ARTE ROMANA Na mesma época em que a sociedade grega entrou em decadência, surgiu uma nova potência no mar Mediterrâneo: Roma. A península itálica fica ao sul do continente europeu, tem um formato que parece uma bota e está mergulhada no meio do mar Mediterrâneo. Como os gregos, os romanos construíram uma sociedade de base escravista. Considerados como um bem material, a grande maioria dos escravos eram prisioneiros de guerra que desempenhavam as mais diversas atividades. Os patrícios constituíam a classe dominante e os plebeus eram homens livres que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e às atividades agrícolas. Donos de um enorme senso prático e grande organização social e militar, os romanos souberam absorver de seu contato com diversos povos, principalmente dos gregos, fortes elementos culturais que foram difundidos em suas conquistas, por todo o mundo antigo. Rômulo e Remo os lendários fundadores da cidade de Roma se alimentam do leite da loba “Lupa Capitolina” 1 O OG GR RA AN ND DE E IIM MPPÉ ÉR RIIO OD DA AA AN NT TIIG GU UIID DA AD DE E “A Grécia conquistada conquistou seu brutal conquistador” (Horácio, poeta romano) No período imperial, fase de maior expansão territorial e militar dos romanos, seu domínio se estendia da Inglaterra ao Egito no norte da África, da Espanha ao sul a Rússia. O contato com terras estrangeiras trouxe para Roma, capital política do império, as riquezas extraídas dos países dominados, uma grande quantidade de escravos transformados em escravos, mas acima de tudo permitiram que os romanos absorvessem e desenvolvessem a culturas de outros povos. A cultura grega foi sem dúvida a mais significativa influência sobre a formação da cultura dos romanos e foram eles os responsáveis pela difusão de uma “arte que inspirou vários movimentos artísticos da Idade Moderna, incluindo o Renascimento. Por ser considerada um modelo, essa arte ― com seus critérios e princípios ― foi chamada de clássica e pela importância que teve, acabou disseminando pelo mundo seu ideal de beleza, que começou a ser considerado como universal”. (COSTA, Cristina. 1999:25) A ATTIIV VIID DA AD DEESS EEC CO ON NÔ ÔM MIIC CA ASS As conquistas militares ofereceram mão-de-obra e riquezas, além de desenvolver entre os romanos um “estilo de vida” luxuosos, requintados e exóticos, muito diferentes daquele vivido pelos primeiros grupos de romanos que conquistaram a península itálica, cuja principal atividade era a agricultura e a criação de animais. Com o desenvolvimento do comércio, sustentado por diversos portos no mar Mediterrâneo, Roma tornou-se uma das maiores cidades do mundo antigo, com cerca de 1 200 000 habitantes no século II d. C. LLEEG GA AD DO OSS D DEE R RO OM MA A As investigações arqueológicas realizadas nas últimas décadas revelam que as cidades romanas estavam organizadas em torno de duas avenidas (principais e travessas): uma no sentido norte-sul, outra leste a oeste, e uma praça (fórum) na intersecção. Os edifícios públicos agrupavam-se geralmente em torno do fórum e as avenidas principais se prolongavam até a zona 2 rural criando uma infra-estrutura de circulação que facilitava o saneamento e o abastecimento e a distribuição de água. Você reconhece esse traçado? Ele continua sendo utilizado em nossa organização urbanística. Planta urbana de cidade romana A partir dos romanos e da influência dos etruscos, povo conquistado pelos romanos e renomados construtores, o abastecimento de água passou a ser essencial com a construção de aquedutos que levavam água fresca para fontes públicas (onde cidadãos comuns obtinham água), banhos públicos e para as casas da elite que pagava por esse privilégio. Na política, mais heranças, pois quando no império romano o momento era de crise, desemprego na zona rural, cidades repletas de desocupados, escassez de todo tipo, o imperador criou a política “pão e circo”. Para que o povo se acalmasse e não se revoltasse diante das dificuldades. A elite romana patrocinava comida gratuita e diversão, pois, quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores, espetáculos de acrobacias, corridas de cavalos, que lotavam arenas e estádios, o mais conhecido deles era o Coliseu de Roma. O povo carente esquecia momentaneamente seus problemas, diminuindo as chances de revolta. 3 UM OLHAR SOBRE A ARTE EM ROMA “Temos tanto luxo que acabaremos andando sobre pedras preciosas” (Sêneca) “Fundadores do maior império de todos os tempos, os romanos acrescentaram talentos gerenciais: organização e eficiência. A arte romana é menos idealizada e intelectual que a arte grega; é mais secular e funcional. Enquanto os gregos brilhavam na inovação, o forte dos romanos era a administração. Por onde quer que marchassem, seus generais, traziam a influência civilizadora da lei e os benefícios práticos de estradas, pontes, instalações sanitárias e aquedutos.” (STRIKCLAND, 1999:16) OS ESTILOS DA PINTURA ROMANA Pinturas romanas encontrada em Pompéia, de autoria desconhecida. A maioria dos exemplos de pinturas romanas é encontrada em cidades como Herculano, Pompéia (localizadas ao redor do Vesúvio, no sul da Itália) e, naturalmente, em Roma, atual capital da Itália. Além das pinturas, os mosaicos fazem parte da produção artística romana que se espalhou, no decorrer do tempo, pela bacia mediterrânea, da Síria e da África do Norte até a península Ibérica. 4 A A PPIIN NTTU UR RA A R RO OM MA AN NA A ÉÉ,, PPO OR R TTR RA AD DIIÇ ÇÃ ÃO O,, D DIIV VIID DIID DA A EEM M Q QU UA ATTR RO O EESSTTIILLO OSS SSU UC CEESSSSIIV VO OSS:: 1. Primeiro estilo ou estilo pompeiano (fins do século II a início do século I a. C.) Imitações pintadas de fachadas de muro de mármore colorido. Eram freqüentemente embelezadas com relevos em gesso pintado, ou estuques, instauravam uma estreita relação com a arquitetura (herança grega). 2. Segundo estilo (século I a. C.) Utilização da perspectiva, do trompe l’oeil na retratação de paisagens nas paredes das casas. 3. Terceiro estilo (fins do século I a. C. a meados do século I d. C.) A retratação das paisagens se torna cada vez mais sofisticada e ornamental. A atenção voltou-se para os detalhes que compunham cenas bucólicas. 4. Quarto estilo ou estilo Fantástico (30 d.C. a 79 d. C.) Utilização de elementos decorativos exóticos e originais pertencentes ao espaço vivencial do cotidiano, e ao espaço teatral. No século XVI, estas decorações foram chamadas de “grotescas” e empregadas largamente na pintura da Renascença. Mosaico romano encontrado em Pompéia de autoria desconhecida No que diz respeito ao quarto estilo, é importante ressaltar a vasta produção de pinturas eróticas encontradas principalmente em Pompéia. 5 Pinturas eróticas sobre parede encontradas em Pompéia. A pintura de retratos foi muito desenvolvida na época romana, mas por causa do suporte extremamente perecível (madeira), pouco são os retratos que chegaram até nós. Famosos são o de El-Fayyum (ou El-Faiyum), uma série de retratos funerários que eram colocados sobre o rosto do morto sepultado nas areias áridas do deserto. Retrato funerário de homem, de El-Fayyum no Egito. II século d.C. Encáustica sobre painel. Museu Metropolitan, N.Y. 6 Retratos funerários de jovens senhoras de El-Fayyum no Egito. Século II d.C. Encáustica sobre painel de autoria desconhecida E ESSC CU UL LT TU UR RA A As esculturas romanas refletiam o temperamento prático e realista de seus idealizadores. Ao entrar em contato com a cultura grega, os escultores romanos sofreram uma forte influência das concepções helenísticas mas, diferente dos gregos, os romanos procuraram elaborar um tipo de retratação fiel das pessoas e não um ideal de beleza humana típico da produção clássica grega. A produção escultórica romana tornou-se um importante instrumento de manutenção do poder vigente. A temática proposta revelava a necessidade de traduzir e enfatizar plasticamente a liderança de generais e imperadores, sempre presentes nas praças e nos edifícios públicos em forma de bustos (herança da produção de antigas máscaras mortuárias feitas em cera) e estátuas. Para os romanos era importante encontrar uma forma de mostrar publicamente os cortejos comemorativos, as batalhas e as conquistas. Nesse contexto, foi elaborado o relevo narrativo, uma forma de escultura conectada a um determinado monumento ou elemento arquitetônico, que “contava visualmente” os acontecimentos mais importantes relativos à expansão territorial. Foi assim, que arcos, colunas e altares tornaram-se, freqüentemente, o suporte para a divulgação das façanhas romanas fora e dentro do território italiano. Ara Pacis (altar da Paz) mármore, 9 a. C., Roma. 7 Coluna de Trajano, 114 d. C., Roma. A PRODUÇÃO ARTÍSTICA Por Arnold Hauser “Quem quer que apelasse para o público, que o informasse a respeito de questões importantes, ávido por pleitear sua causa ou conquistar adeptos para seus interesses, recorria sabidamente à pintura e a escultura. O general vitorioso, em seu desfile triunfal ia rodeado por cartazes que exibiam suas façanhas bélicas, mencionavam as cidades conquistadas e retratavam a humilhação do inimigo aos olhos do povo extasiado. (...) A predileção dos romanos pela pintura revela, além do prazer pelo anedótico e do interesse na documentação e nos testemunhos oculares, uma espécie de desejo insaciável, primitivo e pueril por vistas e ilustrações.Todas estas representações são páginas de um livro ilustrado para adultos – por vezes, como no caso das espirais de Trajano, ‘o desenrolar de um livro de ilustrações’, cujo intuito é transmitir a impressão de continuidade dos acontecimentos e produzir o mesmo efeito que esperamos de um filme. A demanda que essa produção pretendia satisfazer era, sem dúvida, primária, rudimentar e essencialmente não-artística. Querer experimentar tudo pessoalmente, ver tudo com os próprios olhos, como se a tudo se assistisse, é um tanto ingênuo; é uma concepção primitiva que rejeita como de segunda mão, tudo o que seja descrito na forma transposta, a qual, para uma época mais requintada, constitui, na verdade, a própria essência da arte.” (HAUSER, 2003: 110). 8 Os arquitetos romanos inspiraram-se nas formas gregas, mas desenvolveram novas técnicas de construção, como, por exemplo, o arco (invenção etrusca), que abrange uma distância maior que o sistema grego de pilares e dintel (dois postes verticais que suportam uma trave horizontal) e que suporta uma maior quantidade de peso. A utilização do concreto permitiu projetos mais flexíveis, como o teto abobadado e imensas áreas circulares fechadas por uma cúpula. Os romanos desenvolveram a basílica, um edifício de planta retangular com abside semicircular (parte do edifício localizado ao lado oposto à entrada), utilizado como ponto de encontro e imitado, mais tarde, pelas igrejas cristãs da época medieval. Os romanos elaboraram também a abobada cilíndrica, um importante elemento arquitetônico composto por um arco estreito, formando um teto em semicilíndro e a abóbada de arestas, formada por duas abóbadas de cilíndrica, da mesma atura, em interseção de modo a formar um ângulo reto. Planta de uma casa romana Na antiga Roma, a planta da casa romana era rigorosamente retangular, a porta de entrada que ficava em um dos lados menores do retângulo, conduzia no átrio, um vão central que possuía uma abertura central no teto. Essa abertura permitia a entrada de luz e a da água das chuvas que era coletada num tanque (impluvio). Em linha reta em relação à porta de entrada, perto do átrio, 9 localizava-se o tablino o aposento principal da casa. Os quartos eram dispostos ao longo das paredes, abrindo-se para o átrio central. Com o tempo, por causa da influencia grega, foi introduzido o peristílio, um espaço delimitado por colunas que os romanos acomodaram ao lado do átrio. O OC CO OL LIISSE EU U O Coliseu (80 d. C.) como é hoje O Coliseu como era na época Romana Por H.W. e Antony Janson “O Coliseum, um enorme anfiteatro no centro da velha cidade, que podia acomodar cinqüenta mil espectadores, continua sendo uma das maiores construções do mundo. Sua estrutura principal é construída com uma espécie de concreto, e trata-se de uma obra – prima de engenharia e planejamento eficiente, com quilômetros de galerias abobadadas para assegurar o fluxo regular do tráfego em toda a volta da arena. O arco, a abobada de berço e a abóbada de aresta são utilizados. O exterior, monumental e cheio de dignidade, reflete as subdivisões do interior mas é revestido e enfatizado por pedra lapidada. Há um equilíbrio muito bom entre as partes integrantes verticais e horizontais que compõem a interminável série de arcos. A reverência para com a arquitetura grega é ainda visível no uso de meias-colunas e pilastras que refletem as ordens gregas; estruturalmente, estas se tornaram meros espectros - o edifício continuaria em pé caso fossem removidas- mas esteticamente são importantes, pois através delas a enorme fachada adquire sua relação com a escala humana.” 10 O O PPA AN NT TE EÃ ÃO O Panteão romano. 130d. C., Roma. Por H. W. e Antony Janson “As mesmas inovações em engenharia e materiais permitiram que os romanos também criassem enormes espaços cobertos. Dentre deles, o mais bem preservado é o Panteão um templo circular e enorme, dedicado, como o próprio nome diz a todos os deuses. O pórtico, originalmente preenchido por um átrio com colunatas que obstruíam a visão que agora temos das paredes circulares, parece a entrada comum de um templo romano típico. Ainda mais empolgante, então, é a vista que temos ao passar pelos majestosos portais, quando o grande espaço abobadado abre-se diante de nós num repente dramático. A partir da pesada sobriedade da parede externa, pode-se deduzir que não foi fácil para o arquiteto resolver os problema de engenharia ligados á sustentação do imenso hemisfério de um domo. Do lado de fora, nada faz pressupor a leveza e elegância do interior; as fotos não conseguem reproduzir isso com fidelidade. A altar que vai do piso à abertura do domo (chamada de óculo ou olho) é exatamente a mesma do diâmetro do domo, o que confere um perfeito equilíbrio às proporções. O peso do domo concentra-se nas oito sólidas subdivisões da parede; entre elas, com colunas à frente, existem nichos ousadamente cavados na espessura maciça do concreto, e estes. embora independentes entre si, produzem o efeito de espaço aberto por trás dos suportes, dando-nos a impressão de que as paredes são menos espessas e o domo muito mais leve do que na realidade é. Os painéis de mármore multicolorido e o os paralelepípedos ainda são essencialmente como antes, mas em sua forma original, o domo era dourado, para assemelhar-se à cúpula dourada do céu.” 11 A ASS D DIIFFE ER RE EN NÇ ÇA ASS E EN NT TR RE EA AA AR RQ QU UIIT TE ET TU UR RA AG GR RE EG GA AE EA A R RO OM MA AN NA A Por Carol Strickland Grega Romana Estrutura Templo para glorificar os deuses Prédios cívicos em honra do Império Paredes De blocos de pedras Concreto e fachada ornamental Formas típicas Retângulo, linhas retas Círculos, linhas curvas Sistema de suporte Pilar e dintel Arco redondo, abóbadas Estilo de coluna Dórica e jônica Coríntia Escultura Deuses e deusas idealizados Seres humanos realísticos, autoridades idealizadas Figuras estilizadas e flutuando Pintura Imagens realísticas com perspectiva no espaço Temas da arte Mitologia Líderes cívicos, triunfo militar E ESSPPL LE EN ND DO OR RE EQ QU UE ED DA AD DO OG GR RA AN ND DE E IIM MPPÉ ÉR RIIO O O primeiro e maior imperador romano foi Otávio Augusto. Durante o seu governo iniciado em 29 a. C., foram promovidas várias reformas sociais e administrativas que implantaram um Estado baseado na ordem e na hierarquia, fazendo com que Roma vivesse um período de grande esplendor econômico, militar e cultural. Otávio Augusto fundou bibliotecas públicas e foi um grande protetor e incentivador da arte de poetas como Virgílio, Horácio e Ovídio; do grande historiador de Roma Tito Lívio e do arquiteto Vitrúvio, cuja obra em 10 volumes “De Architectura” constitui o único tratado clássico preservado até os nossos dias e que serviu de inspiração para os artistas renascentistas. Após a morte do grande Otávio Augusto em 14 d. C., muitos imperadores ocuparam o trono romano, mas lentamente o império foi sendo corroído por uma crise que o tornou vulnerável a invasão estrangeira. Os enormes gastos públicos que davam sustentação a estrutura administrativa e militar do império exigiam aumentos de impostos cada vez maiores. O comércio 12 que já não tinha fôlego para ampliar seus negócios, voltava-se para as atividades agrícolas, dando início a um lento e progressivo movimento de ruralização da sociedade romana, ou seja, a população deixava as cidades e se estabelecia no campo com medo da violência das pilhagens e rebeliões. O exército passou a ser composto na maioria por estrangeiros mercenários, mantidos a peso de ouro. As rebeliões, envolvendo não só os povos dominados, mas também, as camadas mais pobres da população romana tornaram-se cada vez mais freqüentes. Para tentar reverter esse processo, após a morte do imperador Teodósio, o império foi dividido em duas partes, de um lado o Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, do outro, o Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla. 13