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Introdução
O grego Protágoras, nascido no século V a.C., se eternizou com a esta frase enigmática : “O homem
é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”.
Nela, ele valoriza o ser humano e traz, sem sombra de dúvidas, uma síntese do pensamento humanista grecoromano. Humanismo que seria resgatado no mundo europeu moderno junto com muitas outras características
da antiguidade, como o racionalismo. Isso mesmo: resgatado, repensado. Por isso há muito mais entre o universo
de Shakespeare e Protágoras do que podemos imaginar. Podemos ver isso, por exemplo, na obra Hamlet , escrita
entre 1599 e 1601, onde Shakespeare escreve: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na
capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo; no entendimento é como
um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais.”
Nesse trecho, tem-se a expressão clara do pensamento moderno, renascentista, que deu vazão a uma arte
antropocêntrica e a uma perspectiva de mundo racional, inspirada na Antiguidade,razão pela qual se usa o termo
renascimento. O homem moderno, ao repensar os significados do mundo, buscou na Antiguidade ideias para
uma nova perspectiva de mundo, visto que acreditava que os princípios greco-romanos haviam formado até
então o período de maior esplendor da humanidade. Assim renasceu a cultura antiga que havia adormecido no
medievo. Vale ressaltar que a cultura antiga serviu apenas de inspiração e que de forma alguma foi reproduzida,
na íntegra, no mundo moderno.
Capítulo 9
Venus e Marte ,1480
1
http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Venus_and_Mars.jpg
Contexto histórico e as características principais
Ao tratarmos do Renascimento, falamos de um importante movimento cultural, científico e artístico que
nasceu junto à modernidade e foi muito mais do que uma contraposição ao medievo. O Renascimento foi uma
adequação de significados, valores e princípios ao universo burguês que resultou em alterações na maneira de
pensar, na ética e na moral.
A gênese do Renascimento Cultural se deu nas grandes cidades italianas: Gênova, Veneza, Milão, Florença e
Roma, que haviam despontado como centros comerciais onde a circulação de riquezas e ideias promoveram o
desenvolvimento de uma nova classe artística. Nesse contexto, se destacaram, entre outras, as famílias Sforza e
Médici, que financiaram os estudos e as obras de vários artistas e foram grandes expoentes do mecenato.
Mecenato
1. Condição ou título de mecenas.
2. Amparo, proteção ou financiamento dado por mecenas a artistas, escritores, cientistas, etc. Ex.: Esse pintor
venceu graças à ajuda de um mecenato.
3. Apoio financeiro de pessoa física ou jurídica a realizações artísticas e culturais.
Renascimento cultural
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O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci é
considerado uma das grandes realizações que
conduzem ao Renascimento italiano baseado
numa famosa passagem do arquiteto romano
Marcus Vitruvius Pollio na sua série de dez livros
intitulados De Architectura, um tratado de arquitetura em que, no terceiro livro, ele descreve as
proporções do corpo humano masculino:
• um palmo é o comprimento de quatro dedos
• um pé é o comprimento de quatro palmos
• um côvado é o comprimento de seis palmos
• um passo são quatro côvados
• a altura de um homem é quatro côvados
• o comprimento dos braços abertos de um
homem (envergadura dos braços) é igual à
sua altura
• a distância entre a linha de cabelo na testa e
o fundo do queixo é um décimo da altura de
um homem
• a distância entre o topo da cabeça e o fundo
do queixo é um oitavo da altura de um homem
• a distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura
de um homem
• o comprimento máximo nos ombros é um
quarto da altura de um homem
• a distância entre a o meio do peito e o topo
da cabeça é um quarto da altura de um homem
• a distância entre o cotovelo e a ponta
da mão é um quarto da altura de um homem
• a distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem
• o comprimento da mão é um décimo da altura de um homem
• a distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto
• a distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto
• o comprimento da orelha é um terço do da face
• o comprimento do pé é um sexto da altura
Vitrúvio já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas ficaram imperfeitas. Foi apenas com Leonardo que o encaixe saiu corretamente perfeito
dentro dos padrões matemáticos esperados. O desenho também é considerado frequentemente como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo. É interessante observar que a área total do círculo é idêntica à área total do quadrado (quadratura do círculo) e este desenho pode ser
considerado um algoritmo matemático para calcular o valor do número irracional phi (aproximadamente 1,618).
Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Vitruviano_de_Leonardo_da_Vinci
Capítulo 9
Há autores que defendem que a região chamada Itália hoje foi o berço
do Renascimento devido à forte presença de elementos da cultura romana. Afinal, foi na Península Itálica que se desenvolveu essa civilização.
Exemplo disso é que uma das características marcantes do Renascimento é o o classicismo .
No entanto, é certo que a partir dos séculos XIV eXV a cultura renascentista se difundiu pela Europa e foi marcada por outras características
que fizeram da produção cultural moderna uma obra completamente
diferenciada da cultura medieval. Veja as principais características.
Saiba mais...
Humanismo:
Filosofia que tem como foco a valorização do homem. Sua origem
remonta o pensamento na Antiguidade greco-romana, floresceu com a
renascença do séc. XIV ao séc. XVI, sendo uma característica marcante
desse movimento.
Antropocentrismo (do gr. anthropos: homem, e do lat. centram: centro)
Concepção que situa e explica o homem como o centro do universo
e, ao mesmo tempo, como o fim segundo o qual tudo o mais deve estar
ordenado e a ele subordinado: “O homem é a medida de todas as coisas.”
(Protágoras)
CLASSICISMO - Doutrina dos
artistas que, a partir do séc. XVI,
encontraram na Antiguidade greco-romana suas fontes de inspiração e seus exemplos. O Classicismo confere maior importância às
faculdades intelectuais do que às
emocionais na criação das obras
de arte, porque busca a expressão de valores universais acima
dos particularismos individuais
ou nacionais. Inspirando-se nos
modelos da Antiguidade clássica
greco-romana, estabeleceu princípios ou normas, como a harmonia
das proporções, a simplicidade e o
equilíbrio da composição e a idealização da realidade. Recusa, portanto, a emotividade e a exuberância decorativa do Barroco.
http://www.klickeducacao.com.br/
enciclo/encicloverb/0,5977,POR-6449,00.
html
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de filosofia. 4 ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2006.
Naturalismo
O naturalismo pressupõe a sobreposição, o domínio sobre a natureza.
Uma aproximação entre o homem e a natureza, por um viés racional.
Hedonismo
É uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer individual e imediato o supremo bem da vida humana. Sua origem remonta
à Grécia pós-socrática.
Racionalismo
Trata-se uma corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio que é a operação mental, discursiva e lógica. No mundo moderno,
a razão foi tomada como fonte do conhecimento humano. Rompia-se
com a supremacia da teologia medieval e com a sujeição do homem à fé.
Renascimento cultural
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Faça hoje! Antes de dormir.
1. Explique o uso do termo renascimento cultural, para designar as trans-
formações culturais no mundo moderno.
2. Quais elementos da cultura clássica integraram a cultura na renascença?
3. Que eram os mecenas? Qual foi a sua relevância para o contexto do
renascimento?
4. Defina com suas palavras: humanismo e antropocentrismo.
5. Quais características do renascimento cultural estão presentes no homem Vitruviano de Leonardo da Vinci?
2
O Movimento da Renascença e os principais renascentistas
A atuação dos renascentistas (pensadores, artistas, escritores ...) produziu um movimento cultural que pode ser dividido em três períodos : o
Trecento (século XIV), o Quatrocento (século XV) e Cinquecento (século
XVI). Cada qual abrangia respectivamente uma parte do período que vai
do século XIV ao XVI.
O Trecento, é uma fase considerada como “preparação” para o Renascimento e praticamente se restringiu à Itália, principalmente na cidade de
Florença. Nesse período, merecem destaque o pintor Giotto, com suas
obras religiosas tridimensionais e humanistas, como pode ser visto na
obra A Lamentação, o intelectual Petrarca, considerado o pai do humanismo e os escritores Boccaccio e Dante Alighieri – o primeiro com a
relevante obra Decameron e o segundo com A Divina Comédia .
A Lamentação, Capella degli Scrovegni, 1304-1306
( O
Quatrocento,
por sua vez, tem nos belos quadros de Sandro Botticelli o grande exemplo. No campo da arquitetura, destacamos Filippo Brunelleschi com o
projeto da catedral de Santa Maria del Fiore, em Florença. E em sua fase
final merece destaque Leonardo da Vinci, do movimento que encarnou
o sentido inovador do Renascimento com maior intensidade. Não se esCapítulo 9
Análise da obra A Divina Comédia
(...) atravessou séculos, carregando
consigo uma síntese enciclopédica
do conhecimento filosófico e
científico da Idade Média. A
Divina
Comédia,
considerada
praticamente por unanimidade
sua obra máxima, foi escrita em
versos e está estruturada em três
partes: Inferno, Purgatório e Paraíso.
Dante situa o Inferno embaixo
de Jerusalém, em forma de cone,
constituído por uma imensa cratera
escavada nas profundezas do globo
terrestre — causada pela queda do
céu do corpo de Lúcifer — o anjo
rebelde. As almas são distribuídas
em nove círculos concêntricos
ao castigo eterno, e suas penas,
divididas em quatro grandes
seções, estão baseadas na relativa
doutrina aristotélica: Incontinência
(luxuriosos, gulosos, avaros e
pródigos, Iracundos e rancorosos e
heréticos), Violência e bestialidade
(contra o próximo, contra si próprio
e contra Deus), Fraude (sedutoresrufiões, aduladores/lisonjeadores,
simoníacos,
magos-adivinhos,
traficantes, hipócritas, ladrões, maus
conselheiros, cismáticos-intrigantes,
falsários), e Traição (contra parentes,
contra pátria, contra hóspedes,
contra benfeitores). Lúcifer (Dite)
encontra-se no último círculo do
Inferno, e o movimento de suas
asas mantém o centro do Inferno
congelado. No Inferno, o poeta
italiano encontra Homero, Ovídio,
Paolo e Francesca, Ulisses, Conde
Ugolino, Brunetto Latini (seu
mestre), entre inúmeros outros.
O Purgatório, diferentemente do
Inferno, é uma montanha, composta de Patamares ascendentes; é a
ponte entre a imperfeição humana
e a perfeição divina. Em cada um
dos Sete Patamares (orgulhosos,
invejosos, iracundos, preguiçosos,
avaros e pródigos, gulosos e luxuriosos) se encontram as almas que
se arrependeram em vida, cumprem
penas diversas correspondentes aos
pecados praticados, e aguardam,
portanto, admissão ao Céu. Ali encontra Catão (guardião do Purgató-
pecializando em nenhum âmbito específico, da Vinci se aventurou como
pintor, escultor, urbanista, inventor e filósofo. Entre suas obras, podemos
dedicar especial destaque à obra A Gioconda, mais conhecida como
Mona Lisa, e a reprodução da Santa Ceia. Ainda temos o escritor holandês Erasmo de Roterdã com suas críticas ácidas na obra Elogio à Loucura.
Uma das mais célebres obras filosóficas do Renascimento, “O Elogio
da Loucura” foi escrito originalmente em latim (Encomium Moriae) e publicada em Paris, no ano de 1511, pelo escritor, filósofo e teólogo Desidério Erasmo (1469-1536), dito Erasmo de Roterdã, porto holandês onde
nasceu. Desde seu título, ela é uma homenagem a Thomas More, autor
da “Utopia” e grande amigo de Erasmo. Observe a semelhança entre o
nome More e Moria (loucura). “O Elogio da Loucura” fez grande sucesso à época de seu lançamento e continua atual.(...)se trata certamente
de uma das obras filosóficas mais divertidas de todos os tempos, uma
vez que seu autor resolveu escrevê-la de modo francamente satírico, em
seus 68 breves capítulos. No texto, a Loucura, personificada como uma
entidade viva, faz seu próprio elogio e se demonstra a imperatriz da humanidade, uma vez que ela é a “mola oculta da vida” e ninguém lhe escapa. É assim, em tom de brincadeira, que Erasmo denuncia males reais,
como a ingratidão, a hipocrisia e a intolerância. (...)
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/elogio-da-loucura-obra-de-erasmo-deroterda-marcou-renascimento.htm
No último período do Renascimento, o Cinquecento, o uso da língua
italiana foi sistematizado e o movimento ganhou grandes proporções
dominando várias regiões do continente europeu. Em Portugal se
destacam as produções literárias de Gil Vicente e Luís de Camões, este
último com Os Lusíadas. A literatura francesa teve como seu grande
representante François Rabelais com a obra Gargântua e Pantagruel.
Nesse período também se materializaram as fantásticas teses políticas
do florentino Nicolau Maquiavel, nas obras O Príncipe e Discurso sobre a
primeira década de Tito Lívio.
Àqueles que chegam desavisados ao texto límpido e elegante de
Nicolau Maquiavel pode parecer que o autor escreveu, na Florença do
século XVI, um manual abstrato para a conduta de um mandatário.
Entretanto, esta obra clássica da filosofia moderna, fundadora da ciência
política, é fruto da época em que foi concebida. Em 1513, depois da dissolução do governo republicano de Florença e
do retorno da família Médici ao poder, Maquiavel é preso, acusado de
conspiração. Perdoado pelo papa Leão X, ele se exila e passa a escrever
suas grandes obras. O príncipe, publicado postumamente, em 1532, é
uma esplêndida meditação sobre a conduta do governante e sobre
o funcionamento do Estado, produzida num momento da história
ocidental em que o direito ao poder já não depende apenas da hereditariedade e dos laços
de sangue. Mais que um tratado sobre as condições concretas do jogo
político, O príncipe é um estudo sobre as oportunidades oferecidas pela
fortuna, sobre as virtudes e os vícios intrínsecos ao comportamento dos
rio; famoso legista da República da
Roma Antiga), o poeta Sordello, Papa
Adriano V, seu grande amigo Forese
Donati, Guido Guinizzelli, e o poeta
mantuano Estácio, cuja alma havia
sido chamada ao eterno exílio (Céu).
No cume da montanha há o Paraíso;
cada uma delas representa um reino
além-tumba, divididas em cem cantos, que possuem número variável de
versos decassílabos (10 sílabas métricas), e oscilam entre 115 versos, no
mínimo, e 160, no máximo. O Inferno
possui 34 cantos (o primeiro é introdutório) e o Purgatório e o Paraíso, 33
cantos cada. O impecável sistema da
terza rima (ABA, BCB, CDC,...) convém
à fixação da fala, ao seu movimento.
Disso vale dizer que uma estrutura
praticamente padrão rege a organização dos versos.
Culpa e pena possuem
íntima relação e a gravidade delas
aumenta à medida que os peregrinos
avançam para o centro da Terra. Dante
se vale dos critérios aristotélicos de
juízo moral, classificando as almas de
acordo com a forma e o modo, pelos
quais, pecando, excederam ao seguir
os instintos naturais ou ofenderam
os outros. No Purgatório, ordena
progressão oposta à do Inferno: do
mais grave para o menos grave; a lei
moral é que as almas espiam, uma
a uma, os sete vícios capitais antes
de ascender ao Céu. No Paraíso,
os beatos ficam mais ou menos
próximos de Deus de acordo com o
grau de sua felicidade ou realização
eterna.
Estas breves descrições não
dão conta de toda a carga simbólica,
teológica,
histórica,
filosófica,
poética, por exemplo, que tal poema
pode suscitar em seus leitores.
Por conta disso, a leitura da Divina
Comédia não é considerada trivial
e traça um caminho permeado de
armadilhas e obstáculos. http://www.assis.unesp.br/Home/
PosGraduacao/Letras/RevistaMiscelanea/
Artigo21-Gizelle_Kaminski_Corso.pdf
Renascimento cultural
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