UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CURSO DE ENFERMAGEM DISCIPLINA: FITOTERAPIA PROF.ª DANIELLA KOCH DE CARVALHO PRINCIPIOS ATIVOS DE PLANTAS MEDICINAIS METABOLISMO DAS PLANTAS As plantas, durante o seu crescimento, e na vida adulta, sintetizam e armazenam substâncias utilizando-se de duas principais vias metabólicas. A primeira, chamada de metabolismo primário, é responsável pelas funções vitais do organismo vegetal e produzem a celulose, o amido, os lipídios e as proteínas como exemplo de substâncias que satisfazem as necessidades básicas das células vegetais. METABOLISMO SECUNDÁRIO A segunda via metabólica, chamada de metabolismo secundário, é responsável por funções no vegetal que embora não sejam necessariamente essenciais para a vida da planta garantem vantagens a sua sobrevivência e a perpetuação da espécie. São exemplos do metabolismo secundário, a proteção contra os raios U.V., a atração de polinizadores ou de animais dispersores de sementes, adaptação da planta ao solo entre outros. Os princípios ativos são substâncias provenientes do metabolismo secundário das plantas, e são responsáveis pela atividade terapêutica das mesmas. Eles se concentram em várias partes do vegetal preferencialmente nas flores, nas folhas e nas raízes e às vezes nas sementes, nos frutos e nas cascas. As plantas não apresentam uma concentração uniforme de princípios ativos durante seu ciclo de vida, eles variam com o habitat, a colheita e a preparação. Geralmente, numa mesma planta, encontra-se vários componentes ativos dos quais um, ou um grupo, determinam a ação principal. Quando um princípio ativo é isolado, normalmente apresenta uma ação diferente daquela apresentada pela planta inteira, ou seja, pelo seu fitocomplexo. ALCALÓIDES: São substâncias que em solução são levemente alcalinos e dão sabor amargo às plantas. Foram os primeiros princípios ativos a serem isolados. Os alcalóides, raramente possuem estrutura simples, além de possuir uma variedade estrutural enorme o que explica as diversas atividades terapêuticas por eles desenvolvidas. Quimicamente são compostos orgânicos nitrogenados, com o nitrogênio heterocíclico (geralmente amina e mais raramente amida). Os alcalóides representam 0,3 a 1% do peso seco da planta, embora na Cinchona ledgeriana (quina), possam chegar a 10%. Os romanos também faziam uso de alcalóides em homicídios. Os principais alcalóides em questão eram a hiosciamina, a atropina e a baladonina, todos derivados de Atropa belladonna. Além dos gregos e romanos, muitas outras culturas antigas usavam e ainda usam alcalóides como venenos, principalmente para o envenenamento de setas empregadas em caçadas e guerras. Exemplos disso são o extrato seco do curare (Chondodendron tomentosum), contendo o alcalóide tubocurarina, utilizado pelos índios da Bacia Amazônica, e a famosa estricnina extraída de Strychnos nux vomica por nativos asiáticos. Principais ações dos Alcalóides: Analgésico narcótico: ex.: Morfina (retirada da planta conhecida como papoula, Papaver somniferum L.) Amebicida e Emética: Emetina (retirada da planta conhecida como Ipeca, Cephaelis ipecacuanha) Antimalária: ex.: Quinina (retirada da planta conhecida como quina, Chichona spp.) Antitumorais: ex.: Vincristina e Vinblastina (retirada da planta conhecida como vinca, Catharanthus roseus) Vasoconstritora: ex.: Pilocarpina (retirada da planta conhecida como jaborandi, Pilocarpus jaborandi) HETEROSÍDEOS: São substâncias amplamente distribuídas no reino vegetal, tem um sabor mais amargo do que os dos alcalóides. Apresentam ações e efeitos tão diversos que é impossível agrupá-las sob um conceito químico. Todos os heterosídeos possuem em comum a capacidade de, por hidrólise, formarem uma porção açúcar e uma porção não açúcar (chamada de aglicona ou genina). Geralmente a porção aglicona é que determina a atividade heterosídeo. Os primeiros heterosídeos isolados eram derivados da glicose e por isso foram chamados de glicosídeos, sendo utilizados por muito tempo esta denominação para todos os heterosídeos. Hoje chamamos de glicosídeos apenas heterosídeos derivados da glicose. Heterosídeos cardioativos, heterosídeos flavônicos, heterosídeos saponosídeos. antraquinônicos, heterosídeos Principais ações dos Heterosídeos: Cardioativa: ex.: digitoxina (retirada da planta conhecida como dedaleira, Digitalis purpúrea L.) Diurética: ex.: Uvaursina (retirada da planta conhecida com uva-ursi, Arctostaphylos uva-ursi L.) Colerética e colagoga: ex.: cinarina (retirada da planta alcachofra – Cynara scolymus L.) Analgésica: ex.: capsaicina (retirada da planta capsicum, Capsicum spp.) FLAVONÓIDES: Diversos vegetais usados na Medicina Popular tem ações atribuídas aos flavonóides, pois são substâncias que formam um grupo muito grande de constituintes e uma ampla distribuição no reino vegetal. São de coloração amarela (flavus = amarelo) e são, depois da clorofila o pigmento mais abundante na natureza. Na planta, os flavonóides atuam protegendo-as dos raios U.V. e visíveis, dos insetos, fungos, vírus e bactérias, atraem insetos para a polinização, ajudam se apresentar com ou sem moléculas de açúcar em sua estrutura. Os nomes dados aos flavonóides tem relação a planta onde foram encontrados pela primeira vez, ex.: quercetina (da planta Quercus spp.); Calendulina (da calêndula); Ginkgobilobina (do Ginkgo), etc.... O resveratrol é um composto fenólico de grande importância, pois acredita-se que ele diminui o risco de doenças cardíacas. Fontes de resveratrol são a uva (Vitis vinifera) e o amendoim (Arachis hypogea). Principais ações dos Flavonóides: Permeabilidade e Resistência capilar: ex.: quercetina (retirada da planta conhecida como castanha-da-índia Aesculus hippocastanum) Sedativa: ex.: Apigenina (retirada do maracujá Passiflora sp) Antiespasmódica: ex.: rutina (retirada da arruda – Ruta graveolens L.) Captadora de radicais livres: ex: Ginkgobilobina (retirada do Ginkgo biloba) Distúrbios cardíacos: ex.: bilobetina (retiradas do Ginkgo biloba) Anti-reumática: ex.: Salicilina (retirada do salgueiro – Salix alba) Antiinflamatória: ex.: artemitina (retirada da planta conhecida como ervabaleeira – Cordia verbenacea) SAPONINAS: As saponinas são assim chamadas pela propriedade que tem estes compostos de formar espuma abundante, quando agitadas com água, semelhantes ao sabão. Estes compostos favorecem a atuação de outros princípios ativos da planta, mas em excesso podem ser irritantes. As saponinas favorecem a ação dos demais princípios ativos da planta. Quimicamente são substâncias de elevado peso molecular que apresentam em sua estrutura uma porção com características Lipofilicas (solúveis em gorduras) e outra com características Hidrofílicas (solúveis em água). Principais ações das Saponinas: Diurética: ex.: Esquisetonina (retirada da cavalinha – Equisetum arvense) Estimulante Imunológico: ex.: asiaticosídeo (retirado da Centella asiática) Contra-colesterol: ex.: proto-panaxadiol (retirado do Ginseng coreano) Antiviral: ex.: Alcaçuz (Gymnema sylvestris) CUMARINAS: As cumarinas estão amplamente distribuídas no reino vegetal. Quimicamente são estruturas derivadas do ácido O-hidroxi-Benzopiran-2-onas. Principais ações das Cumarinas: Anticoagulantes: ex.: trevo-de-cheiro branco Broncodilatadora: ex.: Guaco Estomáquica e Carminativa: ex.: Angélica. ANTRAQUINONAS: Desde a antiguidade as quinonas tem sido usadas pelas atividades farmacológicas que possuem. A presença destes compostas está relacionada com a proteção contra insetos e outros patógenos. As antraquinonas são as quinonas mais abundantes na natureza e as que se tem mais estudo. Quimicamente são compostos orgânicos provenientes da oxidação dos fenóis. Principais ações das Antraquinonas: Laxativas: ex.: cáscara-sagrada (Rhamus alexandrina), babosa (Aloe vera). Bactericidas e Antitumorais: ex.: Ipê-roxo Corante: ex.: hena purshiana), sene (Senna MUCILAGENS E GOMAS: Existe uma diferença fundamental entre gomas e mucilagens. As gomas tem origem acidental, patológica e encontram-se muitas vezes localizadas nas raízes e caules a diferentes profundidades, resultando de modificações na membrana celular do vegetal ex.: goma arábica (ação mucoprotetora e laxante - Acacia senegal) As mucilagens são produtos normais do metabolismo das plantas e encontramse sempre nas mesmas espécies, nos mesmos tecidos e em várias partes da planta: raízes, flores, sementes e folhas. As mucilagens agem protegendo as mucosas contra os irritantes locais, atenuando as inflamações. As mucilagens não devem sofrer ebulição prolongada pois o calor diminui a atividade biológica. Ex.: babosa, semente de linhaça. Quimicamente são polissacarídeos acíclicos. Em contato com a água, as mucilagens tornam-se gelatinosas;em geral participam de medicamentos indicados para combater prisão de ventre e no próprio vegetal tem importância na translocação de água por ocasião da germinação. Principais ações das mucilagens: Expectorante: ex.: semente de linhaça (Linum usitatissimum) Cicatrizante: ex.: alantoína (retirada do confrei – Symphytum officinale L.) Laxante: ex.: ramnose (retirada da cáscara-sagrada – Rhamnus purshiana) Emoliente: ex.: pentose e hexoses (retiradas da malva - Malva sp) TANINOS: Os taninos são substâncias vegetais que possuem a propriedade de precipitar as proteínas da pele e das mucosas, transformando-as em substâncias insolúveis, sendo, portanto responsáveis pela ação adstringente (contraem os tecidos), atuando por isso, como anti-hemorrágico. Os taninos são responsáveis pela adstringência de muitos frutos e de outros produtos vegetais. Quimicamente são substâncias fenólicas(Polihidroxilados) solúveis em água. É provável que ocorra mais em células jovens, uma vez que os frutos verdes ricos em taninos, quando atingem a maturidade, perdem seu teor. Principais ações dos Taninos: Cicatrizante: ex.: confrei (Symphytum officinale L.) Adstringente: ex.: sálvia (Salvia officinale), hamamelis (Hamamelis virginiana) Antidiarréica: ex.: goiabeira, jabuticaba Bactericida: ex.: calêndula (Calêndula officinalis) Hemostática: ex.: mil-folhas (Achillea millefolium) OBS: O uso excessivo de plantas que contenham taninos podem provocar irritação gástrica. ÓLEOS ESSENCIAIS: Os alquimistas chamavam os óleos essenciais como alma da planta, ou seja, a parte mais sutis do vegetal. A aromaterapia é a prática terapêutica que usa os óleos essências na prevenção e tratamento das doenças. No vegetal os óleos essenciais exercem inúmeras funções, tais como: atrair polinizadores; adaptação da planta ao solo; indução na produção de hormônios; ativação e inativação enzimática; proteção contra a perda excessiva da água; controle da temperatura, etc... Quimicamente os óleos essenciais são misturas complexas de substâncias voláteis, odoríficas e líquidas. Um mesmo vegetal pode apresentar essências diferentes, como é o caso da laranja – Citrus sp – que apresenta óleo essencial na flor, casca do fruto e na folha. Os óleos essências estão em maior concentração antes da floração; a insolação e a temperatura são fatores importantes dno momento da colheita. Principais ações terapêuticas dos Óleos Essenciais: Antiespasmódica: Camomila, Marcela, Funcho, Erva-doce, Alho Bactericida: Alecrim, Canela, Cânfora Carminativa: Funcho, Erva-doce Cardiovascular: Cânfora e Sálvia Secretolítica: Eucalipto, Anis-estrelado Anestésica Local: Cravo-da-índia Antiinflamatória: Camomila Referências • • • • ALONSO, Jorge R. Fitomedicina: curso para profissionais da área da saúde. São Paulo: Pharmabooks, 2008. p 41 -53. FERRO, Degmar. Fitoterapia: conceitos clínicos. São Paulo: Atheneu, 2008. 502 p SIMÕES, Cláudia et al. Farmacognosia da planta ao medicamento. Florianópolis/ Porto Alegre: Editora da UFSC/ Editora da UFRGS, 1999. SCHULZ, Volker; HÄNSEL, Rudolf; TYLER, Varro E. Fitoterapia racional: um guia de fitoterapia para ciências da saúde. 4. ed. São Paulo: Manole, 2002. xix, 386 p.