Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Microbiologia 2006 / 2007 Aula Desgravada Anaeróbios II 2 tipos de identificação A escolha do tipo de identificação que devemos realizar baseia-se no tempo de análise. Se pretendemos obter informação sobre um microorganismo em tempo útil recorremos a uma identificação presuntiva. Presuntiva Com elevado grau de certeza, embora não determinando qual a espécie da bactéria em análise, mas definindo com maior amplitude qualitativa o microorganismo (p.e. em vez de referir que se trata de uma bactéria da espécie Bacteroides fragillis, define apenas que se trata de um bactéria Gram -, anaeróbia, provavelmente do Género Bacteroides, sendo possível, se necessário, a determinação posterior da espécie). Pode realizar-se por 3 métodos: Sensibilidade aos antimicrobianos (colistina, vancomicina, canamicina, metronidazol) Provas bioquímicas (catalase, produção indol, redução de nitratos, poliantenol sulfonato sódio, crescimento em meios com sais biliares, alanina peptidase, urease, lecitinase/lipase) Testes cromogénicos (β-glicosidade, β-galactosidase, α-glicosidade, α-fucosidade) Definitiva Muito demorada, muito trabalhosa, muito cara. O gold standart para identificação é feito pela combinação de vários métodos. Não existe 1 método único, de referência, padrão para todos os anaeróbios. Alguns métodos funcionam para uns, outros testes para um conjunto diferente. Cromatografia Gás-Líquida (GLC) Bactéria é cultivada em meio de cultura líquido onde produz metabolitos, geralmente ácidos gordos de cadeia curta. Estes produtos filtrados são depois analisados num cromatógrafo aquecido, na fase líquida e na fase gasosa, porque muitos deles são voláteis. Trata-se de um processo complicado e demorado, já que implica mais uma cultura de bactérias (mais 24 a 48 horas). A identificação das bactérias é realizada através da proporção de 2 ou mais ácidos encontrados nas diferentes fases. (p.e razão de 3:2 ác. acético/ác. láctico no Género Bifidobacterium). Ácido butírico, valérico e isovalérico : marcadores primários Ácido láctico, succínico, fumárico, fórmico Sistemas rápidos de identificação Tal como existe o Walk Away para as aeróbias, existe também um sistema idêntico para as bactérias anaeróbias. API20A:16 carbohidratos: indol urease, gelatina, esculina, catalase - leitura visual; 24 a 48 horas ATB32A: automatizado, 4 a 12 horas ANI card: computorizado API Zym : 50 provas Cromatografia de ácidos gordos cadeia longa da parede celular Método de análise menos frequente e menos utilizado que os sistemas rápidos de identificação, apresentando diminuída especificidade e estando normalmente presente apenas em laboratórios de referência. Sondas de DNA No que aos testes de susceptibilidade aos antimicrobianos diz respeito (TSA), é de salientar que há alguns anos julgava-se que a susceptibilidade dos anaeróbios aos antimicrobianos era relativamente previsível, não requerendo a realização de TSAs. Genericamente, para as bactérias anaeróbias, a penicilina G é um fármaco de amplo espectro, tendo mantido este padrão de elevada susceptibilidade, quando comparada com as bactérias aeróbias facultativas e os fármacos de síntese mais antiga. Porém, com o tempo surgiram alguns géneros de anaeróbio que começaram a desenvolver resistência, e tendo em conta que as infecções por este tipo de microorganismo são geralmente polimicrobianas, é actualmente, mandatório realizar TSAs para bactérias anaeróbias. Esta obrigatoriedade é necessária, não só para o tratamento do doente que apresenta infecção por uma dessas espécie, mas também para o conhecimento das infecções por estas bactérias na população, com o intuito de melhorar a terapêutica. (Pressupõe-se que começamos a tratar um doente antes de conhecermos a bactéria, pois a sua identificação demora alguns dias). Os TSA utilizados são basicamente os mesmos utilizados para avaliar a susceptibilidade dos aeróbios facultativos, excepto os métodos de difusão em agár, sendo o método de Kirby-Bauer o protótipo, que contudo, não possui qualquer utilidade para avaliar a SA das bactérias anaeróbias. O padrão para TSA em anaeróbios é o método de diluição em agár em meio sólido, tratando-se do processo mais utilizado laboratorialmente. Diluição em agár Permite testar a maioria dos agentes, é mais trabalhoso e demorado, sendo utilizado pelos laboratórios de referência. Microdiluição Não adequado a estirpes de crescimento lento devido à desidratação do meio, não permitindo testar metronidazol. Método padrão TSA para bactérias aeróbios facultativos Macrodiluição Permite determinar MBC, sendo bastante demorado Outros métodos E-test (gradient point) Porém, colocam-se alguns problemas aos processos utilizados para TSA de anaeróbios. O TSA em laboratório é realizado a bactéria pura, e normalmente o doente está infectado por 3 ou 4 bactérias (criando-se necessidade de transpor os resultados in vitro para in vivo). O facto de se poder obter um resultado erróneo devido ao facto de as infecções serem na sua maioria polimicrobianas obriga a que TSA sejam executados em isolados de hemoculturas, de SNC (abcessos), infecções graves (endocardites), em cultura pura, que não tenham respondido a terapia antimicrobiana prévia, de infecções requerendo terapia prolongada e periodicamente num dado Hospital/Departamento. Em síntese : Os anaeróbios são as bactérias que mais frequentemente colonizam o corpo humano; Muitos dos agentes implicados em infecção fazem parte das populações microbianas autóctones; O laboratórios será incapaz de conseguir o seu isolamento a menos que a colheita seja adequada e o transporte da amostra nas condições adequadas; Maioria das infecções são polimicrobianas, envolvendo estirpes aeróbias e anaeróbias, o que dificulta o isolamento laboratorial e a sua valorização; O isolamento e identificação dos anaeróbios é um processo lento, trabalhoso e dispendioso; O microbiologista deve fornecer informações em tempo útil; O processamento de anaeróbios oscila entre uma “bacteriologia exaustiva” e um “relato presuntivo”; A escolha técnica deve resultar de uma discussão séria e aturada entre microbiologistas e clínicos, fortemente condicionada pelos recursos financeiros disponíveis; Os laboratórios devem ser escalonados em níveis (I, II; III), em função do nível de identificação que são capazes de atingir : Nível I: isolar, cultivar a bactéria e definir morfologicamente as colónias e o Gram dos isolados em cultura pura Nível II: I + TSA e provas biológicas simples, permitindo identificação do Género bactéria. Nível III: II + provas bioquímicas, GLC, outras provas complexas, permitindo identificação espécie bactéria Principais anaeróbios implicados em patologia humana Divisão em bacilos e cocos, Gram + / Gram - Bacilos Gram + esporulados Dentro dos bacilos Gram +, e como já viram no início do ano, há muitos bacilos Gram + que produzem esporos e tipicamente pertenciam ao Género Clostridium, bactérias ubiquitárias, presentes no solo, vegetais sedimentos marinhos, nascentes de água, sendo tipicamente exógenas ao corpo humano, embora algumas possam existir no tracto gastrointestinal do homem. E se se tratam de bactérias ubiquitárias, significa que têm uma grande capacidade de adaptação, p.e. a temperatura, podendo muitas vezes ser comensais do corpo humano, não provocando doença. Tipicamente, no Género Clostridium provocam doença, possuindo mecanismos de patogenicidade que se encontram relacionados com a sua capacidade de produção de exotoxinas, o que porém apresenta a vantagem de, pelo menos para uma parte destas bactérias do Género Clostridium, estas toxinas serem transformadas em anatoxinas (ou toxóides), para vacinação. As infecções mais importantes na História, sendo que algumas são relativamente actuais, centram-se por exemplo com a grande preocupação sanitária nos EUA com o botulismo, as toxi-infecções alimentares e a gangrena gasosa. Trata-se de uma gangrena pós-traumática, que provavelmente matou mais homens na I Guerra Mundial nas trincheiras da Flandres do que propriamente as bombas ou as balas. Os soldados eram atingidos por balas, ou estilhaços, que permitiam a inoculação da bactéria, falecendo não pelo traumatismo ou pela hemorragia mas pela gangrena gasosa. De seguida consideremos o tétano. Hoje em dia, num país com rede de saúde pública, num país como o nosso, são mais importantes as infecções endógenas, devido a habitantes normais do tubo digestivo. Historicamente, ou mesmo em países com diminuída assistência de saúde, são mais importantes as infecções exógenas. Quer se trate de uma infecção endógena ou exógena é necessário ter em conta a presença de factores predisponentes. É natural que muitos de nós possua no seu intestino Clostridium, no entanto não é por acaso que de um momento para o outro adoeçamos. Todas as espécies do Género Clostridium podem causar gangrena gasosa, mas tipicamente, e sobretudo no passado, é mais frequente por infecção pelo Clostridium Perfringens. Clostridium Perfringens Há vários tipos (A a E), que se diferenciam pelo tipo de toxinas que produzem, sendo que os tipos A, principal agente de patologia humana e C, agente da enterite necrotizante, são os mais virulentos. As toxinas produzidas apresentam vários mecanismos de patogenicidade, que podem promover a lise das hemácias, toxi-infecções alimentares, podendo também dirigir-se na sua forma activa contra PMN, plaquetas e células musculares. As estirpes que causam doença no Homem são as que existem no solo ou no tubo digestivo, sendo que a infecção ocorre normalmente por contaminação traumática ou cirúrgica (principalmente na 1ª metade do século XX, por abordagem intra-abdominal). Esta bactéria pode ainda ser responsável por abortamento séptico, septicemia pós abortamento, infecções urinárias. O esporo produzido pelo Clostridium pode viver centenas de anos no meio ambiente mantendo a sua viabilidade até encontrar um bom local com meio nutritivo e uma baixa tensão de oxigénio, onde pode proliferar. Portanto, não é difícil imaginar uma ferida perfurante, na pele, no músculo, onde quer que seja, que conspurcada com terra, permite a inoculação destes anaeróbios. Quanto a gangrena gasosa devemos salientar o seguinte: o sinal típico é a crepitação gasosa, sendo tipicamente referida a sensação de “esmagar gelo” pelos doentes. O debridamento cirúrgico implica a amputação do membro, o mais rapidamente possível. P.e. um senhor que apresenta gangrena gasosa de um pé, às 14 h. 24 horas depois a gangrena atinge o joelho e passadas mais 4 horas perdeu-se o nível de amputação., tendo o doente falecido pouco tempo depois. É portanto uma patologia com evolução muito rápida. A anaerobioso, a isquemia e o pH ácido são factores predisponentes que favorecem a proliferação bacteriana. O diagnóstico microbiológico é realizado através de hemoculturas, do pus recolhido da área de infecção, de fragmento de tecido, ou gram de pus recolhido de debridamento cirúrgico. Em termos preventivos, deve evitar-se a contaminação de feridas com terra, e a contaminação fecal em cirurgia. Clostridium tetani Pode provocar também gangrena gasosa, mas tipicamente provoca um quadro muito específico, tétano. Faz parte da população microbiana de bovinos e equídeos. Lembrando Ricardo Jorge, médico cá no Porto, homem a quem nunca se prestou devida justiça aqui na cidade, professor da Faculdade de Medicina do Porto, fez aprovar uma lei camarária que proibia as pessoas de andar descalças na rua. Como muita gente não possuía os recursos para comprar sapatos, envolviam os pés naquilo a que denominamos de trombolho, nuns panos, e porquê? Ricardo Jorge teve a noção de que por inoculação de picada ou traumatismo, conspurcada com fezes de animais, e tendo em conta a capacidade esporulação destas bactérias, poderia reduzir a incidência de tétano. A toxina produzida por esta espécie é uma exotoxina proteica, a tetanospasmina, que pode ser transformada em anatoxina para vacinação, sendo também capaz de dar origem a antitoxinas para produção de soro antitetânico. Quadro típico de tétano surge habitualmente após contaminação de ferida, existindo vários tipos. O tétano com úlceras varicosas, muito frequente nos idosos, o dos recém-nascidos, no tempo em que o cordão umbilical era cortado com uma tesoura, tétano associado a tratamentos dentários e o tétano do puerpério ou após abortamento. Portugal é o país da Europa, com excepção desta ultima vaga de adesão que se tratam de países muito rurais e por isso possuem taxas de tétano elevadas, que possui mais tétano. Esta prevalência deve-se na totalidade ao não cumprimento da vacinação atempada por parte da população, já que esta patologia é totalmente prevenida com a vacinação adequada, atempada e correctamente aplicada. Quando consideramos o tétano devemos também ter em conta a importância dos factores profissionais que condicionam uma maior exposição ao microorganismo ou aos seus esporos, como os agricultores ou os jardineiros. No que à inoculação diz respeito, o microorganismo penetra e multiplica-se no local de ferida, libertando toxina. Esta proteína difunde-se retroaxonalmente até as sinapses medulares onde inibe os neurónios inibitórios GABAérgicos, tendo como resultado final uma actividade sináptica excitatória desregulada nos neurónios motores que promovem paralisia espástica, característica do tétano. Num quadro “típico” de tétano, o tempo de incubação deve rondar os 6 a 15 dias, sendo que os primeiros sintomas são o trismus (espasmos músculos da mastigação) e risus sardonicus, encontrando-se muitas vezes associados a morte rápida por espasmo da laringe. Clostridium botulinium Espécie que pertence população microbiana do intestino de animais, contaminando terrenos, água, tratando-se do agente causador do botulismo, na maioria dos casos por toxi-infecção alimentar. Actualmente consideram-se 4 tipos de botulismo : o alimentar, feridas (muito raro), o do recém-nascido, e ind. > 12 meses sem outras causas. Existem 7 toxinas, antigénicas, de A a G. Os tipos A, B, E e F são os mais frequentemente implicados em doença humana, sendo que a toxina é produzida na fase de crescimento exponencial, e se caracteriza por inibir a libertação de Ach nas sinapses, causando paralisia flácida. Quanto ao botulismo alimentar, é de referir o caso Japonês associado ao marisco, e o caso americano, que se centra na problemática sanitária associada aos enlatados. Em Portugal, o presunto caseiro, da matança do porco durante o período digestivo, está associado a este quadro de intoxicação. Esta espécie é um habitante normal do intestino do porco, e dias antes da matança do porco realiza-se o jejum do condenado, já que em período digestivo se verificaria bacteriemias de alguns microorganismos da população normal. Depois da matança, a bactéria fica nos locais de anaerobiose, no presunto, nos ossos longos, junto ao osso. No entanto é necessário ter em conta a susceptibilidade individual à bactéria. Se várias pessoas comerem presunto contaminado, o desenvolvimento de paralisia flácida iria verificar-se a diferentes níveis. Normalmente, os primeiros músculos a serem afectados são os músculos enervados pelos pares cranianos, podendo evoluir para insuficiência respiratória. Muitas vezes, o quadro mais frequente centra-se em manifestações gastrointestinais, diarreia, vómitos, náuseas, cólicas e alterações secretoras. O diagnostico microbiológico é realizado através da pesquisa de toxinas no alimento. Clostridium difficille Trata-se de bactéria tipicamente endógena ao corpo humano. Há um determinado factor predisponente, a injecção de antimicrobianos de largo espectro (climdamicina, a ampicilina e as cefalosporinas), que alteram o ecossistema normal do intestino, promovendo a proliferação desta bactéria e o agravamento da situação clínica. Pode causar uma diarreia pós antibioterapia, mas o aparecimento de colite pseudomembranosa é extremamente grave. O tratamento destas situações é feito com vancomicina. No recém-nascido, a bactéria esta presente em 50 % dos casos, eclipsando depois do 28º dia. Em crianças com mais de 2 anos a quantidade de C. difficille é muito reduzida, surgindo com elevada preponderância em adultos que receberam antibioterapia (46%). Os factores de virulência do C. difficille são a toxina A (enterotoxina), a toxina B (citotoxina), e um inibidor da motilidade intestinal. O diagnostico microbiológico é realizado por isolamento do agente, embora seja um processo mais demorados e se possa optar pela detecção da toxina por métodos de aglutinação ou EIA, mais rápidos. Bacilos Gram + não esporulados Grupo de Géneros, que inclui Bifidobacterium, Eubacterium, Propionibacterium, Arachnia , sendo os Actinomyces os mais importantes. Todos eles são membros da população microbiana normal da pele e das mucosas, sendo tipicamente endógenas, muitas consideradas oportunistas. Podem causar infecções graves, com risco de vida. Apresenta na sua maioria crescimento lento, sendo que o Género Actinomyces pode demorar mais de 2 semanas. Actinomyces Tipicamente membros da população microbiana autóctone da boca e mucosas do Homem e outros animais. O facto de apresentarem morfologia filamentoso semelhante a fungos explica a denominação myces no Género. A espécie A. Israeli é a mais importante em patologia humana, sendo uma bactéria ainda pouco estudada, tratando-se de um importante agente de actinomicose humana. A actinomicose está na sua grande maioria associada a zona cervico facial (60%), abdominal (20%), torácica (15%) e colonização do DIU. Este dispositivo, ao fim de 3 meses está completamente colonizado por A. Israeli. As infecções por esta espécie de Actinomyces são tipicamente polimicrobinanas, sendo muito difícil o seu isolamento em cultura pura. O que é típico nas lesões por Actinomyces? Geralmente esta lesão, p.e. a actinomicose cervicofacial, causa abcesso e começa a drenar para o interior da cavidade oral, ou para o exterior, e quando começa a drenar, descarrega uma exsudado purulento, no qual as bactérias estão associadas em grãos, e têm uma cor amarelada, semelhante a grãos de enxofre,. Esta aparência é uma das pistas para identificação de infecção por anaeróbios. Há alguns anos atrás diagnosticava-se a uma doente neoplasia amigdalina, pela presença dos grãos. Posteriormente, por analise patológica verificou-se que se tratava afinal de infecção por Actinomyces, passível de tratamento com penicilina G. De referir ainda que estas bactérias são causa importante de zoonoses. Propionibacterium acne Foi inicialmente considerado patogéneo primário do acne, o que na actualidade se sabe que é falso, existindo muitos mais agentes envolvidos, entre os quais os estafilococos. Apresenta implicação emergente na medicina em quadro de endocardite na presença de prótese valvulares e de septicemia. Bificobacterium Trata-se de um Género ainda mal caracterizado. A espécie B. denticum parece ser a única com potencial patogénico, podendo ser isolada de cárie dentária, fezes, exsudado vaginal e em pneumonias. Apresenta caracteristicamente a producção de ác. acético / ác. láctico na razão de 3:2, em análise GLC. As espécies B. longum e B. breve são raramente isoladas. Arachnia A espécie A. Propionica apresenta muitas selelhanças com o Género Propionibacterium, sendo actualmente denominada como Propionibacterium propionicus. Está tipicamente associada a infecção periodontal. Bacilos anaeróbios de Gram – São bactérias ubiquitárias, tipicamente endógenas, sendo membros da população microbiana autóctone de animais e homem, na boca, tracto respiratório superior, intestino e aparelho genital. Possuem a particularidade, de estar presente em mais 50 % das amostras clínicas que contêm anaeróbios. Inclui membros dos Géneros Bacteroides (Porphyromonas e Prevotella) e Fusobacterium. Bacteroides Podem ser divididos em 2 grupos, pigmentados e não pigmentados. Acima do diafragma podem existir os pigmentados e os não pigmentados; abaixo do diafragma existem apenas Bacteroides não pigmentados, que são temíveis pela patologia que causam e pela sua resistência. Existe ainda um outro tipo de Bacteroides, que é bile resistente. Bacteroides pigmentados e Porphyromonas Inclui as espécies B. corporis, B. denticola, P. asaccharolytica, P. gingivalis, P. endodontalis. Denominam-se pigmentados por produzirem colónias pigmentadas de castanho ou negro. Estas bactérias fazem parte da população microbiana autóctone da boca, aparelho intestinal e urogenital, sendo agentes de frequentes infecções dentárias, e também ao nível do pescoço, e cabeça ou após mordedura. Bacteroides não pigmentados (bile sensíveis) - Prevotella Inclui as espécies B. bivius, B. disiens, B.oris, B, buccae, B. oralis. Embora tenham sido designados no passado como sacarolíticos, actualmente denominam-se de Prevotella, incluindo espécies pigmentadas como P. melaninogenica. Estão normalmente implicados em situações clínicas idênticas as referidas para os Bacteroides pigmentados Grupo Bacteroides fragilis (bile resistentes) Inclui as espécies B. fragilis, B. tethaiotaomicro, B. distasonis, estão normalmente implicados em situações de infecção e sépsis com ponto de partida abdominal, sendo uma das infecções mais temidas pelos cirurgiões. Fusobacterium Bactérias de morfologia longa, fina, pontas afiadas. 3 espécies principais. Fusobacterium nucleatum Membro da população microbiana autóctone da boca, tracto respiratório superior, intestino e aparelho genital, encontrando-se implicado no mesmo tipo de infecção que os Bacteroides pigmentados; Fusobacterium necrophorum Bactéria extremamente virulenta, podendo causar em crianças e jovens faringoamigdlite, com complicações locais como abcedação periamigdalina, abcedação peri-apical e tromboflebite séptica da veia jugular, e com complicações à distancia com abcedação metastática, pós bacteriemia, ao nível dos pulmões, pleura, fígado e articulações. A sua frequência diminui substancialmente após a era antibiótica; Fusobacterium ulcerans Espécie nova, isolada a partir de lesões ulceradas, regiões tropicais. Considerando os aspectos práticos e clínicos respeitantes aos bacilos anaeróbios de Gram -, devemos ter em conta que se tratam de bactéria muitos exigentes na anaerobiose, sendo um tipo de microorganismo onde o relato presuntivo ao clínico é importante. O facto de um microbiologista informar um médico que o seu doente se encontra infectado por uma bactéria do grupo B. fragilis é de extrema importância para uma terapêutica eficiente. Em termos práticos, são necessários os cuidados fundamentais para obtenção de uma boa colheita e transporte, realização de exame directo, com coloração Gram, sendo a identificação do Género em geral possível e acessível com as provas habituais. De salientar que é importante determinar o Género e o grupo, o que não é verdade para a espécie, devido ao seu menor significado clínico. A realização de TSQ (teste de susceptibilidade ao quimiotrápticos) é relevante. Cocos anaeróbios Gram + Membros da população microbiana autóctone da boca, aparelho respiratório, intestino grosso e aparelho genital, correspondendo a cerca de 30 % de todos os isolados de anaeróbios. São isolados principalmente a partir de infecções de tecidos moles, seios perinasais, abcessos cerebrais, aparelho respiratório, aparelho genital feminino e feridas cirúrgicas. São na sua maioria sensíveis a penicilina G. Os Géneros Peptococcus e Peptostreptococcus são as variantes anaeróbias dos estafiolococos e dos estreptococos. Englobam as espécies Peptococcus níger e as espécies do Género Peptostreptococcus P. anaerobius, P. asaccharolyticus, P. indolicus, P. magnus, P. micros. Neste grupo dos cocos anaeróbios de Gram – devem ainda ser considerados as espécies Staphylococcus saccharolyticus, Streptococcus hansenii e Streptococcus intermedius. Actualmente os cinco Géneros mais importantes neste grupo de bactérias são Anaerococcus, Finegoldia, Micromonas, Peptostreptococcus e Schleiferella. Peptpstreptococcus magnus Só esta espécie causa 13 % de todas as infecções por anaeróbios, sendo isolada principalmente de infecções ósseas e articulares (próteses). A sua identificação é normalmente difícil, sendo a GLC o método mais eficiente. 96 % são susceptíveis aos agentes β-lactâmicos e cefalosporinas, porém já se verifica resistência a outros antimicrobianos (metronidazol e clindamicina), sendo mandatório a realização de TSA. Cocos anaeróbios de Gram – Grupo de bactérias raramente implicados directamente em doença humana, sendo membros de algumas populações microbianas autóctones. Este grupo de bactérias pode ser identificado presuntivamente através da morfologia da colónia, morfologia bacteriana do Gram, fluorescência UV, discos antibióticos e provas bioquímicas rápidas, e identificado definitivamente através de GLC e testes de fermentação de carbohidratos. Espécie mais importante é Veilonella parvulla, diplococo Gram – com forma reniforme, que é o negativo anaeróbio, sob o ponto de vista fisiológico, da Neisseria gonorrhae e meningitidis. Mobiluncos Bacilos curvos anaeróbios, que coram de modo variável pelo Gram. Estão caracterizados em 2 subtipos morfológicos, o ShortCR (Gram -) e o LongCR (Gram +). São membros da população microbiana autóctone do tracto genital feminino, estando implicados na vaginose bacteriana. Inclui 2 especies, M. Curtisii, subsespecie curtisii, M. Curtisii, subespécie holmesii e M. mulieris. Contexto histórico Até aos anos 60 do século XX, a primeira noção que se possui, errada, de que alguém teria descrito um anaeróbio, foi van Leeuwnok??. Na 13ª ou 14ª carta deste homem a Academia de Ciências, ele descreve animáculos na ausência de ar. Porém, na microbiologia da altura, o que era visível microscopicamente era certamente um parasita anaeróbio. Pasteur em 1851, descreveu um bacilo que após contacto com ar cessava o crescimento. Pasteur era bioquímico e era pago para estudar as bactérias existentes na cultura de champanhe que se estragava. Em 1908, van Niblen descreve uma doença causada por um anaeróbio, bacilo do edema maligno. A importância dos anaeróbios começa na I Guerra Mundial devido à gangrena gasosa e ao tétano. Em 1916, Machintosh e Phill, criam o jarro de anaerobiose. É a necessidade que leva a esta criação. Nos anos 60, e até a década de 80, com o desenvolvimento da cirurgia abdominal, as bactérias anaeróbias que desenvolvem resistência aos antimicrobianos representam um perigo elevado. De salientar que já Hipócrates fazia descrições pormenorizadas de tétano, de gangrena gasosa e de botulismo. Finalmente, fica uma história passada numa zona rural da Flandres, que ficou conhecida como a maldição de Elzel (??). Esta aldeia de cerca de 2000 habitantes ficou reduzida a apenas 2 famílias. A produção de foie gras era característica dessa zona da Flandres, sendo hábito utilizar o papo do ganso, ao qual retiravam o fígado gordo (foie gras), para armazenar o azeite purificado. Este azeite que era normalmente utilizado para limpar as tesouros para corte do cordão umbilical, estava repleto de esporos de Clostridium, preexistentes no papo do animal. Por estes motivos, a quase totalidade dos recém-nascidoa falecia por botulismo, ou tétano. Peço desculpa pelo atraso e por qualquer erro que possa surgir. Para contacto, falem com o celo, ele certamente sabe do que se trata. Bom estudo. Com os melhores cumprimentos …