed with 1 mL of trichloroacetic acid 10% and 1 mL of thiobarbituric acid 0.67% (Sigma Chemical, St. Louis, MO) and then heated in a boiling water bath for 15 mins. Malondialdehyde equivalents were determined by the absorbance at 535 nm using 1,1,3,3-tetramethoxypropane (Sigma Chemical) as an external standard. Results were expressed as malondialdehyde equivalents per milligram of protein. The oxidative damage to proteins was assessed by the determination of carbonyl groups based on the reaction with dinitrophenylhidrazine (Sigma Chemical) as previously described. 19 Briefly, proteins were precipitated by the addition of 20% 47 trichloroacetic acid and redissolved in dinitrophenylhidrazine, and the absorbance was read at 370 nm. Statistical analysis Data were analyzed by Student’s t-test or one-way analysis of variance followed by the Duncan multiple range test when F was significant. All analyses were performed using the Statistical Package for the Social Science (SPSS) software. Results In the present work, we evaluated the effects of NAC and DFX on the treatment of ulcerative colitis caused by DSS. Our results showed that DSS caused a significant increase in white blood cells (WBC) count and that NAC and DFX did not prevent such effect (F(7,32)=21.40; p<0.01), when compared to group without DSS administration. However, by evaluating only DSS-treated groups, we verified that WBC count was significantly higher in NAC-treated rats, when compared to DSS control group (F(3,16)=4.83; p<0.01) (Figure 1). As seen on Figure 2, the microscopic evaluation of the colonic damage showed increased score in DSS-treated rats. Besides, NAC and DFX, when administered alone, did not prevent this increase. When the drugs were administered together, we verified a decrease in colonic damage score, similar to 48 that obtained in control group (F(7,32)=5.75; p<0.01). However, when we evaluate only DSS-treated groups, we verified that NAC and DFX, alone or together, did not prevent the increase in microscopic score caused by DSS administration (F(3,16)=4.37; p=0.29). The macroscopic evaluation showed the same effect of DSS, but in this case the use of NAC and DFX, alone or together, decreased the levels of damage, also similar to control group (F(7,32)=5.77; p<0.01). The statistical analysis with DSS-treated groups showed the same prevention by NAC and DFX taken alone or together (F(3,16)=4.18; p<0.05). We also evaluated the activity of mitochondrial enzymes in colon of DSStreated rats. We observed that mitochondrial respiratory chain complex II (F(8)=0.53, p=0.80) and succinate dehydrogenase (F(8)=0.13, p=0.24) (Table 3) activities were not affected by DSS. However, the activity of complex IV was increased by DSS and NAC and DFX prevented this effect, when compared to control group (F(7,32)=6.12; p<0.01). Besides, by evaluating only DSS-treated groups, we verified that complex IV activity was significantly decreased in NAC and NAC plus DFX treated rats, when compared to DSS control group (F(3,16)=8.86; p<0.01) (Figure 3). Besides, we showed that DSS increased TBARS, when compared to control group (Figure 4). NAC alone did not prevented TBARS increase, but DFX alone or together with NAC prevented lipoperoxidation (F(7,32)=2.65; p<0.05). Finally, the statistical analysis of DSS-treated groups showed that NAC plus DFX treated rats presented significantly increased levels of lipoperoxidation, when compared to DSS 49 control group (F(3,16)=2.70; p<0.05). On the other hand, protein carbonyl content was not affected by DSS treatment (F(8)=0.19, p=0.96) (Table 3). Discussion Because therapeutic agents such as sulfasalazine, steroids and immunosuppressive agents are not fully satisfactory, the development of safer and more effective therapeutic agents is greatly needed. There are some studies showing that NAC and iron chelators had some benneficial effects on the treatment 20–22 of colitis. It is believed that ROS such as superoxide and hydrogen peroxide interact in the presence of iron and may enhance hydroxyl ion production via 3 Fenton reaction. It was also demonstrated that overproduction of ROS occurs in colon of IBD patients. In conclusion, colonic inflammation probably produce high levels of oxidants that exceed the antioxidant capacity and lead to epithelial cell 5 disruption. So, we tested NAC and DFX on the treatment of ulcerative colitis induced by DSS in rats. As seen on Figure 1, our results showed that WBC count were increased in DSS-treated rats. However, NAC and DFX did not prevent this effect. Besides, we verified that DSS-treated rats presented higher colonic damage score, micro and macroscopically. In this case, the histological tissue evaluation showed that NAC and DFX, when used alone or together, prevented the increase of the score. In 50 Figure 5, some representative histological slides from rats receiving water (control group) and DSS (colitis group) are shown. The colon of a rat from the control group is showed in Panel 5A. The colon of a rat from the colitis group can be observed in Panel 5B, where extensive mucosal necrosis and marked inflammatory infiltrate is shown. In Panel 5C and 5D the colon of rats with colitis and treated only with NAC or with NAC plus DFX are shown, respectively. As can be seen, there is less extensive mucosal injury in Panel 5C, and in Panel 5D, light inflammatory infiltrate. The macroscopic evaluation showed that NAC and DFX did not have the same effect, when used alone, but together were much more effective. These findings suggest that NAC nad DFX may prevent colonic damage, specially when used in association. We observed similar results by evaluating mitochondrial respiratory chain complex IV in colon, where DSS-treated rats presented a higher activity of this enzyme, and NAC and DFX, alone or in association, prevented the effect. It is possible that the process of cellular lesion and inflammation requires a higher production of ATP for tissue regeneration. As we observed, NAC and DFX seems to decrease the inflammation (by colonic damage score), and may also decrease ATP needs. Consequently, ATP production is similar to control animals. Besides, we verified that mitochondrial respiratory chain complex II and succinate dehydrogenase were not affected in colon of rats with colitis induced by DSS. An interesting finding was observed in oxidative stress parameters evaluation. TBARS, a marker of lipoperoxidation, was increased in DSS-treated rats. When used alone, NAC did not prevent such effect and DFX, alone or in association with NAC, prevented. So, it is tempting to speculate that the use of 51 NAC and DFX in association may be more interesting for the treatment of colonic damage in colitis. Evidence from literature show that NAC may enhance the We believe that the use of DFX, an iron chelator, blocked the pro-oxidant effect of NAC. Besides, we verified that protein carbonyl content, a marker of oxidative damage to proteins, were not altered by DSS. producton of ROS via Fenton 8 reaction. The hypothesis is based on the inflammatory reaction caused by DSS. It is possible that mucosal injury enhances ATP production for tissue regeneration. Consequently, more oxygen is consumed and more ROS are produced. The antioxidant capacity of colon is relatively low, and oxidative stress occurs. More tissue injury and inflammatory cells infiltration occurs, resulting in exacerbation of inflammatory response and mucosal damage. We believe that whether oxidative stress is prevented, this circle may be broken. Finally, our results suggest that NAC and DFX play an important role in prevention of oxidative damage in colon of rats with colitis. These findings clearly demonstrate that NAC and DFX have important effects on treatment of ulcerative colitis. Our results showed that these drugs prevented many effects caused by DSS. Acknowledgements This work was supported by CNPq and UNESC 52 References 1 Dong WG, Liu SP, Yu BP, Wu DF, Luo HS, Yu JP. Ameliorative effects of sodium ferulate on experimental colitis and their mechanisms in rats. World J. Gastroenterol. 2003; 9: 2533–8. 2 Cetinkaya A, Bulbuloglu E, Kurutas EB, Ciralik H, Kantarceken B, Buyukbese MA. Beneficial effects of N-acetylcysteine on acetic-acid indiced colitis in rats. Tohoku J. Exp. Med. 2005; 206: 131–9. 3 Reifen R, Nissenkorn A, Matas Z, Bujanover Y. 5-ASA and lycopene decrease the oxidative stress and inflammation induced by iron in rats with colitis. J. 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Data are expressed as nmol/min.mg protein, for five independent experiments performed in duplicate. # – Different from control (group without DSS administration) p<0.01 a – Different from DSS-control (group wit DSS administration) p<0.01 62 Figure 4 – Thiobarbituric acid reactive substances (TBARS) in colon of rats treated with DSS. Data are expressed as nmol MDA/min.mg protein, for five independent experiments performed in duplicate. # – Different from control (group without DSS administration) p<0.05 a – Different from DSS-control (group wit DSS administration) p<0.05 63 Figure 5 – Representative histological slides from rats receiving DSS. Colitis was induced in Wistar rats by DSS oral administration for five days as described under Methods. Panel A: Water (control); Panel B: DSS (colitis); Panel C: DSS plus NAC; Panel D: DSS plus NAC plus DFX. (Hematoxylin and eosin; 400x). 5A: no tissue damage; 5B: extensive mucosal necrosis and marked inflammatory infiltrate; 5C: less extensive mucosal injury; 5D: light inflammatory infiltrate. 60 PARTE III 5 DISCUSSÃO Apesar de aproximadamente cento e cinqüenta anos terem se passado desde que Samuel Wilks descreveu a colite ulcerativa (Cormam, 2005), uma terapia que possa ser considerada altamente satisfatória do ponto de vista de remissão da doença associada com baixa taxa de recidiva, e mínimos efeitos colaterais, ainda é objeto de inúmeros estudos. Talvez a dificuldade em encontrar um fármaco realmente eficaz resida no entendimento incompleto da patogênese da moléstia. Sabe-se que inúmeros fatores estão implicados, tais como a infiltração neutrofílica e a produção elevada de mediadores inflamatórios, ocorrendo uma produção excessiva de espécies reativas de oxigênio que ocasionaria ou perpetuaria o processo de dano tecidual (Pearson et al., 1996; Pravda, 2005; Yavuz et al.,1999). Neste estudo utilizou-se como marcadores da atividade inflamatória a contagem de leucócitos e dosagem da proteína C reativa. O processo inflamatório desencadeia uma resposta quimiotáxica levando à liberação medular de glóbulos brancos, geralmente ocasionando leucocitose. Os resultados mostraram que no grupo de ratos que recebeu somente água para beber, não houve aumento do número de leucócitos, sugerindo ausência de processo inflamatório neste grupo de animais. Além disso, a administração de NAC e DFX isoladamente ou em conjunto, não interferiu na contagem de 61 leucócitos. No grupo de ratos com colite induzida por DSS, houve aumento da contagem leucocitária em todos os animais, demonstrando a existência de processo inflamatório nos mesmos. O tratamento com NAC e DFX isolada ou conjuntamente não reverteu este parâmetro inflamatório. Não houve diferença estatística no grupo DSS, porém nota-se uma tendência a um maior número de leucócitos nos ratos que receberam apenas NAC. A proteína C reativa é uma proteína cuja concentração plasmática aumenta durante estados inflamatórios, uma característica que tem sido longamente empregada com propósitos clínicos. Ela rapidamente aumenta sua síntese após injúria tecidual ou infecção, sugerindo que contribua para defesa do hospedeiro e que seja parte de uma resposta imune inata, podendo ativar a via clássica do complemento, estimular a fagocitose e se ligar a imunoglobulinas receptoras. (Black et al., 2004). No presente estudo, em contraste com o esperado, não se evidenciou qualquer diferença dos níveis de proteína C reativa entre o grupo controle e o grupo que recebeu DSS, talvez por ter sido utilizado um modelo de colite aguda, o que não daria tempo da síntese hepática de proteína C reativa. O dano tecidual, seguindo escores previamente descritos por Yavuz e colaboradores (1999), foi analisado conforme parâmetros micro e macroscópicos. Nos animais que receberam apenas água para beber, não houve diferença intergrupos, independente de terem sido tratados ou não com NAC e/ou DFX. A análise microscópica do tecido evidenciou um dano tecidual nos ratos que receberam DSS, dano este que não foi amenizado pelo uso de NAC ou DFX usados isoladamente. Entretanto, nos animais com colite induzida pelo DSS que receberam NAC associada ao DFX, as alterações microscópicas 62 são estatisticamente idênticas ao grupo controle, demonstrando um efeito protetor do dano tecidual sinérgico entre os dois fármacos, fato este que corrobora com achados de estudos prévios (Ritter et al., 2004; Vulcano et al., 2000). A análise macroscópica do dano tecidual, no grupo DSS não tratado com NAC e/ou DFX mostrou alterações em relação ao grupo controle. Chama a atenção o fato de que NAC e DFX isoladamente ou em associação, preveniram o aparecimento de lesões macroscópicas, levando à níveis idênticos ao grupo que não recebeu DSS, em contraste com o achado microscópico, onde somente a associação NAC + DFX produziu melhora do dano. O complexo II da cadeia respiratória mitocondrial não foi alterado nos ratos que tiveram colite induzida pelo DSS, bem como a SDH não sofreu alterações. O complexo IV da cadeia respiratória no grupo com colite induzida por DSS e que recebeu salina como tratamento, apresentou um aumento estatisticamente significante de sua atividade, sugerindo uma maior produção de ATP, possivelmente como resposta ao processo lesão/regeneração tecidual. Os ratos com colite induzida por DSS que receberam tratamento antioxidante tiveram uma atividade do complexo IV idêntica ao grupo controle. O dano oxidativo a lipídeos, medido pelo TBARS, foi evidente no grupo colite que recebeu salina e no grupo colite que recebeu somente NAC como tratamento, confirmando estudos prévios que mostram um efeito próoxidante da NAC, presumivelmente pela reação de Fenton, com formação de radical hidroxil, efeito este que foi neutralizado pela DFX, por se tratar de um 63 quelante de ferro (Vulcano, 2000). Além disso, não foi detectado dano à proteínas nos animais tratados com DSS. No presente estudo, ficou evidente a atividade inflamatória existente nos ratos com colite induzida por DSS, pelo aumento da contagem leucocitária e pela análise macro e microscópica dos espécimes, simulando claramente o que acontece em humanos. O uso de NAC e DFX foi capaz de amenizar os danos macroscópicos nos ratos. No entanto, em nível microscópico, apenas o grupo que utilizou a associação NAC + DFX mostrou redução do dano tecidual. Isto sugere muito fortemente que a associação NAC + DFX é superior que a utilização isolada dos mesmos, embora em nível macroscópico tenha ocorrido redução dos níveis de lesão tecidual. O que se deseja no tratamento dos pacientes não é apenas a redução dos sintomas, mas também a melhora histológica das lesões, até por razões de prevenção do aparecimento de tumores secundários às DII (Itzkowitz e Yio, 2004). O papel dos radicais livres nas DII tem sido relatado em vários estudos (Carrier et al., 2002; Poussios et al., 2003; Reifen et al., 2004; Yavuz et al., 1999), fazendo crescer o interesse pelo efeito benéfico dos antioxidantes como terapia da colite ulcerativa. Neste estudo conseguiu-se demonstrar o dano oxidativo em lipídeos através do TBARS, porém o dano oxidativo em proteínas não ficou demonstrado pela medida de grupos carbonil. A NAC não foi capaz de diminuir o dano oxidativo em lipídeos, quando utilizada isoladamente e a DFX foi efetiva em diminuir o dano oxidativo a lipídeos, conforme demonstrado em nossos resultados. A colite induzida por DSS produz processo inflamatório, ocasionando um ciclo de lesão e regeneração tecidual, produzindo uma maior necessidade 64 tecidual de ATP, como foi demonstrado no presente estudo. Isto leva a um maior consumo de oxigênio pela cadeia respiratória mitocondrial, que por sua vez, aumenta a produção de ERO, que ao superar a atividade antioxidante do organismo, vai aumentar a atividade inflamatória e consequentemente o ciclo de lesão e regeneração tecidual será perpetuado. O uso de substâncias antioxidantes visa à diminuição de radicais livres circulantes e a melhora do status inflamatório da doença. No presente estudo, a associação NAC + DFX mostrou ser capaz de reduzir o dano tecidual e diminuir o dano oxidativo a lipídeos. O uso de antioxidantes como terapia de diversas doenças, dentre elas, as DII, abre novas perspectivas como alternativas no tratamento dessas patologias que promovem sintomas altamente debilitantes ao paciente, e produzem sentimentos de frustração aos profissionais da área da saúde que lidam com estes pacientes e muitas vezes não vêem resultados satisfatórios ao tratamento empregado. 65 6 CONCLUSÕES 1- A colite induzida por DSS produziu aumento da contagem leucocitária. 2- NAC e DFX não interferiram na contagem leucocitária. 3- Não houve diferença nos níveis de proteína C reativa entre os grupos sem colite e os com colite induzida por DSS. 4- O dano tecidual macroscópico foi amenizado pelo uso de NAC e DFX utilizados em conjunto ou isoladamente. 5- O dano tecidual microscópico foi mantido quando utilizamos NAC e DFX isoladamente, e foi amenizado somente no grupo que utilizou NAC associada ao DFX. 6- Os ratos com colite induzida por DSS apresentaram um aumento da atividade do complexo IV da cadeia respiratória, que foi neutralizado pelo uso de NAC e DFX isoladamente ou em associação. 7- A atividade do complexo II da cadeia respiratória, bem como a atividade da SDH não foi modificada pelo DSS. 8- Não houve dano oxidativo em proteínas, nos ratos com colite induzida por DSS. 9- Os ratos com colite induzida por DSS apresentaram dano oxidativo a lipídeos. 10- O uso de DFX ou DFX + NAC preveniu o dano oxidativo a lipídeos. 11- O uso de NAC isoladamente não preveniu o dano oxidativo a lipídeos. 66 7 PERSPECTIVAS A partir do presente trabalho pretende-se continuar as pesquisas realizando estudos com fármacos de uso corrente no tratamento das DII, tais como sulfassalazina, ácido 5-aminosalicílico e corticosteróides, fazendo comparações quanto à melhora do quadro de dano tecidual e oxidativo em modelo animal de colite e/ou enterite, em relação aos antioxidantes. Pode-se, assim, esclarecer mais dados da fisiopatologia e tratamento das DII, visando identificar novos agentes terapêuticos que apresentem melhora do quadro da doença com custos e efeitos indesejáveis menores que os fármacos atualmente disponíveis. 67 REFERÊNCIAS ADEMOGLU, E.; ERBIL, Y.; TAM, B.; BARBAROS, U.; ILHAN, E., OLGAC, V., MUTLU-TURKOGLU, U. Do Vitamin E and selenium have beneficial effects on trinitrobenzenesulfonic acid-induced experimental colitis. Dig Dis Sci, v.49, p.102-108, 2004. AHN, B.O.; KO, K.H.; OH, T.Y.; CHO, H.; KIM, W.B.; LEE, K.J.; CHO, S.W.; HAHM, K.B. Efficacy of use of colonoscopy in dextran sulfate sodium induced ulcerative colitis in rats: the evaluation of the effects of antioxidants by colonoscopy. Int J Colorectal Dis, v.16, p.174-181, 2001. ANKARCRONA, M; DYPBUKT, J.M.; BONFOCO, E.; ZHIVOTOVSKY, B.; ORRENIUS S.; LIPTON S.A.; NICOTERA, P. Glutamate-induced neuronal death: a sucession of necrosis or apoptosis depending on mitochondrial function. 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