1 Avaliação da Suportabilidade do Isolamento de Transformadores de Distribuição Através da Aplicação de Impulsos Atmosféricos com Tensão Reduzida G. P. Lopes, R. Salustiano, G. M. F. Ferraz, M. L. B. Martinez, G. J. G. dos Santos, D. R. Fagundes Resumo—A suportabilidade dielétrica de transformadores frente à sobretensões de origem atmosférica é avaliada através da aplicação de tensões impulsivas com forma de onda 1,2/50 μs. O ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico possui caráter destrutivo e a suportabilidade do isolamento interno é verificada através de comparações entre impulsos reduzidos e especificados com formas plenas e cortadas. Este artigo propõe um método de avaliação do isolamento capaz de estimar o nível de tensão na qual surgem evidências de falhas. As modificações na frequência de oscilação das formas da corrente podem ser indicativos de descargas ou curtos-circuitos entre espiras, camadas ou entre enrolamentos e a terra. Através de comparações entre sucessivos oscilogramas de corrente é possível estimar o desempenho do isolamento do transformador, sem a necessidade de submetê-lo a toda a sequência exigida no ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico. Palavras-Chave—Ensaio de Tensão Suportável de Impulso Atmosférico, Falhas no Isolamento, Sinais de Descargas, Transformadores de Distribuição. O I. INTRODUÇÃO ENSAIO de tensão suportável de impulso atmosférico (IA) é realizado em transformadores com o objetivo de submeter o isolamento à sobretensões impulsivas representativas de descargas atmosféricas. Dado que o isolamento interno de transformadores é do tipo nãoregenerativo, a suportabilidade frente a impulsos atmosféricos deve ser verificada pelos fabricantes após o processo de manufatura e por compradores durante o processo de aceitação em pelo menos uma unidade do lote. As empresas distribuidoras de energia elétrica buscam reduzir os custos envolvidos na compra e reparo dos equipamentos instalados em suas redes, o que não é diferente quando se trata dos transformadores de distribuição. Porém esta economia pode acarretar em uma redução no desempenho dielétrico e na vida útil destes equipamentos. Tem sido Este trabalho foi desenvolvido em parceria com a AES Sul – Distribuidora Gaúcha de Energia Elétrica. G. P Lopes, R. Salustiano, G. M. F. Ferraz e M. L. B. Martinez do Laboratório de Alta Tensão, Universidade Federal de Itajubá. G. J. G. dos Santos e D. R. Fagundes da AES Sul. E-mail: [email protected], [email protected]. observado ao longo dos últimos anos que os transformadores de distribuição não suportam seu IA de projeto, apresentando frequentemente sinais de descargas no isolamento. Sabe-se que os sinais de descargas ou curtos-circuitos entre espiras, camadas ou enrolamentos podem ser detectados através de inspeção visual dos oscilogramas quando a frequência de oscilação da onda de corrente sofre uma alteração brusca. Esta alteração indica a uma possível ocorrência de falha no isolamento. Neste cenário desfavorável, deseja-se estimar o nível de isolamento real para impulsos atmosféricos, a fim de prever a proteção do transformador contra sobretensões atmosféricas através de pára-raios e centelhadores. Para a detecção de descargas no isolamento, curtoscircuitos ou até mesmo o nível de isolamento real para impulsos atmosféricos, é proposto um método diferente de avaliação ao invés da sequência padronizada de impulsos. A partir da realização dos ensaios IA com base na norma ABNT NBR 5356-3 [1] não é possível estimar o nível de tensão na qual o isolamento inicia o processo de ruptura, uma vez que a sequência completa de ensaio faz uso de apenas quatro níveis de tensão, isto é: tensões reduzidas e especificadas para os impulsos plenos e cortados. O método é chamado de “Impulso Atmosférico Escalonado” (IAE). O IAE foi aplicado em 30 transformadores de distribuição imersos em óleo, dentre os quais existiam transformadores novos e reparados, trifásicos e monofásicos, com classes de tensão de 15 kV e 25 kV. Considerações sobre o nível de isolamento real, bem como sua suportabilidade são feitas após o IAE. Em seguida o IA é realizado de acordo com a norma ABNT NBR 5356-3 [1]. Comparações entre os resultados dos dois ensaios são realizadas para comprovar a validade do método proposto. II. DETECÇÃO DE FALHAS NO ISOLAMENTO DURANTE ENSAIOS DE IMPULSO ATMOSFÉRICO Como métodos de detecção de falhas no isolamento durante os ensaios de impulso atmosférico, têm-se as análises dos oscilogramas de tensão e corrente, verificação da formação de bolhas e gás no óleo isolante, e a detecção de ondas sonoras através de transdutores [2], [3]. Devido sua praticidade na detecção de falhas e confiabilidade dos resultados, a análise dos oscilogramas de tensão e corrente é 2 amplamente utilizada e sua prática é recomendada também por normas nacionais e internacionais [1], [4]-[7]. Através de uma inspeção nestes oscilogramas é possível prever a suportabilidade de um isolamento, bem como a severidade de uma falha. A. Análise dos Oscilogramas de Tensão e Corrente A análise dos oscilogramas de tensão é uma maneira pouco sensível para a detecção de falhas. Apenas curtos-circuitos severos entre enrolamentos, camadas ou entre um enrolamento e um ponto de terra são detectados [3]. Os oscilogramas de tensão são obtidos através de um divisor resistivo conectado ao terminal do transformador a ser ensaiado. Um colapso total de tensão é observado caso um curto-circuito ocorra no início do enrolamento, próximo ao terminal de linha. Este tipo de falha é frequentemente acompanhado por um som anormal, originado no interior do tanque do transformador quando o impulso é aplicado. Os oscilogramas de corrente consistem na maneira mais sensível de detecção de falhas. Este método foi proposto primeiramente em 1944 por J. H. Hagenguth. Notou-se a existência de uma relação entre a tensão aplicada e a corrente que flui pelo enrolamento até o instante em que uma descarga ocorre no isolamento [3], [8]. O oscilograma de corrente é obtido através da inserção de um resistor shunt não indutivo entre o terminal de aterramento do enrolamento sob ensaio ou tanque e o ponto de terra do gerador de impulsos. A forma da tensão desenvolvida através da passagem da corrente pelo resistor shunt é então registrada em osciloscópios ou digitalizadores. Quando ocorre uma falha no dielétrico produzida por uma descarga entre duas partes condutoras do enrolamento, por exemplo, entre espiras, a tensão entre estas sofre um colapso em um tempo extremamente curto. Este processo inicia uma oscilação transitória de alta frequência que é transmitida, através das capacitâncias do enrolamento, para o ponto de terra [3]. Transitórios de alta frequência causados por falhas no isolamento são facilmente identificados nos oscilogramas de corrente quando comparados com oscilogramas sem defeitos, obtidos para o mesmo enrolamento. III. ENSAIOS DE IMPULSO ESCALONADO E DE TENSÃO SUPORTÁVEL DE IMPULSO ATMOSFÉRICO O IAE é baseado na aplicação de impulsos atmosféricos normalizados com níveis de tensão reduzidos. A forma utilizada possui tempo de frente 1,2 µs ± 30% e tempo de cauda 50 µs ± 20%. Para reduzir o risco de descargas na bucha do enrolamento ensaiado a polaridade da tensão aplicada é negativa para os ensaios IAE e IA. O nível de tensão inicial do ensaio é de 30 kV e não depende da tensão suportável de impulso atmosférico (NBI) do transformador. Este é o menor nível de tensão ajustável para a configuração utilizada do gerador de impulsos com o qual foram realizados os ensaios. A tensão é então elevada em passos de 10 kV até um valor próximo de 80% do NBI. Os oscilogramas de tensão e corrente são registrados a cada passo do ensaio no formato ASCII e no formato de imagem para três escalas horizontais – tempo/div (10 µs, 1 µs e 0,2 µs). Com o formato imagem é possível realizar avaliações durante o ensaio. Primeiramente os oscilogramas de tensão e corrente são obtidos com escala horizontal de 10 µs com o objetivo de detectar falhas na região de cauda do impulso. O segundo e terceiro oscilogramas são obtidos com escalas horizontais de 1 µs e 0,2 µs, respectivamente. Nestes casos é possível detectar falhas na frente do impulso e após seu valor máximo com maiores detalhes. O objetivo é detectar possíveis falhas no início do enrolamento, que constituí na região mais afetada devido à distribuição não linear da tensão. Através deste procedimento de ensaio é possível prever também o nível de tensão na qual o isolamento inicia o processo de falha. Nos ensaios IA os oscilogramas de tensão e corrente são comparados entre os impulsos com tensão reduzida e especificada para os impulsos plenos e cortados, a fim de detectar variações na frequência de oscilação da corrente. Neste caso o isolamento deve apresentar o mesmo desempenho em tensões reduzidas e especificadas. No IAE os oscilogramas são comparados entre cada impulso de modo a detectar o início de uma falha e sua evolução ao longo das aplicações. A integridade do isolamento é garantida no ensaio IAE, uma vez que há a limitação de tensão no valor de 80% do NBI. Após o IAE, o ensaio IA é realizado com base nas normas NBR 5356-3 [1] e NBR 5356-4 [4], na qual uma sequência de impulsos plenos com tensão reduzida e especificada é aplicada nos enrolamentos de alta tensão do transformador. Impulsos cortados na cauda (2 µs a 6 µs) com tensão reduzida e especificada são combinados com os impulsos plenos na sequência descrita abaixo. • 01 impulso pleno reduzido, 50% do NBI. • 01 impulso pleno, 100% do NBI. • 01 impulso cortado reduzido, 55% do NBI. • 02 impulsos cortados plenos, 110% do NBI. • 02 impulsos plenos, 100% do NBI. Considera-se que o isolamento está em boas condições caso não ocorram variações entre os oscilogramas de tensão e corrente, como mencionado acima. O ensaio IA também possui o objetivo de validar as considerações sobre o isolamento realizadas no ensaio IAE. A. Esquema de Conexão e Amostras Ensaiadas A sequência de impulsos para os ensaios IA e IAE é aplicada em cada terminal de linha do enrolamento de alta tensão, H1, H2 e H3. Para transformadores trifásicos, os terminais de alta e baixa tensão (X1, X2, X3 e X0) não utilizados durante o ensaio, são curto-circuitados e aterrados no tanque. O mesmo procedimento é utilizado em transformadores monofásicos. O condutor de aterramento é conectado entre o tanque e o ponto de terra do gerador de impulsos através do resistor shunt, que é selecionado para proporcionar uma melhor sensibilidade na indicação de falhas. 3 Este esquema de conexão, denominado como “corrente de linha” [4], é apresentado na Fig. 1. H1 H2 H3 H1 X1 X2 H2 X1 X2 X3 X0 Shunt Shunt B. Resultado dos Ensaios de Impulso Escalonado A Tabela I apresenta os resultados dos ensaios IAE levando em conta a classificação dos oscilogramas, bem como o nível de tensão para a primeira evidência de falha. Os transformadores são listados na Tabela I de acordo com sua potência nominal SN, número de fases 1F ou 3F, classe de tensão Um e NBI. Quando duas ou mais evidências de falhas ocorrem para um transformador monofásico ou trifásico, o tipo mais severo é considerado para a classificação apresentada na Tabela I. TABELA I. RESULTADOS DOS ENSAIOS DE IMPULSO ESCALONADO Ensaio de Impulso Escalonado Condição SN , Um , NBI, Tensão de (b) Fig. 1. Conexão para medição da corrente de linha – a) transformadores trifásicos delta-estrela e b) transformadores monofásicos. (a) Os transformadores ensaiados foram fornecidos pela AES Sul – Distribuidora Gaúcha de Energia com o propósito de investigar o desempenho do isolamento frente a impulsos atmosféricos. Foram ensaiados 30 transformadores trifásicos e monofásicos imersos em óleo, com classe de tensão 15 kV e 25 kV. Os transformadores trifásicos apresentam defasagem de 30° (Dyn1) e todos os transformadores monofásicos possuem apenas 01 enrolamento secundário. IV. RESULTADOS EXPERIMENTAIS O ensaio IAE foi realizado utilizando um osciloscópio digital com 100 MHz de largura de banda, 8-bit e 50000 pontos de amostragem. O primeiro canal está conectado ao secundário do divisor resistivo, registrando os oscilogramas de tensão. O segundo canal está conectado ao resistor shunt para o registro dos oscilogramas de corrente. Para o ensaio IA foi utilizado outro osciloscópio digital com 300 MHz de largura de banda, 9-bit e 10000 pontos de amostragem. Este último é certificado para realizar os ensaios IA, registrando os oscilogramas para compor o relatório final para o cliente. A. Classificação dos Resultados Com o objetivo de classificar o desempenho do isolamento nos ensaios IA e IAE, quatro tipos de oscilogramas foram identificados com base em observações durante os ensaios. Esta classificação foi realizada através de inspeções visuais e comparações entre sucessivas aplicações de tensão. Novo Reparado kVA kV kV 10, 1F 10, 1F 25, 1F 25, 1F 30, 3F 45, 3F 45, 3F 45, 3F 75, 3F 75, 3F 15 15 25 25 25 15 25 25 25 25 110 110 150 150 150 110 150 150 150 150 10, 1F 25 125 10, 1F 25 125 30, 3F 25 125 75, 3F 15 95 75, 3F 25 125 75, 3F 25 125 Classificação 1 2 2 3 3 2 2 3 2 3 2 3 3 2 2 3 Falha, kV 40 50 70 60 40 40 60 30 60 60 60 70 40 60 50 Unidades 01 01 02 02 02 02 02 02 01 02 01 03 02 02 01 04 As Fig. 2 a 7 mostram exemplos de oscilogramas de tensão e corrente obtidos durante o ensaio IAE e reproduzidos utilizando os dados armazenados no formato ASCII. A escala de tempo (t) foi escolhida de modo a proporcionar uma visualização satisfatória da frente do impulso. As Fig. 2 e 3 contém os resultados do tipo 1 para um ensaio IAE realizado em um transformador monofásico novo, com SN=10 kVA, Um=15 kV e NBI de 110 kV. Não foram observadas indicações de falhas para os níveis de tensão aplicados (máximo em 91 kV – 83% do NBI). Na Fig. 3 é possível observar o comportamento amortecido da corrente, sem sinais de descargas. • Tipo 1: os oscilogramas de tensão e corrente não possuem indicações de falha no isolamento. • Tipo 2: os oscilogramas de corrente apresentam sinais de descargas ou modificações na frequência de oscilação. • Tipo 3: os oscilogramas de corrente apresentam sinais de descargas severas ou curtos-circuitos entre camadas ou espiras, com modificações no oscilograma de tensão. • Tipo 4: os oscilogramas de tensão e corrente indicam curto-circuito entre o(s) enrolamento ensaiado(s) e algum ponto aterrado (núcleo ou tanque). Fig. 2. Resultado do ensaio IAE do tipo 1 – tensões aplicadas V1 a V7 no terminal H1. 4 As Fig. 6 e 7 mostram os resultados do ensaio IAE para o tipo 3. O transformador ensaiado é trifásico reparado, com SN=75 kVA, Um=25 kV e NBI de 125 kV. Existem indicações evidentes de descargas severas a partir do segundo impulso de tensão. Transitórios de alta frequência são observados nos oscilogramas de tensão e corrente, indicando uma falha incipiente no isolamento, com consequente curto-circuito. Fig. 3. Resultado do ensaio IAE do tipo 1 – correntes de terra I1 a I7. Os resultados do ensaio IAE para o tipo 2 são apresentados nas Fig. 4 e 5 para um transformador trifásico reparado, com SN=30 kVA, Um=25 kV e NBI de 150 kV. Neste caso, os oscilogramas de corrente I2, I3, I4, I8 e I10 apresentam sinais de descargas no isolamento sem consequências para as formas de tensão. Fig. 6. Resultado do ensaio IAE do tipo 3 – tensões aplicadas V1 a V7 no terminal H3. Fig. 4. Resultado do ensaio IAE do tipo 2 – tensões aplicadas V1 a V10 no terminal H3. Fig. 7. Resultado do ensaio IAE do tipo 3 – correntes de terra I1 a I7 através do 1º e 3 º enrolamentos de alta tensão – terminal H3. Fig. 5. Resultado do ensaio IAE do tipo 2 – correntes de terra I1 a I10 através do 1º e 3 º enrolamentos de alta tensão – terminal H3. C. Resultados dos Ensaios de Tensão Suportável de Impulso Atmosférico A Tabela II apresenta os resultados do ensaio IA, considerando a classificação definida no item IV-A. Um determinado transformador é considerado em falha se pelo menos um terminal apresentar o oscilograma de corrente com falhas do tipo 2, 3 ou 4. A coluna “Concordância com IAE” na Tabela II também leva em consideração o fato de que pelo menos um tipo de falha ocorreu para o mesmo transformador em ambos os ensaios. 5 TABELA II. RESULTADOS DOS ENSAIOS DE TENSÃO SUPORTÁVEL DE IMPULSO ATMOSFÉRICO Ensaio de Tensão Suportável de Impulso Atmosférico Condição SN, Um, NBI, Resultados Concord. As Fig. 8 a 11 mostram exemplos de oscilogramas de tensão e corrente obtidos durante o ensaio IA. Para estes ensaios a escala horizontal foi fixada em 20 µs para os impulsos plenos e 1 µs para os impulsos cortados. As Fig. 8 e 9 apresentam o 1º e 2º impulsos cortados plenos, classificados como tipo 2. Este é o mesmo transformador monofásico, classificado como tipo 1 no ensaio IAE. Comparando as Fig. 8 e 9 é possível notar que existe um transitório sobreposto ao oscilograma de corrente antes do corte. Este sinal de descarga é suficiente para considerar o isolamento em falha. Comparando as Fig. 8 e 3 é possível notar uma diferença no amortecimento e na frequência de oscilação da forma de corrente entre os ensaios IAE e IA, para o mesmo transformador sob ensaio. Esta diferença ocorre devido aos seguintes fatores: utilização de osciloscópios distintos, resistores shunt e escalas verticais diferentes. Os osciloscópios utilizados são de fabricantes diferentes e possuem processos distintos para o registro do sinal de entrada após a saturação do canal. A utilização de resistores shunt apropriados evitam danos ao osciloscópio durante as excursões de corrente de elevada amplitude nas aplicações que envolvem o corte de tensão. Com excursões maiores de corrente, a escala vertical é alterada para acomodar toda a forma na tela do osciloscópio. Os curtos-circuitos entre um grupo de espiras são identificados por pulsos de alta amplitude e frequência, sobrepostos ao oscilograma de corrente, como apresentado na Fig. 10. Neste caso o transformador está classificado como tipo 3 no ensaio IA, diferentemente da classificação recebida no ensaio IAE, que foi do tipo 2. Dentre os 30 transformadores ensaiados, 06 unidades apresentaram curtocircuito franco entre o enrolamento e algum ponto aterrado no transformador. A Fig. 11 apresenta o oscilograma para o primeiro impulso pleno de um transformador trifásico novo, com SN=45 kVA, Um=25 kV e NBI de 150 kV, classificado como tipo 4. Neste caso o impulso foi acompanhado por um som característico originado dentro do tanque. Fig. 8. Resultado do ensaio IA do tipo 2 – 1º impulso cortado no terminal H1, sem sinais de descarga. 1-canal de tensão e 2-canal de corrente. Fig. 10. Resultado do ensaio IA do tipo 3 – 3º impulso pleno no terminal H3, com sinais severos de descarga. 1-canal de tensão e 2-canal de corrente. Fig. 9. Resultado do ensaio IA do tipo 2 – 2º impulso cortado no terminal H1, com sinal de descarga. 1-canal de tensão e 2-canal de corrente. Fig. 11. Resultado do ensaio IA do tipo 4 – 1º impulso pleno no terminal H3, com sinal de curto-circuito. 1-canal de tensão e 2-canal de corrente. Novo Reparado kVA kV kV 10, 1P 25, 1P 30, 3P 45, 3P 45, 3P 75, 3P 15 25 25 15 25 25 110 150 150 110 150 150 10, 1P 25 125 30, 3P 25 125 75, 3P 15 95 75, 3P 25 125 Unid. 02 04 02 02 04 03 04 02 02 05 IA Falha Falha Falha Falha Falha Falha Falha Falha Falha Falha Classif. 2 2-3 3-4 2-3 2-3-4 2-3-4 3-4 2-3-4 2 2-3 com IAE 50% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 6 V. CONCLUSÕES O objetivo de mensurar a suportabilidade real do isolamento de transformadores novos e reparados foi alcançado pelo método de ensaio proposto. Através da aplicação dos impulsos de tensão escalonados, o valor mínimo de tensão na qual o isolamento apresentou sinal de falha foi determinado para cada tipo de oscilograma registrado. Os resultados foram alcançados devido à utilização de tempos de varredura inferiores aos praticados nos ensaios de tensão suportável de impulso atmosférico. Como os níveis de tensão aplicados no ensaio IAE estão limitados a 80% do NBI, os transformadores ensaiados não deveriam apresentar sinais de falha. Considerando a qualidade do isolamento, um resultado inesperado foi a ocorrência de falhas mesmo para tensões abaixo de 50% do NBI – um sério problema a ser avaliado pelos fabricantes e compradores de transformadores. Com a realização apenas do ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico, a severidade deste problema não seria descoberta. As informações relativas às tensões de falha dos transformadores ensaiados serão também utilizadas em um trabalho futuro com o objetivo compor as taxas de falha em transformadores, causadas por sobretensões de origem atmosférica. Finalmente, a utilização de osciloscópios digitais de custos relativamente baixos como instrumentos para o registro dos oscilogramas, ao invés dos digitalizadores tradicionais auxiliados por softwares, mostrou-se eficiente. A tomada de decisão com relação ao desempenho do isolamento foi realizada com segurança, uma vez que 96,7% dos resultados do ensaio IA apresentaram concordância com as considerações realizadas com o ensaio IAE. VI. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a AES Sul – Distribuidora Gaúcha de Energia por disponibilizar os transformadores para os ensaios. VII. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] Transformadores de Potência Parte 3: Níveis de isolamento, ensaios dielétricos e espaçamentos externos em ar, ABNT NBR 5356-3 – Janeiro, 2008. L. C. Aicher, "Experience with Transformer Impulse Failure Detection Methods", AIEE Trans, vol. 67, pp. 1621-1631, Jan. 1948. B. Heller and A. Verveka, Surge Phenomena in Electrical Machines, English Edition. London: Iliffe Books, 1968, p. 263-298. Transformadores de Potência Parte 4: Guia para ensaio de impulso atmosférico e de manobra para transformadores e reatores, ABNT NBR 5356-4 – Janeiro, 2008. IEEE Guide for Transformer Impulse Tests, IEEE Standard C57.981993, Dec. 1993. International Standard for Power Transformers – Part 3: Insulation levels, dielectric tests and external clearances in air, IEC 60076-3, Second Edition, Mar 2000. International Standard for Power Transformers – Part 4: Guide to lightning impulse and switching impulse testing – Power transformers and reactors, IEC 60076-4, First Edition, Jul 2002. J. H. Hagenguth, “Progress in Impulse Testing of Transformers”, AIEE Trans. Vol 63, pp. 999-1005, Dec 1944. VIII. BIOGRAFIAS Gustavo Paiva Lopes nasceu em Varginha - MG, Brasil em 20 de Maio de 1984. Graduou-se em Engenharia Elétrica com ênfase em sistemas elétricos de potência pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) em 2008. Atuou na área de consultoria em projetos e estudos elétricos pela empresa TSE Tecnologia em Sistemas Elétricos entre 2009 e 2011. Iniciou o mestrado em Engenharia Elétrica como aluno regular pela UNIFEI em 2011, quando passou a atuar como colaborador mestrando do Laboratório de Alta Tensão (LATEFEI) na mesma universidade. No LAT-EFEI desenvolve o projeto de “Coordenação de Isolamentos em Redes de Média Tensão com Neutros Ressonantes” em parceria com a AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia e a Universidade de Bologna, Itália. Rogério Salustiano nasceu em Poços de Caldas, MG, Brasil em 14 de Agosto de 1981. Graduou-se em Engenharia Elétrica com ênfase em informática industrial pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) em 2005. Atuou na área de engenharia, qualidade e processos produtivos de transformadores e reatores pela empresa Qualitrafo Industrial LTDA entre 2007 e 2008. Iniciou o mestrado em Engenharia Elétrica como aluno regular pela UNIFEI em 2010, quando passou a atuar como colaborador mestrando do Laboratório de Alta Tensão (LAT-EFEI) na mesma universidade. No LAT-EFEI desenvolve o projeto de pesquisa “Estudo de Transformadores Eficientes para Área Rural” em parceria com a Ampla Energia e Serviços S.A e o Procobre. Guilherme Martinez Figueiredo Ferraz nasceu em Mococa, SP, Brasil em 20 de maio de 1989. Iniciou a graduação em Economia pela UNICAMP em 2007. Em 2009 ingressou no curso de Engenharia Elétrica com ênfase em sistemas elétricos de potência pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Atuou na área de gestão de qualidade com ISO 9001. No mesmo ano iniciou atividades como colaborador no Laboratório de Alta Tensão (LAT-EFEI) na mesma universidade. No LAT-EFEI atua no projeto de “Coordenação de Isolamentos em Redes de Média Tensão com Neutros Ressonantes” em parceria com a AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia e a Universidade de Bologna, Itália. Desenvolve também o projeto “Avaliação da Condição de Operação de Isoladores de Pino Porcelana Instalados na Rede de Distribuição de Média Tensão” em parceria com o Grupo ENERGISA. Manuel Luis Barreira Martinez possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Itajubá (1982), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Itajubá (1993), doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (2000). Aperfeiçoamento em Pequenas Centrais Hidroelétricas, Sistemas Elétricos de Potência, Equipamentos de Manobra, Descargas Atmosféricas em Linhas e Subestações, Pára raios de Resistor Não Linear para Sistemas de Potência, Técnicas de Alta Tensão, entre outros. Possui experiência no projeto e construção de equipamentos, componentes e sistemas de ensaios em Alta Tensão. Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Itajubá e Coordenador do Laboratório de Alta Tensão. É autor e co-autor de ao redor de 250 artigos divididos entre seminários nacionais, internacionais e periódicos. Gilnei José Gama dos Santos nasceu em Camapuã – RS, Brasil em 28 de Dezembro de 1976. Graduou-se em Engenharia Elétrica pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) em 2009. Iniciou o curso de pós-graduação em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) em 2011. Atuou na área de construção civil de 1995 a 2008. Em março de 2008 passou a trabalhar na AES Sul Distribuidora de Energia, onde passou pela área técnico-comercial e gerência técnica. Em 2010 passou a atuar na coordenação de planejamento e engenharia, realizando o gerenciamento de projetos de P&D, e é integrante do grupo de normatização de estruturas, materiais e procedimentos. Donorvan Rodrigo Fagundes possui graduação em Engenharia Elétrica com Ênfase em Eletrônica (UPF), 2001, pela Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Pós-Graduado pela Escola de Propaganda e Marketing (ESPM) em Gestão de Negócios no ano de 2010. Possui aperfeiçoamento em manutenção industrial, comercialização e suprimento de energia elétrica, projetos de Eficiência energética industriais, comerciais e residenciais. Atualmente acumula as funções de gestor e gerente de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento na AES Sul, atuando junto a órgãos reguladores, instituições de desenvolvimento e empresas parceiras.