ASSOCIAÇÃO ENTRE A ADESÃO AO TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA E CERVICAL COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS Hellen Lívia Oliveira Catunda1 Paula Renata Amorim Lessa2 Samila Gomes Ribeiro3 Priscila de Souza Aquino4 Ana Karina Bezerra Pinheiro5 INTRODUÇÃO: No Brasil, o câncer de mama e o câncer de colo do útero (CCU), também conhecido como câncer cervical, ocupam, respectivamente, a primeira e a segunda posição na prevalência dos tipos de cânceres que acometem as mulheres1. O adoecimento pelo câncer de mama e seu tratamento geram sérias implicações no cotidiano da mulher, assemelhando-se às repercussões negativas que ocorrem em mulheres diagnosticadas com câncer de colo uterino, uma vez que esses cânceres estão intrinsecamente relacionados com o papel da sexualidade e da fertilidade que a mulher carrega tão fortemente consigo. Os tratamentos preconizados para o CCU e câncer de mama são altamente agressivos e transformam significativamente as relações sociais e pessoais dessa mulher, explicando o motivo pelo qual muitas mulheres não aderem ao tratamento proposto ou não possuem condutas direcionadas a prevenção dessas neoplasias. A adesão é um processo dinâmico e multifatorial que envolve coparticipação entre a tríade usuário, profissionais de saúde e rede social de apoio2. Portanto, o conceito de adesão não se limita ao comportamento singular do paciente, mas sim a reunião de diversas potencialidades interligadas em três planos: concepção de saúde-doença que o paciente apresenta; lugar social ocupado pelo paciente; e processo de produção de saúde3. Nesse contexto, a Enfermagem, que tem como um de seus instrumentos a habilidade de colocar-se disponível à conversa através da escuta qualificada e à interação, pode colaborar com a cliente e sua família no planejamento e adaptação de suas atividades cotidianas. Deve ainda preservar a condição da mulher ativa e participante de seu processo de cuidado, resultando em uma melhor adesão aos tratamentos propostos4. Diante disso, a escala denominada Adherence Determinants Questionnaire (ADQ) foi desenvolvida por pesquisadores americanos e teve com o propósito avaliar os elementos da autoadesão dos pacientes ao tratamento clínico do câncer. Entretanto, escolheu-se o câncer de mama e o de colo uterino devido a grande magnitude que alcançam na população brasileira feminina. OBJETIVO: Verificar a associação entre a adesão ao tratamento do câncer de mama e CCU com as variáveis sociodemográficas. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA: Trata-se de um estudo descritivo, transversal com abordagem quantitativa. A população foi composta por mulheres diagnosticadas com alterações malignas do CCU ou com câncer de mama e que estavam em tratamento especializado em dois centros de referência do estado do Ceará, totalizando 198 participantes, sendo 152 em tratamento para o câncer de mama e 46 em tratamento para o CCU. Como critério de inclusão definiu-se: mulheres em tratamento de câncer de mama ou CCU. Os critérios de descontinuidade foram: desistência de participar da pesquisa após início 1 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET – SESu/MEC). E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Associado I do Departamento de Enfermagem da UFC. Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFC. Email: [email protected] 02430 da coleta de dados ou vir a óbito no período de coleta de dados. A coleta de dados foi realizada de maio a julho de 2012 com a aplicação de um formulário que abordava dados sociodemográficos, seguido da aplicação da escala ADQ-VB. Os dados foram armazenados e analisados por meio do programa estatístico SPSS versão 19.0. A coleta de dados iniciou-se após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Ceará, sob o parecer de número 43/12, sendo assegurado o cumprimento das normas para pesquisa envolvendo seres humanos preconizadas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. RESULTADOS: As respostas da escala ADQ-VB foram analisadas por meio de escores da escala total e separadamente pelos domínios: domínio 1-Aspectos interpessoais do cuidado, 2-Susceptibilidade percebida, 3-Normas subjetivas, 4-Intenção e 5Apoio. As médias dos domínios e escores totais foram também correlacionadas com algumas variáveis sociodemográficas, tais como: estado civil, escolaridade, idade e ocupação. Logo, observou-se que não houve associação significativamente estatística entre a escala total, os domínios 1 e 2 com as variáveis sociodemográficas em questão. No entanto, percebeu-se que no domínio 1, que versa da importância da relação entre os profissionais de saúde e o paciente para uma melhor adesão ao tratamento, houve um maior número de respostas negativas e imparciais. A relação entre o profissional de saúde e o paciente é fundamental para os resultados do tratamento desejáveis, tais como satisfação e adesão, principalmente em oncologia. Logo, o enfermeiro como participante da equipe de saúde que fornece atendimento ao paciente oncológico, principalmente mulheres em tratamento do câncer de mama e colo do útero, deve assumir posturas reflexivas acerca da assistência prestada, bem como necessitam conhecer as principais barreiras que dificultam a adesão ao tratamento, com o propósito de reduzi-las melhorando a qualidade de vida de mulheres já tão vulneráveis. Continuando a análise, as médias dos domínios 3, 4 e 5 foram correlacionadas com as variáveis sociodemográficas, mostrando que houve uma associação significativamente estatística entre o domínio 4, intenção de aderir ao tratamento, e escolaridade. Nas demais análises, não foram encontrados resultados expressivos. O domínio 5, que aborda a rede de apoio social, também resultou valores próximos de significância estatística com a escolaridade. O domínio da intenção investiga a vontade, o desejo ou o intuito que a mulher expressa para seguir com o tratamento determinado. Assim, conjectura-se que os anos de estudo e consequentemente o nível de conhecimento que a mulher possui, de todos os fatores que envolvem o tratamento, se relacionem mais fortemente com a intenção de aderir ao tratamento. Sabe-se também que a adesão ao tratamento está estritamente relacionada com a motivação do cliente e, dentre os diversos fatores motivacionais, destaca-se a escolaridade. Acredita-se que indivíduos com boa escolaridade, que possuem um maior nível de conhecimento acerca da sua doença e das particularidades que o cercam, entre elas o tratamento, são mais propensos, colaboradores e participativos no seu tratamento. CONCLUSÃO: Identificou-se que a escolaridade influencia na intenção das mulheres em aderirem ao tratamento do câncer. Assim, faz-se necessário realizar estratégias educativas que estimulem o conhecimento da paciente em relação ao próprio processo saúde-doença o qual ela vive a fim de que se tenha uma maior adesão ao 1 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET – SESu/MEC). E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Associado I do Departamento de Enfermagem da UFC. Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFC. Email: [email protected] 02431 tratamento, aumentando suas chances de cura. Ressalta-se também a importância que a educação em saúde, pautada em princípios como participação, troca de experiências e empoderamento, possui no sentido de gerar saúde, satisfação ao cliente e, consequentemente, um melhor enfrentamento das barreiras de adesão ao tratamento do câncer de mama e de CCU. CONTIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Acredita-se que o presente estudo contribua para revelar a importância que os dados sociodemográficos, como a escolaridade, podem exercer na adesão ao tratamento do câncer, mostrando que deve-se investir em estratégias educativas por parte dos profissionais de Enfermagem para que, a partir do conhecimento adquirido, a paciente possa compreender melhor sua saúde e enfrentar de maneira adequada a doença, minimizando as barreiras de adesão ao tratamento proposto. REFERÊNCIAS: 1.Instituto Nacional do Câncer. Tipos de câncer: mama, 2012. Disponível em: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/mama.>. Acesso em: 2 jul. 2012; 2.Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Adesão aos anti-retrovirais. Manual para profissionais de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2005; 3.Bertolozzi MR, Nichiata LYI, Takahashi RF, Ciosak SI, Hino P, Val LF, Guanillo MCLTU, Pereira, ÉG. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na Saúde Coletiva. Rev Esc Enferm USP, v.43, n.esp2, p.1326-1330, 2009; 4.Fontes CAS, Alvim NAT. A relação humana no cuidado de enfermagem junto ao cliente com câncer submetido à terapêutica antineoplásica. Acta Paul Enferm, v.21, n.1, p.77-83, 2008. DESCRITORES: Câncer de mama. Câncer de colo do útero. Enfermagem. EIXO II: Questões antigas e novas da pesquisa em enfermagem. 1 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET – SESu/MEC). E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Associado I do Departamento de Enfermagem da UFC. Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFC. Email: [email protected] 02432