(Heteroptera: Pentatomidae) em trigo, soja e milho - PPGAgro

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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
AVALIAÇÃO DE DANOS DE QUATRO ESPÉCIES
DE PERCEVEJOS (HETEROPTERA:
PENTATOMIDAE) EM TRIGO, SOJA e MILHO
MARGARIDA FLORES ROZA-GOMES
Tese apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Agronomia da
Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da UPF, para obtenção do
título de Doutor em Agronomia –
Área de Concentração em Produção
Vegetal.
Passo Fundo, janeiro de 2010
ii
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
AVALIAÇÃO DE DANOS DE QUATRO ESPÉCIES
DE PERCEVEJOS (HETEROPTERA:
PENTATOMIDAE) EM TRIGO, SOJA e MILHO
MARGARIDA FLORES ROZA-GOMES
Orientador: Prof. Dr. José Roberto Salvadori
Co-orientador: Dr. Paulo Roberto Valle da Silva Pereira
Co-orientador: Ph.D. Antonio Ricardo Panizzi
Tese apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Agronomia da
Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da UPF, para obtenção do
título de Doutor em Agronomia –
Área de Concentração em Produção
Vegetal.
Passo Fundo, janeiro de 2010
iii
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus…
Meu Guia, minha Fortaleza.
À Família...
Ao meu esposo Paulo, pelo constante incentivo e
compreensão. Sem sua ajuda e principalmente, tolerância, talvez não
fosse possível concretizar mais este ideal.
Ao meu filho João Paulo, por ter me dado forças nos
momentos difíceis, demonstrando todo o seu carinho e preocupação
sincera de criança ao me ver triste e/ou desanimada diante de “tantos
afazeres” e de inúmeras viagens...
Aos meus pais Almerinda Flores Roza e Valdeci Roza (in
memoriam) por terem me dado a vida e mostrado a direção que
deveria seguir. À minha mãe Almerinda pelo constante carinho e força
nos momentos que mais necessitei. Mãe, suas palavras de incentivo
muito contribuíram para que eu chegasse até aqui. Obrigada por tudo!
Aos Orientadores...
Ao orientador Dr. José Roberto Salvadori por ter sido
muito mais que um Orientador, um verdadeiro “pai científico”.
Certamente, seus exemplos e suas qualidades inigualáveis jamais
serão esquecidas. És exemplo de sabedoria, seriedade, respeito,
honestidade e dedicação naquilo que faz. Obrigada de coração!
Ao Dr. Paulo Roberto Valle da Silva Pereira pelos
ensinamentos e pelo auxílio na concretização deste trabalho. Levarei
comigo a lembrança de uma pessoa de grandes dons, muita sabedoria
e, apesar disso, simplicidade.
v
Ao Dr. Antônio Ricardo Panizzi pela “inspiração” em
trabalhar com percevejos. Pelos seus brilhantes trabalhos realizados na
área; pelos ensinamentos que obtive junto a sua pessoa e pela sua
maneira de ser que o tornará simplesmente, inesquecível.
Aos Mestres...
A todos vocês, que com seus conhecimentos, contribuíram
significativamente para meu engrandecimento pessoal e profissional.
Agradeço ainda....
À Universidade de Passo Fundo pela concessão da bolsa de
estudos.
À Embrapa Trigo de Passo Fundo/RS pela oportunidade de
realizar estágio e desenvolver as pesquisas em suas dependências.
A todos os funcionários da Embrapa Trigo que
contribuíram para a realização deste trabalho, principalmente a equipe
de apoio da Entomologia, em especial ao Técnico agrícola Egídio
Sbrissa,
pelo
incansável
auxílio,
simplicidade,
dedicação
e
competência com que realiza todos os seus afazeres. Também, pelos
seus ensinamentos práticos que muito contribuíram em minha carreira
profissional.
A todos os estagiários do laboratório de Entomologia da
Embrapa Trigo de Passo Fundo, em especial à Cristiane Tibola,
Giovani Baseggio, Juliana Salvadori, Luísa Folle, Marcoandré
Savaris, Márcia Smaniotto, Natália França e Silvana Lampert.
Aos estagiários Flávia Cloclet Silva, Fábio Siqueira e
Rogério Depiéri do laboratório de bioecologia de percevejos da
Embrapa Soja de Londrina/PR, pela receptividade que obtive junto a
vi
eles e pelas orientações a respeito da criação e cuidados dos
percevejos.
A secretária do Programa de Pós graduação em Agronomia
da UPF, Mari Gomes Viecelli, pela forma competente e simpática
com que sempre me atendeu.
A Taymara Bonissoni da Embrapa trigo de Passo Fundo,
pelo auxílio na realização dos testes de germinação e vigor.
Ao querido professor Valmor Vigne, sua esposa Ieda Maria
Vigne e filha Cristiane Vigne, por terem me oferecido um lugar
aconchegante para que eu pudesse residir e estudar. Que Deus retribua
todo o bem que me fizeram! Obrigada!
A minha querida prima e afilhada Angela Khetly
Lazarotto, pelo auxílio na digitação das planilhas de dados e por ter
me acompanhado em vários momentos importantes da realização
deste trabalho.
Enfim, a todos os meus amigos(as), colegas e familiares
que me deram forças nesta caminhada ou que de uma forma ou de
outra contribuíram para a realização deste trabalho, um muito
obrigado!
vii
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS .................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS.................................................................... xii
RESUMO ........................................................................................ 1
ABSTRACT..................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ............................................................................ 5
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................... 6
2.1 Morfologia e importância dos Pentatomidae.............................. 6
2.2 Aspectos nutricionais em Pentatomidae................................... 10
2.3 Pentatomidae de importância agrícola ..................................... 18
2.3.1 Euschistus heros (Fabricius) - Percevejo-marrom ............ 18
2.3.2 Nezara viridula ( Linnaeus) - Percevejo-verde ................. 19
2.3.3 Dichelops spp. - Percevejos- barriga-verde ...................... 22
2.4 Danos de pentatomídeos às plantas.......................................... 25
2.4.1 Danos em trigo ................................................................ 26
2.4.2 Danos em soja ................................................................. 29
2.4.3 Danos em milho............................................................... 34
3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................... 36
3.1 Aspectos gerais ....................................................................... 36
3.2 Experimento I - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de floração plena........................ 37
3.3 Experimento II - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de grão cheio leitoso. ................. 40
3.4 Experimento III - Avaliação de danos de D. melacanthus e D.
furcatus em plântulas de soja. ................................................... 40
3.5 Experimento IV - Avaliação de danos de quatro espécies de
percevejos, na fase inicial da cultura do milho, em telado. ........ 43
3.6 Experimento V - Avaliação de danos de três espécies de
percevejos e quatro níveis de infestação, na fase inicial da cultura
do milho, em campo. ................................................................ 46
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................ 48
4.1 Experimento I - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de floração plena........................ 48
4.2 Experimento II - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de grão cheio leitoso. ................. 54
4.3 Experimento III - Avaliação de danos de D. melacanthus e D.
furcatus em plântulas de soja. ................................................... 58
viii
4.4 Experimento IV - Avaliação de danos de quatro espécies de
percevejos, na fase inicial da cultura do milho, em telado. ........ 64
4.5 Experimento V - Avaliação de danos de três espécies de
percevejos e quatro níveis de infestação, na fase inicial da cultura
do milho, em campo ................................................................. 69
4.5.1 Altura de planta ............................................................... 69
4.5.2 Escala de danos................................................................ 74
4.5.3 Peso de grãos e outros componentes da produção............. 78
5 CONCLUSÕES .......................................................................... 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................... 87
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela
1
2
3
4
5
6
Página
Variáveis relacionadas à produção de grãos de trigo
submetido à infestação de espécies de percevejos (2
insetos adultos/planta), no estádio de floração plena,
durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 20082009 ............................................................................
49
Germinação de sementes de trigo oriundas de
infestação por quatro espécies de percevejos (2
insetos adultos/planta), no estádio de floração plena,
durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 20082009.............................................................................
53
Vigor de sementes de trigo submetido à infestação
de quatro espécies de percevejos, (2 insetos
adultos/planta), no estádio de floração plena, durante
10 dias em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009........
54
Variáveis relacionadas à produção de grãos de trigo
submetidas à infestação de quatro espécies de
percevejos (2 insetos adultos/planta), no estádio de
grão cheio leitoso, durante 10 dias, em telado. Passo
Fundo, RS, 2008-2009 ...............................................
55
Germinação de sementes de trigo oriundas de
infestação por quatro espécies de percevejos (2
insetos adultos/planta), no estádio de grão cheio
leitoso, durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS,
2008-2009...................................................................
56
Vigor de sementes de trigo submetido à infestação
de quatro espécies de percevejos (2 insetos
adultos/planta), no estádio de grão cheio leitoso,
durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 20082009.............................................................................
57
x
7
8
9
10
11
12
13
Altura de plantas de soja submetidas a infestação de
D. melacanthus e D. furcatus (1 inseto adulto/planta)
durante 15 dias a partir do estádio vegetativo (VE),
em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009.....................
59
Número de cotilédones, trifólios e massa seca de
plantas de soja submetidas à infestação de D.
melacanthus e D. furcatus (1 inseto adulto/planta)
durante 15 dias a partir do estádio vegetativo (VE),
em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009.....................
61
Dados referentes à produção de grãos de soja
submetidas a infestação de D. melacanthus e D.
furcatus (1 inseto adulto/planta), durante 15 dias a
partir do estádio vegetativo (VE), em telado. Passo
Fundo, RS, 2008-2009................................................
61
Caracteres fenológicos e avaliação de dano de
plantas de milho infestadas desde o estádio V1 até o
estádio V3, por quatro espécies de percevejos (1
inseto adulto/planta), durante 14 dias, em telado.
Passo Fundo, RS, 2008-2009......................................
64
Massa seca parte aérea e radicular de plantas de
milho infestadas desde o estádio V1 até o estádio
V3, por quatro espécies de percevejos (1 inseto
adulto/planta), durante 14 dias, em telado. Passo
Fundo, RS, 2008-2009................................................
68
Altura (cm) de plantas de milho logo após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008...................................
70
Altura (cm) de plantas de milho aos 10 dias após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008...................................
72
xi
14
15
16
17
18
19
20
21
Altura (m) de plantas de milho, na colheita, após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008...................................
73
Notas de dano (0-4) em plantas de milho logo após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008...................................
74
Notas de dano (0-4) em plantas de milho após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), aos
10 dias após a retirada dos insetos, em campo. Passo
Fundo, RS, 2009..........................................................
78
Peso de grãos (g) de milho após a infestação com
três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo.
Passo Fundo, RS, 2009................................................
79
Peso de mil grãos de milho (g) após infestação com
três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo.
Passo Fundo, RS, 2009................................................
81
Número de espigas de milho após a infestação com
três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo.
Passo Fundo, RS, 2009................................................
82
Comprimento de espigas de milho (cm) após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2009...................................
83
Número de fileiras de grãos de milho após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2009...................................
84
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura
Página
1
Representação esquemática da morfologia externa
de N. viridula (Heteroptera: Pentatomidae) em vista
dorsal..........................................................................
7
2
Unidades experimentais com a gaiola de proteção.....
38
3
Simulação de ação mecânica para testar a ocorrência
de fratura da haste nas plantas de soja........................
43
Procedimentos de retirada das plantas dos vasos (A)
e lavagem das raízes (B). Passo Fundo, RS, 2008......
45
N. viridula em cópula e se alimentando no interior
da unidade experimental.............................................
50
Efeito visual (uniforme) da altura de plantas de soja
aos 47 dias após a emergência, em telado. Atestemunha; B- D. furcatus. Passo Fundo, RS,
2008-2009...................................................................
60
Sinais de injúrias (interior da unidade experimental)
A: pontuações características do ataque de
percevejos; B: redução de altura e sinal de
encharutamento...........................................................
66
A: Plantas de milho submetidas à infestação de D.
melacanthus (1 inseto adulto/planta), durante 14
dias, desde o estádio V1 até o V3. B: Testemunha.
Passo Fundo, RS, 2008-2009......................................
67
Plantas de milho com sinais do efeito dos percevejos
(em campo). Passo Fundo, RS, 2008..........................
76
Relação entre nível de infestação das três espécies
de percevejos e o peso de grãos(g), em campo.
Passo Fundo, RS, 2009...............................................
80
4
5
6
7
8
9
10
AVALIAÇÃO DE DANOS DE QUATRO ESPÉCIES DE
PERCEVEJOS (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE) EM
TRIGO, SOJA e MILHO
MARGARIDA FLORES ROZA-GOMES1, JOSÉ ROBERTO
SALVADORI2, PAULO ROBERTO VALLE DA SILVA
PEREIRA3, ANTÔNIO RICARDO PANIZZI4
RESUMO - Os percevejos associados às culturas de trigo, soja e
milho tem representado problemas em virtude da possibilidade de
causarem danos às plantas.
O conhecimento e a tecnologia hoje
disponíveis, ainda não são suficientes para a completa compreensão
do potencial de dano e o controle destes insetos na fase reprodutiva do
trigo e na fase inicial do desenvolvimento da soja e do milho. Foram
conduzidos cinco experimentos com o objetivo de avaliar os danos em
variados níveis de infestação de Dichelops melacanthus, D. furcatus,
Euschistus heros e Nezara viridula em diferentes estádios, nas
culturas de trigo, soja e milho. Quatro experimentos foram realizados
em telado (delineamento inteiramente casualizado) e um a campo
(delineamento de blocos casualizados). Em trigo, N. viridula (dois
percevejos/planta), na fase de floração plena, provocou redução no
1
Bióloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGAgro) da
FAMV/UPF,
Área
de
Concentração
em
Produção
Vegetal
–
[email protected]
2
Orientador, Eng. Agr., Dr., pesquisador da Embrapa Trigo e professor da
FAMV/PPGAgro/UPF – [email protected]
3
Co-orientador, Dr., pesquisador da Embrapa Trigo, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária de Passo Fundo/RS- [email protected]
4
Co-orientador, PhD., pesquisador da Embrapa Soja de Londrina/PR [email protected]
2
peso de grãos e no PH. No estádio de grão cheio leitoso do trigo, o
peso de mil grãos foi reduzido pela infestação de D. furcatus (dois
insetos/planta). Ainda, neste estádio, a germinação e o vigor das
sementes foram influenciados negativamente pelas espécies D.
furcatus, N. viridula e D. melacanthus ocasionando morte das
plântulas. Em plântulas de soja, a infestação de D. melacanthus e D.
furcatus (um percevejo/planta) não causou redução no peso de grãos e
no número de vagens e de grãos e não aumentou a suscetibilidade das
plantas ao quebramento. Em milho, em estádio vegetativo, D.
melacanthus (um inseto/planta), provocou redução na altura e
enrolamento das folhas centrais da planta, redução no número de
folhas expandidas, na massa seca aérea e das raízes. Infestações de D.
melacanthus (quatro percevejos/m) e N. viridula (oito percevejos/m)
no estádio vegetativo das plantas de milho reduzem o número de
espigas. D. melacanthus, D. furcatus e N. viridula (dois, quatro e oito
percevejos/m) provocam perfurações nas folhas, redução de altura,
enrolamento ou morte do cartucho. O comprimento de espigas de
milho foi reduzido com a infestação de N. viridula (oito
percevejos/m).
Palavras-chave: percevejo-verde,
percevejo-marrom,
barriga-verde, sintomas de dano, produção.
percevejo-
DAMAGE ASSESSMENT OF FOUR SPECIES OF STINK
BUGS (HETEROPTERA: PENTATOMIDAE) ON WHEAT,
SOYBEAN AND CORN
MARGARIDA FLORES ROZA-GOMES1, JOSÉ ROBERTO
SALVADORI2, PAULO ROBERTO VALLE DA SILVA
PEREIRA3, ANTÔNIO RICARDO PANIZZI4
ABSTRACT – The stink bugs associated with wheat, soybean and
corn can represent a threat problems due to the possibility of causing
damage to plants. The knowledge and technology available today, are
not sufficient to fully understand the potential damage and control of
these insects in the reproductive phase of wheat and early
development of soybeans and corn. Five experiments were conducted
with the objective of evaluate the damage in varying levels of
infestation of Dichelops melacanthus, D. furcatus, Euschistus heros
and Nezara viridula at different stages of wheat, soybeans and corn.
Four experiments were performed in greenhouse (completely
randomized) and one in the field (completely randomized design). In
wheat, N. viridula (two stink bugs/plant) at the flowering complete
stage, caused a reduction in grain weight and the PH. At the wheat
1
Bióloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGAgro) da
FAMV/UPF,
Área
de
Concentração
em
Produção
Vegetal
–
[email protected]
2
Orientador, Eng. Agr., Dr., pesquisador da Embrapa Trigo e professor da
FAMV/PPGAgro/UPF – [email protected]
3
Co-orientador, Dr., pesquisador da Embrapa Trigo, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária de Passo Fundo/RS- [email protected]
4
Co-orientador, PhD., pesquisador da Embrapa Soja de Londrina/PR [email protected]
4
milky ripe stage, the thousand grain weight was reduced by infestation
of D. furcatus (two insects/plant). At this stage, the germination and
vigour test were negatively influenced by D. furcatus, N. viridula and
D. melacanthus causing death of seedlings. In soybean seedlings, the
infestation of D. melacanthus and D. furcatus (one stink bug/plant)
caused no reduction in grain weight and number of pods and grains
and did not increase the susceptibility of plants to stalk. In corn, the
vegetative stage, D. melacanthus (one insect/plant), caused a
reduction in height and winding the central leaves of the plant,
reducing the number of expanded leaves and root canopy dry matter.
Infestations of D. melacanthus (four stink bugs/m) and N. viridula
(eight stink bugs/m) in the vegetative stage of corn plants, reduced the
spikes number. D. melacanthus, D. furcatus and N. viridula (two, four
and eight stink bugs/m) caused holes in the leaves, reduced height,
winding or death of the cartridge. The length of ears of corn was
reduced with the infestation of N. viridula (eight bugs/m).
Key words: Southern green stink bug, brown stink bug, green belly
bug, damage symptoms, yield.
5
1 INTRODUÇÃO
A ordem Hemiptera é uma das principais sob o ponto de
vista econômico, visto que é nesta que se encontram importantes
pragas de plantas cultivadas. Dentro desta Ordem, estão incluídos os
percevejos, os quais pertencem a Subordem Heteroptera.
Dentro da Subordem Heteroptera, a família Pentatomidae
é uma das maiores. Nesta família, estão os percevejos-praga das três
culturas de maior importância no Sul do Brasil (trigo, soja e milho)
que são objetos deste estudo.
Há muito tempo, vários pesquisadores tem dedicado horas
de estudo para tentar solucionar os problemas decorrentes do ataque
dos percevejos às culturas. No entanto, devido as grandes mudanças
ocorridas no setor agrícola, principalmente o plantio direto, a
diversidade de populações destes insetos tem aumentado, causando
grandes preocupações para os produtores e, principalmente para os
pesquisadores, que tem a responsabilidade de fornecer informações
precisas no intuito de auxiliar os agricultores no correto manejo destas
pragas.
Na região Sul do Brasil, os percevejos tem sido
observados colonizando trigo (Triticum aestivum), soja (Glycine max )
e milho (Zea mays). As informações referentes aos danos que estes
insetos tem causado às plantas ainda são insuficientes. Embora muitos
estudos tenham sido realizados, ainda muito se questiona a respeito do
potencial de dano de determinadas espécies de percevejos, em
diferentes estádios fenológicos das plantas cultivadas.
6
Em se tratando de especificidade de estudos, os que se
referem a soja são mais avançados, já existindo recomendações de
manejo integrado de pragas, inclusive contemplando os percevejos. Já
para milho e trigo, estes estudos são menos freqüentes e pouco
contemplam o que se tem observado no campo.
Para tanto, desenvolveram-se experimentos no intuito de
avaliar os danos em diferentes níveis de infestação de Dichelops
melacanthus, D. furcatus, Euschistus heros e Nezara viridula em dois
estádios da cultura do trigo, em plântulas de soja e em estádios
vegetativos do milho.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Morfologia e importância dos Pentatomidae
A família Pentatomidae é uma das maiores dentro da
Subordem Heteroptera. Existem aproximadamente 36.096 espécies
descritas de Heteroptera, das quais 4.123 espécies pertencem à família
Pentatomidae. Esta família é classificada como a terceira maior,
juntamente com a Lygaeidae, sendo superada por Reduviidae
(segunda maior família) e por Miridae, que é a maior família de
Heteroptera (PANIZZI et al., 2000).
Os percevejos fitófagos da Família Pentatomidae, são
caracterizados por possuírem forma arredondada ou ovóide; cinco
segmentos nas antenas; tarsos com três segmentos; escutelo curto,
reduzido posteriormente e de formato triangular (Fig. 1). São
7
chamados percevejos por produzirem um cheiro desagradável que é
expelido por glândulas que se abrem na região do metatórax
(PANIZZI et al., 2000).
Figura 1- Representação esquemática da morfologia externa de N.
viridula (Heteroptera: Pentatomidae) em vista dorsal.
Ilustração: Paulo R. V. da S. Pereira. (RIBEIRO-COSTA & ROCHA,
2006).
Durante o desenvolvimento, os percevejos passam pelas
fases de ovo, ninfa, (com 5 instares), e adulto. As ninfas apresentam
coloração variada com manchas distribuídas pelo corpo, completando
o desenvolvimento em cerca de 25 dias. Os adultos iniciam a cópula
em 10 dias e as primeiras oviposições ocorrem após 13 dias.
Apresentam longevidade média que varia de 50 a 120 dias e número
de gerações anuais de 3 a 6 dependendo da região (GALLO et al.,
2002). Ocorre dimorfismo sexual na qual as fêmeas, em geral, são
maiores que os machos. A distinção sexual é feita pelo formato da
genitália, nos machos com uma placa única (pigóforo) e nas fêmeas
8
com duas placas laterais. A fecundidade média varia de 120 a 170
ovos/fêmea dependendo da espécie. Além disso, o ritmo de postura
diminui à medida que as fêmeas envelhecem. No entanto, é
importante ressaltar que esses parâmetros biológicos são influenciados
pela dieta alimentar e pela temperatura (CORRÊA-FERREIRA &
PANIZZI, 1999).
Em relação à longevidade dos percevejos, Panizzi (1991)
comenta que esta varia de acordo com o sexo, atividade sexual e
qualidade nutricional do alimento. Em muitas ocasiões, os machos são
mencionados por viver mais tempo que as fêmeas. Esta redução de
longevidade nas fêmeas pode ser devido ao estresse causado pela
oviposição. A produção de ovos, pelo fato de desviar os nutrientes e a
energia da manutenção das fêmeas, reduziria seu tempo de vida
(SLANSKY, 1980 ).
As diferenças de longevidade entre machos e fêmeas são
influenciadas pela qualidade nutricional do alimento, conforme
mencionado anteriormente. Por exemplo, machos do pentatomídeo P.
guildinii viveram por mais tempo do que fêmeas quando alimentados
com vagens de feijão (Phaseolus vulgaris) ou com vagens de soja. Em
amendoim (Arachis hypogaea) a longevidade para ambos os sexos foi
similar, e em sementes maduras de soja, as fêmeas viveram cerca de
duas vezes mais do que os machos (PANIZZI, 1991).
Nos heterópteros os comportamentos pré-copulatório
(cortejo) e de acasalamento são influenciados por vários sinais,
incluindo a produção de odores e de sons. Por exemplo, no caso do
percevejo-verde (N. viridula), os machos produzem feromônios
sexuais, os quais são importantes para encontrar a fêmea, e que, ao
9
mesmo tempo, tem um impacto ecológico importante por atrair
moscas parasitas (Tachinidae) (BORGES, 1995). Para esta espécie, a
produção de som é um componente importante no acasalamento, cujas
vibrações são repassadas pelo substrato (planta). Ainda, os sinais
vibratórios interferem na emissão dos feromônios, e os machos
emitem maiores quantidades de feromônios quando estimulados com
os sons emitidos pelas fêmeas (MIKLAS et al., 2003).
O acasalamento pode ser influenciado pela fonte
nutricional e pelo fotoperíodo. A duração da cópula em heterópteros
varia muito e é diretamente influenciada pela temperatura. No
pentatomídeo N. viridula, a cópula pode durar de 1 a 165 horas, por
exemplo. As cópulas de maior duração ocorrem quando os machos
estão em maior número do que as fêmeas, sendo esta, aparentemente,
uma estratégia para impedir a substituição do esperma (PANIZZI &
SILVA, 2009).
Os percevejos são insetos sugadores, ou seja, introduzem
os estiletes no substrato para se alimentar. Ao fazer isto, causam
injúrias aos tecidos vegetais, resultando em murcha e, em muitos
casos, o aborto de frutos e sementes. Os pentatomídeos fitófagos
podem sugar várias estruturas das plantas, porém as sementes e os
frutos são os locais preferenciais para sua alimentação. Durante o
processo de alimentação, eles também podem transmitir patógenos de
plantas, o que aumenta seu potencial de dano. Devido ao fato de se
alimentarem de várias espécies vegetais de importância econômica,
eles são considerados importantes pragas (PANIZZI et al., 2000).
A importância econômica dos pentatomídeos varia
bastante de espécie para espécie, e também planta atacada. Entre os
10
Pentatominae estão um grande número de insetos considerados praga
em várias plantas. Entre eles está inserido o percevejo-verde
generalista, N. viridula que é de importância mundial; Piezodorus spp.
importante na América do Sul, África / Oriente; Euschistus spp.
Eurydema spp.; Oebalus, Mormidea e Aelia são pragas de gramíneas,
principalmente de arroz e trigo. Em se tratando de pragas de espécies
arbóreas, estão as pragas de citros, Biprorulus bibax Breddin; Lincus
spp. em coco na América do Sul; Bathycoelia thalassina (Herrich Schaeffer) em cacau na África, e Plautia spp. em pomares no Oriente
(PANIZZI et al., 2000).
2.2 Aspectos nutricionais em Pentatomidae
Os hemípteros obtém nutrientes e água através dos
estiletes, os quais são inseridos na fonte nutricional. Durante o
processo alimentar, eles produzem uma saliva que solidifica após a
ejeção, formando uma bainha para os estiletes, e outra do tipo aquoso,
que contém enzimas digestivas (PANIZZI, 1991).
De acordo com o Hori (2000), os Heteroptera introduzem
seus estiletes no tecido das plantas, podendo se alimentar de uma das
seguintes maneiras: 1) com elaboração da bainha para os estiletes
(stylet-sheath feeding), 2) com dilaceração e saturação de seiva
(lacerate-and-flush feeding), 3) com maceração e saturação de seiva
(macerate-and-flush feeding), e 4) alimentação tipo bomba osmótica
(osmotic pump feeding). No primeiro caso, os insetos inserem seus
estiletes nos tecidos, principalmente no floema, destruindo algumas
células, e um estilete bainha é produzido, que permanece nos tecidos
11
da planta e pode ser usado para estimar a freqüência de alimentação
desses insetos. A parte externa da bainha é uma borda denominada
"flange". No segundo tipo, os insetos movem seus estiletes
vigorosamente para frente e para trás, e várias células são dilaceradas.
No terceiro, as células são macerados pela ação da pectinase presente
na saliva. E, finalmente, o quarto tipo atua injetando saliva (com
sucrase) no tecido vegetal para aumentar a concentração osmótica dos
fluidos intercelulares contendo açúcares e aminoácidos, os quais são
sugados, deixando as células vazias ao redor dos estiletes.
De acordo com Panizzi & Silva (2009) nos estiletes
(mandíbulas modificadas), existem estruturas que lembram dentes e
que são utilizadas para rasgar o tecido vegetal. Por exemplo, nos
percevejos pentatomídeos N. viridula, P. guildinii e E. heros e no
alidídeo N. parvus existem variações no tamanho dessas estruturas.
A saliva dos hemípteros contém uma série de enzimas e
metabólitos que variam de acordo com a espécie, com o indivíduo,
com o estágio de desenvolvimento, sexo e fonte nutricional utilizada.
Quando injetadas nas plantas, estas secreções salivares causam
deformidades (por
exemplo,
galhas,
rosetamento
de
folhas),
semelhantes àquelas causadas por hormônios de crescimento em
excesso. O ácido indolacético, quer derivado da planta hospedeira,
quer formado na glândula salivar, é considerado o composto mais
fitotóxico da saliva dos hemípteros. Os insetos sugadores de sementes
parecem requerer quantidades de água relativamente grandes, quando
se alimentando exclusivamente de sementes secas, e a saliva aquosa é
produzida em abundância durante a atividade alimentar. Em geral, a
água é obtida de outras plantas e/ou de tecidos vegetais da planta
12
hospedeira (PANIZZI, 2007).
Geralmente, ninfas e adultos apresentam taxas de consumo
baixa, mas as taxas de crescimento são moderadamente altas, e as
eficiências de assimilação (digestibilidades aproximadas), eficiências
de crescimento (eficiências de conversão do alimento digerido) são altas, quando comparadas, com aquelas observadas para outros grupos,
tais como os Lepidoptera herbívoros (mastigadores). As razões
relativas de consumo e crescimento tendem a declinar com o avanço
do desenvolvimento ninfal (PANIZZI, 1991).
De acordo com Panizzi (2007) a qualidade nutricional dos
diferentes alimentos irá influir na capacidade dos hemípteros
sugadores de sementes em estocar lipídios. Sabe-se que os lipídios são
substâncias essenciais para os insetos, devido as suas funções
metabólicas e estruturais. São de especial importância, não somente
para a manutenção, mas como uma fonte de energia metabólica para
ser usada em períodos de demanda prolongada de energia.
Muitos aspectos na vida dos insetos, tais como
comportamento, fisiologia e ecologia, estão, de uma ou outra maneira,
inseridos no contexto nutricional. A maioria dos hemípteros
(percevejos) preferem se alimentar de sementes verdes (imaturas), as
quais são mais macias e, portanto mais fácies de serem penetradas.
(PANIZZI, 1991).
De acordo com Parra et al. (2009), uma ninfa
(paurometabólica) tende a escolher um alimento apropriado para
consumi-lo em proporções balanceadas de tal forma a utilizá-lo
adequadamente
desenvolvimento,
para
promover
dando
origem
um
a
ótimo
um
crescimento
adulto
que
e
seja
13
reprodutivamente competitivo. Dessa forma, essa escolha envolve
adaptações e estratégias para cada espécie, incluindo a capacidade
compensatória em condições inadequadas e existindo também, grande
influência das condições ambientais.
Muitas
vezes,
os nutrientes
essenciais
não
estão
disponíveis e o inseto adapta-se para consegui-los por meio de vários
processos. Assim, o sincronismo do estágio do ciclo de vida com
épocas nas quais os nutrientes estão disponíveis é um destes
processos. Desta forma, os sugadores, por exemplo, estão em
sincronismo com a emissão de gemas nas plantas ou frutificações
(PARRA et al., 2009).
De acordo com Panizzi & Silva (2009) existem diversas
características físicas e estruturais das sementes e/ou das vagens, que
são importantes do ponto de vista da alimentação dos insetos
sugadores. Assim, por exemplo, a pilosidade das vagens, a dureza do
tegumento das sementes (por conter lignina, por exemplo) e, mesmo,
das paredes das vagens, a espessura das paredes das vagens, o espaço
de ar entre as paredes das vagens e as sementes, entre outras, são
características que podem impedir a atividade alimentar dos insetos
sugadores, parcial ou totalmente, principalmente das fases jovens
(ninfas) que possuem estiletes menores e mais frágeis que os adultos.
Panizzi & Alves (1993) com o intuito de verificar a
performance de ninfas e adultos do percevejo verde (N. viridula)
alimentados com vagens de soja (Glycine max) em diferentes estádios
fenológicos de desenvolvimento, avaliaram os estádios R3 (início
vagem), R4 (vagem completa), R5 (formação de sementes), R6
(sementes formadas), R7 (início da maturidade) e R8 (maturação
14
plena).
Os
resultados
mostraram
que
ocorre
variação
no
desenvolvimento do inseto em virtude do tipo de alimento oferecido.
A sobrevivência ninfal foi maior no estádio R6 e menor no R5. Em
geral, longevidade, sobrevivência, oviposição, peso corporal, e
acúmulo de lipídios foi maior quando alimentados em vagens no
estádio R7.
Também com o intuito de colaborar com estudo sobre a
influência do alimento no desenvolvimento dos insetos, Panizzi et al.
(1996) estudaram a performance de N. viridula alimentando-se de
plantas de alfeneiro (Ligustrum lucidum) Thunb. (Oleaceae) e outros
hospedeiros. Os resultados mostraram que as ninfas apresentaram uma
melhor performance quando alimentadas com frutos imaturos de soja,
Glycine max (L.) Merrill (Leguminosae), do que em frutos imaturos
de ligustro. No entanto, para adultos de N. viridula, alimentados com
ligustro apresentaram uma melhor performance do que com soja.
Ainda, observaram que a fecundidade foi 2-3 vezes maior em ligustro
tanto de forma isolada quanto suplementado com sementes de soja +
amendoim, Arachis hypogaea (L.) (Leguminosae) do que em soja ou
em folhas de agrião, Nasturtium officinale L.(Brassicaceae). Estes
resultados indicam que N. viridula expandiu a sua gama de
hospedeiros para o ligustro no Brasil, e que os frutos desta planta são
particularmente uma alimentação adequada para adultos.
Parra et al. (2009) afirmam que a escolha do alimento não
é somente determinada pelos componentes nutritivos como também
pelas características físicas e pelos aleloquímicos das dietas. Os
aleloquímicos têm um papel importante na seleção do hospedeiro e os
insetos desenvolveram mecanismos para evitá-los. Assim, os
15
sugadores de semente, por exemplo, evitam as toxinas existentes na
casca, atravessando-a com os estiletes e se alimentando apenas dos
cotilédones. Além disso, alguns insetos evitam aleloquímicos com
produção de surfactantes, alcalinização do trato digestivo ou mesmo
através de excreção rápida.
Os
insetos
podem
compensar
a
baixa
qualidade
nutricional, consumindo mais alimento ou alterando a eficiência de
utilização. Outras vezes, por limitação de alimento, tem que aumentar
a procura, aumentar a capacidade de dispersão e mesmo aumentar o
espectro de alimentos utilizados. Em jejum, a ação enzimática é
diminuída, devido à menor ação metabólica (PARRA, 1991).
Levando-se em conta que o desempenho do inseto pode
ser afetado por fatores bióticos e abióticos, para os herbívoros, a
qualidade da planta varia com a idade da folha, condições de
crescimento da planta (temperatura, fertilidade do solo), infecção por
patógenos, parasitóides e danos anteriores por outros insetos e mesmo
pela ação de produtos químicos (PARRA et al., 2009).
De acordo com Chocorosqui (2001) a maioria dos
pentatomídeos fitófagos se alimenta de plantas na fase reprodutiva,
por serem sugadores de sementes. Portanto, apesar da ocorrência de
D. melacanthus na fase inicial das culturas de milho e trigo, é possível
que não consiga se desenvolver e reproduzir alimentando-se
unicamente dessas plântulas; provavelmente, os restos culturais
(sementes, vagens secas, etc.) possuem um papel importante para o
desenvolvimento e reprodução desses percevejos a campo.
Bianco (1998) desenvolveu uma técnica para criar o
percevejo barriga-verde (D. melacanthus) em laboratório, utilizando-
16
se feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.) e plântulas de milho como
alimento. De acordo com o autor, é possível manter a criação por
longos períodos, desde que se faça a revitalização da colônia através
da reposição com insetos provenientes do campo. A utilização dessas
plantas separadamente não foi testada.
Em
estudos
com
o
percevejo
barriga-verde
(D.
melacanthus), foi observado que apesar deste estar atacando plantas
de milho e trigo durante a fase vegetativa, não se sabe ao certo se esse
pentatomídeo está se alimentando única e exclusivamente dessas
gramíneas, ou se ele necessita de outras fontes nutricionais para
completar seu ciclo. Os pentatomídeos são geralmente polífagos;
entretanto,
esses
insetos
podem
apresentar
preferência
por
determinadas plantas. A ausência da planta normalmente utilizada
como alimento pode levar o inseto a buscar plantas hospedeiras menos
preferidas, podendo apresentar alterações quanto ao desempenho de
ninfas e adultos (PANIZZI, 2000).
Várias características associadas às plantas influenciam o
desempenho de insetos sugadores de sementes, como a maioria dos
pentatomídeos fitófagos. A presença de compostos nutricionais e
aleloquímicos, bem como as características físicas do alimento, podem
alterar
o
desenvolvimento,
a
performance
reprodutiva
e
a
sobrevivência dos adultos (SLANSKY & PANIZZI, 1987; PARRA
1991).
Segundo Panizzi (1997) a utilização de sementes de
diferentes espécies ou cultivares de plantas também faz com que
existam alterações no desempenho de ninfas e adultos pentatomídeos.
17
Pinto & Panizzi (1994) realizaram estudos em laboratório
para verificar o desempenho de ninfas e adultos de E. heros em
amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla) e em soja (Glycine max) e
o efeito da troca de alimento na sobrevivência, reprodução e ganho de
peso de adultos. Os resultados mostraram que, em geral, E. heros teve
um desempenho melhor no amendoim-bravo (21,5%) do que em soja
(28,6%). As ninfas completaram o seu desenvolvimento mais
rapidamente no amendoim-bravo (21,0 dias) do que em soja (23,5
dias). A sobrevivência dos adultos após 50 dias foi semelhante (70%)
em ambos os alimentos. Ainda, o número de massas de ovos/fêmea foi
semelhante em todas as combinações de alimento, mas uma
porcentagem maior de fêmeas ovipositou quando criadas em
amendoim-bravo (90%) do que quando criadas em soja (50%). A
troca de alimento da fase ninfal para a fase adulta aumentou a
porcentagem de fêmeas que ovipositaram, mas diminuiu a
eclodibilidade das ninfas. Ainda, o peso dos adultos após 28 dias foi
menor para aqueles alimentados exclusivamente de amendoim-bravo.
Bianco (1998) utilizou feijão vagem para alimentar ninfas
de 2º e 3º ínstar. Ninfas de 4º e 5º ínstar e adultos foram alimentados
com feijão vagem e plântula de milho. Nessas condições, a criação foi
mantida por mais de um ano, havendo a necessidade de introduzir
insetos do campo a cada 5-6 meses para revitalização da colônia.
Nenhum teste foi realizado para avaliar a eficiência dos alimentos
individualmente.
Hirose et al. (2006) verificaram o potencial de uso de
antibiótico (estreptomicina) adicionado a água de beber para melhorar
a performance de N. viridula criada em laboratório. Assim, os
18
resultados mostraram que ao adicionar estreptomicina à água
(concentração de 125mg/l) o desenvolvimento ninfal de N. viridula foi
acelerado, houve aumento de sobrevivência e da longevidade dos
adultos, sem afetar a sobrevivência ninfal e o peso dos adultos,
quando comparados com as testemunhas. Neste sentido, observaram
que este antibiótico apresenta potencial para ser utilizado em sistemas
de criação do inseto, em especial no tratamento dos insetos coletados
no campo, reduzindo a introdução de bactérias patogênicas na colônia
e melhorando a qualidade da criação.
2.3 Pentatomidae de importância agrícola
2.3.1 Euschistus heros (Fabricius) - Percevejo-marrom
O percevejo marrom, E. heros é nativo da Região
Neotropical e tem a soja como seu hospedeiro principal. Esta espécie é
adaptada às regiões mais quentes, portanto é mais abundante do Norte
do Estado do Paraná ao Centro Oeste brasileiro. As fêmeas ovipositam
nas folhas, massas com 5 a 7 ovos amarelados. As ninfas recém
eclodidas permanecem sobre os ovos e mudam para o segundo instar,
quando iniciam o processo alimentar. A partir de terceiro instar são
mais ativas, iniciam a dispersão, tornando-se mais vorazes. Os adultos
apresentam longevidade média de 116 dias, podendo viver por mais
de 300 dias (CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI, 1999).
Esta espécie é encontrada na soja nos meses de novembro
a abril, quando produz três gerações. Neste período, pode se alimentar
também de amendoim bravo (Euphorbia heterophylla.) Após a
19
colheita da soja, pode se alimentar de carrapicho-de-carneiro,
(Acanthospermum hispidum), de girassol, (Helianthus annuus.), e de
guandu, (Cajanus cajan). Em guandu, E. heros completa a quarta
geração antes de entrar em diapausa sob folhas mortas caídas no solo e
restos de cultura, onde permanece até a próxima primavera. Esta
estratégia permite ao inseto atravessar o período desfavorável (maio a
novembro), sem se alimentar, vivendo às custas de energia (lipídios)
armazenada antes de entrar em dormência. O fato do percevejo
marrom permanecer sob a vegetação por cerca de sete meses, permite
escapar do ataque de parasitóides e predadores na maior parte do ano,
resultando em maior sobrevivência e favorecendo a sua abundância
(CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI, 1999).
Costa et al. (1998) estudaram a biologia reprodutiva de
Euschistus heros em laboratório sob 24±0,5ºC, 70±10% UR e fotofase
de 14 h. O tempo médio de desenvolvimento até adulto foi de 38,6
dias, sendo o 2º estádio ninfal, o de maior índice de mortalidade
(10,4%). A longevidade de E. heros variou de acordo com o sexo e a
atividade sexual. Machos e fêmeas atingiram a maturidade sexual com
11,4 e 11,2 dias, respectivamente. O número médio de ovos por fêmea
variou de 108,5 até 130,5.
2.3.2 Nezara viridula ( Linnaeus) - Percevejo-verde
Originário do Norte da África, tem distribuição mundial,
sendo mais adaptado as regiões mais frias do Brasil (Região Sul),
onde é mais abundante. É extremamente polífago e, ao contrário do
percevejo marrom, permanece em atividade o ano todo nas regiões
20
com temperaturas mais amenas, como o Norte do Paraná, quando se
reproduz por um período mais longo, podendo completar até seis
gerações por ano. Na Região Sul do Brasil, após a colheita da soja, o
percevejo verde entra em hibernação sob casca de árvores ou em
abrigos, como fendas em troncos e mesmo em residências. Nesta
época, troca de cor, passando de verde para castanho arroxeado. No
Norte do Paraná, o percevejo verde completa três gerações em soja de
dezembro a abril. Durante maio a agosto se reproduz no desmódio,
(Desmodium tortuosum), no nabo-bravo (Raphanus raphanistrum),
em mostarda (Brassica campestri) ou em guandu (Cajanus cajan),
completando mais duas gerações, dispersando para o rubim, Leonurus
sibiricus, onde completa uma sexta geração antes de voltar a colonizar
a soja novamente no verão. Durante todo o ano, N. viridula, é visto
sobre plantas de mamona, Ricinus communis. Nos meses mais frios,
permanecem em grupos sobre as folhas de mamona, expondo-se ao
sol. Ainda, eventualmente, é encontrado em carrapicho-de-carneiro
(A. hispidum) e em trigo no período de outono e inverno, sem se
reproduzir. O percevejo verde oviposita preferencialmente nas folhas
de 70 a 100 ovos/postura. As ninfas apresentam coloração verde ou
preta, com diferentes manchas distribuídas pelo corpo, completando o
seu desenvolvimento em cerca de 25 dias. Os adultos tem uma
longevidade média de 53 dias (CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI,
1999).
Em estudos laboratoriais com o intuito de verificar o
desempenho de ninfas e de adultos de tipos geneticamente
determinados de N. viridula sob diferentes condições de temperatura e
fotoperíodo, os resultados mostraram que, em geral, à medida que
21
aumentou a temperatura e o fotoperíodo, as ninfas completaram o
ciclo mais rápido. Ainda, observou-se que o tipo O é mais adaptado às
temperaturas/ fotoperíodos menores o que explica a sua maior
ocorrência no extremo sul do Brasil (VIVAN & PANIZZI, 2005).
Panizzi (1995) estudou em laboratório a freqüência, a
duração e a preferência alimentar de N. viridula afetadas pelo estádio
de desenvolvimento, idade e condição fisiológica. Desta forma, os
resultados mostraram que o número de bainhas alimentares
depositadas por dia sobre sementes de soja maduras e hidratadas
aumentou de 2 para 12 a medida que as ninfas passaram do 2º ao 5º
instar. Observou também que as ninfas de 2º e 5º instares
alimentaram-se por mais tempo que as ninfas de 3º e 4º instares. Ao se
comparar a preferência alimentar por vagens de soja (imaturas) ou
amendoim, as ninfas preferiram vagens de soja, principalmente as
jovens, ao passo que os adultos não demonstraram esta preferência. A
freqüência das bainhas depositadas por adultos aumentou do dia 1 ao
dia 4, decrescendo após este período.
Estudos sobre substratos artificiais de oviposição para N.
viridula foram testados por Panizzi et al. (2004). Desta forma o
bioensaio foi desenvolvido para testar a preferência de oviposição do
percevejo verde, para os extratos químicos retirados de vagens e
folhas de soja. Os resultados indicaram que o extrato metanólico
retirado da vagem estimulou uma maior oviposição. Ainda,
observaram que os insetos não diferenciaram os substratos com as
sensilas da genitália e sim, através das antenas.
Panizzi (2006) em estudo sobre o comportamento de
oviposição de N. viridula, observou que após ter expelido o ovo, a
22
fêmea encosta a massa de ovos com a face dorsal do último tarsômero.
Fato este que é pouco conhecido no comportamento de oviposição
desta espécie de pentatomídeo e ainda não totalmente elucidado,
especulando-se que este comportamento possa vir a auxiliar no
posicionamento e aglutinação dos ovos uns aos outros.
2.3.3 Dichelops spp. - Percevejos- barriga-verde
Dichelops furcatus (Fabricius) e Dichelops melacanthus
(Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae), são os populares percevejosbarriga-verde. São espécies neotropicais. Os adultos medem de 9 a 11
mm e sua coloração varia entre castanho amarelado ao acinzentado,
apresentando o abdome verde. A cabeça é típica, terminando em duas
projeções pontiagudas e o pronoto com margens anteriores denteadas
e expansões laterais espinhosas. Esses percevejos têm sido observados
em lavouras de milho danificando plantas jovens, causando
amarelecimento e lesões punctiformes nas folhas. Danos semelhantes
têm ocorrido também em trigo, mas em menor intensidade
(CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI, 1999).
Segundo Grazia (1978), as características das espécies de
Dichelops (Diceraeus) são: tamanho variando de 9 a 12 mm; cabeça
com jugas agudas; ângulos umerais na forma de espinhos, podendo ser
longos ou arredondados; margens ântero-laterais do pronoto
serrilhadas; rostro alcançando as coxas posteriores; abdômen de
coloração verde (predominante). Os ovos de Dichelops spp. são de
coloração verde claro, ovóides, dispostos em grupos de tamanho
variável, os quais são formados por três ou mais fileiras mais ou
23
menos definidas, à semelhança das posturas de Euschistus heros
(Fabr.) (SAINI, 1984). As ninfas apresentam geralmente coloração
marrom-acinzentada na região dorsal e verde na abdominal. São
confundidas a campo com as ninfas de E. heros, mas podem ser
diferenciadas pelas jugas bifurcadas e agudas, e pela coloração do
abdômen.
Em relação à Dichelops (Neodichelops) furcatus , o ovo
desta espécie apresenta coloração verde-clara, brilhante e, à medida
que amadurece, torna-se verde acinzentado, apresentando, por
transparência, dois pontos vermelhos que correspondem aos olhos.
Apresentam cinco estádios ninfais, com características morfológicas
distintas. Constataram que nos dois primeiros estádios ninfais, D.
furcatus assemelha-se muito a Euschistus heros. A partir do 3°
estádio, pode-se distinguir facilmente as duas espécies pela forma das
jugas que, para o gênero Dichelops, se apresentam bifurcadas e mais
aguçadas no ápice, ultrapassando nitidamente o clípeo (GRAZIA,
1978).
Pereira
et
al.
(2007)
estudaram
características
morfológicas das fases de desenvolvimento e a biologia de D.
melacanthus (Dallas) em estudos laboratoriais, no qual selecionaram
10 posturas, totalizando 130 ovos, que foram acompanhadas desde a
oviposição até a fase adulta (a 25ºC ± 2, 12h fotofase e 70% ± 5 UR)
sendo as mesmas observadas e fotografadas em lupa estereoscópica,
com aumentos variando entre 10 a 35 vezes. Assim, obtiveram os
seguintes resultados: em relação às fases de desenvolvimento,
observaram que os ovos logo após a postura apresentam coloração
verde-clara e à medida que maturam vão escurecendo. No terceiro dia
24
após a oviposição podem ser observados no interior dos ovos, por
transparência, dois pontos vermelhos, que correspondem aos olhos
compostos. Próximo da eclosão das ninfas, os ovos apresentam
coloração castanho-escura. O número de ovos por postura foi de 13,0
± 0,52, com um período de incubação de 4,36 ± 0,07 dias e um
percentual de ovos viáveis de 38,5%. As ninfas possuem diferenças
morfológicas bem evidentes em seus 5 instares até atingirem a fase
adulta. O adulto de D. melacanthus apresenta corpo de forma similar a
um losango com comprimento médio de 10,5mm. Coloração geral
castanha em vista dorsal e, em vista ventral, com abdômen
esverdeado, podendo em alguns casos apresentar coloração castanhoclara. Cabeça com jugas agudas e ultrapassando o clípeo. Margens
antero-laterais do pronoto serrilhadas. Ângulos umerais na forma de
espinhos de coloração negra e geralmente agudos. A duração do
período ovo-adulto foi de 26,08 ± 0,24 dias e a razão sexual observada
foi de 0,58. Do total de 130 ovos observados foram obtidos apenas 33
adultos.
Chocorosqui & Panizzi (2008) realizaram estudos de
biologia de ninfas e de adultos de D. melacanthus (Dallas)
alimentando-se de plantas cultivadas e não-cultivadas, no intuito de
verificar a performance dos insetos e a preferência alimentar. No
estudo, a mortalidade ninfal variou de ≈ 60% em milho (semente
madura) a 77% em trigo (espiga imatura); nenhuma ninfa sobreviveu
em plântulas de milho ou trigo. O desenvolvimento ninfal em soja,
milho ou trigo (semente, vagem ou espiga) variou de 25,5 a 32,8 dias.
O peso dos adultos na emergência foi menor em espiga de trigo. As
ninfas alimentaram-se preferencialmente de soja (vagem imatura). Nas
25
plantas não-cultivadas, as ninfas tiveram mortalidade de 73% em
crotalária (vagem imatura); e 100% em trapoeraba (ramo). O
desenvolvimento ninfal foi mais lento em crotalária ou trapoeraba do
que em soja. A longevidade total dos adultos variou de 31-43 dias,
exceto em plântulas de milho e trigo (< 15 dias). O ganho de peso
ocorreu em todos os alimentos, menos plântulas de milho e trigo.
2.4 Danos de pentatomídeos às plantas
Devido à expansão do sistema de semeadura direta e da
safrinha de milho, houve um crescimento populacional de algumas
espécies de percevejos, consideradas anteriormente pragas secundárias
(PANIZZI, 1997).
Áreas cultivadas durante o ano todo fornecem condições
ideais para a sobrevivência de insetos polífagos, cuja população pode
aumentar a ponto de causar danos significativos em diversas culturas.
Os danos nos tecidos vegetais, incluindo sementes e frutos, são
resultantes da freqüência de penetração dos estiletes duração de
alimentação, associado às secreções salivares que podem ser tóxicos e
causar necrose tecidual (SLANSKY & PANIZZI, 1987).
Os percevejos sugadores de sementes alimentam-se
inserindo os estiletes e sugando as porções líquidas. Durante a
atividade alimentar, eles injetam agentes histolíticos que liquefazem
as porções sólidas e semi-sólidas das células, o que permite a ingestão
(MINER, 1966).
26
2.4.1 Danos em trigo
Há muito tempo já se estuda a relação entre percevejos e
trigo. Maia (1973) apresentou a ocorrência de N. viridula em espigas
de trigo no Rio Grande do Sul e também realizou um ensaio para
verificar os danos provocados por 10 percevejos por metro quadrado
(em gaiolas de 1m x 1m) em lavoura de trigo. Desta forma, os
resultados mostram que nas lavouras examinadas nos municípios de
Cruz Alta, Passo Fundo, Não-me-Toque e Carazinho, foram
encontrados ninfas e adultos do percevejo atacando espigas de trigo.
Os danos constantes foram: espigas mal formadas (variou de 3,8 e
13% das espigas), grãos defeituosos e muitas espigas sem grãos.
Link & Panichi (1979) realizaram estudo para determinar
o efeito de diferentes densidades de N. viridula, em gaiolas, sobre três
variedades de trigo, em Santa Maria, RS. Os níveis de infestação
foram 0, 2, 4, 6 e 8 adultos/gaiola, com cinco repetições por densidade
e variedade. Foi observado que o ataque N. viridula pode pode afetar o
rendimento e a qualidade do trigo. A medida que aumenta a densidade
de infestação ocorre queda de rendimento, número de grãos por espiga
e poder germinativo. N. viridula causou abortamento e má formação
de grãos. Ainda, verificaram que as variedades comportaram-se
diferentemente em relação ao ataque.
Gomez (1980) estudou os danos causados ao trigo pelo
percevejo Thyanta perditor. Esta espécie tem o hábito de se alimentar
sugando os grãos de trigo. No entanto, foi notada a sua presença na
cultura da soja em Dourados/MS. O experimento foi conduzido em
gaiolas, nas quais se procurou manter um número constante de
27
espigas, sob a ação de quatro níveis populacionais de percevejos
adultos e com testemunha isenta de ataque. Os insetos foram mantidos
durante 40 dias sobre o trigo, sendo que os indivíduos mortos foram
substituídos por ocasião das observações realizadas diariamente. Os
resultados mostraram que esta espécie de pentatomídeo pode influir
negativamente no número de grãos por espiga, no peso de mil
sementes e no poder germinativo, à medida que aumenta seu nível
populacional sobre a cultura. Os dados obtidos levam a acreditar que
T. perditor pode causar danos ao trigo, principalmente se o nível de
infestação for de um percevejo/espiga ou maior. Segundo o autor, há
que se atentar para o fato de que os insetos foram mantidos durante 40
dias alimentando-se no interior das gaiolas, e esta situação, na prática,
dificilmente irá ocorrer.
Segundo Gassen (1984) os heterópteros observados com
maior freqüência em trigo são os pentatomídeos N. viridula e T.
perditor. Em estudos realizados por este autor, foi constatado que a
fase crítica do trigo para o dano do percevejo-verde, N. viridula, é a de
emborrachamento, quando os mesmos se alimentam da espiga em
formação, dentro da bainha da folha. O ataque nessa fase pode causar
a morte de toda a espiga, parte dela ou de espiguetas. Em infestações
de um percevejo/colmo durante 14 dias, a partir da fase de
emborrachamento, houve redução de 95 % no rendimento de grãos.
Na cultura do trigo, no estado do Paraná, as primeiras
observações dos percevejos barriga-verde ocorreram em 1995, na
região Oeste do Estado. Em 1998, o problema foi novamente
observado por pesquisadores da Embrapa em diversas regiões do
Paraná. No ano seguinte, a população de Dichelops spp. observada em
28
trigo nesse Estado foi muito maior do que nos anos anteriores,
tornando-se
preocupante
para
agricultores
e
pesquisadores
(CHOCOROSQUI, 2001).
Segundo Panizzi & Chocorosqui (2000) D. melacanthus
aparece a partir da emergência das plântulas de trigo, aumentando
durante o início do período vegetativo e decaindo após o início do
espigamento. A população de D. melacanthus observada em áreas
com semeadura direta é muito maior do que em áreas onde foi
realizada semeadura convencional (revolvimento do solo). Os danos
em trigo são semelhantes aos descritos em milho. Os percevejos
atacam as plantas novas, causando enrosetamento e perfilhamento
anormal das plantas, que em alguns casos conseguem se desenvolver,
mas produzem espigas menores e permanecem verdes na época em
que deveriam estar maduras e prontas para a colheita.
Segundo Chocorosqui & Panizzi (2004) todas as fases de
desenvolvimento do trigo são suscetíveis ao ataque de Dichelops
melacanthus, porém a maior redução do rendimento ocorre devido à
ação dos mesmos do alongamento dos caules (26,5%) ao estágio de
grão leitoso (33,1%).
Chocorosqui (2001) salienta que os danos qualitativos em
trigo seguem uma seqüência de eventos, que se inicia com pontuações
transversais, passando para necrose, enrolamento e/ou secamento da
parte da folha acima das pontuações, além da formação de perfilhos
anormais causando o sintoma de "cebolinha", caracterizado pela não
separação das folhas.
Manfredi - Coimbra et al. (2005) realizaram experimentos
para quantificar os danos causados por diferentes níveis populacionais
29
(0, 2, 4, 8 e 16 percevejos) de D. melacanthus em dois cultivares de
trigo (BR 18 e BRS 193) e observaram que a alimentação do
percevejo-barriga-verde durante a fase de perfilhamento do trigo, tem
um efeito direto sobre o espigamento. Ainda, verificaram que o
número de espigas, o peso de mil sementes e o rendimento
decresceram de forma linear com o aumento do nível de infestação
para as duas cultivares testadas.
2.4.2 Danos em soja
A soja (Glycine max), é uma leguminosa cultivada em
todo o mundo. A cultura é colonizada por muitos insetos, incluindo
heterópteros pragas que se alimentam principalmente de sementes. A
tempos atrás (década de 70) a lista de hemípteros-praga desta cultura
continha apenas 13 espécies e incluía insetos não necessariamente
associados à soja, mas presentes no campo onde a mesma era
cultivada. Mais recentemente, em meados de 1980, 32 espécies foram
listadas em campos de soja no Brasil e em outros países da América.
O número de hemípteros certamente aumentou durante o período de
1990- 2007, devido a expansão da cultura. Não só o número de
Heteroptera em soja aumentou, mas o cenário das pragas também foi
modificado. Por exemplo, o percevejo-verde-pequeno, raramente era
encontrado na soja em 1970. Hoje é muito abundante e encontrado em
toda região de cultivo da soja no Brasil. Outro exemplo é o percevejomarrom, E. heros, também raro há tempo atrás e hoje, o mais
abundante percevejo em soja no Brasil. Isto porque, além da sua
30
adaptação à alimentação e reprodução em soja, tem capacidade de
hibernação (PANIZZI, 2007).
Conforme Panizzi et al. (2005), com a adoção do sistema
de plantio direto, muitos insetos passaram a se abrigar nos restos de
cultura. Dentre eles, várias espécies de percevejos, como o percevejo
barriga-verde,
D.
melacanthus
e
o
percevejo-formigão,
Neomegalotomus parvus, passaram a se alimentar de sementes caídas
no solo e das plântulas de soja. Após a germinação, tanto o percevejobarriga-verde como o percevejo-formigão podem ser observados
alimentando-se das plântulas, mais especificamente nos cotilédones.
Quando ocorre isso, os cotilédones amarelecem precocemente e
aparecem pontuações escurecidas. As folhas podem mostrar sintomas
temporários de amarelecimento, os quais desaparecem, à medida que a
planta avança em desenvolvimento. Isso tem gerado discussões a
respeito da importância desses insetos em causar danos significativos
nessa fase de desenvolvimento da cultura.
D. melacanthus, desde a década de 70, tem sido
mencionado como praga secundária da soja, causando danos à cultura
em áreas restritas e em determinados anos. Por exemplo, na região de
Palotina, no oeste do Estado do Paraná, a incidência desses insetos
tem sido mais freqüente. Normalmente, sua ocorrência tem se
restringido ao período reprodutivo da soja, atacando as vagens com
grãos verdes. Na safra de 1999/2000, observou-se no norte do Paraná,
o ataque do percevejo em plântulas de soja, fato até então
desconhecido. Os insetos foram observados alimentando-se dos
cotilédones da soja, causando amarelecimento e áreas necrosadas nos
cotilédones. Observou-se também que os percevejos ao ficarem no
31
solo, na palhada, alimentam-se de sementes maduras caídas no solo
(PANIZZI & CHOCOROSQUI, 2000).
Em estudos realizados por Panizzi et al. (2005), foi
observado que o efeito dos danos dos percevejos (D. melacanthus e
Neomegalotomus parvus) em plântulas de soja não afeta o rendimento.
Os experimentos foram conduzidos em casa-de-vegetação com a cv.
BR – 37, onde demonstraram que, com dois adultos do percevejobarriga-verde ou percevejo-formigão por planta, durante sete dias, não
houve queda no rendimento de grãos. Além disso, foi observado que a
alimentação dos percevejos em plântulas não afeta significativamente
o peso da semente, embora as plântulas mostrem o efeito do ataque
nos cotilédones. Isso quer dizer que os danos no início do
desenvolvimento da planta não se transferem para a semente, que se
desenvolve sem alterações. A altura da planta de soja e o diâmetro do
caule também não foram afetados pelo ataque de percevejos na fase
inicial do desenvolvimento da cultura. A suspeita de que o ataque de
percevejos pudesse causar redução no crescimento final e na quebra
dos caules, com posterior tombamento das plantas, não se confirmou,
mesmo com a alimentação intensa dos percevejos, em altas
populações, e por um período de sete dias.
Os percevejos podem causar danos irreversíveis na soja
afetando diretamente o rendimento e a qualidade das sementes. Os
grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com cor mais
escura que o normal. Além disso, podem apresentar doenças como a
mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora corily, o qual é
transmitido durante a alimentação. Nos ataques iniciais, pode ocorrer
o abortamento das vagens. Além da redução na qualidade, na
32
viabilidade e no vigor, as sementes de soja danificadas por percevejos
sofrem alterações nos teores de proteína e de óleo. Ainda, podem
causar o retardamento da maturação (retenção foliar e haste verde), o
que dificulta a colheita (CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI, 1999).
O ataque dos insetos pode inutilizar a semente ou reduzir
sua viabilidade, originando plântulas com baixo vigor. O local das
puncturas é mais importante que o número pois, uma punctura no eixo
da radícula ou do hipocótilo pode impedir a germinação (JENSEN &
NEWSOM, 1972).
Em soja, as puncturas dos pentatomídeos nas sementes
causam o aparecimento de manchas escuras minúsculas, e áreas
esbranquiçadas revelam espaços de ar produzidos quando os
conteúdos celulares são extraídos (MINER, 1966).
Conforme Villas Boas et al. (1990) as sementes de soja
picadas pelos percevejos, podem apresentar manchas típicas, podendo
ser deformadas ou enrugadas e, tem sua composição química alterada,
ou seja, o teor de proteína tende a aumentar, ocorrendo o inverso com
o teor de óleo.
De acordo com Corrêa-Ferreira & Panizzi (1999) várias
espécies de percevejos podem causar danos diferenciados na soja,
sendo o percevejo verde pequeno P. guildinii o mais prejudicial
afetando tanto a qualidade dos grãos como originando maior retenção
foliar. Das três espécies principais, o percevejo marrom (E. heros) é o
que causa danos menores.
Muito se discute sobre a popular “quebra” de plantas de
soja. Ou seja, as plantas apresentam uma depressão, podendo evoluir
para um anelamento na haste, logo acima do nó cotiledonar causando,
33
posteriormente, o tombamento ou quebra das plantas, ainda no estádio
vegetativo. Neste sentido, Gassen (2001) atribuiu este problema às
injúrias causadas pelos percevejos barriga-verde ao se alimentar de
plântulas de soja.
Corrêa-Ferreira et al. (2006) destacam que diferentes
estudos foram realizados em casa-de-vegetação e a campo, utilizando
percevejos coletados em campo das espécies D. melacanthus e E.
heros, com diferentes metodologias, na tentativa de avaliar o dano dos
mesmos na fase inicial do desenvolvimento da cultura da soja e,
especialmente, simular o dano de tombamento e quebra de planta,
constatado em diferentes áreas de ocorrência. Entretanto, nenhum
dano na haste, com conseqüente surgimento de lesão ou depressão
logo acima do nó cotiledonar e posterior tombamento das plantas, foi
constatado, nem mesmo redução significativa na altura das plantas e
no diâmetro da haste. Além disso, os resultados permitiram concluir
que o rendimento das plantas de soja não foi afetado pelo dano de
percevejos, nessa fase inicial do desenvolvimento, conforme
resultados obtidos em casa-de-vegetação, mesmo utilizando diferentes
cultivares.
Portanto, até o momento os levantamentos não mostram
uma causa única de quebra da planta de soja mas, indicam a
combinação de fatores/inter-relacionados que afetam a fisiologia da
planta (CORRÊA-FERREIRA et al., 2006).
34
2.4.3 Danos em milho
As espécies de percevejos barriga-verde, pertencentes ao
subgênero Dichelops (Diceraeus), consideradas pragas secundárias na
cultura da soja, vêm despontando como pragas importantes no
estabelecimento da cultura do milho (BIANCO & NISHIMURA,
1998).
Ávila & Panizzi (1995) relataram pela primeira vez a
ocorrência do percevejo D. melacanthus (Dallas, 1851) atacando
plântulas de milho, em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, em
outubro de 1993. O inseto causou murchamento nas plântulas ao se
alimentar próximo ao colo. Nos locais de alimentação, observaram-se
pontuações escuras nas folhas novas do interior do cartucho. Foram
encontrados em média, seis percevejos adultos a cada 10 metros de
fileira de milho e cerca de 56% das plântulas com sinais de ataque.
Possivelmente o estabelecimento de novas áreas de milho
no Mato Grosso do Sul e a conseqüente eliminação de plantas
hospedeiras nativas fizeram com que D. melacanthus infestasse as
áreas com plântulas de milho (ÁVILA & PANIZZI, 1995).
De acordo com Panizzi & Chocorosqui (2000) os
percevejos barriga-verde, (D. melacanthus) têm causado os maiores
danos na cultura do milho. Desde a sua constatação em milho no
início da década de 90, e de forma mais intensa a partir de 1995, a sua
importância como praga nessa cultura tem aumentado. Desta forma, os
percevejos atacam as plântulas de milho na região do caulículo,
causando pequenas perfurações. A medida que o milho cresce e as
folhas se desenvolvem, a lesão aumenta, formando áreas necrosadas
35
no sentido transversal da folha, podendo esta dobrar na região
danificada. Também se pode observar as perfurações causadas pela
introdução do aparelho bucal sugador (estiletes) do inseto. Como
resultado do dano, as plantas de milho ficam com o desenvolvimento
comprometido, apresentando um aspecto popularmente chamado de
"encharutamento" ou "enrosetamento", com amarelecimento das
folhas. Em ataques severos ocorre morte das plantas com conseqüente
redução no estande.
Bianco (2005) complementa que duas espécies de
percevejo barriga-verde têm sido encontradas no Paraná, o D.
furcatus, mais ao sul do Estado, e o D. melacantus, no oeste, centro e
norte do Estado. As duas espécies são igualmente daninhas e injetam
toxinas no colo das plântulas durante o processo de alimentação.
Sendo uma praga inicial, tem prejudicado significativamente o milho
na implantação da cultura, seja reduzindo o estande ou prejudicando o
vigor das plântulas, provocando inclusive o perfilhamento exagerado
das plantas. Maiores danos têm sido verificados quando coincidem
alta incidência da praga, com períodos de estiagem. Também, maior
população é encontrada em plantio direto, comparado com o plantio
convencional. Pois, essa praga utiliza a palhada como local de abrigo,
sobrevivência e multiplicação.
36
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Aspectos gerais
Os experimentos foram desenvolvidos na sede da
Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS. Foram cinco experimentos,
sendo quatro em telado (sem controle de temperatura e umidade, ou
seja, sem controle das condições climáticas ambientais, apenas com
proteção de tela) e um em campo.
A duração aproximada da fase experimental incluindo
criação dos insetos, preparo, instalação, condução dos experimentos e
obtenção dos dados, foi de agosto de 2007 a junho de 2009.
Foram utilizadas as culturas de trigo, milho e soja e quatro
espécies de percevejos fitófagos (Heteroptera: Pentatomidae):
percevejos-barriga-verde das espécies Dichelops melacanthus (Dallas)
e Dichelops furcatus (F.); percevejo-marrom-da-soja - Euschistus
heros (F) e percevejo-verde - Nezara viridula (L.), provenientes da
criação mantida no laboratório de entomologia da Embrapa trigo, a
partir de indivíduos coletados a campo, em 2007. Os insetos da
espécie D. furcatus foram coletados no campo e apenas mantidos em
laboratório por, pelo menos, uma semana antes das infestações. O
motivo deste procedimento foi que não se obteve sucesso na criação
desta espécie em laboratório.
Após o término dos experimentos os dados foram
submetidos à análise da variância (ANOVA) e as médias comparadas
pelo teste de Tukey (P≥0,05). Em um experimento foi realizada
análise de regressão.
37
3.2 Experimento I - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de floração plena.
O
inteiramente
experimento
casualizado
foi
com
conduzido
quatro
em
repetições.
delineamento
A
unidade
experimental constou de um vaso com 22 cm de diâmetro (capacidade
de 15 L) contendo cinco plantas de trigo (Triticum aestivum) da
cultivar BRS Timbaúva.
Aos 30 dias após a germinação, foi realizada a adubação
nitrogenada de cobertura (45 kg de N/ha) com uréia.
As plantas foram infestadas durante o estádio de floração
plena (10.5) segundo a escala de Feekes modificada (LARGE,1954).
Os
tratamentos
foram
cinco,
assim
distribuídos:
testemunha; D. melacanthus; D. furcatus; E. heros e N. viridula.
Foram testados os efeitos da infestação destas quatro espécies de
percevejos fitófagos em comparação com a testemunha (sem
percevejos). A densidade de infestação foi de 10 insetos adultos de
cada espécie por vaso, sendo cinco machos e cinco fêmeas, os quais
permaneceram nas plantas durante 10 dias. Durante este período, as
plantas foram protegidas por gaiolas (sacos de tecido do tipo voile
com 70 cm de altura e 40 cm de largura suspensos por armação de
arame), presas em torno da boca do vaso com o auxílio de elástico,
para evitar a fuga dos percevejos (Fig.2).
38
Figura 2- Unidades experimentais com a gaiola de proteção.
Antes da infestação, os insetos foram submetidos a jejum
de 12 h no Laboratório de Entomologia da Embrapa Trigo.
Durante o tempo de permanência dos insetos nas plantas, a
cada
dois dias,
foram
realizadas
leituras para
verificar
o
comportamento dos insetos em relação à alimentação e substituir os
mortos. Além disso, foi realizada a aplicação de fungicidas do grupo
dos triazóis e da estrobilurina- azoxistrobina + ciproconazol (Priori
xtra) na dose 300 mL/ha intercalado com o triazol - tebuconazol
(Folicur 1L/ha) de 15 em 15 dias.
Posteriormente à aplicação dos tratamentos, as plantas
foram conduzidas de acordo com as indicações técnicas para a cultura
39
do trigo, tendo sido realizadas aplicações de inseticida do grupo
químico
dos
organofosforados,
diclorvos
(Nuvan
5
mL/L)
semanalmente, para evitar a interferência dos insetos-praga.
Os tratamentos em estudo foram avaliados quanto aos
sintomas de dano (visual) e os efeitos da infestação dos insetos na
produção de grãos (peso e número de grãos total da unidade
experimental) e também quanto ao peso do hectolitro (PH). Além
disso, as sementes foram submetidas ao teste de germinação e de
vigor. O número de espigas/vaso foi o mesmo (cinco) e não foi
avaliado o número de grãos/espiga.
No teste de germinação, verificou-se as plântulas normais,
anormais e mortas. Ou seja, plântulas normais são aquelas que
mostram potencial para continuar seu desenvolvimento e dar origem a
plantas normais, quando desenvolvidas sob condições favoráveis de
umidade, temperatura e luz. Já as plântulas anormais, são aquelas que
não mostram este potencial, mesmo em condições favoráveis. As
classificadas como mortas são as que no final do teste não germinam.
Sendo que alguns dos motivos pelos quais estas sementes não
germinam podem ser: sementes vazias; sem embrião ou sementes
danificadas por insetos (BRASIL, 1992)
O teste de vigor que foi realizado, também designado de
envelhecimento precoce, consiste em submeter a semente, por curtos
períodos de tempo à alta temperatura (72h a 41ºC) e alta umidade
relativa (28 a 30% de umidade na semente para trigo). Durante o
período de envelhecimento precoce, as sementes absorvem umidade
do ambiente interno da câmara, são estressadas pela alta temperatura e
atingem níveis de umidade uniforme. Depois deste período, as
40
mesmas são retiradas da câmara e submetidas ao teste padrão de
germinação (HAMPTON & TEKRONY, 1995; BRASIL, 1992).
Decorridas as coletas de dados, estes foram submetidos a
análise da variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo
teste de Tukey (P≥0,05).
3.3 Experimento II - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de grão cheio leitoso.
Este experimento foi conduzido nas mesmas condições
que o anterior, tendo sido realizadas as mesmas avaliações e análises
estatísticas, diferindo apenas o estádio da cultura do trigo em que foi
realizada a infestação. Assim, os percevejos foram colocados no
interior das gaiolas quando o trigo se encontrava no estádio de grão
cheio leitoso, denominado 11.2 de acordo com a escala de Feekes
modificada (LARGE,1954).
3.4 Experimento III - Avaliação de danos de D. melacanthus e D.
furcatus em plântulas de soja.
O
experimento
foi
conduzido
em
delineamento
inteiramente casualizado com três tratamentos e doze repetições. A
unidade experimental constou de um vaso com 22 cm de diâmetro
(capacidade de 15 L) com cinco plantas de soja Glycine max (L.)
Merr. da cultivar BRS 243 RR. O plantio foi realizado em 13 de
novembro de 2008. Foi simulado um ambiente de plantio direto,
colocando-se palha de trigo cortada sobre o solo no intuito de criar
41
uma situação mais semelhante possível daquela que ocorre no campo
e que tem se mostrado favorável em termos de abrigo para os
percevejos.
Os tratamentos foram: testemunha (sem infestação); D.
melacanthus e D. furcatus.
As plantas foram infestadas desde o estádio vegetativo,
aos dois dias após a emergência (VE- emergência), até o estádio V1,
segundo escala fenólógica de Fehr & Caviness (1977), no qual os
cotilédones se apresentavam semi-abertos (com
aproximadamente
1cm de haste). Foram utilizados cinco percevejos adultos (três machos
e duas fêmeas) de D. melacanthus ou D. furcatus por vaso,
correspondendo a um inseto por planta.
Durante o período em que os insetos permaneceram nas
plantas (15 dias), foram utilizadas gaiolas (sacos de tecido do tipo
voile com 70 cm de altura e 40 cm de largura suspensos por armação
de arame) presas em torno da boca do vaso com o auxílio de elástico,
para evitar a fuga dos percevejos.
Para realizar a infestação, os insetos foram submetidos a
jejum de 12 h.
Durante o tempo de permanência dos insetos nas gaiolas, a
cada dois dias, foram realizadas observações para verificar o
comportamento dos insetos em relação à alimentação e substituição
dos mortos. Também, foram realizadas aplicações de fungicidas do
grupo químico dos triazóis e estrobilurina, azoxistrobina +
ciproconazol (Priori xtra) na dose 300 mL/ha intercalado com o triazol
tebuconazol (Folicur) na dose de 1L/ha a cada 15 dias.
42
Após a retirada dos insetos, as unidades experimentais
foram conduzidas de acordo com as indicações técnicas para a cultura
da soja, tendo sido realizadas aplicações semanais de inseticida do
grupo químico dos organofosforados, diclorvos (Nuvan) na dose de 5
mL/L semanalmente, para evitar a interferência dos insetos-praga.
Os tratamentos em estudo foram avaliados quanto à
caracterização visual de danos às plantas; os efeitos da infestação dos
insetos na produção de grãos (peso total de grãos) e seus componentes
(número de vagens e número de grãos) e no desenvolvimento das
plantas (altura, massa seca, número de cotilédones, número de trifólios
e presença de plantas bifurcadas ou não). As observações sobre o
desenvolvimento de plantas foram realizadas aos 17 dias após a
emergência (quando da retirada dos percevejos), outras três vezes com
intervalo de dez dias (aos 27, 37 e 47 dias após a emergência) e na
colheita.
Após a retirada dos insetos, foi testada a resistência das
plantas no quebramento mediante a um fator mecânico (barra de
pulverização ou vento). Isto foi realizado com o auxílio de uma ripa
de madeira com aproximadamente 2 m de comprimento e 8 cm de
largura, a qual foi passada horizontalmente sobre as plantas a uma
altura de aproximadamente 10 cm da base das plantas em todas as
direções (de frente para trás e da esquerda para a direita sendo duas
passagens em cada sentido) (Fig. 3). O objetivo foi verificar o efeito
dos percevejos na ocorrência da chamada “quebradeira” que vem
sendo constatada em algumas situações no Sul do Brasil.
43
Figura 3- Simulação de ação mecânica para testar a ocorrência de
fratura da haste nas plantas de soja.
Posteriormente à coleta de dados, estes foram submetidos
à análise da variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo
teste de Tukey (P≥0,05).
3.5 Experimento IV - Avaliação de danos de quatro espécies de
percevejos, na fase inicial da cultura do milho, em telado.
Este
experimento
foi conduzido
em delineamento
inteiramente casualizado com cinco tratamentos e oito repetições. A
unidade experimental constou de um vaso (22 cm de diâmetro,
capacidade de 15 L) com cinco plantas de milho cada um. O genótipo
44
utilizado foi o híbrido Pioneer 32R21 sendo que a semeadura foi
realizada em três de novembro de 2008.
Os tratamentos foram quatro espécies de percevejos (D.
melacanthus, D. furcatus, E. heros e N. viridula ) e a testemunha (sem
infestação de percevejos).
A infestação foi realizada quando as plantas se
encontravam no estádio vegetativo (seis dias após a emergência) até o
estádio V3 (três folhas desenvolvidas), segundo Ritchie & Hanway
(1989). A densidade de infestação foi de cinco percevejos adultos de
cada espécie por vaso, ou seja, numa proporção de um percevejo por
planta.
Os insetos permaneceram no milho por um período de 14
dias, protegidos por gaiolas, da mesma maneira como nos
experimentos anteriores.
A cada dois dias, foram realizadas avaliações para
verificar o comportamento dos insetos em relação à alimentação, e
substituição dos mortos.
Posteriormente da aplicação dos tratamentos (10 dias após
a retirada dos insetos das plantas), foi realizada uma avaliação com a
finalidade de visualizar sinais/sintomas da ação dos insetos nas
plantas, medir a altura da planta do solo até o anel da última folha e o
número de folhas expandidas, com anel formado. No mesmo
momento, foi realizada a caracterização do dano segundo escala de
notas adotada por Bianco5 (informação verbal). Nesta escala, a nota 0
(zero) é atribuída para plantas isentas de dano; nota 1(um) para folhas
5
BIANCO, Rodolfo. Engenheiro Agrônomo, Pesquisador do Instituto Agronômico
do Paraná, IAPAR, Brasil. Informação verbal (dados não publicados).
45
com pontuações, sem redução de porte; 2 (dois) para plantas com leve
dano no cartucho (parcialmente enrolado), com redução de porte; 3
(três) para planta com cartucho encharutado (preso) ou planta
perfilhada e nota 4 (quatro) para plantas com cartucho seco ou morto.
Dez dias após, o experimento foi encerrado com a coleta
das plantas inteiras. Para tanto, os vasos foram virados, visando
separar as raízes do solo, sem danificá-las.
As plantas foram lavadas e distendidas individualmente
(Fig. 4) para secagem em estufa (a 65ºC) e posterior avaliação da
massa seca da parte aérea e das raízes.
A
B
Figura 4- Procedimentos de retirada das plantas dos vasos (A) e
lavagem das raízes (B). Passo Fundo, RS, 2008.
Os dados (nota de dano, altura e massa seca da parte aérea
e radicular) foram submetidos a análise da variância (ANOVA) e as
46
médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P≥0,05). Não se
avaliou produção de grãos e outras variáveis porque como o
experimento foi em vasos, para milho, seria inviável este
procedimento.
3.6 Experimento V - Avaliação de danos de três espécies de
percevejos e quatro níveis de infestação, na fase inicial da cultura
do milho, em campo.
O experimento foi conduzido em campo na safra
2008/2009 em delineamento de blocos casualizados com quatro
repetições e em arranjo fatorial. O genótipo de milho utilizado foi o
híbrido Pioneer 32 R21. O espaçamento entre linhas foi de 0,9m. A
unidade experimental constou de uma linha de 1,0 m com sete
sementes/m. Após a germinação, foi feito o desbaste deixando em
cada unidade experimental apenas as cinco plantas, nas quais foram
aplicados os fatores em estudo.
Os fatores estudados foram: espécie de percevejo
(Dichelops melacanthus, Dichelops furcatus e Nezara viridula) e
níveis de infestação (0, 2, 4 e 8 percevejos adultos/m ou por 5
plantas), configurando-se um experimento fatorial 3 x 4 x 4.
A infestação foi realizada aos seis dias após a emergência
(V1) e mantida até o estádio V6, com seis folhas desenvolvidas
(RITCHIE & HANWAY,1989), perfazendo um período de 20 dias.
Os insetos usados foram provenientes da criação mantida em
laboratório e também de coletas a campo. Os que foram coletados a
campo, permaneceram por, no mínimo, uma semana em laboratório
47
antes da utilização no experimento. Além disso, todos os insetos
foram submetidos a jejum de 12h antes da infestação.
Durante o período de infestação, plantas e insetos
permaneceram confinados em gaiolas (80 cm de comprimento x 50
cm de altura x 40 cm de largura), com estrutura de madeira e tela de
tecido tipo voile. As gaiolas foram fixadas ao solo com estacas de
madeira e ao redor da boca de cada gaiola foi utilizada uma camada de
areia para impedir a fuga dos insetos.
A cada dois dias, foram realizadas leituras para verificar o
comportamento dos insetos em relação à alimentação e substituir os
mortos. Os demais procedimentos relativos a adubação, cuidados com
pragas e outros aspectos, foram realizados segundo as indicações para
a cultura do milho.
Quando da retirada das gaiolas e dos insetos e 10 dias
após, foram realizadas as seguintes avaliações: altura da planta (do
solo até a curvatura da última folha que estava dobrando), número de
folhas expandidas com anel formado e caracterização do dano,
segundo escala de notas adotada por Bianco6 (informação verbal), já
citada anteriormente, no experimento IV.
Após a colheita, foram avaliados: número de espigas,
altura (estatura) das plantas, comprimento da espiga, número de
fileiras de grãos na espiga, peso de grãos (corrigido para 14,5% de
umidade) e peso de mil grãos.
Os dados foram submetidos à análise da variância
(ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey
6
BIANCO, Rodolfo. Engenheiro Agrônomo, Pesquisador do Instituto Agronômico
do Paraná, IAPAR, Brasil. Informação verbal (dados não publicados).
48
(P≥0,05). Também foi realizada análise de regressão entre níveis de
infestação e peso de grãos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Experimento I - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de floração plena.
Os resultados que representam o efeito da alimentação de
quatro espécies de percevejos (Dichelops melacanthus; Dichelops
furcatus; Euschistus heros e Nezara viridula) no estádio de floração
plena (10.5) da cultura do trigo, quando comparados com a
testemunha, para as variáveis peso de grãos (total da parcela) e para o
número de grãos (total da parcela), peso de mil grãos e peso do
hectolitro (PH) podem ser visualizados na Tabela 1.
49
Tabela 1 - Variáveis relacionadas à produção de grãos de trigo
submetido à infestação de espécies de percevejos (2
insetos adultos/planta), no estádio de floração plena,
durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Peso total
de grãos (g)
6,43 a
5,18 ab
4,67 ab
5,80 a
3,40 b
Nº total de
grãos
213,25 a
183,50 a
170,00 a
209,25 a
143,25 a
Peso mil
grãos (g)
30,11 a
28,70 a
27,88 a
27,81 a
23,39 a
PH (kg)
70,91 a
69,36 ab
65,16 ab
67,49 ab
63,93 b
CV
19,8%
20,2 %
11,2%
4,28%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0077
0.0934
0,7666
0,0212
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
O peso de grãos de trigo diferiu em função da espécie. N.
viridula, quando comparada com a testemunha, ocasionou redução na
produção de até 47,1%. O coeficiente de variação de 19,8%, para este
caso, pode ser considerado aceitável, devido ao fato de que os insetos
estavam dispostos no interior do vaso e que não se tem uma precisão
das plantas que foram efetivamente injuriadas pela alimentação do
percevejo.
Durante o experimento, foi possível observar os insetos se
alimentando das plantas de trigo (todas as espécies estudadas),
acasalando e até fêmeas ovipositando. Na Figura 5, pode-se ilustrar
este comportamento para N. viridula. Este fato demonstra que a
cultura do trigo pode apresentar condições favoráveis à biologia das
espécies.
50
Figura 5- N. viridula em cópula e se alimentando no interior da
unidade experimental.
A ocorrência e alimentação de ninfas e adultos de N.
viridula em espigas de trigo foram observadas por Maia (1973) no Rio
Grande do Sul. Em lavouras examinadas nos municípios de Cruz Alta,
Passo Fundo, Não-me-Toque e Carazinho, em ensaio de campo, com
10 percevejos por metro quadrado (em gaiolas de 1m x 1m), este autor
avaliou as injúrias desta espécie as quais decorrem de: espigas mal
formadas (de 3,8 e 13% das espigas), grãos defeituosos e muitas
espigas sem grãos.
Link & Panichi (1979) realizaram estudo para determinar
o efeito de diferentes densidades de N. viridula em gaiolas, sobre três
variedades de trigo, em Santa Maria, RS. Os níveis de infestação
foram 0, 2, 4, 6 e 8 adultos/gaiola, com cinco repetições por densidade
e variedade. A medida que aumentou a densidade de infestação
51
ocorreu queda de rendimento, número de grãos por espiga e poder
germinativo.
As espécies D. melacanthus e D. furcatus provocaram
reduções na produção de 19,4% e 27,3%, respectivamente, embora,
nas condições deste experimento não diferindo da testemunha, nem do
efeito de N. viridula.
Em estudos realizados por Panizzi & Chocorosqui (2000)
foi observado que D. melacanthus aparece na lavoura a partir da
emergência das plântulas de trigo, aumentando durante o início do
período vegetativo e decaindo após o início do espigamento.
No presente experimento, como a infestação foi realizada
no estádio reprodutivo da cultura, talvez seja este o motivo da
significância e diferença entre médias estar evidente apenas para um
dos fatores analisados (peso total de grãos).
O efeito da infestação do percevejo E. heros não diferiu
significativamente da testemunha. Este resultado mostra que a
capacidade desta espécie causar danos em plantas de trigo na fase de
floração plena, pode ser reduzida ou nula. Na literatura não há relatos
que esta espécie ocasione danos na cultura do trigo. No entanto, como
este percevejo tem sido encontrado sobre plantas de trigo no campo, o
fato merece estudos mais aprofundados.
Em relação às variáveis número total de grãos e peso de
mil grãos, não se evidenciou efeito significativo das quatro espécies
de percevejos. No entanto, para N. viridula, mesmo não tendo havido
significância estatística, o número total de grãos, quando comparado
com a testemunha foi reduzido em 32,8% e o peso de mil grãos em
22,3% (Tabela 1).
52
O efeito dos tratamentos no peso do hectolitro foi
significativo (Tabela 1). Todavia, apenas o tratamento com N. viridula
diferiu da testemunha. Os demais tratamentos com as espécies de
percevejos
ficaram
numa
posição
indefinida,
sem
diferir
estatisticamente de N. viridula e da testemunha. N. viridula causou
uma redução de 9,8% no peso do hectolitro, confirmando o maior
potencial de dano desta espécie em trigo.
No teste de germinação (Tabela 2) observa-se a
emergência e desenvolvimento das estruturas essenciais do embrião,
que demonstram a aptidão da semente para produzir uma planta
normal sob condições favoráveis de campo (BRASIL, 1992).
A taxa de geminação de sementes, que corresponde à
percentagem de plântulas normais que são obtidas, não foi afetada
pelos percevejos das quatro espécies (Tabela 2). O mesmo ocorreu
com a porcentagem de plântulas anormais. Só houve diferença
significativa entre os tratamentos em relação ao percentual de
plântulas mortas (que não germinaram). Assim, em relação à
testemunha houve um acréscimo no número de plântulas mortas
quando da presença de N. viridula.
Este resultado demonstra que além de causar redução no
peso de grãos, a alimentação de N. viridula, no estádio de floração
plena, pode afetar as estruturas germinativas da semente.
O efeito da infestação das demais espécies de percevejos
não foi significativo em relação à testemunha. Todavia, E. heros, D.
melacanthus e D. furcatus também não diferiram estatisticamente de
N. viridula.
53
Tabela 2- Germinação de sementes de trigo oriundas de infestação por
quatro espécies de percevejos (2 insetos adultos/planta), no
estádio de floração plena, durante 10 dias, em telado. Passo
Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Germinação (%)
77,25 a
71,75 a
66,50 a
61,50 a
67,00 a
Anormais (%)
14,25 a
17,75 a
18,25 a
24,00 a
13,00 a
Mortas (%)
8,00 a
10,50 ab
14,75 ab
14,75 ab
19,75 b
CV
10,8%
36,8%
33,1%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0826
0,1850
0,0205
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
Na avaliação de vigor (envelhecimento precoce) da
semente, não foi verificada diferença entre os tratamentos (Tabela 3)
demonstrando que os percevejos não afetam esta característica
qualitativa da semente, quando a infestação ocorreu na fase de
floração.
54
Tabela 3 - Vigor de sementes de trigo submetido à infestação de
quatro espécies de percevejos, (2 insetos adultos/planta),
no estádio de floração plena, durante 10 dias em telado.
Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Vigor (%)
59,25 a
59,00 a
52,75 a
78,00 a
60,00 a
Anormais (%)
10,50 a
14,25 a
14,50 a
6,00 a
6,50 a
Mortas (%)
30,25 a
27,00 a
32,75 a
15,75 a
33,50 a
CV
23,9%
52,0%
47,5%
Significância
(Pr ≥ F)
0,2143
0,1090
0,3550
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
4.2 Experimento II - Avaliação de danos de espécies de percevejos
em trigo, infestado no estádio de grão cheio leitoso.
Os resultados do efeito dos tratamentos durante o estádio
de grão cheio leitoso, podem ser visualizados na Tabela 4.
55
Tabela 4 - Variáveis relacionadas à produção de grãos de trigo
submetidas à infestação de quatro espécies de percevejos
(2 insetos adultos/planta), no estádio de grão cheio
leitoso, durante 10 dias, em telado. Passo Fundo, RS,
2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Peso total
de grãos (g)
6,07 a
5,91 a
5,99 a
5,84 a
5,95 a
Nº total de
grãos
197,37 a
214,43 a
225,56 a
200,62 a
220,81 a
Peso mil
grãos (g)
30,87 a
27,57 ab
26,79 b
29,11 ab
26,89 ab
PH (kg)
80,16 a
74,50 a
73,73 a
79,34 a
75,38 a
CV
14,5%
13,7%
6,5%
12,2%
Significância
(Pr ≥ F)
0.9963
0.5970
0,0325
0.8101
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
Dentre
as
variáveis
estudadas,
houve
diferença
significativa entre os tratamentos apenas para o peso de mil grãos,
para a espécie D. furcatus que, em relação à testemunha, diferiu em
13,2%.
Chocorosqui & Panizzi (2004) ao realizarem experimento
com D. melacanthus constataram que a maior redução no rendimento
de trigo ocorre devido à ação dos percevejos do alongamento dos
caules (26,5%) ao estágio de grão leitoso (33,1%).
No presente experimento, durante a infestação de D.
melacanthus este resultado não foi evidente. A explicação para este
fato poderia ser devido à presença de características próprias de cada
espécie, especialmente na constituição da saliva.
56
Para o peso do hectolitro, também não se constatou
diferença entre os tratamentos, ou seja, não foi verificado efeito das
espécies no PH de grãos de trigo.
No teste de germinação, foi possível observar diferenças
significativas entre os tratamentos (Tabela 5).
Tabela 5 - Germinação de sementes de trigo oriundas de infestação
por quatro espécies de percevejos (2 insetos
adultos/planta), no estádio de grão cheio leitoso, durante
10 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Germinação (%)
80,50 a
48,50 b
36,75 b
74,75 a
45,75 b
Anormais (%)
12,00 a
8,75 a
13,00 a
14,25 a
14,50 a
Mortas (%)
7,25 a
42,50 b
50,25 b
11,00 a
39,25 b
CV
16,0%
39,6%
25,0%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0001
0,4989
0,0001
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
Na presença dos percevejos das espécies D. furcatus, N.
viridula e D. melacanthus, a redução no potencial de germinação foi
de 54,4%, 43,2% e 39,8% respectivamente, em comparação com a
testemunha, não havendo diferença entre as três espécies.
Para o percevejo E. heros, não houve efeito da infestação
na germinação, igualando-se à testemunha em todos os aspectos.
O percentual de sementes que não germinaram (plântulas
mortas)
também
apresentou
diferença
significativa
entre
os
tratamentos. Ou seja, no tratamento com D. furcatus, D. melacanthus
57
e N. viridula houve um acréscimo de plântulas mortas em relação à
testemunha.
Neste sentido, observou-se que mesmo não sendo
significativos os resultados para as variáveis relacionadas à produção
de grãos, as sementes oriundas de plantas de trigo infestadas com
percevejos D. melacanthus, D. furcatus e N. viridula, no estádio de
grão cheio leitoso, apresentam efeito negativo no potencial
germinativo da semente.
No teste de vigor ou de germinação com envelhecimento
precoce (Tabela 6), os efeitos dos tratamentos também foram
significativos. As espécies D. melacanthus, D. furcatus e N. viridula
causaram redução no vigor da sementes.
Tabela 6 - Vigor de sementes de trigo submetido à infestação de
quatro espécies de percevejos (2 insetos adultos/planta),
no estádio de grão cheio leitoso, durante 10 dias, em
telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Vigor (%)
89,50 a
46,25 b
45,75 b
76,25 a
50,75 b
Anormais (%)
1,75 a
4,75 a
3,75 a
6,75 a
5,50 a
Mortas (%)
8,75 a
49,00 b
50,75 b
18,00 a
43,75 b
CV
12,9%
65,9%
19,1%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0001
0,2210
0,0001
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
58
E. heros não apresentou efeitos significativos igualando-se
à testemunha. O efeito dos percevejos na taxa de plantas mortas
seguiu padrão constado para o vigor.
Através da análise destes dados, é possível afirmar que no
estádio de grão cheio leitoso, a alimentação dos percevejos Dichelops
furcatus e D. melacanthus, bem como N. viridula, apesar de não
reduzir a produtividade de trigo, quando a finalidade do grão for para
semente, o cuidado da lavoura deve ser maior, devido ao fato destas
espécies ocasionarem problemas tanto na germinação quanto no vigor
das sementes.
4.3 Experimento III - Avaliação de danos de D. melacanthus e D.
furcatus em plântulas de soja.
Os resultados que apresentam o efeito dos tratamentos na
altura das plantas de soja, desde a primeira observação aos 17 dias
após a emergência (no ato da retirada dos insetos dos vasos), aos 47
dias após a emergência e na colheita, podem ser verificados na Tabela
7.
59
Tabela 7 - Altura de plantas de soja submetidas a infestação de D.
melacanthus e D. furcatus (1 inseto adulto/planta) durante
15 dias a partir do estádio vegetativo (VE), em telado.
Passo Fundo, RS, 2008-2009
Altura de planta (cm)
Espécie
17 dias após
emergência
15,36 a
11,72 b
11,78 b
9,3%
47 dias após a
emergência
36,96 a
34,67 a
34,33 a
10,8%
Na colheita
Testemunha
76,88 a
D. melacanthus
69,92 a
D. furcatus
72,23 a
CV
9,5%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0001
0,2049
0,0573
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
A altura de plantas de soja sofreu redução na avaliação dos
17 DAE (dias após a emergência). Neste sentido, o percentual de
redução foi de 23,3% para o tratamento com D. furcatus e 23,7% para
D. melacanthus quando comparados à testemunha.
Com o desenvolvimento das plantas (47 DAE), a redução
de altura pelo ataque de percevejos não é visível, possivelmente
porque as plantas com maior massa verde tenham a capacidade de
“diluir” ou minimizar o dano. Foi possível verificar que a altura das
plantas apresentaram um padrão, praticamente uniforme, tanto nas
plantas aonde estavam os insetos quanto na testemunha (Fig. 6).
60
24,5 cm
26,5 cm
A
A
B
Figura 6 - Efeito visual (uniforme) da altura de plantas de soja aos 47
dias após a emergência, em telado. A- testemunha; B- D.
furcatus. Passo Fundo, RS, 2008-2009.
O efeito dos percevejos sobre o número de cotilédones,
número de trifólios e massa seca não foi significativo (Tabela 8).
61
Tabela 8 - Número de cotilédones, trifólios e massa seca de plantas de
soja submetidas à infestação de D. melacanthus e D.
furcatus (1 inseto adulto/planta) durante 15 dias a partir do
estádio vegetativo (VE), em telado. Passo Fundo, RS, 20082009
Nº de
cotilédones
0,68 a
0,77 a
0,88 a
55,82%
Nº de trifólios
17 dias após
47 dias após a
emergência
emergência
1,93 a
9,65 a
2,03 a
8,95 a
1,87 a
9,75 a
10,28%
9,25%
Massa
Espécie
seca
Testemunha
14,89 a
D. melacanthus
13,07 a
D. furcatus
13,00 a
CV
16.4%
Significância
(Pr ≥F)
0,5324
0,1372
0,0645
0.0799
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
Os dados referentes às variáveis relacionadas à produção
de grãos, podem ser visualizados na Tabela 9.
Tabela 9 - Dados referentes à produção de grãos de soja submetidas a
infestação de D. melacanthus e D. furcatus (1 inseto
adulto/planta), durante 15 dias a partir do estádio
vegetativo (VE), em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Peso de
grãos (g)
Número de
grãos
Número de
vagens
Testemunha
6,24 a
52,55 a
26,35 a
D. melacanthus
5,69 a
46,61 a
23,65 a
D. furcatus
5,43 a
46,13 a
23,86 a
CV
20,8%
21,3%
18,4%
Significância
(Pr ≥ F)
0,2594
0,2526
0,2843
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
62
Os dados evidenciam que não foi significativo o efeito da
infestação dos percevejos D. melacanthus e D. furcatus no peso de
grãos e no número de grãos e de vagens (Tabela 9). Ou seja, a
presença dos percevejos durante os 15 dias desde o estádio de
emergência (estádio VE) das plântulas de soja até o estádio V2, não
provocou redução na produção de grãos.
Corrêa-Ferreira (2005) ao realizar estudos desta natureza
com as espécies E. heros e Piezodorus guildinii (oito percevejos), na
fase anterior ao aparecimento das vagens, observou que estas não
causaram reduções no rendimento e na qualidade das sementes.
Uma pequena taxa de plântulas infestadas (7,08% com D.
melacanthus e 16,2% com D. furcatus) apresentou uma bifurcação no
ponto onde deveria ser emitida a primeira folha trofoliolada, gerando
dois trifólios. Não se comprovou estatisticamente que esta deformação
está associada à ação dos percevejos, ou que fosse uma espécie de
resposta da planta. Todavia, como este distúrbio não ocorreu nas
plântulas testemunhas, fica evidenciada a necessidade de aprofundar o
estudo desta possível relação.
Não se observou sintomas visuais de dano nas plantas. A
bifurcação nas plantas foi observada somente no início do
desenvolvimento da cultura (aos 17 dias após a emergência) e,
posteriormente, desapareceu não resultando em efeitos significativos
para as variáveis analisadas.
Gazzoni & Moscardi (1998) relatam que a soja possui
grande capacidade de recuperação dos danos causados por insetos, na
sua área foliar, em especial durante a fase vegetativa, estendendo-se
até o florescimento.
63
No presente estudo, através do acompanhamento das
plantas visando detectar possíveis sintomas de dano, não se constatou
nada que pudesse ser designado como tal. Ou seja, não se verificou
nenhum tipo de anormalidade aparente nas plantas de soja, nem
mesmo depressões externas nas hastes. Isto difere da informação de
que os percevejos barriga-verde estariam associados com a ocorrência
de anelamento logo acima do nó cotiledonar (GASSEN, 2001).
Da mesma forma, os testes de resistência das plantas ao
quebramento, não confirmaram a relação entre estes percevejos e este
problema que tem sido relatado em condições de lavoura. Mesmo
submetidas a fortes pressões não se verificou nenhum tombamento ou
quebramento das plantas, fato este que foi atribuído por Gassen (2001)
como sendo resultado do dano causado pelo percevejo barriga-verde
ao se alimentar de plântulas de soja. Ou seja, neste experimento, as
plantas de soja submetidas à infestação dos percevejos barriga-verde,
desde o estádio de emergência até o V2 não foram afetadas pela
simulação mecânica do vento.
Resultados semelhantes aos obtidos neste experimento,
foram encontrados por Corrêa-Ferreira et al. (2006) com as espécies
D. melacanthus e E. heros. Ao avaliarem o dano dos mesmos na fase
inicial do desenvolvimento da cultura da soja e, especialmente,
simular tombamento e quebra de planta. Estes autores também
concluíram que não houve nenhum dano na haste, com conseqüente
surgimento de lesão ou depressão logo acima do nó cotiledonar e
posterior tombamento das plantas e, também não relataram redução na
altura e no rendimento das plantas, mesmo utilizando diferentes
cultivares.
64
4.4 Experimento IV - Avaliação de danos de quatro espécies de
percevejos, na fase inicial da cultura do milho, em telado.
Os resultados que representam o efeito da infestação das
quatro espécies de percevejos (D. melacanthus; D. furcatus; E. heros e
N. viridula) desde os seis dias após a germinação até o estádio de V3
da cultura do milho em relação a características fenológicas da cultura
(altura de plantas do solo até o anel da última folha, número de folhas
expandidas) e avaliação de dano, podem ser visualizados na Tabela
10.
Tabela 10 - Caracteres fenológicos e avaliação de dano de plantas de
milho infestadas desde o estádio V1 até o estádio V3, por
quatro espécies de percevejos (1 inseto adulto/planta),
durante 14 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Altura anel (cm)
9,22 a
6,53 b
8,17 a
8,26 a
8,32 a
Nº folhas
expandidas
3,00 a
2,62 b
2,74 ab
2,95 ab
2,80 ab
Notas de dano1
0,00 a
2,85 c
2,68 c
1,05 b
2,47 c
CV
11,5%
8,1%
30,1%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0001
0,0151
0,0001
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
1
0= isenta de dano; 1= folhas com pontuações, sem redução de porte; 2= leve dano
no cartucho (parcialmente enrolado), com redução de porte; 3= cartucho
encharutado (preso) ou planta perfilhada; 4= cartucho seco ou morto.
65
Os efeitos dos percevejos foram altamente significativos
para as variáveis analisadas.
A altura de planta foi afetada pela alimentação dos insetos,
ocorrendo também diferença significativa entre as espécies estudadas.
Somente as plantas infestadas com D. melacanthus diferiram da
testemunha, ocasionando redução de altura de 29,1%.
Resultado semelhante foi observado quanto ao número de
folhas expandidas. D. melacanthus, ocasionou redução de 12,5% no
número de folhas em relação à testemunha.
As demais espécies
igualaram-se tanto à testemunha quanto a D. melacanthus.
Quando se analisou as injúrias dos percevejos em milho,
na fase inicial da cultura, o resultado também foi altamente
significativo. Os dados obtidos comprovam o que se pôde observar
nas plantas durante o período posterior à alimentação dos insetos. Ou
seja, além de se ter percebido os percevejos se alimentando da cultura,
foi bem visível o sinal deixado pelos mesmos durante o processo de
inserção do estilete nas plantas. As plantas apresentaram sinais de
redução de tamanho, injúrias no cartucho (parcial ou totalmente
enrolado, seco ou morto) conforme pode ser verificado na Figura 7.
Resultados semelhantes a estes foram relatados por
Panizzi & Chocorosqui (2000) que caracterizaram os danos de D.
melacanthus em plântulas de milho como sendo pequenas perfurações
no caule e a medida que o milho cresce e as folhas se desenvolvem, a
lesão aumenta, formando áreas necrosadas no sentido transversal da
folha, podendo esta dobrar na região danificada. Estes autores
verificaram também que como resultado do dano, as plantas de milho
ficam com o desenvolvimento comprometido, apresentando um
66
aspecto
popularmente
chamado
de
"encharutamento"
ou
"enrosetamento", com amarelecimento das folhas.
A
B
Figura 7 - Sinais de injúrias (interior da unidade experimental) A:
pontuações características do ataque de percevejos; B:
redução de altura e sinal de encharutamento.
Da mesma forma, os resultados estão coerentes com os
obtidos por Ávila & Panizzi (1995). Estes autores relataram que D.
melacanthus causou murchamento nas plântulas e pontuações escuras
nas folhas novas do interior do cartucho.
Considerando-se as notas de danos, as plantas que
apresentaram maiores valores e mais intensos sinais, foram as que
estiveram submetidas aos percevejos barriga-verde, D. melacanthus e
D. furcatus e ao percevejo verde, N. viridula. Com nota superior a 2,
67
as plantas infestadas por estas espécies apresentaram injúrias no
cartucho e também redução de porte.
Este fato pode ser ilustrado com o que foi observado para
D. melacanthus (Fig. 8) nas quais as plantas injuriadas por esta
espécie apresentaram além de redução de altura, o encharutamento
(enrolamento total ou parcial) das folhas centrais da planta.
A
B
Figura 8 - A: Plantas de milho submetidas à infestação de D.
melacanthus (1 inseto adulto/planta), durante 14 dias,
desde o estádio V1 até o V3. B: Testemunha. Passo
Fundo, RS, 2008-2009.
O percevejo marrom, E. heros, também provocou injúrias
nas plantas, no entanto, não foi evidente quanto nas outras três
espécies. No caso de E. heros observaram-se apenas pontuações nas
folhas, sem redução de porte das plantas.
68
Os resultados referentes à análise da massa seca (parte
aérea e das raízes) das plantas de milho estão representados na Tabela
11.
Tabela 11 - Massa seca parte aérea e radicular de plantas de milho
infestadas desde o estádio V1 até o estádio V3, por
quatro espécies de percevejos (1 inseto adulto/planta),
durante 14 dias, em telado. Passo Fundo, RS, 2008-2009
Espécie
Testemunha
D. melacanthus
D. furcatus
E. heros
N. viridula
Parte aérea (g)
4,39 ab
3,61 b
4,61 a
4,16 ab
4,12 ab
Raízes (g)
3,85 a
2,91 b
3,83 a
3,66 a
3,50 a
CV
13,0%
11,5%
Significância
(Pr ≥ F)
0,0122
0,0003
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P≥0,05).
Tanto a massa seca da parte aérea quanto a radicular foram
afetadas significativamente pelos tratamentos. Em relação à
testemunha, o maior índice de redução de massa seca da parte área das
plantas foi de 17,6% e causado por D. melacanthus, embora esta
diferença não tenha sido estatisticamente significativa.
Embora as plantas apresentassem sinais visíveis de
injúrias, também para os tratamentos com as espécies D. furcatus, N.
viridula e E heros, de forma menos evidente para esta última espécie,
os resultados das médias de massa seca aérea a radicular, não
diferiram estatisticamente da testemunha.
69
Em relação a massa seca das raízes, houve diferença entre
as médias, resultando uma redução de 24,3% para as plantas
submetidas a alimentação de D. melacanthus quando comparadas à
testemunha.
É importante salientar que os tratamentos com D.
melacanthus e D. furcatus diferiram estatisticamente entre si para a
variável massa seca. A infestação com D. melacanthus reduziu a
massa seca da parte aérea em 21,6% e das raízes em 23,9% quando
comparado à D. furcatus. Neste sentido, D melacanthus poderia ter
um fator mais tóxico na saliva? Este resultado sugere que estudos
posteriores sejam realizados no intuito de verificar a toxidez da saliva
de tais espécies.
Os percevejos das espécies D. furcatus, E heros e N.
viridula não provocaram redução na massa seca das raízes,
apresentando efeito igual ao das plantas sem infestação.
4.5 Experimento V - Avaliação de danos de três espécies de
percevejos e quatro níveis de infestação, na fase inicial da cultura
do milho, em campo.
4.5.1 Altura de planta
A presença das três espécies de percevejos (D.
melacanthus; D. furcatus e N. viridula) nas plantas de milho, durante
a fase vegetativa (V1 a V6) da cultura, determinou alterações
significativas na altura de plantas (Tabela 12).
70
Tabela 12 - Altura (cm) de plantas de milho logo após a infestação
com três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo
Fundo, RS, 2008
Nº de percevejos/m
Espécie
0
8
Média
espécie
2
4
D. melacanthus 50,72 a A
44,18 a A
18,28 b B
19,68 b B
33,21 b
D. furcatus
54,40 a A
42,90 a A
40,78 a A
41,28 a A
44,84 a
N. viridula
52,50 a A
48,48 a A
55,13 a A
22,68 b B
44,69 a
Média níveis
52,54 A
45,18 AB 38,06 BC 27,88 C
CV = 23,4%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Os resultados revelam que o efeito da infestação das
espécies em estudo, bem como os diferentes níveis de infestação,
durante os 20 dias, foram significativos para a variável altura de
plantas. Além disso, a interação entre espécies e níveis de infestação
foi significativa (Tabela 12) Entre as espécies estudadas, D.
melacanthus e N. viridula foram as que provocaram redução
significativa na altura de planta.
No tratamento com D. melacanthus, os níveis de quatro e
oito percevejos/m não diferiram entre si, mas, em relação à
testemunha, ocasionaram reduções de altura de planta de 63,9% e
61,1%, respectivamente.
N. viridula causou efeito na altura de plantas somente ao
nível de oito percevejos/m resultando em redução de altura de 56,8%.
Em experimento de casa de vegetação, foi verificado que o
tratamento com N. viridula (um inseto/planta), não houve redução na
71
altura. Já neste experimento, observa-se que aumentando o nível de
infestação (1,6 percevejos/planta) a redução de altura foi superior a
50%.
Para o tratamento com D. furcatus, os níveis de infestação
avaliados não provocaram reduções significativas, no nível de
significância adotado (P≥0,05). Todavia, pode ser que isto tenha sido
devido ao nível de precisão do experimento, uma vez que foi
constatada redução de 24,1% de altura das plantas em relação à
testemunha.
Em experimento anterior, em casa de vegetação (vasos) D.
melacanthus (um inseto/planta), provocou a redução na altura e
também no número de folhas expandidas, na massa seca aérea e das
raízes. Para a variável altura de plantas, neste experimento (a campo)
estes resultados se confirmam.
Na Tabela 13, tem-se o resultado da segunda leitura
realizada aos 10 dias após a retirada dos percevejos com o intuito de
acompanhar o comportamento das plantas, para a variável altura,
diante dos fatores em estudo.
72
Tabela 13 – Altura (cm) de plantas de milho aos 10 dias após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008
Nº de percevejos/m
Espécie
0
8
Média
espécie
2
4
D. melacanthus 77,16 a A
78,50 a A
36,93 b B
37,08 b B
57,42 b
D. furcatus
81,10 a A
73,85 a A
70,85 a A
72,35 a A
74,54 a
N. viridula
81,73 a A
77,20 a A
77,58 a A
41,78 b B
69,57 a
Média níveis
80,00 A
76,52 AB 61,78 BC 50,40 C
CV= 19,9%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Analisando-se a Tabela 13, observa-se que os resultados
se mantiveram como na primeira leitura, realizada logo após a retirada
das gaiolas. A interação entre espécies e níveis de infestação foi
significativa. As plantas continuaram a apresentar redução de altura,
embora em percentuais menores. Assim, no caso de D. melacanthus, a
densidade de quatro percevejos/m reduziu a altura em 52,1% e a de
oito percevejos/m em 51,9%. Já N. viridula, com oito percevejos/m
ocasionou 48,9% de redução.
Na Tabela 14, são apresentados os resultados para altura
(estatura) de plantas no momento da colheita. Observa-se a
confirmação dos resultados já constatados para altura de plantas, nas
avaliações na fase vegetativa, em V6 (na retirada das gaiolas) e em
V8, 10 dias após a interrupção da infestação.
73
Tabela 14 - Altura (m) de plantas de milho, na colheita, após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
8
Média
espécie
D. melacanthus 2,15 a A
2,25 a A
1,71 b B
1,77 b B
1,97 b
D. furcatus
2,24 a A
2,11 a A
2,23 a A
2,20 a A
2,19 a
N. viridula
2,20 a A
2,13 a A
2,15 a A
1,58 b B
2,02 b
Média níveis
2,20 A
2,16 A
2,03 AB
1,85 B
CV = 9,5 %
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
A interação entre espécies e níveis de infestação para esta
variável foi significativa. A presença de quatro e oito percevejos/m da
espécie D. melacanthus reduziu a altura das plantas em 20,4% e
17,7%. Para o tratamento com N. viridula (oito insetos/m), a redução
na estatura das plantas foi de 28,1%.
Infestações do percevejo barriga-verde, da espécie D.
melacanthus, na densidade de quatro insetos por metro, e do
percevejo-verde N. viridula, com oito insetos/m, na fase inicial da
cultura do milho, determinam efeito negativo no desenvolvimento das
plantas, reduzindo a estatura. Foi constatado que este efeito de
redução de altura das plantas foi evidenciado já no encerramento do
período de infestação, perdurou até o final do ciclo da cultura, sem
que houvesse recuperação das plantas quanto a este sintoma (Tabela
14).
74
N. viridula, apesar do maior porte, provocou injúrias
menos intensas que D. melacanthus. Ou seja, com o mesmo nível de
infestação, o tratamento com D. melacanthus apresentou efeitos mais
significativos nas plantas quando comparado com o tratamento com N.
viridula. As causas da diferença entre estas espécies quanto ao poder
de causar injúrias necessita de investigação, podendo estar associada a
fatores salivares.
4.5.2 Escala de danos
Os resultados das avaliações visuais de dano, através de
escala de notas, que foram realizadas em dois momentos, são
apresentados nas Tabelas 15 e 16.
Tabela 15 - Notas de dano (0-4) em plantas de milho logo após a
infestação com três espécies de percevejos e quatro
níveis de infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em
campo. Passo Fundo, RS, 2008
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
8
Média
espécie
D. melacanthus 0,001 a A
1,55 a B
3,00 a C
3,24 a C
1,95 a
D. furcatus
0,00 a A
1,55 a B
1,65 b B
1,70 b B
1,23 b
N. viridula
0,00 a A
1,45 a B
1,45 b B
3,40 a C
1,58 ab
Média níveis
0,00 A
1,52 B
2,03 B
2,78 C
CV= 32,9%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
1
0= isenta de dano; 1= folhas com pontuações, sem redução de porte; 2= leve dano
no cartucho (parcialmente enrolado), com redução de porte; 3= cartucho
encharutado (preso) ou planta perfilhada; 4= cartucho seco ou morto.
75
Através da análise da variância, tanto o efeito das espécies
de percevejos quanto dos níveis de infestação foram altamente
significativos. A interação entre espécies e níveis de infestação para
esta variável também foi significativa. Conforme a Tabela 15, as três
espécies de percevejos estudadas ocasionaram injúrias às plantas de
milho a partir de dois insetos por metro. No entanto, o efeito foi
diferente conforme a espécie, como foi evidenciado com quatro e oito
insetos/m.
Assim,
D.
melacanthus na
densidade
de quatro
percevejos/m provocou sinais de dano mais evidentes que D. furcatus
e N. viridula, sendo 45% superior ao primeiro e 51,6% ao segundo.
Quando a densidade de infestação aumentou para oito percevejos/m,
D. melacanthus e N. viridula apresentaram sinais mais evidentes de
dano que D. furcatus, no entanto, não diferiram entre si.
Estas diferenças sintomatológicas
foram
facilmente
observadas em campo, como demonstram as imagens registradas por
fotografia (Fig. 9).
76
Figura 9 – Plantas de milho com sinais do efeito dos percevejos (em
campo). Passo Fundo, RS, 2008.
Em relação aos sinais de dano, estes resultados estão de
acordo com aqueles do experimento anterior realizado com as mesmas
espécies, com um inseto adulto/planta, em vasos. Conforme pode ser
observado na Figura 9, as plantas apresentaram redução de altura e
danos no cartucho (enrolamento e/ou morte), além de sinais de
pontuações nas folhas (decorrentes da inserção dos estiletes) que são
visíveis apenas em ângulo mais próximo.
Analisando-se os níveis de infestação dentro de cada
espécie de percevejos, observou-se que para D. melacanthus os níveis
quatro e oito não foram diferentes entre si mas, representaram
diferença de 48,3% e 52,1%, respectivamente, em relação ao nível de
77
dois percevejos/m. Este, por sua vez,não diferiu da testemunha (sem
sinais visíveis de dano).
Estes resultados são coerentes com Cruz et al. (1999) e
Link (2006) que verificaram que D. melacanthus dependendo da
intensidade de infestação pode provocar desde murchamento até a
morte da planta. Estes autores relatam também, que nos estádios
iniciais o milho é mais suscetível ao ataque de percevejos barrigaverde. Da mesma forma, os resultados deste experimento estão de
acordo com os verificados por Chocorosqui (2001) que observou
prejuízos significativos na safrinha de milho nos níveis populacionais
acima de 2 percevejos/m2.
Para D. furcatus, os níveis de dois, quatro e oito
percevejos/m não diferiram entre si, no entanto, apresentaram
diferença significativa em relação a testemunha, quanto aos sinais de
dano.
N. viridula também apresentou sinais de dano nas plantas
de milho que diferiram da testemunha a partir de dois insetos por
metro, nível de infestação que não diferiu de quatro insetos/m.
Quando a infestação avançou para oito percevejos/m, o aumento no
percentual de dano foi de 57,3% em relação aos níveis dois e quatro.
Na segunda avaliação (10 dias após a retirada dos
percevejos das plantas), os resultados para a variável sintomas de dano
permaneceram no mesmo padrão da primeira avaliação (Tabela 16).
78
Tabela 16 - Notas de dano (0-4) em plantas de milho após a infestação
com três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), aos 10 dias após a
retirada dos insetos, em campo. Passo Fundo, RS, 2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
8
Média
espécie
D. melacanthus 0,001 a A
1,20 a B
2,75 a C
2,70 a C
1,66 a
D. furcatus
0,00 a A
1,05 a B
1,35 b B
1,20 b B
0,90 b
N. viridula
0,00 a A
1,20 a B
1,40 b B
3,10 a C
1,43 a
Média níveis
0,00 A
1,15 B
1,83 C
2,33 C
CV = 37,5%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
1
0= isenta de dano; 1= folhas com pontuações, sem redução de porte; 2= leve dano
no cartucho (parcialmente enrolado), com redução de porte; 3= cartucho
encharutado (preso) ou planta perfilhada; 4= cartucho seco ou morto.
A interação entre espécies e níveis de infestação foi
significativa. Comparando-se as Tabelas 15 e 16, observa-se que o
resultado da análise estatística foi o mesmo para ambas as avaliações.
No entanto, nota-se que a intensidade de dano, aqui caracterizada
pelas notas (de 0 a 4), foi inferior na segunda avaliação. Isso pode ser
atribuído a uma tentativa de defesa da planta em resposta às injurias
ocasionadas pelos percevejos.
4.5.3 Peso de grãos e outros componentes da produção
Os resultados sobre o efeito dos tratamentos (espécies de
percevejos e níveis de infestação) na variável peso de grãos (g) são
apresentados na Tabela 17.
79
Tabela 17 - Peso de grãos (g) de milho após a infestação com três
espécies de percevejos e quatro níveis de infestação,
durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo Fundo, RS,
2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
8
Média
espécie
D. melacanthus 164,70 a A 177,33 a A 112,68 a A 113,08 a A 141,95 a
D. furcatus
155,39 a A 177,43 a A 119,27 a A 142,17 a A 148,57 a
N. viridula
150,95 a A 122,13 a A 145,52 a A 66,19 a A
121,20 a
Média níveis
157,01 A
158,97 A
125,83 AB 107,15 B
CV= 32,4%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Não se evidenciou efeito das diferentes espécies de
percevejos no peso de grãos para o nível de significância adotado
(P≥0,05), através da análise da variância. Além disso, não houve
interação significativa dos níveis com as espécies. Na análise da
variância (F teste), foi verificado efeito dos diferentes níveis de
infestação. No entanto, esta diferença não apareceu quando da
comparação das médias pelo teste de Tukey (5%), embora N. viridula
tenha ocasionado uma redução no peso de grãos de 56,1% na
densidade de oito percevejos/m, em relação à testemunha e D.
melacanthus nos níveis de quatro e oito percevejos/m reduziram em
aproximadamente 32% o peso de grãos em relação ao nível zero.
Em estudos realizados por Duarte (2009) D. melacanthus
a partir de dois percevejos/m², no estádio inicial da cultura, reduziu a
produção de grãos de milho. Fato que não foi observado neste
80
experimento. Neste caso, houve diferença significativa entre as médias
quando o nível de infestação foi de oito percevejos/m.
Para N. viridula, constatou-se que o peso de grãos
diminuiu gradativamente com o aumento da infestação. Na análise de
regressão entre níveis de infestação e peso de grãos (Fig. 10),
constatou-se significância para o modelo linear para esta espécie, com
um R2 de 0,60. Apesar do coeficiente de determinação ser baixo, o
modelo indica que quanto maior o nível de infestação, menor o peso
de grãos.
ŶDm =174,5 – 12,9x (R2=0,17)
ŶDf = 165,7 – 9,5x (R2=0,06)
ŶNv = 143,2 + 2,7x (R2=0,60 )
200
180
Peso de grãos (g)
160
140
120
D. melacanthus
100
D. furcatus
80
N. viridula
60
40
20
0
0
2
4
6
8
Nº de percevejos/m
Figura 10 - Relação entre nível de infestação das três espécies de
percevejos e o peso de grãos(g), em campo. Passo
Fundo, RS, 2009.
Conforme pode ser visto na Tabela 18, o peso de mil grãos
não foi influenciado significativamente pelos tratamentos. Ou seja,
tanto as espécies de percevejos quanto os níveis de infestação, não
81
diminuíram significativamente esta variável. Também, não houve
interação significativa entre níveis e espécies.
Tabela 18 - Peso de mil grãos de milho (g) após infestação com três
espécies de percevejos e quatro níveis de infestação,
durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo Fundo, RS,
2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
8
Média
espécie
D. melacanthus 170,35 a A 165,43 a A 146,06 a A 174,82 a A 164,16 a
D. furcatus
162,71 a A 168,80 a A 152,36 a A 154,86 a A 159,68 a
N. viridula
154,06 a A 143,62 a A 157,15 a A 156,38 a A 152,80 a
Média níveis
162,37 A
159,28 A
151,85 A
162,02 A
CV= 11,3%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Quanto ao número de espigas, o efeito dos tratamentos foi
significativo para os dois fatores em estudo (espécies e níveis de
percevejos), conforme apresentado na Tabela 19. Não houve interação
significativa entre fatores.
82
Tabela 19 - Número de espigas de milho após a infestação com três
espécies de percevejos e quatro níveis de infestação,
durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo Fundo, RS,
2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
2
4
Média
espécie
8
D. melacanthus 4,50 a A
4,75 a A
2,75 b B
3,00 ab AB 3,75 b
D. furcatus
5,00 a A
4,50 a A
4,75 a A
4,50 a A
4,69 a
N. viridula
5,00 a A
4,75 a A
4,25 a AB
2,75 b B
4,19 ab
Média níveis
4,83 A
4,67 A
3,92 AB
3,42 B
CV=22,3%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Independentemente dos níveis de infestação, a diferença
observada foi entre as espécies D. furcatus e D. melacanthus. O efeito
de N. viridula no número de espigas igualou-se a ambas as espécies.
Para os níveis de infestação, D. melacanthus diferiu de D. furcatus
com quatro percevejos/m e N. viridula diferiu de D. furcatus com oito
(Tabela 19).
As espécies D. furcatus e N. viridula causaram efeito
semelhante quando o nível foi de quatro percevejos/m. D.
melacanthus ocasionou redução de 38,9% no número de espigas em
relação à testemunha e N. viridula provocou redução de 15%.
Para o nível de oito percevejos/m, a diferença causada
pelas espécies foi verificada para N. viridula e D. furcatus, sendo que
ambos igualaram-se ao efeito de D. melacanthus. Neste sentido, N.
viridula na densidade de oito percevejos/m, reduziu o número de
espigas em 45%.
83
A análise referente ao comprimento de espigas pode ser
visualizada na Tabela 20.
Tabela 20 - Comprimento de espigas de milho (cm) após a infestação
com três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo
Fundo, RS, 2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
8
Média
espécie
2
4
D. melacanthus 18,17 a A
17,40 a A
16,63 a A
15,00 ab A 16,80 a
D. furcatus
16,98 a A
17,63 a A
16,71 a A
16,68 a A
17,00 a
N. viridula
16,85 a A
15,70 a AB 15,73 a AB 12,36 b B
15,16 b
Média níveis
17,33 A
16,91 A
16,35 AB 14,68 B
CV= 11,3 %
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
Os resultados mostram que
significativa
entre
níveis
e
espécies.
não
houve
interação
Independentemente
o
comprimento da espiga foi influenciado tanto pelas espécies quanto
pelos níveis de infestação. Porém, a diferença ficou evidente entre as
espécies, somente quando o nível de infestação foi de oito
percevejos/m. Para este nível, N. viridula diminuiu o comprimento de
espiga em 26,6% e seu efeito foi 25,9% maior que o percevejo
barriga-verde (Tabela 20).
O número de fileiras de grãos (Tabela 21) não foi
influenciado pelos fatores em estudo e a interação também não foi
significativa.
84
Resultados semelhantes a este estudo foram observados
por Duarte (2009) para D. melacanthus.
Tabela 21 - Número de fileiras de grãos de milho após a infestação
com três espécies de percevejos e quatro níveis de
infestação, durante 20 dias (V1 a V6), em campo. Passo
Fundo, RS, 2009
Nº de percevejos/m
Espécie
0
Média
espécie
2
4
8
D. melacanthus 16,18 a A
17,30 a A
14,04 a A
15,83 a A
15,84 a
D. furcatus
16,90 a A
16,69 a A
15,60 a A
16,73 a A
16,48 a
N. viridula
17,70 a A
17,15 a A
17,50 a A
13,85 a A
16,55 a
Média níveis
16,93 A
17,05 A
15,71 A
15,47 A
CV= 12,7%
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, (P≥0,05).
85
5 CONCLUSÕES
Para as condições em que os experimentos foram
desenvolvidos, os resultados obtidos permitem concluir que:
a) em trigo, infestado na fase de floração plena, durante 10
dias, N. viridula (dois percevejos/planta) provoca redução no peso de
grãos e no peso do hectolitro;
b) infestação de E. heros (dois insetos/planta), durante 10
dias, no estádio de floração plena do trigo, não provoca redução no
peso de grãos, número de grãos e peso de mil grãos;
c) infestações de N. viridula, D. melacanthus, D. furcatus
e E. heros (dois insetos/planta), durante 10 dias, no estádio de floração
plena do trigo, não reduzem o potencial de germinação e o vigor das
sementes;
d) em trigo infestado com dois percevejos/planta, no
estádio de grão cheio leitoso, D. furcatus provoca redução no peso de
mil grãos;
e) infestações de D. furcatus, D. melacanthus, E. heros e
N. viridula (dois percevejos/planta), na fase de grão cheio leitoso do
trigo, durante 10 dias, não reduzem peso de grãos, número de grãos e
peso do hectolitro;
f) infestações de D. furcatus, N. viridula e D. melacanthus
(dois percevejos/planta), na fase de grão cheio leitoso do trigo, durante
10 dias, reduzem a germinação e vigor das sementes;
g) infestações de D. melacanthus e D. furcatus (um
inseto/planta), na fase de plântula da soja, durante 15 dias, não afetam
86
o rendimento de grãos e não aumentam a suscetibilidade das plantas
ao quebramento;
h) em plântulas de milho (estádio V1 até o estádio V3) a
infestação de D. melacanthus (um inseto/planta) provoca redução na
altura e o enrolamento das folhas centrais da planta; redução no
número de folhas expandidas, na massa seca aérea e das raízes;
i) infestações de quatro e oito percevejos/m (5 plantas) da
espécie D. melacanthus e de oito percevejos/m da espécie N. viridula,
durante 20 dias, desde o estádio V1 até o estádio V6 em milho,
reduzem a altura das plantas;
j) infestações de dois, quatro e oito percevejos/m (5
plantas) de D. melacanthus, D. furcatus e N. viridula, durante 20 dias,
desde o estádio V1 até o estádio V6 do milho, provocam perfurações
nas folhas, redução de altura, enrolamento ou morte do cartucho,
sendo que D. melacanthus apresenta efeitos mais intensos;
k) infestações de dois, quatro e oito percevejos/m (5
plantas) de N. viridula, durante 20 dias, desde o estádio V1 até o
estádio V6 do milho, provocam reduções crescentes no rendimento de
grãos;
l) infestações de quatro percevejos/m (5 plantas) de D.
melacanthus e de oito percevejos/m (5 plantas) de N. viridula,durante
20 dias, desde o estádio V1 até o estádio V6 do milho, reduzem o
número de espigas;
m) O comprimento de espigas de milho foi reduzido com a
infestação de N. viridula, na proporção de oito percevejos/m (5
plantas), durante 20 dias, desde o estádio V1 até o estádio V6 do
milho.
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