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CULTURA EGÍPCIA
Início e formação étnica
Prof. Marco Pádua
“...a população egípcia era predominantemente negra.”
“...em cada dez residências egípcias, três possuíam escravos brancos
para o trabalho doméstico.”
Das grandes civilizações da antiguidade o Egito foi o que mais se destacou, possuindo
3.000 anos de Historia e um legado arquitetônico que perdura até nossos dias. Saiu da era
neolítica e depois de 500 anos já estavam construindo as pirâmides. Suas façanhas
arquitetônicas desafiam os pesquisadores até nossos dias.
Iniciaram sua unificação no limiar da Historia, com o surgimento da escrita e souberam
registrar como ninguém, seus acontecimentos.
Adentrando a idade dos metais os egípcios utilizaram o ferramental de forma produtiva
em diversas áreas, não só na arquitetura como também na escultura, cerâmica, etc. Inovaram os
meios de transporte e elevação, bem como um sistema de medidas. Desenvolveram um sistema
próprio para nivelar e aprumar as edificações. Conheciam as propriedades dos solos, pois,
escolhiam sempre um platô rochoso para instalar a construção. Sua técnica construtiva provoca
admiração até os dias de hoje.
As edificações que restaram dessa época não são muitas e basicamente se resumem em
obras de culto fúnebre ou templos. A grande inovação trazida por eles está no preparo dos
materiais, assim como no seu deslocamento. Os volumes envolvidos são surpreendentes. Isto
denota uma rápida organização social, grande numero de trabalhadores e principalmente,
vontade de edificar.
Se hoje nos causam espanto pelo gigantismo, a ponto de alguns sugerirem auxílio
sobrenatural, são porque as razões pelas quais essas obras foram construídas, transcendem a
nossa compreensão.
O faraó considerado um Deus vivo era venerado. Sendo assim ele detinha todo o poder.
Consequentemente o sustento da população era provido por ele.
As atividades dessa população resumiam-se no plantio e colheita nas épocas em que o
rio Nilo recuava, deixando suas margens férteis. Nos períodos de cheia esses trabalhadores
construíam pirâmides e templos.
O dinheiro ainda não existia e consequentemente, não havia o comercio de mercadorias.
O pagamento do trabalho consistia nos alimentos necessários para a subsistência de cada um.
Após a unificação do reino surge uma cultura construtiva que evolui rapidamente. São
detectados vestígios de artesãos especializados, formando equipes de trabalho, devidamente
nomeadas. Há registro dessas equipes nas paredes das pirâmides, homenageando o faraó.
Neste ambiente é fácil imaginar que o cidadão daquela época passava a vida inteira,
desde a tenra idade, construindo algo que possivelmente, não veria finalizado.
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O trabalho feminino na colheita também é notório, dizem os pesquisadores,
tradicionalmente seguindo os costumes da era neolítica, enquanto que o homem se dedicava a
caça.
Quando se fala na produção arquitetônica egípcia, ao contrario do que é difundido, as
grandes obras lembradas em primeiro lugar são as pirâmides. Principalmente as três grandes
(Quéops, Quéfren e Miquerinos) situadas no planalto de Gizé, no Cairo. Na verdade elas
representam apenas os primeiros 150 anos deste ciclo construtivo, sendo, portanto, uma fase
primária. As obras mais significativas, por sua ousadia e imponência, são os templos. Eles
ocuparam seus idealizadores e construtores por cerca de dois mil anos, tempo muito maior do
que o ciclo de pirâmides. Por outro lado, os templos também são importantes por sua
semelhança com os edifícios que conhecemos, ou seja, ali são detectados os elementos
estruturais tais como: cobertura, vigas e pilares. Não há neste estágio, fundações, porem é
facilmente detectado uma base alargada dando sustentação às colunas, o que denota uma
preocupação com a estabilidade. A grande diferença entre os templos e as pirâmides está na
troca do volume pela área. Enquanto elas ultrapassavam os 100 m de altura, os templos não iam
além dos 12 m inicialmente e mais tarde, aos 20 metros. Porem sua área construída era dezenas
de vezes maiores. Isto demonstra uma sensível melhora nos sistemas construtivos e evolução do
ferramental utilizado. Outra característica dos templos está na funcionalidade dos espaços
criados. As “salas”, muitas vezes descobertas, serviam para os rituais sagrados.
Voltando as primeiras grandes construções, as pirâmides são edifícios ainda enigmáticos
que assombram pelo gigantismo. Ainda não há um consenso entre os estudiosos quanto aos
métodos utilizados na construção. São milhares de toneladas de pedra calcária, lavrada,
transportada e assentada com extrema precisão.
A despeito do pequeno aproveitamento interno, com poucas câmaras mortuárias, tudo
parece obedecer a um traçado previamente estabelecido. Suspeita-se também que a maioria
delas ainda não esteja totalmente explorada, ou seja, outras câmaras ainda estão ocultas. Tudo
interligado por infindáveis túneis. Isto vem confirmar a hipótese de um planejamento minucioso
da construção, não sendo como muitos pensam um grande amontoado de pedras. Ao contrário,
nenhuma delas, ao que se sabe, mostra-se como tal. Desde as primeiras, há salas de uso
especifico distribuídas e acessadas por túneis.
No aspecto construtivo, vale lembrar também o uso da elevação por calço, sistema
característico dos egípcios para elevar os blocos de pedra à grande altura. O arraste dos mesmos
sobre rampas é amplamente aceito pelos pesquisadores. Um sistema de alavancas usando toras
de madeira para a movimentação dos blocos também é próprio desta época em questão. A
lubrificação por água ou leite sob os trenós de madeira, também esta registrada nos anais da
Historia. Não há registro do uso da roda, pois ainda não se concretizara porem as toras de
madeira como roletes, sim. A força humana foi fundamental para essas realizações, porem a
animal pode ter sido utilizado.
Nota-se também que as técnicas iam evoluindo e se modificando conforme a obra se
avolumava especificamente na grande pirâmide de Quéops, onde as técnicas de rampa externa e
túnel interno presumem-se, foram utilizados.
Esses artifícios utilizados, hoje nos parecem incompreensíveis, não sendo suficientes
para elevar edifícios com mais de 100 m de altura há 4.500 anos, portanto, muito remota. Porem
naquela época havia dois elementos em grande quantidade: mão de obra e tempo. A pirâmide
era construída durante o reinado do faraó, que muitas vezes durava dezenas de anos, cujos
períodos estão sendo revistos pela moderna Historiografia. Era uma obra única, portanto de
dedicação plena. Fato este caracterizado pelo faraó Sneferu que foi responsável por três
pirâmides.
Outra inovação característica dessa época, através dos egípcios é a estética. A partir
deles os templos passam a ostentar ornamentos em sua estrutura, representada por colunas
torneadas, fruto do uso de ferramentas metálicas. A altura dos templos que se sucederam tornase expressiva. Se antes eram maciços, compactos e de limitado espaço interno, estes passam a
galgar maior altura. As colunatas passam a ser executadas com blocos menores, lavrados em
formato curvo e assentados como se fosse uma chaminé. Chegavam aos vinte metros de altura.
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Há vestígios também, da utilização de rampas de terra para a superposição de blocos
para elevar o edifício até a altura desejada. Em Luxor está preservado parte de um muro externo
em volta do templo, confirmando o uso de aprisionamento de terra conforme a obra ganhava
altura. Ao término o local era desaterrado expondo sua monumentalidade.
Os povos que deram origem aos egípcios se formaram culturalmente na era neolítica,
mais conhecida como idade da pedra. Neste período inicial da civilização, a pedra natural servia
como material de construção, como ferramenta ou qualquer outro tipo de utensílio usado por
seus personagens. Sem a possibilidade de trabalhar a pedra o resultado era muito limitado.
Partindo do pressuposto científico de que o homem primitivo surgiu no continente
africano, em certo estagio de evolução ele migrou para povoar a terra. Acredita-se que, das
muitas aglomerações que se formaram nesta vasta área, as que mais evoluíram se fixaram ao
longo do rio Nilo. Fácil de entender, pois, a água é fundamental para manter a vida. Onde há
água há vegetação que por sua vez atrai animais e, estes são transformados em alimentos. Essa é
a lógica da subsistência.
Esta orda de seres agrupados conforme o parentesco entre eles, a principio vagavam
pelo deserto com o objetivo de manter sua sobrevivência. Sua necessidade primordial seria a
alimentação e defesa. Nesta condição são conhecidos como nômades. Com o passar do tempo
estes se fixam em determinadas regiões, propícias ao sustento próprio, originando as primeiras
culturas, sendo conhecidos como sedentários.
Conhecido como Neolítico Saarano, esses povos são, historicamente, divididos em
Neolítico Inferior (8.800 - 6.800 a.C.), Neolítico médio (6.800 - 5.100 a.C.) e Neolítico superior
(5.100 - 4.700 a.C.).
Esses povos primitivos, recém-saído das grutas e cavernas as quais serviam de moradia,
produzem suas primeiras obras tridimensionais, usando a tenra experiência adquirida ao longo
de milhares de anos, juntamente com o ferramental rudimentar criado por eles próprios. Este é
um momento especial na Historia da humanidade, pois aí se manifesta a magia da invenção.
Nada havia anteriormente como referencia. Podemos dizer então, que tudo o que é produzido a
partir desse momento especial foi "criado".
Muitas das cavernas contam historias sobre essa população através das pinturas
rupestres. Elas mostram o dia a dia, as necessidades e conquistas desses povos usando tintas
extraídas da própria vegetação, outra grande invenção.
Ao migrar para outras regiões, esses povos passam a produzir a sua moradia usando as
primeiras ferramentas feitas de pedra. As mesmas usadas para preparar o alimento ou abater a
caça.
A produção lítica dessa fase, a principio, pode parecer simplória, porem foi erigido a
partir do nada. Não diz respeito a sua moradia e nem tem um significado muito claro, deixando
sua finalidade aberta às divagações.
Com a dificuldade de dar a pedra algum tratamento, as ações consistiam apenas em
escolher um material de fácil manuseio, transportá-lo a um local específico e aprumá-lo. São
conhecidos como menir. Com o tempo, evoluindo em vários aspectos, outros blocos são
aprumados em conjunto, onde são chamados de alinhamentos.
Nesta região são conhecidos alguns alinhamentos megalíticos em Nabta, sendo
chamado de “Círculo do calendário”. Compõe-se de três alinhamentos com 30 arenitos e um
conjunto de oito “dolmens”. Esse último mostra uma evolução significativa no resultado, no
volume de material e no contingente humano envolvido. Essas estruturas são compostas por um
conjunto de blocos de pedras aprumadas lado a lado e em círculo. Depois são cobertos por uma
pedra lamelar. Contendo uma abertura, definem os primeiros espaços fechados criados pela
humanidade. Na maioria dos casos esses espaços são destinados ao culto fúnebre e não de
moradia. Isto vem demonstrar que em determinado estagio da civilização, o homem primitivo
passa a ter consciência de sua limitação humana, não só respeitando o término da vida, como
também destinando seu primeiro “recinto” produzido para acomodar aqueles que a perderam.
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Segundo Friedman, um dos pesquisadores: “A evidência de Nabta sugere que o deserto,
mais do que anteriormente aceito, contribuiu para a formação intelectual e as ideias que fizeram
possíveis as pirâmides”.
Neste cenário são encontrados vários exemplares de aparatos fúnebres demonstrando
um vasto cerimonial. Na região em questão são encontrados cemitérios cujo espólio tumular
inclui cerâmica, pedra de chão, adornos pessoais, pigmentos e chifres de animais. Muitas
cerâmicas também são encontradas mostrando acabamento liso, polido e com coloração.
Quanto a etnia dos egípcios, ou seja, as raças que os originaram, estudos demonstram
resultados surpreendentes. Tanto o lado científico quanto o histórico trazem dados que
contradizem totalmente a imagem explorada sobre a cultura egípcia na atualidade. As
representações teatrais e cinematográficas, na maioria dos casos, não trata o assunto fielmente.
As produções Hollywoodianas sobre o assunto nada tem a ver com o que os fatos nos mostram,
desde tempos imemoriais.
Os relatos científicos são expressos por pessoas respeitadas neste campo de pesquisas.
Os relatos históricos estão registrados nos anais e são de fácil interpretação. São citados pelas
culturas da época, bem como as subsequentes e, nas mais variadas datas.
Vamos explorar alguns dados para ilustrar melhor o entendimento.
Um dos trabalhos científicos envolvendo a analise de 1.787 crânios masculinos,
compreendendo o período Pré-dinástico Antigo até nossos dias, revelou quatro grupos
principais. São eles: 36% de negroides, 33% de mediterrânicos, 11% de cro-magnoides e 20%
de indivíduos diferentes dos anteriores, porem semelhantes aos cro-magnoides ou dos
negroides.
Diante disto deduzimos que a proporção de negroides é mais alta que as outras etnias.
Isto contraria a premissa anteriormente admitida de que a população pré-dinástica egípcia era
uma raça pura. Na verdade era composta por um terço de negroides, um terço de mediterrânicos,
um décimo de cro-magnoides e um quinto de indivíduos mestiços em vários graus.
Esse e outros trabalhos científicos nos leva a crer que, desde o princípio assim como no
decorrer de sua História, a população egípcia era predominantemente negra. Isto prova também
que é errônea a afirmação de que o elemento negro se infiltrou no Egito em um período tardio.
Outro detalhe também questionável é que a raça mediterrânica, citada no estudo, não
pode ser considerada totalmente branca quando por vezes é indicada como morena. Alem desta
menção de raça morena, há outras como euro-africano que, grosso modo, podem ser traduzidas
como uma miscigenação negroide.
Boa parte da comunidade científica não aceita essas afirmações com a argumentação de
que é necessário mais dados detalhados, mais pesquisas, etc. Outros relatam com honestidade
e clareza suas observações feitas em viagens ao Egito em plena época da escravidão negra, entre
os anos de 1.783 e 1.785, referentes aos coptas, considerados como introdutores dos faraós. Os
termos usados como: faces balofas, olhos inchados e lábios grossos, tez mulata, são traços
realmente negroides. Isto poderia ser atribuído ao clima da região. Porem esse mesmo
observador despe-se de todas as incertezas ao deparar-se com a esfinge, cuja face esculpida no
alto do bloco rochoso, exibe todos os traços anteriormente descritos. Fica evidente então, que ao
retratar a imagem do faraó em questão, suas feições e, consequentemente, sua etnia estava ali
reproduzida fielmente.
Isto também joga por terra as hipóteses recentemente sugeridas por pesquisadores da
Esfinge que não atribuem sua construção ao faraó Quéfren. Segundo esses estudos, o desgaste
exibido pelo monumento ao longo do tempo sugere ser provocados pela água da chuva e não
pelo vento, como hoje é aceito. Sendo assim, isto antecederia sua construção em cerca de dez
mil anos, época em que a região era favorecida por estes fenômenos naturais. Alguns atribuem
sua construção a uma raça anterior aos egípcios, ainda desconhecida na atualidade. Porem,
considerando os traços étnicos expostos pelo monumento, torna-se irrefutável sua semelhança
com os povos que a criaram, no caso os egípcios.
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Ao longo do tempo, fica evidente, que houve uma miscigenação com sangue romano e
grego, fazendo com que os egípcios perdessem sua coloração primária, mas guardando seus
traços originais.
Alguns relatos históricos também retratam fielmente essas preposições. Esses
personagens históricos se posicionaram muito próximo dos principais eventos em questão e
trazem aos dias de hoje suas observações. Vários são os relatos e de toda ordem. Heródoto,
considerado o “pai da História”, por ser um dos pioneiros na arte de registrar os eventos,
escreveu: “De minha parte, considero os Kolchu (povos da região) uma colônia do Egito
porque, como os egípcios, eles têm a pele negra e os cabelos crespos”.
Para os escritores gregos e latinos contemporâneos dos antigos egípcios, a classificação
física desses últimos era unânime: os egípcios eram negros, de lábios grossos, cabelo crespo e
pernas finas.
Outra curiosidade demonstrada pelos achados arqueológicos da era pré-dinástica ou
mesmo dinástica, mostra em inscrições que os egípcios, sendo negros, subjugavam os de raça
branca. Nessas inscrições os povos capturados eram mostrados de mãos atadas atrás das costas
ou sobre os ombros. Esses indivíduos são identificados como indo-europeus e semitas. Outros
relatos também revelam que em cada dez residências egípcias, três possuíam escravos brancos
para o trabalho doméstico.
Assim como outros povos antigos, o Egito foi formado a partir da unificação de varias
tribos que habitavam ao longo das margens do rio Nilo. Esta unificação caracteriza o chamado
período protodinástico a partir do qual, se inicia a governança através das famílias, encabeçado
pela figura do faraó. Temporalmente este período se situa no século XXXII a.C. porem não há
clareza em relação aos seus precursores. Alem da falta de registros confiáveis, não há também
consenso entre os historiadores. O nome mais lembrado para este evento é do faraó Narmer,
sucessor do faraó protodinástico Escorpião II que por vezes é confundindo com o faraó Menés.
Ele é considerado por alguns como o fundador da primeira dinastia, já com o Egito unificado.
Esta duplicidade na identidade de Narmer e Menés se dá em virtude das referências nos
registros arqueológicos através dos títulos reais creditados a eles. Um desses achados é
conhecido como Paleta de Narmer, descoberta em 1.898 em Hierakonpolis, onde o faraó exibe
as insígnias do Baixo e Alto Egito, creditando-o pelo feito da unificação em 3.100 a.C.
Apesar de um suposto consenso em relação a unificação desses dois personagens,
Narmer e Menés, acordado na História do Egito Antigo, alguns egiptólogos defendem a ideia de
que o primeiro passou o Egito já unificado ao segundo. Outros acham que Narmer iniciou o
processo e não conseguiu concluí-lo, cabendo a Menés terminá-lo.
Pelo visto a discussão é longa e não tem data para terminar, com um dinamismo
incomum, passível de mudanças a cada nova descoberta.
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