Curso on-line de Agricultura Orgânica Prof. Silvio Penteado Aula 2 CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA ORGÂNICO Este é o 1º Módulo do curso completo sobre agricultura orgânica. Você vai ficar sabendo tudo sobre os conceitos e fundamentos da agricultura orgânica. Também mostraremos os ramos da agroecologia, como ocorreu a degradação da agricultura e da natureza. ATENÇÃO: ESTE MÓDULO É BASTANTE TEÓRICO, POIS HÁ NECESSIDADE DE CONHECER OS CONCEITOS, FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICO, ANTES DE ENTRAR NA PARTE PRÁTICA. O primeiro passo é conhecer e observar a natureza e suas relações. Somente depois disso poderemos trabalhar na terra. QUESTÕES Qual a importância da relação solo/planta/ambiente? O que significa para o sistema orgânico a Teoria da Trofobiose, os Ecossistemas e os Ciclos naturais? Quais são os princípios e exigências para que possamos implantar o sistema orgânico? NESTA 2ª AULA SERÁ ABORDADO Conceitos e fundamentos da agroecologia Princípios básicos da agricultura orgânica Relação solo/planta/ambiente. Ciclos naturais e o Fluxo de Energia. Como funciona o ciclo da água, nitrogênio, carbono Teoria da Trofobiose AULA 2: CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA ORGÂNICO LIÇÃO 1: TEORIA DA TROFOBIOSE Esta teoria é um dos princípios básicos da agricultura orgânica. Destacam-se como autor, o pesquisador Francis Chaboussou, que publicou em 1980, Les plantes malades des pesticides, traduzido para o português como "Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos. Esta obra contém a teoria da trofobiose, que é hoje um dos pilares ou fundamentos da agricultura orgânica para explicar o comportamento da planta ante ao desequilíbrio nutricional e ao ataque de pragas e patógenos. Na sua obra, Francis Chaboussou, afirma que a presença de pragas ou patógenos não são a causa principal das plantas serem atacadas ou doentes, porém o desequilíbrio pelo emprego inadequado de adubos de alta solubilidade ou dos agrotóxicos, que afetam os seus mecanismos de defesa, liberando os radicais livres. Ele procura mostrar que uma planta em bom estado nutricional, sem excessos de nutrientes, torna-se mais resistente ao ataque de pragas e doenças. Outro ponto que o autor destaca é que o uso de agrotóxicos causa um desequilíbrio nutricional e metabólico à planta, deixando-a mais vulnerável e causando alterações na qualidade biológica do alimento. Segundo esta teoria, quando a planta absorve os nutrientes, eles são metabolizados e armazenados na forma de proteínas, processo denominado de Proteossíntese, conforme mostrado á seguir: PROTEÍNA = AMINOÁCIDO A + AMINOÁCIDO B + AMINOÁCIDO C Nestas condições, as plantas tem baixa disponibilidade de formas assimiláveis de alimentos pelas pragas e patógenos, que não possuem condições de alimentar-se de proteínas, porque não possuem enzimas para desdobrá-los. Os insetos e patógenos não possuem quantidades elevadas de enzimas como os seres humanos, pois eles possuem poucas enzimas e por isso não podem desdobrar as proteínas. Eles precisam de alimentos de constituição simples, como os aminoácidos. Quando são aplicados na planta adubos solúveis ou são empregados muitos tipos de agrotóxicos, ocorre a liberação de aminoácidos na seiva da planta, atraindo as pragas, veja a razão disso: APLICAÇÃO DE ADUBOS SOLÚVEIS: a planta transforma em proteína apenas uma parte dos nutrientes solúveis aplicados, pois sua absorção é rápida demais pela planta, não dando tempo para a produção de proteínas, pela planta. Conseqüência: Há liberação dos nutrientes em excesso na forma de açucares, aminoácidos (radicais livres), que são alimentos prontamente disponíveis para os insetos nocivos e patógenos, favorecendo seu desenvolvimento e ataque nas plantas. Não adianta nessa condição aplicar inseticidas ou fungicidas, pois a causa do ataque é a presença de alimentos prontamente assimiláveis pelas pragas na seiva da planta e o ataque continua apesar da aplicação constante de pesticidas. Ao contrário, na aplicação de adubos de lenta liberação de nutrientes (pouco solúveis), há tempo para a formação de proteínas. ADUBOS DE LENTA LIBERAÇÃO >>>>>> PROTEÍNAS (Proteosíntese) APLICAÇÃO DE PESTICIDAS: Muitos pesticidas afetam o processo de proteossintese, pois liberam micronutrientes em excesso e causam o acúmulo de aminoácidos (radicais livres) na seiva em pontos, que vão atrair e favorecer o ataque das pragas. A APLICAÇÃO DE ADUBOS SOLÚVEIS (NPK) e AGROTÓXICOS LIBERAM >>>> AMINOÁCIDOS (RADICAIS LIVRES) NA SEIVA CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E MANEJO INADEQUADO: Há muitos outros fatores que também disponibilizam os aminoácidos na seiva, atraindo as pragas. As condições climáticas adversas, como chuvas excessivas, umidade no solo, falta de luminosidade, estiagens, altas temperaturas e outros fatores climáticos, também podem favorecer a liberação dos radicais livres na seiva. O QUE FAZER QUANDO OCORRER A DISPONIBILIDADE DE AMINOÁCIDOS NA SEIVA: O emprego de produtos que estimulem a proteossintese,ou seja, a formação de proteínas, que sejam fertiprotetoras das plantas, como os micronutrientes essenciais, caldas bordalesa (em baixa concentração), calda sulfocálcica ou calda viçosa e outros, poderemos reduzir efeito negativo, pois estes nutrientes promovem a proteosíntese ou seja a formação de proteínas, reduzindo a presença de alimentos disponíveis para os insetos nocivos e patógenos. PROTEÍNA = AMINOÁCIDO A + AMINOÁCIDO B + AMINOÁCIDO C ADUBOS DE LENTA LIBERAÇÃO >>>>>>>>>>>>>>FORMA PROTEÍNAS (Proteosíntese) ADUBOS SOLÚVEIS (NPK) e AGROTÓXICOS >>>>>>> LIBERA AMINOÁCIDOS (Proteólise)- radicais livres Segundo a teoria da Trofobiose, quando a planta absorve os nutrientes, eles são metabolizados e armazenados na forma de proteínas, processo denominado de Proteosíntese. Nestas condições, as pragas e patógenos tem baixa disponibilidade de formas assimiláveis de alimentos, pois não possuem condições de alimentar-se de proteínas, porque não possuem enzimas para desdobrá-los. Eles precisam de alimentos de constituição simples, como os aminoácidos. Quando são aplicados na planta adubos solúveis ou são empregados agrotóxicos, a planta transforma em proteína apenas uma parte, liberando os demais nutrientes na forma de açucares, aminoácidos (radicais livres), que são alimentos prontamente disponíveis para os insetos nocivos e patógenos, favorecendo seu desenvolvimento e ataque nas plantas. As condições climáticas adversas, como chuvas excessivas, estiagens, altas temperaturas e outros fatores climáticos, também podem favorecer a liberação dos radicais livres na seiva. VEJA O QUE OCORRE COM UMA PLANTA EM DESEQUILÍBRIO LIÇÃO 2: A RELAÇÃO PLANTA/SOLO/AMBIENTE QUAL A IMPORTÂNCIA DESSA RELAÇÃO? O conhecimento teórico e prático é fundamental para que o produtor tenha conhecimento e consciência de todo processo agroecológico e possa trabalhar com a natureza a seu favor. Todos os procedimentos que o movimento agroecológico e as certificadoras adotam para a produção orgânica, envolvem práticas que favoreçam o equilíbrio entre o solo, as condições climáticas e a planta, isto é, buscam o equilíbrio na relação planta/solo/ambiente. Enquanto a agricultura convencional está baseada na tecnologia de produtos (inseticida, herbicida, fungicida, nematicida, bactericida, adubos solúveis, etc.), a orgânica trabalha com a tecnologia de produção ou seja no conjunto de procedimentos que envolvem a planta, o solo e as condições climáticas. A AGRICULTURA ORGÂNICA TRABALHA COM UMA VISÃO HOLÍSTICA, ISTO É, DO TODO = PLANTA/SOLO/AMBIENTE Descrição da aplicação prática da relação planta/solo/ambiente Os princípios básicos e técnicas fundamentais que devem ser adotadas obrigatoriamente nas propriedades com agricultura orgânica são: Planejamento da implantação do cultivo orgânico, antes de efetuar qualquer procedimento no terreno. Estudo de mercado, transportes, procedimentos adequados para o plantio, diversificação, colheita e comercialização, rotação de culturas, etc. Preparo mínimo do solo com equipamentos que não promovam a reversão ou a desagregação da estrutura do solo. Adoção das medidas de conservação do solo, como terraços, caixas de contenção, plantio em nível, etc. Uso de culturas e cultivares aptas às condições locais e as épocas de plantio. Seleção de plantas resistentes, considerando a produtividade e a aceitação comercial. Manejo adequado do solo, mantendo a aeração, matéria orgânica, a flora e a fauna benéficas. Condução e espaçamentos adequados para a inclinação do terreno e época de plantio. Emprego de água de fontes biologicamente e quimicamente puras. Manejo da água correto, envolvendo irrigação e drenagem. Nutrição da planta e correção do solo sob controle, empregando análises do solo e foliar. São proibidos excesso de calagem e nutrientes altamente solúveis. Emprego indispensável da adubação verde e produção local de biomassa vegetal. Fornecimento de matéria orgânica, de qualidade, principalmente rica em carbono. Aproveitamento de resíduos vegetais. Rotação, diversificação e consorciação de culturas. Plantios em faixas. Biodiversidade nos cultivos. Estabelecer condições de biodiversidade mesmo em cultivos perenes, como café, citros, etc., manejo o mato de forma alternada ou instalando áreas ou cortinas vegetais. Manejo das ervas invasoras e coberturas mortas. Quebra ventos e cercas vivas. Uso de defensivos alternativos e armadilhas específicas. Uso de produtos que aumentem a resistência das plantas e fornecimento de micronutrientes deficientes que ativem os processos de síntese de proteínas. Contabilidade da produção agrícola. AGRICULTURA ORGÂNICA = TECNOLOGIA SUSTENTÁVEL Uma tecnologia verdadeiramente sustentável deve abranger a condução do processo agrícola na relação solo/planta/ambiente, compreendendo os seguintes aspectos e procedimentos: FÍSICO: Permitir a formação de agregados e poros no solo pelo fornecimento de adequada quantidade de matéria orgânica. Proteção da camada porosa do solo contra a insolação e o impacto da chuva, com a cobertura da superfície do solo com espessa camada de matéria orgânica; adotar um espaçamento menor no cultivo para acelerar o fechamento pelas plantas; implantar a consorciação e a rotação de cultivos; fazer o preparo mínimo do solo, com menor mobilização possível da terra; e o plantio direto dos cultivos. QUÍMICO: Adubação equilibrada entre os macros e micronutrientes, Obedecer as relações adequadas para os nutrientes. Calagem dentro dos padrões ecológicos, aplicando calcário como nutriente para as plantas. Uso de fertilizantes de pouca solubilidade e de lenta liberação de nutrientes. Uso de fosfatos naturais, rochas moídas, FTE (fritas), Skrill ,entre outros. BIOLÓGICO: Manter o solo vivo, com elevada quantidade de matéria orgânica. Adotar a adubação verde, rotação e consorciação de culturas, biodiversidade e policultivos; aplicação de microorganismos no solo, como biofertilizantes. EM4, etc. Manter a área protegida com quebra-ventos, cercas-vivas, áreas de refúgio, etc. Utilizar adubos verdes para fazer a descompactação de camadas do subsolo, como guandu, crotalárias, mucunas, tremoço, etc. MECÂNICO: Fazer o plantio seguindo as curvas de níveis do terreno. Adotar as medidas de conservação do solo, como plantio em faixas, cordões de plantas resistentes à erosão (como cana). Planejar a drenagem das águas no terreno e seu armazenamento (açudes e lagos). Adotar o uso criterioso de operações mecânicas. LIÇÃO 3: OS ECOSSISTEMAS Para entender o sistema orgânico é fundamental conhecer como funciona um ecossistema e como podemos preservá-lo. 1. IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS FUNDAMENTAL: A base dos princípios agroecológicos e orgânicos são a utilização e cultivo da terra, respeitando e preservando os ecossistemas. ECOSSISTEMA: É o conjunto ou a reunião de todos os seres vivos (animais e vegetais) e elementos naturais não vivos (água, solo, pedra, ar, atmosfera, etc). Este termo significa, que na natureza, para cada condição de solo e clima se desenvolveu um grupo de organismos vivos ou não que estão harmoniosamente adaptados e interligados através de vários processos – isto é um ecossistema. IMPORTANTE: Deve ser ressaltado que toda a natureza funciona em ecossistemas. Da mesma razão como não existe fator econômico isolado, assim também não existe fator ecológico isolado. Na natureza cada membro do ecossistema depende e influência o outro. A Terra não é um depósito de fatores isolados, que se pode retirar, gastar, desperdiçar e estragar. Poderemos até fazer isto, como tem sido feito pelo homem, porém as conseqüências são nefastas. Por este abuso, ao desafiar e não respeitar os ciclos da natureza e os seus ecossistemas, quebra-se uma harmonia, com sérios reflexos para as plantas, para os animais e principalmente para o homem e a sua saúde. EQUILIBRIO HARMONIOSO: No ecossistema todos os fatores devem ajustar-se perfeitamente um ao outro, pois fazem parte de um conjunto que tem que ser harmonioso. A natureza quando agredida tenta voltar ao equilíbrio, porém o problema atual é que os homens enxergam somente fatores isolados e não os conjuntos ecológicos, que correspondem à realidade, assim tomam sintomas como causas. VEJA A COMPOSIÇÃO DE UM ECOSSISTEMA TODOS OS ELEMENTOS DE UM ECOSSISTEMA SÃO IMPORTANTES As plantas não são elementos individuais, porém fazem parte de um sistema ecológico. Devemos ao tratar com a natureza, conhecer a sua linguagem, através dos seus ecotípos. Desta forma, as plantas refletem as condições em que estão instaladas. As chamadas plantas daninhas ou inços, não são “daninhas”, mas são indicadoras do estágio em que se encontra o solo. Elas são a “pele” do solo e devem se manejadas, pois dão proteção aos solos. Pelo tipo de vegetação pode-se conhecer, como num laboratório, os problemas de um solo, como pH alto ou baixo, deficiência ou excesso de nutrientes, camadas de adensamento no subsolo, etc. Por esta razão temos que cuidar do solo e não da planta, pois devido um solo doente, temos potencialmente plantas, animais e homens deficientes ou doentes. Solo doente = plantas, animais e homens deficientes ou doentes. São exemplos de ecossistemas naturais: A Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga, o Mangue, a mata que existe na sua cidade, etc. Agroecologia nada mais é do que o estudo dos sistemas de produção de alimentos, buscando inserir no processo produtivo os processos que ocorrem naturalmente nos ecossistemas locais. Agroecologia: É como remar a favor da correnteza, deixando a natureza agir e trabalhar para nós. Para isso, precisamos entender os processos que acontecem nos ecossistemas. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2. COMPOSIÇÃO DE UM ECOSSISTEMA Para o estudo da ecologia, é fundamental conhecer os níveis de organização dos ecossistemas, desde população até biosfera, que são os seguintes: a. NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DE UM ECOSSISTEMA POPULAÇÃO: Compreende os conjuntos de indivíduos da mesma espécie, que vivem na mesma área, num mesmo intervalo de tempo. Ex: população de pássaros ou de sapos. COMUNIDADE BIOLÓGICA = FATORES BIÓTICOS: É o conjunto de populações de uma certa área, isto é, a reunião de todos os seres vivos, de diferentes espécies numa certa área: vegetais e animais. FATORES AMBIENTAIS OU ABIÓTICOS : É o conjunto de elementos ou fatores não vivos, que fazem parte da composição da área, como temperatura, água, vento, umidade, pedra, solo, etc. ECOSSISTEMA: È a reunião da comunidade biológica com todos os fatores ambientais ou abióticos + fatores bióticos (vegetais e animais). BIOSFERA : É a reunião de todos os ecossistemas do planeta ou de todos os locais onde existe vida no planeta b. NÍVEIS TRÓPICOS (Níveis alimentares) O principal fator que mantém uma comunidade num ecossistema é o nutricional. Nas relações estabelecidas entre as populações de uma comunidade predomina a de causa alimentar, conhecida como relação trófica (throfes = alimentação) Estruturalmente os organismos que compõem os fatores bióticos do ecossistema, em função das relações tróficas (alimentares), podem ser classificados em três tipos de níveis tróficos ou alimentares, a saber: 1º) Produtores de alimentos: Esses organismos são fotossintetizantes, portanto, autótrofos. Incluem-se nesse grupo os vegetais clorofilados. Também podem ser classificados como produtores os organismos, como bactérias quimiossintentizantes. Os autótrofos fotossintetizantes são conhecidos como fotoautótrofos, e os quimiossintetizantes, por quimioautótrofos. 2º) Consumidores de alimentos: Os consumidores são os organismos que se alimentam de outros organismos.Todos os animais são consumidores. Os consumidores que alimentam dos produtores são chamados de consumidores primários ou de primeira ordem ou herbívoros. Os consumidores que alimentam dos herbívoros são chamados de consumidores secundários ou de segunda ordem ou carnívoros. Os consumidores que se alimentam dos consumidores secundário são conhecidos como consumidores terciários ou de terceira ordem e assim sucessivamente. 3º) Decompositores de matéria orgânica: Os decompositores compreendem as bactérias e fungos e são também chamados saprófitos ou sapróbios ou sapróvoros. São eles que, ao se nutrirem de matéria orgânica de organismos mortos, das excreções e dos excrementos, provenientes dos mais diversos níveis tróficos (produtores ou consumidores), devolvem os gases para a atmosfera e os sais minerais para o solo (remineralização, tornando possível a reutilização dessas matérias pelos produtores). Na comunidade biótica do ecossistema existem, em geral, várias espécies de produtores, de consumidores e de decompositores. Por definição, os produtores fazem parte do primeiro nível trófico, os herbívoros do segundo nível trófico, os consumidores secundários do terceiro nível trófico e assim sucessivamente. Os decompositores compreendem o último nível trófico de cada consumidores. Relação trófica (Relação alimentar) é a relação nutricional entre os componentes vivos da comunidade. Produtores, consumidores e decompositores são níveis tróficos (níveis alimentares) da comunidade. Os produtores são autótrofos, que os seres vivos que metabolizam seu próprio alimento á partir de substâncias orgânicas ou químicas e não do consumo de outros seres vivos, Eles realizam fotossíntese (fotoautótrofos) ou quimiossintese (quimioautótrofos). Como exemplo, são os vegetais. Os consumidores podem ser herbívoros, carnívoros, ou onívoros. Os decompositores são os micros e macrorganismos do solo. A CADEIA E A TEIA ALIMENTAR A seqüência linear de organismos em que um organismo serve de alimento ao seguinte é denominada de CADEIA ALIMENTAR. O conjunto de todas as cadeias alimentares de uma comunidade é denominado teia alimentar ou rede alimentar, ou teia da vida ou rede da vida. Em comunidade aquática, os produtores são constituídos principalmente por algas microscópicas, conhecidas por fitoplâncton, os consumidores primários, por heterótrofos microscópicos, conhecidos por zooplâncton e, posteriormente, pelos peixes carnívoros. Exemplo de cadeia alimentar marinha. A AÇÃO HUMANA NA CADEIA E NA TEIA ALIMENTAR As atividades humanas de agricultura e exploração de recursos naturais implicam na interferência do homem nas cadeias e teias alimentares. A interferência do homem num ponto da cadeia alimentar altera a relação de equilíbrio nela existente. Quando um inseto é eliminado com o emprego de pesticidas, toda cadeia alimentar é contaminada com resíduos do produto. A erradicação de espécies de plantas nativas (produtores) em um ecossistema, como, por exemplo, com a utilização de pesticidas, pode elevar a população de insetos consumidores primários, a um nível maior que os consumidores secundários possam controlar, indo causar problemas em outros ecossistemas ou cultivos comerciais. PIRÂMIDES DAS CADEIAS ALIMENTARES As cadeias alimentares podem ser analisadas quantitativamente, colocandose os dados obtidos num gráfico de barras. Os ecólogos decidiram colocar as barras de cada nível trófico na posição horizontal e centralizada, formando uma pirâmide, As pirâmides são montadas em função da estrutura da cadeia alimentar. A pirâmide na cadeia alimentar pode ser de três tipos: numérica, de biomassa ou de energia. Uma cadeia alimentar, formada por capim, gafanhoto e sapos, levando-se em conta o número de indivíduos de cada nível trafico, pode a título de exemplo, ter os seguintes números 5000 capins, 500 gafanhotos 10 sapos (poderia ser colocada em seguida no topo da pirâmide uma serpente ou lagarto que se alimentam dos sapos). Deve ser destacado que a população de indivíduos diminui à medida que se distancia da base da pirâmide alimentar, pois ela depende do nível inferior para sobreviver. Desta forma poderemos verificar o que ocorre na cadeia alimentar: O emprego de agrotóxicos sobre o capim mata o gafanhoto, que mata os sapos por contaminação, que mata as serpentes que se alimentam dos sapos e assim está contaminada toda a cadeia alimentar, com reflexos imensuráveis. A erradicação de um dos componentes da cadeia alimentar afeta toda a cadeia alimentar, destruindo o equilíbrio biológico do ecossistema. Dessa forma, a exploração agrícola do local será prejudicada pela falta dos inimigos naturais. A ERRADICAÇÃO DE UM COMPONENTE DA CADEIA ALIMENTAR AFETA TODO ECOSSISTEMA O ecossistema natural está em equilíbrio biológico. O emprego de pesticidas, o desmatamento, a falta de barreiras vegetais e matas quebram a cadeia alimentar, desequilibrando o ecossistema. Uma área de cultivo instalado num ecossistema desequilibrado está sujeito às pragas e doenças pela falta de inimigos naturais. LIÇÃO 4: OS CICLOS DA NATUREZA 1. OS FLUXOS DE ENERGIA O sistema de produção orgânico é um processo holístico, isto é, é um processo de produção agrícola que leva em consideração o todo da natureza, isto é, a compreende a relação ambiente/solo/planta/homem, envolvendo todos os componentes do ecossistema e os ciclos naturais. Desta forma, é importante considerar o fluxo de energia e os ciclos da matéria no ecossistema, porque nele participam os seres vivos, o nosso planeta e os produtos materiais circulantes. O sol é a fonte de energia que mantém em funcionamento tanto a vida como os ciclos da natureza. Ao instalar um sistema de produção agrícola, devemos ter o cuidado de causar o menor impacto possível ao ecossistema local, preservando ao máximo todos os recursos dos ciclos naturais. No processo orgânico busca-se manter em equilíbrio dos ciclos no ecossistema, pois deles dependem um processo de produção sustentável e sadio. A agricultura convencional erra porque não leva em conta o equilíbrio dos ciclos, razão porque observa-se a degradação da natureza. A agricultura orgânica utiliza os fluxos de energia e os ciclos da natureza, como princípios de atuação na produção agrícola. FLUXOS DE ENERGIA: A energia é vital para a manutenção da vida e dos ciclos naturais. As plantas absorvem a luz solar e produzem alimentos para sí e para os seres vivos que se alimentam delas, constituindo os consumidores primários. Parte destes seres, utilizam uma parte dessa energia para seu próprio desenvolvimento e transferem outra parte para os consumidores secundários, terciários, etc., Cada membro da cadeia alimentar ao ser consumido por outro, transfere energia, formando um fluxo de energia dentro da cadeia alimentar, conforme representação abaixo: LUZ DO SOL >>>>> plantas (produtoras) >>> insetos (consumidor primário = herbívoros) >>>> sapo (consumidor secundário - carnívoro) >>>> cobra (consumidor terciário - carnívoro) >>>> águia (consumidor terciário- carnívoro). CONCLUSÃO: Deve ser destacado que a população de indivíduos diminui à medida que se distancia da base da pirâmide alimentar, pois ela depende do nível inferior para sobreviver. O emprego de agrotóxicos sobre as plantas quebra toda a cadeia alimentar, fazendo que não haja alimento para os seus membros, erradicando o ecossistema local. 2. CONHEÇA OS CICLOS NATURAIS Os ciclos são da água, carbono, nitrogênio, oxigênio, cálcio e fósforo. A quebra de um ciclo da natureza traz graves conseqüências para a manutenção de um ecossistema e não permite que a exploração de uma propriedade agrícola seja sustentável. 2.1. CICLO DA ÁGUA A água na natureza encontra-se na natureza em três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. A água é precipitada sobre a terra (19%) e sobre o mar (75%). A vegetação intercepta parte da precipitação, sendo a maior parte absorvida pelo solo, que alimenta os lençóis d'água, plantas e oceanos. Cerca de 6% é escoada para o mar, vinda da terra e do subsolo. Devemos saber que a água da chuva pode tomar dois caminhos: penetrar no solo, permitindo o desenvolvimento das plantas e alimentando o lenços freático que por sua vez alimenta as nascentes ou então escorrer por cima do solo, provocando erosão enchentes e assoreamento dos rios e represas. IMPORTÂNCIA PARA O PRODUTOR DO CICLO DA ÁGUA: O produtor agrícola deve ser um produtor de água. Precisa fazer um projeto de aproveitamento de toda água que chega na propriedade. Precisa fazer um projeto de drenagem das águas: das chuvas e irrigação. Necessita proteger o solo, com cobertura e o terreno com quebra-ventos para evitar a perda de águas. Planejar suas necessidades de armazenamento de água e irrigação. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.2. CICLO DO CARBONO E OXIGÊNIO O conhecimento desse assunto é de real importância para que quer conhecer e trabalhar com a agricultura ecológica e orgânica, veja a razão: O carbono não tem existência livre, ele é encontrado combinado principalmente com o oxigênio, formando o gás carbônico ou dióxido de carbono (C02). Na atmosfera o gás carbônico está presente num teor aproximado de 0,03% e também nas mesmas proporções, dissolvido na parte superficial dos mares , rios e lagos. Todos os seres vivos respiram e nesse processo absorvem o oxigênio e devolvem o gás carbônico. O oxigênio nunca acaba porque as plantas além da respiração fazem também a fotossíntese, liberando O2 para a atmosfera. IMPORTÂNCIA: A queima de combustíveis de petróleo e dos restos vegetais é uma forma prejudicial de colocar o gás carbônico na atmosfera, causando o efeito estufa. Nunca devemos queimar restos vegetais. O gás carbônico que causa o efeito estufa é retirado da atmosfera pela fotossíntese realizada pelos vegetais, utilizando a luz solar, minerais e a água, incorporando-os na forma de matéria orgânica, ou seja, compostos (proteínas, vitaminas, óleos, carboidratos, etc.) com energia armazenada. Quanto maior a área verde na propriedade é maior a fotossíntese e maior a absorção de CO2 da atmosfera, reduzindo a temperatura e o efeito estufa. A fotossíntese é promotora da protessíntese que retira os aminoácidos da seiva formando proteínas, reduzindo a disponibilidade de radicais livres para as pragas e patógenos que atacam as plantas. Todo material rico em carbono pode ser reciclado de forma controlada = compostos orgânicos. A decomposição da matéria orgânica, feita pelos fungos e bactérias, é um processo muito importante na produção de compostos orgânicos e húmus. ----------------------------------------------------------------------------------------------- 2.3. CICLO DO NITROGÊNIO O nitrogênio é um gás que ocorre livre na atmosfera, na forma molecular N2, numa proporção aproximada de 79%. Essa forma N2 não é assimilável diretamente pelas plantas, ele precisa ser tornado disponível ou seja mineralizado. O nitrogênio é utilizado pelos seres vivos, combinado com o hidrogênio na forma assimilável de amônia NH3. VEJA AGORA COMO O NITROGÊNIO PODE SER COLOCADO NA FORMA DISPONÍVEL PELAS PLANTAS: 1. O nitrogênio é fixado, isto é transformado de N2 para NH3, em reduzida parte por fenômenos físicos, como tempestades e faíscas elétricas. Uma chuva pode incorporar ao solo até 170 kg de nitrogênio disponível para as plantas. 2. Por processo industrial de fixação do nitrogênio da atmosfera, que tem 78% de nitrogênio. Este processo ocorre na fabricação de adubos químicos solúveis, como a uréia e sulfato de amônia. 3. Pela ação biológica, realizada pelas bactérias, algas azuis e fungos, que podem viver livres no solo ou associados a plantas leguminosas (bactérias do gênero Rhizobium). PARA NÃO UTILIZAR ADUBOS QUÍMICOS SOLÚVEIS, PODEMOS UTILIZAR A NATUREZA PARA PRODUZIR O NITROGÊNIO, PELA AÇÃO BIOLÓGICA. Através da excreção ou morte, com a decomposição controlada, os produtos nitrogenados dos organismos vivos são devolvidos ao meio ambiente. Os compostos orgânicos nitrogenados são degradados no ambiente do solo por bactérias e fungos, transformando-os em amônia. A decomposição que apresenta no final a amônia, se denomina amonificação. Uma parte importante do processo é a transformação da amônia NH3 em nitrato NO3 (nitrificação), por ação de bactérias Nitrosomonas, Nitrosococcus e Nitrobacter, permitindo a absorção do nitrogênio pelas plantas. A amônia produzida pelos biofixadores, citados acima ou produzidos pela amonificação, pode ser aproveitada pelas bactérias nitrificantes ou ser transformada em N2, desprendendo-se para a atmosfera. A devolução do N2 para a atmosfera é chamada de denitrificação e é realizada pelas bactérias denitrificantes (Pseudomonas denitrificans). Apesar de parecer indesejável, este é um processo positivo, pois evita que o solo contenha teores excessivos de nitratos. IMPORTANTE: As plantas leguminosas fixam o nitrogênio da atmosfera, beneficiando as culturas e podendo dispensar a aplicação de adubos nitrogenados. A presença dos microrganismos no solo é fundamental para a liberação dos nutrientes na forma assimilável pelas plantas. A decomposição controlada dos materiais orgânicos também fornece os nutrientes para as plantas. ATENÇÃO: O EXCESSO DE NITRATOS PREJUDICA A SAÚDE: Os nitratos, que no solo transforma-se em nitritos, é uma das substâncias conhecidas como venenos respiratórios, pois combinam-se à hemoglobina do sangue, formando a metahemoglobina, que causam uma anemia muito grave para o homem, a metahemoglobinemia. A agricultura orgânica dispensa o emprego de fertilizantes solúveis ou mesmo o excesso de adubos orgânicos, como estercos de galinha e outros. A aplicação de adubos químicos altamente solúveis em excesso no solo pode contaminar as águas subterrâneas e as próprias verduras com nitratos e nitritos, causadores da metahemoglobinemia. No processo orgânico deve-se conhecer e seguir os parâmetros estabelecidos pelo fluxo de energia e os ciclos naturais, para ter um cultivo saudável e equilibrado. As plantas produzem matéria orgânica e são consumidas como alimento pelos consumidores primários. Estes são alimentos pelos consumidores secundários e assim por diante na cadeia alimentar. A contaminação das plantas e dos consumidores primários, vão permitir a contaminação de toda cadeia alimentar. Todos os seres vivos produzem resíduos orgânicos enquanto vivem ou depois da sua morte. Os organismos decompositores aproveitam a energia desses resíduos, devolvendo para o ambiente: minerais, água, gás carbônico, que novas plantas irão utilizar para produzir mais matéria orgânica, estabelecendo novo ciclo.